• Nenhum resultado encontrado

Turismo em territórios de grande densidade religiosa.

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2017

Share "Turismo em territórios de grande densidade religiosa."

Copied!
18
0
0

Texto

(1)

T

URISMO EM

T

ERRITÓRIOS DE

G

RANDE

D

ENSIDADE

R

ELIGIOSA

Sie gr id Gu illa u m on*

Resumo

O

t ur ism o t em sido ent endido por or ganism os int er nacionais com o at ividade com grande pot encial para pr om over o desenvolvim ent o econôm ico e, ao m esm o t em po, que valor iza a cult ura e pr om ove a pr eser vação das paisagens nat urais. Seguindo as dir et r izes int er-nacionais, no Brasil, o t ur ism o passou a ser ent endido com o um a indúst r ia com grande pot encial para gerar em pr egos e divisas, e se for t alece por m eio da pr om oção da diver sidade cult ural, que pode est ar associada às diver sas cult uras m at er iais e r eligiosas. Para com pr eender a gest ão do t ur ism o em cont ext os que ar t iculam cult ura, r eligião e desenvolvim ent o t er r it or ial, est e ensaio t eór ico apont a lim it ações nos dois conceit os disponíveis na lit erat ura, quais sej am , o conceit o de t ur ism o cult ural e o conceit o de t ur ism o r eligioso, ao m esm o t em po que pr opõe o conceit o de ‘t ur ism o em t er r it ór ios de grande densidade r eligiosa’, o qual incor pora o r econhe-cim ent o das dinâm icas de poder pr esent es nos t er r it ór ios com o elem ent os que int er fer em na for m a com o se planej a o t ur ism o. Mobilizam - se ent endim ent os do cam po da ant r opologia e da geografi a para a gest ão a fi m de sust ent ar que a discussão t eór ica conduzida t em um pot encial explicat ivo para o t ur ism o em diver sas escalas t er r it or iais, e, t am bém , em cont ext os nos quais exist e o diálogo ent r e t ur ism o e r eligião.

Pa la vr a s- cha ve : Gest ão do t urism o. Desenvolvim ent o t errit orial. Cult uras. I dent idades. Religiões.

Tourism in Territories of High Religious Density

Abstract

T

ourism has been underst ood by int ernat ional organizat ions as an act ivit y wit h great pot ent ial t o pr om ot e econom ic developm ent , w hile valuing cult ur es and pr om ot ing t he pr ot ect ion of nat ural landscapes. Follow ing int er nat ional guidelines, t our ism in Brazil has begun t o be under st ood as an indust r y w it h gr eat pot ent ial t o generat e j obs and incom e and is st r engt hened t hr ough t he pr om ot ion of cult ural diver sit y w hich m ay be associat ed w it h m at er ial and r eligious cult ur es. To under st and t he m anagem ent of t our ism in cont ext s t hat ar t iculat e cult ur e, r eligion and t er r it or ial developm ent , t his paper ident ifi es lim it at ions in bot h t heor et ical concept s available in t he lit erat ur e: t he concept of cult ural t our ism and t he concept of r eligious t our ism . I t pr oposes t he concept of ‘t our ism in t er r it or ies of high r eligious densit y’ t o incor porat e acknow ledgem ent of t he pow er dynam ics pr esent in t he t er r it or ies as elem ent s t hat affect t he way t our ism is planned. The fi elds of ant hr opology and geography ar e used in t he m anagem ent appr oach t o suppor t t he t heor et ical discussion in t he paper. This has a gr eat explanat or y pot en-t ial for en-t our ism on differ enen-t geographical scales, and also in conen-t exen-t s w her e dialogue been-t w een t our ism and r eligions is pr esent .

Ke y w or ds: Tour ism m anagem ent . Ter r it or y developm ent . Cult ur es. I dent it ies. Religions.

* Dout or a pela Univer sidade Feder al da Bahia – UFBA. Pr ofessor a na Univer sidade Cat ólica de Br asília

– UCB, Br asília/ DF/ Br asil. Ender eço: QS 07, R. 820, Lot e 3/ 723, Águas Clar as. Taguat inga/ DF. CEP:

(2)

Reflexões sobre Turismo e Identidades Culturais

N

as últ im as décadas, o t urism o t em sido ent endido com o um a at ividade econôm ica com pot encial para desenvolver t er r it ór ios, especialm ent e aqueles que se par t i-cular izam por r iquezas nat urais ou cult urais. O exem plo do Brasil nos r evela que est e ent endim ent o fundam ent a os esfor ços do set or público e pr ivado, os quais são em pr eendidos nas suas diver sas r egiões por m eio de pr ogram as gover nam ent ais de fom ent o da at ividade t ur íst ica. Abrangem desde a legit im ação de inst it uições de or denam ent o do t ur ism o, at é a r ealização de invest im ent os fi nanceir os.

O Depar t am ent o de Planej am ent o e Avaliação do Minist ér io do Tur ism o declara t er opt ado pela adoção de um m odelo de gest ão t ur íst ica descent ralizado, execut ado por m eio de m acr o pr ogram as que desenvolvem ações em par cer ia com ór gãos pú-blicos e em pr esas pr ivadas. Ainda que o or ganism o não explicit e exat am ent e com o est a concepção é colocada em pr át ica, o m odelo ser ia or ient ado por um pensam ent o est rat égico que é o de desenvolver a at ividade t uríst ica de form a sust ent ável para gerar divisas, em pr egos e incluir as com unidades e t er r it ór ios nos pr ocessos de pr odução e consum o do t ur ism o. Est a est rat égia est ar ia cent rada na pr om oção da diver sidade hist órica e cult ural do país com vist as a desenvolver um a ofert a para t urist as nacionais e int er nacionais ( MI NI STÉRI O DO TURI SMO, 2011) .

Um dos est ados brasileir os que exem plifi ca bem a diver sidade social e cult ural sob foco das polít icas de fom ent o do t ur ism o é a Bahia. Aqueles que a visit am ent ram em cont at o com um t er r it ór io que t raduz sua t raj et ór ia hist ór ica de diver sas for m as. Em t er ras baianas, encont raram - se, no passado, as populações nat ivas indígenas com as populações africanas e europeias ( especialm ent e port ugueses e espanhóis) , as quais t r ouxeram nova cult ura, seus valor es e m odos de vida. Am algam ou- se o que hoj e est á t raduzido em um t ecido cult ural m uit o par t icular, for t em ent e associado à r eligiosidade do t er r it ór io, ao sincr et ism o r eligioso, à m at er ialidade dos ar t efat os sagrados, r it uais e t ot ens pelos quais det er m inadas r eligiões se fazem t raduzir.

De m aneira geral, aquele que visit a Salvador navega pela Baía de Todos os Sant os1 at é Bom Despacho2 na I lha de I t apar ica; com pra balangandãs3, escult uras

de caboclos4 e im agens de or ixás5 no Mer cado Modelo; passeia na Feira de São

Joa-quim , na qual são vendidos os elem ent os para pr eparação dos r it uais de candom blé6;

adent ra algum as das m ais de 360 igr ej as cat ólicas ( m uit as de est ilo bar r oco colonial) ; par t icipa da Fest a de I em anj á, de Sant a Bár bara ( I ansã) , da Lavagem das escadar ias da I gr ej a do Senhor do Bom fi m7; e com e acaraj é, vat apá, car ur u e out ras t ant as

co-m idas de ‘Sant o’. Na co-m aior ia das vezes, pouco se dá cont a de que consuco-m iu uco-m a sér ie de elem ent os r eligiosos m at er iais e im at er iais. Apenas alguns t ur ist as encont ram os cam inhos dos Ter r eir os de Candom blé e descobr em seus or ixás at ravés dos j ogos de búzios. Tur ist as volt am para casa com seus desej os bem am ar rados nas fi t inhas do Senhor do Bom fi m , após int eragir em com um a t ot alidade r eligiosa que est á pr esent e no t er r it ór io. Consum iram elem ent os cult urais e vivenciaram os encant os da r eligio-sidade sincr ét ica, sínt ese da t oler ância e r esist ência das r eligiões.

Alguns aut ores ( BURNS, 2002; FABARÉ, 2005; SENTÍ AS, 2006) j á ident ifi cavam que det erm inados dest inos t uríst icos reconhecem o pot encial de sua ident idade cult ural para cr iação de pr odut os t ur íst icos que at raem grandes cont ingent es de visit ant es, e são capazes de em pr eender um ciclo vir t uoso em que o t ur ism o acaba funcionando com o um m ecanism o de fort alecim ent o das ident idades t errit oriais. Ao m esm o, out ros dest inos t ur íst icos, ao não r econhecer em o pot encial da diver sidade cult ural e ainda não t er em desenvolvido m ecanism os apr opr iados de r eafi r m ação das cult uras, podem 1 Nom e da Baía for m ada pela península onde Salvador est á localizada.

2 Despacho é a ofer enda r ealizada aos Or ixás ( deidades na m it ologia Yor ubá afr icana) com o par t e da r it ualíst ica do Candom blé ( r eligião afr o- br asileir a) .

3 Peças feit as de pr at a que funcionam com o am ulet os. São sím bolos car act er íst icos dos Or ixás. 4 Ent idades espirit uais indígenas rem ot as que aparecem no sincret ism o das religiões present es no Brasil. 5 Deidade. Yem anj á, I ansã, Ogum , Oxum ar é, Oxossi são alguns dos Or ixás Yor ubá que for am cor r ela-cionados a Sant os Cat ólicos no pr ocesso hist ór ico de sincr et ism o r eligioso.

(3)

incor r er em pr ocessos de descaract er ização da cult ura local com o consequência dir et a do aum ent o da at ividade t ur íst ica. Nesse caso, as est rat égias em pr egadas pr om o-vem o desenvolvim ent o de um a for m a de t ur ism o que pode est ar desvinculada das par t icular idades cult urais e r eligiosas locais, ou sej a, daqueles elem ent os t angíveis e int angíveis que defi nem e difer enciam as ident idades no t er r it ór io, e se t raduzem de for m a t ão evident e nas diver sas dim ensões sociais ali expr essas.

No caso baiano, t al const at ação fi ca per cept ível quando são exploradas infor-m ações que o t ur ist a acessa sobr e o dest ino t ur íst ico que est á visit ando ( páginas da I nt ernet , panfl et os, livret os) , em que são raros os cont eúdos que explicam a form ação social religiosa da Bahia ou, sequer, reconhecem o sincret ism o religioso. Um exem plo é o sit e ofi cial da Secret aria de Turism o de Salvador ( SALVATUR, 2010) , no qual, em bora cont enha im agens associadas à r eligiosidade, sendo a m aior ia delas fot os de igr ej as cat ólicas, não t raz qualquer r efer ência ao Candom blé com o m at r iz r eligiosa pr esent e no t er r it ór io. No sit e não é possível encont rar infor m ações que aj udem o t ur ist a a planej ar um a visit a a um dos 19 Ter r eir os de Candom blé t om bados com o pat r im ônio cult ural pelo I nst it ut o do Pat r im ônio Hist ór ico e Ar t íst ico Nacional ( I PHAN) . Além dos t er r eir os t om bados, o m apeam ent o r ealizado pelo Cent r o de Est udos Afr o- Or ient ais da Univer sidade Federal da Bahia - CEAO ident ifi ca 1165 Ter r eir os de Candom blé at ivos no m unicípio de Salvador. O m apa abaixo r evela sua dist r ibuição no t er r it ór io.

Figu r a 1 - M a pa dos Te r r e ir os de Ca n dom blé e m Sa lv a dor

Fonte: CEAO/UFBA. Disponível em: http://www.terreiros.ceao.ufba.br/mapa.

(4)

Est e ensaio t eór ico t em com o obj et ivo desvendar as lim it ações sit uadas nos conceit os de t urism o cult ural e t urism o religioso, am plam ent e, m obilizados em est udos de caso decant ados nas fr ont eiras do t ur ism o e r eligiões. Confor m e ser á discut ido, essas lim it ações event ualm ent e sust ent am vieses na concepção, ent endim ent o, pla-nej am ent o e no desenvolvim ent o do t ur ism o, especialm ent e naquilo que concer ne à r elação com as ident idades cult urais r eligiosas pr esent es no t er r it ór io. Est e t rabalho inicia- se com a apr esent ação de pesquisas nacionais e int er nacionais r ealizadas nessa t em át ica int erdisciplinar, para, em seguida, com preender as arm adilhas im plicadas nos conceit os de t ur ism o cult ural e t ur ism o r eligioso, e, fi nalm ent e, elaborar um conceit o cont ext ualizado na realidade brasileira para a com preensão de t al at ividade, qual sej a, o t ur ism o em t er r it ór ios de grande densidade r eligiosa.

Investigações da Produção Acadêmica na Fronteira

da Gestão do Turismo, Culturas e Religiões

O fenôm eno t uríst ico observado na Bahia, e que im pulsionou est e ensaio t eórico, est á englobado na int er- r elação ent r e as t em át icas da gest ão do t ur ism o, desenvol-vim ent o t er r it or ial, r eligião e cult ura. Foi r ealizada um a exploração inicial sobr e as pesquisas m ais r ecent es nest as t em át icas no Banco de Teses do Por t al de Per iódicos da Capes e em alguns per iódicos de abrangência int er nacional. A busca por t er m os conj unt os ‘t ur ism o r eligioso’ r evelou 76 t eses e disser t ações, dent r e as quais se des-t acam as des-t eses que esdes-t udam casos de r om ar ias no Brasil. Magalhães ( 2007) esdes-t uda a Rom ar ia em hom enagem a São Francisco das Chagas, em Canindé- CE, t razendo a abor dagem da geografi a cult ural. A t ese de Pint o ( 2006) t rat a de aspect os hist ór icos ur banos e o perfi l do r om eir o em Apar ecida do Nor t e/ SP, e t em por obj et ivo com pr e-ender os elem ent os que for t alecem o t ur ism o r eligioso nos t er r it ór ios. Seu enfoque analít ico, t am bém , é o da geografi a. A t ese de Mar inho ( 2008) est uda o t ur ism o no sant uár io de São Sever inho, no m unicípio de Paudalho/ PE. A per spect iva adot ada é a da geografi a hum ana, e est uda os deslocam ent os espaciais ent endidos com o par t e de um a r ede geogr áfi ca do sagrado que int er liga diver sos cent r os de devoção naquele est ado. Já o est udo de Fr eo ( 2007) t em cunho no cam po da adm inist ração, ent r elaçando as t em át icas de planej am ent o est rat égico, desenvolvim ent o t er r it or ial e t ur ism o. As t eses de Sant os ( 2006) e Cast r o ( 2008) t êm em com um o fat o de es-t udar em es-t er r ies-t ór ios ur banos, especialm enes-t e os cenes-t r os hises-t ór icos. No pr im eir o caso, o m unicípio de Olinda/ PE, e no segundo, São Luiz do Parait inga/ SP. Am bos enfocam um a aglom eração do que se denom ina t ur ism o hist ór ico, ar t íst ico, r eligioso e cult ural, e os im pact os que t ais at ividades t razem para esses espaços ur banos específi cos.

As t eses m encionadas at é ent ão t razem r evelações com o: a) a r ecor r ência das abor dagens geogr áfi cas para t rat ar do t ur ism o r eligioso; b) a possibilidade das cont r i-buições do cam po da gest ão para o t ur ism o r eligioso, j á que essa per spect iva ainda é m ais rara; c) a int erdisciplinaridade ent re cult ura- geografi a- gest ão com o possibilidade de per spect iva para o est udo do t ur ism o nos t er r it ór ios; e d) a esfum açada fr ont eira ent re cult ura e religião quando se est uda o t urism o nos diferent es t errit órios sagrados. A pesquisa, a par t ir do conj unt o de t er m os ‘t ur ism o cult ural e desenvolvim ent o t er r it or ial’, apont a 30 r esult ados no banco de t eses. A análise dos r esult ados disponi-bilizados per m it iu const at ar que exist em alguns est udos sobr e o desenvolvim ent o do t urism o em t errit órios indígenas brasileiros ( JESUS, 2004; LACERDA, 2004; OLI VEI RA, 2007) e cuj as t em át icas per passam a degradação da cult ura indígena r elacionada à ocupação t er r it or ial, e a pr esença do t ur ism o com o equivocado ideár io da sust ent a-bilidade ent r e et nias locais.

(5)

A invest igação na pr odução int er nacional é, t am bém , r eveladora. O per iódico int er nacional Tour ism Managem ent apr esent ou, em out ubr o de 2009, um a list a con-t endo os 25 ar con-t igos m ais pr ocurados no per íodo de um ano. Apenas um ar con-t igo con-t racon-t ava da t em át ica de t ur ism o ét nico, e out r o sobr e a r elação do t ur ism o e desenvolvim ent o t er r it or ial. Dezesset e deles est avam inser idos no cam po dos est udos de m er cado ( m ar ket ing, est rat égia, r isco e segm ent ação) . Tal const at ação sobr e um dos pr inci-pais per iódicos int er nacionais da ár ea desper t a, pelo m enos, duas inquiet ações: a) a escassez dos est udos que apr oxim am cult ura e t ur ism o apont a, por um lado, um a im por t ant e lacuna a ser supr ida e, por out r o, a difi culdade de desenvolver essa per s-pect iva t eór ica na fr ont eira ent r e adm inist ração e t ur ism o; e b) a expr essividade dos est udos de m er cado m ost ra um a sat uração e r epet it ividade, e, ao m esm o t em po, a facilidade de r eplicar est udos de caso em t al per spect iva. Há, assim , um a lacuna nas r efl exões m ult idisciplinar es da ant r opologia e geografi a em seu diálogo com o cam po da gest ão do t ur ism o.

Pesquisando os t er m os conj unt os ‘r eligious t our ism ’ na página Science Dir ect8

( 2009) , são apr esent ados 355 ar t igos no Annals of Tour ism Resear ch, 193 ar t igos no

Tour ism Managem ent , 51 no Fut ur es e 48 no Geofor um . Quant o ao ano de publicação,

t em os o seguint e cenár io:

Ta be la 1 - Br e v e An á lise da s Pu blica çõe s I n t e r n a cion a is sobr e Tu r ism o Re ligioso

An o Qu a n t ida de

Pe r ce n t u a l do t ot a l de a r t igos e n con t r a dos

n o pe r íodo

Cr e scim e nt o pe r ce nt ua l com r e la çã o a o a n o

a n t e r ior

2009 201 16% 26,4%

2008 159 12% 6%

2007 150 12% 5%

2006 143 11% 27,7%

2005 112 9% 13%

2004 99 8% 5%

2003 94 7% 6%

2002 88 7% 11%

2001 79 7% - 1%

2000 80 6% 4%

Média de t rabalhos

ent r e 1991 e 1999 56 6%

-Font e: elaboração pr ópr ia, 2009.

De acor do com a Tabela acim a, é cr escent e o núm er o de t rabalhos que t an-genciam am bos os t em as de t ur ism o e r eligião nos últ im os 10 anos. I st o apont a a r elevância que a t em át ica vem adquir indo no m undo. Quando or ganizados por r e-levância9, dent r e os cinco pr im eir os ar t igos, t r ês foram publicados no ano de 1992

( os dois m ais r elevant es e o quar t o m ais r elevant e) , um em 2005 e um em 2008. O pr im eir o m ais r elevant e, Religious sit es as t our ism at t r act ions in Eur ope ( NOLAN; NOLAN, 1992 ) , ident ifi ca confl it os de int er esse ent r e per egr inos devot os e t ur ist as secular es na visit ação de t r ês t ipos de at rat ivos: cent r os de devoção; at rat ivos que com binam hist ór ia, ar t e e belezas nat urais; e fest ivais r eligiosos. O segundo ar t igo m ais r elevant e, For m s of r eligious t our ism ( RI NSCHEDE, 1992) , t raz a ideia ( hoj e r e-cor r ent e) de que a per egr inação const it ui a for m a m ais ant iga de t ur ism o no m undo, ou sej a, a m ot ivação r eligiosa na hist ór ia da hum anidade t er ia dado, senão a or igem , ao m enos a im por t ância ao deslocam ent o hoj e inscr it o sob o conceit o de t ur ism o. 8 Reúne os per iódicos int er nacionais vinculados à Edit or a Elsevier e disponibiliza est at íst icas sobr e dow nloads.

(6)

O est udo acom panhou as publicações int ernacionais de t urism o ao longo de 2009 por m eio dos allert s10, colet ando inform ações sobre os est udos de casos e debat es m ais

r ecent es sobr e o cam po int er disciplinar de int er secção ent r e t ur ism o, r eligião, cult ura e desenvolvim ent o t er r it or ial. O único ar t igo publicado nest a t em át ica, em novem br o de 2009, pelo Jour nal of Sust ainable Tour ism , foi o de David Weaw er ( 2010) , I

ndige-nous t our ism st ages and t heir im plicat ions for sust ainabilit y, que est uda a evolução

da r elação ent r e t ur ism o e populações indígenas na Aust r ália, Canadá, Nova Zelândia e Est ados Unidos.

A fam iliar ização com a t em át ica suger e que, para com pr eender a gest ão do t ur ism o em r elação à ident idade cult ural, é necessár io r ecor r er à const r ução de abor dagens int er disciplinar es, unindo geografi a, ant r opologia e gest ão. O viés para est udos sobr e t ur ism o e cat olicism o é not ável. No cenár io int er nacional, a cr escent e im por t ância de est udos sobr e t ur ism o e r eligião cont rast a com a escassez de per spec-t ivas anspec-t r opológicas. O que se ver ifi ca é a m aior ocor r ência de esspec-t udos de m er cado, apont ando que um apr ofundam ent o t eór ico r efl exivo para est e cam po int er disciplinar pode t razer novas luzes para a gest ão do t ur ism o, cult uras e r eligiões.

As Limitações dos Conceitos Existentes:

turismo cultural e turismo religioso

Após a fam iliar ização com as r efl exões que est ão sendo publicadas nest a esfera int er disciplinar, r ealizou- se um a im er são nos conceit os exist ent es na lit erat ura que vinculam t ur ism o e elem ent os da cult ura e r eligiosidade11. Pr et endeu- se ver ifi car em

que m edida são pr oduzidas r espost as sufi cient em ent e explicat ivas para a inquiet ação sobr e o dist anciam ent o ent r e o desenvolvim ent o do t ur ism o e a afi r m ação das iden-t idades culiden-t urais r eligiosas pr eseniden-t es no iden-t er r iiden-t ór io.

Um prim eiro conceit o m uit o m obilizado para os est udos na int erface ent re t u-rism o e cult ura é o de t uu-rism o cult ural. Esse conceit o vem ganhando densidade nos últ im os anos ( PHI LLI PS; STEI NER, 1999; MCKERSHER; DUCROSS, 2002; SI LVEI RA, 2003; FABARÉ, 2005; SENTÍ AS, 2006; ANDRÉ, 2006) . O conceit o de t ur ism o cult ural sur giu da t ent at iva de or ganizar o fenôm eno t ur íst ico a par t ir de t ipologias. Já na década de 1970, o t ur ism o cult ural, ao lado do t ur ism o ét nico, r ecr eacional, am bien-t al e hisbien-t ór ico, sur ge com o um a das classifi cações do bien-t ur ism o por bien-t ipo de lazer. Em seguida, o conceit o de t ur ism o cult ural foi sist em at izado por Sm it h ( 1992, p. 18) com o: “ t ur ism o cuj a m ot ivação valor iza o pit or esco e os est ilos de vida t radicionais”, paut ado na cur iosidade por países, gent es e lugar es exót icos”. Nos últ im os 30 anos, criaram - se inúm eros conceit os para o t urism o cult ural am parados na percepção de que em alguns dest inos t ur íst icos a viagem era m ot ivada pela busca de algo considerado cult uralm ent e difer ent e, ainda que não se soubesse explicar o que é difer ent e e o que é igual, e a par t ir de qual olhar ou nar rat iva12.

Com o t em po, discussões m ais consist ent es sobr e o binôm io t ur ism o e cult ura ocorreram quando foram agregados os inst rum ent os analít icos da ant ropologia ( BURNS, 2002) . Buscava- se ent ender a cult ura em r elação à dinâm ica do t ur ism o par t indo da prem issa de que o t urism o é um conj unt o global de at ividades que prom ove o encont ro de m uit as cult uras, e exigir ia um conhecim ent o m ais pr ofundo sobr e as consequên-cias da int eração das sociedades que geram e r ecebem t ur ist as ( SENTÍ AS, 2006) . As cont r ibuições da ant r opologia se deram , especialm ent e, at ravés do m ét odo et nogr á-fi co, dos m odelos de com pr eensão da acult uração, bem com o da explicit ação da ideia

10 Os aller t s são m ecanism os que per m it em o acom panham ent o de novas publicações por cor r eio elet r ônico.

(7)

de que o t ur ism o é apenas um dos elem ent os na m udança const ant e da cult ura. A cult ura é um a dinâm ica e est á sem pr e em t ransfor m ação. No est udo ant r opológico do t ur ism o, em er gem quat r o t em as im por t ant es: o paradoxo local/ global; t ur ism o e r it ual; t ur ism o com o avent ura m it ológica; t ur ism o e m udança social ( BURNS, 2002) . Os est udos de t ur ism o cult ural se dividiram , cada vez m ais, ent r e um a ver t ent e que enfoca o m er cado e out ra que enfoca o discur so, a cult ura e as r epr esent ações sim bólicas. Na últ im a década, as abor dagens cr ít icas da ant r opologia adquir iram r elevância envolvendo no est udo do t ur ism o quest ões de poder, desigualdade e pr o-cessos de desenvolvim ent o t er r it or ial ( BURNS, 2002) . Nessas dinâm icas t er r it or iais, r essalt a- se a im por t ância das ident idades e da diver sidade cult ural. I st o apont a que a per spect iva da geografi a hum anist a cult ural foi convocada para a discussão de t ur is-m o cult ural, fat o que havia sido const at ado na r evisão inicial. Bianchi ( 2009) suger e que a valor ização da cult ura no âm bit o dos est udos do t ur ism o est á se confi gurando com o um a disciplina pr ópr ia, exigindo a r efor m ulação de bases conceit uais e em it indo novos olhar es sobr e os cam pos sim bólicos e vivenciais do t ur ism o ( BI ANCHI , 2009) . Tal pr ocesso ocor r e, especialm ent e, nas r efl exões sobr e gest ão do t ur ism o e cult ura, que passam a fundam ent ar- se no ent endim ent o de que o t ur ism o não é um a at ividade aleat ór ia, m as ao cont r ár io, é um a est rat égia de desenvolvim ent o t er r it or ial e, por t ant o, pode ser planej ado a par t ir do for t alecim ent o dos vínculos de ident ida-de. Por out r o lado, pode gerar pr ofundos pr ocessos de descaract er ização da cult ura no t er r it ór io, e r esult ar na t ransfor m ação ou aniquilação das ident idades cult urais ( SENTÍ AS, 2006) . A cult ura, ent endida com o um fenôm eno em perm anent e t ransform a-ção, não se r eduz às suas expr essões ar quit et ônicas, folclór icas, ou fi xas nos m useus. Além das r efer ências m at er iais, cada indivíduo é por t ador de um sist em a cult ural em t ransfor m ação, est r ut urado pelos valor es cult urais ( CLAVAL, 1999; GEERTZ 1989) . Tais valor es est ão m ais ancorados na r elação que o indivíduo t em com os out r os do que na sua r elação com o am bient e nat ural físico. A celebração de r it os faz com que o indivíduo r efl it a sobr e valor es que par t ilha com os out r os e sobr e aquilo que o gr u-po j ulga com o t em as de ident idade cent rais. A cult ura é um pr ocesso dinâm ico que, por m eio dos cont at os est abelecidos ent r e sociedades, sofr e adapt ações ao longo do t em po e no nível colet ivo de valor es cult urais ( SENTÍ AS, 2006) .

Quando um a det er m inada com unidade que vive em um t er r it ór io ár ido decide que o sist em a de divisão da água, um bem escasso, deve ser igualit ár io, e não pr opor-cional ao papel hier ár quico de cada indivíduo no gr upo, ent ão, o valor da pr eser vação da colet ividade ( t odos sofr em com a escassez da água em igual m edida) é m aior do que da pr eser vação da individualidade ( alguns sofr em m ais e out r os m enos) . Quando essa com unidade fest ej a em conj unt o a chegada da época da chuva, t al event o reaviva a im por t ância do valor da colet ividade. Ver ifi ca- se, nesse m om ent o, um m ecanism o de for t alecim ent o dos valor es ident it ár ios daquele gr upo13. Trat a- se de um pr ocesso

de inst it ucionalização dos valor es cult urais no nível individual e colet ivo.

Quando os indivíduos prat icam t ur ism o e visit am t er r it ór ios confor m ados em cont ext os hist órico- sociais diferent es dos seus, confront am sua const rução individual com novas r ealidades que são obser vadas e ex per im ent adas, r em odelando suas const r uções indiv iduais. Nest e confr ont o, aquilo que é difer ent e/ desconhecido é per cebido com m ais facilidade do que t udo aquilo que j á é conhecido. As per cepções fi cam m ais at ent as ao ‘exót ico’14. Dent r e os elem ent os de difer enciação, incluem - se

aqueles relat ivos à religiosidade present e em cada t errit ório. Essa percepção ( selet iva) é at ent a t ant o a elem ent os m at er iais ( ar quit et ura, alim ent os, decorações de fest ej os, vest im ent as, cerâm icas, inst rum ent os m usicais, ut ensílios cot idianos) com o im at eriais ( com por t am ent o, valor es, for m as de se expr essar, m úsicas, j eit os de ser, de andar, de com er, de nar rar hist ór ias) .

Assim , o papel dos rit os seria o de fort alecer e garant ir a sobrevivência de elem ent os que um det erm inado grupo ent ende com o im port ant es ( GEERTZ, 1989;

13 Exem plo do sist em a de ir r igação por diques e acequias, encont r ado no México e no sudoest e dos Est ados Unidos da Am ér ica ( RODRÍ GUEZ, 2006) .

(8)

ROSENDAHL, 1999) . No caso dos rit uais religiosos, o que se pret ende fort alecer pode ser um m it o narrado no qual reside um a aprendizagem im port ant e para o grupo. I st o incit a refl exões sobre o verdadeiro im pact o da at ividade t uríst ica na t ransform ação do sent ido dos rit uais. Quando o t urism o im pulsiona m odifi cações nesses rit os, est á at ingindo t odo um conj unt o de elem ent os im port ant es para det erm inado grupo, quant o aos m ecanism os de inst it ucionalização da cult ura no t errit ório. Quando um rest aurant e cont rat a um grupo ‘folclórico’ para realizar um a encenação de rit uais t radicionais para t urist as, t ais rit uais são descont ext ualizados, adquirindo um carát er ut ilit ário que não exist ia inicialm ent e, e, port ant o, j á não é m ais o m esm o rit ual. Por out ro lado, a pos-sibilidade de encenação de elem ent os cult urais t radicionais pode incent ivar no grupo o resgat e do signifi cado originário dest e rit ual, algo que j á est ava esquecido no im aginário colet ivo. Qual das duas consequências efet ivam ent e ocorrerá a part ir do t urism o, ist o m erece um a int erpret ação cuidadosa, e cert am ent e se diferencia caso a caso15.

At é ent ão, a com pr eensão que est á se apr esent ando sobr e consolidação e t ransfor m ação cult ural, sobr e cont inuidade e r upt ura, per m it e com pr eender que se o t ur ism o é planej ado para valor izar r it uais cult urais, aquele int er fer e e m odifi ca est es ( j á não são ‘originais’, são sim ulações) . No ent ant o, se o t urism o é planej ado ignorando os elem ent os cult urais no t er r it ór io, o sim ples fat o de pr om over fl uxos de visit ant es que t razem suas pr ópr ias cult uras est á- se cont r ibuindo para a descaract er ização/ int er fer ência nos elem ent os da cult ura local. Por t ant o, se a at ividade t ur íst ica t raz, necessar iam ent e, im plicações para o m ovim ent o que associa cont inuidade e r upt ura na const r ução da cult ura no t er r it ór io, é im por t ant e que essa r elação sej a assum ida, sej a im plicada no planej am ent o do t ur ism o; que est a int er fer ência sej a explicit ada e que per m it a o diálogo ent r e os gr upos envolvidos.

Sobr e a apim ent ada discussão, se o t ur ism o é o ‘vilão’ que descaract er iza a cul-t ura local, ou o ‘her ói’ que pr om ove o r esgacul-t e da culcul-t ura dando novo sencul-t ido a ela em lugar es esquecidos, Wr obel e Long ( 2001) t ecem em sua obra um a per t inent e cr ít ica ao r educionism o que subest im a a capacidade dos gr upos de se fazer em escut ar nos t er r it ór ios onde ocor r e t ur ism o, bem com o de m anifest ar em seus desej os de diálogo, seus int er esses, ou at é sua vont ade de om issão e despr ezo com r elação ao t ur ism o. Esses aut or es enfat izam que, nem vilão, nem her ói, o t ur ism o é apenas m ais um a dent r e as diver sas dinâm icas que vêm t ransfor m ando a cult ura desde que se deram os prim eiros agrupam ent os sociais no t errit ório. Se um a cult ura avivada e reconhecida no t er r it ór io é algo im por t ant e, o é para seus habit ant es, e apenas secundar iam ent e para o t ur ism o, at ividade est a ent endida, pelos aut or es, com o m ais um a for m a de cat alisar int eresses de det erm inados grupos cam ufl ados sob o discurso da preservação cult ural ( WROBEL; LONG, 2001) .

Assim , o t ur ism o ( ent endido com o deslocam ent o hum ano) pr om ove, neces-sar iam ent e, o encont r o de cult uras em um t er r it ór io, afer vent ando a t ransfor m ação cult ural. Considerando que ‘cult uras em diálogo’ est ão im plicadas no fenôm eno do t ur ism o, est e est udo deduz que o conceit o de t ur ism o cult ural é vazio de sent ido - é redundant e. Turism o im plica experim ent ação cult ural. Não exist e t urism o que não sej a cult ural. Poder- s ia im aginar o t ur ism o em t er r it ór ios com t raços cult urais t ão par e-cidos com o t er r it ór io de or igem , que as difer enças cult urais não ser iam o elem ent o de apr endizagem m ais dest acado. No ent ant o, sem pr e há coincidência e int eração de cult uras num det er m inado t er r it ór io por m eio da vivência do t ur ism o.

Mas, ainda que o t er m o t ur ism o cult ural sej a quest ionado nest as r efl exões, o fat o é que a m aior par t e dos est udos sobr e a r elação ent r e t ur ism o e cult ura enfoca t er r it ór ios onde exist e um a r iqueza hist ór ica ar quit et ônica, ou um a m anifest ação r e-ligiosa dit a t radicional. Vai afi r m ando- se a ideia de que cult ura é aquilo que é exót ico, e vão est udando- se apenas os m ecanism os de gest ão daquilo que se convencionou cham ar de t urism o cult ural nesses t errit órios. No ent ant o, a cult ura é dos um elem ent o de dinâm ica social que const it ui os t er r it ór ios, m esm o naqueles em que, por acaso, o t ur ism o cult ural não foi descr it o ou per cebido.

(9)

Parece, ent ão, que o fat o de alguns t errit órios se dest acarem sob o vago conceit o de ‘t ur ism o cult ural’ não é por que est es r et êm algum a par t icular idade ‘cult ural’ ( e são obser vados com o ‘exót icos’) , m as pelo fat o de r econhecer em sua pr ópr ia cult ura, e dom inarem , m ais do que out ros, a art e de afi rm ar est a cult ura para si m esm os, criando a possibilidade de com unicar seus elem ent os cult urais. Ao com unicar sua ident idade cult ural, facilit am a per cepção daquilo que é difer ent e na r elação com ‘o out r o’ - o t ur ist a. Sem a capacidade de r econhecer a pr ópr ia cult ura no t er r it ór io, t am bém ser ia lim it ado o esfor ço de se pensar o t ur ism o em r elação à cult ura, e cr iar inst r um ent os de gest ão do t ur ism o nesses cont ext os cult urais. Assim , r econhecer a cult ura no t er-r it óer-r io é um a at it ude ant eer-r ioer-r ao planej am ent o do t uer-r ism o.

Sobr e a dim ensão r eligiosa da cult ura, os casos de t ur ism o m ais pesquisados no m undo são: o Sant uár io de Lour des, na França; o Cam inho de Sant iago de Com -post ella, na Espanha, Por t ugal e França; a per egr inação a Jer usalém , em I srael; a per egr inação à Meca, na Ar ábia Saudit a, e a escalada do Mont e Kailash no Tibet e ( SOUDEN, 2007) . Com r elação ao t er r it ór io brasileir o, os casos m ais pesquisados são: o Sant uár io de Nossa Senhora de Apar ecida ( SP) ; Pr ocissão do Cír io de Nazar é ( PA) ; Per egr inação de Padr e José de Anchiet a ( ES) ; Lavagem das escadar ias da I gr ej a do Senhor do Bonfi m ( BA) ; Fest a de Bom Jesus dos Navegant es ( BA, ES, MA, RJ) ; Fest a do Divino ( diver sos est ados) ; Ter nos de Reis ( pr incipalm ent e no nor dest e) ; Fest a de Nossa Senhora da Achir opit a ( SP) .

Fica evident e com o os est udos sobr e as at ividades t ur íst icas r elacionadas à r eli-gião t rat am , essencialm ent e, das peregrinações, e, no caso do Brasil, as peregrinações est udadas est ão em grande m aior ia r elacionadas à r eligião cat ólica. Ocor r e que est a não é a única m at r iz r eligiosa no t er r it ór io brasileir o. A ênfase encont rada em um a das m at r izes r eligiosas para operacionalizar conceit os que r elacionam t ur ism o e r eligião vai sinalizando para a possível exist ência de um a sublim inar r elação de poder ent r e as r eligiões. Est a r elação de poder pode ser com pr eendida com o cont ext o no qual ocor r e o t ur ism o. Em out r os cont ext os hist ór icos, t ais r elações de poder ent r e r eligiões j á exist iam , ou sej a, fazem par t e da pr ópr ia const r ução social do país.

Para ilust rar brevem ent e est e pont o, relem bram - se alguns event os. Durant e o período colonial, houve grandes esforços de conversão das populações indígenas nat ivas ao Cat olicism o, com a criação de m issões e em preendim ent os j esuít icos. A prevalência de um a crença religiosa e aniquilam ent o de out ra ret rat a a presença de um a relação de poder que m obilizava inst it uições. Out ro event o é aquele no qual as populações afri-canas t am bém t rouxeram suas religiões t radicionais ent endidas com o pagãs, port ant o proibidas. I st o fom ent ou processos part iculares de sincret ism o para sobrevivência da diversidade religiosa- cult ural que se inst alava no t errit ório. Aqui est á um novo cont ex-t o de poder e, ex-t am bém , de resisex-t ência à im posição de um a crença. Nas narraex-t ivas da hist ória brasileira, as religiões não- cat ólicas foram sem pre perseguidas, m as pouca luz foi lançada, at é ent ão, sobre a relação desses fat os com cont ext os de gest ão pública. Um exem plo é o de Negrão ( 1993) , que j á sinalizava para o caso da proibição de cult os religiosos africanos, com o o caso da suspensão em São Paulo, em 1977, no âm bit o do proj et o m ilit ar nacionalist a, com o um a t ent at iva de m obilizar as m assas populares cont ra os clérigos que não apoiavam o governo vigent e ( NEGRÃO, 1993)16.

Tendo em vist a esses br eves exem plos que r evelam dinâm icas de poder ent r e religiões e suas relações com as est rut uras de gest ão pública, percebe- se que dinâm icas de m iscigenação foram int ensas e o t er r it ór io brasileir o t ransbor da a diver sidade cul-t ural que assim confor m ou- se. Mas o facul-t o de que apenas as m anifescul-t ações do cul-t ur ism o r eligioso cat ólico sej am r econhecidas para est udos acadêm icos pode est ar r evelando que as r elações de poder ent r e as r eligiões ainda sej am m ais pr esent es do que se im agina nos cont ext os de planej am ent o e gest ão pública e privada t am bém do t urism o.

O conceit o m ais r ecor r ent em ent e m obilizado para a com pr eensão do diálogo ent r e gest ão do t ur ism o e a dim ensão r eligiosa da cult ura é o conceit o de t ur ism o r eligioso. O t ur ism o ocor r e valor izando, obser vando, usufr uindo do pat r im ônio r

(10)

gioso, e acaba por im pr im ir novas dinâm icas sociais nest es lugar es. Tur ism o r eligioso foi defi nido com o:

um a for m a de viagem na qual a m ot ivação pr incipal é a r eligiosa, no ent ant o, podem ocor r er out ras m ot ivações, t ais com o a cur iosidade ou int er esse cult ural em com -pr eender as m anifest ações t angíveis e int angíveis de det er m inada cult ura r eligiosa. Tur ism o r eligioso é aquele em pr eendido por pessoas que se deslocam por m ot ivações r eligiosas e/ ou para par t icipação em event os de car át er r eligioso. Com pr eende r om a-r ias, pea-r ega-r inações e visit ações a espaços, fest as, espet áculos e at ividades a-r eligiosas. ( DI AS; SI LVEI RA, 2003, p.17) .

Nesse prim eiro conceit o de t urism o religioso, o fat or que diferencia t al m odalida-de odalida-de out ras for m as odalida-de t ur ism o é a m ot ivação para a viagem , odalida-de cunho r eligioso, sej a pela adesão religiosa, sej a pela curiosidade religiosa. As form as m ais recorrent es pelas quais o t ur ism o r eligioso se m anifest ar ia ser iam , pr incipalm ent e, as per egr inações e par t icipação em event os r eligiosos. Andrade ( 2000) elabora um conceit o de t ur ism o r eligioso m ais am plo e m enos vinculado à m ot ivação r eligiosa:

É o conj unt o de at ividades com ut ilização parcial ou t ot al de equipam ent os e realização de visit as a recept ivos que expressem sent im ent os m íst icos ou suscit em fé, esperança e car idade aos cr ent es ou pessoas vinculadas às r eligiões. ( ANDRADE, 2000, p. 77) .

Nesse segundo conceit o, a m ot ivação da viagem im port a m enos do que o carát er r eligioso m at er ializado nos equipam ent os t ur íst icos. É a m at er ialidade da r eligião que vai desper t ar um sent im ent o de cunho r eligioso nos visit ant es, sej a por que par t ilham da m esm a r eligião consubst anciada no at rat ivo, sej a por que são sensibilizados pela r eligião. Out r o conceit o de t ur ism o r eligioso est a paut ado na sacralidade do lugar :

É um a at ividade t ur íst ica que consist e em r ealizar viagens ( per egr inações) ou est adas em lugar es r eligiosos ( r et ir os espir it uais, at ividades cult urais e lit ur gias r eligiosas) que, para os prat icant es de um a r eligião det er m inada, supõe um fer vor r eligioso por serem lugares sagrados de veneração ou preceit uais segundo sua crença. ( MONTANER; ANTI ACH; ARCARONS, 1998, p. 380) .

Sob t al conceit o fi ca im plícit a a ideia de que o t ur ist a r eligioso fr equent a os espaços r eligiosos de um a r eligião congr uent e com a sua adesão r eligiosa; e o des-locam ent o que ocor r e por cont a dist o é o que caract er izar ia o fenôm eno do t ur ism o r eligioso. Os conceit os de t ur ism o r eligioso var iam pouco quant o ao seu cont eúdo, associando a ideia de lugar sagrado, m obilidade de pessoas e t radução da r eligião em elem ent os m at er iais. A ideia sublim inar é a de que a m ot ivação para o deslocam ent o est á vinculada ao signifi cado r eligioso do dest ino t ur íst ico. Ou sej a, os t ur ist as far iam um a decisão sobr e o dest ino a ser visit ado que est á, fundam ent alm ent e, paut ada no sent im ent o de per t encim ent o a um a det er m inada r eligião, ou na cur iosidade por um a r eligião, e o dest ino visit ado é r epr esent at ivo dessa r eligião.

Em t ais conceit os, fi car ia excluído do fenôm eno do t ur ism o r eligioso o deslo-cam ent o cuj a m ot ivação r eligiosa não é a pr incipal, m as na qual o t er r it ór io visit ado t em signifi cado sagrado para a sociedade que lá vive. É o caso do t ur ism o de aven-t ura ou alpinism o no Him alaia17. O visit ant e escolhe o dest ino pela possibilidade de

r ealizar um a escalada nas m ont anhas m ais alt as, que são t am bém , espaços sagrados para aqueles que par t ilham do budism o. Alpinist as visit ar ão um a sér ie de t em plos budist as, m esm o que est a não t enha sido a m ot ivação da viagem . Com prar ão ban-deir inhas color idas com m ant ras escr it os e am ar rar ão j unt o a t ant as out ras no t opo das m ont anhas, im it ando o com por t am ent o dos m onges que lá vivem . Mas os t ur ist as não são prat icant es do budism o. O conceit o de t ur ism o r eligioso não t raduz esse t ipo deslocam ent o e com por t am ent o hum ano.

Os conceit os de t urism o religioso que se apresent am na lit erat ura at é ent ão, pelo fat o de associar em a ident idade r eligiosa do t ur ist a à m ot ivação do t ur ism o, acabam por lim it ar a capacidade explicat iva do conceit o, pois: 1) par t em do ent endim ent o de que o dest ino visit ado t em signifi cado sagrado pr im or dialm ent e para um a r eligião ( e não diver sas r eligiões, ou sincr et ism os) ; 2) pr essupõem a congr uência da r eligião do

(11)

visit ant e com o lugar visit ado, excluindo do fenôm eno aqueles que visit am t em plos sagrados de r eligiões da qual não par t ilham ; e 3) suas const r uções t eór icas est ão em basadas, em grande m aior ia, na obser vação de fenôm enos t ur íst ico- r eligiosos de cunho cat ólico- cr ist ão, m enospr ezando a pr esença de out ras m at r izes r eligiosas nos t errit órios. O fat o de o t errit ório baiano condensar m uit as m at rizes religiosas, e receber t ur ist as que não pr ocuram o dest ino t ur íst ico m obilizados por um sent im ent o de fé, é um exem plo da lim it ação na operacionalização desses conceit os.

O Ensaio de Novas Concepções para a Gestão do

Turismo em Contextos Culturais e Religiosos

Diant e da im pert inência dos conceit os de t urism o cult ural e t urism o religioso para as refl exões t eóricas aqui present es, desenvolve- se a possibilidade de consolidar o conceit o de t urism o em espaços sagrados. Pret ende- se com t al art ifício desvincular os dois elem ent os: m ot ivação da viagem e caract eríst icas do espaço visit ado. O con-ceit o de espaço sagrado foi desenvolvido, no Brasil, por Rosendahl ainda na década de 1990, nos m arcos do paradigm a hum anist a cult ural, no cam po que se denom inou Nova Geografi a Cult ural18. Qualquer concepção religiosa, segundo Rosendahl ( 2002) , im plica

em um a dist inção ent re o sagrado e o profano. O sagrado relaciona- se com a divindade, e pressupõe a separação e dist inção ent re as experiências que envolvem a divindade daquelas que não a envolvem , o que seria, por conseguint e, o profano. “A experiência do sagrado rem ont a com port am ent os individuais e colet ivos bast ant e rem ot os na hist ória da hum anidade” ( ROSENDAHL, 2002, p. 232) , ao passo que o processo de secularização sem pre est eve present e, fazendo com que os indivíduos vivenciem o m undo sem recorrer às int erpret ações religiosas. O sagrado se refere à “ alquim ia que a sociedade t em que realizar para conservar os sent im ent os colet ivos em int ervalos regulares, reforçando sua unidade e ident idade” ( ROSENDAHL, 2002, p. 232) . A escolha do lugar sagrado se dá pela hierofania, que é a m anifest ação diret a da divindade em pessoas ou obj et os.

I m agina- se que o conceit o de ‘t ur ism o em espaços sagrados’ cont em plar ia al-gum as especifi cidades. Com esse ar t ifício, fi car ia superada a necessár ia ligação ent r e o sent im ent o de per t encim ent o do t ur ist a a um a r eligião, ligação est a pr esent e no conceit o de t ur ism o r eligioso. O t ur ism o em espaços sagrados ser ia aquele prat icado em espaços que são sagrados para det er m inados gr upos que com par t ilham det er-m inada fé e que os habit aer-m . No ent ant o, t ais espaços não ser iaer-m , necessar iaer-m ent e, espaços sagrados para o visit ant e.

Ocor r e que nalgum as sociedades ( r ecor r ent em ent e defi nidas com o ‘t radicio-nais’) a separação ent r e cot idiano e r eligião não exist e. Est e é o caso dos xam anism os indígenas19 e do hinduísm o20. Nest e últ im o caso, um dos fundam ent os r eligiosos é o

de que a r eligião é a vida, e, por t ant o, t odo o espaço é sagrado - a vida é sagrada. A dissociação ent r e sagrado e pr ofano, em bora faça sent ido para algum as ver t ent es r eligiosas, não o faz para t odas. Ou sej a, a dist inção ent r e espaço sagrado e pr ofano, com obj et ivo de est udar a gest ão do t urism o nesses espaços diferenciados, em m uit os casos, ignorar ia r elevant es valor es cult urais dos gr upos sociais nos det er m inados t er-r it óer-r ios com os quais int eer-ragem os t uer-r ist as. A cer-r ít ica ao conceit o de t uer-r ism o er-r eligioso apont ou a necessár ia dissociação da r efer ência de valor de sacralidade, especifi ca-m ent e, na r elação ent r e o t ur ist a ( que se desloca) e o espaço visit ado. No ent ant o,

18 A Nova Geogr afi a Cult ur al é um cam po da geogr afi a que se desenvolveu a par t ir de 1950, subst an-cialm ent e, na Fr ança, e t em ader ência ao par adigm a da geogr afi a hum anist a cult ur al. No Br asil, seu corpo t eórico foi adensado principalm ent e pelos est udos do Depart am ent o de Geografi a da Universidade Est adual do Rio de Janeiro ( UERJ) , cuj as invest igações se cent ram na geografi a da religião. I m port ant es aut or es dest e cam po são: Paul Claval, Zeny Rosendahl e Rober t o Lobat o Cor r êa.

19 Confor m e apr esent ado nos est udos de Par sons ( 1996) e Walt er s ( 1989) . Mont er o ( 2006, p. 249- 251) acr escent a que a dist inção ent r e fat o r eligioso de out r as or dens de fat o é um fenôm eno or iginado no “ cr ist ianism o pr im or dial, que est abeleceu a ver dadeir a fé e o ver dadeir o deus” , obj et ivando a r eligião com o difer ença cult ur al. À m ar gem do event o cr ist ianism o, não exist ir ia o fat o r eligioso com o cat egor ia independent e.

(12)

ist o não se est ende ao conj unt o de indivíduos que at r ibuem sacralidade ao espaço e que est abelecem com est e um sent im ent o de per t encim ent o e um com plexo sist em a de signifi cados no lugar. Tal dissociação não é possível sem a incur são em inúm eras lim it ações e considerações.

Enquant o o conceit o de espaço no cam po da geografi a sem pr e foi elem ent o de debat es que vêm evoluindo à luz de diver sos paradigm as21, o for t alecim ent o das per

s-pect ivas crít icas im pulsionaram e fort aleceram o conceit o de t errit ório. Em piricam ent e, ident ifi cavam - se novas form as de afi rm ação da diversidade e ident idade de grupos que não poder iam cont inuar sendo ignoradas ( CLAVAL, 1999; RI BEI RO; MI LANI , 2009) . Dent r e m uit as consequências, ist o r esult ou na subst it uição do conceit o de espaço pelo de t er r it ór io, o que envolve poder es disput ados, am eaçados e explorados. I nt egra- se àquela dim ensão nat ural ( espaço) um a out ra de nat ureza sociopolít ica ( com o sist em as de poder e cont r ole) e, t am bém , um a dim ensão cult ural, com o o cont eúdo sim bólico que capt ura a t ot alidade da ident idade de gr upo ( CLAVAL, 1999)22.

Diant e desses esclar ecim ent os, ex per im ent a- se o conceit o de ‘t ur ism o em t er r it ór ios sagrados’. A com pr eensão do t ur ism o a par t ir do t er r it ór io ser ia m uit o apr opr iada por r ecuperar as inquiet ações ant er ior es sobr e a pr evalência dos est udos sobre t urism o religioso de cunho cat ólico no Brasil, deixando im plicado que exist e um a r elação de afi r m ação de poder no t er r it ór io ent r e as diver sas r eligiões pr esent es. Além dist o, t al conceit o aj udar ia a superar as lim it ações dos conceit os de t ur ism o cult ural, t ur ism o r eligioso e t ur ism o em espaços sagrados, as quais foram apr esent adas ant e-r ioe-r m ent e. O conceit o de ‘t ue-r ism o em t ee-r e-r it óe-r ios sage-rados’ im plicae-r ia a ideia de que as r eligiões no t er r it ór io, t am bém , m anifest am r elações de poder ent r e si e por m eio do t ur ism o. Traduzir ia a ideia da sacralidade com o algo per t encent e a um a t ot alidade sociot er r it or ial t em poral e hist or icam ent e cont ext ualizada.

A part ir dessas refl exões, vai confi rm ando- se a possibilidade de t rat ar o fenôm eno do t ur ism o em t er r it ór ios onde ocor r em m anifest ações r eligiosas com o ‘t ur ism o em t er r it ór io sagrado’, ent endendo que as r eligiões m anifest am r elações de poder ent r e si, t ransfor m ando o t er r it ór io. Per m anecer ia, no ent ant o, a quest ão do suj eit o: para quem é sagrado o t er r it ór io onde ocor r e o t ur ism o? O que difer enciar ia a gest ão do t ur ism o no t er r it ór io sagrado, daquela gest ão do t ur ism o no t er r it ór io pr ofano? Essa difer enciação é per t inent e?

Para a superação da subj et ividade im plicada no conceit o de t er r it ór io sagrado ( discut ida ant er ior m ent e) , pr opõe- se que t al subj et ividade não sej a negada, m as sim , envolvida/ im plicada no pr ópr io conceit o. Para esclar ecer esse pont o, t em os o seguint e m ovim ent o r efl exivo: a quest ão inicial, ou sej a, para quem um det er m inado t er r it ór io ser ia considerado sagrado, enquant o para out r o ser ia considerado pr ofano, ser ia subst it uída e superada pela seguint e afi r m ação: t rat a- se de um t er r it ór io onde det er m inado gr upo social que par t ilha de valor es r eligiosos const r uiu um sent ido sagrado. Nesse t er r it ór io, inser e- se a at ividade t ur íst ica. Ou ainda: t rat a- se de um t er r it ór io onde diver sos gr upos const r uíram r elações de sacralidade em um a dinâm ica com plexa ( de afi r m ação, negação e r esist ência) ao longo do t em po, e onde se est a-beleceram dinâm icas de poder.

Esse ent endim ent o fi car á m elhor t raduzido no conceit o ‘t ur ism o em t er r it ór ios

de densidade r eligiosa’ - conceit o que est á sendo pr opost o nest e ensaio t eór ico,

si-nalizando que, nesses t er r it ór ios par t icular es, a sacralidade se m anifest a at ravés de ar t efat os, com por t am ent os e r it uais de m aneira densa. Quando o t ur ist a visit a um

21 Nos m ar cos da geogr afi a t r adicional ( 1850 a 1950) , o espaço foi ent endido com o espaço vit al, base indispensável par a a vida do hom em . Na geogr afi a cr ít ica, o espaço é concebido com o locus da r e-pr odução das r elações sociais de e-pr odução. Na geogr afi a hum aníst ica e cult ur al, o espaço é per cebido com o r efl exo da sociedade que se t r ansfor m a nele. Par a conhecer os pr incipais aut or es ver Cor r êa ( 1995) e Duar t e e Mat ias ( 2005) .

(13)

desses t er r it ór ios, é a est a densidade cult ural r eligiosa que ele acessa, consom e, ain-da que não par t ilhe ain-da r eligião que envolve os gr upos que const it uíram o t er r it ór io, que efet ivam ent e apr opr iaram - se dele. Com o t odos os t er r it ór ios possuem algum a densidade r eligiosa, e alguns se difer enciar iam de out r os pelo fat o da densidade r e-ligiosa se t raduzir de for m a m uit o expr essiva, pr opõe- se um at r ibut o que t raduza t al int ensidade: ‘t ur ism o em t er r it ór ios de grande densidade r eligiosa’.

Defi ne- se o conceit o nos seguint es t er m os: o ‘t ur ism o em t er r it ór ios de grande densidade religiosa’ é um a form a de deslocam ent o t uríst ico no qual, independent em en-t e da m oen-t ivação para viagem , ou da cr ença r eligiosa do en-t ur isen-t a, visien-t am - se en-t er r ien-t ór ios em que a r eligiosidade local per m eia, im pondo- se nas diver sas dim ensões sociais com t al evidência que é im possível que o t ur ist a passe por esses t er r it ór ios sem que ocor ra um a sensibilização, ainda que involunt ár ia, para elem ent os da r eligiosidade local, ou que ocor ra a vivência da ident idade r eligiosa ali pr esent e.

A fi gura abaixo r epr esent a os elem ent os do conceit o ensaiado.

Figu r a 2 - Re pr e se n t a çã o do Con ce it o de Tu r ism o e m Te r r it ór ios de Gr a n de D e n sida de Re ligiosa

Font e: elaboração pr ópr ia

(14)

Considerando que o planej am ent o do t ur ism o paut ado nas cult uras t em a fi na-lidade de ser um m ecanism o com pot encial para dinam izar o desenvolvim ent o local, deve incor porar o obj et ivo de for t alecer e r espeit ar os vínculos de ident idade no t er-r it óer-r io. Essa ideia sublim inaer-r deve est aer-r sem per-r e per-r esent e no conceit o de ‘t uer-r ism o em t er r it ór ios de grande densidade r eligiosa’, j á que as r eligiões int egram as ident idades de gr upos. Mas, é convenient e im plicar ainda a ideia de que o t ur ism o, t am bém , se desenvolve a part ir da valorização das ident idades cult urais nos t errit órios. O m ecanis-m o se fort alece ao fort alecer seu cont ext o: ident idades cult urais e as out ras dinâecanis-m icas locais ( inclusive de t r ocas econôm icas) .

Por dedução t eór ica, o desenvolvim ent o do t ur ism o em t er r it ór ios de grande densidade r eligiosa est á r elacionado à habilidade que suas inst it uições de gest ão t êm para capt urar as form as de expressão das ident idades religiosas, que foram m odeladas na t raj et ór ia hist ór ica por m eio de dinâm icas de afi r m ação de poder, e apr esent á- las para o visit ant e.

Por t ant o, a gest ão do t ur ism o em t er r it ór ios de grande densidade r eligiosa se-r ia: a ase-r t e de se-r econhecese-r a densidade se-r eligiosa no t ese-r se-r it óse-r io e de est abelecese-r diálogo com os diver sos gr upos, defi nindo e explicit ando pact os de int er esse na afi r m ação da r eligiosidade; ar t e est a que r ecor r e ao t ur ism o com o um m ecanism o para pr om over a apr endizagem sobr e a diver sidade r eligiosa para t odos os indivíduos em int eração no t er r it ór io, inclusive t ur ist as.

(15)

Figu r a 3 - Ge st ã o pa r a o D e se n v olv im e n t o do Tu r ism o e m Te r r it ór ios de Gr a n de D e n sida de Re ligiosa

Font e: elaboração pr ópr ia

Considerações Finais

Est e ensaio t eór ico foi r ealizado para discut ir a gest ão do t ur ism o em r elação à diver sidade cult ural r eligiosa nos t er r it ór ios. Ent ende- se que o t ur ism o, em m uit os casos, pode ser planej ado de form a desvinculada da presença das cult uras locais. Esse fat o, além de não ser not ado, supost am ent e, ocor r er ia devido a um a lacuna t eór ica e conceit ual a ser supr ida. Diant e de t al lacuna, o pr esent e ensaio t eve o obj et ivo de desvendar lim it ações sit uadas nos conceit os at é ent ão disponíveis: t ur ism o cult ural e t ur ism o r eligioso. Det endo foco nas r efl exões t eór icas, evidenciou- se que o conceit o de t ur ism o cult ural é desconfor t ável por que, a par t ir da per spect iva de um a t ot ali-dade t er r it or ial, não exist ira a possibiliali-dade do t ur ism o não pr om over cont at o ent r e cult uras. No caso do conceit o de t ur ism o r eligioso, o fat o de im plicar a necessár ia ligação ent r e a m ot ivação para o deslocam ent o e o valor de sacralidade no t er r it ór io visit ado, lim it a seu pot encial explicat ivo. Para t ant o, ensaiou- se a const r ução de um novo conceit o, m ais apr opr iado para enfat izar r elações de poder e int er esses de gr u-pos de pr eser vação da ident idade cult ural no pr ocesso de planej am ent o do t ur ism o, e que r espondesse, de m aneira sat isfat ór ia, à diver sidade de r eligiões pr esent es e em int eração nos t er r it ór ios.

(16)

elem ent os do t er r it ór io são r essalt ados, com o o necessár io diálogo inst it ucional ent r e organism os de gest ão do t urism o e organism os de preservação cult ural, com obj et ivos de pact uar int er esses. Apenas em seguida, é possível facilit ar a apr endizagem sobr e diver sidade at ravés da vivência t ur íst ica. Dest aca- se que a t ransfor m ação cult ural que ocor r e com o consequência do t ur ism o m er ece ser não apenas considerada, m as explicit ada no pr ocesso de planej am ent o, o que pr opor cionar ia um a m elhor ponde-ração sobr e aquilo que é favor ável ou não para os difer ent es gr upos int er essados na afi r m ação da ident idade, e, enfi m , com o o t ur ism o desenvolve t er r it ór ios. Finaliza-- se est e ensaio com a expect at iva de que fut ur os est udos de caso possam aj udar a aper feiçoar o conceit o que foi desenvolvido nest a r efl exão t eór ica. Espera- se que t ais est udos aj udem a const r uir cr it ér ios de análise e com pr eensão dos t er r it ór ios de grande densidade r eligiosa, per m it indo r esponder com o a densidade r eligiosa é con-sum ida pelo t ur ist a, e, para t ant o, aj udem a com pr eender com o o t ur ist a per cebe e vivencia a densidade r eligiosa no t er r it ór io, e quais as r elações com o r econhecim ent o e a pr eser vação da diver sidade cult ural r eligiosa.

Referências

ANDRADE, J. V. Tur ism o fundam ent os e dim ensões. São Paulo: Át ica, 2000.

ANDRÉ, M. Polít icas locales de dinam ización t uríst ica y grandes at ract ivos cult urales: el caso de Figueres. I n: SENTÍ AS, J.F. Casos de t urism o cult ural: de la planifi cación est rat égica a la gest ión del product o. Barcelona: Ariel, 2006. p. 269- 277.

BI ANCHI , R. Cr it ical t ur n in t our ism st udies: a radical cr it ique. Tour ism

Geogr aphies, v. 11, p. 427- 443, nov. 2009.

BURNS, P. Tur ism o nas r elações locais- globais: o t ur ism o gera desenvolvim ent o? I n:

Tur ism o e ant r opologia: um a int r odução. São Paulo: Chr onos, 2002. p. 95- 108.

CASTRI OTA, L.B. Pat r im ônio cult ur al: conceit os, polít icas, inst r um ent os. São Paulo: Anablum e, 2009.

CASTRO, A.M. Car act er ização dos im pact os pr ovocados pelo t ur ism o na paisagem

ur bana do cent r o hist ór ico de São Luiz do Par ait inga - SP, ent r e 2002 e 2007.

2008. 154 f. Disser t ação ( Mest rado Pr ofi ssionalizant e em Ciências Am bient ais) - Univer sidade de Taubat é, Taubat é, 2008.

CENTRO DE ESTUDOS AFRO- ORI ENTAI S DA UNI VERSI DADE FEDERAL DA BAHI A. Disponível em : < ht t p: / / w w w.t er r eir os.ceao.ufba.br > . Acesso em : 01 j ul. 2012. CLAVAL, P.A. Geografi a cult ural: est ado da ar t e. I n: ROSENDAHL, Z.; CORRÊA, R.L. ( Or g.) . Manifest ações da cult ur a no espaço. Rio de Janeir o: EdUERJ, 1999. p. 191- 218.

CORRÊA, R.L. Espaço, um conceit o- chave da geografi a. I n: CASTRO, I .E. et al.

Geogr afi a: conceit os e t em as. Rio de Janeir o: Ber t rand Brasil, 1995. p. 85- 111.

DI AS, R.; SI LVEI RA, E. Turism o religioso: ensaios e refl exões. Cam pinas: Alínea, 2003. DUARTE, M.B.; MATI AS, V.S. Refl exões sobr e o espaço geogr áfi co a par t ir da fenom enologia. Cam inhos de Geogr afi a. on- line, v. 17, n. 16, p. 190- 196, 2005. Disponível em : < ht t p: / / w w w.ig.ufu.br / r evist a/ volum e16/ ar t igo17_vol16.pdf> . Acesso em : 01 out . 2009.

FABARÉ. J.C.M. Tur ism o cult ur al: m anual del gest or de pat r im ônio. Bar celona: Edit or ial Alm uzara, 2005.

(17)

GEERTZ, C. A int er pr et ação das cult ur as. Rio de Janeir o, LTC, 1989. GI BBONS, D. Cr oyances et r eligions du m onde: qui cr oit quoi? où? quand?com m ent ? Par is: Acr opole, 2007.

GI UMBELLI , E. A pr esença do r eligioso no espaço público: m odalidades no Brasil.

Religião e Sociedade, Rio de Janeir o, v. 28 , n. 2 , p. 80- 101, 2008.

HAESBAERT, R. Concepções de t er r it ór io e para ent ender a dest er r it or ialização. I n: SANTOS et al. Ter r it ór io, t er r it ór ios: ensaios sobr e o or denam ent o t er r it or ial. 3. ed. Rio de Janeir o: Lam par ina, 2007. p. 43- 70.

I SAI A, A.C. Huxley sobe o m or r o e desce ao infer no: a Um banda no discur so cat ólico dos anos 50. Revist a I m aginár io, v. 98, n. 4, p. 28- 42, 1998. Disponível em : < ht t p: / / w w w.cieaa.ueg.br / public/ upload/ huxley- sobe- m or r o.pdf> . Acesso em : 25 j un. 2012.

JENSEN, T.G. Discur sos sobr e as r eligiões afr o- brasileiras: da desafr icanização para a r eafr icanização. Revist a de Est udos da Religião, n. 1, p, 1- 21, 2001. Disponível em : < ht t p: / / w w w.diaadiaeducacao.pr.gov.br / diaadia/ diadia/ ar quivos/ File/ cont eudo/ ar t igos_t eses/ ENSI NORELI GI OSO/ ar t igos/ discur sos_r eligioes_afr o.pdf> . Acesso em : 20 j ul. 2012.

JESUS, D. L. A t r ansfor m ação da r eser va indígena de Dour ados- MS em t er r it ór io

t ur íst ico: valor ização sócio- econôm ica e cult ural. 2004. 172 f. Disser t ação

( Mest rado em Geografi a) - Univer sidade Federal do Mat o Gr osso do Sul, Aquidauana, 2004.

JUNG, C.G. Psicologia e r eligião or ient al. Pet r ópolis: Vozes, 2009.

LACERDA, M.A. As per spect ivas de desenvolvim ent o local ent r e os Ter ena, na aldeia

ur bana Mar çal de Souza, em Cam po Gr ande- MS, at r avés do et not ur ism o. 2004.

151 f. Disser t ação ( Mest rado em Desenvolvim ent o Local) - Univer sidade Cat ólica Dom Bosco, Cuiabá, 2004.

MAGALHÃES, A.C. Per m anência e r upt ur as na const r ução do espaço em

Candice-CE em função da r om ar ia em hom enagem a São Fr ancisco das Chagas. 2007. 135

f. Disser t ação ( Mest rado em Geografi a) - Univer sidade Federal do Per nam buco, Recife, 2007.

MARI NHO, A.L.S. O sagr ado na t eia das r edes geogr áfi cas do t ur ism o em

Per nam buco: um est udo sobr e o Sant uár io de São Sever ino, Paudalho -

Per nam buco. 2008. 110 f. Disser t ação ( Mest rado em Geografi a) - Univer sidade Federal do Per nam buco, Recife, 2008.

MCKERSHER, B.; DUCROSS, H. Cult ur al t our ism : t he par t ner ship bet w een t our ism and cult ural her it age m anagem ent . New Yor k: Haw or t h, 2002.

MI NI STÉRI O DO TURI SMO. Disponível em : < w w w.t ur ism o.gov.br > Acesso em : 10 fev. 2011.

MONTANER, J.; ANTI ACH, J.; ARCARONS, R. Diccionár io de Tur ism o. Madr id: Sínt esis, 1998.

MONTERO, P. Religião, m oder nidade e cult ura. I n: TEI XEI RA, F.; MENEZES, R. As

r eligiões no Br asil: cont inuidades e r upt uras. Pet r ópolis: Vozes, 2006. p. 249- 251.

NEGRÃO, L. N. Um banda e quest ão m or al: for m ação e at ualidade no cam po um bandist a em São Paulo. 1993. Tese ( Dout orado) - Univer sidade de São Paulo, São Paulo,1993.

NOLAN, M.; NOLAN S. Religious sit es as t our ism at t ract ions in Eur ope. Annals of

Tour ism Resear ch, v. 19, n. 1, p 68- 78, 1992.

(18)

Tocant ins ( Am azônia Legal Brasileira) . 2007. 187 f. Tese ( Dout orado em Geografi a Hum ana) - Univer sidade de São Paulo, São Paulo, 2007.

PARSONS, E. C. Pueblo indian r eligion. Chicago: Bison Books, 1996.

PHI LLI PS, R.; STEI NER, C. Unpacking cult ur e: ar t and com m odit y in colonial and post colonial w or lds. Ber keley: Univer sit y of Califor nia Pr ess, 1999.

PI NTO, A.G. O Tur ism o r eligioso em Apar ecida ( SP) : aspect os hist ór icos, ur banos e o perfi l dos r om eir os. 2006. 97 f. Disser t ação ( Mest rado em Geografi a) - Univer sidade Est adual Paulist a Julio Mesquit a Filho, Rio Clar o, 2006. RI BEI RO, M.T.F.; MI LANI , C.R. ( Or g.) . Com pr eendendo a com plexidade

socioespacial cont em por ânea: o t er r it ór io com o cat egor ia de diálogo int er disciplinar.

Salvador : EDUFBA, 2009.

RI NSCHEDE, G. For m s of r eligious t our ism . Annals of Tour ism Resear ch.1992. Vol. 19, issue 1, p. 51- 67.

RODRÍ GUEZ, S. Acequia: wat er shar ing, sanct it y and place. Sant a Fe: School for Advanced Resear ch Pr ess, 2006.

ROSENDAHL, Z. Espaço e r eligião: um a abor dagem geogr áfi ca. Rio de Janeir o: Ed. UERJ, 2002.

_______. O espaço, o sagrado e o pr ofano. I n: ROSENDAHL, Z.; CORRÊA, R.L.

Manifest ações da cult ur a no espaço. Rio de Janeir o: Ed. UERJ, 1999. p. 231- 243.

SALVATUR. Secr et ar ia de Tur ism o do Est ado da Bahia. Disponível em : < ht t p: / / w w w. t ur ism o.salvador.ba.gov.br > . Acesso em : 20 j an. 2010,

SANTOS, A.D. O Tur ism o hist ór ico, ar t íst ico, r eligioso e cult ur al na cidade de Olinda

com o desenvolvim ent o local. 2006. 120 f. Disser t ação ( Mest rado Pr ofi ssionalizant e

em Gest ão Pública para o Desenvolvim ent o do Nor dest e) - Univer sidade Federal de Per nam buco, Recife, 2006.

SENTÍ AS, J. F. Casos de t ur ism o cult ur al: de la planicación est rat égica a la gest ión del pr oduct o. Bar celona: Ar iel, 2006.

SI LVEI RA, E. Tur ism o r eligioso, m er cado e pós- m oder nidade. I n: DI AS, R.;

_______. Tur ism o r eligioso: ensaios e r efl exões. Cam pinas: Alínea, 2003. p. 42- 59. SMI TH, V. Anfi t r iones e invit ados: ant r opología del t ur ism o. Madr id: Endym ion, 1992.

SOUDEN, D. Pelos cam inhos da fé: vint e j or nadas para inspirar a alm a. São Paulo: Rosar i, 2007.

WALTERS, A.L. The spir it of Nat ive Am er ica: beaut y and m yst icism in am er ican indian ar t . Vancouver : Chr onicle Books, 1989.

WROBEL, D.; LONG, P. Seeing and being seen: t our ism in t he Am er ican West . Kansas: Univer sit y Pr ess, 2001.

Ar t igo r e ce bido e m 1 4 / 1 2 / 2 0 1 0 .

Últ im a v e r sã o r e ce bida e m 0 1 / 0 3 / 2 0 1 2 .

Imagem

Figu r a  1  -  M a pa  dos Te r r e ir os de  Ca n dom blé  e m  Sa lv a dor
Figu r a  2  -  Re pr e se n t a çã o do Con ce it o de  Tu r ism o e m  Te r r it ór ios de  Gr a n de  D e n sida de  Re ligiosa
Figu r a  3  -  Ge st ã o pa r a  o D e se n v olv im e n t o do Tu r ism o e m   Te r r it ór ios de  Gr a n de  D e n sida de  Re ligiosa

Referências

Documentos relacionados

Fam ília e t ranst ornos alim ent ares: as represent ações dos profissionais de enferm agem de um a inst it uição univ er sit ár ia de at enção à saúde m ent al.. Por t ant o,

os sent im ent os m ais nat urais do hom em e possibilit a um efet ivo dist anciam ent o em relação aos seus sem elhant es. É im port ant e indicarm os t am bém com o Rousseau

Los cat ét er es v enosos cent r ales ( CVC) ut ilizados pr incipalm ent e en unidades de cuidados int ensiv os - UCI s, son im por t ant es fuent es de infección de la cor r ient

Pr edom inam t r at am ent os m edicam ent osos e baix os índices.. de int

Num segundo m ovim ent o t r at am os desses elem ent os, nos t ext os, visando fazê- los difer ir de um a pr im eir a com pr eensão, na busca de significações vár ias (

Per o t am bién es im por t ant e analizar por separ ado las difer ent es m odalidades discur sivas que ex ist en en la r adio, por que cada una t iene unas car act er íst icas

par t icipação no blog fosse colocada em quest ão.. pelo desequilíbr io de par t icipações dos difer ent es pr ofessor es, não. er a j ust ificado pelo seu desint er esse e falt a

O desenvolvim ent o do por t al “ blogueduca” t er á com o obj ect ivos pr incipais: ( i) cr iar um espaço de divulgação e pr om oção da ut ilização educacional dos