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Estudo da tradução de colocações especializadas na área de exportação e agronegócios baseado em um corpus paralelo

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Academic year: 2017

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Leandro Parra Rodrigues Cruz

Estudo da tradução de colocações especializadas na área de

Exportação e Agronegócios baseado em um corpus paralelo

Dissertação apresentada ao Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas da Universidade Estadual Paulista, Câmpus de São José do Rio Preto, para obtenção do título de Mestre em Estudos Linguísticos (Área de Concentração: Linguística Aplicada)

Orientadora: Profa. Dra. Diva Cardoso de Camargo Co-orientadora: Profa. Dra. Adriane Orenha-Ottaiano

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Banca examinadora

Titulares

Profa. Dra. Diva Cardoso de Camargo

UNESP

São José do Rio Preto

Orientadora

Profa. Dra. Marilei Amadeu Sabino

UNESP

São José do Rio Preto

Prof. Dr. Odair Luis Nadin da Silva

UNESP - Araraquara

Suplentes

Profa. Dra. Ivanir Azevedo Delvizio

UNESP - Rosana

Profa. Dra. Paula Tavares Pinto Paiva

UNESP

São José do Rio Preto

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AGRADECIMENTOS

Ao CCLi pelo intenso preparo ao qual fui submetido, a fim de entrar no curso de mestrado.

À Silvia Emiko e demais funcionários da Seção de Pós-Graduação pela atenção e profissionalismo.

À CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, financiadora da presente investigação, pela bolsa de Mestrado.

À Fátima, Edson, Arlete, Elisangela, Karina, Kátia, George e Walkiria pelo companheirismo e sugestões que me deram no decorrer das disciplinas.

Aos professores das disciplinas cursadas durante o curso de mestrado, por meio das quais aprendi coisas fundamentais para a minha vida acadêmica e profissional.

Ao Prof. Dr. Lauro Maia Amorim e a Profa. Dra. Erika Nogueira Stupiello, meus professores na graduação, pela boa vontade em me ajudar.

À Profa. Dra. Andreia Regea pela delicadeza e receptividade dispensadas a mim para a realização do estágio na União das Faculdades dos Grandes Lagos (Unilago).

À Profa. Esp. Joséli Cunha pela simplicidade e amabilidade ao me receber durante o estágio em sua disciplina.

À minha psicóloga Simone Farhate por me ajudar a superar os momentos difíceis e recuperar a confiança em mim mesmo. Sua ajuda foi essencial para o desenvolvimento desta pesquisa.

À Aline Feitosa, pela valiosa indicação de textos de autores consagrados na área de Exportação e Agronegócios, os quais contribuíram com o desenvolvimento da presente investigação.

À todos os meus professores no período da graduação na Unilago, os quais me trazem boas lembranças!

À Profa. Dra. Diva Cardoso de Camargo por ter me aceito como orientando, pelas sugestões, por ter me aberto os olhos com relação a algumas questões importantes acerca dos temas tratados nas disciplinas e por sempre contribuir com o resultado final da presente pesquisa.

À minha co-orientadora, Profa. Dra. Adriane Orenha-Ottaiano, também minha professora na graduação, pelas diretrizes necessárias para a realização desta dissertação, pelos conselhos e amabilidade.

À Profa. Dra. Paula Tavares Pinto Paiva, por ter aceitado fazer parte da minha banca de qualificação.

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Ao Prof. Dr. Odair Luis Nadin da Silva por suas valiosas críticas e sugestões durante a defesa do presente estudo, no que diz respeito a determinados aspectos que contribuíram com um melhor resultado.

Aos meus pais, Osvaldo e Solange, que não mediram esforços para me ver dentro do curso de mestrado. Não os agradeço com palavras, mas com atitudes.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...14

1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA...18

1.1Estudos da Tradução Baseados em Corpus...18

1.2Linguística de Corpus: Algumas considerações e abordagens teóricas...20

1.2.1 Instrumentos de investigação da linguagem: listas de frequência, concordâncias e palavras-chave, e sua importância para a pesquisa...24

1.3Terminologia: Origem e consolidação como disciplina...26

1.3.1 Objetos de estudo da Terminologia...28

1.3.2 Interface da Terminologia com a tradução...31

1.4 Fraseologia: objeto de estudo da Terminologia...34

1.4.1 Unidades fraseológicas: conceituação e características...35

1.5 Conceituação de colocação e colocação especializada...39

1.5.1 Taxonomia das colocações conforme proposta de Hausmann...41

1.5.2 Colocações e colocações especializadas: principais diferenças e semelhanças...43

2 METODOLOGIA...47

2.1 Organização do corpus de estudo...47

2.2 O Wordsmith Tools e o levantamento de colocações especializadas...51

2.3 Frequência das colocações especializadas e entradas no glossário...57

2.4 Macro e microestrutura do glossário...61

3 ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS...62

3.1 Dados estatísticos do CE, chavicidade e seleção dos nódulos...62

3.2 Análise do nódulo “frutas”...65

3.3 Análise do nódulo “mercado”...72

3.4 Análise do nódulo “produção”...78

3.5 Análise do nódulo “feira”...86

3.6 Análise do nódulo “produtos”...92

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LISTA DE ABREVIATURAS

CE – Corpus de estudo TO(s) – Texto(s) original(ais) TT(s) – Texto(s) traduzido(s) UFs – Unidades fraseológicas

SCELP – Subcorpus em língua portuguesa SCELI – Subcorpus em língua inglesa LP – Língua portuguesa

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Capa da edição em língua portuguesa da revista Brazil Export...47

Figura 2 – Capa da edição em língua inglesa da revista Brazil Export...47

Figura 3 – Exemplo de matéria em língua portuguesa da revista Brazil Export...48

Figura 4 – Exemplo de matéria em língua inglesa da revista Brazil Export...49

Figura 5 – Amostra das matérias em formato “pdf” e organização do corpus de estudo...50

Figura 6 – Lista de palavras do SCELP gerada com o auxílio da ferramenta WordList...52

Figura 7 – Lista de palavras do SCELI gerada com o auxílio da ferramenta WordList...52

Figura 8 – Dados estatísticos do SCELP...52

Figura 9 – Amostra da lista de palavras do corpus de referência Lácio-Ref...54

Figura 10 – Amostra da lista de palavras do corpus de referência BNC...54

Figura 11 – Amostra da lista de palavras-chave do SCELP...55

Figura 12 – Amostra da concordância do nódulo “produtos” em seu cotexto...56

Figura 13 – Amostra da aba collocates e os elementos que coocorrem com o nódulo “produtos”...57

Figura 14 – Amostra da página principal do WebCorp...58

Figura 15 – Amostra da busca pela colocação especializada “mercado externo” no WebCorp...59

Figura 16 – Amostra da busca pela colocação especializada “mercado externo” no Google..59

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LISTA DE QUADROS E TABELAS

Quadro 1 – Tipologia do corpus de estudo e características de nosso corpus de estudo...23

Quadro 2 – Princípio da livre escolha...40

Quadro 3 – Colocações substantivas para o nódulo “frutas”...65

Quadro 4 – Colocações verbais para o nódulo “frutas”...69

Quadro 5 – Colocações adjetivas para o nódulo “frutas”...70

Quadro 6 – Colocações substantivas para o nódulo “mercado”...72

Quadro 7 – Colocações verbais para o nódulo “mercado”...75

Quadro 8 – Colocações adjetivas para o nódulo “mercado”...76

Quadro 9 – Colocações substantivas para o nódulo “produção” como colocado e base...79

Quadro 10 – Colocações verbais para o nódulo “produção”...83

Quadro 11 – Colocações adjetivas para o nódulo “produção”...84

Quadro 12 – Colocações substantivas para o nódulo “feira”...86

Quadro 13 – Colocações verbais para o nódulo “feira”...90

Quadro 14 – Colocações adjetivas para o nódulo “feira”...91

Quadro 15 – Colocações substantivas para o nódulo “produtos”...92

Quadro 16 – Colocações verbais para o nódulo “produtos”...95

Quadro 17 – Colocações adjetivas para o nódulo “produtos”...96

Tabela 1 – Estatísticas do SCELP...63

Tabela 2 – Estatísticas do SCELI...63

Tabela 3 – Chavicidade das 10 primeiras palavras do SCELP...64

Tabela 4 – Frequência das colocações, segundo padrões “nódulo fruits + colocado” e “colocado + of + nódulo f...68

Tabela 5 – Frequência das colocações, segundo padrões “colocado + market” e “market + of + colocado”...74

Tabela 6 – Frequência das colocações, segundo padrões “production (base) + colocado ”, “base + production (colocado), “base + of + production (colocado)” e “production (base) + of + colocado”...81

Tabela 7 – Frequência das colocações, segundo padrões “colocado + fair”, “fair + colocado”, “fair + of + colocado” e “base + of + fair”...88

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RESUMO

Tivemos por objetivo realizar, neste trabalho, um estudo acerca de colocações especializadas presentes em textos relacionados à exportação e agronegócios. Para tanto, fundamentamos nossa pesquisa numa abordagem interdisciplinar adotada por Camargo (2005, 2007), a qual se apoia nos Estudos da Tradução Baseados em Corpus (BAKER, 1993, 1995, 1996, 2000; LAVIOSA, 2002) e na Linguística de Corpus (BERBER SARDINHA, 2004, 2006). Também buscamos subsídios teóricos na área da Terminologia (CABRÉ, 1999, 2004; AUBERT 2001; BARROS, 2004; KRIEGER; FINATTO, 2004; KRIEGER, 2006) e da Fraseologia (ZULUAGA, 1980; CORPAS PASTOR, 1996; RUIZ GURILLO, 1997; ORENHA-OTTAIANO, 2004, 2009; PIMENTEL; ORENHA-ORENHA-OTTAIANO, 2012), com o intuito de efetuar a compilação do corpus de estudo do tipo paralelo e realizar o levantamento das colocações especializadas selecionadas para análise. De modo a desenvolver nossa pesquisa, compilamos um corpus de estudo composto por matérias da revista Brazil Export, cujas edições possuem matérias traduzidas na direção português→inglês. Quanto aos passos metodológicos empregados para o desenvolvimento da presente investigação, utilizamos o programa computacional WordSmith Tools (Scott, 2007), que nos auxiliou no processo de verificação da frequência dos termos de maior potencial para constituírem colocações especializadas por meio de três ferramentas básicas: WordList (lista de palavras), KeyWords (lista de palavras-chave) e Concord (concordância). Com base nos resultados obtidos por meio da análise das colocações especializadas, observamos que a tradução de colocações especializadas substantivas, por exemplo, mostra-se mais complexa, uma vez que podem tanto seguir o padrão “nódulo + substantivo (colocado)” como o padrão “colocado + of + nódulo”. Almejamos que esta pesquisa possa contribuir para conscientizar o tradutor em formação acerca dos inevitáveis desafios concernentes à prática tradutória, e também fornecer subsídios aos aprendizes de tradução, por meio de um glossário bilíngue de colocações especializadas em exportação e agronegócios.

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ABSTRACT

In this research, we aim to carry out a study about specialized collocations present in texts related to exportation and agribusiness. For that purpose, we found our research in an interdisciplinary approach adopted by Camargo (2005, 2007) whose research is based on the Corpus-Based Translation Studies (BAKER, 1993, 1995, 1996, 2000; LAVIOSA, 2002) and on Corpus Linguistics (BERBER SARDINHA, 2004, 2006). We also search for theoretical subsidies in Terminology (CABRÉ, 1999, 2004; AUBERT 2001; BARROS, 2004; KRIEGER; FINATTO, 2004; KRIEGER, 2006) and Phraseology (ZULUAGA, 1980; CORPAS PASTOR, 1996; RUIZ GURILLO, 1997; OTTAIANO, 2004, 2009; PIMENTEL; ORENHA-OTTAIANO, 2012), in order to compile the parallel corpus of the study and carry out a research of specialized collocations selected for analysis. In order to develop our research, we have compiled a corpus consisted of articles from Brazil Export magazine. Its issues have articles translated from Portuguese into English. Regarding the methodological steps used for the development of our research, we used the computer program WordSmith Tools (Scott, 2007), which helped us in the process of examining the frequency of terms of higher potential to form specialized collocations by using three basic tools: WordList, KeyWords and Concord. Based on the results obtained by the analysis of the specialized collocations, we have observed that the translation of specialized noun collocations seems to be more complex, since it can either follow the pattern “node + noun (collocate)” or the pattern “collocate + of + node”. We expect this research may help translation learners to be aware of some challenges concerning to the translation practice, and the proposed bilingual glossary of specialized collocations in exportation and agribusiness may be useful for them.

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INTRODUÇÃO

O presente estudo pretende analisar a combinação de termos (colocações especializadas) da área de Exportação e Agronegócios, assim como a tradução de tais combinações para a língua inglesa.

O agronegócio, também conhecido como agribusiness, conforme informa Batalha (2002, p.5), é caracterizado pelo “conjunto de negócios relacionados à agricultura dentro de um ponto de vista econômico”. De acordo com o autor (2002), o estudo do agronegócio engloba três aspectos: 1) negócios agropecuários – mais ligados aos produtores rurais que, por sua vez, podem ser representados por fazendeiros e/ou por camponeses ou por empresas; 2) empresas que se concentram na produção e atividade rural, tais como a fabricação de equipamentos rurais e defensivos químicos; e 3) processo de venda, compra e transporte de produtos agropecuários até o seu destino final: o consumidor. Encontram-se, por exemplo, em tal categoria, os supermercados e companhias empacotadoras de alimentos.

Entre os diversos aspectos que apontam a importância do agronegócio, Contini (2001, p. 2) explica que a referida área está diretamente ligada à produção de renda e riqueza do país. O autor ainda comenta que o agronegócio é responsável por fornecer suprimento adequado de produtos básicos, fato associado à prática de equidade e justiça social. Outro fator que mostra a importância do agronegócio segundo Contini (p. 3), diz respeito ao setor da agricultura, uma vez que o processo de agroindustrialização em regiões menos desenvolvidas contribui com o aumento de empregos e de renda.

No âmbito da Exportação de produtos brasileiros, Landim (2010) comenta que o Brasil é um dos maiores exportadores de produtos agrícolas do mundo, apenas atrás dos Estados Unidos e da União Europeia. A autora acrescenta que o aumento da demanda dos países asiáticos, o crescimento de produtividade das lavouras, a abundância de recursos naturais, tais como solo, água, e luz estão entre os fatores que cooperam para o avanço da agricultura brasileira com o passar dos anos. De acordo com a autora, os produtos mais exportados são: café, suco de laranja, açúcar, carne bovina, carne de frango, tabaco e álcool.

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Dessa maneira, é importante que o tradutor tenha em mente que a língua é também composta por combinações estabelecidas por meio da convenção e da arbitrariedade. Tagnin (2003, p. 193) comenta sobre a ingenuidade do tradutor a qual “se configura numa compreensão composicional do significado e numa falta de consciência do quanto uma língua é constituída dessas partes pré-fabricadas.” Dessa maneira, as colocações especializadas podem mostrar-se um obstáculo para a prática tradutória ao serem traduzidas como palavras isoladas e não como blocos inteiros.

Tagnin (2003, p. 193) também menciona que certas formas discursivas, determinadas por seu uso na língua fonte, podem apresentar uma série de formas possíveis; porém, umas com maiores probabilidades do que outras na língua meta.

Conforme aponta Kesić (2004), o significado do agrupamento de palavras em sintagmas independe da compreensão de cada elemento, mas está relacionado à compreensão do agrupamento como um todo. O autor também comenta que a combinação de palavras produz significados novos que passam a ser associados à referida combinação.

Para o desenvolvimento desta pesquisa, buscamos subsídios teóricos-metodológicos no campo dos Estudos da Tradução Baseados em Corpus (BAKER, 1993, 1995, 1996, 2000; CAMARGO, 2005, 2007; LAVIOSA, 2002), bem como da Linguística de Corpus (BERBER SARDINHA, 2004, 2006).

Com relação às outras pesquisas voltadas especificamente para a combinação de palavras, apoiamo-nos, na presente investigação, em estudos acerca de unidades fraseológicas (ZULUAGA, 1980; CORPAS PASTOR, 1996; RUIZ GURILLO, 1997; ORENHA-OTTAIANO, 2004, 2009; ORENHA-OTTAIANO; ROCHA, 2012;), de colocações (HAUSSMAN, 1985; LOURO, 2001; NESSELHAUF, 2005), de colocações especializadas (L’HOMME, 2000; ORENHA-OTTAIANO, 2004, 2009), com base nos pressupostos teóricos da Fraseologia. Nossa pesquisa apoia-se, em parte, nos estudos concernentes à Terminologia (CABRÉ, 1999, 2004; AUBERT 2001; BARROS, 2004; KRIEGER; FINATTO, 2004; KRIEGER, 2006).

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Para a extração das colocações especializadas analisadas na presente investigação, utilizamos o programa computacional WordSmith Tools (SCOTT, 2007), frequentemente usado no desenvolvimento de pesquisas na área da Linguística de Corpus.

Para o levantamento de termos de Exportação e Agronegócio, consideramos aqueles que possuem chavicidade significativa em nosso corpus de estudo em língua portuguesa, isto é, aqueles que ocorrem com mais frequência e que poderiam coocorrer com outros termos, formando uma colocação especializada.

Nossa pesquisa tem os seguintes objetivos:

Objetivos gerais:

x Refletir sobre o uso das colocações especializadas traduzidas na direção português → inglês, selecionadas a partir de nosso corpus de estudo.

Objetivos específicos:

x Analisar colocações especializadas nos textos que compõem nosso corpus de estudo, no tocante a aspectos relacionados à frequência e à chavicidade de candidatos a termo que poderiam constituir colocações especializadas na área de Exportação e Agronegócios, na direção tradutória português → inglês.

x Verificar a frequência das colocações especializadas levantada na área de Exportação e Agronegócio, em relação às colocações encontradas no site do WebCorp e do Google.

x Compilar um glossário de colocações especializadas encontradas no corpus de estudo na área de Exportação e Agronegócios, na direção português → inglês.

De modo a cumprir com os objetivos propostos, organizamos a presente pesquisa, dividindo-a, além desta introdução e das considerações finais, em 4 seções:

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Nessa mesma seção, mencionamos os principais aspectos concernentes à Linguística de Corpus, bem como os instrumentos que auxiliam a pesquisa na investigação da linguagem. A seguir, abordamos a Terminologia na interface com a tradução. Depois, apresentamos algumas considerações a respeito da Fraseologia e da conceituação de unidades fraseológicas. Nos subitens seguintes, abordamos a conceituação de colocação e colocação especializada, as principais diferenças entre ambas, assim como a taxonomia das colocações, conforme proposta de Haussmann (1985).

Na Seção 2, Metodologia, descrevemos os passos metodológicos empregados para o desenvolvimento da presente investigação, tratando da organização de nosso corpus de estudo, das características da revista Brazil Export, das ferramentas do programa computacional WordSmith Tools (SCOTT, 2007) e do processo de levantamento e observação da frequência de colocações especializadas selecionadas para a presente pesquisa.

Na Seção 3, Análise e Discussão dos Resultados, apresentamos dados estatísticos do nosso corpus de estudo, no que diz respeito aos itens, formas, razão forma/item e razão forma/item padronizada, com o auxílio do programa computacional WordSmith Tools (SCOTT, 2007). Após isso, iniciamos a análise dos cinco nódulos que apresentaram maior chavicidade (“frutas”, “mercado”, “feira”, “produção” e “produtos”) e coocorreram com outros termos da área de Exportação e Agronegócios. Nesta seção, apresentamos colocações especializadas substantivas, verbais, e adjetivas, a partir de cada um dos cinco nódulos selecionados. Depois, examinamos a frequência das colocações especializadas e respectivos correspondentes em língua inglesa, encontradas no nosso corpus de estudo, no emulador de concordanciador WebCorp e no motor de busca Google.

Na Seção 4, apresentamos uma Amostra das Colocações Especializadas.

Por sua vez, nas Considerações Finais, observamos os resultados com base na análise dos dados. Por último, elencamos os trabalhos que auxiliaram o desenvolvimento desta pesquisa, na parte destinada às Referências Bibliográficas.

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1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Abordamos, inicialmente, neste capítulo, os Estudos da Tradução a partir da abordagem interdisciplinar adotada por Camargo (2005, 2007), a qual se apoia nos Estudos da Tradução Baseados em Corpus (BAKER 1993, 1995, 1996, 1999, 2000) e na Linguística de Corpus (BERBER SARDINHA 1999, 2004).

Em seguida, trataremos de alguns pontos da Terminologia, com base em teóricos como (CABRÉ 1999, 2004, AUBERT 2001, BARROS 2004, KRIEGER; FINATTO 2004, KRIEGER 2006).

Depois, teceremos alguns comentários sobre a Fraseologia, mais especificamente sobre as unidades fraseológicas (UFs) (FILLMORE (1979), ZULUAGA (1980), CABRÉ, LORENTE, ESTOPÀ (1996), CORPAS PASTOR (1996), RUIZ GURILLO (1997), ORENHA-OTTAIANO; ROCHA (2012).

Também, nesta seção, abordaremos a conceituação de colocações da língua geral e especializadas, principais objetos de nosso estudo, (L’HOMME 2000, ORENHA-OTTAIANO 2009).

1.1 Estudos da Tradução Baseados em Corpus

A introdução do computador impulsionou a pesquisa em diversos campos científicos e, consequentemente, investigações voltadas para a tradução passaram a contar com novas teorias e metodologias como a proposta por Baker (1993, 1995, 1996, 1999, 2000), pioneira na abordagem tradutória baseada em corpus.

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Juntamente com a semente lançada por Toury com o conceito de normas, Baker também fundamenta sua teoria na Linguística de Corpus (Sinclair, 1991) que se vale de corpora eletrônicos para o desenvolvimento de pesquisas do léxico.

Desse modo, a proposta de Baker (1993, p. 234) defende que os textos traduzidos (TTs) em geral “registram eventos comunicativos genuínos e, como tais, não são nem inferiores nem superiores a outros eventos comunicativos em qualquer língua. Entretanto, eles são diferentes, e a natureza dessa diferença precisa ser explorada e registrada”.1

Para a exploração da natureza dos TTs com relação aos textos originais (TOs), a metodologia baseia-se na análise de corpus. Baker (1996, p. 178), a partir de tal metodologia, destaca que os TTs apresentam características típicas, como:

a) Simplificação – o tradutor tende a utilizar uma linguagem mais simples na tradução, com o intuito de facilitar a leitura para o leitor. Conforme aponta Lima (2004, p. 53), o uso de um vocabulário menos variado pode ser um aspecto que facilite o processo de compreensão.

b) Explicitação o tradutor tende a utilizar uma linguagem mais explícita na tradução. Baker menciona o estudo de Johansson (1995, apud BAKER, 1996), que observou que os TTs tanto na direção inglês → norueguês como na direção inversa, apresentaram um total de palavras até 10% maior do que os TOs. Baker e Olohan (2000) apontam que, em relação aos TOs, os TTs para o inglês fazem maior uso da conjunção that para introduzir uma oração subordinada objetiva direta.

c) Normalização – conforme aponta Baker (1996, p. 183), o tradutor tende a “exagerar as características da língua meta, adaptando-as aos seus padrões típicos”2. Lima (2004, p. 55) aponta que este tipo de tendência pode ser observada por meio da utilização de um corpus paralelo, que pode indicar que características criativas do TO foram traduzidas em menor frequência no TT.

1 Translated textsrecord genuine communicative events and as such are neither inferior nor superior to other communicative events in any language. They are however different, and the nature of this difference needs to be explored and recorded.

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d) Estabilização – o tradutor tende a evitar os extremos entre a língua fonte e a língua meta. Enquanto a normalização depende da língua meta ao exagerar suas características no TT, a estabilização é independente, uma vez que evita os extremos entre as línguas meta e fonte.

Berber Sardinha (2003, p. 44), considera Baker como “a maior divulgadora do uso de corpora no entendimento do produto e dos processos envolvidos em tradução”. Segundo o autor, Baker “vê o corpus eletrônico como um instrumento revolucionário, que permite enxergar aspectos da linguagem do texto traduzido, em particular, de modo muito mais rico e abrangente do que por outros meios.”

As contribuições de Baker dentro dos Estudos da Tradução refletiram nos trabalhos de outros teóricos. Entre eles, Laviosa (2002), em sua obra Corpus-based Translations Studies: Theory, Findings and Applications, enfatiza que a pesquisa em corpora no âmbito da tradução tem-se desenvolvido rapidamente e, desse modo, tem influenciado a maneira pela qual a tradução é conceituada, estudada e ensinada.

Outra pesquisadora que defende as contribuições dos Estudos da Tradução Baseados em Corpus é Tymoczko (1998). A autora (1998, p. 1) comenta que, devido ao surgimento de grande quantidade de informações e também de ferramentas eletrônicas que armazenam e processam tais informações, é essencial que as disciplinas científicas se adaptem a novas metodologias de pesquisa, de modo a se manterem no século XXI. Por outro lado, Tymockzo (1998, p. 3) mostra que a experiência e a intuição do analista é fundamental para exames qualitativos nas pesquisas de corpora de TTs.

1.2 Linguística de corpus: algumas considerações e abordagens teóricas

A Linguística de Corpus tem contribuído para o desenvolvimento de pesquisas de diversas naturezas. De acordo com Beber Sardinha (2004, p. 3), a Linguística de Corpus se dispõe a compilar dados linguísticos textuais extraídos por meio do computador, assim como a explorar a linguagem empiricamente, com o intuito de se investigar a língua e a variedade linguística.

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“um conjunto de dados lingüísticos (pertencentes ao uso oral ou escrito da língua, ou a ambos), sistematizados segundo determinados critérios, suficientemente extensos em amplitude e profundidade, de maneira que sejam representativos da totalidade do uso lingüístico ou de algum de seus âmbitos, dispostos de tal modo que possam ser processados por computador, com a finalidade de propiciar resultados vários e úteis para a descrição e análise.”

A definição acima é considerada por Berber Sardinha (p. 18) como uma das mais completas, uma vez que menciona pontos importantes, tais como a necessidade da origem autêntica dos dados, a finalidade do corpus como um objeto de estudo linguístico, o critério de escolha acerca da composição do corpus, a necessidade de que o conteúdo do corpus seja processado pelo computador, o caráter representativo do corpus em relação a uma língua ou variedade linguística, e, por último, a necessidade de um corpus suficientemente extenso, com o intuito de ser representativo.

A Linguística de Corpus tem-se fortalecido com o passar do tempo. Berber Sardinha (2004, p.4) relata que, em 1950, quando a teoria gerativa de Noam Chomsky, fundamentada no racionalismo da linguagem, contava com grande destaque, as pesquisas baseadas em corpora eram realizadas manualmente. A dimensão dos corpora compilados era grande e, dessa maneira, a possibilidade de equívocos podia ser significativa, uma vez que é praticamente impossível para o ser humano analisar corpora gigantescos sem o auxílio de ferramentas eletrônicas. Por esta razão, a credibilidade dos trabalhos empíricos da época era questionada.

Pouco tempo depois, Berber Sardinha (2004, p. 1) comenta que o surgimento do primeiro corpus eletrônico, o Brown University Standard Corpus of Present-day American English, constituído por um milhão de palavras, foi considerado como um ato pioneiro, o que garantiu sua posição de destaque na época e ajudou a impulsionar a pesquisa em Linguística de Corpus significativamente.

No tocante às principais características da Linguística de Corpus, Biber (1998, p. 4) menciona que:

x Tem caráter empírico, pois os TTs são analisados com base nos padrões de uso corrente da língua;

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x Utiliza consideravelmente os computadores para a análise por meio de técnicas automáticas e interativas.

x É constituída por técnicas de análise quantitativas e também por técnicas qualitativas.

No tocante à nomenclatura usada para definir tanto o conteúdo como a finalidade de um corpus, Berber Sardinha (2004, p. 20) apresenta uma extensa lista que aborda a tipologia do corpus. Destacamos, a seguir, as principais características do corpus:

x textos falados e escritos – no caso de textos falados, é necessário haver um processo de transcrição da fala;

x textos sincrônicos, diacrônicos, contemporâneos e históricos;

x textos que servem de amostra finita da linguagem em geral (amostragem); x textos de idiomas distintos, dessa maneira denominados multilíngues; x textos que apresentam marcas dialetais e regionais;

x textos de estudo, isto é, para a descrição de algum fenômeno linguístico; x textos de referência;

x textos disponibilizados de forma alinhada e paralela, entre outros.

No que tange ao corpus paralelo, Baker (1995, p. 230) explica que este é composto por TOs em determinada língua e as respectivas traduções. A autora acrescenta que os corpora paralelos podem auxiliar o treinamento de aprendizes de tradução e também melhorar a performance de tradutores eletrônicos. De acordo com Baker (1995, p. 231), a principal contribuição dos corpora paralelos para os Estudos da Tradução é que eles permitem o estudo dos TTs com base na descrição e não na prescrição. O corpus paralelo devidamente alinhado auxilia a pesquisa, como é o caso deste trabalho, no qual comparamos os TOs e TTs, com o intuito de levantar colocações especializadas.

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criamos listas de palavras-chave, a fim de procurarmos termos que podem constituir uma colocação especializada.

Com base nas considerações abordadas acima, apresentamos no quadro abaixo, as características do corpus de estudo da presente pesquisa, fundamentando-nos na proposta de Berber Sardinha (2004, p. 20-21):

Quadro 1: Tipologia do corpus de estudo e características de nosso corpus de estudo Tipologia do Corpus segundo Berber Sardinha (2004,

p. 20-21)

Carcaterísticas de nosso corpus de nosso Modo Textos falados e/ou escritos Textos escritos

Tempo Textos sincrônicos, diacrônicos, contemporâneos e históricos.

Textos sincrônicos e contemporâneos

Seleção Corpus de amostragem, monitor, dinâmico, estático e equilibrado

Corpus de amostragem, estático e equilibrado

Conteúdo Textos especializados, regionais ou dialetais e multilingues

Textos especializados

Autoria Textos de aprendizes e de língua nativa

Textos de língua nativa

Disposição interna Corpus paralelo e alinhado Corpus paralelo

Finalidade Corpus de estudo, de referência e

de treinamento Corpus de estudo e referência

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língua portuguesa. Quanto à disposição interna do corpus de estudo, trata-se de um corpus paralelo, por meio do qual extraímos as colocações especializadas ao compararmos os TOs e os TTs. No que tange à finalidade, analisamos nosso corpus de estudo, contrastando-o com um corpus de referência, gerando uma lista de palavras-chave. A partir disso, analisamos quais termos possuem chavicidade significativa, a fim de constituírem colocações especializadas.

1.2.1 Instrumentos de investigação da linguagem: palavras-chave, listas de frequência e concordâncias, e sua importância para a pesquisa

No que concerne ao uso de ferramentas eletrônicas que auxiliam o desenvolvimento de pesquisas com base na investigação da linguagem, alguns pesquisadores tem-se empenhado em realizar listas de frequência de palavras. A respeito da referida lista, Gonzalez (2007, p. 15) destaca que a pesquisa voltada para a investigação da linguagem do ponto de vista probabilístico necessita contar com uma lista de frequência de palavras. Segundo a autora, tal instrumento:

registra cada palavra e sua ocorrência no corpus. A lista de frequência de palavras é valiosa para o estudo da Linguística de Corpus, pois revela a ocorrência de cada palavra naquele corpus específico, além de listar todas as palavras que o compõem. Partindo destes dados, pode-se então determinar quais palavras são mais ou menos frequentes no corpus sob estudo.

Berber Sardinha (2004, p. 160) relata que a primeira lista de frequência de palavras em língua inglesa foi levantada por Edward (1921) nos Estados Unidos, mesmo sem assistência computadorizada. Constituída por mais de 4,5 milhões de palavras, essa lista tinha o intuito de auxiliar o preparo de materiais baseados no ensino da leitura.

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frequência do português que, de acordo com Berber Sardinha (2004), estava provavelmente nos planos de Julliand.

No Brasil, além da realização das listas de frequência de palavras propostas por Biderman, Berber Sardinha (2004, p. 162) menciona o dicionário de frequência do português brasileiro, preparado pelo pesquisador Francisco da Silva Borba.

A importância das listas de frequência, no que diz respeito à investigação da linguagem, conforme aponta Biderman (1998, p. 162), está no fato de que a palavra é caracterizada pela frequência e ainda acrescenta que “a norma linguística se baseia nos usos linguísticos.” A autora entende por norma linguística “a média dos usos frequentes das palavras que são aceitas pelas comunidades dos falantes”. No entanto, Biderman (1998) explica que, com o passar do tempo, as mudanças linguísticas estão associadas à alta frequência de alguns usos em relação a outros.

Outro instrumento que auxilia a investigação da linguagem são as concordâncias. Tal auxílio permite a observação de uma dada palavra inserida em seu cotexto original no corpus. A partir disso, o linguista de corpus poderá analisar as palavras que ocorrem à direita ou à esquerda da palavra submetida à análise. A esse respeito, Berber Sardinha (2004, p. 188) explica que a palavra da qual a concordância será obtida é denominada “nódulo” (node) ou ainda “palavra de busca” (search word). No que concerne às palavras que ocorrem com o nódulo, estas são denominadas “colocados” (collocates).

Berber Sardinha também menciona outro mecanismo importante para a análise da linguagem. O autor (2006, p. 2) comenta que as palavras-chave são resultado da comparação entre a lista de palavras do corpus de estudo e um corpus de referência. Em outras palavras, Berber Sardinha explica que ambos os corpora de estudo e de referência são representados por listas de frequência de palavras. Com o auxilio de um programa computacional, é feita uma comparação estatística entre ambas as listas – as palavras que possuem maior frequência no corpus de estudo irão compor uma lista específica de palavras-chave.

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Colson (2003), ao tratar da frequência de expressões idiomáticas na web, considera que uma expressão é frequente quando ocorre a cada 1 milhão de palavras. Dentre as diversas constatações presentes nos estudos de Grefenstette (2000, 2004), e de Evans et al (2004) juntamente com as pesquisas desenvolvidas pela União Latina (2006), estima-se que existem na web cerca de 70 milhões de páginas em língua portuguesa, sendo 56 milhões em português brasileiro e 14 milhões em português lusófono e demais variantes. Desta maneira, as expressões idiomáticas em língua portuguesa no Brasil e, no caso de nossa pesquisa, as colocações especializadas, são consideradas frequentes caso ocorram no mínimo 56 vezes, conforme resultados apresentados pelo motor de busca do Google.

Acerca dos resultados oferecidos pelo buscador Google, Xatara (2008, p. 772) explica que “tomou-se o cuidado de se excluir do número total de resultados os resultados duplicados. E para se obter a computação léxica desejada, a pesquisa em curso priorizou as páginas do Brasil para se restringir ao português brasileiro”. Por esta razão, cremos que o uso de motores de busca como o Google é um aspecto importante para o levantamento da frequência de colocações especializadas extraídas do nosso corpus de estudo.

Outro instrumento importante para a pesquisa linguística, sobretudo para a presente investigação é o emulador de concordanciador. De acordo com Tagnin (2005, p. 117), tal ferramenta:

usa toda a Web como corpus de modo que as buscas podem ser feitas em qualquer língua. Oferece pesquisa simples e avançada, com diversas opções para a produção dos resultados. As linhas de concordância levam ao texto original completo. Também produz tabela de colocados.

No caso de nossa investigação, usamos o emulador de concordanciador WebCorp, cujas linhas de concordância nos auxiliam no levantamento da frequência das colocações especializadas extraídas, a partir do nosso corpus de estudo.

1.3 Terminologia: origem e consolidação como disciplina

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de organização social e política e também sob o ponto de vista linguístico: a autora enfatiza que tudo o que é recém-descoberto ou inventado é designado por um termo, dando início, dessa maneira, a um desenvolvimento terminológico, “no qual a criação neológica é intensa e se dá por diferentes mecanismos linguísticos.” (BARROS, 2004, p. 25)

Um dos diversos fatores que, segundo a autora, contribuíram para a modificação social é o progresso técnico-científico, diretamente associado à Revolução Industrial europeia, durante os séculos XVIII e XIX. Nesse período, a diversidade lexical das línguas, antes reduzida, agora ampliou-se, gerando um conjunto terminológico de maior proporção.

O perfil da sociedade cada vez mais industrializada era caracterizado por um processo de padronização da língua (BARROS, 2004 p. 27), no qual se passou à discriminação de dialetos, com o intuito de conceber a língua padrão como um instrumento de dominação. Nesse sentido, a aquisição de um vocabulário era privilégio das classes mais abastadas economicamente, onde a escrita era uma prática mais comum, ao contrário da classe trabalhadora, composta, sobretudo, por um grande percentual de analfabetos. Vale destacar, entretanto, que o analfabetismo diminuiu, à medida que os trabalhadores conquistaram o direito ao letramento. Contudo, a escola ainda exercia o papel de difundir a língua padronizada, assim como uma série de terminologias a ela associadas.

Com o período pós-industrial no século XX, antecedido por duas guerras mundiais, Barros descreve que o processo de desenvolvimento do vocabulário técnico e científico é ainda mais acelerado. Tal período reflete no desenvolvimento da Terminologia como disciplina e ciência social, assim como a linguística, responsável pelo estudo das línguas “(ou linguagens) de especialidade”, e também do “conjunto vocabular de campos específicos.”. (BARROS, p. 27).

Embora a referida disciplina tenha progredido significativamente no século XX, Barros (2004, p. 30) relata que a reflexão acerca de uma disciplina que trate de um conjunto vocabular de especialidade aprimorou-se com a teoria Renascentista do século XVII. A Terminologia como disciplina consolidou-se não por parte dos cientistas da linguagem, mas por parte de cientistas de ciências naturais, tais como Karl von Linné (1735), cuja proposta teórica consistia na universalização da nomenclatura binominal voltada para a botânica e a zoologia, que passaram a contar com uma série de termos científicos aplicáveis em todo o mundo.

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Terminologia passou a ser estudada na França, Canadá, Checoslováquia, Bélgica, Dinamarca e Espanha.

Com relação à inserção dos estudos terminológicos no Brasil na década de 80, a autora comenta que, além de não ser possível delimitar a produção de obras terminográficas brasileiras, não é clara a distinção entre terminologia e nomenclatura em dicionários tais como o “Aurélio” em suas edições de 1972 e 1986. Ambas as edições empregam nomenclatura como sinônimo de terminologia. Outro problema ainda não esclarecido pela Terminologia, conforme aponta Barros (2004, p. 34), diz respeito à dupla significação de terminologia, aceitas pela metalinguagem da Terminologia atual, que concebe a referida área, primeiramente como uma ciência, e depois é definida simplesmente com base em seu próprio objeto de estudo, isto é, um conjunto terminológico de uma língua de especialidade.

1.3.1 Objetos de estudo da Terminologia

No que diz respeito a um dos objetos de estudo da Terminologia, Cabré (1999), responsável pelo desenvolvimento da Teoria Comunicativa da Terminologia (TCT), faz menção ao termo. A autora (1999, p. 25) define os termos como unidades que apresentam características linguísticas semelhantes e também são empregadas em um dado âmbito de especialidade. Para a autora, toda palavra que represente determinado domínio de especialidade pode ser considerada um termo. É importante destacar, entretanto, que a Terminologia é uma ciência que não se limita em estudar apenas o termo, conforme definido por Cabré (1999).

O estudo de Krieger e Finatto (2004) trouxe contribuições valiosas para a delimitação dos objetos de estudo da Terminologia. Para as autoras,

A terminologia situa-se como campo de saber com identidade própria, definindo o termo como objeto privilegiado de reflexão e de tratamento. Mas, além desse objeto essencial, o desenvolvimento de pesquisas teóricas e aplicadas levou a Terminologia também a preocupar-se com a fraseologia, expressão típica das comunicações profissionais [...] Com isso, a fraseologia forma com o termo um par estabelecido sob uma relação de complementaridade. (KRIEGER; FINATTO, 2004, p. 75)

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nome seja, de fato, um termo, é preciso que ele seja distinguido de outro em um conjunto. Para tanto, a distinção entre um termo e outro se dá pela definição (REY, 1979, p. 40).

Krieger e Finatto (2004, p. 75) também chamam o termo de unidade terminológica, tratando de suas propriedades e concepções. Em vista das diferentes definições para a unidade terminológica, as autoras acreditam existir uma confluência de visões entre os estudiosos da Terminologia acerca das principais características dos termos e citam as definições de teóricos como Wüster (1998), Reformatskii (2000) e Rey (1979). De modo geral, para esses autores, os termos e as palavras são aspectos distintos: a unidade terminológica trata de uma palavra, à qual se atribui um conceito que a distingue de outra unidade terminológica. Diante de tais considerações, Krieger e Finatto (2004, p. 77) fornecem um exemplo de distinção entre os termos light e diet, no âmbito da terminologia alimentar. Enquanto o primeiro designa o alimento caracterizado pela redução de gordura ou açúcar, o segundo refere-se ao alimento dietético e, portanto, isento de açúcar.

Outro ponto importante acerca da conceituação do termo, segundo Krieger e Finatto (2004, p. 77) é a questão da invariabilidade semântica. O significado das palavras comuns é estabelecido com base no contexto em que são empregadas. Por outro lado, a questão da contextualização não é atribuída às unidades terminológicas, pois são conteúdos específicos de uma dada ciência ou técnica e, dessa maneira, expressam o mesmo conceito onde quer que sejam empregadas. Como exemplificação extraída do nosso corpus de estudo, o item lexical companhia refere-se, no âmbito da exportação de produtos, a uma empresa ou firma comercial responsável pela exportação de algo. Já como palavra comum, designa a convivência diária entre duas ou mais pessoas e também uma procissão realizada em prol de determinado fim.

No tocante às configurações ou composições prototípicas dos termos, Krieger e Finatto (2004, p. 82) observam que estas podem apresentar-se das seguintes formas:

x Nomes – substantivos (agricultura) e adjetivos (lucrativo) x Sintagmas terminológicos – (mercado de exportação brasileira) x Signos verbais plenos – (negócios lucrativos)

x Signos verbais reduzidos – siglas (FCOJ), acrônimos (Mercosul) e abreviaturas (agrop = agropecuária)

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Segundo as autoras (2004, p. 83), o ato de identificar tipologias de terminologias, como mencionado acima, conduz ao conhecimento das peculiaridades lexicais especializadas de um dado idioma. Tal ato também revela que os termos e o léxico geral da língua não são constituídos por aspectos que se opõem (à exceção dos signos não verbais que também são considerados termos), mas apresentam conformidade entre si. Dessa maneira, os termos podem ser concebidos como constituintes naturais das línguas naturais, fato também aplicável aos tecnoletos. Para Cabré, os termos são “unidades que fazem parte da língua natural e da gramática que descreve cada língua [...]” (CABRÉ, 1999, p. 123).

Por sua vez, para Krieger e Finatto, as “definições, na condição de textos particularizados, identificam facetas de compreensão de fenômenos e de determinados valores no seio das diferentes ciências e áreas de conhecimento.” (KRIEGER; FINATTO 2004, p. 92). Entretanto, observam que as definições para um mesmo termo podem ser diversificadas, o que indica diferentes perspectivas de compreensão acerca de determinada área de conhecimento. Segundo as autoras, a definição sob o ponto de vista terminológico vem ganhando mais relevância por tratar de significados para termos e expressões concernentes a um saber especializado, e por possibilitar a delimitação de enunciados em gêneros próximos e diferenças específicas. Enquanto o termo ocupa-se da definição da classe ou categoria a qual o objeto a ser definido faz parte, a definição indica os aspectos de distinção entre um dado termo e outro de mesma categoria. Como exemplificação, a definição de lápis como objeto cilíndrico de grafite envolvido em madeira, usado para escrever ou desenhar, é dividida em gênero próximo: objeto cilíndrico de grafite envolvido em madeira e também em diferença específica: usado para escrever ou desenhar.

Para Krieger e Finatto, a boa formulação da definição é capaz de fornecer uma delimitação objetiva e clara das características do definiendum, por meio do gênero próximo e da diferença específica. No entanto, as teóricas (2004, p. 93) comentam que, na prática, alguns autores realizam formulações definitórias sem a devida reflexão. Por exemplo, o termo “cadeira”, definido por peça do mobiliário que serve para sentar: nesse caso, o segmento peça do imobiliário diz respeito ao gênero próximo, ao passo que serve para sentar corresponde à diferença específica. Contudo, essa definição é muito ampla, uma vez que também se aplica a outros móveis, como sofá, poltrona, banco, entre outros.

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essenciais, que não corresponderiam ao padrão de “objetividade” proposto. As autoras defendem que, para a formulação de uma definição ou texto definitório:

não se deve tomar um modelo prévio e único de observação. É preciso inscrevê-lo relacionalmente em algo mais amplo, simultaneamente construído pelo indivíduo-autor e pela coletividade que ele representa. Importa recuperar, enfim, sua autoria, ambiência e, fundamentalmente, sua natureza linguística. A definição, como um texto, é um todo de sentido. (KRIEGER E FINATTO, 2004, p. 98)

Desse modo, as definições são representações de conceitos amplos e diversificados e também apresentam informações heterogêneas que não são consideradas supérfluas, haja vista que podem contribuir com a realização de textos definitórios ricos em conceituações.

1.3.2 Interface da Terminologia com a tradução

A respeito das relações entre os estudos terminológicos e a prática tradutória, é importante enfatizar a natureza distinta de ambos os campos de pesquisa. Conforme abordado anteriormente, a Terminologia ocupa-se do estudo do termo, da definição e da fraseologia.3 Dessa maneira, dialoga, ainda que discretamente, com outras ciências do léxico também autônomas, como a lexicografia e a lexicologia. No que diz respeito à tradução, Aubert mostra que seu objetivo é “a análise de um fenômeno complexo, ao mesmo tempo linguístico, sociocultural, histórico, estético, político e individual.” (AUBERT, 2001, p. 11).

De modo semelhante ao pensamento de Aubert (2001), Cabré (2004, p. 104) concebe a tradução como o ato de transposição de ideias de uma dada língua de partida em uma língua de chegada diferente. Entretanto, as línguas em questão estão integradas em sistemas culturais particulares, nos quais há variáveis cognitivas, culturais, psicológicas, sociológicas e também linguísticas. A prática tradutória, deste modo, dá-se a partir da interação entre as referidas variáveis.

Embora tratem de questões particulares do fazer científico, é inegável que ambas as áreas possuem relações estreitas, uma vez que a tradução fundamenta-se na terminologia. No tocante a essa questão, Aubert (2001, p. 12) menciona que os tradutores são usuários dos produtos da pesquisa terminológica, por meio de glossários e dicionários técnicos, bases de dados terminológicos, entre outros. Dessa maneira, o autor acrescenta a importância de o tradutor ter em mãos uma gama de estudos terminológicos confiáveis, fundamentados em

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metodologias adequadas. Por outro lado, Aubert explica que a terminologia se beneficia da tradução, por introduzir termos novos, inexistentes na língua de chegada.

O autor (p.13) comenta que a relação entre as duas áreas de conhecimento mostra-se complexa, devido às lacunas no processo de descrição terminológica em seu aspecto mono e bilíngue, dificultando, deste modo, o exercício adequado da prática tradutória. A ausência de descrições mais aprofundadas gera a proliferação de dialetos de especialidades, cujo caráter apresenta-se variável, dependendo da região e do usuário que os emprega.

Para Aubert (2001, p. 18), a proliferação desordenada de termos, produto de lacunas de descrição e sistematização terminológica, obriga o tradutor a recorrer à improvisação, aumentando a complexidade do problema. Aubert (2001, p. 13) explica que a diversidade de termos e dialetos de especialidade ainda não recebeu atenção especial por partes dos estudos dialetológicos. Menciona, como exemplo, a irresolubilidade que permeia entre a conceituação terminológica de chácara, sítio e fazenda.

Também a respeito da relação entre Terminologia e tradução, Cabré (2004) esclarece que ambas apresentam aspectos coincidentes entre si: 1) ambas são práticas tradicionais, embora seu caráter disciplinar tenha sido consolidado recentemente; 2) ambas as áreas são interdisciplinares, uma vez que se baseiam na cognição, na comunicação e na linguística; 3) ambas se originaram devido à necessidade de esclarecer problemas de compreensão e também de representar um pensamento especializado. Nesse sentido, a atividade terminológica surgiu, primeiramente, do intuito de se referir à realidade com maior precisão e, posteriormente, do interesse de cientistas em propor conceitos e denominações fixas para suas pesquisas.

Quanto às contribuições dos instrumentos terminográficos, Krieger explica que recuperam a informação usual, a qual é “aceita coletivamente no que diz respeito tanto ao emprego do termo como ao conceito que veicula. Por isso, são obras de referências de grande significado no conjunto da documentação de apoio de que o tradutor necessita” (KRIEGER, 2006, p. 203).

Dessa maneira, a elaboração de instrumentos terminográficos permite que o tradutor técnico conheça o campo de especialidade em que sua tradução se insere. Krieger acrescenta que o conhecimento mais aprofundado de um domínio técnico facilita o manejo dos termos. Por sua vez, para o tradutor em formação, Krieger (2006, p. 205) aponta que o aprofundamento será vantajoso ao adquirir pelo menos uma base teórica mínima que o faça refletir sobre a constituição, estatuto e funcionamento das terminologias.

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de elaboração de glossários, com o auxílio de ferramentas e programas que armazenem registros e conceitos terminológicos.

Em razão da escassez de glossários e dicionários especializados em determinadas áreas, Aubert (2001) e Krieger (2006) comentam que os próprios tradutores costumam elaborá-los, uma vez que não encontram materiais adequados ou confiáveis que possam suprir suas necessidades.

De modo a cumprir com os objetivos da presente pesquisa, também é importante abordar algumas considerações à respeito dos glossários que, conforme mencionado anteriormente, mostram-se elementos relevantes para o auxílio da prática tradutória.

Em termos gerais, o trabalho lexicográfico ou terminográfico que se propõe a organizar um dicionário ou, no caso de nossa pesquisa, um glossário, apoia-se em dois pontos básicos para o processo de organização das entradas: a macro e a microestrutura. Conforme explica Haensch (1982, p. 452), a macroestrutura está relacionada à disposição das entradas em ordem alfabética, fato que permite ao público-alvo um acesso prático e eficiente.

A microestrutura, por sua vez, trata da organização de cada verbete ou entrada de um dicionário ou glossário, no sentido de decidir quais são as formas fixas a serem apresentadas. De acordo com Rey-Debove (1971), entende-se por microestrutura todo o conjunto de informações que acompanham a entrada. Andrade (2000) propõe uma estrutura básica de microestrutura, definindo-a como “artigo + enunciado lexicográfico”. Por outro lado, encontramos pesquisas que ampliam a noção de microestrutura, como a proposta de modelo de Barbosa (1989):

Artigo = {+ Entrada + Enunciado lexicográfico (± Paradigma Informacional 1 +

Paradigma Definicional, ± Paradigma Pragmático 1 ± Paradigma

Informacional 2 ..., ± Paradigma Informacional n )}

Expandindo as noções do modelo proposto por Barbosa (1989), encontram-se no Paradigma Informacional as abreviaturas, conjugação, categoria gramatical, gênero, número, homônimos, pronúncia, entre outros. Em segundo lugar, o Paradigma Definicional é responsável pela descrição dos semas, isto é, dos componentes mínimos de significação. Quanto ao Paradigma Pragmático, encontram-se inseridos na presente categoria as informações contextuais. Cabe mencionar que, para a autora, artigo é o mesmo que verbete.

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em questão são suscetíveis à variação. Na Seção de Metodologia, serão fornecidas informações detalhadas acerca das características do glossário elaborado para este estudo.

1.4 Fraseologia: objeto de estudo da Terminologia

Conforme aponta Silva (2006, p. 13), a Fraseologia é uma disciplina nova. O autor comenta que Charles Bally, discípulo de Saussure, desenvolveu o pensamento de seu mestre que, entre tantas abordagens acerca da língua, tratou das locuções feitas como elementos pertencentes ao sistema linguístico. A partir disso, Bally emprega, pela primeira vez, o termo phraséologie em obras como Précis de Stylistique (1905), Traité de stylistique française (1909) e também Linguistique générale et linguistique française (1932), com o intuito de tratar do conjunto de fenômenos sintáticos que, por um lado, dão lugar às séries fraseológicas e, por outro, às unidades fraseológicas.

Segundo Silva, a teoria fraseológica de Bally atravessou fronteiras, sendo introduzida na Linguística soviética, a qual contribuiu com sugestões importantes para a teoria de Bally, fundamentada na Linguística francesa saussuriana. A respeito de tais informações, Klare (1986, p. 356) afirma que o ponto de vista soviético entende que a fraseologia deve ser vista como disciplina autônoma, excluindo-a da lexicologia, equiparando-as, uma vez que os fraseologismos, tais como as locuções, também possuem suas próprias particularidades e, portanto, suficientes para a investigação fraseológica. Dessa maneira, instaurou-se, em 1956, a escola russa de Fraseologia que, de acordo com Rodriguez (2004, p. 16), começou a desenvolver estudos com base na descrição sincrônica, contrastiva e histórica.

Silva (2006, p. 14) relata que, com o passar do tempo, a Fraseologia soviética foi introduzida na Espanha por meio das investigações de Casares (1950). Sua pesquisa se propôs a classificar as unidades fraseológicas (UFs) em modismos e locuções, excluindo os provérbios de tal classificação. Anos mais tarde, Zuluaga (1980) foi o responsável por alterar a proposta de Casares, classificando as UFs em locuções e enunciados, o que possibilitou o estudo dos provérbios.

Entre os autores com relevância significativa para a Fraseologia, mencionamos Corpas Pastor (1997) que, ao publicar um manual fraseológico em língua espanhola, abordou especificamente os enunciados fraseológicos, entre os quais as fórmulas rotineiras e as unidades fraseológicas (UFs), que abrangem as colocações e as locuções.

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fraseológico intitulado Dictionnaire des expressions et locutions. No âmbito da Fraseologia sincrônica francesa, tem-se o manual La Phraséologie du Français (2002), publicado por Isabel González Rey. De acordo com Rodriguez, a referida obra aborda uma visão geral não apenas da Fraseologia, em geral, mas também da Fraseologia francesa, à medida em que distingue três domínios básicos: as parêmias, as expressões idiomáticas e as colocações.

Segundo aponta Silva (2006), os estudos fraseológicos contemporâneos estão fundamentados no conceito do “discurso repetido”, proposto por Cosériu (1977). A abordagem teórica do referido discurso trata de “tudo o que tradicionalmente está fixado, por exemplo: as frases feitas, as locuções cujos elementos constitutivos são substituíveis ou recombináveis segundo as regras atuais da língua” (SILVA, 2006, p. 15).

1.4.1 Unidades fraseológicas: conceituação e características

Considerando que o objeto de estudo da Fraseologia são as unidades fraseológicas (UFs) (RODRIGUEZ, 2004, p. 9), muitos pesquisadores possuem opiniões distintas ao proporem definições e conceituações acerca das mesmas.

Um exemplo para tal afirmação é apontado por Orenha-Ottaiano (2004), que listou algumas definições, as quais destacamos:

x “blocos pré-fabricados” (BOLINGER, 1976)

x “unidades lexicais multivocabulares” (multiword lexical units) (ZGUSTA, 1967)

x “expressões feitas” (ready-made utterances) (LYONS, 1979)

x “unidades lexicais multipalavras” (multi-word lexical units) (BIBER, 1995)

x “tijolinhos fixos e por vezes fossilizados” (KJELLMER, 1987)

x “agrupamentos linguísticos” (AZEVEDO, 1986), entre outras.

Mesmo em meio a uma pluralidade conceitual com relação às UFs, Orenha-Ottaiano (2009, p. 51), com o intuito de justificar tal diversidade de opiniões, vale-se das considerações de Cabré, Lorente e Estopà (1996) que explicam, por sua vez que, enquanto alguns autores compartilham de um ponto de vista restrito com relação aos fenômenos fraseológicos, outros entendem que qualquer estrutura superior à palavra também são fraseológicas.

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combinações lexicais convencionalizadas, frequentes, recorrentes e que apresentam certo grau de lexicalização. [...] são armazenadas em nosso léxico mental e que, ao construirmos um discurso, seja na língua materna, seja em uma língua estrangeira, são resgatadas de modo automático em um só bloco [...], conforme o grau de competência linguística.

Ao considerarmos que as UFs são combinações lexicais essencialmente convencionais ou blocos armazenados em nosso léxico mental, o processo de tradução para tais combinações torna-se uma tarefa complexa.

Refletindo acerca da questão da convencionalidade das UFs, percebemos que tudo ao nosso redor também é caracterizado por diversos tipos de convenção, uma vez que vivemos em sociedade. Os estudos de Saussure (1916) já haviam mencionado que a língua, como convenção social, não é capaz de existir sem que os contratos sociais entre os membros de uma comunidade sejam estabelecidos. O linguista também propôs a teoria de arbitrariedade do signo linguístico, a qual observa que um mesmo objeto pode ser nomeado de maneiras diferentes, de uma língua para outra (cadeira, em português; silla, em espanhol; chair em inglês). Nesse sentido, a arbitrariedade do signo linguístico é caracterizada pela convenção ou contrato social: à medida em que não há elo entre o signo (significado e significante) e o objeto nomeado, o sistema de convenções é o responsável por nomear todas as coisas.

Vale destacar que o termo convencionalidade, conforme aponta Fillmore (1979, apud TAGNIN, 1998), trata da coocorrência de elementos linguísticos, a qual não pode ser explicada com base na sintaxe ou semântica. Nesse sentido, a posição dos elementos dentro de uma UF pode ser explicada pela convenção, uma vez que a gramática não possui subsídios necessários para explicar, conforme aponta Orenha-Ottaiano (2004), a razão pela qual se usa o adjetivo antes ou depois de um substantivo em língua portuguesa – casa linda / linda casa – enquanto que, em língua inglesa, são usados antes deste – beautiful house.

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Com relação às características que distinguem as UFs de outros tipos de unidades lexicais, Corpas Pastor (1996, p. 20) menciona seis aspectos a serem tratados a seguir:

1. Frequência – os elementos que constituem uma UF como um bloco devem aparecer com mais frequência do que individualmente.

2. Institucionalização – tal aspecto diz respeito à aceitação de uma UF por meio de seu uso repetido.

3. Fixação – com relação à sua institucionalização, a UF é fixa semântica e formalmente.

4. Variação – embora uma UF seja fixa semântica e formalmente, há a possibilidade de variação em sua estrutura interna, sem comprometer o sentido global. Entretanto, nada impede que o falante, em pleno uso de sua criatividade, proceda com modificações na estrutura de uma UF.

5. Idiomaticidade – entende-se, por tal aspecto, a impossibilidade de que um dos elementos de uma UF tenha um significado capaz de indicar a sua significação como um todo. Segundo a autora, o fenômeno é um indício de que a especificação semântica da UF atingiu o nível mais alto.

6. Gradação –aspecto concernente à existência de uma escala gradual em todos os outros cinco, acima mencionados. Em outras palavras, a autora explica que nenhuma UF possui uma estrutura totalmente fixa.

Zuluaga (1980) destacou a idiomatiticidade e a fixação fraseológica em seu estudo. Para o autor (1980, p. 126), a idiomaticidade diz respeito ao fato de que cada elemento de uma UF não possui conteúdo semântico em si mesmo. Dessa maneira, não é possível extrair o significado de uma determinada combinação apenas levando em consideração seus elementos isoladamente. Como exemplo de idiomaticidade, a combinação “sacudir a poeira” em seu sentido global significa o ato de superar alguma dificuldade. Entretanto, nenhum de seus elementos isolados pode indicar tal ideia.

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A repetição, segundo Zuluaga (1980, p. 25) é um fator importante para o desenvolvimento de uma cultura, assim como de um sistema linguístico. No caso das UFs, o autor (p. 17) enfatiza que o processo contínuo de repetição de refrãos, locuções e ditos célebres, por exemplo, é o que realmente constitui uma UF.

A fixação também é estudada por Ruiz Gurillo (1997), que listou cinco características concernentes às UFs:

x Componentes léxicos invariáveis – os componentes de uma UF não sofrem alteração de número, de gênero, de determinante, de pessoa, e de tempo verbal.

x Componentes léxicos não comutáveis – não é possível substituir um dos componentes de uma UF por outro correspondente. Exemplo: “pedir a mão”, no sentido de pedir alguém em casamento e nunca “pedir o pé”.

x Componentes não permutáveis – os componentes de uma UF estão disponibilizados em ordem fixa, não sendo possível mudar a ordem. Exemplo: “dar murro em ponta de faca” e não “em ponta de faca, dar murro”.

x Componentes léxicos não separáveis – impossibilidade de acrescentar um elemento a uma UF. Exemplo: dar murro em ponta de faca afiada. Da mesma maneira, não é possível omitir qualquer componente. Ex: “ficar cara a cara” e nunca “ficar cara”

x Fixação transformativa – impossibilidade de passar uma UF para a voz passiva. Exemplo: joguei a toalha, no sentido de desistir de algo e nunca “a toalha foi jogada por mim”. Também existe a impossibilidade de uso da nominalização. Exemplo: “farol vermelho” e nunca “a vermelhidão do farol”.

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1.5 Conceituação de colocação e colocação especializada

Firth (1957), em seu artigo Modes of meaning, criou o termo collocation, ressaltando que “uma palavra é conhecida por aquela que a acompanha”4, ou seja, pela coocorrência dos elementos de uma colocação.

O termo “colocação” vem sendo usado de maneiras distintas ao longo dos anos. Conforme aponta Nesselhauf (2005, p. 11), tal diferença de sentido baseia-se no senso comum ao considerar a colocação como uma relação sintagmática entre as palavras. Por outro lado, a autora (2005) explica que a diversidade de uso do termo “colocação” é fruto de duas visões teóricas diferentes: a primeira delas trata da abordagem baseada na frequência (frequency-based approach), cuja proposta teórica é a distinção entre as coocorrências mais e menos frequentes. A segunda visão, diz respeito à abordagem fraseológica (phraseological approach), influenciada, por sua vez, pela fraseologia russa, que caracteriza as colocações como uma combinação de palavras não completamente fixas.

Abordando as colocações da língua em geral, Louro (2001, p. 6) explica que

Ler o texto implicaria em decompô-lo, não em palavras, mas em unidades lexicais significativas, unidades essas muitas vezes formadas por mais de uma palavra. Enfrentar um texto não seria, então, enfrentar o vocabulário enxergando palavras isoladas, mas enfrentar o vocabulário enxergando unidades lexicais.

Segundo a autora, (2001), as colocações em geral são vistas como blocos de mais de uma palavra que coocorrem em um nível elevado de frequência.

No tocante à conceituação de colocações especializadas, Orenha-Ottaiano (2004), em sua pesquisa de colocações na área de negócios, sustenta que esse tipo de colocação diz respeito a um campo teórico de concentração específico, onde os elementos também podem coocorrer em maior ou menor grau.

A autora (2009, p. 33) comenta que a ligação entre os elementos constituintes de uma colocação não está baseada na semântica, mas possui natureza sintagmática e convencional. Em outras palavras, a relação em questão diz respeito à imposição ou convenção proposta pelos membros de uma comunidade, que, por sua vez, passam a combinar os elementos lexicais em determinado contexto.

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Orenha-Ottaiano (2009, p. 36), fundamentada na teoria de Tagnin (1999), apresenta algumas conceituações de colocação, entre elas: recorrência, não-idiomaticidade, coesão, restrição contextual, coocorrência arbitrária entre os elementos. Com relação à recorrência, a autora explica que existe a necessidade de que a colocação tenha um alto nível de frequência. Em outras palavras, que seja bastante usual em uma comunidade. A colocação não-idiomática, por sua vez, possui significado composicional, uma vez que o sentido pode ser deduzido de cada um de seus elementos. Quanto à coesão, a autora (2009) explica que os elementos de uma colocação especializada precisam estar mais fortemente ligados do que em uma colocação comum. A restrição contextual trata da possibilidade de uma colocação ocorrer dentro de um contexto específico. Por último, a arbitrariedade na coocorrência entre os elementos de uma colocação não é justificável, isto é, não há razão semântica que explique tal combinação.

Lewis (1997, p. 8) classifica as colocações em fixas, relativamente fixas e totalmente novas. De acordo com o autor, as colocações fixas são aquelas que fazem lembrar as palavras que coocorrem entre si. Dessa maneira, a possibilidade de coocorrência entre determinados termos é restrita. Com relação às colocações relativamente fixas, o autor explica que estas podem ser associadas a um número maior de palavras, ainda que de maneira limitada. Por fim, Lewis trata das colocações novas, como aquelas que ainda não atingiram um nível de consagração, o que depende diretamente da aceitação da comunidade. Caso venha a ser usada massivamente, este tipo de colocação passará a ser considerada como fixa, ao atingir alto nível de consagração. Damos como exemplo o elemento “gripe” que, em um determinado momento da história, passou a ser seguido de “suína”, afim de nomear a doença que constituiu uma realidade social.

Referências

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