OS DIREITOs DO CLiENTE COMO UMA QUEsT AO ETICA
TH E C U STO M E R R I G HTS AS A ETH I C M OTTE R
L O S D E RE C H O S D E L CLi E NTE C O M O U NA C U ESTI O N ETI CA
Narciso Vieira Soares 1 Valeria Lerch Lunardi 2
RES U M O : As autoras fazem u m a reflexao sobre os i mpasses da pesq u isa em enfermagem e sua relagao com a pratica , fu ndamentada na "filosofia de praxis' .
I nicial mente, d iscutem a relagao entre teoria e pratica n u m a perspectiva fi losofica . Fazem u m a revisao sintetica do conheci mento em e nferm a g e m , neste secu lo e fi nal izam apresentando a d i a l etica das i nteragoes como uma possi bilidade de avangar para alem dos territorios onde se detem a d i aletica d o trabalho. Para as autoras, areas do conhecimento tao com p l exas como as relacionadas ao processo saudel doenyal cuidado nao podem ser inteiramente recobertas pel as ciencias formais ou somente pelas ciencias biologicas e sociais; u m p rojeto epistemologico consi stente nao pode d esconsidera r u m a tercei ra regiao da d i a l etica da razao , a d ialetica das representayoes.
PALAVRAS-C HAV E : pesq u isa em enfermag e m , fi losofia e enfermagem
SUM MARY: Despite the technolog ical progress in the health field , the symmetrical relationships between customers, health professionals and i nstitutions has not achieved an acceptable leve l . This resea rch presents a theoretical d iscussion on eth ics and customer rights matters in the d a i ly n u rsing service. It approaches the asymmetry of the relationship between health professionals and customers; the exchange of knowledge as a possibility of red ucing this asymmetry; the users the of health service as consu mers; bioethic and its principles; the q uestioning of daily practice as essential to eth ics. It emphasizes the importance of refl ection on the pat of n u rses in relation to eth ic problems, in order to com m it these professionals with the social transformations.
KEYWO RDS: customer's rig hts, eth ics, q u estioning
RES U M E N : A pesar de los avances tecnolog icos en el area de la salud , u n a s relaciones mas si metricas entre clientes , profesionales e institu ciones a u n no han avanzado 10 suficiente. EI estu d i o presenta una profund izacion teorica de las cuestiones eticas y sobre los derechos del cliente en el trabajo cotid iano de enfermeria. Se plantea la asi metria presente en la relacion entre el profesional de la salud y el cliente ; los ca mbios e i ntercambios de saberes como una posi bilidad de reducir la desig ualdad ; los usuarios de los servicios de salud como consumidores; la bioetica y sus principios; l a problematica d e la practica coti d i a n a ente n d i d a como una necesidad etica. Se destaca , asi, la im portancia de que el enfermero reflexione sobre los problemas eticos para u n mayor compromiso en la tra nsformaci6n d e la rea l i d a d .
PALAB RAS C LAV E : derechos d e los clientes , etica , proble matica
Recebido em 26/08/200 1 Aprovado em 06/02/2002
1 Enfermeiro . Mestre em Assiste ncia de E nfermagem . Doce nte do C u rso de G rad u a :ao em Enfe rmagem da U n iversidade Regional I ntegrada do Alto U ru g u a i e das M iss6es - U R I - C a m p u s de Sa nto Angelo. Membro do Grupo de Estudos e Pesq u isas e m E nferm agem Saude e E d u ca:ao ( G E P E S E/U R I ) .
2 Enfermeira. Mestre e m E d u ca:ao, Doutora em E nfe rm ag e m . P rofessora Adj u nto I V d o Departame nto de Enfermagem da F u n d a:ao U n iversidade Federal do Rio Grande. Pesq u isadora do C N P q .
A ASSIMETRIA PRESENTE NA RELACAo ENTRE o PROFISSIONAL DA SAU D E E 0 CLIENTE
Nas ultimas decadas, tem se verifi cado g rande crescimento do saber na area da saude. A enfermagem , a l e m d e b u scar atu a l i z a r-s e , v e m a p rofu n d a n d o reflexoes e q u estio n a m entos sobre a s u a p ratica cotidiana, afim de enfrentar esses desafios, bem como as q uestoes eticas ou d i lemas eticos que s u rg e m , c o m essa expansao tecn olog ica crescente . N este texto , a p rese nta-se u m a p rofu n d a m e nto teorico acerca das questoes eticas e dos d i reitos do cliente no cotidiano do trabalho da enfermagem .
Apesar dos ava n :os n a a rea d o diag nostico e do tratamento, rela:oes mais simetricas entre clientes, profissionais d a saude e i n stitu i :oes , parecem nao ter avan:ado suficientemente . Sao muitas as situa:oes d o c o t i d i a n o p ro fi s s i o n a l q u e d e m o n s t r a m a continu a:ao de u m a rela:ao , pred o m i n a ntemente, vertica l izad a , paterna l i sta e autoritari a .
A autonomia d o s e r h u m a n e e consid erad a u m d i reito nato , mediante a q u a l 0 cl iente pode a g i r d e acordo com s u a vonta d e , fazer esco l h a s d o q u e e m e l h o r para s i com o u m sujeito socio-i n d ivid u a l , historico e n a o espera r, estar a merce da concessao de benesses e da vontade dos outros . Ser autonomo significa ter l i berdade d e pensamento , sem coa:oes i nternas ou externas, poder o ptar e decid i r, dentre as alternativas que dispoe, a que melhor Ihe convem como um ser de rela:oe s . 0 res peito ao sujeito autonomo deve pressupor que se aceite 0 "pluralismo etico-social, caracteristico de nosso tempo; e reconhecer que cada pessoa possu i pontos d e vista e expectativas proprias quanto a seu desti n�, e q u e e ela quem deve deliberar e tomar decisoes seg u i n d o seu proprio plano de vida e a:ao , embasada e m cre n :as , aspira:oes e valores proprios" ( F O RTE S , 1 998, p. 39).
A a:ao d o p rofi s s i o n a l d a saude d eve ser orientada para 0 respeito a l i berd a d e d e escolha d o cliente , d i a nte d a situa:ao q u e I h e e apresentad a , t e n d o p re s e n t e q u e 0 c o rp o , a d o r, a d o e n : a , pertencem a e l e e , a m e d i d a q u e v i o l a rmos s u a autonom i a , estaremos trata nd o-o com o m e i o e n a o como fim em si mesmo; na medida em que este cliente exercer s u a auton o m i a , reco n hece n d o tanto seus d i reitos como seus d evere s , e stara con stru i n d o , ta mbem, s u a cidada n i a .
A cidad a n i a pos-moderna esta voltada para a preserva:ao da vida e dos d i re itos soci a i s , do meio ambiente, da democraci a , d a l uta contra a excl usao social e a marginaliza:ao dos sujeitos, ensejada pela g l obal iza:ao d a eco n o m i a ( B E RTAS O , 1 99 8 ) . A cidadania pressu poe i g u a l d a d e d e d i reitos , i m p l ica uma rela:ao rec i p roca de res p eito aos d i reitos e deveres entre os cidadaos e 0 Esta d o , visando a material iza:ao dos d esejos d o sujeito , atraves de
d i s c u s s o e s s o c i o - p o l i t i ca s ; a p a rt i c i p a : a o dos e n v o l v i d o s n e s s e e s p a : o p o d e s i g n i fi c a r a re d i stri b u i :a o d o s d i re i t o s a to d o s , evita n d o a transforma:ao d o outro e m obj eto a ser possu ido.
Gauderer ( 1 995, p . 1 4) considera que "a nossa postu ra e, por forma:ao e tambem , por for:a do oficio, autoritaria, dogmatica , paternalista , e esta se tornando mais lexivel, democratica e de parceria com 0 paciente e a com u n id a d e , devido as m u d a n :as ocorridas no cidadao". Apesar d e j a serem observadas mudan:as nessas rela:oes , principalmente nos grandes centros, nos q uais os q u estionamentos bem como as pressoes da coletividade sao m a i o res, 0 q u e tem exigido dos profissionais da saude uma postu ra mais democratica , esta nao parece ser a ton ica d o m i n a nte, tendo em vista as m u ltiplas d iferen:as regionais e cu ltu rais do pais. Essa rela:ao d e poder, entre os profissionais e os clientes , ven se reprod uzindo ao longo da historia, nos servi:os d e s a u d e e nas sociedades em gera l . F o u ca u lt ( 1 990) resgata , metaforica mente, 0 q u e d e n o m i n a d e " Poder Pasto ra l " , ou sej a , 0 poder d o pastor sobre s u a s ovelhas e 0 rebanho como u m todo, para favorecer 0 entendimento de mu itas das rela:oes patern a l i stas , presentes nas sociedades mod ernas , tanto na rel a:ao d o Estado com a popula:ao e os i n d i v i d u o s co m o , em e s p e c i a l , no exerc i c i o d a m ed i ci n a , n a fam i l i a , n a s socied ades beneficentes , entre outros, q u e se enco ntram bastante articu ladas . Nesta rela:ao desig u a l , 0 pastor se recon hece como responsavel por suas ovelhas e pelo rebanho, de q uem exige obed ienci a , a exposi:ao de s i , da sua vida, assim co mo a n ega:a o de si. De modo semel hante, m u itas das rel a:oes que se dao entre os homens e, em especia l , entre os profissionais d a saude e os c l i e ntes, ta m b e m , s e faze m , d e modo d e s i g u a l , a p a rente m ente, sem reco n h ecer s e u s d i fe rentes saberes, historias, modos de ser e de viver. Na maioria das vezes, ainda, m u itos profissionais, reconhecendo se como responsaveis pelo cliente , decidem sem consu lta-Io, acred itando, de modo autoritario, que sao os que sabem 0 que e m e l h o r para ele e q u e estao, talvez, agindo d e u n modo adequado e aceitavel .
o profi s s i o n a l freq u e nteme nte tem exi g i d o o b e d i e n ci a , p o r p a rt e d o s c l i e n t e s , p a ra s u a s prescri:oes e orienta:oes , visando a mod ifica:ao d e s e u s h a b itos , c o m o a p a re nte p re-req u i s i to p a ra melhorar e asseg u rar a s u a saud e . D iversos fatores, entao, tem contri b u i d o para ma nter 0 iente nessa rela:ao d e obed iencia e dependencia para com 0 proissional da saude como a falta de informa:ao sobre seu proprio processo saud e-doen:a; as d iferen:as de saberes e de linguagem entre 0 cliente e 0 profissional, sem q u e seja feito um esfor:o na is sign ificativ� , por sua p a rte , n o s e n t i d o d e m o d ificar esta re l a :ao assimetrica .
A T R O C A D E S A B E R E S C O M O U M A POSSIBILIDADE DE REDU CAo DA ASS I M ETRIA ENTRE 0 PROFISSIONAL E 0 CLIENTE
Como ja referi d o , percebe-se a informa;ao c o m o e l e m e n to fu n d a m e n t a l no p r o c e s s o d e a uton o m i a d o c l i ente . A co m u n i ca;ao e n tre as pessoas se da mediante a transmissao de u m saber, de u m fato ou d e u m senti mento, u m i nterca mbio de informa;oes, u m a intera;ao , e m q u e 0 cli ente e 0 profission a l , com partilhando suas vivencias, anseios e duvidas, buscam "ser m a i s" 3 em suas rela;oes .
M u itas vezes, os profissionais, e nvolvidos em m u l t i p l o s a f a z e re s , e x e r c e n d o f u n ; o e s q u e , necessa riamente , nao sao suas, alegam nao d ispor de tempo suficiente ou, q u e m sabe, nao p riorizam esse momento de intera;ao, de troca de experiencias e de informa;oes.
Por outro lado, 0 saber d o cliente sobre s i , seu m o d o de se c u i d a r, s e u p ro b l e m a v i v i d o , freqUentemente, tam bem , nao tem se constitu [do em mensagem a ser tra n s m itida aos p rofissionais d e saude, nao tem encontrado espa;o para ser veiculado, seja por fa lta d e reco n h e c i m e nto d o seu valor e i m porta n c i a . A troca d e s a b e re s , 0 d i a l ogo e "0 ca m i n h o p e l o q u a l o s h o m e n s e n c o n t r a m s e u sign ificado enquanto homens; 0 d i a logo e , pois , u m a necessidade exi stencial" ( F R E I R E , 1 980 , p . 82). A medida q u e os homens problematizam e refletem sobre sua pratica coti d i a n a , tendo consciencia de si e da realidade que os cerca , reconhecem que, para transforma-Ia, necessitam com u nicar-se com outros hom ens, considerar que nao tem verdades absolutas , e que, por vezes, podem estar equ ivocados.
Quanto mais i nformado estiver 0 cliente, mais op;oes tera de escolhas para d ecid i r 0 q u e e mel hor para si, pois a i nforma;ao "e a base da decisao, do j u l g a m e n t o e da p o n d e ra ; a o . A i n fo r m a ; a o amad u recida pela vivencia e pela experiencia nos permite transcender a l i berdade, proporcionando-nos um estado de i nterdependencia com as pessoas e 0 m u ndo a nossa volta , rela;ao esta d e i g u al d a d e , autonomia e liberdade" (GAU D E R E R , 1 995, p . 1 2 ).
A i nfo rma;ao e um d i re ito i n a l i e n avel d o cidadao, ou sej a , 0 h o m e m , para t e r a sua cond i;ao de cidadao reconheci d a , a p ri n c l p i o , req uer 0 d i reito total e i l i m itado de saber tudo 0 q u e diz respeito a s i , sobre s e u corpo , sua saude e s u a d oen;a , u m a vez q u e "esse corpo, essa saude au essa doen;a Ihe petencem" , e nao ao profissional q u e 0 assiste . Ao ser atendido pelo profissional d e s a u d e , permite-Ihe
lidar consigo, "mas nao Ihe outorga necessariamente o dire ito de, un ila te ra lm e n te, decidir por ele ' (GAU D E R E R , 1 995, p . 47).
As d iferen;as d e saber, culturais, hist6ricas e sociais, assim como a sua comunica;ao, concretizada atraves d e uma l i n g u agem tecni ca util izad a pelos profissionais da saude, podem ser destacad as como poss[veis barre i ras para 0 entendimento do cli ente . D iante da inco m preensao do q u e 0 profissional esta Ihe propondo e da com plexidade do que pode estar Ihe ocorrendo, 0 cam i n h o mais facil pod e ser aceitar passivamente, sem q u estionar 0 que Ihe e oferecido. o modo de com u n icar d etermi nados saberes , ainda, pode esta r sendo utilizado como exercicio de poder por parte dos p rofi s s i o n a i s da s a u d e frente aos clientes .
OS CLIENTES DOS SERVICOS DE SAU DE COMO CONSUMIDORES
o d i re i t o a s a u d e e o s d i re i t o s s o c i a i s c o m e ; a m a s e re m re c o n h e c i d o s e m t e r m o s u n iversais, a partir da Seg u n d a Guerra Mundial , com o s u rg i mento de varios movimentos e c6d igos em d e fe s a d o s d i re i t o s h u m a n o s e d e c6 d i g o s questionando 0 poder do Estado, e m rela;ao aos seus cidadaos, destacadamente, a l uta pelos d i reitos a saude. Conforme No Brasil, pode-se destacar a "Cata dos D i reitos do Paciente" ( M EZO M O , 200 1 , p. 294) emitida pelo Conselho de Saude do Estado de Sao P a u l o , e l a b o r a d a p o r o rg a n i z a ; o e s n a o governamentais e vol u ntarios. Tendo, como objetivo , a d efes a d o s cl i e ntes p o rt a d o res d e pato l o g i a s cronicas, esta fundamentada na amplia;ao d o respeito ao principio da autonom ia e dos d i reitos dos clientes nos servi;os de saude. Deve-se ressaltar, tambem, a i m porta ncia d os Conselhos M u n icipais de Saude, i n stitu [dos pela Lei nO 8 . 1 42/9 0 , que, com poder deli berativo , tem como atri b u i ;oes tra;a r di retrizes para as pol lticas de saude e fiscalizar sua execu;ao, dentre outras; representam importantes instrumentos s o c i a is p a ra os q u a i s p o d e m s e r d i re c i o n a d a s reivindica;oes das coletividades.
A s c i e n c i a s b i o m e d i c a s tem b u s c a d o respostas a s m u l t i p l a s q u e stoes emerg i d a s , n a pratica , levando ao aumento de pesq u isas com seres h u manos, 0 q u e pode envolver d i lemas eticos d iante dos poss[veis conflitos representados pelos interesses dos pesq u isad ores e dos sujeitos da pesq uisa. A Resol u ;ao 1 96/96 do Conselho Nacional de Saude do M i n i sterio d a Saude ( B RAS I L , 1 996 ) tem como
3 0 ser mais, para F re i re ( 1 9 8 0 ) , e 0 p rocesso no qual 0 homem , refl eti ndo sobre seu esta r no m u ndo e com 0 mundo, conhecendo-se a s i , identificando s u as l i mita:oes e aquelas q u e se i m poem a sua a:ao , procura formas de venc�-I a s . J a , p a ra Paterson e Z d e ra d ( 1 9 8 8 ) , 0 s e r mais e 0 p rocesso d o s e r h u m a ne constru [ d o atraves d o relacionamento consigo m e s m o e com os outros, para tornar 0 seu viver mais h u m a name nte possive l .
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objetivo esta belecer normas reg u l a m entadoras d e pesq uisas, c o m seres h u m a nos, representando u m ava n ;o n a d efe s a d a s p e s s o a s e i n s t i t u i ;o e s envolvidas. Ela incorpora , sob a otica d o s individuos e das coletividades , os principios d a bioetica , ou sej a , a auto n o m i a , a beneficencia , n a o m a l efi ce ncia e j u st i ;a , a s s e g u ra n d o o s d i re i tos e d everes d o pesq uisador, bem como d o s ujeito d a pesq u isa, d a institui;ao e d o Esta d o . Atraves d o Consenti mento Livre e Esclareci d o , 0 s uj e ito da i nvesti ga;ao e re s p e i t a d o e m s u a a u t o n o m i a , p o i s , a p o s o s escl areci me ntos e expl i ca;oes sobre a natu reza da pesq uisa, seus riscos e beneficios, pod era autorizar ou nao a sua participa;ao na mesma ( G E LAI N , 1 998). A cria;ao do Codigo de Defesa do Consumidor , ( B RAS I L , 1 99 8 , lei 8078/90) sign ifico u um avan;o para os d i reitos do cidadao, destaca ndo-se 0 a rtigo 6°, incisos I e I I I , que asseg u ra m "a prote;ao da vida , da saude e seg u ra n ;a contra riscos provocados por p raticas no forneci m e nto de p rod u tos e servi;os considerados perigosos ou nocivos" . Preve , ainda, 0 direito do consumidor receber a "informa;ao adequada e clara sobre os d iferentes p rod utos e servi ;os , com especifica;ao correta de q uantidade, caracteristicas, composi;ao, q ualidade e p re;o , bem como sobre os riscos que a p re s e n t a re m ; " a p rote;ao contra a publ icidade enganosa e abusiva , a efetiva preven;ao e re p a ra ; a o d e d a n o s p at r i m o n i a i s e m o ra i s , individuais, coletivos e d ifusos .
A BIOETICA E SEUS PRIN CiPIOS
A patir de 1 960, intensiicam-se os movimentos reivindicatorios dos d i reitos d a s pessoa s , s u rg i n d o , entao, a disci p l i n a d e bi oetica ( b i o s = vid a ; eti ca =
ethos), fruto d e d iscussao e q u estionamento acerca dos complexos problemas eticos e dos dilemas morais causados pelo prog resso das ci encias biomed icas e desenvolvi mento tecnologico acontecido nas u ltimas decadas (LU NA; SAL L E S , 1 995).
A bioetica emerg e , entao, como u ma ciencia fruto de reflexoes acerca dos p roblemas morais q u e emergiram n o campo da vida, da saude, apresentando, como caracteristica fu ndamenta l , a defesa dos direitos do cliente, reconhecendo-o como sujeito . Beuchamp e Childress ( 1 979) desenvolvem q u atro pri n cipios classicos d a bioetica , a a uton o m i a , a beneficencia, a n a o m a l e fi c e n c i a e a j u st i ; a , a p re s e n ta n d o a diferencia;ao entre principios e regras . Os principios, segundo os autores, "baseiam-se em um n ivel de j ustifica;oes mais gerais e fu n d a m e ntam as reg ras", enquanto q u e as reg ras g u i a m e j ustificam as a;oes nos casos particu lares (LU NA; SAL L E S , 1 995, p . 25). Como exemplo de regra, tem-se que 0 enfermeiro deve respeitar a decisao do cliente e m aceitar ou nao a se submeter a determ i n a d o trata mento . N este caso, a
reg ra e j ustificad a pelo principio da a utonomi a . o p ri n c i p i o d a j usti ;;a " o b r i g a a g a rantir a d istribui;ao justa , equitativa e u niversal dos beneficios dos sevi;os de saude" (PESS I N I ; BARC H I FONTAINE, 1 996, p . 44) ; entendido como u m conceito normativo, t e m c o m o o bj e t i v o b e n efi ci a r os m e m b ro s d a coletividade q u e nao podem, e m fun;ao d e seus n iveis de ren d a , cultura, entre o utros , busca r no mercado a satisfa;ao de suas necessidades n a a rea da saude. Para concretiza;ao d este principio, e necessario que todos os individuos tenham as mesmas oportunidades e m rela;ao a s u a sa u d e . Por outro lado, a situ a;ao de desig ualdade a nterior dos clientes que procu ram os servi;os d e saude poderia ser q uestionada.
o p ri n c i p i o da a u to n o m i a b a s e i a -s e no reconhecimento d a capacidade da pessoa decidir a u to n o m a m e nte q u a nta a s q u estoes que d izem respeito a si propri a , reconhecendo-se dona de suas
proprias a;oes e d ecisoes . A autonomia (autos, eu;
nomos, lei) e a capacidade humana, de governar-se a si mesma, de agir de acordo com sua vontade, atraves de esco l h a s ao seu a l cance, d i a nte de objetivos e s ta b e l e c i d o s p e l a p r o p r i a p e s s o a . A d e c i s a o autonoma n a o deve ser for;ada; 0 individuo, de posse das informa;oes relevantes e necessarias, bem como das op;oes reais de esco l h a , pod era decid ir 0 q u e e melhor para s i . 0 cliente, ao recusar-se a se submeter a d eterm i n a d o p roced i m ento , te n d o recebido as i nform a;oes necessari a s , estara exercita ndo 0 seu d i reito a autonom i a .
Seg u ndo Lara e Fuente , citados p o r Schneider et a l . ( 1 9 9 5 , p. 1 7 1 ) , "se 0 valor fu ndamental do profissional esta baseado n o bem estar, no principio da beneficencia, a etica e orientada para os resu ltados e a autonomia d o paciente tem importancia marginal". Por outro lado, se 0 seu valor maior for a autonomia, a etica estara orientada para a a;ao , em que 0 respeito ao outro e basico. S i g n ifica , porta nto , q u e ao cl iente d eve ser solicita d a a autoriza;ao para real iza;ao d e q ualquer procedimento em si, qualquer a;ao, evitando se a coer;ao e 0 patern a l i s m o . Coelho ( 1 993, p. 02) afirma q u e "0 paciente esta a margem dos processos decisori o s , s e n d o fra g m e ntado e, m u itas veze s , s u b m etido a atitu d e s patern a l i stas p o r parte d o s p rofissionais d a s a u d e e d o s fam i liares" .
o principio d a benefic€mcia pressu poe , aos profissionais d a s a u d e , um com p o rtamento etico de fazer 0 bem tanto ao cliente, q u a nta a sua fam i l i a , visando a promo;ao d o seu b e m estar. J a , segundo 0 pri n c i pio da nao maleficimcia, os profissionais da saude devem ter presente que suas a;oes nao devem causar danos aos cliente s , n e m expo-los a ri scos desnecessa rio s , sob q u a l q u e r pretexto .
A bioetica infl uenciada , entao, por movimentos reivindicatorios, focal iza , na area da saude, q uestoes que antes nao eram tao evidentes, tais como os direitos
dos clientes . N o e ntanto, a sua consciencia d o d i reito de decid ir 0 q u e e melhor para si pode gerar confl itos eticos com os profissionais e entre os profissionais q u e 0 atendem . N este sentid o , a p rofu nd am-se os q u estionamentos e reflexoes sobre os p roblemas eticos que permeiam 0 cotidiano da enfermagem e as cond utas eticas d o enfermeiro frente aos clientes .
A PROBLEMATIZA;AO DA PRATICA COMO U MA NECESSIDADE ETICA
Como suj eito h i storico , 0 ser h u ma n o age conforme suas concep;;oes morais tendo como base seus va lores e cren ;;as. A moral e "0 conj u nto de pri ncipios, valores e normas q u e reg u l a m a cond uta h u mana em suas rela;;oes sociais, existentes em determinado mom ento h i storico" ( F O RT E S , 1 998, p.26). J a , a etica , seg u nd o Fortes ( 1 998, p . 2 6 ) , "impl ica em op;;ao ind ivid u a l , escolha ativa , req uer adesao intima da pessoa a valores, principios e normas m o ra i s , e l i g a d a i n t r i n s e ca m e n t e a n o ;;a o d a autonomia individ u a l " . Compreende reflexao critica , problematiza;;ao, indaga;;ao de q uestoes relativas ao comportamento h u mano, do ponto de vista do certo e errado, al mejando sempre 0 bem estar dos sujeitos , sem ser prescritiva , normatizadora .
Andery ( 1 985, p . 7 7 ) a ponta para a existencia de tres tipos de etica profissio n a l : a legiti m adora , a idealizante e a problematizadora . A etica legitimadora confi g u ra-se como aquela em q u e a propria pratica determ ina a norma mora l ; n a postu ra ideal izante, as normas sao feitas u n i ca m ente no discurso, sem u m c o m p r o m et i m e nto c o m a rea l i d a d e . J a a etica p ro b l e m a t i z a d o ra , no e n t a n t o , c o n s i s t e n a problematiza;;ao das praticas usuais, bem como n a apresenta;;ao de u ma proposta a lternativa , tod a vez q u e as praticas atu ais se mostra rem i n adequadas .
A problematiza;;ao d a pratica dos enfermeiros podera significar um ponto de partida para a reflexao e a m p l i a;;ao do con h ec i m e n to sobre s i , sobre a realidade profissional e cotidiana. Para que aconte;;am m u d a n:as em re l a;;ao aos d i reitos do cliente, e impresci nd ivel q u e , a partir d a problematiza;;ao do respeito ou nao a esses d i reitos, se mobil ize um processo q u e possa levar, tanto 0 enfermeiro q u a nta o cliente , ao alcance de maior conscientiza:a o . A conscientiza;;ao pode ser entendida como 0 processo q u e oportun iza ao ser h u mano d escobrir-se, atraves da relexao sobre sua existencia; perceber-se oprimido e/ou opressor, nao se conforma n d o com a situ a:ao vivi d a , busca n d o , at raves d a a;;a o , mod ificar sua rela:ao com outros sujeitos, consigo mesmo e com o mundo. I m plica u ltrapassar a fase de apreensao da r e a l i d a d e , do s e u c o n h e c i m e n t o , p a ra a t u a r critica mente, no sentido d e m u d a n;;a d a p ratica, atraves da praxis , da a;;ao-reflexao-a;;ao, assumindo
o papel de sujeito no mundo, sem , no entanto, fazer 0 outro de objeto. A conscientiza:ao apresenta-se como u m p r o ce s s o c o n t i n u o n o q u a l a rea l i d a d e transformada, a cada momento, mostra u m novo peil . C o n fo r m e A n d e ry ( 1 9 8 5 , p . 8 2 ) , a e t i c a problematizadora "nao p retende oferecer form u las prontas de pratica alternativa, mas sim incentivar que esta seja procu rad a e testada", oportu n izando a que, atraves das d iscussoes e reflexoes, sejam definidos novos v a l o res e normas d eontologicas, em q u e prevale;;a a integridade proissional , 0 reconhecimento do outro como sujeito semelhante a si, com direitos e d e v e r e s . O s v a l o re s e a s n o r m a s d ev e m s e r exa m i n a d o s e q u estion ados m e d i a nte refl exoes, analise das praticas cotidianas, com a patici pa:ao de todos os envolvidos no processo, em vez de apenas legitimar as praticas u s u a i s .
N a a rea d a enfermage m , especifica mente , profissionais v e m foca lizando a q uestao da etica e , na etica, o s d i reitos do cliente , abordando tal tematica sob diferentes angulos.
Germano ( 1 993) procu ra compreender a etica e 0 ensino da etica na forma:ao dos enfermeiros no Brasil ; Coelho ( 1 993) i nvestiga 0 conhecimento acerca das responsabilidades etico-I egais, as cren:as , os va l o re s , a s o p i n i o e s e a t i t u d e s , b e m c o m o a identifica:ao do padrao de pensamento predominante n o g r u p o d e e n fe r m e i r a s a c e rca d e s s a s responsabilidades; Selli ( 1 997) busca ampliar a vi sao d o s p rofi s s i o n a i s d e e n fe r m a g e m , atraves d a compreensao da importancia da reflexao bioetica, bem c o m o s u a s i m p l i c a : o e s n a s a t i v i d a d e s d o s profissionais; Lunard i ( 1 997) busca respostas a como se da a governabilidade na enfermagem, focalizando os l i m ites e ntre 0 cuidado d e si e 0 poder pastora l ; Gelain ( 1 998) descreveu a existencia d e varios modelos eticos relacionados a pratica da enfermagem ; Veloso ( 1 998) pretendeu ava l i a r 0 conhecimento da eq uipe de enfermagem sobre 0 direito do cliente hospitalizado d e ter acesso as informa:oes .
CONSIDERA;OES FINAlS
Para encerrar este texto , util izam-se as ideias de Fotes ( 1 998) que considera necessario reformular a pratica cotidiana dos servi;;os de saude, assim como a cultura prevalente e ntre os profissionais, no sentido de adotar os p ri nc i p i o s eticos como variaveis de qualidade i n stitu cional e a;;ao profissional, a serem observados na pratica cotidiana , com 0 objetivo de h u m a n iza r s u a s a;;oes . Esta q u a l idade deve ser orientada para a preserva;;ao dos principios eticos e d o s d i r.e itos d o s c l i e ntes , e n a o a p e n a s p a ra a organiza;;ao tecnica e econ6mica dos servi:os de saude.
Pode-se destaca r q u e , assim como vem se
d a n d o ava n ;;os s i g n ifi cativos n a clencia n a a rea biologica , a sociedade vem se mobilizando, de modo crescente, no sentid o d e mostrar-se mais atenta aos p roblemas e confl itos eticos d e co rrentes d e tais avan ;;o s . P o r o ut ro l a d o , a par d este p rocesso evidenciado, constatam -se , n o cotidiano da a rea d a saude, a i n d a , m u lti plas situa;;oes d e desrespeito a con d i;;ao h u m a n a dos cliente s .
E preciso d estacar, no e ntanto, q ue , c a d a vez mais, os enfermeiros p reocu pados e i n conform ados com este processo d e "cois ifica;;ao" das pessoas, tanto dos clientes como, possivelmente de si proprios, por se senti rem i m potentes p a ra alcan ;;a r maiores ru ptu ras neste vivido, tem optado por d i recionar seu olhar critico , investigador e de estudo para 0 cotidiano de sua pratica . Tai s exercicios tem se feito n u m a tentativa d e , coloca n d o-se exte rn a m e nte a este p roce s s o , p ro b l e m at i z a - I o , a n a l i s a - I o teori ca e filosoficamente, apontando e sugerindo possibilidades de fissuras, como estrategias d e fortalecimento de uma categoria profissional compro metida consigo e com os d i reitos d a q u e l e s q u e b u s c a m os s e u s cuidados .
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