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Colocações e colocações especializadas: principais diferenças e semelhanças

1.5 Conceituação de colocação e colocação especializada

1.5.2 Colocações e colocações especializadas: principais diferenças e semelhanças

Embora os conceitos teóricos abordados anteriormente possam ser aplicados com relação às colocações de língua geral e especializadas, podemos destacar os principais pontos em que ambos os tipos de colocações possuem particularidades entre si, a partir de suas semelhanças.

Com base nos argumentos teóricos dos pesquisadores abordados na subseção anterior, as colocações de língua geral são convencionais e, portanto, familiares aos falantes de determinada comunidade. Consequentemente, não atravessam fronteiras linguísticas, uma vez

que cada língua possui critérios de nomeação diferentes para o mesmo objeto ou realidade. Por outro lado, as colocações especializadas, embora também sejam determinadas pela convenção, dizem respeito a uma linguagem terminológica específica de um grupo.

No intuito de buscar uma maior delimitação entre colocação e colocação especializada, Orenha-Ottaiano (2009) toma como base os estudos de L’Homme (2000), comparando algumas características de colocações e colocações especializadas, com base nos seguintes aspectos: 1) natureza convencional, 2) composição, 3) composicionalidade ou não- composicionalidade, 4) agrupamento de palavras-chave (bases) em unidades lexicais e 5) generalização semântica entre seus componentes.

Nesse sentido, Orenha-Ottaiano (2009) analisa essas características e busca verificar sua aplicabilidade nos contextos especializados (contratos sociais e estatutos sociais) de sua pesquisa. Desse modo, discutimos, a seguir, tais aspectos, adequando-os à nossa investigação.

No que concerne à natureza convencional de uma combinação, L’Homme (2000) observa que, assim como as colocações, as combinações lexicais especializadas são determinadas pela convenção. A esse respeito, Gil (2003) aponta que a convenção implica nos “laços que indivíduos de uma mesma comunidade linguística estabelecem com o mundo e a sociedade em que estão integrados” (GIL, 2003, p. 115). Nesse sentido, as combinações lexicais especializadas, determinadas pela convenção entre os membros de uma sociedade, abrangem domínios de saber específicos, constituindo, assim, um subgrupo da língua geral.

L’Homme (2000) ainda levanta a possibilidade de questionar a convencionalidade de uma combinação lexical especializada como um todo ou se, de fato, tal aspecto estaria associado a cada um de seus componentes. Mediante tal questionamento, Orenha-Ottaiano (2009, p. 45) sustenta que a convencionalidade em questão é atribuída aos componentes de uma colocação, uma vez que podem adquirir outro sentido se empregados em uma dada área de especialidade. No âmbito do processo tradutório das colocações de língua geral e, principalmente das colocações especializadas, é importante que o tradutor possa reconhecê-las como blocos inteiros, ao invés de traduzir seus componentes isoladamente. No caso das colocações especializadas, tal tarefa é ainda mais complexa, haja vista que, além de reunirem elementos em blocos, utilizam, ao mesmo tempo, termos concernentes a um domínio particular de conhecimento.

No tocante à composição das combinações, L’Homme (2000) vale-se da teoria base + colocado, proposta por Hausmann (1984, 1985) como constituintes das colocações de língua geral. Para L’Homme, a base de uma combinação lexical especializada é uma unidade terminológica acompanhada de seu respectivo colocado. A categorização das combinações

lexicais especializadas é dividida em apenas três grupos que priorizam o uso de substantivos. Segundo a autora, tais grupos consistem em: a) verbo + substantivo; b) substantivo + adjetivo; c) substantivo + substantivo. A autora explica que a proposta das três categorias diz respeito ao fato de que muitas das unidades lexicais, as quais os terminológos apontam como termos, fazem parte da categoria nominal. Tal fato indica, dessa maneira, que a base de uma combinação lexical especializada é, de fato, uma unidade terminológica nominal.

Com relação à categorização das colocações de língua geral, a autora (2000) as divide em: a) verbo + substantivo; b) verbo + advérbio; c) substantivo + adjetivo; d) substantivo + substantivo e) adjetivo + adverbio. Nesse caso, as bases das colocações correspondem a substantivos, além de unidades sintagmáticas diversificadas.

A respeito da composicionalidade ou não-composicionalidade de uma combinação, L’Homme (2000), conforme discutido por Orenha-Ottaiano (2009), observa que a base de uma colocação seleciona o colocado e é, sobretudo, composicional, ao passo que seu colocado é não-composicional. Tal fato difere das combinações lexicais especializadas, cuja composicionalidade, segundo a autora, não é um aspecto fundamental a ser estudado, uma vez que o interesse dos terminológos gira em torno de todas as unidades lexicais que possam ser combinadas com termos. Um aspecto abordado pela autora é que a unidade terminológica que representa a base se mantém estável, ao contrário de seus coocorrentes, que conduzem a outros significados, mesmo sendo considerados unidades terminológicas. Exemplos: feira de frutas, feira de agronegócios, feira de orgânicos5, entre outros.

No que tange ao agrupamento de bases em uma série de unidades lexicais, Orenha- Ottaiano menciona o estudo de L’Homme e Bertrand (2000) que declaram que a base de uma colocação combina com determinado colocado que, por sua vez, muda de significado quando empregado em uma combinação lexical especializada. De acordo com Bertrand (1999), cuja pesquisa trata das combinações lexicais especializadas em francês, aponta que as referidas combinações especializadas podem ser consideradas grupos de unidades lexicais. O autor explica que, embora um colocado combine com uma diversidade de termos que guardam traços semânticos em comum, um dos termos prevalecerá sobre os demais em um texto de dada especialidade.

O autor (1999) aponta em sua pesquisa que o verbo exploter pode frequentemente coocorrer com termos tais como, avion (avião) aéronef (aeronave) e também giravion

(giroavião). Acerca das três possibilidades mencionadas, o termo aéronef tende a ser utilizado mais frequentemente – exploiter l’aéronef.

Embora L’Homme (2000) considere que o agrupamento de bases em uma série de unidades lexicais é mais produtivo com relação às combinações lexicais especializadas, Orenha-Ottaiano (2009, p. 49) contesta tal declaração, alegando não ser possível afirmar que tais considerações não digam respeito também às colocações de língua geral.

O último aspecto discutido por Orenha-Ottaiano, no que diz respeito ao estudo de L’Homme (2000) concerne à generalização semântica entre os componentes da colocação. Tal categoria aborda que, devido ao fato de diversas colocações demonstrarem ter o mesmo tipo de relação, as relações semânticas entre seus componentes podem ser generalizadas. Nessa perspectiva, Orenha-Ottaiano (2009) sustenta que o ponto de distinção entre as colocações de língua geral e as combinações lexicais especializadas é que, no caso das últimas, não há muitas categorias que descrevam as relações semânticas entre seus componentes. Outro aspecto de distinção entre colocações e colocações lexicais especializadas, segundo L’Homme, é que as colocações são descritas com base na coocorrência lexical restrita, ainda que tenham colocados em comum. Com relação às colocações lexicais especializadas, a autora (2000) comenta que são melhor descritas com base na coocorrência lexical livre.

As considerações de Orenha-Ottaiano (2009) e de L’Homme (2000) são uma das poucas que abordam as diferenças e semelhanças entre colocações e colocações especializadas. No entanto, enfatizamos que a principal diferença entre uma e outra está nos domínios, os quais as determinam: língua geral, no caso da primeira, e áreas mais específicas de conhecimento, no caso da segunda. De modo semelhante, Orenha (2009, p. 50) acredita haver mais semelhanças do que diferenças entre uma e outra.

2 METODOLOGIA

Conforme mencionado no capítulo anterior, a presente pesquisa se propõe a identificar e analisar colocações especializadas no campo da Exportação de produtos brasileiros e agronegócio. Com essa intenção, descrevemos, a seguir, os passos metodológicos adotados para o desenvolvimento de nosso estudo.

Apresentaremos também a organização e compilação dos corpora, assim como o levantamento das colocações especializadas por meio do programa computacional Wordsmith Tools (SCOTT, 2008). Descreveremos, a seguir, o processo de verificação de frequência das colocações especializadas, com base no emulador de concordanciador Web Corp e também no motor de busca Google.