Aécia Seleide Dantas
Análise de sedimento de fundo: uma amostragem representativa
do estuário Potengi/RN
_______________________________________
Dissertação de Mestrado
Aécia Seleide Dantas
ANÁLISE DE SEDIMENTO DE FUNDO: UMA AMOSTRAGEM
REPRESENTATIVA DO ESTUÁRIO POTENGI/RN
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Química, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como parte das exigências para obtenção do título de Mestre em Química.
Orientador: Prof. Dr. Djalma Ribeiro da
Silva.
Natal/RN
Divisão de Serviços Técnicos
Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Setorial de Química
Dantas, Aécia Seleide.
Análise de sedimento de fundo: uma amostragem representativa do estuário Potengi/RN. Aécia Seleide Dantas. Natal, RN, 2009.
114 f.
Orientador:Djalma Ribeiro da Silva
Dissertação (Mestrado em Química) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Exatas e da Terra. Programa de Pós-Graduação em Química.
1. Sendimentos – Dissertação. 2. Elementos traço – Dissertação. 3. ICP-OES – Dissertação. I. Silva, Djalma Ribeiro da. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.
Porque o SENHOR dá a sabedoria; da
sua boca é que vem o conhecimento e
o entendimento. Ele reserva a
verdadeira sabedoria para os retos.
Escudo é para os que caminham na
sinceridade.
AGRADECIMENTOS
Agradeço acima de tudo a Jesus, pela sua misericórdia que se renova a cada
manhã, pois sem ela seria impossível concluir esse trabalho. O seu amor é o que
tenho de mais precioso.
A tio Mozart e sua família por me proporcionar moradia e conforto como uma
verdadeira família.
À minha amada irmã, Airley, por me apoiar em todos os momentos, e por ouvir
minhas neuras durante anos. Não tenho palavras para agradecer a Deus por ter
me dado você como irmã.
Aos meus pais, pelo amor, pelas conversas e pelas orações. É um alívio saber
que posso sempre contar com vocês.
Ao meu amado sobrinho, Ephram Lucas, simplesmente por ter vindo a esse
mundo e fazê-lo um lugar mais alegre com isso.
À minha “prima-irmã” Lorena, você sempre irá morar no meu coração.
Às minhas amigas químicas, Emily, Rina e Verushka, pelos cafés, discussões e
conselhos.
À minha amiga Tarcila pela companhia nas várias horas extras que foram vitais
para conclusão desse trabalho.
Ao prezado e querido Prof. Djalma, pela orientação e incentivo. Eu não poderia ter
melhor orientador.
Ao meu amigo Severino, meu muitíssimo obrigado.
Ao Pr. Fábio Rosseti pelas conversas que sempre me inspiram a procurar mais e
mais a sabedoria. Obrigada por dividir seus conhecimentos sem cobrar nada.
À Wilson Ferreira por sempre ter me ajudado a entender a técnica de ICP-OES.
À CAPES, pelo apoio financeiro, através da bolsa de estudo ao longo de dois
Ao IDEMA pelo apoio financeiro e por fornecer o mapa do Rio Potengi.
A todos que trabalham comigo no laboratório. Vocês são mais que colegas de
RESUMO
Esse trabalho objetiva avaliar, por meio da quantificação, a presença dos
elementos maiores e menores nos sedimentos do estuário Potengi. Para o
estudo, foram definidos quatro pontos de amostragem georeferenciados, onde em
cada um deles foram coletadas amostras de sedimento na calha do rio e nas
margens esquerda e direita. Além disso, foram realizadas medidas de pH,
oxigênio dissolvido, salinidade e condutividade da água in situ no momento da
coleta. Em laboratório foram feitas determinações da porcentagem de matéria
orgânica por Gravimetria e análise granulométrica nas amostras de sedimento.
Para quantificação dos elementos maiores e menores foi realizado um teste
prévio para abertura da amostra com um padrão de sedimento estuarino NIST
1646a para escolha da melhor metodologia a ser adotada. As amostras de
sedimento foram digeridas em microondas com ácido nítrico e ácido clorídrico
segundo metodologia proposta pela US EPA 3051A. As análises quantitativas dos
elementos Al, Fe, Cd, Cr, Cu, Mn, Ni, Pb e Zn foram realizadas por espectrometria
de emissão ótica com plasma acoplado indutivamente (ICP-OES). Através destas
observou-se que as concentrações parciais dos elementos analisados estão
abaixo do folhelho padrão tomado como média mundial descritas por Turekian e
Wedepohl (1961).
ABSTRACT
The aim of this study is to quantify the presence of major and minor
elements in the sediments of estuary Potengi. Four georeferenced sampling points
were used in the study, at which sediment samples were collected in the channel
of the river and on the right and left banks. In addition, dissolved oxygen, salinity
and water conductivity were taken in situ at the time of sample collection. The
percentage of organic matter, determined by gravimetry, and granulometric
analysis of the sediment samples were conducted in the laboratory. To quantify
the major and minor elements a prior test to open the sample was conducted with
standard NIST 1646ª estuarine sediment to choose the best methodology to be
adopted. The sediment samples were dissolved in microwaves with nitric acid and
chloridric acid, according to methodology proposed by US EPA 3051ª.
Quantitative analyses of the elements Al, Fe, Cd, Cr, Cu, Mn, Ni, Pb and Zn were
conducted by inductively coupled plasma optical emission spectrometry
(ICP-OES). The results showed that the partial concentrations of the elements analyzed
are below average worldwide shale levels, the standard described by Turekian
and Wedepohl (1961).
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 Camadas que compõem o solo... 22
Figura 2 Diagrama esquemático de uma fonte de plasma de argônio.... 41
Figura 3 Representação da emissão atômica... 43
Figura 4 Fluxograma das Etapas Desenvolvidas no trabalho... 45
Figura 5 Localização dos pontos de amostragem do estuário Potengi... 47
Figura 6 Ponto E01 - Rio Potengi – Dique da Marinha do Brasil... 50
Figura 7 Ponto E02 - Rio Potengi - Jusante do Canal do Baldo... 50
Figura 8 Ponto E03 - Rio Potengi - Em frente ao Iate Clube... 51
Figura 9 Ponto E04 - Rio Potengi - Ponte Newton Navarro... 51
Figura 10 Gráfico da granulometria do Ponto E01- Margem Direita... 66
Figura 11 Gráfico da granulometria do Ponto E01- Calha... 66
Figura 12 Gráfico da granulometria do Ponto E01-Margem Esquerda... 66
Figura 13 Gráfico da granulometria do Ponto E02- Margem Direita... 67
Figura 14 Gráfico da granulometria do Ponto E02- Calha... 67
Figura 15 Gráfico da granulometria do Ponto E02-Margem Esquerda... 67
Figura 16 Gráfico da granulometria do Ponto E03- Margem Direita... 68
Figura 17 Gráfico da granulometria do Ponto E03- Calha... 68
Figura 18 Gráfico da granulometria do Ponto E03-Margem Esquerda... 68
Figura 19 Gráfico da granulometria do Ponto E04- Margem Direita... 69
Figura 20 Gráfico da granulometria do Ponto E04- Calha... 69
Figura 21 Gráfico da granulometria do Ponto E04-Margem Esquerda... 69
Figura 22 Médias das concentrações do teor de matéria orgânica (%) encontrada nas amostras de sedimento de fundo... 70
Figura 23 Gráficos das concentrações de alumínio no sedimento, em porcentagem... 75
Figura 24 Gráficos das concentrações de ferro no sedimento, em porcentagem... 76
Figura 25 Gráficos das concentrações de manganês no sedimento, em mg.Kg-1... 76
Figura 27 Gráficos das concentrações de chumbo no sedimento, em
mg.Kg-1 ... 79
Figura 28 Gráficos das concentrações de cobre no sedimento, em
mg.Kg-1 ... 81
Figura 29 Gráficos das concentrações de zinco no sedimento, em
mg.Kg-1 ... 81
Figura 30 Gráficos das concentrações de cromo no sedimento, em
mg.Kg-1 ... 82
Figura 31 Gráficos das concentrações de níquel no sedimento, em
mg.Kg-1 ... 83
Quadro 4.1 Estações de coletas, suas coordenadas e as possíveis fontes
poluidoras... 49
Quadro 5.1 Classificação granulométrica dos sedimentos (CONAMA
LISTA DE TABELAS
Tabela 4.1 Resultados da média (n = 3) das recuperações dos analitos nas diferentes extrações parciais (%)... 55
Tabela 4.2 Programação do digestor por microondas... 56
Tabela 4.3 Condições de operação do ICP-OES... 58
Tabela 4.4 Comprimento de onda, coeficiente de correlação, faixa de concentração e limites de detecção e quantificação, das curvas
analíticas utilizadas... 59
Tabela 5.1 Resultados obtidos na caracterização das amostras de água
nos pontos de amostragem do estuário Potengi/RN... 62
Tabela 5.2 Resultado da caracterização granulométrica e classificação das amostras segundo CONAMA 344/2004... 64
Tabela 5.3 Comparação das médias (n = 3) dos resultados da
porcentagem de matéria orgânica nas amostras de sedimento
e a média (n = 3) dos elementos menores, em mg.Kg-1... 72
Tabela 5.4 Resultado da média (n = 3) da %MOT... 73
Tabela 5.5 Resultados da Quantificação dos elementos maiores... 77
Tabela 5.6 Resultados da quantificação dos elementos traço Cd, Cr e Cu... 84
Tabela 5.7 Resultados da quantificação dos elementos traço Ni, Pb e Zn.... 84
Tabela 5.8 Comparação da concentração de elementos maiores e menores em sedimentos de diversos estuários do estado do
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
%OD – Oxigênio Dissolvido e sua Saturação
µg.L-1 – Microgramas por Litro µM – Micrômetros
APHA – American Public Health Association
CAERN – Companhia de Águas e Esgotos do RN
CETESB – Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental
CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente
COT – Carbono Orgânico Total
DBO – Demanda Bioquímica de Oxigênio
DP – Desvio Padrão
DQO – Demanda Química de Oxigênio
GPS – Global Position Search
ICP-OES – Espectroscopia de Emissão com Fonte de Plasma Indutivamente
Acoplado
LD – Limite de Detecção
m3 – Metros Cúbicos
mg (Pt-Co).L-1 – Miligrama de Platina-Cobalto por Litro mg.L-1 – Miligrama por Litro
MOT – Teor de Matéria Orgânica
OD – Oxigênio Dissolvido
pH – Potencial Hidrogeniônico
ppb – Partes por Bilhão
ppm – Partes por Milhão
SERHID – Secretaria de Recursos Hídricos
TOG – Teor de Óleos e Graxas
UNT – Unidade Nefelométrica de Turbidez
USEPA – United States Environmental Protection Agency
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO... 15
2 OBJETIVOS... 17
2.1 OBJETIVO GERAL... 17
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS... 17
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA... 19
3.1 ÁREA DE ESTUDO... 19
3.1.1 Estuários ... 19
3.1.1.1 Estuário Potengi ... 19
3.2 SEDIMENTOS... 20
3.3 PARÂMETROS ANALISADOS NESTE TRABALHO... 22
3.3.1 Granulometria... 22
3.3.1.1 Efeito do tamanho das partículas sobre a acumulação de metais pesados... 23 3.3.2 Teor da matéria orgânica ... 24
3.3.3 Elementos maiores e traços... 25
3.3.3.1 Alumínio... 27
3.3.3.2 Cádmio... 28
3.3.3.3 Chumbo... 29
3.3.3.4 Cobre... 30
3.3.3.5 Cromo... 32
3.3.3.6 Ferro... 33
3.3.3.7 Manganês... 35
3.3.3.8 Níquel... 36
3.3.3.9 Zinco... 37
3.4 DIGESTÃO ÁCIDA POR MICROONDAS EM AMOSTRAS DE SEDIMENTO... 38 3.5 DETERMINAÇÃO DAS ESPÉCIES METÁLICAS... 39
3.6 ESPECTROMETRIA DE EMISSÃO ÓPTICA COM PLASMA ACOPLADO INDUTIVAMENTE (ICP-OES)... 40 3.6.1 Plasma indutivamente acoplado (ICP)... 41
3.6.2 Introdução da amostra líquida... 42
4 MATERIAIS E MÉTODOS... 45
4.1 FLUXOGRAMA DOS PROCEDIMENTOS... 45
4.2 ÁREA DE ESTUDO... 46
4.3 COLETA E ACONDICIONAMENTO DAS AMOSTRAS... 51
4.4 MATERIAIS, REAGENTES E VIDRARIAS... 52
4.5 PREPARAÇÃO DAS AMOSTRAS PARA ANÁLISES... 53 4.5.1 Secagem das amostras... 53
4.6 PARÂMETROS ANALISADOS... 53
4.6.1 Granulometria... 53
4.6.2 Determinação da matéria orgânica total nas amostras dos sedimentos de superfície... 54 4.6.3 Determinação da concentração das espécies metálicas... 54
4.6.3.1 Digestão ácida por microondas dos sedimentos... 56
4.6.3.2 Análise da concentração das espécies metálicas por ICP-OES... 57
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO... 61
5.1 CARACTERIZAÇÃO DA ÁGUA... 61
5.2 CARACTERIZAÇÃO GRANULOMÉTRICA... 63
5.3 TEOR DA MATÉRIA ORGÂNICA... 70
5.4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS DA QUANTIFICAÇÃO DOS ELEMENTOS... 74 5.4.1 Elementos maiores... 74
5.4.2 Elementos traços... 77
6 CONCLUSÕES E SUGESTÕES... 87
6.1 CONCLUSÕES... 87
6.2 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS... 89
REFERÊNCIAS... 91
1 INTRODUÇÃO
Sedimentos de rios, lagos e oceanos contaminados têm-se tornado
assunto de grande interesse mundial, pois estes estão associados a
contaminantes que podem se distribuir por ressuspensão de partículas do próprio
sedimento, podendo se acumular na cadeia alimentar ou afetar a biota. A
capacidade dos sedimentos em acumular compostos os torna carregadores e
possíveis fontes de poluição à água no ambiente aquático, uma vez que,
alterações no pH, potencial redox ou a presença de quelantes orgânicos podem
promover a redisposição dos metais retidos nos sedimento ( BEVILACQUA et al,
2009). Portanto, a análise de sedimento de rios e riachos tem provado ser uma
ferramenta muito útil nos estudos de poluição, pois as propriedades de acúmulo e
de redisposição de espécies nos sedimentos, os qualificam de extrema
importância em estudos de impacto ambiental, devido registrarem, em caráter
mais permanente, os efeitos de contaminação (ALMEIDA, 2007).
Dentre os compostos indicadores de contaminação ambiental de um corpo
d’água, encontram-se as espécies metálicas, principalmente os metais pesados,
os quais, quando encontrado em grande concentração, merecem maior
preocupação, por serem não degradáveis e, portanto, permanecendo por longos
períodos no ambiente, podendo, inclusive, introduzir-se na cadeia alimentar
através da bioacumulação e gerar efeitos tóxicos e crônicos aos seres humanos.
É importante destacar essa propriedade dos metais, visto que, em pequenas
quantidades, são essenciais aos organismos, mas quando em excesso,
desencadeiam diversos problemas, causando mortalidade de peixes e
comunidades bentônicas, perifítica, planctônica, nectônica e seres
fotossintetizantes (SILVA, 2002).
Sendo assim, para se avaliar a contaminação dos sedimentos no meio
ambiente aquático, é necessário coletar amostras para definir adequadamente
suas características químicas e físicas. Até o presente, não há um método
definitivo de padronização na amostragem de sedimentos, e, além disso, é
importante escolher bem o método de abertura da amostra, uma vez que existem
Entre as várias fontes antrópicas de poluição por metais destacam-se:
contaminação por pesticidas, combustão de carvão e óleo, emissões veiculares,
incineração de resíduos urbanos e industriais, água contaminada na irrigação e,
principalmente, atividades de mineração, fundição e refinamento. Apresentamos
alguns exemplos:
• Impurezas em fertilizantes: Cd, Cr, Mo, Pb, U, V e Zn;
• pesticidas: Cu, As, Hg, Pb, Mn e Zn;
• preservativos de madeira: As, Cu e Cr;
• dejetos de produção intensiva de porcos e aves: Cu, As e Zn.
Nas últimas décadas, os corpos d’água da cidade de Natal, em particular o
meio estuarino do Rio Potengi, tem sido submetido aos efeitos da ocupação
desordenada, uso inadequado do solo, lançamento de efluentes domésticos e
industriais, sem qualquer tratamento prévio, gerando pontos críticos de poluição.
Esses fatores constituem potencial fonte de contaminação das reservas hídricas
subterrâneas e superficiais e uma grande ameaça à saúde pública.
Deste modo, tornar-se necessário o monitoramento das condições atuais
do sedimento de fundo do estuário em questão, por meio de um diagnóstico, para
assim avaliar as alterações ambientais ocasionadas e compreender melhor suas
2 OBJETIVOS
2.1 OBJETIVO GERAL
O objetivo deste trabalho é avaliar, por meio da identificação e
quantificação, a qualidade dos sedimentos do Estuário Potengi, com ênfase na
análise das espécies metálicas, contribuindo, assim, para o diagnóstico dos
problemas ambientais.
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
9 Determinar e quantificar as concentrações dos seguintes elementos:
alumínio, cádmio, chumbo, cobre, cromo, ferro, manganês, níquel e zinco,
nos sedimentos do Estuário Potengi.
9 Caracterizar os sedimentos por meio da análise granulométrica. 9 Determinar o teor de matéria orgânica.
9 Comparar as concentrações parciais das espécies metálicas nos
sedimentos da calha com os das margens direita e esquerda de cada
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
3.1 ÁREA DE ESTUDO
3.1.1 Estuários
Zonas costeiras e estuários são ambientes de grande complexidade, nos
quais a água doce proveniente de rios e córregos flui até o oceano onde se
misturam com a água salgada do mar. Nestes estuários, a implantação
desordenada de uma série de atividades econômicas tem causado, nos últimos
anos, uma grande variedade de impactos. Dentre os principais impactos estão à
infiltração de contaminantes nas águas subterrâneas, descargas de efluentes
urbanos e industriais, deposição de resíduos e lixos, influência das atividades
agrícolas e ocupação urbana. Sendo assim, estuários de todo o mundo estão
sujeitos a transformações decorrentes das diversas atividades antrópicas
(COSTA, 2008; FERNANDES, 2001). Estes sistemas são extremamente
dinâmicos: movem-se e mudam constantemente em resposta aos ventos, às
marés e ao escoamento do rio. Daí que a compreensão do transporte e da
distribuição dos poluentes nestes sistemas requer um conhecimento dos
processos físico-químicos e biológicos, além das propriedades dos próprios
contaminantes que ocorrem em tais sistemas. (LANDAJO, 2004).
3.1.1.1 Estuário Potengi
O estuário do Rio Potengi está localizado no litoral oriental do Rio Grande
do Norte, compreendendo uma extensão marinha entre os baixios de Genipabu
contribuintes os rios Potengi e Jundiaí. De acordo com o SEMARH (2009), esta
bacia abrange uma superfície de cerca de 4.093,0 Km2, equivalendo a 7,7% do território estadual. Este estuário apresenta influência tipicamente marinha, onde a
ação das marés penetra com vazões que variam de 5.000 até 20.000 m3. s
-1
(COSTA, 2008).
Tomando como referência de estudo o estuários do Potengi, é possível
visualizar sinais de poluição nele, onde os possíveis responsáveis são as
atividades realizadas ao longo de sua extensão, e a ocupação populacional
desordenada. Esgotos domésticos e industriais sem tratamento vêm sendo
lançados diretamente no estuário em questão há muitos anos, como o Canal do
Baldo. Esses esgotos são provenientes das habitações urbanas, com uma carga
muito alta de resíduos originados de instalações sanitárias, onde há
concentrações de matéria orgânica. Os esgotos industriais também são grandes
agentes poluidores ao longo do estuário Potengi, principalmente os originários
das indústrias de beneficiamento de couro e de camarão (CUNHA, 2004).
3.2 SEDIMENTOS
Sedimentos de ambientes aquáticos são constituídos por diferentes formas,
tamanho de partículas minerais e orgânicas com granulometria variada que cobre
o fundo dos rios, lagos, reservatórios, estuários e oceanos (BAIRD, 2002). Sua
composição inclui partículas heterogêneas como colóides, detritos, bactérias,
algas, óxidos, hidróxidos, silicatos, carbonatos, sulfetos e fosfatos (MANAHAN,
2001). Entende-se que um sedimento é geralmente formado por fases sólidas de
elementos majoritários: metais (Fe, Al, Ca, Mn), não metais (C, S, Si e P) e
elementos-traço (Cd, Cr, Cu, Pb, Zn, Ni, etc); precipitados e compostos
hidrolisados como Cu2(OH)2CO3, Pb5(PO4)3Cl, Pb3(PO4)2, Zn5(OH)6(CO3)2,
Zn3(PO4)2.H2O e ZnSiO4. Estes elementos podem estar presentes em altas
concentrações devido a processos diagenéticos ou por contaminação, pois
possuem maior tendência a co-precipitar e adsorver no material particulado
O sedimento tem um papel importante em relação à presença de metais,
pois, dependendo do ambiente em que se encontram, podem representar uma
fonte de liberação ou um sumidouro para os metais provenientes das águas
(FROEHNER, 2008). As concentrações totais de metais no sedimento não
indicam necessariamente a ocorrência de contaminação por fontes externas, pois
dependem do material de origem do sedimento e de suas propriedades. Por esse
motivo, o estudo das concentrações parciais dos metais, da granulometria das
amostras e da matéria orgânica é fundamental para se entender a dinâmica dos
metais em um ambiente aquático (ZAMBETTA, 2006).
O estudo de processos relacionados ao comportamento químico,
transporte e acúmulo de poluentes, principalmente metais pesados em rios e
estuários, apresenta relevância, não só para controle ambiental, mas também
para o entendimento dos mecanismos geoquímicos que ocorrem nestes
ambientes. Rejeitos industriais, esgotos domésticos, estruturas geoquímicas e
atividades de mineração são as principais fontes potenciais de poluição por
metais pesados do meio ambiente em geral. No ecossistema aquático, esses
metais têm recebido considerável atenção nos últimos anos, em virtude do seu
acúmulo e do potencial risco toxicológico à biota local (HORTELLANI et al., 2008).
Dentre as justificativas de se estudar a contaminação dos sedimentos por
espécies metálicas as duas mais importantes são:
1) a presença desses contaminantes nos sedimentos de rios, estuários e águas
marinhas costeiras, implicam em potencial degradação desses ambientes;
2) e a contaminação dos sedimentos pode vir a deteriorar continuamente a
qualidade da água de mananciais, mesmo após a redução ou completa
3.3 PARÂMETROS ANALISADOS NESTE TRABALHO
3.3.1 Granulometria
O solo é um meio complexo e heterogêneo, produto de alteração do
remanejamento e da organização do material original (rocha, sedimento ou outro
solo), sob a ação dos seres vivos, da atmosfera e das trocas de energia que ali se
manifestam. É constituído por quantidades variáveis de minerais, matéria
orgânica, água, ar e organismos vivos, que incluem plantas, bactérias, fungos,
protozoários, invertebrados e outros animais (MEDEIROS, 2009). Dependendo da
espécie mineralógica que o originou e dos mecanismos de intemperismo e
transporte, o solo apresenta diferentes camadas que são constituídas das
frações: areia, siltes ou argilas, as quais são representadas na figura 1.
Figura 1 - Camadas que compõem o solo. Adaptado de NASCIMENTO, 2008.
Existem diferentes técnicas para a determinação da distribuição
granulométrica no solo com base em diversos princípios físicos e que medem
consideradas esféricas. O Método de Espalhamento de Luz Laser, também
chamado de Difração Fraunhofer, utiliza, como princípio, a interação de um feixe
de luz com partículas em um meio fluido. Quando um feixe de luz monocromático
e colimado de um laser He-Ne atinge uma quantidade de partículas, parte desta
luz é submetida a um espalhamento, parte é absorvida e parte é transmitida. No
espalhamento, a luz pode ser difratada, refratada e refletida. Neste método, um
conjunto de lentes, detectores foto-elétrico e um microprocessador irão captar a
intensidade da energia espalhada e transformá-la em distribuição volumétrica das
partículas, assumindo-se, a princípio, que as partículas têm formato esférico
(RAWLE, 2002).
3.3.1.1 Efeito do tamanho das partículas sobre a acumulação de metais pesados
Constituídos de frações mineralógicas que possuem partículas de
tamanhos, formas e composições químicas distintas, os sedimentos constituem
vastas áreas de terras e suas propriedades dependem acentuadamente da
origem e do transporte sofridos por eles. (MANAHAM, 2001; BAIRD, 2002;
MENDES, 2006).
Esta variabilidade nos sedimentos tem importantes consequências, pois a
mineralogia e o conteúdo de elementos traço dependem do tamanho das
partículas. As partículas mais finas (aquelas com diâmetro menor que 4
micrometro, chamada fração pelítica ou argila), por exemplo, geralmente são
pobres em quartzo e feldspato potássico, mas ricas em minerais de argila, como
caulinita, montmorilonita, muscovita e paragonita, em relação às partículas mais
grossas (frações silte entre 4 e 63 micrometros, e areia maior que 63 micrometro).
A fração pelítica também é enriquecida em ferro, sob a forma de óxidos de ferro
ou como ferro associado às argilas, e em matéria orgânica. A fração fina contém
não apenas uma grande proporção de argila, ferro e matéria orgânica, mas
também elevadas concentrações de elementos traço (GARLIPP, 2006).
A literatura tem mostrado que, quanto mais fina for a textura do
solo/sedimento, maior será o teor de metais nele encontrado (ZAMBETA, 2006).
superficial/tamanho do grão (SANTOS et al., 2006). Sedimentos contaminados,
frequentemente mostram um enriquecimento similar de metais nas frações mais
finas e autores têm sugerido que o grau de contaminação pode ser melhor
estimado pela análise da fração pelítica (BOSTELMANN, 2006). Contudo, existem
situações nas quais os metais contaminantes atingem as frações mais grossas do
sedimento. Por exemplo as atividades de mineração e fundição de lixo, pois,
podem em alguns casos aumentar a concentração de metais nas frações mais
grossas em relação às frações mais finas. Portanto, é importante se determinar as
concentrações de metais em várias frações de sedimentos contaminados, como
também no sedimento de regiões livres de contaminação (HOROWITZ, 1991;
WARREN, 1981 citado por GARLIPP, 2006).
3.3.2 Teor de matéria orgânica
A matéria orgânica desempenha um importante papel no meio aquático,
através da formação de complexos estáveis com os elementos metálicos (BAIRD,
2002). As substâncias orgânicas são capazes de complexar metais e aumentar a
solubilidade destes. Além do mais, alteram a distribuição entre as formas
oxidadas e reduzidas dos metais, a toxicidade do metal e a biodisponibilidade
para a vida aquática, além de influenciar em que extensão os metais são
adsorvidos na matéria suspensa.
Esta matéria orgânica está intimamente ligada aos elementos Cu, Zn e Fe
nos sedimentos de lagos e ao Cu nos sedimentos de rios, podendo ser agrupada
em substâncias húmicas e não húmicas. As substâncias não húmicas são
substâncias com características químicas definidas, tais como, polissacarídeos,
aminoácidos, açúcares, proteínas e ácidos orgânicos de baixa massa molar. Já as
substâncias húmicas não apresentam características químicas e físicas bem
definidas e se dividem em ácidos húmicos e ácidos fúlvicos, com base nas suas
características de solubilidade (VICENT-BECKETT et al.,1991).
Tais materiais húmicos têm uma grande afinidade pelos cátions de metais
pesados, de maneira que os extraem da água por meio de processos de troca
formação de complexos com íons metálicos através dos grupos COOH dos ácidos
húmicos e fúlvicos (BAIRD, 2002). Essa excepcional capacidade de complexação
de metais pelo ácido húmico, está diretamente ligada ao teor de oxigênio
encontrado na estrutura na forma de grupos carboxílicos e fenólicos.
A matéria orgânica tem uma boa capacidade de adsorção para metais
pesados, e essa esta tende a diminuir na seqüência Cu, Zn, Pb, Cr, Ni e Cd.
(SOARES et al.,1999 citado por MARIANI, 2006). Uma importante propriedade
física da matéria orgânica está associada à textura fina dos sedimentos, contendo
geralmente uma porcentagem natural de material húmico, derivado de
transformações biológicas de plantas e detritos de animais. O material húmico
pode estar presente como uma discreta partícula ou como uma camada em
partículas de argila, pois ele aumenta a afinidade do sedimento com os metais
(FORSTNER & WITTMANN, 1981 citado por LIRA, 2008). Esta afinidade pode
tanto concentrar metais no ambiente, impactando-o, quanto pode ser empregada
na remoção de metais em ambientes impactados.
A matéria orgânica nos sedimentos pode ser originada de fontes naturais e
antrópicas. Contudo, a ação antrópica tem sido responsável por alterações
significativas nos fluxos de materiais principalmente nas zonas costeiras, devido a
quatro principais fatores: queima de combustíveis fósseis com conseqüente
emissão de C, N e S; mudanças no uso do solo, resultando em aumentos no
transporte de carbono orgânico, sedimentos e nutrientes para a zona costeira;
aplicação de fertilizantes contendo P e N; e descargas de esgotos domésticos
(CARREIRA & WAGENER, 2003 citado por NASCIMENTO, 2008). A
sedimentação de metais pesados dissolvidos é favorecida, dentre outros
parâmetros, pela elevada concentração de compostos orgânicos no meio.
3.3.3 Elementos maiores e traços
As espécies metálicas são amplamente distribuídas pela crosta terrestre e,
juntamente com os outros elementos, fazem parte da estrutura cristalina das
Alguns elementos como Co, Fe, Mn, Mo, Ni, Se e V são essenciais em
funções fisiológicas e bioquímicas. O Cu, Cr e Zn também podem ser
considerados essenciais, porém, em altas concentrações passam a ser tóxicos.
Outros elementos como Hg, Ag, As, Cd e Pb não têm funções biológicas
conhecidas e são comprovadamente tóxicos para o homem.
Falando em toxicidade, esta é a propriedade dos agentes tóxicos de
promoverem efeitos nocivos às estruturas biológicas através de interações
físico-químicas. A toxicidade de qualquer substância depende da quantidade ingerida
por um determinado organismo (LEMES, 2001). Por outro lado, as espécies
metálicas são essenciais para a sobrevivência do homem e para o funcionamento
da sociedade moderna, onde as transformações de matérias primas em produtos
manufaturados tornaram-se uma condição necessária para a vida e o
desenvolvimento do homem.
A origem das espécies metálicas nos corpos hídricos provém de fontes
difusas, podendo ser dividida em geogênica e antropogênica. Fontes industriais e
urbanas foram identificadas como a causa primária da poluição por metais tóxicos
(CLARK, 2001). O lixiviamento dos solos urbanos e as emissões industriais são
as mais significativas fontes destes elementos para corpos receptores de água
nos arredores dos grandes centros urbanos e de zonas industriais.
As espécies metálicas ocorrem naturalmente no meio ambiente através da
desagregação das rochas. No entanto, a introdução destes elementos através das
atividades antrópicas pode alterar enormemente os ciclos biogeoquímicos
naturais dos mesmos em corpos hídricos (SALOMONS et al., 1995). Os efluentes
domésticos e industriais, além da drenagem urbana e rural, contribuem com
grandes quantidades de poluição por metais pesados para os ambientes
aquáticos, sendo que estas descargas ocorrem de modo pontual e podem levar a
uma carga local excessiva de metais pesados na água (STUMM E MORGAN,
1996).
Em geoquímica, os elementos são classificados de acordo com a sua
abundância na crosta terrestre em (LIRA, 2008):
• elementos menores, quando a sua concentração está compreendida entre 1,0 e 0,1 % (entre 1.000 e 10.000 ppm);
• elementos traços, quando a sua concentração é inferior a 0,1 % (menor
que 1.000 ppm).
Neste trabalho usaremos essa classificação geoquímica para se referir à
concentração das espécies metálicas encontradas no sedimento de fundo.
3.3.3.1 Alumínio
A maior parte do alumínio existente na crosta terrestre ocorre em
aluminosilicatos e argilas, mas também é encontrado na caulinita (Al2(OH)4Si2O3),
porém o mineral mais importante é a bauxita e ambos são minerais insolúveis. A
bauxita é uma mistura complexa de hidróxidos de alumínio hidratado e óxido de
alumínio. Este último é conhecido como a alumina, que na natureza ocorre como
rubi, safira, coríndon e esmeril (HARRIS, 2005, SHRIVER, 2008).
No lençol freático, devido à sua baixa solubilidade, os teores de alumínio
geralmente não atingem alguns centésimos ou décimos de mg/L. Entretanto,
devido ao processo de acidificação dos solos, onde o pH atinge valores inferiores
a 5,0, há um aumento na dissolução de seus óxidos ou hidróxidos (MEDEIROS,
2009)
Numa concentração de 130 g/L, o alumínio mata os peixes. A principal via
de exposição humana não ocupacional é pela ingestão de alimentos e água. A
dose fatal para o homem é considerada de 550 a 600 mg. Provoca efeitos no
coração, constrição dos vasos sangüíneos, elevando a pressão arterial e
causando efeitos sobre o sistema nervoso (CETESB, 2004).
O alumínio tem sido frequentemente usado como fator de normalização
para as concentrações de elementos traço em sedimentos, devido a sua elevada
concentração natural, além de fazer parte da estrutura dos minerais argilosos
3.3.3.2 Cádmio
Metal de consistência mole, branco, brilhante, cuja superfície escurece
rapidamente em contato com o ar e que não oxida facilmente. Este pode ser
encontrado em elevadas concentrações em rochas sedimentares e fosfatos
marinhos. O cádmio apresenta-se nas águas devido às descargas de efluentes
industriais, principalmente as galvanoplastias, produção de pigmentos, soldas,
equipamentos eletrônicos, lubrificantes e baterias recarregáveis (Ni/Cd). É
também usado como inseticida. A queima de combustíveis fósseis consiste
também numa fonte de cádmio para o ambiente (COSTA, 2008; GARLIPP, 2006;
MENDES, 2006; ALMEIDA, 2007).
O cádmio tem mais mobilidade em ambientes aquáticos do que a maioria
dos outros metais. É encontrado em água de superfície ou subterrânea como o
íon Cd2+ hidratado, ou como um complexo iônico com outras substâncias inorgânicas ou orgânicas. Enquanto as formas solúveis podem migrar na água; o
cádmio, em complexos insolúveis ou adsorvido a sedimentos, é relativamente
imóvel (LABUNSKA et al., 2000). Este último se associa principalmente aos
carbonatos e óxidos de Fe e Mn, em sedimentos oxidados (ROSENTAL et al.,
1986). Em sedimentos anóxicos. O Cd se associa quase que exclusivamente a
sulfetos (SALOMONS et al., 1987), sendo que os complexos de sulfeto e cádmio
são moderadamente solúveis; portanto a mobilidade do Cd em ambientes
redutores pode ser elevada.
A exposição humana ao cádmio ocorre pela ingestão de água e alimentos
contaminados (é um elemento bioacumulativo). Os efeitos agudos da
contaminação por cádmio em humanos são muito sérios e abrangem irritação
local nas vias aéreas, tosse persistente, dispnéia, dores toráxicas, náuseas e
vômito quando o Cd é inalado. O cádmio não apresenta até o presente, alguma
função biológica conhecida que o torne necessário ou essencial para os seres
3.3.3.3 Chumbo
As maiores fontes naturais de chumbo são emissões vulcânicas e
intemperismo geoquímico (WHO, 1995). É obtido a partir dos seus minérios como
sulfetos, sendo o principal deste elemento a galena, (PbS) que sob a ação do
oxigênio são convertidos em óxido (PbO), e podem ser reduzidos pelo carbono
em alto forno (SHRIVER, 2008; ATKINS & JONES, 2006):
O Pb é um metal mole de coloração branca-azulada, tornando-se
acinzentado quando exposto ao ar, e é também resistente à corrosão (COSTA,
2008; NASCIMENTO, 2008). Suas principais fontes antrópicas são a indústria
extrativa, a petrolífera, acumuladores, tintas, corantes, gráfica e bélica. A
produção mundial de chumbo é de aproximadamente 43 milhões de toneladas por
ano. Na forma metálica ele geralmente é recuperado e reciclado, mas a maior
parte do Pb usado na forma de composto é perdida para o meio ambiente
(ARAÚJO, 2005; NASCIMENTO, 2008).
O chumbo é depositado nos lagos, rios e oceanos, proveniente da
atmosfera ou do escoamento superficial do solo, oriundo de fontes naturais ou
antropogênicas. O metal que alcança a superfície das águas é adsorvido aos
sólidos suspensos e sedimentos. De acordo com Nascimento (2008), nos
sistemas aquáticos, grande parte do chumbo conduzido pelos rios se encontra na
forma insolúvel. Esta forma consiste em partículas de carbonato de chumbo,
óxido de chumbo, hidróxido de chumbo ou outros compostos incorporados em
outros componentes do material lixiviado do solo.
As concentrações de chumbo em sedimentos costeiros e estuarinos não
contaminados variam, geralmente, entre 5 e 30 g/Kg de peso seco, sendo que a
maior parte do chumbo nos sedimentos se encontra associada ao conteúdo da
matéria orgânica presente e ao tamanho das partículas. Na ausência de espécies
complexantes solúveis, o chumbo é quase que totalmente adsorvido na forma de
espécies que se precipitam a pH maior que 6 (ALVES, 2001; NASCIMENTO,
2008). O chumbo residual (que faz parte da matriz mineral das partículas do
sedimento) em locais não contaminados, está associado principalmente com
aluminossilicatos, minerais de sulfetos e barita (BaSO4) podendo representar até
Quando o chumbo é lançado no meio ambiente, ele tende a se acumular em solos
e sedimentos, onde, devido à baixa solubilidade, pode permanecer acessível à
cadeia alimentar e ao metabolismo humano por muito tempo.
O chumbo entra em contato com o homem pela inalação do ar atmosférico,
ingestão de água ou alimento contaminado. A absorção depende da concentração
do chumbo e do tempo de exposição, das propriedades físico-químicas do
composto, idade e estado fisiológico do indivíduo, e dos níveis de Ca, Mg, Fe, P e
vitamina D presentes na dieta. O chumbo tem sido responsável por sérios
problemas de intoxicação por ser um metal que apresenta efeito cumulativo no
organismo. As exposições crônicas causam vários males ao sistema nervoso,
como por exemplo, encefalopatia, irritabilidade, cefaléia, tremor muscular,
alucinações, perda de memória e capacidade de concentração. Suas
intoxicações, com concentração de chumbo entre 100 a 120 g/dL de sangue em
indivíduos adultos e de 80 a 100 g/dL de sangue em crianças, podem provocar
anorexia, constipação, apatia, vômitos, fadiga, anemia, gosto metálico na boca,
sede, entre outros (FIGUEIREDO, 1997; LEE, 2000; ARAÚJO, 2005; ALMEIDA,
2007).
3.3.3.4 Cobre
O minério mais comum do cobre é a calcopirita, CuFeS2. Outros minérios
são o sulfeto Cu2S, carbonato básico de cobre, CuCO3•Cu(OH)2, e o bornita
Cu5FeSO4. Está presente também na turquesa CuAl6(PO4)4(OH)8•4H2O que é
uma pedra semipreciosa, apreciada por sua coloração azul.
O cobre sofre oxidação na presença da umidade do ar, oxigênio e dióxido
de carbono. Dentre suas propriedades destacam-se a elevada condutividade
térmica e elétrica, maleabilidade, resistência à corrosão, capacidade de se
amalgamar e aspecto agradável (WHO, 1998). A combinação única das
propriedades desse metal determina sua ampla variadade de aplicações, sendo
usado na indústria elétrica, em tubulações de água, em ligas com Zn, Ni, P e Sn,
como supercondutor de altas temperaturas (YBa2Cu3O7), nas indústrias de
pinturas em cascos de navios (LEE, 2000; HARRIS, 2005; ARAÚJO, 2005;
MEDEIROS, 2009).
As principais fontes naturais do cobre são poeiras, emissões vulcânicas,
incêndios florestais, processos biogênicos e névoas aquáticas. As fontes
antropogênicas incluem a galvanoplastia, corrosão de tubos de cobre e de latão
por águas ácidas, fungicidas usados na preservação da madeira e efluentes de
esgotos sanitários, a emissão pelas atividades de mineração e fundição, pela
queima de carvão como fonte de energia e pelos incineradores de resíduos
municipais (ARAÚJO, 2005).
Em ambientes aquáticos o cobre ocorre tanto na forma solúvel como na
particulada e coloidal, sendo estas duas últimas as mais freqüentes. A fração
solúvel pode conter tanto o íon livre, como o cobre complexado a ligantes
orgânicos e inorgânicos. Sua especiação em águas naturais é influenciada pelo
pH, oxigênio dissolvido e pela presença de agentes oxidantes e compostos ou
íons complexantes. Sua toxicidade nesse meio depende da presença de
componentes orgânicos e da alcalinidade. O cobre é mais tóxico em baixas
alcalinidades (GARLIPP, 2006; ALMEIDA, 2007). Na água do mar este elemento
se encontra principalmente na forma de carbonato de cobre, ou em águas de
baixa salinidade, como hidróxido de cobre.
Em sedimento, o cobre é rapidamente adsorvido dependendo do tipo de
sedimento, do pH, dos cátions presentes, da presença de ligantes e dos óxidos de
manganês e ferro (ALVES, 2001; ALMEIDA, 2007; COSTA, 2008). A quantidade
de matéria orgânica apresenta uma grande influência na forma como o cobre se
encontra no sedimento. Quando esse teor é baixo, a maior parte do cobre que ele
contém se encontra na fração residual associado à rede silicática das argilas. Em
condições contrárias o cobre se associa principalmente aos sulfetos e à matéria
orgânica. Em sedimentos desprovidos de oxigênio, o cobre pode reagir com
diferentes espécies orgânicas e inorgânicas de enxofre, formando uma grande
variedade de complexos solúveis e insolúveis, como, por exemplo, a calcocita
(Cu2S), covelita (CuS), entre outros. Esses sulfetos apresentam baixa mobilidade
e biodisponibilidade (NASCIMENTO, 2008).
O cobre é um metal que ocorre naturalmente no ambiente, sendo um
elemento essencial para a fotossíntese nas plantas, bem como no metabolismo
terceira maior quantidade de um metal de transição, inferior apenas ao Fe (4 g) e
ao Zn (2 g). Embora pequenas quantidades de cobre sejam essenciais, em níveis
elevados (doses entre 4 e 400 mg de Cu/Kg de peso) pode produzir efeitos
nocivos como, por exemplo, irritação no nariz, boca e olhos, como também
vômitos, diarréia, cólicas estomacais, náuseas e até a morte (ATSDR, 2004;
MEDEIROS, 2009).
3.3.3.5 Cromo
O cromo é um metal duro, quebradiço e apresenta alto ponto de fusão e
baixa volatilidade, tem coloração cinza aço, sem odor e muito resistente à
corrosão. Apenas as formas, trivalente Cr3+ e hexavalente Cr6+, são consideradas de importância biológica (WHO, 1988). O único minério de cromo de importância
comercial é a cromita (FeCr2O4), do qual o metal é obtido por redução com
carbono em um forno de arco elétrico. O cromo é encontrado naturalmente em
rochas, animais, plantas, solo, poeiras e névoas vulcânicas (WHO, 1988). O metal
é importante na metalurgia porque é usado na fabricação de aço inoxidável e na
cromagem.
Pode ser introduzido no organismo por via oral, dérmica ou pulmonar e sua
absorção depende do seu estado de oxidação. Na forma trivalente, o cromo é
essencial ao metabolismo humano e sua carência causa doenças, já na forma
hexavalente é tóxico e cancerígeno. (LEE, 2000; ALMEIDA, 2007; MENDES,
2006; FIGUEIREDO, 1997).
Em ambientes aquáticos, o Cr6+ apresenta-se, predominantemente, na forma solúvel. Essas formas solúveis podem ser estáveis o suficiente para
sofrerem o transporte entre meios, e, eventualmente, é convertido em Cr3+ por ação de espécies redutoras como substâncias orgânicas, sulfeto de hidrogênio,
enxofre, amônio e nitrito. Essa forma trivalente geralmente não migra
significativamente em sistemas naturais. Ao contrário, ela é rapidamente
precipitada e adsorvida a partículas suspensas e sedimentos de fundo, por isso,
ocasionar mudanças no equilíbrio entre as formas trivalente e hexavalente. Quase
todo o cromo hexavalente existente no meio ambiente é proveniente das
atividades humanas (SILVA, 2001). Dentre as principais atividades humanas, nas
quais o cromo e seus compostos são liberados para o meio ambiente, estão as
emissões decorrentes da soldagem de ligas metálicas, fundições, manufatura do
aço e ligas, indústria de galvanoplastia, minas, incineração de lixo, curtumes, e
fertilizantes (WHO, 1988).
As concentrações de cromo total em sedimentos marinhos e estuarinos
não contaminados geralmente variam de 50 a 100 µg.g-1 peso seco. As pequenas quantidades de Cr+6 em sedimentos geralmente estão firmemente ligadas à matéria orgânica e ao óxido de ferro que cobre as partículas de argila. Nos
estuários que recebem cromo proveniente de curtumes e placas elétricas, mais de
80% do cromo total encontrado no sedimento está associado à matéria orgânica e
aos sulfetos. Já em sedimentos oxidados menos contaminados, o cromo
freqüentemente encontra-se adsorvido aos óxidos de ferro (50 a 70%), de acordo
com Kersten & Forstner (1986) citado por Garlipp (2006). Mais de 70% do cromo
em sedimentos não contaminados podem estar associados à fração residual, não
biodisponível.
3.3.3.6 Ferro
Quase todas as rochas e solos contêm menos traços de ferro
(GUIMARÃES, 2007; LIMA, 2001). O ferro tem como principais minérios: a
hematita, Fe2O3, a magnetita, Fe3O4, a limonita, FeO(OH), e a siderita, FeCO3.
Em virtude de afinidades geoquímicas, quase sempre é acompanhado pelo
manganês. Suas características estão relacionadas com seus estados de
oxidação e seu comportamento está ligado ao ciclo do carbono, oxigênio e
enxofre. O ferro puro é um metal de cor branco-prateado, maleável, muito reativo,
e facilmente oxidável (LIMA, 2001). Devido a essas características tornou-se um
elemento indispensável à indústria, sendo empregado formando ligas com outros
metais, resultando em uma grande variedade de tipos de aço indispensáveis ao
Entre as fontes antropogênicas de ferro de origem industrial estão, as
emissões pelas atividades de mineração, fundição e soldagem. Nas de origem
urbana estão os efluentes de esgotos e o escoamento superficial urbano (LIMA,
2001; ABU-HILAL, 1990).
O ferro é um elemento essencial a todas as formas de vida e sua
importância biológica reside na sua função de transporte de elétrons em plantas e
animais (citocromos e ferredoxinas), no transporte de oxigênio no sangue de
animais mamíferos, no armazenamento de oxigênio na mioglobina; sendo,
portanto, essenciais para a vida animal e vegetal, quando presente em pequenas
doses. Do contrário, é tóxico, causando irritação da parede gastrintestinal,
problemas cardiovasculares e respiratórios, entre outros (LEE, 2000; ALMEIDA,
2007).
Em águas não poluídas, seu teor varia em função da litologia da região e
do período chuvoso, quando pode acontecer carreamento de solos com teores
mais elevados de ferro (ALMEIDA, 2007). A forma reduzida do ferro torna-se
solúvel principalmente sob a forma de bicarbonato, ou íons Fe+3 em equilíbrio com o Fe(OH)
3, após sua oxidação (ESTEVES, 1998).
O ferro que se acumula no sedimento estuarino é oriundo de esgotos
domésticos, industriais e ainda da área portuária. Pode ocorrer sob a forma de
óxidos hidratados, de partículas coloidais ou na cobertura de outras partículas
minerais, podendo transportar metais pesados. Em ambientes estuarinos é
comum ocorrerem variações no Eh, devido a fatores que tornam o ambiente
anóxico. Desta forma, mudanças de fase podem ocorrer transformando em
sulfetos, os metais pesados que estivessem na forma de óxidos hidratados,
adsorvidos e co-precipitados. Assim, de acordo com esses fatores, os óxidos
hidratados de ferro, bem como os sulfetos, podem ser considerados
concentradores de metais pesados em sedimentos estuarinos (FIGUEIREDO,
3.3.3.7 Manganês
Os compostos de Mn mais importantes, do ponto de vista ambiental, são
aqueles que contem Mn nos estados de oxidação +2, +4 e +7 (WHO, 1999). O
manganês é um metal que se apresenta como um sólido, frágil, quebradiço,
lustroso ou como um pó branco-acinzentado. (WHO, 1981). Ele reage lentamente
com H2O, liberando H2, e se dissolve facilmente em ácidos diluídos. O metal
finamente dividido é pirofórico quando exposto ao ar, mas o metal maciço não
reage a não ser quando aquecido. Além disso, apresenta pontos de fusão e de
ebulição elevados (ALMEIDA, 2007; LEE, 2000). Encontra-se largamente
distribuído na natureza, onde os óxidos, os carbonatos e os silicatos constituem
os compostos mais abundantes. Este elemento tem muitas aplicações na
indústria, sendo usado na indústria siderúrgica, para obter ligas, além de ser um
importante aditivo na fabricação do aço, fogos de artifício, pilhas e baterias secas,
fertilizantes, em compostos orgânicos para secagem de tintas e reagentes
químicos (LEE, 2000; GARLIPP, 2006; ALMEIDA, 2007; LARINI, 1997).
Este elemento é essencial para o homem assim como para grande
variedade de organismos vivos. O Mn2+ é importante tanto em enzimas animais como em enzimas vegetais. Porém, o excesso de Mn no organismo pode causar
problemas neurológicos. Além disso, em pequenas quantidades é um elemento
essencial ao crescimento das plantas, daí sua aplicação em fertilizantes (LEE,
2000; GARLIPP, 2006).
Em águas naturais o manganês ocorre em pequenas concentrações devido
à lixiviação de minerais e solos, raramente são encontrados na água em
concentrações superiores a 1,0 mg/L (MARTINS, 2001). O comportamento do
manganês nas águas é muito semelhante ao do ferro em seus mais diversos
aspectos. Este metal desenvolve coloração negra na água, podendo se
apresentar em ambas as formas, dissolvida e em suspensão, nos estados de
oxidação Mn2+ (mais solúvel) e Mn4+ (menos solúvel). Os óxidos de manganês são eficientes aprisionadores de metais-traço, assim como os óxidos de ferro.
Pequenas partículas dos óxidos de manganês ou camadas destes em outras
partículas encontram-se vastamente distribuídas em rios e solos; ou seja, é
dependendo principalmente da capacidade de troca iônica do cátion (WHO, 1999;
GARLIPP, 2006; ALMEIDA, 2007).
A presença deste metal no solo e na água pode ser originária de produtos
e descargas industriais, rejeitos de minas, fertilizantes e determinados tipos de
desinfetantes (MENDES, 2006; ALMEIDA, 2007; MARTINS, 2001).
3.3.3.8 Níquel
O níquel é um metal branco-prateado, brilhante, muito dúctil e maleável,
razoavelmente duro, que pode ser facilmente forjado e soldado, com boa
condutividade térmica e elétrica (LEE, 2000; ARAÚJO, 2005). Ele se combina
com outros metais para formar ligas altamente resistentes à temperatura e à
corrosão, que são utilizadas na cunhagem de moedas e fabricação de jóias.
Também é usado em baterias de acumuladores, placas elétricas, veículos,
armamentos, utensílios domésticos e como catalisadores (ALMEIDA, 2007;
GARLIPP, 2006; ARAÚJO, 2005).
A maior fonte desse elemento para o meio ambiente, pela atividade
humana, é a queima de combustíveis fósseis, todavia existem outros contribuintes
principais, como os processos de mineração e fundição do metal, a incineração
do lixo, a galvanoplastia, os esgotos sanitários e a liberação dos resíduos das
indústrias que utilizam o níquel, ligas e compostos, no seu processo de fabricação
ou fundição (MENDES, 2006; ARAÚJO, 2005). Em seres humanos, a toxicidade
do níquel tem como principais sintomas de intoxicação: náuseas, vômito, diarréia,
vertigens, fraqueza, dor de cabeça e falta de ar (GARLLIP, 2006).
Em ambientes aquáticos a maior parte do Ni encontra-se na forma
particulada, havendo urna grande deposição em estuários. É um elemento
relativamente abundante em solos e sedimentos, sendo que suas concentrações
giram em torno de 50 g.g-1 de peso seco em sedimentos marinhos e estuarinos. O Ni é um contaminante significativo de sedimentos em áreas industrializadas.
Encontram-se sedimentos com altos níveis de contaminação provenientes da
dragagem de portos e canais por onde passam navios, bem como sedimentos
encontra-se com freqüência correlacionada positivamente com a quantidade de
argila dos sedimentos. Como também pode ser encontrado nos sedimentos ligado
a matéria orgânica, principalmente nos ácidos húmicos e fúlvicos, e em locais
onde possam ocorrer processos de troca iônica (ALVES, 2001). Em sedimentos
oxidados, a maior parte do níquel potencialmente biodisponível encontra-se
complexado com óxidos/ hidróxidos, carbonatos e silicatos de ferro e manganês.
Assim, a biodisponibilidade do níquel em sedimentos geralmente é baixa
(SIQUEIRA, 2006).
3.3.3.9 Zinco
O zinco é um metal de coloração prateada, brilhante quando polido, que se
torna ligeiramente opaco ao entrar em contato com o ar, devido à formação de
uma camada autoprotetora de óxido ou carbonato. Apresenta baixos pontos de
fusão e ebulição. Em quase todas as rochas ígneas o zinco ocorre em
quantidades mínimas. Seus principais depósitos são sulfetos sob a forma de
esfalerita (ZnS) (ARAÚJO, 2005; LEE, 2000).
O zinco é usado em grandes quantidades na metalurgia, principalmente
como constituinte do latão e bronze, e na galvanização, em que é depositado
como uma camada para inibir a corrosão do aço, na fundição de peças metálicas,
em pilhas secas, equipamentos para automóveis, produtos de uso médico e
dentário, antibióticos fungicidas e lubrificantes, cosmética, cerâmicas e em
indústrias gráficas (LEE, 2000; ARAÚJO, 2005; GARLIPP, 2006; ALMEIDA,
2007).
O zinco é considerado um elemento essencial no metabolismo de plantas e
animais. Por ser um elemento essencial para o ser humano, só se torna
prejudicial à saúde quando ingerido em concentrações muito altas, o que é
extremamente raro. Neste caso, pode acumular-se nos tecidos do organismo
humano; isso só ocorre quando as taxas de ingestão diária são elevadas
Na natureza, o zinco é encontrado como sulfeto, muitas vezes associado a
outros elementos metálicos como chumbo, cádmio, cobre e ferro (SIQUEIRA,
2006). Na água, no sedimento e no solo, o transporte e liberação deste elemento
dependem da forma como ele se apresenta e das características físicas e
químicas do meio. O valor do pH influencia diretamente o zinco, que em
condições ácidas ele pode estar presente na fase aquosa em sua forma iônica.
Já, em condições básicas, pode precipitar ou formar compostos orgânicos
complexos, os quais podem acarretar o aumento da sua mobilidade. Sua
concentração nos sedimentos associa-se aos óxidos de ferro e manganês, e sua
concentração nos solos é governada pelos processos de adsorção/desorção,
precipitação/dissolução, complexação e oxirredução, que podem ser influenciados
por diversas propriedades dos solos, tais como pH, conteúdo de argila, teor de
matéria orgânica e capacidade de troca catiônica (RUSSEL, 1994; MARTINEZ e
MOTTO, 2000 citado por SOUZA, 2006).
A maior parte do zinco nos sedimentos encontra-se na fração residual, o
que o torna não biodisponível (ALMEIDA, 1997; ARAÚJO, 2005; GARLIPP, 2006).
O zinco residual geralmente está associado à rede cristalina das argilas e a uma
variedade de minerais pesados, incluindo cromita (FeCr2O4), ilmenita (FeTiO2) e
magnetita (Fe3O4). A esfalerita (ZnS) e a zincita (ZnO) são importantes
carreadores de zinco residual em alguns sedimentos (LORING, 1982 citado por
GARLIPP, 2006 ). O zinco não residual em muitos sedimentos oxidados
encontra-se associado principalmente às frações de óxidos de ferro e manganês. Já em
sedimentos reduzidos, a maior parte do zinco se associa com sulfetos e matéria
orgânica (ROSENTAL et al., 1986).
3.4 DIGESTÃO ÁCIDA POR MICROONDAS EM AMOSTRAS DE SEDIMENTO
Na literatura mundial, observa-se uma grande variação nas metodologias
de extração de metais em amostras de sedimento. Tem-se digestão total,
digestão parcial e extrações seqüenciais, com mudanças na fração usada e
difícil a escolha da metodologia e a comparação entre os diversos trabalhos
(PEREZ-SANTANA, 2007).
O procedimento de digestão total inclui de maneira geral as misturas dos
ácidos nítrico, clorídrico e fluorídrico (HCI:HNO3 e HF). Essas misturas são
capazes de colocar em solução os elementos químicos que estejam associados a
todas fases ou fração geoquímica, ou seja, as frações adsorvidas, trocáveis,
oxidáveis, reduzidas e residual. As quatro primeiras correspondem às frações
lábeis e a última à fração associada à estrutura cristalina dos minerais, (FISZMAN
et al., 1984 citado por AGUIAR, 2007). Apesar das misturas ácidas, que utilizam
HF em sua composição, serem bastante eficiente no processo de solubilização da
matriz a ser avaliada; seu uso torna-se desnecessário, pois metais associados à
estrutura mineralógica de silicatos de origem litogênica, não caracterizam
contaminação antrópicas, o que provavelmente não daria contribuição ao estudo
de contaminação do meio ambiente.
3.5 DETERMINAÇÃO DAS ESPÉCIES METÁLICAS
Um dos maiores desafios para o estudo do comportamento de metais, em
amostras ambientais, reside na complexidade dessas matrizes, por apresentarem
muitas espécies em concentrações abaixo do nível de detecção das técnicas
empregadas. Embora as concentrações de cada espécie sejam muito baixas, elas
contribuem de forma significativa para a contaminação da biota aquática, além de
colaborar para o desequilíbrio do sistema aquático.
Alguns dos problemas predominantes associados à determinação
experimental são as baixas sensibilidades das técnicas e os processos de
3.6 ESPECTROMETRIA DE EMISSÃO ÓPTICA COM PLASMA ACOPLADO
INDUTIVAMENTE (ICP-OES)
A espectrometria de emissão óptica com fonte de plasma indutivamente
acoplado (ICP-OES) é amplamente utilizada para análises ambientais e
tradicionalmente utilizada para a análise de solos e sedimentos (YABE, 1995;
BETTINELLI, 2000). A técnica de ICP-OES tem sido utilizada amplamente devido
a uma série de vantagens que oferece, tais como: análise multielementar
simultânea e rápida de elementos maiores, menores e traço, alta sensibilidade,
precisões adequadamente altas e ampla faixa linear (LEMES, 2001).
A técnica de ICP-OES é baseada na medida da intensidade da radiação
emitida, quando um átomo ou íon excitado pelo plasma retorna ao seu estado
fundamental. A excitação da espécie ocorre quando seus elétrons mais externos
têm seu nível de energia aumentado, passando do estado fundamental para o
excitado. O elétron não é estável em níveis mais altos de energia, portanto
retorna ao seu estado fundamental, emitindo a energia que foi absorvida, sob a
forma de radiação eletromagnética.
As espécies atômicas emitem linhas espectrais, tantas quantas forem suas
possíveis transições eletrônicas. As linhas espectrais é que vão determinar o
espectro de cada elemento e a intensidade de cada linha vai depender da
probabilidade de transição e do número de átomos que atinge um determinado
estado excitado. A radiação emitida é direcionada para uma lente que tem a
função de ampliar e focalizar a zona de descarga luminosa do plasma quando
projetada sobre a fenda de entrada, promovendo uma melhor iluminação da rede
de difração. Após passar pela lente, a luz emitida direciona-se à fenda de entrada
do separador de linhas e chega ao monocromador, onde um prisma ou uma rede
de difração isola a linha medida. Em amostras de matrizes complexas, a escolha
da linha isenta de sobreposições é necessária para funcionamento ideal da
técnica. Essa é uma das razões pelas quais, a linha de maior intensidade nem
3.6.1 Plasma indutivamente acoplado (ICP)
O plasma é por definição um gás parcialmente ionizado onde co-existem
elétrons livres e íons positivos em movimento, em um processo onde ocorre
transferência de energia por radiação, condução e aquecimento Joule entre
outros.
Na Figura 2 tem-se representado o esquema da tocha (quartzo) que é a
configuração que sustenta o plasma, circundada por uma bobina de indução
(resfriada a água ou ar) através da qual a energia de até 2-3 kW é fornecida,
sendo o gerador de freqüência de 27 ou 40 MHz.
Figura 2 – Diagrama esquemático de uma fonte de plasma de argônio
O plasma de argônio é formado na tocha que é constituída por três tubos
concêntricos. O fluxo de argônio que flui tangencialmente entre o tubo exterior e
intermediário (12-18 L min-1) é chamado gás refrigerante ou gás do plasma e atua para formar o plasma e refrigerar a tocha. O tubo intermediário carrega o gás
meio de uma bobina de indução (bobina Tesla). O tubo central é o que conduz a
amostra em forma de aerossol para o plasma (0,7-1,5 L min-1) que é chamado de gás de arraste (GUINÉ, 1998).
3.6.2 Introdução da amostra líquida
A amostra é introduzida seguindo na forma de aerossol produzido por
nebulizadores pneumáticos ou por nebulizadores ultra-sônicos. O nebulizador de
Fluxo Cruzado tem uma boa resistência ao ácido fluorídrico (HF) e não entope
facilmente. Ele suporta solução contendo 5 % de sal. Para soluções com alta
concentração de sal o nebulizador tipo spray (V-Groove) é o mais adequado. O
nebulizador tipo “Meinhard” dá uma boa sensibilidade para soluções com
concentração salina abaixo de 1 %. O seu tipo ultra-sônico requer uma
concentração salina muito menor do que os nebulizadores pneumáticos (Fluxo
Cruzado, Meinhard e V-Groove), e resulta um aumento de sensibilidade da ordem
de 10 a 50 vezes (SKOOG, 2006). Os nebulizadores pneumáticos produzem um
aerossol altamente disperso com gotículas de até 100 µm de diâmetro, sendo a
maioria das partículas retidas pela câmara de nebulização, aquelas com diâmetro
menor do que 10 µm, quando se emprega a combinação de nebulizadores
pneumáticos e câmara de nebulização convencional.
3.6.3 Excitação da amostra
A amostra em solução, por meio da nebulização, transforma-se em
aerossol, o qual, após desolvatação, passa a partícula seca que, por
volatização-dissociação, vai para a forma de vapores atômicos–vapores iônicos, os quais são
excitados na forma de átomos-íons. O mecanismo de excitação é colisional. A
tendência dos elétrons excitados é de voltarem ao estado fundamental e, ao
fazerem isso, devolvem como energia de emissão, em que os comprimentos de
espectro de emissão é proporcional à concentração do elemento em
determinação. (OLIVEIRA, 1998 citado por LEMES, 2001).
4 MATERIAIS E MÉTODOS
Este capítulo faz uma descrição da metodologia adotada para o
desenvolvimento deste estudo, e traz também uma exposição da área de
amostragem, além de relacionar os materiais utilizados nas etapas experimentais
e descrever os procedimentos laboratoriais na fase analítica.
Para facilitar a compreensão dos textos apresentados na parte
experimental desta dissertação, apresentamos abaixo, um fluxograma dos
procedimentos seguidos conforme mostrado na figura 4.
4.1 FLUXOGRAMA DOS PROCEDIMENTOS
4.2 ÁREA DE ESTUDO
As coletas das amostras de sedimento foram realizadas em 4 (quatro)
estações no Estuário do Rio Potengi no trecho compreendido entre as pontes de
Igapó e a Newton Navarro (conforme descrito na Figura 5), no dia 17 de Novembro de 2008, na maré baixa. Para cada estação de amostragem foram
realizadas coletas na calha e nas margens, esquerda e direita, todas em
triplicatas, para com isso detectarmos a variabilidade das concentrações dos
elementos nas amostras de sedimentos de uma mesma região.
Para identificação dos pontos de coleta foi usado um sistema de
navegação, o Sistema de Posicionamento Global (GPS), que é geralmente
escolhido como uma técnica de posicionamento exata, de fácil operação e
economicamente mais disponível se comparado a outros sistemas mais
sofisticados.
O Quadro 3.1, mostrado a seguir, apresenta os pontos de coleta identificando suas coordenadas em UTM. Todos os locais de amostragem foram
estabelecidos de forma a assegurar que as amostras fossem as mais
representativas possíveis para a caracterização do estuário, levando em
consideração os efluentes lançados próximos aos locais de amostragem.
Quadro 4.1. Estações de coletas, suas coordenadas e as possíveis fontes poluidoras.
PONTOS LOCAL E REFERÊNCIA UTM X UTM Y POSSÍVEIS FONTES POLUIDORAS
E 01 – Margem Direita
Rio Potengi - Dique da Marinha do Brasil
253.654 9.360.036
Lançamento de esgoto pela CAERN do bairro das Quintas, Natal
E 01 – Calha 253.741 9.359.810
E 01 – Margem Esquerda 253.727 9.359.520
E 02– Margem Direita
Rio Potengi - Jusante do Canal do Baldo
254.705 9.360.478
Lançamento de esgoto do Canal do Baldo, Natal.
E 02 – Calha 254.950 9.360.238
E 02 – Margem Esquerda 255.042 9.360.132
E 03– Margem Direita
Rio Potengi - Em frente ao Iate Clube
255.391 9.362.390
Proximidade dos tanques de armazenamento da PETROBRAS, e
trânsito de embarcações de pesca.
E 03 – Calha 255.625 9.362.294
E 03 – Margem Esquerda 255.872 9.362.236
E 04– Margem Direita
Rio Potengi - Ponte Newton Navarro
255.921 9.363.350
Foz do Rio Potengi
E 04 – Calha 256.093 9.363.298
Figura 6 - Ponto E01 - Rio Potengi – Dique da Marinha do Brasil
Figura 8 - Ponto E03 - Rio Potengi - Em frente ao Iate Clube
Figura 9 - Ponto E04 - Rio Potengi - Ponte Newton Navarro
4.3 COLETA E ACONDICIONAMENTO DAS AMOSTRAS
Os procedimentos de limpeza e descontaminação dos materiais foram
realizados em laboratório com solução de ácido nítrico 10% e água ultra pura.
Para a coleta do sedimento foi utilizado um amostrador do tipo van Veen,
pertencente ao grupo dos amostradores de superfície do tipo busca-fundo. Os