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As ações afirmativas para afrodescendentes articuladas a partir de parcerias intersetoriais: uma análise argumentativa do caso Geração XXI.

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Academic year: 2017

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u m a a n á lise a r gu m e n t a t iv a do ca so Ge r a çã o X X I

A

S

A

ÇÕES

A

FIRMATIVAS PARA

A

FRODESCENDENTES

A

RTICULADAS A PARTIR DE

P

ARCERIAS

I

NTERSETORIAIS

:

UMA

ANÁLISE

ARGUMENTATIVA

DO CASO

G

ERAÇÃO

XXI

Rocío Alon so Lor e n z o*

Resumo

O

bj et iva- se com est e t rabalho apr ofundar o conhecim ent o sobr e as par cer ias int er set or iais ent r e Est ado, m er cado e sociedade civil, a par t ir da análise ar gum ent at iva de um caso, o proj et o Geração XXI , a prim eira ação afi rm at iva para j ovens negros no Brasil. Est e t rabalho ut iliza as t eorias da argum ent ação, sobret udo a t eoria da ação com unicat iva de Haberm as, para avaliar a validade dos discur sos m anifest ados pelos difer ent es par ceir os e a capacidade dest es de cr iar “ sit uações dialógicas” que busquem possíveis soluções por vias ar gum ent at i-vas. O t rabalho baseia- se num a pesquisa qualit at iva que com binou a obser vação par t icipant e com ent r evist as sem iest r ut uradas. A conclusão apont ar á que, apesar de o pr oj et o t er sido bem ger enciado desde o pont o de vist a da racionalidade inst r um ent al, houve falhas na const r ução de um signifi cado aceit ável por t odos os colaborador es de conceit os- chave - ação afi r m at iva, gest ão da diver sidade e r esponsabilidade social, bem com o nos pr ocedim ent os de com unicação inst it ucionalizados, que afet aram negat ivam ent e os pr ocessos e r esult ados fi nais do pr oj et o.

Palavras- chave: Ações afi r m at ivas. Afr odescendent es. Par cer ias int er set or iais. Ação com unica-t iva. Análise ar gum enunica-t aunica-t iva.

Articulating Affirmative Action Policies for Afro-descendants through Cross-Sector

Partnerships: an argumentative analysis of the Geração XXI case

Abstract

T

he goal of t his ar t icle is t o deepen t he know ledge on cr oss- sect or par t ner ships t hat ar e ar t iculat ed am ong t he St at e, t he m ar ket , and civil societ y, t aking as t he m ain focus t he ar gum ent at ive analysis of one case, Geração XXI , t he fi r st affi r m at ive act ion pr ogram for black youngst er s in Brazil. This paper uses ar gum ent at ion t heor y, m ainly Haber m a’s com -m unicat ive act ion t heor y t o evaluat e t he validit y of t he discour ses used by t he differ ent par t ner s and t he capacit y of t he lat t er t o cr eat e “ dialogic sit uat ions” t hat seek possible solut ions t hr ough ar gum ent at ive m eans. The paper is based on qualit at ive r esear ch t hat com bined par t icipant obser vat ion w it h sem i- st r uct ur ed int er view s. I t is concluded t hat despit e t he pr ogram having been w ell m anaged fr om an inst r um ent al rat ionalit y point of view, pit falls in t he const r uct ion of a shar ed m eaning accept able by all t he collaborat or s of key concept s such as affi r m at ive act ion, diver sit y- m anagem ent , and cor porat e social r esponsibilit y, as w ell in t he com m unicat ion pr ocedur es inst it ut ionalized, affect ed t he pr ocesses and fi nal r esult s of t he pr ogram negat ively.

Key w or ds: Affi r m at ive act ion. Afr o- descendant s. Cr oss- sect or par t ner ships. Com m unicat ive act ion. Ar gum ent at ive analysis.

*PhD em Ant r opologia pela Cor nell Univer sit y. Pós- dout or anda do Depar t am ent o de Ant r opologia da

Faculdade de Filosofi a, Let ras e Ciências Hum anas da Universidade de São Paulo – FFLCH/ USP, São Pau-lo/ SP/ Br asil. Ender eço: Av. Pr ofº Luciano Gualber t o, 315, But ant ã. São PauPau-lo/ SP. CEP: 05508- 010. E- m ail: r ocio.a.lor enzo@gm ail.com

1Agr adeço à Wenner - Gr en Foundat ion for Ant hr opological Resear ch pelo fi nanciam ent o da pesquisa;

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Introdução

A

colaboração ent r e Est ado, m er cado e or ganizações da sociedade civil vem se const it uindo em um m ecanism o im por t ant e para infl uenciar, com plem ent ar e for t alecer as polít icas públicas. No cont ext o de r efor m a polít ico- adm inist rat iva ( BRESSER, 1998) e de dem ocracia par t icipat iva ( SANTOS, 2002) , pr edom inant es no Brasil cont em por âneo, a int er set or ialidade - t am bém cham ada de t r iset or ialidade, por envolver com fr equência a colaboração ent r e os t r ês set or es, gover no/ m er cado/ or ganizações da sociedade civil - t or na- se um a “ ideia- for ça” que m obiliza discur sos e ações ( TEODÓSI O, 2008) . A “ gest ão social” é caract er izada, desse m odo, por ser m ais “ par t icipat iva e dialógica”, em cont raposição à gest ão social “ t ecnobur ocr át ica e m onológica”, t ípica do est ado do bem - est ar ( TENÓRI O, 1998: 16; ALVES et al., 2008) . Com o out ras polít icas públicas, sej am de car át er univer sal ou par t icular ist a, grande par t e das polít icas focalizadas ou ações afi r m at ivas cont em por âneas se de-senvolve dent r o do espaço polít ico da int er set or ialidade. Por ém , os r elacionam en-t os inen-t er seen-t or iais, no caso específi co das ações afi r m aen-t ivas para afr odescendenen-t es, apr esent am obst áculos signifi cat ivos. O pr incipal desafi o r efer e- se a com o conciliar a r ecor r ência de gover no e m er cado às “ or ganizações negras” sem fi ns lucrat ivos2

para at ingir públicos difíceis de alcançar ( par t icular ism o) com a t endência daqueles a r esist ir em à inclusão da quest ão racial nas suas agendas ( univer salism o) .

Se bem que pesquisas sist em át icas sobr e par cer ias int er set or iais ( AUSTI N, 2001; FI SCHER, 2005) t êm apont ado difi culdade de ent endim ent o, incom pat ibilidade de cult uras or ganizacionais e falt a de diálogo ent r e as par t es com o fat or es- chave de fr ust ração de grande par t e dos pr oj et os sociais ger enciados nesses am bient es ins-t iins-t ucionais. Esses são aspecins-t os pouco esins-t udados em com paração com a im por ins-t ância dada à racionalidade inst r um ent al da gest ão social, t ais com o o uso efi cient e dos r ecur sos t ransfer idos e a exper t ise dos coor denador es dos pr ogram as. Tendo esse cont ext o com o pano de fundo, o obj et ivo pr incipal dest e t rabalho é apr ofundar o co-nhecim ent o sobr e as par cer ias int er set or iais ent r e Est ado, m er cado e sociedade civil, a par t ir da análise ar gum ent at iva de um caso, o pr oj et o Geração XXI , a pr im eira ação afi r m at iva dest inada a j ovens negr os no país. Para t ant o, avalia- se a validade dos discur sos m anifest ados pelos difer ent es par ceir os, assim com o a capacidade dest es de cr iar “ sit uações dialógicas” que busquem possíveis soluções dos confl it os por vias ar gum ent at ivas.

De um m odo geral, par t e- se da abor dagem da análise ar gum ent at iva das polít icas públicas, pr incipalm ent e da t eor ia da ação com unicat iva desenvolvida por Jür gen Haber m as ( 2010) . Um dos pr incipais obj et ivos da t eor ia da ação com unicat i-va é elaborar um conceit o de racionalidade com unicat ii-va que se cont raponha ao de racionalidade or ient ada a fi ns, desenvolvido por Max Weber em Econom ia e

socieda-de ( 2009 [ 1956] ) . De acor do com Fr eit ag ( 2005) , na visão socieda-de Haber m as, Weber se

confr ont a com um paradoxo que não consegue r esolver. I st o é, a razão inst r um ent al, “ ao abandonar sua or igem r eligiosa, per de de vist a sua int enção or iginal de liberar o hom em ( ...) acabando por subj ugá- lo ao m it o da m odernidade” ( FREI TAG 2005, p.40) . Nas palavras de Haber m as ( 2010, p.271)3, “ a ét ica pr ot est ant e põe em andam ent o o

capit alism o, m as sem poder garant ir as condições de sua pr ópr ia est abilidade com o ét ica”. Haber m as, cont udo, per m anece ot im ist a, e, com o Fr eit ag ( 2005) esclar ece, o aut or considera que um a part e dessa racionalidade inst rum ent al m onológica orient ada a fi ns t er ia se concr et izado em pr át icas quot idianas sob a for m a de um a r eser va de

2Or ganizações da sociedade civil que t êm com o pr incipal foco de at uação a população negr a ou afr

o-descendent e. O leit or per ceber á que ao longo do t ext o ut ilizam - se os t er m os negr o e afr oo-descendent e indist int am ent e. Cont udo, vale esclar ecer que enquant o o t er m o afr odescendent e ident ifi ca os des-cendent es de escr avos, o t er m o negr o t ipifi ca a cor da pele e cor r esponde à cat egor ia ut ilizada pelo I BGE, que agr ega par dos e pr et os sob a cat egor ia negr o. Par a o t ít ulo dest e ar t igo pr efer iu- se o t er m o afr odescendent e ao em vez de negr o por r em et er aquele a um a m issão r epar at ór ia dessas polít icas e por desfr ut ar de um a m aior aceit ação na população br asileir a com o um t odo.

3Todas as cit ações que apar ecem nest e ar t igo do livr o de Haber m as Teor ía de la acción com unicat iva

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u m a a n á lise a r gu m e n t a t iv a do ca so Ge r a çã o X X I

razão com unicat iva, que deve ser r ecuperada em um a sit uação de fala ideal ent r e int er locut or es com pet ent es, isent a de coer ção ext er na e int er na. O obj et ivo funda-m ent al da ação cofunda-m unicat iva ser ia assegurar o esclar ecifunda-m ent o dos pont os de vist a, desvendar a ver dade e obt er consenso, coor denados at ravés de det er m inados at os de fala com pr et ensão de validade ( SI EBENEI CHLER 1989) . A cont raposição pr opost a por Haber m as ( 2010) ent r e racionalidade est rat égica or ient ada ao êxit o e racionali-dade com unicat iva or ient ada ao ent endim ent o é ext r em am ent e út il para indagar as condições do ent endim ent o possível no cont ext o das par cer ias int er set or iais.

O pr oj et o Geração XXI foi lançado em 1999, com o r esult ado de um a par cer ia int er set or ial ent r e a Fundação BankBost on ( hoj e Fundação I t aú) , o Geledés - I nst it ut o da Mulher Negra e a Fundação Palm ar es, ent idade ligada ao Minist ér io da Cult ura. O pr oj et o selecionou 21 j ovens negr os com o alvo da ação, sendo 12 gar ot as e nove rapazes ent r e 13 e 15 anos, or iundos de escolas públicas de São Paulo. O obj et ivo era garant ir a esses j ovens condições plenas para seu aut odesenvolvim ent o: boas escolas, acesso a bens cult urais, boa alim ent ação e at enção à saúde, at é que con-cluíssem a univer sidade. Além do acom panham ent o da apr endizagem dos j ovens, o pr oj et o visou infl uenciar as polít icas públicas do gover no, a par t ir da m obilização e sensibilização da r ede escolar por m eio de discussões sobr e cidadania e diver sidade. O Geração XXI , dada a sua novidade, foco, invest im ent o e duração, veio r epr esent ar um a exper iência de polít ica social pioneira no Brasil. No ano de 2004, m om ent o em que iniciei a pesquisa de cam po, pr oj et os inspirados pelo Geração XXI est avam sendo for m ulados ou j á im plem ent ados em cinco subsidiár ias de m ult inacionais: Monsant o, Xer ox, Colgat e- Palm olive, Unilever e Philips.

O est udo do caso Geração XXI for m ou par t e de um pr oj et o m aior, de pesquisa de dout orado, desenvolvido durant e um ano e m eio, ent r e 2004 e 2005, cuj o obj et ivo principal foi analisar as polít icas de diversidade e/ ou ações afi rm at ivas para afrodescen-dent es num a r ede de em pr esas em São Paulo. Durant e a últ im a fase da pesquisa de cam po, que dur ou t r ês m eses, foram r ealizadas quinze ent r evist as em pr ofundidade, com par ceir os e benefi ciár ios do pr oj et o, incluindo ger ent es da Fundação BankBost on, coordenadores( as) do Geledés e 11 j ovens benefi ciários dent re os 21 que part iciparam no pr oj et o. Além das ent r evist as e da par t icipação em encont r os, r euniões e out r os event os vinculados ao pr oj et o, foram r ealizadas visit as sem anais à sede do pr oj et o, onde par ceir os e benefi ciár ios se encont ravam r egular m ent e.

O pr esent e t rabalho incor pora, em pr im eir o lugar, um a fundam ent ação t eór ica do conceit o haberm asiano de ação com unicat iva, e com o est e pode elucidar lim it ações im por t ant es que a pr ópr ia gest ão social envolve quando per cebida só at ravés da lent e da racionalidade inst r um ent al. Em segundo lugar, o conceit o de par cer ia int er set or ial é defi nido e cont ext ualizado. Seguidam ent e, salient am - se as cont ingências polít ico-- inst it ucionais que deram lugar à for m ulação de polít icas específi cas para a população afr odescendent e no Brasil, assim com o dados r elevant es de desigualdade racial que j ust ifi car iam t ais polít icas. Finalm ent e, o caso do pr oj et o Geração XXI é avaliado a par t ir da per spect iva da análise ar gum ent at iva haber m asiana, descr evendo a m et o-dologia de pesquisa ut ilizada, m ost rando os depoim ent os dos ent r evist ados e, por fi m , apr esent ando os pr incipais quest ionam ent os e r esult ados.

A Análise Argumentativa das Políticas Públicas

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consensual e a ét ica discur siva baseada na legit im ação por vias ar gum ent at ivas. A ideia pr incipal da lógica pragm át ica da ar gum ent ação é que os discur sos m anifest ados pelas pessoas não r efl et em só um a r ealidade obj et iva ou um a ident idade subj et iva, m as o que é ver balizado na hora, t endo pr esent e um a “ audiência pr át ica” ( WALTON, 1989) . É nesse sent ido que a palavra discur so - diskur s - adquir e na t eor ia da ação com unicat iva de Haber m as um for t e sent ido de “ discussão” ( ALMEI DA, 1985) .

Os t eór icos da ar gum ent ação coincidem na cr ít ica ao racionalism o inst r um ent al perant e as polít icas cont em porâneas de planej am ent o. De acordo com Maj one ( 1989, p. 23) , a m et odologia do “ decisionism o”, baseada no racionalism o inst rum ent al, “ rest ringe o papel da razão ao descobr im ent o de m eios apr opr iados para fi ns det er m inados”, a part ir do uso de m odelos m at em át icos ou out ras t écnicas obj et ivas de análise. Ao privi-legiar a análise sist em át ica prévia de alt ernat ivas para a form ulação de planos de ação, a racionalidade inst r um ent al r elega valor es, cr it ér ios, j uízos e opiniões ao dom ínio da ir racionalidade ou do subj et ivo. Em bora sej am vár ias as cor r ent es fi losófi cas que t êm infl uenciado os defensor es da ar gum ent ação com o fer ram ent a analít ica das polít icas públicas ( NELSON, MEGI LL; MCCLOSKEY, 1987; MAJONE, 1989; FI SCHER; FORESTER, 1993) , aqui, a t eor ia da ação com unicat iva de Haber m as r eceber á foco por t er um com ponent e ut ópico de dem ocracia radical, no sent ido de dem ocracia deliberat iva, volt ada à inst it ucionalização de procedim ent os de com unicação sim ét ricos ( igualit ários) com o for ça legit im adora da vont ade com um ( HABERMAS, 2003) . A m aneira com o as par cer ias int er set or iais são concebidas em cont ext os de dem ocracia par t icipat iva com o o brasileir o apr oxim a- se do t ipo ideal de sit uação de fala haber m asiano, volt ado para o ent endim ent o e o consenso. Cont udo, a suposição de um a “ sit uação de fala ideal” que especifi ca um a nor m a de com unicação sim ét r ica de acor do com a qual os int er locut or es devem est ar livr es de const rangim ent os para alcançar o ent endim ent o pleno ( ver CARDOSO DE OLI VEI RA, 2000) , com o ser á m ost rado no caso Geração XXI , raram ent e se encont ra em “ est ado pur o” no m undo em pír ico.

O pr essupost o cent ral da t eor ia da ação com unicat iva gira em t or no da com -pet ência com unicat iva enquant o capacidade fundam ent al da int eração hum ana e da signifi cação da vida e da r ealidade. A linguagem assum e papel cent ral com o m edium r egulador do com por t am ent o e do ent endim ent o m út uo, assim com o “ cr it ér io do pr o-cesso de em ancipação da hum anidade” ( SI EBENEI CHLER, 1989, p. 50) . Ent ender- se, na visão de Haber m as ( 2010, p. 354) , signifi ca que “ se pr oduz ent r e ( ao m enos) dois suj eit os capazes de linguagem e ação um acor do”.

Com o apont ado na int r odução do pr esent e t rabalho, na visão de Haber m as ( 2010) , a ação inst rum ent al, inst it ucionalizada de form a quase hegem ônica nas socie-dades m oder nas cont em por âneas, pr ecisa ceder lugar à ação com unicat iva, pr esent e no início dos pr ocessos de m oder nização da sociedade eur opeia e fr ágil sobr evivent e nos “ nichos” do “ m undo vivido” dessas sociedades.

A ação com unicat iva baseia- se num pr ocesso cooperat ivo de int er pr et ação em que os par t icipant es se r efer em sim ult aneam ent e a algo no m undo obj et ivo, no m undo social e no m undo subj et ivo m esm o quando na sua m anifest ação só sublinhem t em a-t icam ena-t e um desa-t es a-t r ês com ponena-t es ( HABERMAS 2010, p. 598, gr ifos do aua-t or ) .

Haberm as ( 2010) est abelece um a pragm át ica form al, baseada na classifi cação de “ t ipos puros de int eração linguist icam ent e m ediada” que possam desvelar as con-dições do ent endim ent o possível. I nspirado na classifi cação de Aust in de at os de fala em locucionários, ilocucionários e perlocucionários, Haberm as ( 2010, p.373) , no en-t anen-t o, considera que aquele en-t eria se lim ien-t ado à perspecen-t iva do falanen-t e em relação a um m undo obj et ivo, sem levar em cont a que “ os propósit os ilocucionários dos at os de fala ( fazer algo dizendo algo) se conseguem por m eio do reconhecim ent o int ersubj et ivo de pret ensões de poder ou de pret ensões de validade”. O result ado dessa refl exão leva à seguint e classifi cação de at os de fala ( HABERMAS, 2010, p.374) , dos quais o prim eiro é orient ado ao sucesso, enquant o os t rês últ im os são orient ados ao ent endim ent o:

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b) const at at ivos: o falant e r efer e- se a algo no m undo obj et ivo e a negação de t ais em issões im plica que o ouvint e quest ione a pr et ensão de ver dade que o falant e pr et ende com a sua afi r m ação;

c) r egulat ivos: o falant e r efer e- se a algo no m undo social com um , no sen-t ido de essen-t abelecer um a r elação insen-t er pessoal que sej a r econhecida com o legít im a. A negação de t ais em issões signifi ca que o ouvint e quest iona a

r et idão nor m at iva ( confor m idade com as nor m as sociais) que o falant e

pr et ende com a sua ação;

d) expressivos: o falant e refere- se a algo no seu m undo subj et ivo, no sent ido de desvelar ant e um público um a vivência a que ele t em acesso pr ivile-giado. A negação de t ais em issões signifi ca que o ouvint e põe em dúvida a pr et ensão de veracidade ( sincer idade) que o falant e pr et ende fazer de si m esm o.

Na int er pr et ação de Fr eit ag ( 2005, p.44) da obra de Haber m as, a ação com u-nicat iva se desenvolve dent r o do m undo vivido “ t r ansfundo de saber im plícit o que penet ra os pr ocessos cooperat ivos de int er pr et ação” . O m undo vivido é, pois, sim ult a-neam ent e, lugar de r epr odução sociocult ural e socialização e de quest ionam ent o das “ pr et ensões de validade” dos at or es em r elação aos t r ês m undos for m ais: o obj et ivo, o social e o subj et ivo. O que sem pr e foi t aken for gr ant ed pode ser post o em quest ão num a sit uação de ação com unicat iva e debat ido pelo gr upo, que só r espeit ar á o que t iver sido consensualm ent e acor dado.

A ação com unicat iva vai sendo gradualm ent e subst it uída pelos m ecanism os do dinheir o e do poder, ou sej a, pelo sist em a. O m undo vivido passa por um a “ disj unção” do sist em a e é “ colonizado” por m ecanism os de int egração sist êm icos. A t eoria da ação com unicat iva t em , pois, com o t ar efa pr incipal denunciar esses pr ocessos que levam a sit uações de com unicação “ sist em at icam ent e dist or cidas”, de for m a inconscient e ( aut oengano) ou de form a conscient e ( m anipulat iva) . Cabe à t eoria da ação com unica-t iva pr om over a r eunifi cação conceiunica-t ual e pr áunica-t ica do m undo vivido e do sisunica-t em a num a concepção globalizant e de sociedade, em que est ej am assegurados os pr ocessos de r epr odução m at er ial e cult ural pela cooperação e pelo consenso dos seus m em br os. Essa r eint egração pr essupõe a “ descolonização” do m undo vivido, i.e., a expulsão da razão inst r um ent al e a consolidação da ação com unicat iva ( FREI TAG, 2005) .

Confor m e ser á expost o adiant e, apesar dos r esult ados posit ivos, “ dist or ções com unicat ivas” fundam ent ais ( inconscient es e m anipulat ivas) com pr om et eram a possibilidade de um “ ent endim ent o pleno” ent r e os par ceir os at uant es no Geração XXI , dada a par t icipação desequilibrada ent r e as par t es, as difer ent es expect at ivas dir ecionadas aos obj et ivos dos pr ogram as, assim com o a pr edisposição geral dos difer ent es par ceir os ( int er locut or es im pr ováveis at é pouco t em po at r ás) a at it udes pr econceit uosas e à desconfi ança m út ua.

Histórico das Parcerias Intersetoriais

Par cer ia, num sent ido am plo e sob o pont o de vist a da em pr esa, é “ t oda for m a de colaboração ou t rabalho conj unt o que a em presa m ant enha com out ras organizações da sociedade e do Est ado para r ealizar suas pr át icas de at uação social” ( FI SCHER, 2005, p. 12) . A aliança social est rat égica, t er m o ut ilizado com fr equência com o sinô-nim o de par cer ia, dist ingue- se dest a. Enquant o

a lógica da par cer ia é a da int er com plem ent ar iedade de r ecur sos e capacidades ent r e or ganizações par ceiras, a da aliança é a de or ganizações que poder iam at uar de for m a independent e diant e de um a det er m inada quest ão, m as decidem fazê- lo conj unt am ent e, m ot ivadas pela consciência da m agnit ude e com plexidade da ação a ser em pr eendida. ( NOLETO, 2004, p. 15) .

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de racionalidade inst r um ent al, um a vez que “ ( ...) as iniciat ivas de desenvolvim ent o social buscaram for m as or ganizat ivas que aum ent assem a efi ciência e assegurassem a efi cácia de suas ações” ( FI SCHER, 2005, p. 12) . O conceit o de aliança est rat égica, segundo Fischer ( 2005) , ser ia bast ant e inovador para o cenár io das r elações de coo-peração or ganizacional no Brasil. O pr oj et o Geração XXI foi concebido, ofi cialm ent e, com o aliança est r at égica, m as, na pr át ica, os colaborador es do pr oj et o ut ilizavam o t er m o par cer ia.

No Brasil, o papel do Est ado no est abelecim ent o de um clar o m ar co legal que r egule o t er ceir o set or t em sido fundam ent al para o desenvolvim ent o das par cer ias int er set or iais. O t er m o “ par cer ia” adquir iu grande popular idade, pr incipalm ent e, em razão do sucesso das pr opost as da Com unidade Solidár ia ( t er m o r ebat izado de Com u-nit as, após o fi nal do gover no FHC) , que, desde 1995, vem dissem inando o conceit o e est im ulando a apr oxim ação de em pr esár ios, gover nos e lideranças com unit ár ias na solução de pr oblem as sociais ( FI SCHER, 2005) . Foi no âm bit o da Com unidade Solidár ia que a Lei 9790 - Lei das Oscips, de 1999 - foi est abelecida, a qual: “ Dispõe sobr e a qualifi cação de pessoas j ur ídicas de dir eit o pr ivado, sem fi ns lucrat ivos, com o Or ganizações da Sociedade Civil de I nt er esse Público, inst it ui e disciplina o Ter m o de Par cer ia, e dá out ras pr ovidências”. Difer ent em ent e dos convênios e dos acor dos, o t er m o par cer ia foi pr opost o no sent ido de se cr iar em “ inst r um ent os m ais t ranspar en-t es e dem ocr áen-t icos para esen-t im ular os pr oj een-t os e aen-t ividades das or ganizações sem fi ns lucrat ivos” ( ALVES; KOGA, 2006, p. 220) . Em bora o Geledés ( I nst it ut o da Mulher Negra) - com o m uit as out ras ONGs - t enha r esist ido at é hoj e a const it uir- se em um a Oscip, por razões que não cabem a est e t rabalho, o est at ut o do Geração XXI , por ém , foi concebido dent r o do m ar co legal das Oscips.

O conceit o de par cer ia int er set or ial é ar t iculado, assim , num novo cont ext o de “ gest ão social” cont rapost o à gest ão est rat égica, “ ( …) na m edida em que t ent a subs-t isubs-t uir a gessubs-t ão subs-t ecnobur ocr ásubs-t ica, m onológica, por um ger enciam ensubs-t o m ais par subs-t icipasubs-t i-vo, dialógico, no qual o pr ocesso decisór io é exer cido por m eio de difer ent es suj eit os sociais” ( TENÓRI O, 1998, p. 16) . Nas dem ocracias par t icipat ivas, a “ ação pública” passa a funcionar num am bient e “ híbr ido” “ que se caract er iza pelas conexões ent r e or ganizações dist int as, m as cuj os dest inos est ão ‘posit ivam ent e cor r elacionados’” ( ALVES et al., 2008, p. 62) . Cont udo, com o Fischer ( 2005) apont a,

as or ganizações que devem se aliar são m uit o difer ent es ent r e si por per t encer em a diver sos set or es, por t er em nat ur eza diver sa em sua or igem e por est ar em posicio-nadas em difer ent es dist âncias em r elação ao obj et ivo de desenvolvim ent o social que m ot ivou a par cer ia. ( FI SCHER, 2005, p. 12) .

Com o o leit or poder á com pr ovar na par t e fi nal dest e t rabalho, os par ceir os do Geração XXI não só difer em nos seus “ m undos vividos”, or iundos de ident idades subj et ivas e cult uras or ganizacionais dist anciadas, m as, t am bém , discor dam sobr e os assunt os que devem ser t em at izados e consensualm ent e acor dados.

As Ações Afirmativas: contingências

político-institucionais

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Cont udo, apesar da j ur idifi cação do racism o e da vont ade do Est ado de pr ot eger a cult ura afr o- brasileira, as ações afi r m at ivas para negr os não se concr et izaram at é o gover no de Fer nando Henr ique Car doso.

Ent ende- se por ação afi rm at iva: “ [ q] ualquer program a ou ação pública ou privada que pr ovidencia ou busca pr ovidenciar opor t unidades ou out r os benefícios a pessoas com base, ent r e out r os cr it ér ios, em sua per t ença a um gr upo ou gr upos específi cos” ( GUI MARÃES, 1996, p. 238, t radução da aut ora) . Em pesquisa desenvolvida pelo I PEA ( JACCOUD; BEGHI N, 2002) sobr e as polít icas de ação afi r m at iva durant e o gover no FHC, foram ident ifi cados 40 program as e ações em inst it uições governam ent ais. A part ir de 2003, o gover no Lula garant iu a cont inuidade dos pr ogram as iniciados durant e o gover no FHC, assim com o a im plem ent ação de out r os pr ogram as e ações. Em 2003, cr iou- se, no plano Execut ivo Federal, a SEPPI R - Secr et ar ia Especial para a Pr om oção da I gualdade Racial, a qual at ua de m aneira t ransver sal em vár ias ár eas, dest acando-- se a da educação ( im plem ent ação da Lei 10.639/ 03, que t or na obr igat ór io o ensino da hist ór ia da Áfr ica e das cult uras afr o- brasileiras nas escolas de ensino fundam ent al e m édio) , a da saúde dir ecionada à população negra, a da agenda social quilom bola ( com unidades r em anescent es de quilom bos) e a da capacit ação pr ofi ssional.

Apesar da t ransver salidade das ações afi r m at ivas, nenhum t em a t em ganhado t ant o dest aque na últ im a década com o a r eser va de cot as raciais nas inst it uições de ensino superior. Segundo Heringer e Ferreira ( 2009) , dent re as 224 inst it uições públicas de ensino super ior que exist em no Brasil, set ent a e nove pr om ovem algum t ipo de ação afi rm at iva. No ensino superior privado, as polít icas afi rm at ivas se desenvolveram por m eio do Pr ogram a Univer sidade para Todos - Pr oUni, inst it ucionalizado em j aneir o de 2005, que per m it e a ofer t a de um grande núm er o de bolsas de est udos m ediant e isenção de im post os às univer sidades que ader em ao pr ogram a do Gover no Federal. No set or pr ivado, ações afi r m at ivas para afr odescendent es com eçaram a ser im plem ent adas em m eados dos anos 90, ar t iculadas sob o guar da- chuva da “ gest ão da diver sidade cult ural” ( FLEURY, 2000) . Durant e a pr im eira m et ade de 2000, a par t ir da m ovim ent ação das ONGs negras e da infl uência do m ovim ent o da r esponsabilidade social em pr esar ial, as ações afi r m at ivas para afr odescendent es se expandiram a um núm er o m aior de em pr esas de difer ent es nacionalidades e por t e ( ver MYERS, 2003) . Recent em ent e, ações afi rm at ivas foram im plem ent adas em vários set ores da at ividade econôm ica, principalm ent e no bancário, com o respost a à at uação do Minist ério Público do Trabalho ( MPT) , que criou o “ Program a de Prom oção da I gualdade de Opor t unidade para Todos”, cuj o obj et ivo é “ at uar ext raj udicialm ent e ou j udicialm ent e no com bat e às discr im inações de gêner o e raça no m er cado de t rabalho” ( BARBOSA, 2009, p. 8) . Cont udo, um a pesquisa desenvolvida pelo I nst it ut o Et hos de Responsabilidade Social e o I BOPE, aplicada nos anos 2003, 2005, 2007 e 2010, m ost r ou que, ent r e as em -pr esas pesquisadas dent r e as 500 m aior es em -pr esas do Brasil, o per cent ual daquelas que invest iram em pr ogram as para m elhorar a capacidade e qualifi cação dos negr os passou de 1% em 2003, a 4% em 2005, a 16% em 2007, caindo para 9% em 2010. Out ra pesquisa, baseada num a am ost ra de 385 em presas em vários est ados do Brasil, r evelou que de 85% das que execut avam seus pr ogram as por m eio de alianças in-t er sein-t or iais, só em 1,8% dos casos o público de ain-t uação social das em pr esas eram negros, com parado com 2,6% índios, 6,5% m ulheres e 79,0% crianças e adolescent es ( FI SCHER, 2005, p. 10- 11) .

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negr os e car ent es para o vest ibular. O CEERT - Cent r o de Est udos das Relações de Trabalho e Desigualdades t em sido par t icular m ent e at ivo na pr om oção da igualdade racial e de gêner o no m er cado de t rabalho. O I nt egrar e - Cent r o de I nt egração de Negócios t em concent rado as suas ações na ár ea do em pr eendedor ism o negr o e dos negócios inclusivos.

As organizações negras paulist as, no geral, apesar dos obst áculos enfrent ados, t êm revelado um pioneirism o excepcional na art iculação de ações afi rm at ivas para afro-descendent es. Adem ais, por ser a região econom icam ent e m ais at iva do país, m uit as experiências iniciadas em São Paulo são depois replicadas em out ras cidades e est ados.

No âm bit o das ciências sociais, a denom inada “ escola paulist a” t eve um pa-pel desm it ifi cador no r econhecim ent o da discr im inação racial no Brasil. Os est udos sociológicos desenvolvidos pela “ escola paulist a” e fi nanciados pela UNESCO ( FER-NANDES, 1969; CARDOSO; I ANNI , 1960; BASTI DE; FERFER-NANDES, 1971) enfocaram , pr incipalm ent e, as r elações ver t icais e a desigualdade racial, em cont rast e com os est udos da cham ada “ escola baiana” que seguiam a ênfase de Gilber t o Fr eyr e ( 2002) dada às r elações hor izont ais ou int egração dos “ gr upos m inor ia” na sociedade ( ver GUI MARÃES, 1999, p. 71- 91; TELLES 2003, p. 20- 21) .

Desde os anos 90, um cor po im enso de dados est at íst icos pr oduzido por inst i-t uições nacionais de pesquisa i-t em consi-t ii-t uído pr im a facie evidência da r epei-t ição de padr ões de desigualdade racial ao longo de vár ias gerações. Baseado em dados do I BGE de 1999, um r elat ór io publicado pelo I PEA ( HENRI QUES, 2001) m ost r ou alguns dados r elevant es, ent r e os quais: os brasileir os negr os com põem 64% da população pobr e brasileira, com parado com 34% de brancos pobr es; de cada 10 pessoas no segm ent o m ais pobr e, segundo a dist r ibuição de r enda no país, 8 são negras; a r enda

per capit a dos brancos é quase 20% m ais alt a do que a r enda per capit a dos negr os;

quase a m et ade da população negra adult a acim a dos 25 anos pode ser considerada analfabet a funcional, ou sej a, adult os com m enos de quat r o anos de escola; e o pa-dr ão de desigualdade educacional de 2,3 anos de difer ença ent r e os dois gr upos t em per sist ido durant e t r ês gerações.

Em r esum o, apesar do am bient e polít ico alt am ent e par t icipat ivo pr opiciado pela Const it uição de 1988, da quest ão do racism o t er ent rado de m aneira decisiva na agenda dos gover nos dem ocr át icos r ecent es, da disponibilidade cada vez m aior de dados r elevant es de desigualdade e discr im inação racial e da pr oliferação de polít icas afi r m at ivas dest inadas à população negra ou afr odescendent e, est as não dispõem da legit im idade que ser ia esperada num cont ext o polít ico supost am ent e t ão favor ável, se levadas em cont a as for t es opiniões cont r ár ias de um a grande par t e de set or es dom inant es da sociedade brasileira, ent r e eles a m ídia.

Metodologia de Pesquisa

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pessoas r elevant es no assunt o e passíveis de ser em ent r evist adas. No t ot al ( incluindo o caso do Geração XXI ) , foram realizadas 37 ent revist as, t odas gravadas e t ranscrit as.

A pesquisa de cam po do caso Geração XXI acont eceu na últ im a fase do est udo, ent r e m aio e j ulho de 2005. Nesse per íodo, visit ei a sede do pr oj et o duas vezes por sem ana, durant e as quais m ant ive conver sações com os coor denador es e benefi ciá-r ios do pciá-r oj et o e consult ei font es secundáciá-r ias ciá-r efeciá-r ent es ao ciclo de vida do pciá-r oj et o. Realizei 10 ent r evist as em pr ofundidade com j ovens benefi ciár ios do pr oj et o, sendo cinco gar ot as e cinco gar ot os. O quest ionár io cont inha per gunt as aber t as e fechadas e era dividido em t r ês blocos t em át icos: “ t raj et ór ia pessoal”, “ quest ões pr át icas do cot idiano” e “ planos de fut ur o”. O pr opósit o do quest ionár io foi ent ender m elhor o

m undo da vida dos j ovens em r elação aos obj et ivos est rat égicos do pr oj et o.

Com o m encionado na I nt r odução, est e t rabalho inspira- se na t eor ia da ação com unicat iva de Haber m as. Com o int uit o de avaliar a validade dos discur sos r egis-t rados ao longo da pesquisa de cam po, o egis-t exegis-t o uegis-t iliza- se dos “ egis-t ipos pur os de inegis-t eração linguist icam ent e m ediada”, t al com o foram classifi cados por Haber m as ( 2010) , ist o é, dos at os de fala im perat ivos, const at at ivos, r egulat ivos e expr essivos. A vant agem analít ica dessa classifi cação é a ênfase colocada nas int er penet rações que se dão en-t r e per locuções - im peraen-t ivos em que um falanen-t e pr een-t ende m obilizar um ouvinen-t e para r ealizar um a ação - e ilocuções - pr oposições afi r m at ivas, confessionais ou valorat i-vas as quais hão de ser aceit as ou r ej eit adas ( validadas) por um ouvint e. Ao insist ir na im por t ância de pr est ar at enção ao r econhecim ent o int er subj et ivo de pr et ensões de poder e pr et ensões de validade, o aut or apont a um cam inho para o obser vador em pír ico, convidando- o a visibilizar as im plicações ext raver bais - im plícit as, indir et as e am bíguas - das sequências dos at os de fala r egist rados, sej am est es depoim ent os individuais ou diálogos. A pragm át ica for m al - “ o conhecim ent o das condições sob as quais um at o de fala pode ser aceit o com o válido ou r ej eit ado por um ouvint e” - fi ca, assim , conect ada com a pragm át ica em pír ica, “ o saber de fundo cont ingent e” dos t ipos pur os de at os de fala ( HABERMAS, 2010, p. 378) .

A seguir, são analisados os discur sos em it idos pelos difer ent es int er locut or es do pr oj et o.

“O Gera”: validando discursos

“ O Gera”, com o os j ovens benefi ciár ios r efer iam - se ao Geração XXI , r esult ou de um a aliança est rat égica int erset orial ent re Fundação BankBost on, Geledés e Fundação Palm ar es. A Fundação BankBost on foi cr iada, em 1999, pelo BankBost on para r epr e-sent ar as suas ações de r esponsabilidade social no Brasil. A m issão da Fundação era desenvolver pr ogram as sociais, cult urais e educacionais em par cer ia com inst it uições int er nacionais, gover no, or ganizações sem fi ns lucrat ivos, em pr esas e univer sidades. O Geledés é um a or ganização sem fi ns lucrat ivos, fundada em 1990, em São Paulo, que t em desem penhado um papel m uit o im por t ant e na ar t iculação e avanço das dem andas fem inist as e do m ovim ent o negr o. Or iundo da lut a pela dem ocracia no t em po da dit adura, a pr incipal m issão do I nst it ut o é pr ot eger, garant ir e expandir direit os de cidadania básicos ent re a população negra. O Geledés foi a prim eira organi-zação no Brasil a ofer ecer um ser viço SOS Racism o com assist ência j ur ídica às vít im as da discr im inação racial. Além disso, o I nst it ut o t em desenvolvido ações sem inais que visam capacit ar e at ender m ulher es em sit uações de violência. O Geração XXI veio r epr esent ar um a exper iência de par cer ia int er set or ial inédit a no Brasil. A Fundação BankBost on foi o par ceir o for m ulador e fi nanciador do pr oj et o, o Geledés adot ou o papel de ger enciador dir et o dos pr ogram as e ações específi cos.

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1988, t em se pr ovado inefi cient e nos assunt os econôm icos e sociais que pr eocupam a m aior part e da população negra hoj e ( TELLES, 2003) . Ao escolher a Fundação Palm ares com o par ceir o do Geração XXI , o Geledés buscou t er o gover no federal r epr esent ado na par cer ia, t ent ando, assim , infl uir nas polít icas públicas do gover no e abr ir canais de diálogo com out ras ent idades gover nam ent ais. Por ém , a Fundação Palm ar es fi cou sem pr e ausent e do pr oj et o e, nas poucas ocasiões que o Geledés a cont at ou, a Fun-dação se m ost r ou incapaz de r esponder às m ais sim ples dem andas. Se o Geração XXI t ivesse acont ecido m ais adiant e, as coor denadoras do Geledés, pr ovavelm ent e, t er iam pr ocurado a SEPPI R, ou par ceir os int er nacionais est rat égicos com o a UNESCO.

O Geração XXI iniciou- se de um a m aneira um t ant o par t icular. De acor do com um ger ent e de r ecur sos hum anos da Fundação BankBost on, em 1999, o conselho dir et ivo dos Est ados Unidos veio ao Brasil para conhecer os execut ivos do banco. Quando visit aram a sede do banco em São Paulo, um execut ivo afr o- am er icano, que for m ava par t e do conselho nor t e- am er icano, per gunt ou: “ Por que não t êm pessoas de cor no banco?”. Com o r espost a, nesse m esm o ano, em um a visit a à sede do banco em Bost on, os execut ivos brasileir os apr esent aram um a pr opost a que event ualm ent e or iginar ia o Geração XXI .

I nspirada pela ideia da “ et nografi a m ult ilocal” ( MARCUS, 1995) , de não pr e-sum ir a cont ingencia do local de pesquisa e de seguir ( follow ) as ram ifi cações do caso et nogr áfi co aonde elas levar em , ent r evist ei, nos Est ados Unidos, o execut ivo afr o- am er icano que t inha levant ado a quest ão da ausência de negr os no banco. O ent r evist ado descr eveu o cont ext o daquela visit a com o segue:

O Brasil era um país com um a r eput ação por t er um a sociedade bem int egrada no sent ido em que as pessoas eram int egradas na sociedade com o um t odo. Por ém , eu m e sent i frust rado, pois não pude enxergar nem se quer um a pessoa que se parecesse com igo nos escr it ór ios do banco. Assim , enquant o as apr esent ações dos colegas bra-sileir os est avam acont ecendo, per gunt ei: ‘Por que não t em gent e de cor t rabalhando no banco?’. E a r espost a geral foi: ‘a gent e r ealm ent e não pr est a at enção à quest ão da cor aqui no Brasil, por t ant o nunca t ínham os per cebido’; ‘vocês t êm algum a ideia sobr e o que poder ia ser feit o?’. Eles ar gum ent aram que as pessoas de cor não conse-guem chegar ao sist em a universit ário. Port ant o, apoiar fi nanceiram ent e est udant es ao longo das suas car r eiras univer sit ár ias ser ia um a abor dagem que poder ia aj udá- los.

São m uit os os que se pr ecipit ar iam a t achar o depoim ent o acim a com o um at o

de fala im per at ivo, ou sej a, um caso nít ido de coer ção nor t e- am er icana na adoção

de ações afi r m at ivas para negr os no Brasil ( v. BOURDI EU; WACQUANT, 1999) . No ent ant o, os execut ivos brasileir os não t er iam aceit ado as pr et ensões do colega afr o-- am er icano t ão r ápido se não exist isse um a expect at iva no gover no e em algum as or ganizações da sociedade civil brasileira para que inst it uições públicas e pr ivadas se envolvam em iniciat ivas de pr om oção da igualdade racial. A for m a inesperada com o o afr o- am er icano for m ulou a per gunt a de “ por que não t êm pessoas de cor no ban-co?” ( at o de fala const at at ivo) , num am bient e cr iado para conver sar sobr e assunt os fi nanceir os, acabou r evelando um a const at ação obj et iva im ediat a ( a não- exist ência de “ pessoas de cor ” no banco) e pr oblem at izando o que sem pr e t inha sido t aken for

gr ant ed pelos execut ivos brasileir os. O sucesso do afr o- am er icano ao m obilizar os

execut ivos brasileir os para agir no sent ido por ele apont ado, confi r m a a pr em issa de Maj one ( 1989, p. 6- 7) de que as escolhas de cer t as polít icas, com m uit a fr equência, não são baseadas em “ har d fact s”, m as em per cepções com par t ilhadas e j uízos de valor ( afi nal, o saber de fundo dos execut ivos brasileir os de que não havia negr os no banco não foi confr ont ado com dados dem ogr áfi cos sobr e o perfi l ét nico- racial dos funcionár ios do banco) . Dest e m odo, é m ais com um do que se t ender ia a im aginar que as par cer ias int er set or iais sej am iniciadas por m eio de r edes de r elacionam en-t os pessoais, pr incipalm enen-t e por pessoas que ocupam posições inen-t er or ganizacionais est rat égicas, m ais do que por vias inst it ucionais m onológicas que não envolvem um pr é- r econhecim ent o int er subj et ivo ent r e as par t es.

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r esist ência ent r e os ger ent es e execut ivos do BankBost on, assim com o ent r e out ras em presas m ult inacionais que depois replicaram o Geração XXI , indicando um a rej eição geral em algum as m ult inacionais de r elacionar as ações afi r m at ivas ext er nas à em -pr esa com as -pr át icas de em -pr ego int er nas. Em defi nit ivo, o Geração XXI era legít im o enquant o “ best pr act ice” ext er na à em pr esa, r est r it a ao âm bit o da r esponsabilidade social. Nesse sent ido, um ger ent e da Fundação BankBost on ar gum ent ou:

O conceit o de r esponsabilidade social em pr esar ial foi sem pr e m uit o vinculado à Fun-dação e não à Em presa. Tem os um m isunderst anding nessa quest ão. Est am os fazendo um esfor ço enor m e para esclar ecer que r esponsabilidade social não é com unidade ou fundação, é ‘você ger ent e’ nas suas r elações com os funcionár ios, o que você com pra de seus for necedor es, se você cum pr e com os códigos de ét ica e assim por diant e. Mas isso ainda não est á clar o para a m aior ia dos funcionár ios.

A disj unção ent r e cor poração e fundação, ou ent r e local de t rabalho e com uni-dade, com pr om et eu, de cer t o m odo, a confi abilidade ent r e os par ceir os do Geledés e da Fundação BankBost on. Por exem plo, num docum ent o ar quivado pelos coor dena-dor es e coor denadena-doras do pr oj et o, que r egist r ou as conver sas de um a r eunião ent r e os par ceir os, o Geledés per cebia o fat o de o BankBost on não t er um a polít ica de opor-t unidades para negr os com o um obsopor-t áculo. A r eafi r m ação do ger enopor-t e da Fundação de que “ r esponsabilidade social não é com unidade ou fundação, é ‘você ger ent e’ nas suas r elações com os funcionár ios” ( at o de fala r egulat ivo) , r evela assim dist or ções com unicat ivas m anipulat ivas im por t ant es se levada em cont a a aut oim agem inst it u-cional do banco de or ganização socialm ent e r esponsável. I st o é, se o discur so ét ico de r esponsabilidade social do BankBost on fosse levado à pr át ica, est e dever ia considerar o negr o com o pot encial consum idor e cont rat ar cidadãos negr os, inclusive quando t ais pr át icas poder iam pôr em r isco a lucrat ividade de cur t o prazo do banco ( v. CAR-ROLL, 1991) . Por ém , com o um ger ent e de r ecur sos hum anos envolvido no Geração XXI cor r obor ou, a valor ização da diver sidade ét nico- racial não era considerada um assunt o cor e na sede brasileira do banco:

Para o Bank of Am er ica ( m at r iz do BankBost on nos Est ados Unidos) , hoj e diver sidade signifi ca m ais do que um a polít ica “ nice t o have” ; é fundam ent al para a com pet it ividade do negócio. Por que o Bank of Am er ica é o m aior banco com er cial nos Est ados Unidos. Nossos client es lá são m uit o diver sos, hispânicos, negr os, asiát icos. No Brasil, não t em os t ant a diver sidade. Tent am os deixar clar o que a diver sidade não t em a ver só com a cor da pele, m as com pensar de m aneiras difer ent es e saber com o lidar com essas difer enças.

Gerenciar a diversidade é ent endido aqui a part ir de um a perspect iva de st

akehol-der, que considera os “ grupos m inoria” com o pot enciais client es e consum idores. Com o

a afi r m ação valorat iva do ger ent e do BankBost on r evela, é a “ gest ão da diver sidade” ent endida com o negócio, e não a ação afi r m at iva ent endida com o t rat am ent o pr efe-r encial de gefe-r upos m inoefe-r ia, o paefe-radigm a hegem ônico na sede do banco nos Est ados Unidos. No Brasil, o BankBost on era um banco elit ist a, j á que era pr eciso pr ovar que se t inha um a r enda m ensal de, no m ínim o, R$ 4 m il r eais para se t or nar client e do banco. Com o no Brasil, segundo os dados elaborados por Henr iques ( 2001) , baseados no censo de 2000, a r enda per capit a dos brancos era ent ão quase 20% m ais alt a do que a r enda per capit a dos negr os ( par dos e pr et os agr egados) , por t ant o, são poucos os negr os que se t or nar iam client es do BankBost on. Cont udo, a quest ão da et icidade im plícit a no dilem a de se o BankBost on Brasil - assim com o out ras em pr esas que at uam no Brasil - devia ou não abor dar o negr o com o client e/ consum idor nunca foi debat ida aber t am ent e no cont ext o de par cer ia do Geração XXI .

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( ...) qualquer polít ica que vise favor ecer gr upos socialm ent e discr im inados por m ot ivo de sua raça, r eligião, sexo e et nia e que, em decor r ência dist o, exper im ent am um a sit uação desfavor ável em r elação a out r os segm ent os sociais.

Os j ovens selecionados para o Geração XXI pr ocediam t odos de bair r os pobr es de São Paulo. Os candidat os pot enciais foram pr ocurados em escolas públicas. O pr o-cesso de seleção seguiu os seguint es cr it ér ios: ser negr o, t er ent r e 13 e 15 anos, est ar cur sando a sét im a sér ie em 1998, t er um bom desem penho escolar e ser pr ovenient e de fam ílias com r enda per capit a ent r e dois e t r ês salár ios m ínim os. O pr ocesso de seleção, no ent ant o, foi quest ionado em vár ias ocasiões ( v. SI LVA, 2003) . De acor do com a equipe do pr oj et o, durant e a pr im eira fase de seleção per cebeu- se que:

( ...) as escolas haviam indicado j ovens que, pelo seu fenót ipo, r eit eravam cr it ér ios selet ivos discr im inat ór ios que t endem a pr ivilegiar as pessoas negras cuj o fenót ipo dist ancia- se do afr icano e apr oxim a- se do m odelo branco ocident al. Passou- se para um a segunda fase da seleção com esse crit ério fenot ípico reforçado ( ...) para selecionar j ovens negr os que não deixassem dúvida de que eram negr os.

Para t ant o, a equipe de seleção dos candidat os do Geração XXI passou a iden-t ifi car os cham ados “ negr os de ocasião”, aqueles que se auiden-t odeclaram negr os só para se benefi ciar de um a ação afi r m at iva ( SI LVA, 2003) . A valor ização do “ m odelo branco ocident al”, confi r m ada pelas pr ofessoras nas escolas públicas foi, assim , quest ionada pelas int er locut oras do Geledés que, consensualm ent e, acor daram selecionar j ovens negr os cuj o fenot ípico se apr ox im asse do afr icano. Vale salient ar, cont udo, que, em bora a busca de candidat os que se apr oxim assem do fenót ipo afr icano, com o a equipe do Geração fez, fosse, sem dúvida, consist ent e com a for m ulação de um a ação afi r m at iva para negr os, t al est rat égia não r esolve de m aneira defi nit iva a quest ão da am biguidade da ident idade m est iça, t ão pr esent e na sociedade brasileira. Desde o pont o de vist a da pragm át ica, a ident idade é um a pr et ensão de ver dade validada em sit uações nat urais de fala. Digam os que - e ist o é válido para qualquer pr ocesso sele-t ivo que envolva discr im inação posisele-t iva de gr upos específi cos - o asele-t o ausele-t odeclarasele-t ór io da ident idade ét nico- racial de um indivíduo depende, em cer t a m edida, do r econheci-m ent o int ersubj et ivo dest a ident idade por aeconheci-m bas as part es envolvidas, principaleconheci-m ent e quando est e acont ece em sit uações de fala face- t o- face e em casos am bíguos com o o r elat ado acim a. No cont ext o at ual de pr oliferação de polít icas afi r m at ivas dest inadas à população negra, a pr et ensão de negr it ude daqueles que se dist anciam do fenót ipo afr icano ( m est iços ou par dos, de acor do com a classifi cação do I BGE) est ar ia sem pr e suj eit a a suspeit a, pois cont radiz a ideologia do branqueam ent o que m ar cou os dois séculos passados e de acordo com a qual o últ im o desej o do m est iço seria “ passar ” por branco “ por m eio da m iscigenação ou da m obilidade social” ( MUNANGA, 1999, p.127) . Para alguns benefi ciár ios do pr oj et o, o pr ocesso de adm issão foi m uit o com -pet it ivo. Eles quer em deixar bem clar o que, em bora t ivessem sido benefi ciados por um a ação afi r m at iva, a seleção foi baseada no m ér it o ent r e os par es. Na segunda fase do pr oj et o, os est udant es passaram de escolas públicas de ensino fundam ent al para escolas par t icular es de ensino m édio, com o obj et ivo de se pr eparar em m elhor para o vest ibular. Essa foi, no ent ant o, um a t ransição difícil para a m aior ia, dado o baixo nível de qualidade das escolas públicas de onde pr ocediam . Um a vez que t er m ina-ram o ensino m édio, t odos foina-ram aceit os em univer sidades par t icular es, nenhum em univer sidades públicas:

Eu com ecei a t er um a consciência racial m ais sólida. Hoj e, eu per cebo que os negr os não são aceit os nas univer sidades públicas não por que eles não t enham capacidades, m as porque eles encont ram m uit as difi culdades no cam inho. ( Jovem do sexo fem inino, em 05/ 07/ 05) .

Eu est udava num lugar onde t odo m undo hum ilhava os pr ofessor es. Eu não pensava de m aneira algum a no m eu fut ur o. A r esponsabilidade que t ivem os que assum ir ao m udar para as escolas par t icular es e ao ent rar nas univer sidades m udou nossas vidas de um m odo incr ível. ( Jovem do sexo fem inino, em 07/ 07/ 05) .

A pr et ensão de veracidade ( sincer idade) dos ent r evist ados ( at o de fala expr

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acim a r evelam , independent em ent e das cer t ezas ou incer t ezas que o at o declarat ór io da ident idade ét nico- racial possa envolver para cada individuo em quest ão, a inclusão num a ação afi r m at iva r epr esent a um m om ent o de r upt ura com o m undo vivido para quem se benefi cia dela. Aut oevidências e convicções at é ent ão inquest ionáveis passam a ser m obilizadas. Ao m esm o t em po, os suj eit os dist anciam - se uns dos out r os um a vez que opiniões individuais são const r uídas e expr essadas na esfera pública.

Quando per gunt ados sobr e o que o t er m o “ ação afi r m at iva” signifi cava para eles, se bem que t odos os j ovens ent enderam a exper iência da ação afi r m at iva com o um pr ocesso em ancipador e r eparador de inj ust iças passadas, const at aram - se dis-sensos r elevant es:

Eu sou a favor das cot as. Eu acho que elas são um a coisa m uit o posit iva, m ais um a opor t unidade para m elhorar o nível educacional do Brasil. ( Jovem do sexo fem inino, 04/ 07/ 05) .

Acr edit o que as pessoas necessit am t er opor t unidades, e a cot a na univer sidade é sem dúvida um a opor t unidade para o negr o, por t er sido m ar ginalizado no passado. Agora, t em um t rabalho m uit o im por t ant e que deve ser feit o m uit o ant es. Por exem -plo, o t rabalho que foi feit o com a gent e no ensino m édio é cr ucial. ( Jovem do sexo m asculino, em 04/ 07/ 05) .

Eu sem pre pensei que as ações afi rm at ivas são ext rem am ent e necessárias com o part e de um pr ocesso de r eparação, em bora não para sem pr e, senão com o algo t em por ár io, at é as pessoas alcançar em o nível de igualdade e de opor t unidades ao m enos equiva-lent es com os out r os gr upos. ( Jovem do sexo fem inino, em 05/ 07/ 05) .

Eu acho que as ações afi rm at ivas est ão aum ent ando e devem cont inuar assim , em bora eu acho que não dever iam est ar r elacionadas só à cor. ( Jovem do sexo fem inino, em 07/ 07/ 05) .

A pr et ensão de veracidade dos j ovens a r espeit o do signifi cado das ações afi r-m at ivas cont rast a cor-m os discur sos aut or r efer enciais pr ofer idos pelas inst it uições par ceiras, os quais pr é- supõem um par t icipant e pot encial. Est e supost o m acr osuj eit o sociopolít ico, com um pont o de vist a m oral ideal, por ém , é na pr át ica um “ int er locut or com pet ent e” de car ne e osso que age em sit uações de fala aqui e agora. O pr oj et o com o um t odo pode ser ent endido m et afor icam ent e, nest e duplo sent ido, com o um a

com unidade com unicat iv a ilim it ada, um pr ocesso de int er pr et ação t ranscendent e

“ aber t o a infi nit as e possíveis int er pr et ações” ( HABERMAS, 2003, p. 33) , por ém , lo-calizado no t em po e no espaço e volt ado a um fi m .

No per cur so do pr oj et o, foi aguçando- se, cada vez m ais, o seguint e pr oblem a: com o int egrar socialm ent e m undos da vida “ pluralizados” um a vez que cr esce o r isco de dissenso nos dom ínios da ação com unicat iva, m ot ivado pelo discur so e a raciona-lidade inst r um ent al?

Apesar da esfera pública ser ent endida - no sent ido haber m asiano do conceit o – com o “ um a r ede adequada para a com unicação de cont eúdos, t om adas de posição e opiniões” ( HABERMAS, 2003 p. 92) , ser ia ingênuo acr edit ar que as est r ut uras de com unicação dos pr oj et os sociais são nat ur alm ent e or ient adas ao ent endim ent o m ú-t uo. A necessidade de pr ocedim enú-t os com unicacionais or ienú-t ados ao consenso fi cou evident e quando os benefi ciár ios do pr oj et o foram per gunt ados sobr e com o a at ua-ção dos pr ofi ssionais do pr oj et o poder ia m elhorar. Em bora t r ês deles avaliassem t al at uação com o “ ót im a” e set e com o “ boa” ( ent r e as opções “ ót im a”, “ boa”, “ r egular ” ou “ r uim ” ) , seis dos ent r evist ados ar gum ent aram que o pr oj et o t inha pr oblem as de com unicação. Seguem alguns desses depoim ent os:

Eu m elhorar ia a com unicação da gent e com a coor denação. No com eço, a gent e t inha um grau de afi nidade m aior. ( Jovem do sexo m asculino, em 06/ 07/ 05) .

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eles t êm com a Fundação BankBost on ( ...) m as a ver dade é que a gent e nem sabe a posição deles. Talvez, sej a um a falha de com unicação m esm o. ( Jovem do sexo m asculino, em 04/ 07/ 05) .

No início, a gent e t inha um sent ido de gr upo m uit o for t e, e hoj e o que a gent e t em é o individualism o. Um a opinião de fora agora ser ia m ais válida para a gent e. A gent e com eçou a fazer nest e ano um plano individual com um a pessoa de fora. I sso foi um a coisa legal, m as não t eve cont inuidade. ( Jovem do sexo fem inino, em 29/ 07/ 05) .

Poder ia a par t icipação dos j ovens nas r euniões dos par ceir os ( pr et ensão de

po-der) t er cont ribuído para a inclusão de int eresses confl it uosos na agenda dos parceiros?

Sem dúvida. Afi nal, com o eles ar gum ent aram , ainda que suas dem andas não fossem aceit as, pelo m enos t er iam sido ouvidas. Talvez sej a est a um a lição im por t ant e a ser apr endida, ext ensível a out ras par cer ias int er set or iais: a necessidade de se pensar m ais em for ças de legit im ação dos pr oj et os sociais baseadas na inst it ucionalização de pr ocedim ent os com unicacionais or ient ados ao ent endim ent o m út uo, e m enos na im plem ent ação de pr ocedim ent os inst r um ent ais ext er nos or ient ados ao êxit o inst i-t ucional ou individual.

Signifi cados com par t ilhados m ais consist ent es dos conceit os de diver sidade, ação afi rm at iva e responsabilidade social em presarial poderiam t er sido const ruídos se sit uações dialógicas não coer cit ivas t ivessem sido “ r esgat adas” a par t ir de um m aior engaj am ent o dos j ovens nas est r ut uras polít ico- inst it ucionais da par cer ia. A inst it u-cionalização de pr ocedim ent os com unicacionais or ient ados ao ent endim ent o m út uo poder ia t er for t alecido a confi abilidade ent r e t odos os int er locut or es do pr oj et o, t er aber t o cam inhos para a const r ução de signifi cados com par t ilhados e pr opiciado um a m aior legit im idade dos ar gum ent os em it idos por aqueles.

O Geração XXI encer r ou- se em dezem br o de 2007. Ent r e m eados de 2005, que foi o m om ent o da pesquisa, e o fi nal do pr oj et o, exist iram algum as m udanças. No fi nal de 2005, a Fundação BankBost on foi absor vida pelo I t aú Social. Houve um a m udança em r elação à par cer ia, m as o pr oj et o cont inuou e t eve o pr im eir o for m ando. O pr oj et o chegou, assim , no fi m de 2007, com t r eze bolsist as, sendo quat r o deles j á for m ados e os out r os com a pr om essa de cont inuidade da bolsa pelo Banco I t aú e com a possibilidade de fazer em par t e do cor po de funcionár ios do banco, quest ionando, desse m odo, a posição m ant ida ant er ior m ent e pelo BankBost on de não r ecr ut ar os benefi ciár ios do pr oj et o durant e ou após com plet ar o ensino super ior.

Conclusões

A t eoria da ação com unicat iva incit a- nos a refl et ir sobre as condições sob as quais a racionalidade com unicat iva pode ser r ecuperada em um a sit uação de fala ideal ent r e int er locut or es com pet ent es. A ar t iculação da pragm át ica for m al ( t ipos pur os de at os de fala) com a pragm át ica em pír ica ( análise de sit uações nat urais de fala) per m it iu-- nos obser var in loco com o falant es e ouvint es validam as suas pr et ensões de poder e de ver dade. De m odo par t icular, a análise ar gum ent at iva do Geração XXI per m it iu-- nos vislum brar alguns confl it os que as polít icas afi r m at ivas dest inadas à população negra ou afrodescendent e vêm encont rando no cont ext o brasileiro, prest ando especial at enção às possibilidades de negociação de signifi cados e de ent endim ent o m út uo nesse cont ext o polít ico- inst it ucional específi co. Cor r obor ou- se que, em bora grande par t e das polít icas afi r m at ivas para negr os t enha sido efet ivam ent e im plem ent ada graças à infl uência, int er m ediação e, em alguns casos, à par t icipação dir et a das deno-m inadas ONGs negras, algudeno-m as dessas or ganizações cont inuadeno-m a enfr ent ar confl it os signifi cat ivos na hora de est abelecer em acor dos de longo prazo com seus r espect ivos par ceir os. Pr incipalm ent e, cham a at enção a exigência à qual as ONGs negras veem - se subm et idas a t er que esclar ecer, r eit eradam ent e, a et icidade das polít icas afi r m at ivas t oda vez que um a ação afi r m at iva é for m ulada ou im plem ent ada.

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sur giram depois. Em segundo lugar, ao t er sido o foco da pesquisa a análise das polí-t icas de diver sidade e ações afi r m apolí-t ivas nos locais de polí-t rabalho com o um polí-t odo, não foi possível apr ofundar m ais no t em a específi co das par cer ias int er set or iais.

Afi nal, sem m inim izar a im por t ância de um a boa ot im ização dos inst r um ent os t écnicos que t oda polít ica pública pr ecisa na busca de im pact os sociais posit ivos, a análise ar gum ent at iva faz lem brar que é o pr ocesso de ar gum ent ação e cont ra-- ar gum ent ação que m uda subst ancialm ent e a pr át ica efet iva dessa polít ica. Suger era-- e-- se, por t ant o, que a análise ar gum ent at iva sej a ut ilizada com m ais fr equência com o r ecur so epist em ológico para analisar com o as polít icas públicas, no geral, e as par ce-r ias int ece-r set oce-r iais, em pace-r t iculace-r, são delibece-rat ivam ent e ace-r t iculadas. O obj et ivo fi nal de t al t ar efa é desvelar possibilidades de for m as dem ocr át icas e em ancipat ór ias de com unicação sur gir em no int er ior de sist em as coer cit ivos.

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