• Nenhum resultado encontrado

Ciclo do trabalho, roda da fortuna.

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2017

Share "Ciclo do trabalho, roda da fortuna."

Copied!
9
0
0

Texto

(1)

I

N

C

ICLO

DO

T

RABALHO

, R

ODA

DA

F

ORTUNA

1

H e r m a n o R o b e r t o T h i r y - Ch e r q u e s*

R

ESUMO

est e ar t ig o p r ocu r am os est ab elecer a f or m a e as r azões d a su b sist ên cia d a id éia d a Rod a d a For t u n a com o f on t e t an t o t écn ica com o p op u lar d a cu lt u r a econ ôm ica e o r g a n i za ci o n a l . Ex a m i n a m o s a su a a p l i ca çã o p r á t i ca , a su a f u n d a m en t a çã o e lan çam os algu m as h ipót eses sobr e os m ot iv os da su a per sist ên cia.

A

BSTRACT

n t h is ar t icle w e at t em p t t o est ab lish t h e f or m an d t h e r eason s f or t h e p er sev er an ce o f t h e Wh eel o f Fo r t u n e’s n o t i o n as a so u r ce o f b o t h t ech n i cal an d n o n - t ech n i cal econom ic and or ganizat ional cult ur es. We hav e analy zed it s pr act ical applicat ion, it s t h eor et ical basis an d w e h av e r aised som e h y pot h esis on t h e r eason s of it s per sist en ce.

1 O aut or é gr at o ao Pr of. Enr ique Sar avia, a Rober t o Pim ent a e a Flor ência Sar avia pelos com ent ár ios

(2)

o co r r ên ci a cícl i ca d e ev en t o s é u m d o s t r aço s m ai s co m u n s n a cu l t u r a d o t r ab alh o. O m u n d o d as or g an izações é p er m ead o p or m áx im as com o a d a in ev it ab ilid ad e d a q u ed a d os d ir ig en t es ( m aior o p ost o, m aior o t om b o) , a d a cer t eza sob r e a r ecu p er ação d os q u e caír am às p osições m ais b aix as ( o f u n d o d o p oço) , e assim p or d ian t e. A m em ór ia colet iv a é eiv ad a d e t r ad ições2 q u e

in sist em em ex plicar a t r aj et ór ia pr of ission al a par t ir de u m a im agem con sagr ada d esd e a an t ig u id ad e: a d a Rod a d e For t u n a.

A f é n a r ot ação d e op or t u n id ad es e ad v er sid ad es est á p r esen t e n a lit er at u r a t eór ica, n a de acon selh am en t o em pr esar ial e, em pir icam en t e, n as m ais div er -sas ár eas e est r at os d as or g an izações. É u m a t r ad ição com p ar t ilh ad a p elos ex p e-r ien t es e t e-r an sm it ida aos e-r ecém ch egados. Um con h ecim en t o t ido com o segu e-r o p ar a or ien t ar o ag ir , p ar a ad v er t ir sob r e con d u t as d e r isco. É em p r eg ad o t am b ém p ar a con solar e r ean im ar as v ít im as d a m á sor t e e d os cap r ich os d o m er cad o.

Nesse t ex t o, d iscu t im os as im p licações d essa t r ad ição n o m u n d o d o t r ab alh o. Ex am in am os a p r op r ied ad e d os seu s en sin am en t os, a v alid ad e d os seu s f u n -d am en t os e as r azões -d a su a p er m an ên cia com o f on t e -d e con h ecim en t o sob r e a v i d a n o t r ab al h o. As con si d er ações q u e f azem os est ão b asead as em d ad os e in f or m ações ex t r aíd as d e p esq u isas q u e v im os r ealizan d o sob r e o t em a d a sob r e-v ie-v ên cia n as or g an izações d esd e o in ício d os an os 9 03.

O

S

C

ICLOS Seg u n d o os p r eceit os d a Rod a d a For t u n a, a v id a n o t r ab alh o ser ia m ar cad a p or est ad os p r ev isív eis d e ascen são e d eclín io. Par a sob r ev iv er m os, p ar a liv r ar -n os d o i-n f or t ú -n io ab solu t o d a d em issão, ou p ar a t er m os u m a b oa p osição -n a h ie-r aie-r q u ia oie-r g an izacion al, b ast aie-r ia q u e n os com p oie-r t ássem os d e f oie-r m a con d izen t e com cad a u m d esses est ad os. Hav er ia u m a con d u t a id eal p ar a alcan çar m os a seg u r an ça d os p ost os m ais alt os, ou t r a p ar a n eles n os m an t er m os, ou t r a p ar a r et ar d ar o d eclín io e ou t r a, ain d a, p ar a n os r est au r ar m os ap ós a q u ed a.

A id éia d a Rod a d a For t u n a ou Rod a d a Vid a n ão n asceu , ev id en t em en t e, n as cor p or ações m od er n as. Ela v em d e t em p os im em or iais. Est á n o Mah ab h ar at a ( 1 9 9 9 ) h in d u íst a, n o q u al con st a q u e a Rod a t em o eix o n a n ossa m en t e, os cin co g r an d es elem en t os n os seu s r aios, os sen t id os n o seu ar o ex t er ior e o lar n a su a cir cu n f er ên cia in t er n a. Repr esen t a o dia e a n oit e, a dor e o pr azer , o f r io e o calor . É, ou f oi, u m a m ag n íf ica or d en ação d o esp ír it o q u e h oj e se v ê r eb aix ad a ao in f an t ilism o b ar at o d a lit er at u r a d e au t o- aj u d a. A Rod a est á d o Dh ar m a b u d ist a, q u e esp elh a a assid u id ad e d o en sin am en t o ( 1 9 5 1 ) . Cad a u m d os oit o ar os sim b o-lizan d o os cam in h os d o p eq u en o v eícu lo. É u m a p en a q u e essa id éia sej a h oj e m iser av elm en t e d ist or cid a p elos t eór icos d o t r ein am en t o con t in u ad o.

No ocid en t e, a Rod a v em d os g r eg os, p ar a q u em , et er n a e in f in it a, ser v iu ao cast ig o d e I x ion , o p r im eir o h u m an o a m at ar u m p ar en t e, e q u e, ag or a p r eso aos seu s ar os, g ir a n o Had es, com o g ir am os Ch ap lin s cat iv os d as en g r en ag en s d a p r od u ção. Vem d o h eb r eu Ezeq u iel, q u e t ev e as v isões m ais d esv air ad as, e assis-t iu ao esp eassis-t ácu lo d e r od as d en assis-t r o d e ou assis-t r as n o céu . Rod as au d iassis-t or as, q u e assis-t in h am o l h o s e asas e seg u i am as p esso as n a t er r a.

A Rod a d a Vid a é u m d os sím b olos d o d et er m in ism o, d o j u ízo d e q u e t u d o q u e su ced e ou su ced er á est á f ix ad o e est ab elecid o. É o cân on e d a cau salid ad e con t in u ada, r ecor r en t e e au t ôn om a. Her áclit o ( 1 9 8 2 ) o u t ilizou par a ex plicar o

²Um a t radição designa um a prát ica ou um saber herdado do passado, repet ido de geração em

gera-ção, e que t em valor e significado para um grupo hum ano part icular. É “ um pedaço do passado t alhado à m edida do present e” Cf. Cult ure et t radit ion - 2002

3 A m ais ex t ensa dessas pesquisas v isou ident ificar “ m odelos de sobr ev iv ência” em indúst r ias.

Est eve volt ada par a a sobr evivência m or al em am bient e indust r ial. [ Cher ques – 2.000] . Out r as pesquisas, com o, a que r elacionou o nível t ecnológico à pr odut ividade, [ Cher ques - 1994] t iver am com o obj et o a sobr ev iv ência m at er ial.

(3)

“ t od o q u e p r oced e d o u n o e o u n o d o t od o” . Pl at ão4, o ciclo r ecor r en t e de v ida e

d est r u ição. Na Rod a, o p on t o d e p ar t id a e o d e ch eg ad a coin cid em , p or isso Plot in o ( 1 9 3 0 ) e Pr oclo a u t ilizar am par a ex plicar a em an ação e Nicolau de Cu sa ( 1 9 6 6 ) par a ex plicar a coincident ia oposit orum , a j u n ção d os op ost os.

No plan o polít ico, a Roda ser v iu com o den ot at iv o da igu aldade. Foi o cír cu lo d o con selh o t r ib al, f oi a cir cu n f er ên cia sag r ad a d e St on eh en g e, e o assen t o d os igu ais da Táv ola Redon da do Rei Ar t u r , o board d e acion ist as d a an t ig u id ad e.

A Rod a assu m e a f or m a d ef in it iv a n a I d ad e Méd ia. Ser v iu en t ão ao en sin o icôn ico sob r e os d esíg n ios d e Deu s. Por isso ela est á r ep r esen t ad a em m u it as d as cat ed r ais g ót icas. Às v ezes é ex p r essam en t e t alh ad a n a p ed r a, com o n a cat ed r al d a Basiléia, m ais f r eq ü en t em en t e ap ar ece d en t r o d as r osáceas, com o em Am ien s. A Rod a d a cat ed r al d e Basiléia é a m ais d id át ica. Ref er e o p od er às cor r es-p on d ên cias m or ais. Nela a es-p az g er a a r iq u eza, a r iq u eza o or g u lh o; o or g u lh o a g u er r a; a g u er r a a p ob r eza; a p ob r eza a h u m ild ad e; a h u m ild ad e a p az; a p az . . . . ( Toy n bee – 1 9 7 5 ) . En sin a os r iscos in er en t es à alt a dir eção.

Já em Am ien s, a Rod a t em d ezesset e f est ões, cad a u m com u m p er son ag em . Oit o sob em p ela esq u er d a at é o r ei, f iag u r a cen t r al h ier át ica q u e se ap r esen -t a com as m ãos n os j oelh os com o os f ar aós, en q u an -t o oi-t o d escem à su a d ir ei-t a. Dest e lad o, est ão os q u e caem , os q u e se d ir ig em p ar a o ex t er ior d o Chakra ( q u e em sân scr it o q u er d izer j u st am en t e r od a) . I n st r u i sob r e os r iscos d e se d esaf iar as ad m in ist r ações ab solu t ist as.

Vin d a d e t ão lon g e, a Rod a n as or g an izações con t em p or ân eas se m an t ém in alt er ad a em su a est r u t u r a. É t id a com o ex p r essão ex p licat iv a d os alt os e b aix os d a car r eir a f u n cion al seg u n d o, p elo m en os, t r ês in st ân cias r elacion ad as à v id a n o m u n d o d o t r ab alh o: a d o ciclo d e r esu lt ad os, a d a ascen são e q u ed a d o d om ín io t écn ico e a d a t r aj et ór ia d a cap acid ad e p r od u t iv a.

No ciclo de r esu lt ados, a pr iv ação ser ia su cedida pelo sacr if ício, est e pelo con su m o e est e p ela sacied ad e q u e lev ar ia à b aix a d a p r od u ção e à con seq ü en t e pr iv ação, qu e r ein iciar ia o ciclo. Par a a con v iv ên cia com o ciclo de r esu lt ados, a f ór m u la r ecom en d ad a p elos m an u ais d e t r ein am en t o e d a sab en ça or g an izacion al é a d a r et r ib u ição d o sacr if ício – a id éia d e q u e q u em p r od u z m ais ser á, ced o ou t ar d e, r ecom p en sad o sej a com r iq u ezas, sej a com a seg u r an ça n o em p r eg o.

No q u e se r ef er e ao d om ín io t écn ico, a id éia é a d e q u e a v id a m ed íocr e d os p ost os su b alt er n os ser ia su ced id a p elo ap r en d izad o ser v il q u e lev ar ia à com p r en são d as p r át icas p r od u t iv as e b u r ocr át icas [ o ap r en d izad o d o “ ser v iço” ] e d e-sem b ocar ia n a r ealização p len a d o con h ecim en t o ap licad o – d o est ar em casa n o t r abalh o. Mas esse con f or t o ser ia t r aiçoeir o. I n cen t iv ar ia o desleix o, lev ar ia à oci-osid ad e e ao r et or n o às p osições su b alt er n as, est a ao ap r en d izad o q u e r ein iciar ia a Rod a. Por t r ás d essa id éia, est á a cr en ça d e q u e o ser h u m an o só se r ealiza p len am en t e n o e at r av és d o t r ab alh o. Um a con v icção car a ao cr ist ian ism o, ao m ar x ism o d e est r it a ob ser v ân cia e ao p sicolog ism o sen t im en t al q u e r eg e os cu r si-n h o s d e m asi-nagem esi-nt .

Tem os, f in alm en t e, a r ef let ir a im agem da Roda, a t r aj et ór ia da capacidade p r od u t iv a. Nela, o d escon h ecim en t o ou d esat u alização ser ia su ced id o p elo t r ein a-m en t o, q u e r esu lt ar ia ea-m cap acid ad e t écn ica, q u e ser ia r ecoa-m p en sad a p or p osi-ção de poder , r iqu eza e segu r an ça, m as qu e sof r er ia a f at alidade da desat u alizaosi-ção, et c. É a f ór m u la q u e su st en t a os m an u ais d e r ecu r sos h u m an os e os v en d ilh ões d e t r ein am en t o. A id éia d a ag r eg ação d o v alor , q u e t em p or t r ás a con v icção d e q u e o t r ab alh o, p ar a ser v álid o, ist o é p ar a q u e t en h a v alor , d ev e acom p an h ar o p asso d as m od if icações t ecn ológ icas e d as t écn icas m ais at u ais.

Est es ex em p los b ast am p ar a ch eg ar m os ao p on t o q u e q u er em os lev an t ar . Um p on t o q u e se ap r esen t a com o u m en ig m a. Tr at a- se d o seg u in t e: os sab er es q u e p ost u lam as cir cu lar id ad e d os ev en t os são f alsos. Eles n ão se v er if icam . A an alog ia en t r e a r od a d a f or t u n a com os ciclos d o t r ab alh o n ão é v álid a. Não p or q u e as d u as n oções n ão sej am an álog as, m as p or q u e a id éia m esm a d e ciclo

(4)

( sej a ele o ciclo v it al, sej a o d a r od a d a f or t u n a, sej a o d o t r ab alh o) é f alsa. Não h á ev id ên cia em p ír ica q u e, q u er a n at u r eza, q u er a cu lt u r a, q u er a p siq u e op er em ob ed ecen d o a ciclos. A an alog ia d a Rod a e os seu s av at ar es, an t ig os e m od er n os, são log icam en t e in su st en t áv eis e f act u alm en t e in v er íd icos.

O f an t asioso e o d isp ar at ad o d a an alog ia d a Rod a são f áceis d e d em on st r ar , com o v er em os a segu ir . Mais dif ícil é en t en der com o e por qu e, sen do obv iam en t e u m em b u st e, a Rod a r esist e ao t em p o e às cir cu n st ân cias. Sob r e esse t óp ico t en -t am os lan çar alg u m a lu z n a p ar -t e f in al d o -t ex -t o.

O

S

F

ATOS Na f or m a q u e ch eg ou at é n ós, a im ag em d a Rod a d a Vid a, g r av ad a em p dr a, pin t ada em ilu m in u r as, v isav a in st r u ir os ilet r ados m ediev ais sobr e as in cer t e-zas d os d esíg n ios d iv in os. Er a u m r ecu r so ef icien t e. Com o a Rod a n ão t em u m a v elocid ad e d ef in id a, é p ossív el p assar p elas sit u ações q u e r et r at a a cad a h or a, a cad a d ia, a cad a an o. Com o sem p r e est am os en t r an d o e sain d o d e u m a sit u ação d et er m in ad a, p ar ece ób v io q u e a d ecep ção su ced er ia a esp er an ça, d e q u e a t r is-t eza su ced er ia a aleg r ia, eis-t c. A p r u d ên cia e a cor d u r a, en is-t ão com o ag or a, é o q u e se q u er ia t r an sm it ir . O q u e se q u er ia q u e f osse aceit o er a q u e, m esm o n a p osição m ais alt a, a da f elicidade 5, p od em os cair p ar a a p osição d a p er d a ou con t r ar ied

a-d e, a-d est a p ar a a a-d o sof r im en t o, a m ais b aix a, e a-d aí, r em on t ar a a-d a esp er an ça. Est ar íam os sem p r e em u m a d essas q u at r o d isp osições. Não sen d o p ossív el ilu d ir o d est in o, n ão p od er íam os p assar d e u m a a ou t r a a n ão ser n essa or d em .

São m u it as as lições q u e se ap r en d ia n a Rod a. A d e q u e é a esp er an ça q u e t r az a f elicid ad e [ a f elicid ad e é a esp er an ça alcan çad a] , com o é o sof r im en t o q u e t r az a esp er an ça [ se n ão se sof r e a esp er an ça é d esn ecessár ia] , com o é a con t r a-r ied ad e ou a p ea-r d a q u e lev a ao sof a-r im en t o e a f elicid ad e, q u e, in st áv el, con d u z à con t r ar iedade. Apr en dia- se, t am bém , qu e f elicidade n ão du r a, qu e est ar con t r ar i-ado é m elh or do qu e sof r er , qu e o sof r im en t o é u m a passagem [ em lat im , sof r er t em o sen t id o d e ex p er im en t ar ] p ar a a esp er an ça. Além d isso, se assen t av a q u e t od os est es est ad os são t r an sit ór ios, q u e a Rod a n ão p ar a d e g ir ar , q u e o d est in o é in ev it áv el, p od e ser cr u el, m as n ão é p er m an en t e et c.

Desd e essa ép oca at é h oj e, a lig ação en t r e o cír cu lo e a For t u n a se en con t r a t an t o n a m ob ilid ad e com o n a in st ab ilid ad e, m as é q u ase sem p r e r ef er id a ao p oder . Na im agem m ais difundida, a do Hort us deliciarum , d e Her r ad e d e Lan d sb er g -q u e n o sécu lo XI I , d escr ev eu a ascen são n a r od a com o a t en t at iv a d o h om em d e r ecu p er ar - se d a Qu ed a - u m r ei p ar ece n os q u ad r an t es com os d izer es r egno, r ein o, regnavi, r einei, su m sin e r egn o, n ão t en h o r ein o, regnabo, r einar ei.

M

ISTIFICAÇÃO Tod os esses sab er es e or ien t ações p ar a a v id a er am e são m u it o p oét icos e in t er essan t es. Mas, t an t o em g er al com o n o q u e n os in t er essa aq u i p ar t icu lar -m en t e, a v id a n as or g an izações, é f ácil con st at ar q u e são in t eir a-m en t e ilu sór ios. A an alog ia q u e u n e a Rod a à For t u n a é f act u alm en t e f alsa em t od a a lin h a d e com -p ar ação com o q u e r ealm en t e acon t ece n a v id a e n o t r ab alh o.

Ret om em os os ex em p los q u e m en cion am os acim a. O m ais am p lo é o q u e com p ar a a car r eir a p r of ission al à Rod a. Or a, q u alq u er in v est ig ação m esm o q u e su p er f icial sob r e o t em a ir á d em on st r ar q u e se alg u m p ar alelism o se aj u st a à v id a f u n cion al est e ser ia o de u m ân gu lo ou , n o m áx im o, o de u m a lin h a oscilan t e. O n or m al, o q u e t em os d ocu m en t ad o, é a t r aj et ór ia em q u e h á u m a ascen são con s-t an s-t e as-t é o p on s-t o d e in f lex ão ap ós o q u al, d e or d in ár io, h á a r es-t ir ad a d o s-t r ab alh o

5 No sent ido kant iano do t er m o / felicidade/ : “ o cont ent am ent o com o pr ópr io dest ino” . Cf. Cher ques;

(5)

ou , m en os f r eq ü en t em en t e, u m a r ecu p er ação ou u m a su cessão d e p eq u en as q u e-d as e r ecu p er ações, at é q u e cesse t oe-d o o r elacion am en t o en t r e o t r ab alh ae-d or e a or g an ização. No p er cu r so f u n cion al n ão h á r et or n o, n ão h á ciclo.

No q u e se r ef er e ao ciclo d e r esu lt ad os – a Rod a: p r iv ação – sacr if ício – con su m o – saciedade – pr iv ação; t em os, com o v im os, a idéia de qu em pr odu z m ais ser á r ecom p en sad o. Essa é u m a n oção d at ad a d o sécu lo XI X p ar a calçar u m a in v er ossím il e j am ais d em on st r ad a cau sação en t r e t r ab alh o e r iq u eza6. Mesm o

q u e a id éia f osse v er d ad eir a, ela só t er ia f u n d am en t o p ar a os q u e g an h am ex clu -siv am en t e p or p r od u ção, p ar a os au t ôn om os. Não é e n ão p od e, log icam en t e, ser v álid a p ar a os q u e seg u em car r eir a d en t r o d as or g an izações, p ar a os q u e são em p r eg ad os, r em u n er ad os p elo esf or ço q u e d esp en d em . Os sist em as d e r ecom -p en sa, se -p er m an en t es ( in cor -p or ação ao salár io) são lin ear es, se ev en t u ais, são m odais; n ão cir cu lar es.

O ciclo de dom ínio t écnico é out r a idéia fant asiosa. A Roda: subalt er no, apr en-diz, capaz, segu r o, ocioso, su balt er n o, . . . , é u m a ideologia: u m a lógica qu e ser v e a u m a id éia, n ão u m a id éia q u e sej a, com p r ov ad am en t e, lóg ica. O t r ab alh o n ão é, n em n u n ca f oi, u m a f on t e seg u r a d e au t or ealização. Nem sem p r e os h om en s t r a-b alh ar am e g r an d e p ar t e d os q u e t r aa-b alh am t em com o r azão e oa-b j et iv o d e v id a j u st am en t e par ar de t r abalh ar . Além disso, m u it a gen t e se r ealiza em f u n ções su b alt er n as ou f or a d o t r ab alh o. Se o t r ab alh o é u m a n ecessid ad e à sob r ev iv ên cia f ísica, n em o em p r eg o n em a ascen são h ier ár q u ica são con d ições ab solu t as p ar a a sobr ev iv ên cia espir it u al.7

Fin alm en t e, a n oção d a at u alização con t in u ad a – a Rod a: d escon h ecim en t o t écn ico, t r ein am en t o, poder , desat u alização, descon h ecim en t o t écn ico, . . . - com o im p r escin d ív el à v alid ad e d o t r ab alh o, ain d a q u e p ar cialm en t e v er d ad eir a ( o ar t e-san at o t r ad icion al, p or ex em p lo, d ep en d e d e con h ecim en t o, m as n ão d e at u aliza-ção) n ão é cir cu lar . O con h ecim en t o t écn ico n ão pode ser per dido in t egr alm en t e, de sor t e qu e a cu r v a qu e t r aça é assin t ót ica. Nu n ca cir cu lar . O qu e m u it o r ar am en -t e ocor r e é q u e a ob solescên cia com p le-t a d e u m a -t ecn olog ia d e-t er m in e a p er d a t ot al d o v alor d e u m con h ecim en t o. Mas aí j á se t r at a p ar a o t r ab alh ad or d e u m r ecom eço em n ov a b ase, d e u m a n ov a car r eir a, n ão d e ou t r o g ir o d a m esm a Rod a.

A A

NALOGIA Se n a pr át ica a Roda é u m a m ist if icação, é logicam en t e qu e a sim et r ia en t r e o q u e aco n t ece e o q u e en si n a se ev i d en ci a ab so l u t am en t e d escab i d a. Par a d em on st r á- lo b ast a q u e n os d et en h am os u m p ou co sob r e a lóg ica elem en t ar e p r ocu r em os en t en d er o q u e é u m a an alog ia, com o d ev e ser con st r u íd a e com o p od e ser v alid ad a.

Um a an alog ia é u m a cor r elação en t r e os t er m os d e d ois sist em as ou or -d en s. Qu an -d o f azem os u m a an alog ia, at r ib u ím os os m esm os p r e-d ica-d os a v ár ios o b j et o s.

A an alog ia, ex p lan at ór ia ou d escr it iv a, p ar t e d a p r esu n ção d e sim ilar id ad e en t r e o an álog o e o an alog ad o. É v álid a se e q u an d o: i) ex ist e a sim ilar id ad e, ii) n ão h á d if er en ças r elev an t es en t r e os t er m os e, iii) a ár ea d e com p ar ação é p er t in ein t e. No p r ocesso d e se coin st r u ir u m a ain alog ia, são p r op ost os em p r im eir o lu -g ar t r ês elem en t os: u m an álo-g o, u m an alo-g ad o e u m a ár ea d e com p ar ação. Em seg u id a, são con t r ast ad as em p ir icam en t e as sim ilar id ad es or g ân icas en t r e as r esp ost as [ id en t id ad es e d if er en ças] , q u e d ev em f u n cion ar n os lim it es d e u m a m ar g em d e t oler ân cia d eclar ad a. Dep ois são con st r u íd os os p assos in d u t iv o e d ed u t iv o. O p asso in d u t iv o ex p an d e o con h ecim en t o m ed ian t e g en er alizações. Na an alog ia d a Rod a, o p asso in d u t iv o com p r een d e a aceit ação d e q u e: i) t u d o n a v id a ob ed ece a u m ciclo d e ascen são, d eclín io e r ecu p er ação, ii) d e q u e o t r ab alh o

6 Cf. Arendt - 1989

(6)

é u m a at iv idade da v ida com o as dem ais, de f or m a qu e, iii) a v ida n o t r abalh o dev e ob ed ecer a est e m esm o ciclo. O p asso d ed u t iv o é u m silog ism o cat eg or ial. Com eça n o con h ecim en t o q u e j á p ossu ím os e d ele t ir a im p licações. Na an alog ia d a Rod a, o p asso d ed u t iv o p ar t e d a con v icção d e q u e: iv ) h á u m ciclo n o t r ab alh o e q u e, p or con seqü ên cia, v ) o ciclo do t r abalh o é com o o ciclo da v ida.

A an alog ia en t r e a v id a n o t r ab alh o e a r od a d a f or t u n a é m et af ór ica [ é u m a an alog ia ex t r ín seca d e at r ib u ição] cu j as p r op r ied ad es com u n s ser iam a m ob ilid a-d e, a seq ü ên cia or a-d en aa-d a a-d e sit u ações, o esq u em a cir cu lar a-d e ascen são e a-d eclín io. Em r esu m o, os seu s p assos an alóg icos in d u t iv os são: i) a v id a é com o u m a r od a d a f or t u n a e, ii) a r od a d a f or t u n a é m óv el, seq ü en ciad a e d iv id id a em sit u ações d e ascen são e d eclín io. Os d ed u t iv os asseg u r am q u e: iii) o t r ab alh o é p ar t e d a v id a; q u e iv ) a v id a n o t r ab alh o é com o u m a r od a d a f or t u n a e, p or t an t o, q u e v ) o q u e n os acon t ece n o t r ab alh o est á f ix ad o em in st ân cias.

I sso p ost o, cab er ia an alisar e cr it icar a an alog ia p ar a t est ar su a v alid ad e. Par a se v alid ar u m a an alog ia é p r eciso v er if icar se a g en er alização est á b asead a em ev id ên cia sólid a. Essa v er if icação se d á seg u in d o- se d u as r eg r as. A p r im eir a é a d a ev id ên cia d o ar g u m en t o b ásico, a d a p lau sib ilid ad e d a g en er alização. A se-g u n d a é a d o p ar alelism o d as sit u ações.

Or a, com o est am os v en d o, a Rod a é u m a f áb u la con st r u íd a p or r elig iões e id eolog ias d iv er sas com o sen t id o d e n os con f or t ar d o m ist ér io d os d esíg n ios d iv i-n os e d e alei-n t ar a esp er ai-n ça ai-n t e as v icissit u d es d a v id a. É u m a lib er d ad e m et a-f ór ica. Ocor r e q u e as m et áa-f or as n ão são ex t en siv as. Qu er isso d izer q u e, q u an d o, por ex em plo, af ir m am os qu e “ a v ida é u m cabar é” , en t en dem os qu e a v ida é com o u m espet ácu lo im pr ev isív el de m ú lt iplos acon t ecim en t os. Não qu e a v ida é u m am b ien t e f ech ad o, ch eio d e f u m aça, ou q u e a v id a só acon t eça à n oit e. As m et áf o-r as só f u n cion am con t ex t u alizad as e n ão ad m it em t o-r an sp osições.

Disso d ecor r e q u e a m et áf or a d a Rod a cessa d e t er sen t id o além d a af ir m a-ção de qu e a v ida n o t r abalh o, com o a v ida em ger al, é m u t áv el. Pr im eir o por qu e n en h u m a r azão lóg ica, n en h u m a p r ov a em p ír ica, d á su st en t ação à id éia d e q u e a m u t ab ilid ad e d a v id a, n o t r ab alh o e em g er al, se d á seg u n d o u m a or d em p r é-est ab elecid a. A Rod a é-est á n o p lan o d a cr en ça, n ão n o p lan o d a r azão.

Em segundo lugar , por que par a a r egr a m ais im por t ant e de v alidação de um a an alogia a de v er if icar as in st ân cias em qu e o an álogo e o an ologado con cor dam -n ão h á saber -n em pr ov a em pír ica de qu e t a-n t o a f elicidade com o a desgr aça -n ão possam ser per m an en t es. Ou de qu e n ão é possív el salt ar da ascen são ao declín io e v ice- v er sa sem se passar por est ados in t er m ediár ios, de qu e a desdit a com plet a n ão possa, sem m ais n em por qu e, su ceder à f or t u n a e assim por dian t e.

A

S

R

AZÕES DA

F

ORTUNA Sen d o a id éia d a Rod a f act u al e log icam en t e in su st en t áv el, o q u e im p or t a p ar a a com p r een são d o q u e acon t ece n o m u n d o d o t r ab alh o é t en t ar sab er p or q u e ela se m an t ém com t an t a p er sist ên cia.

Com ecem os con sid er an d o q u e a Rod a ch eg ou at é n ós t an t o p ela t r ad ição v u lgar com o pela filosofia. Com t e, Mill, Du r k h ein , Bach elar d acr edit av am qu e a so-cied ad e v iv e alt er n ad am en t e p er íod os cr ít icos [ t en d ên cias à d esag r eg ação] e p e-r íod os oe-r g ân icos [ t en d ên cia à coesão e a n ov as f oe-r m as d e oe-r g an ização social] . A pr ópr ia dialét ica de Hegel é u m cír cu lo de cír cu los, em qu e cada t r íade com bin a com ou t r a t r íade par a ex plicar a cer t eza sen sív el [ obj et o, ex per iên cia, su j eit o] , a per -cepção [ con ceit o, per -cepção, en t en dim en t o] et c.

(7)

Nela, t em os u m a sér ie d e sím b olos q u e p od em os ad eq u ar às m ais d iv er sas sit u ações. Tem os o an el, q u e é o sím b olo d a alian ça et er n a d o casam en t o, n ão só en t r e as p essoas com u n s, m as t am b ém d o sacer d ot e com Deu s, d a f r eir a com Jesu s. O an el é, t am bém , o ouroboros, a ser p en t e q u e m or d e o p r óp r io r ab o, q u e se alim en t a d e si m esm a e q u e r en asce d a p r óp r ia b oca. Assin ala a d ep en d ên cia r ecíp r oca en t r e as p ar t es e ser v e p ar a ex p licar ou ap elar p ar a a f id elid ad e, p ar a a alian ça en t r e o t r ab alh ad or e a em p r esa.

Tem os, t am bém , o sin et e, o an el com o selo, qu e ser v e par a adv er t ir sobr e o p od er e q u e in d icou a au t or id ad e d esig n ad a n a Gr écia, t r ad ição q u e p assou a Rom a, ( on d e h av ia u m a h ier ar q u ia d ad a p elo m at er ial d o sin et e – os com u n s só podiam u sar f er r o) . O sin et e in dica qu em m an da, m as, t am bém , in dica qu e t oda sit u ação n a h ier ar q u ia or g an izacion al é ef êm er a. É u m sím b olo ef icien t e d o p od er d eleg ad o, u m a v ez q u e o an el p od e ser p assad o d e u m p ar a o ou t r o ( p or isso, se q u eb r a o an el d o p ap a q u an d o d a su a m or t e) .

Do m esm o m od o, d esd e os g r eg os a Rod a é u m sím b olo d a m ob ilid ad e, d a m u d an ça sem d esag r eg ação, d a u n id ad e p or q u e t od os os p olíg on os r eg u lar es são cir cu n scr it os. É u m dos ícon es da in f in idade. Ela n ão t em n em com eço n em f im , é o polígon o com in f in it o n ú m er o de lados, com o in f in it as são, ou dev er iam ser , as p ossib ilid ad es p ar a q u em t r ab alh a e p er sev er a.

Com t od a a car g a sim b ólica q u e en cer r a, é f ácil su p or q u e, in su st en t áv el log icam en t e com o é, a m et áf or a d a Rod a t en h a se m an t id o e t en h a at é m esm o f lor escid o n os t ex t os con t em p or ân eos, d ev id o a su a v ir t u d e d e ilu d ir os esp ír it os e d e d esv iar a at en ção d os ab su r d os d a ser v id ão im p licad a n as f or m as m od er n as d e g er en ciam en t o. Mas os d ad os d e q u e d isp om os in d icam h ip ót eses d e ex p lica-ção d if er en t es p ar a a p er sist ên cia d essa id éia. Hip ót eses q u e r ev elar iam n ão u m sen t id o f or çad o, m as alg o n at u r al, q u e p ar ece p r óp r io d a m en t e h u m an a, u m sen -t id o q u e se lig a à d ef esa d a r azão p er p lex a an -t e a in j u s-t iça d o m u n d o e à r ecu sa d o acaso, d a im p r ev isib ilid ad e d a v id a.

A P

ERSISTÊNCIA DA

R

ODA Um a p r im eir a h ip ót ese p ar a a p er sist ên cia d a id éia d a Rod a d er iv a d a n os-sa r ecu os-sa em aceit ar o d escon h ecim en t o sob r e as cau os-sas ou sob r e os en cad ea-m en t os d e cau sas q u e d eseea-m b ocaea-m n os f en ôea-m en os. A id éia d e q u e a b oa ou ea-m á sor t e, a For t u n a, det er m in a a f or m ação do m u n do v em de Dem ócr it o, do u n iv er so com o r esu lt an t e d o en t r ech oq u e casu al d os át om os. O acaso, a au sên cia d e u m a cau sa ef icien t e, seg u n d o Dem ócr it o, ou a au sên cia d e u m a f in alid ad e, seg u n d o Ar ist ót eles, f oi sem p r e est r an h o à n at u r eza h u m an a8. Pr ef er im os acr edit ar n o

des-t in o – q u e é n ecessár io – e d escr er d o azar – q u e é acid en des-t al9. Aceit am os o absu r

-d o -d a Ro-d a, q u e sen -d o f or t u it a, n ão p o-d e ser n ecessár ia, p or q u e n ão p o-d em os su p or t ar a n ossa in ép cia in t elect u al an t e o t u r b ilh ão d os acon t ecim en t os, d a in com p r een sib ilid ad e d o cosm o ou d os in f in it am en t e m ist er iosos d esíg n ios d a d i-v in d ad e10. Toler am os a aleg or ia d a Rod a p ar a ex p licar o n osso d est in o p r of ission al

p or q u e p r ef er im os acr ed it ar q u e o q u e n os acon t ece t em u m a cau sa d escon h eci-d a eci-d o q u e acr eeci-d it ar q u e n ão t em n en h u m a cau sa. Con st r u ím os a t eor ia eci-d o eci-d est in o p ar a d ar sen t id o ao m u n d o d o t r ab alh o. Dep ois, com o é com u m n as ciên cias e n o

8 Par a Dem ócr it o a coisas se dão por “ necessidade cega” , m as só par a as coisa hum anas. Ar ist ót eles

[ Física I I , 5, 5197, a8 e 4, 195b, 30ss] dist ingue azar e for t una e os dá com o causas ex cepcionais. A for t una não é ir r acional, m as um a pr iv ação “ da ar t e” [ Met afísica A, 3, 1070 a 8] .

9 Tr at a- se, nat ur alm ent e, de um a r esist ência psicológica. Desde Kant [ Cr ít ica da Razão Pur a]

sabe-m os que não é possív el desabe-m onst r ar que o sabe-m undo faz sent ido. Tasabe-m bésabe-m não podesabe-m os desabe-m onst r ar que não faz. Peir ce [ Sobr e a or dem da nat ur eza - Peir ce, Char les Sander s The essent ial Peir ce - select ed philosophical w r it ings; Bloom ingt on : Univ er sit y of I ndiana Pr ess, 1992] deu- se ao t r abalho de pr ov ar logicam ent e que um m undo const r uído ao acaso ger a, necessar iam ent e, um a or dem fér r ea, m ais rest rit a do que a de um m undo const ruído por necessidade.

(8)

m u n d o social, n os af er r am os à p r op osição e d ist or cem os a r ealid ad e at é q u e ela se aj u st e à t eo r i a.

Ou t r a h ip ót ese é q u e a cr en ça n a Rod a d e For t u n a p er sist e p or q u e con sola e a l en t a . Ta l j á er a a o p i n i ã o d e Bo éci o11, o ú l t i m o d o s r o m a n o s. Cr i st ã o e

n eop lat ôn ico, Boécio com p ilou os m an u ais g r eg os e p r ocu r ou a sín t ese en t r e o lat in ism o e o ger m an ism o. Foi u m sábio e u m j u st o. Mas o r ei ost r ogodo Teodor ico, a qu em ser v iu , su speit ou de t r aição e o m an dou pr en der , t or t u r ar e, af in al, ex ecu -t ar . Na p r isão, n os in -t er v alos d as sessões d e -t or -t u r a, Boécio escr ev eu a Con sola-ção d a Filosof ia, u m a ob r a em p r osa e em v er so, n a q u al a Filosof ia p er son if icad a e o pr ópr io au t or discu t em o pr oblem a do m al, do liv r e ar bít r io e da pr ov idên cia div in a. A Filosof ia, par a con solar Boécio, se apóia n o ar gu m en t o da pr ev isibilidade d a Rod a p ar a m ost r ar q u e o car át er cam b ian t e d a For t u n a n ão in t er f er e n a f elici-d aelici-d e. Os ar g u m en t os são aelici-d m ir av elm en t e con st r u íelici-d os. Tan t o q u e elici-d u r an t e o p ior m om en t o d a I d ad e Méd ia, q u an d o g r assav am a ser v id ão e a in j u st iça, a Con sola-ção f oi o liv r o m ais lido depois da Bíblia. Talv ez por isso, por ser u m con solo an t e a f or m a in j u st a e cr u el com q u e os t r ab alh ad or es são t r at ad os, a id éia d a Rod a r ev iv a hoj e com t ant o v igor .

Um a t er ceir a h ip ót ese p ar a a p er sist ên cia d a id éia d a Rod a d a For t u n a ser ia a d e q u e ela r ep r esen t a u m a p ossib ilid ad e d e lim it ar o in f in it o, d e f azer p r ev isív el o aleat ór io. Tam bém é an t iga essa t r adição. Vem de Raim u n do Lú lio12 , u m cat alão

q u e p ost u lou a su b m issão d a f ilosof ia à t eolog ia e q u e p r et en d eu en con t r ar a v er d ad e e con v er t er os m u çu lm an os m ed ian t e a ap licação d e su a “ Ar s Mag n a” , u m cír cu lo g er ad or d e sab ed or ia. A Rod a d e Lú lio ou o com p lex o d e r od as, er a u m a f ór m u la q u e r eu n ia d ezoit o elem en t os sim p les a q u e p od er iam ser r ed u zid os os t er m os d e t od as as p r op osições. O m ét od o, d e g r an d e d if u são n o com eço d o Ren ascim en t o, con sist ia em em b ar alh ar os n ov e at r ib u t os d iv in os [ b on d ad e, et er -n idade, poder et c. ] com as -n ov e r elações [ dif er e-n ça, co-n cor dâ-n cia, pr i-n cípio et c] em cir cu n f er ên cias com o cen t r o em com u m e qu e dev er iam ser gir ados par a pr o-duzir a “ ars com binat oria” . Cósm ico e cir cular , o m ét odo não poder ia fr acassar . Acr e-d it av a- se n aq u ela ép oca q u e o u n iv er so é o “ esp elh o e-d o e-d iv in o” , com o e-d izia St o. Ag ost in h o. O u n iv er so t er ia u m a or d em p er f eit a. Daí q u e b ast ar ia r est au r ar a “ or -d en ação -d iv in a” p ar a se alcan çar a v er -d d e -d e t u -d o. O f at o -d e Lú lio t er m alog r ad o t an t o em esg ot ar as p ossib iliad aad es ad e con ceit u ação lóg ica q u an t o em con v er -t er os m ou r os, n ão im p ed iu q u e a Rod a e q u e o sis-t em a m n em ôn ico d esen v olv id o p or ele t en h am t id o g r an d e e f ecu n d a ap licação. Talv ez a Rod a p er sist a p or q u e p ar ece ex p licar a m áq u in a d o m u n d o e, n ela, as en g r en ag en s d o t r ab alh o.

Qualquer que sej a a r azão da sua per sist ência: a ânsia por um a det er m inação, a necessidade de consolo e confor t o, a r acionalização do univ er so, o fat o é que a Roda da For t una é um a das ex plicações sobr e as incer t ezas no m undo das or ganiza-ções. I nt egr a a m em ór ia colet iv a, o r esult ado da r edução socializada da div er sidade de r epr esen t ações possív eis13. Est á incor por ada no ciclo de planej am ent o- gest

ão-cont r ole- planej am ent o e nas t eor ias que der iv am da abor dagem sist êm ica da ali-m ent ação- pr ocesso- r esult ado- r ealiali-m ent ação. Ela per sist e ali-m esali-m o que o seu funda-m ent o sej a insust ent áv el, que a coincidência ent r e o que pr ev ê e o que r ealfunda-m ent e acont ece sej a for t uit a, que o acor do ent r e o que pr econiza e o que funciona sej a est at ist icam ent e acident al. Um a der r adeir a hipót ese é que ela sobr ev iv a por que o m esm o se pode dizer de par t e da t eor ia econôm ica e das t écnicas de adm inist r ação.

1 1 Ancius Manlius Toquat us Sev er im us Boet ius - Rom a 480; Pav ia 526 1 2 Raym undo Lull ou Lúlio - Palm a de Mallorca 1235- 1315

(9)

R

EFERÊNCIAS

Ar en dt , Han n ah ; A con dição h u m an a; Rio de Jan eir o; For en se; 1 9 8 9

Ch er qu es, Her m an o Rober t o Th ir y – 2 . 0 0 0 ; Mod elos d e sob r ev iv ên cia – Teses d e d ou t or am en t o, COPPE – Un iv er sid ad e Fed er al d o Rio d e Jan eir o, Rio d e Jan eir o, 2 . 0 0 0

Ch er qu es, Her m an o Rober t o Th ir y ; Mais luz ; Con j u n t u r a Econ ôm ica; Rio de Jan eir o; Fu n dação Get ú lio Var gas; 2 . 0 0 2

Ch er q u es, Her m an o Rob er t o Th ir y & Pau lo César Neg r eir os d e Fig u eir ed o: PRODUTEC – Ger en ciam en t o d a p r od u t iv id ad e e d a t ecn olog ia em or g an izações at u an t es n o Rio d e Jan eir o ; Escola Br asileir a de Adm in ist r ação Pú blica da Fu n da-ção Get ulio Var gas - EBAP/ FGV; Rio de Janeir o; Anais da AMPAD; 1 9 9 4

Ch er qu es, Her m an o Rober t o Th ir y ; A m oda n as t écn icas ger en ciais; Rev ist a da ESPM; v ol. 8 ; Ano 7 ( 4 ) ; j ulho- agost o; 2 . 0 0 1

Ch er qu es, Her m an o Rober t o Th ir y ; “ Trabalho e sobrevivência polít ica: Mét is, a

out ra inst ância da razão” , Read - Rev ist a Elet r ôn ica de Adm in ist r ação, ht t p: / / read.adm .ufrgs.br/ read32/ index.ht m , 9 ( 2) Abr il; 2.003

Cult ure et t radit ion , in Scien ces Hu m ain es; No. 3 6 – Mai – 2 0 0 2

Cu sa, Nicolau de - La doct a ign or ân cia ; Agu ilar S. A. de Edicion es - Bu en os Air es – 1 9 6 6

Fr om Th e Mah ab h ar at a: Asw am ed h a Par v a , Seção XLV: Tr aduzido por Sr i Kisar i Moh an Gan gu li; Lon dr es; Pet it ; 1 9 9 9 –

Her áclit o, Fr ag m en t os; Bu en os Air es; Agu ilar ; 1 9 8 2

Huby , Joseph; Man u el d ´ h ist oir e d es r elig ion s; Par is; Gabr iel Beau ch esn e; 1 9 2 1 Huby , Joseph; Man u el d ´ h ist oir e d es r elig ion s; Par is; Gabr iel Beau ch esn e; 1 9 2 1 Huizinga, J.; Le d éclin d u m oy en ag e; Par is; Pay ot ; 1 9 6 7

Kelley, David; Th e ar t of r eason in g ; Nov a Yor k ; Nor t on & Com pany ; 1 9 9 8 Peir ce, Ch ar les San d er s; Th e essen t ial Peir ce - select ed p h ilosop h ical w r it in g s; Bloom in gt on : Un iv er sit y of I n dian a Pr ess, 1 9 9 2

Per ed a, Car los; Vér t ig os ar g u m én t ales; Bar celon a; An t h r opos; 1 9 9 4 Plot in o; La s En n ea d a s; Nuev a Bibliot eca Filosofica - Madr id - 1 9 3 0 Ricœur Paul; La m ém oir e, l’hist oir e, l’oubli; Par is; Seuil; 2000

Som e say in g s of Bu d d h a accor d in g t o t h e Pâli can on ; Ox for d; Ox for d Univ er sit y Pr ess; 1 9 5 1

Toy n bee, Ar n old Joseph , Um est u d o d a h ist ór ia Rio de Janeir o: W. M. Jack son, 1 9 7 5

Referências

Documentos relacionados

Os r esult ados indicam , ent ão, que se os pós- dout or ados v isam um pr ocesso de socialização par a post er ior in- cr em ent o na pr odução, os pós- dout or ados r ealizados

No início dest e ar t igo com ent ou- se a falt a da ár ea específica de pr ocesso decisór io nos Cur sos de Dout or ado em Adm inist r ação no Br asil e isso, apar ent em ent e,

Est e est udo, fundam ent ado na det erm inação social e na sist em at ização de Laurell e Noriega, busca com pr een der o pr ocesso saú de- doen ça v iv en ciado pelos t r

Os pr ofissionais da saúde, pr incipalm ent e enfer m eir os, necessit am de pr epar o par a abor dar essas quest ões e cont ribuir para o desenvolvim ent o da sexualidade

Assim , cada ciclo teve 20 inst r um ent ais cont am inados, subm et idos a t r ês ciclos em cada prot ocolo avaliado.. Par a essa fase, a cont am inação int encional de 60 inst r

Todos os ent r ev ist ador es r eceber am t r einam ent o em t écnicas de ent r ev ist a, uso de instrum entos de rastream ento e em avaliação para ident ificação de t ranst

O obj et ivo dest e est udo foi ident ificar , por m eio da Teor ia da Ação Racional/ Teor ia do Com por t am ent o Planej ado, as cr enças de at it ude e nor m at iv as que cont

Os inst r um ent os são análise de pr ocessos, pr eenchim ent o dos m apas censit ár ios, elabor ação de genogr am a e ecom apa... Ciciar elli