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Estresse ocupacional e os valores organizacionais: a percepção dos professores de ensino médio da rede pública de ensino do distrito federal

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Academic year: 2017

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KARLA REJANE CANOVA

ESTRESSE OCUPACIONAL E OS VALORES ORGANIZACIONAIS: A PERCEPÇÃO DOS PROFESSORES DE ENSINO MÉDIO DA REDE PÚBLICA DE

ENSINO DO DISTRITO FEDERAL

Dissertação apresentada ao Programa de Pós - Graduação em Psicologia da Universidade Católica de Brasília para obtenção do título de Mestre em Psicologia

Orientadora: Profª. Drª. Juliana Barreiros Porto

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Ficha elaborada pela Coordenação de Processamento do Acervo do SIBI – UCB C227e Canova, Karla Rejane.

Estresse ocupacional e os valores organizacionais: a percepção dos professores de ensino médio da rede pública de ensino do distrito federal / Karla Rejane Canova. – 2008.

125 f. : il. ; 30 cm.

Dissertação (mestrado) – Universidade Católica de Brasília, 2008. Orientação: Juliana Barreiros Porto.

1. Stress ocupacional. 2. Cultura organizacional. 3. Professores. 4. Ensino Médio. I. Porto, Juliana Barreiros, orient. II. Título.

(3)

Reitor da Universidade Católica de Brasília

Pe. José Romualdo Degasperi

Pró-Reitor de Pós- Graduação e Pesquisa

Prof. Dr. Geraldo Caliman

Diretora do Programa de Mestrado de Psicologia

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(5)

“Por baixo deste aspecto metalizado, porém,

existe um mundo de ilusões, de desejos,

de sentimentos, de paixões, de aspirações

e de frustrações que representam todo o

aspecto motivacional do trabalhador e

que a organização não pode ignorar”.

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AGRADECIMENTOS

Inicialmente a Deus, cuja generosidade concedeu-me saúde física, mental e espiritual no transcurso dessa trajetória.

Ao Prof. Dr. Álvaro Tamayo (in memória), gigante e eterno. Acolheu meu desejo e concedeu a honra de deixar-me aproximar de sua infindável intelectualidade, dando a possibilidade de vislumbrar tantas formas de aprendizado, interpretando meus anseios de construção pelos novos caminhos que assumia. Ao transitar para outra dimensão, deixou um grande vazio, mas a cada lembrança do seu sorriso, da sua característica marcante que foi a humildade e de tantos outros exemplos deixados, retornava a vontade de prosseguir neste trabalho.

A minha mãe, pelo exemplo de mulher forte e batalhadora, que sempre me incentivou a ir, mesmo quando a viagem era para distanciar-se fisicamente dela. Meu eterno amor, presença, respeito e admiração.

A minha família, pela paciência, apoio e cumplicidade, que compreenderam e respeitaram minha distância. Em especial, ao meu filho Marcos, que colaborou muito na coleta e digitação dos instrumentos. Ao meu marido Hilton, eterno companheiro de idas e vindas às Diretorias Regionais de Ensino e grande ouvinte dos desabafos e preocupações que o processo de aprendizagem constante desencadeava. A Gabriela, que com seu jeito baiano de ser, adoçou meus momentos de conflitos.

À Profª. Drª. Juliana Barreiros Porto, por sua forma meiga de ser firme. Pela disponibilidade e atenção sempre. Sua amizade, paciência e compreensão as minhas limitações contribuíram para fazer desse período acadêmico uma grande possibilidade de crescimento e amadurecimento. Pela grande pessoa que é, todo meu carinho, respeito e admiração.

À Cleia, fiel parceira, pela sua positividade e profissionalismo.

(7)

À professora Eliana Moysés Mussi Ferrari, pelo estímulo, crédito em minha capacidade e apoio desde o início. Sua conduta como pessoa e profissional será sempre referência para minhas construções.

Aos colegas professores que tanto amam, se dedicam e lutam por um mundo melhor, na orientação de gerações. Minha eterna reverência. Sem suas colaborações na coleta de dados, este trabalho seria inviável.

À Secretaria de Educação do Distrito Federal - Gestão/2006, representada, à época, pela professora Vandercy e Corinto. Pela liberação autorizada para estudos. À gestão atual que apoiou a concretização deste trabalho.

Ao Milton, presente consultor. Pelo suporte à linguagem estatística.

À Profª. Drª. Maria das Graças Torres da Paz, pela graça com que contagia. Pela positividade da leitura criteriosa e contribuições fundamentais durante toda a caminhada de formação desta etapa.

À Profa. Dra. Claudia Pato que tão prontamente compartilhou seus conhecimentos e seu tempo.

Ao grupo de estudo Tamayo, pela convivência e aprendizado. Pelas experiências e discussões compartilhadas, essenciais à construção de novos saberes. Pelas novas amizades proporcionadas.

(8)

RESUMO

O presente estudo teve como objetivo identificar o poder preditivo dos valores organizacionais sobre o nível de estresse ocupacional entre docentes do ensino médio da rede pública de ensino do Distrito Federal. Utilizou-se a Escala de Estresse no Trabalho e o Inventário de Perfis dos Valores Organizacionais. Participaram da pesquisa 321 professores. A análise fatorial para Estresse apontou para dois fatores: estressores relativos à escola e estressores relativos às políticas da Secretaria de Educação. O escalonamento multidimensional do Inventário de Valores Organizacionais apontou para 5 tipos motivacionais: Ética e Preocupação com a Coletividade; Domínio, Prestígio e Realização; Autonomia e Bem-estar; Conformidade e Tradição. A regressão múltipla sugere que quanto mais o professor percebe valores organizacionais de Autonomia e Bem-estar e Ética e Preocupação com a Coletividade menos ele relata estresse ocupacional. Atividades físicas e licenças médicas, juntamente com os valores organizacionais também apresentaram impacto no estresse ocupacional. Conclui-se que os valores organizacionais influenciam significativamente no estresse ocupacional e que a gestão da cultura organizacional pode melhorar o nível de estresse. Sugestões para pesquisas futuras são apresentadas.

(9)

ABSTRACT

This study sought to determine the organizational values as predictors of the occupational stress level among secondary school teachers of the Federal District schools. The Work Stress Scale and the Organizational Values Profile Inventory were used as tools. 321 teachers participated. The stress factor analysis pointed out two factors and the multidimensional scaling of the Organizational Values Profile Inventory presented 5 motivational types: Ethics and Concern with the Community; Domain, Organizational Prestige and Accomplishment; Autonomy and Employees’ Well-Being; Conformity; and Tradition. The multiple regression implies that the more the teacher is aware of Autonomy and Employees’ Well-Being and Ethics and Concern with the Community organizational values, the less he displays occupational stress. Physical activities and sick leave also presented an impact on occupational stress. In conclusion, organizational values significantly influence occupational stress and organizational culture management may ameliorate the stress levels.

(10)

LISTA DE QUADROS

Quadro 1

Contribuições da disciplina e respectivas variáveis...

22

Quadro 2

Correspondência entre valores organizacionais e

pessoais ...

66

Quadro 3

Perfil da Carreira Magistério Público do Distrito Federal

74

Quadro 4

Perfil da Carreira Assistência à Educação ...

74

Quadro 5

Média de professores por DRE ... 77

Quadro 6

Composição da amostra por DRE ... 78

Quadro 7

Valores Organizacionais e fatores evidenciados no

(11)

LISTA DE FIGURAS

Figura 1

Modelo teórico: relações entre valores de ordem

superior e dimensões bipolares...

60

Figura 2

Dimensões culturais dos valores ... 62

Figura 3

Modelo de relações entre as variáveis da pesquisa ...

72

Figura 4

Mapa do EMD ... 87

Figura 5

Modelo EO 1 ... 93

(12)

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 Registro de publicações entre 1996 a 2007 ...

36

(13)

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Características da amostra...

80

Tabela 2

Resultados da análise fatorial do Estresse Ocupacional...

85

Tabela 3

Análise descritiva do Estresse Ocupacional...

86

Tabela 4

Estatísticas descritivas dos Valores Organizacionais...

89

Tabela 5

Regressão das variáveis demográficas e Valores

Organizacionais sobre o Estresse Ocupacional 1...

90

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO... 15

2 REFERENCIAL TEÓRICO... 19

2.1 Relação Homem, Trabalho, Cultura Organizacional e Saúde.... 19

2.2 Estresse Ocupacional e suas acepções... 21

2.2.1 Estresse Ocupacional e o Comportamento Organizacional ... 21

2.2.2 Referência histórica e conceitual sobre Estresse e Estresse Ocupacional ... 24

2.2.3 Modelos Teóricos sobre o Estresse Ocupacional ... 29

2.2.4 Considerações sobre os Modelos Teóricos do Estresse Ocupacional ... 32

2.2.5 Pesquisas nacionais sobre o Estresse Ocupacional ... 35

2.2.6 Variáveis antecedentes e respostas dos indivíduos aos estressores ... 50

2.3 Valores .... 54

2.3.1 Estudos dos Valores – Breve Panorama Histórico... 54

2.3.2 Valores Humanos ... 58

2.3.3 Valores Organizacionais ... 61

2.3.4 Pesquisas sobre Valores Organizacionais e a Relação Valores e Comportamento Organizacional... 67

3 PROBLEMA, OBJETIVOS E QUESTÕES DE PESQUISA ... 72

4 ORGANIZAÇÃO ESTUDADA – CONTEXTUALIZAÇÃO ... 74

5 MÉTODO ... 76

5.1 Participantes da pesquisa ... 76

5.2 Instrumentos de coleta de dados ... 82

5.2.1 Escala de Estresse no Trabalho – ETT ... 82

5.2.2 Inventário de Perfis de Valores Organizacionais – IPVO ... 82

5.3 Procedimento de coleta de dados ... 83

5.4 Tratamento dos dados ... 83

6 RESULTADOS ... 84

6.1 Descrição da Estrutura das Escalas ... 84

6.1.1 Estresse Ocupacional ... 84

6.1.2 Valores Organizacionais ... 86

6.1.3 Relação entre EO e VO ... 89

(15)

8 CONCLUSÃO ... 101

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 104

ANEXO A... 114

ANEXO B... 119

APÊNDICE A ... 123

APÊNDICE B ... 124

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1 INTRODUÇÃO

O estresse tem sido considerado um tema em evidência dos tempos atuais, pois tem produzido efeitos negativos na saúde das pessoas, sendo inclusive assunto de relevância da Organização Mundial da Saúde.

O ser humano dedica grande parte do seu tempo ao trabalho e este se converte em uma área central na vida dos indivíduos. Essa centralidade traz conseqüências paradoxais para a integridade física, psíquica e social dos trabalhadores (MENDES; CRUZ, 2004), pois na proporção que nos contextos organizacionais, o trabalho pode proporcionar muitas realizações, pode também ser um elemento de contração de problemas ao desencadear prejuízos à saúde do trabalhador, como no caso do estresse ocupacional. Neste sentido, há indícios de que um estado prolongado de estresse interfere no bem-estar psicológico e na qualidade de vida das pessoas (KAPLAN, 1995; LIPP, 1997).

Dessa forma, fatores presentes no local de trabalho que possam ser fontes de adoecimentos físicos e psicológicos têm recebido atenção especial de muitos pesquisadores que investigam elementos associados ao fenômeno do estresse ocupacional. Os resultados das pesquisas contribuem para a orientação de ações preventivas e a redução de estresse nas organizações (AREIAS; GUIMARÃES, 2004; LIPP, 1997; LIPP; TANGANELLI, 2000; MACHADO, 1996; MURTA; TROCCOLI, 2004; MURTA; LAROS; TROCCOLI, 2007; PAIVA; SARAIVA, 2005; PASCHOAL, 2003; PINHEIRO; GÜNTHER, 2002; STACCIARINI, 1999; TAMAYO, 2001; TAMAYO et al., 2002).

A Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal é considerada a maior empresa pública empregadora do Centro-Oeste. Segundo site oficial do Governo do Distrito Federal, ela retém 50, 74% do total de ativos de todos os órgãos públicos do Distrito Federal. São, aproximadamente, 41.359 servidores distribuídos na Carreira Magistério e Carreira Assistência à Educação. Há cerca de 30 mil 142 professores ativos, sendo que destes, 21 mil 671 encontram-se em regência de classe distribuídos nas seguintes etapas de ensino: Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio. Os demais professores encontram-se em funções técnico-pedagógicas-administrativas.

(17)

do Distrito Federal, gerado por diversas doenças, dentre as quais encontram-se as ocupacionais, principalmente o estresse ocupacional.

Não há dados estatísticos que possam servir como referência concreta para uma análise mais minuciosa do problema, fato esse que pode estar ancorado na carência de profissionais qualificados, aptos a investigarem fenômenos associados a esse quadro endêmico ou simplesmente por falta de políticas públicas que proporcionem ações específicas de intervenções para dirimir a questão existente. Porém, apesar da falta de informação institucional gerada por esta inexistência de dados concretos, os problemas estruturais no setor educacional são visíveis e retratados constantemente no cotidiano da sociedade.

Informações noticiadas pelos veículos de comunicação local, em agosto de 2007, relataram sobre a falta de professores que a Secretaria de Educação vem enfrentando, por conta do elevado número de profissionais com atestados médicos. São aproximadamente 300 atestados semanais, os quais retratam o tamanho do problema. Entre março e junho de 2007, 1.118 docentes ficaram fora da escola por pelo menos vinte dias.

Assim, dentre os problemas existentes, investigar o estresse ocupacional é imprescindível, bem como variáveis que podem estar associadas ao seu surgimento, pois este fenômeno interfere negativamente no desenvolvimento das atividades pedagógicas, uma vez estar atrelado às condições de saúde dos educadores, ao impacto negativo que causa no seu bem-estar.

Outras razões que justificam a importância de pesquisas nessa área recaem no funcionamento da organização como um todo, pois envolvem perdas econômicas, alta rotatividade de profissionais, baixa produtividade, o que pode contribuir para a baixa qualidade de ensino.

A princípio, o estresse do professor, no Brasil, parece estar associado aos baixos salários, à precariedade das condições de trabalho, às atribuições burocráticas desgastantes, ao elevado número de alunos por sala de aula, ao despreparo do professor diante das novas situações e emergências da época, às pressões exercidas pelos pais dos alunos e pela sociedade em geral, à violência instaurada nas escolas, dentre outros elementos (ESTEVE, 1999; CODO, 2004).

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Estudos realizados como o de Peiró (1990), mencionam sobre importantes fontes de estresse relacionadas a alguns fatores organizacionais, mais especificamente ao clima organizacional. Cabe enfatizar que o clima organizacional, para o citado autor é uma manifestação da cultura organizacional. Assim, pode-se concluir que o estresse ocupacional é um construto que está associado à cultura organizacional, sendo este um construto mais complexo e abrangente.

A cultura é utilizada como variável para explicar comportamentos, porém, segundo Tamayo, Lima e Silva (2004), são poucas as pesquisas empíricas que conseguem boa elucidação. Entretanto, do ponto de vista teórico a cultura organizacional é considerada como um dos mais poderosos antecedentes de comportamento. Partindo-se dessa premissa, a cultura tem um grande impacto sobre a vida organizacional, concedendo-lhe significado e direção. Nessa perspectiva, muitos são os fatores culturais organizacionais que são extremamente significativos, possíveis de serem avaliados.

Tamayo et al. (2004) relatam que há várias formas de se estudar a relação da cultura com reações e comportamentos das pessoas dentro de contextos organizacionais. A forma mais modesta é verificar o impacto de fatores isolados da cultura organizacional sobre o comportamento. Dentre os fatores culturais existentes, os valores constituem o núcleo da cultura organizacional.

Esta pesquisa investiga a relação existente entre os valores organizacionais e o estresse ocupacional de professores do Ensino Médio da Rede Pública de Ensino do Distrito Federal. Essa possível relação fundamenta-se na literatura existente que considera os valores dentre os principais elementos de uma organização, aliados aos papéis e às normas sociais. Por serem fundamentais e considerados o núcleo da cultura organizacional, os valores norteiam o funcionamento das organizações e exprimem crenças básicas, reproduzindo a filosofia do ambiente de trabalho. Assim, valores específicos à vida organizacional são denominados valores organizacionais e exercem grande influência sobre o ambiente organizacional, porque são compartilhados pela maioria dos membros que nela atuam. Eles regem direções comuns aos empregados e orientam comportamentos diários (TAMAYO et al., 2004). Dentro dessa perspectiva, os valores organizacionais são percepções compartilhadas pelos membros da mesma organização e expressam crenças compartilhadas.

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seleção, isto é, enfrentarem o vestibular ou atuarem no mercado de trabalho. Por conseqüência, os profissionais responsáveis por essa educação formal são constantemente cobrados a atender às demandas dessas expectativas e convivem sob constante pressão social.

O presente trabalho de pesquisa encontra-se organizado em oito capítulos. O primeiro, contempla a relação homem, trabalho, cultura organizacional e saúde. Logo, mergulha mais profundamente no referencial teórico sobre o “Estresse Ocupacional e suas acepções”, citando algumas definições sobre o Comportamento Organizacional (CO), uma vez que o construto Estresse Ocupacional é categoria relevante desse campo. Após, evidencia algumas concepções fundamentais sobre o Estresse Ocupacional, com referência histórica e conceitual sobre esta variável. Modelos explicativos e aspectos freqüentemente associados ao fenômeno são apresentados. Posteriormente, apresenta-se a revisão de pesquisas empíricas que contemplam o assunto em foco, publicadas em periódicos científicos nacionais na área de Psicologia e Administração entre 1996 a 2007. Este recorte de estudo é justificado por um trabalho de pesquisa elaborado em 2004, por esta mestranda, o qual estimulou o início desta pesquisa e continuidade de trabalho. Desse modo, com o levantamento atualizado, relata-se os procedimentos metodológicos utilizados e análise das pesquisas empíricas, abordando-se também os resultados obtidos, visando proporcionar um momento de reflexão e análise sobre o contexto nacional da pesquisa brasileira na última década. Na seqüência, faz-se breve citação sobre os antecedentes do estresse ocupacional, seguido de respostas dos indivíduos aos estressores, finalizando, esta parte, com algumas considerações.

Na seqüência, é apresentada a variável independente da pesquisa - Valores Organizacionais. Este tópico é retratado por um breve panorama histórico sobre o estudo dos valores. Após, apresenta-se o suporte teórico utilizado no estudo dos valores organizacionais, sua estrutura e as pesquisas realizadas nessa área.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Relação homem, trabalho, cultura organizacional e saúde

Muitos estudos científicos vêm se preocupando em aprofundar sobre a temática felicidade, consolidando-se talvez, como uma nova perspectiva nas pesquisas do comportamento humano neste século. Compreender tão pretensa felicidade não é tarefa simples, uma vez que seu conceito está associado à realização do potencial humano e ao grau de funcionamento individual (TAMAYO et al., 2004). Partindo-se desse conceito amplo e bastante complexo, pode-se afirmar que a felicidade é constituída por diversas vias de acessos e não sob a ótica de uma única dimensão. Ela é fruto de construções pessoais, desencadeadas pelas diversas atividades que o ser humano participa. Dentre tais atividades e segundo a concepção de Tamayo (2004), o tempo consagrado ao trabalho, por figurar como uma das maiores dimensões significativas da vida das pessoas, é um componente fundamental para a construção e o desenvolvimento do bem-estar pessoal e da felicidade.

O significado do trabalho na existência humana não reside apenas no fato relativo ao tempo que as pessoas se dedicam a ele, mas fundamentalmente a sua significação psicossocial. Pelo trabalho, o homem tem a possibilidade de expressar-se e afirmar-se, gerando situações aceitáveis que possibilitam a realização de metas e projetos pessoais e coletivos, colaborando com a edificação de uma sociedade mais feliz (TAMAYO, 2005).

Numa análise histórica sobre o trabalho, evidencia-se que as atividades laborais promovidas pelo homem têm contribuído sobremaneira para a transformação do mundo, tornando-o mais civilizado e aculturado. Apesar dessa notória conversão, há muito ainda o que se investigar a respeito da saúde do trabalhador, o que lhe causa sofrimento, seu bem-estar, sua felicidade (TAMAYO, 2005).

As ciências sociais vêm preocupando-se atualmente com a relação homem, trabalho e bem-estar. Nessa vertente, apesar de não ser o construto bem-estar, área de análise desse estudo, ao investigar o estresse ocupacional, como um fenômeno que pode inviabilizar ou dificultar a boa qualidade de saúde do trabalhador, tal investigação poderá auxiliar na prevenção de doenças ocupacionais, no desenvolvimento e na construção de um ambiente organizacional mais favorável à realização das pessoas.

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Apesar de esse autor reconhecer explicitamente a incompletude dessa definição, por ser um fenômeno complexo, argumenta enfatizando que sua enunciação aborda somente aspectos que conseguiu mensurar e avaliar mediante pesquisas realizadas.

Posteriormente, Tamayo (2004, p. 13), concebe a cultura como uma espécie de “programação psicossocial do indivíduo. A pessoa recebe da cultura o sentido de quem ela é, de pertença, de como ele deve comportar-se e do que ele deve fazer”. A cultura, para o referido autor, pode ser saudável, fornecer às pessoas ingredientes necessários para a realização das suas atividades, para o desenvolvimento da sua identidade e da sua realização profissional e pessoal. Porém, ela também pode incluir alguns elementos nocivos que amofinam gradativamente o organismo, retirando do trabalhador seu entusiasmo pelo que faz, impossibilitando-o de realizar-se plenamente.

Nessa perspectiva, há uma sólida relação entre cultura organizacional e saúde do trabalhador, pelo fato de que a cultura serve de referência para a promoção ou falta de saúde. Ela pode promover bem-estar ou prejudicar o indivíduo ao produzir sobrecarga de atividades e emoções negativas, as quais poderão transformar-se em doenças como: estresse, ansiedade, esgotamento profissional, distúrbios psicossomáticos, entre outros.

Assim, para compreender-se o intricado universo da vida organizacional é essencial abordar-se sobre a cultura das organizações. Paz e Tamayo (2004, p. 28) consideraram a cultura organizacional como “o jeito de pensar, sentir e agir da organização”. Nessa concepção abordaram um perfil cultural composto por diversos fatores que consideraram fundamentais para a cultura: os valores da organização, o poder organizacional, os jogos políticos, os ritos, os mitos, a justiça organizacional e os estilos de funcionamento organizacional. Dentre esses fatores, esta revisão abordará fundamentalmente o estresse ocupacional e os valores organizacionais. Os valores organizacionais é uma área imbricada na cultura organizacional e que, segundo os autores citados anteriormente, refere-se a fenômenos que orientam a vida da organização e guiam o comportamento dos empregados.

(22)

2.2 Estresse Ocupacional e suas Acepções

2.2.1 Estresse Ocupacional e o Comportamento Organizacional

O comportamento organizacional, desde a década de sessenta, recebeu variadas conceituações e teve passagens marcadas por tentativas direcionadas à definição dos temas que seriam de seu domínio. Ao abarcar sob o seu lastro de interesse dimensões de atividades organizacionais que envolviam o indivíduo, os grupos/equipes de trabalho e a organização como um todo, começou a investigar fatores presentes no ambiente ocupacional que pudessem ser fontes de adoecimentos físicos e psicossociais, bem como as possíveis causas da baixa produtividade do trabalhador. Dadas as perdas humanas e econômicas que são desencadeadas por doenças ocupacionais, nos últimos anos o interesse pelo estudo do estresse ocupacional tem sido crescente. Uma das razões para o aumento de pesquisas nessa área deve-se ao fato do impacto negativo que o estresdeve-se ocupacional causa na saúde e no bem-estar dos empregados e, conseqüentemente, no funcionamento das organizações, ocasionando o aumento do absenteísmo, da rotatividade, a baixa qualidade de serviços e acidentes no local de trabalho.

Algumas concepções e definições sobre comportamento organizacional (CO) serão abordadas, uma vez que estresse ocupacional é categoria relevante deste campo.A opção por pesquisar esta categoria, deveu-se a crescente demanda de problemas percebidos pelas organizações referentes à rotatividade, ao absenteísmo e a baixa produtividade dos trabalhadores, originados, dentre outras causas, por doenças ocupacionais. Portanto, tentar compreender os antecedentes do fenômeno estresse ocupacional, bem como as estratégias que podem ser utilizadas para manejá-lo, poderá ser de valiosa contribuição para as organizações e, acima de tudo, servir para a melhoria da qualidade de vida das pessoas.

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Disciplina Variáveis

• Psicologia Industrial/ Organizacional Satisfação no trabalho e comprometimento organizacional

• Sociologia Cultura e poder nas organizações

• Ciência Política Conflitos e políticas nas

organizações Quadro 1 – Contribuições da disciplina e respectivas variáveis

Fonte: Siqueira, (2002).

A fim de compreender e definir a estruturação do campo do CO é necessário apontar seus eixos norteadores, que sustentam essa nova abordagem: o indivíduo, os grupos/equipes de trabalho e as atividades da organização como um todo.

Wagner III e Hollenbeck (1999) definiram Comportamento Organizacional como “a disciplina que busca prever, explicar, compreender e modificar o comportamento humano no ambiente empresarial”, configurando-a em três níveis de análise: (1) Micro-Organizacional: aspectos psicossociais do indivíduo e as dimensões de sua atuação no contexto organizacional; (2) Meso – Organizacional: questões relativas aos processos de grupos e equipes de trabalho; e (3) Macro-Organizacional: ênfase ao entendimento da organização como um todo.

As transformações freqüentes e significativas nos contextos organizacionais levam a uma adaptação e/ ou modificação urgente dos modelos existentes, diferentemente do que ocorria no passado. Rosseau (1997) aborda as contínuas mudanças deste cenário, chegando a intitulá-lo no momento histórico atual como a era da flexibilidade, enfatizando a importância da cognição individual e organizacional.

(24)

Ao longo desse período, mudanças significativas ocorreram relacionadas à percepção de que os estudos das emoções e dos afetos poderiam ajudar a compreender, por exemplo, o impacto das mudanças de gestão organizacional nos trabalhadores e as diversidades culturais que muitas vezes fazem eclodir rivalidades étnicas e conflitos de papéis. Dito de outro modo, o ambiente externo influencia as emoções, o humor e o afeto do trabalhador, o que pode facilitar ou dificultar o desenvolvimento de um clima propício ao bem-estar no trabalho. A aceleração no ritmo de produção provocada pela introdução de novas tecnologias na organização de trabalho, por exemplo, contribui para a emergência de emoções de ansiedade e estresse, o que coloca em risco a médio e longo prazos tanto a saúde do trabalhador quanto a da própria organização (GONDIM; SIQUEIRA, 2004).

Para melhor delineamento das relações entre condições de trabalho e afetividade, considera-se que condições ambientais de trabalho é o conjunto de variáveis do ambiente que circunda uma pessoa durante a realização de suas atividades, e que tais variáveis podem ser classificadas em: condições físicas (temperatura, ruído, iluminação), condições temporais (horário de trabalho, intervalos de descanso, jornada de trabalho) e condições sociais (relação com colegas e chefia, clima organizacional).

A perspectiva de que as condições de trabalho repercutem sobre a afetividade do trabalhador não é de agora. Essas analogias podiam ser timidamente percebidas nos estudos anteriores à década de 1980, em que se partia da premissa de que as condições de trabalho, relacionadas às características pessoais dos trabalhadores, eram responsáveis pelos resultados relevantes para as organizações (ROSSEAU, 1997).

Acreditava-se que se houvesse melhoria nas condições de trabalho, as atitudes do trabalhador e outros componentes psicossociais poderiam também melhorar e, conseqüentemente, resultariam em maior nível de produtividade e desempenho, menor índice de rotatividade e de faltas e menos acidentes no trabalho.

(25)

Na primeira metade do século passado, várias formulações sobre fenômenos psicossociais tornaram-se fortes marcos teóricos, e sob as quais foram desenvolvidas pesquisas, contribuindo para constituir um abrangente campo de conhecimento sobre satisfação no trabalho, estresse, qualidade de vida, bem-estar, burnout e saúde mental do trabalhador. Investigações sobre estas abordagens, de alguma maneira fazem referência aos seus componentes afetivo-emocionais e estudam as condições de trabalho capazes de gerar impacto sobre eles.

Segundo Gondim e Siqueira (2004), o conhecimento acerca de repercussões das condições de trabalho sobre o trabalhador está sendo reorganizado em dois eixos: um em que se priorizam as influências do ambiente sobre o bem-estar do indivíduo/trabalhador e outro que enfatiza estas mesmas influências sobre a sua saúde. Para as autoras, a literatura que trata de condições de trabalho versus bem-estar do trabalhador tem apontado relações significativas de ambigüidade e conflito entre papéis organizacionais com reações afetivas – satisfação no trabalho, tensão/ansiedade, comprometimento e envolvimento, entre padrões de comportamento das chefias e irritação dos subordinados, bem como entre processo de privatização, satisfação e bem-estar dos empregados. Ainda sobre tais repercussões que as condições de trabalho têm sobre a afetividade do trabalhador, revisões de literatura têm apresentado dois temas de interesse e pesquisa sobre saúde mental no trabalho: estresse ocupacional e burnout.

Diante da relevância que os estudos sobre saúde no trabalho têm ganhado nos últimos anos na área de comportamento organizacional, esta pesquisa investigará o estresse ocupacional. Na seqüência, serão apresentados a referência histórica e conceitual e os modelos explicativos e aspectos associados ao fenômeno em foco.

2.2.2 Referência Histórica e Conceitual sobre Estresse e Estresse Ocupacional

Historicamente, estudos sobre o bem-estar foram inicialmente abordados na segunda metade do século XIX, pelo fisiologista francês Claude Bernard, o qual defendeu que um dos aspectos fundamentais para a manutenção do bem-estar é a habilidade do organismo para manter a constância do seu ambiente interno, mesmo com as mudanças que ocorrem externamente.

(26)

emergências tais como dor ou raiva, cujo resultado é uma descarga das glândulas adrenais e, conseqüentemente, o processo autônomo induz mudanças cardiovasculares que preparam o corpo para reagir ou fugir. Hans Selye (1956), ampliando os estudos realizados por Cannon, definiu o estresse como uma reação inespecífica do corpo a qualquer demanda. Em 1936, buscando interpretar as repercussões fisiológicas do estresse, descreveu a Síndrome de Adaptação Geral (General Adaptation Syndrome – GAS) ou Síndrome do Stress Biológico, como uma reação defensiva fisiológica do organismo, que surge como resposta a qualquer estímulo aversivo. Este modelo inclui três estágios: da reação de alarme, de resistência e de exaustão.

Para Selye (1956), todas as pessoas experimentam, no mínimo, os dois primeiros estágios em vários momentos da vida. Porém, o terceiro estágio, denominado de exaustão, representa o estágio mais severo. Diante de longas e continuadas exposições ao mesmo estressor, ao qual o corpo tenta se ajustar, os sinais de alarme reaparecem, mas agora são irreversíveis e o indivíduo não resiste, vindo a falecer.

As posições desse autor sobre o conceito de estresse estar associado a uma resposta fisiológica não-específica foram muito criticadas, apesar de terem sido amplamente aceitas. Lazarus (1984), não discorda totalmente da idéia do estresse como resposta fisiológica ao estressor; entretanto, acrescenta uma versão psicológica ao conceito, defendendo a idéia de que existe uma reação emocional concomitante às situações que são avaliadas como estressantes, isto é, resposta não específica é psicologicamente mediada.

A literatura aponta para a distinção de três tipos básicos de estresse: sistêmico ou fisiológico (distúrbio dos sistemas e tecidos corporais); psicológico (fatores cognitivos) e social (comprometimento de uma unidade ou sistema social). Essas três abordagens têm levado Costa e McCrae (1998) a questionar se o estresse é uma característica do indivíduo ou uma interação entre indivíduo e ambiente, salientando que o fenômeno ainda não está devidamente elucidado.

Independentemente de suas abordagens e definições, o fenômeno do estresse tem sido bastante estudado, principalmente dentro de perspectivas psicológicas e socioculturais. Embora haja uma dificuldade em definir-se o estresse, deve-se admitir que a experiência do estresse é algo que as pessoas conhecem bem, faz parte da vida em diferentes momentos, assim como a alegria, a tristeza, a dor (GREEN, 1998 citado porMACHADO, 1996).

(27)

justamente pela experiência da guerra, como Kahn, Wolfe, Quinn, Snoek e Rosenthal (1964), que estudaram estresse a partir de fatores como ambigüidade, conflito de papéis e sobrecarga.

Um novo campo de estudo surge em decorrência da crescente demanda de doenças vinculadas as atividade ocupacionais, é o estresse ocupacional, embora estudos do fenômeno datarem do início do século XX, na medicina.

Grande parte da literatura específica descreve que estresse ocupacional seja resultante de um complexo conjunto de fenômenos, e não conseqüência de apenas um único fator externo que age sobre o trabalhador, sendo entendido como reação tensional experimentada pelo trabalhador diante de estímulos estressores que surgem no contexto de trabalho e são percebidos como ameaças à sua integridade (KAHN; BYOSIERE, 1992; COHEN; KESSLER; GORDON, 1995; JONES; KINMAN, 2001).

As conceituações sobre estresse ocupacional parecem convergir no sentido de ajuste, quer na relação indivíduo-ambiente de trabalho, quer na demanda-recursos, sendo o estresse o resultado de um estado de desequilíbrio. A partir de alguns estudos em comum, constata-se que estresse envolve sempre: um estímulo externo, produzido a partir das situações de trabalho; respostas psicológicas frente àquele estímulo e uma gama de conseqüências, nas quais o bem-estar do indivíduo está envolvido. Além disso, há uma concordância parcial com a idéia de que a relação entre estímulos externos e estresse pode ser moderada por características individuais e situacionais (KAHN; BYOSIERE, 1992; COHEN; KESSLER; GORDON, 1995; JONES; KINMAN, 2001).

Há similaridade entre estudos sobre o estresse em geral e o estresse ocupacional em relação às principais abordagens teóricas e formas de medida deste fenômeno. Em síntese, o estresse tem sido observado como estímulo, resposta ou como o resultado da interação entre os dois. Tamayo et al. (2004) salientam a discordância existente nessas abordagens. De acordo com estes autores, no modelo do estresse como estímulo, o fenômeno é considerado variável independente, como um fator iniciador de um processo do organismo. Em contrapartida, na abordagem como resposta, o estresse é concebido como variável dependente, por ser visto como conseqüência. Já na perspectiva da abordagem interacional, há delimitação de que o estresse ocorra a partir das exigências do trabalho e do nível de controle.

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sua habilidade de enfrentamento (coping). São estímulos habitualmente chamados de estressores organizacionais.

A segunda vertente em relação à definição de estresse ocupacional refere-se a resposta aos eventos estressores. Essas respostas podem ser de ordem psicológica, fisiológica e comportamental, que os indivíduos lançam quando expostos a fatores do trabalho que excedem sua habilidade de enfrentamento.

Estímulos estressores-respostas é o terceiro aspecto abordado sobre a definição do estresse ocupacional. Nessa abordagem, o estresse refere-se ao processo geral em que demandas do trabalho têm impacto nos empregados.

Nota-se, portanto, que de acordo com a definição anteriormente priorizada, os estudos sobre o estresse organizacional estão baseados nos estressores organizacionais, nas respostas do indivíduo a esses estressores ou nas diversas variáveis presentes no processo estressor-resposta.

Apesar da abordagem que focaliza os estressores organizacionais proporcionar a identificação de demandas organizacionais potencialmente geradoras de estresse, suas contribuições tendem a conceber apenas o caráter objetivo dos estressores, negligenciando a parte subjetiva constituída pelo processo. Por isso, esta concepção tem recebido críticas de muitos estudiosos.

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Explicar o estresse ocupacional partindo-se de abordagens que contemplam as respostas aos eventos estressores tem propiciado identificar e classificar muitas conseqüências do estresse. Dentre as categorias de respostas aos estressores estão as reações fisiológicas, psicológicas e comportamentais. Esta abordagem teórica contempla duas vertentes a serem analisadas. A primeira diz respeito a sua principal crítica, pois esta abordagem faz referência às dificuldades em se estabelecer se determinados comportamentos, estados afetivos e problemas de saúde são conseqüências de estressores organizacionais ou de outros contextos e eventos da vida do indivíduo (JONES; KINMAN, 2001; KAHN; BYOSIERE, 1992). A outra vertente refere-se à valiosa contribuição desta abordagem que, segundo Tamayo et al. (2004), tem sido o recente questionamento sobre o papel das emoções no trabalho. Para estes autores, embora as emoções e os sentimentos façam parte da experiência cotidiana do trabalho, são opostos à racionalidade exigida para a construção da eficiência organizacional, e a sua expressão é objeto de restrição e controle. Eles ainda ressaltam que muitas das reações aos estressores organizacionais são de caráter emotivo como a raiva, frustração, nervosismo, ansiedade, irritação, entre outros.

Definições mais amplas sobre o estresse ocupacional têm sido preferidas pelos autores, pois consideram o fenômeno muito abrangente. Beehr (1998) complementa esse posicionamento ao afirmar que o estresse ocupacional consiste num fenômeno tão complexo que não deveria ser tratado como uma variável, mas como uma área de estudo e prática que se preocupa com diversas variáveis interligadas, tais como estímulos do ambiente de trabalho e respostas não saudáveis de pessoas expostas a eles.

Paschoal (2003), afirma que, de modo geral, há uma tendência em considerar o estresse ocupacional como um processo estressores-respostas, já que este consiste no enfoque mais completo e engloba aquele baseado nos estressores e o baseado nas respostas. Entretanto, a autora enfatiza que essa tendência não significa que haja consenso sobre a definição do construto e a melhor forma de avaliá-lo.

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No seguimento, são apresentados os principais modelos teóricos que têm sido abordados com maior ênfase e que explicam o estresse ocupacional. Após, reflexões sobre os modelos são retratadas, levando-se em consideração divergências e analogias entre eles.

2.2.3 Modelos Teóricos sobre o Estresse Ocupacional

2.2.3.1. Modelo de McGranth (1976 citado por KAHN; BYOSIERE, 1992)

Em relação ao processo do estresse ocupacional, esse modelo dá ênfase ao processo de feedback entre quatro estágios. Os estágios são conectados a respostas comportamentais do indivíduo, em relação à situação que evocou essa resposta. As situações do ambiente de trabalho caracterizam-se como o primeiro estágio do processo. O segundoestágio consiste na percepção e na avaliação das situações, pelos indivíduos. Se as percepções a respeito dos eventos organizacionais são negativas, o evento caracteriza-se como um estressor. Com base nessa avaliação, ocorrerá decisão por parte do trabalhador, isto é, como ele responderá ao evento. A escolha da resposta é caracterizada como terceiro estágio. Dada a resposta, desenvolve-se uma linha de comportamento, a qual pode alterar a situação original. É o quarto estágio. A principal característica desse modelo recai em sua generalidade e simplicidade. Entretanto esse aspecto faz com que possa ser aplicado a diversos estudos organizacionais.

Quanto à crítica ao modelo de McGranth (1976), considera-se que, embora seja um modelo simples e aplicável a diversos estudos, ele omite informações importantes para análises mais apuradas do fenômeno, como informações importantes sobre: as características organizacionais que geram estressores; as conseqüências organizacionais e pessoais desses estressores e os fatores individuais e situacionais que podem influenciar a avaliação do indivíduo e a maximização ou a diminuição dos efeitos do estresse.

2.2.3.2 Modelo de Lazarus e Folkman (1984)

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Quanto às principais características desse modelo, encontra-se a avaliação que o sujeito faz da situação. Essa avaliação ocorre mediante dois processos principais: avaliação primária (primary appraisal) e avaliação secundária (secundary appraisal). Concebe-se que essa avaliação é freqüentemente influenciada por fatores emocionais. A avaliação primária forma-se a partir da avaliação situacional e depende de duas condições antecedentes: percepção das características dos estímulos situacionais e estrutura psicológica do indivíduo. (Exemplo: crenças sobre si mesmo e sobre o ambiente, personalidade e força de seus valores). A avaliação secundária ocorre a partir da avaliação do indivíduo sobre seus recursos para lidar com a situação, isto é, recursos para suprimir ou abrandar os efeitos dos estímulos estressores. O processo de avaliação ocorre ao longo dos eventos organizacionais e pode ser que uma situação inicialmente avaliada como ameaçadora, posteriormente torna-se branda. Além disso, estratégias de enfrentamento avaliadas, a princípio, como inadequadas, podem passar a ser percebidas como adequadas e vice-versa.

2.2.3.3 Modelo de Lazarus (1995)

Nesse modelo, o estresse não é visto como uma propriedade da pessoa ou do ambiente, mas pode se desenvolver a partir da conjuntura de particularidades do ambiente com um tipo determinado de pessoa (características de personalidade). As principais características desse modelo incidem na avaliação que o indivíduo faz em relação às demandas do trabalho, isto é, quando ele as considera como excessivas para os recursos de enfrentamento que possui. Exemplos de situações: pressão de tempo, sobrecarga de trabalho, falta de autonomia e conflitos com superiores para muitos trabalhadores são avaliados como estressores, mas não necessariamente para todos.

Para Lazarus (1995), algumas pessoas, como, por exemplo, aquelas com tendência à depressão ou as usuárias de drogas, podem demonstrar freqüentemente mais reações intensas aos estressores organizacionais, o que resulta em problemas como absenteísmo, baixo desempenho e disfunções emocionais.

2.2.3.4 Teoria do Ajustamento pessoa-ambiente (EDWARDS; COOPER, 1990)

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discrepância entre o que o indivíduo percebe e o que deseja em relação aos vários aspectos do contexto do trabalho.

A idéia subjacente a essa teoria é a de que o comportamento seria uma função da interação entre a pessoa e o ambiente, sendo que um aspecto desta relação consistiria no grau em que o indivíduo ajusta-se à situação.

2.2.3.5 Teoria Cibernética do Estresse (EDWARDS, 1992)

Essa teoria conceitua o estresse ocupacional como disparidade entre uma situação percebida pelo empregado e uma situação desejada. Porém, a presença dessa discrepância deve ser considerada importante pelo empregado. As principais características do modelo, de acordo com a conceituação do estresse ocupacional, são: a) o estresse é relacional, isto é, é visto não como um aspecto do empregado ou do ambiente objetivo, mas como uma relação entre os dois; b) o estresse é caracterizado como uma relação entre o que é percebido e o que é desejado pelo indivíduo.

Caracteriza-se pelo princípio básico do negative feedback loop, isto é, o indivíduo recebe informações do ambiente e as compara com um critério de referência relevante. Se a comparação revela uma discrepância entre o ambiente percebido e o critério de referência, o indivíduo tenta modificar o ambiente para diminuir ou eliminar a discrepância. Este processo pode ser iniciado por um distúrbio no ambiente ou por uma mudança no critério de referência do indivíduo.

2.2.3.6 Modelo de Kahn e Byosiere (1992)

É um modelo integrador, pois incorpora desde os antecedentes dos estímulos estressores até as conseqüências das diferentes respostas que o indivíduo dá aos estressores. Tenta ilustrar o processo do estresse ocupacional, especificando muitas variáveis de interesse, bem como as categorias conceituais a que elas pertencem, incluindo antecedentes organizacionais ou características que geram estressores específicos.

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(KATZ; KAHN, 1978). Organizações muito grandes, onde existe uma distância considerável entre os diversos níveis hierárquicos em que o funcionário tem pouco controle sobre seu trabalho, podem ser mais propícias a gerar eventos estressores. Características do papel (BARTUNEK; REYNOLDS, 1983; IWATA; SUZUKI, 1997 citado por TAMAYO, 2001) e da tarefa (ALFREDSSON; THEORELL, 1983 citado por TAMAYO, 2001) e o próprio deslocamento cotidiano da residência até a organização (KOSLOWSKY, 1997 citado por TAMAYO, 2001) também são considerados antecedentes organizacionais do estresse. b) Estressores da vida organizacional, estímulos propiciados pela própria vida organizacional que geram conseqüências negativas de natureza física (barulho, iluminação) ou psicossocial (ambigüidade do papel, conflito entre papéis, conflito inter-pessoal no trabalho e sobrecarga no trabalho). c) Características individuais, as quais, Kahn e Byosiere (1992) concebem como mediadores do estresse. Relacionam-se às características do indivíduo (personalidade, locus de controle e características demográficas) e as propriedades da situação (suporte social do supervisor e suporte social dos colegas de trabalho) são moderadores do processo.

Esse modelo também faz alusão aos conseqüentes e às respostas ao estresse ocupacional. Em relação aos conseqüentes, às respostas dadas ao estresse, se o indivíduo percebe e avalia os eventos como estressores, têm-se as respostas a eles, as quais podem ser de natureza fisiológica (como problemas cardiovasculares e gastrintestinais), psicológica (como depressão e insatisfação no trabalho) e comportamental (como rotatividade e absenteísmo). Como conseqüência, essas respostas causam um impacto na saúde dos indivíduos, na efetividade organizacional e na performance em outros papéis da vida.

2.2.4 Considerações sobre os modelos teóricos do Estresse Ocupacional

Percebe-se, após analisar os seis modelos teóricos sobre o estresse ocupacional, que no transcurso do tempo, as abordagens foram se enriquecendo e novos elementos foram agregando-se a elas, desenvolvendo-se assim outras teorias, tornando os modelos mais abrangentes.

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Sobre a teoria do ajustamento pessoa-ambiente (EDWARDS; COOPER, 1990), Jex (1998), numa análise mais abrangente, considera que esta abordagem contempla aspectos relacionados aos valores do empregado a da organização. Enfatiza que os valores individuais não necessitam ser idênticos aos priorizados pela organização, mas uma discrepância considerável entre eles pode levar a efeitos negativos de estresse.

O estresse ocupacional é concebido como uma relação entre o indivíduo e seu ambiente de trabalho, caracterizada por uma discrepância entre o que o indivíduo deseja e o que percebe como sendo real. Essa concepção é reproduzida tanto pela teoria de ajustamento pessoa-ambiente (EDWARDS; COOPER, 1990) quanto pela teoria cibernética (EDWARDS, 1992). A diferença entre ambas encontra-se na ênfase dada pela teoria cibernética sobre o critério de referência relevante do indivíduo, isto é, que a presença da discrepância deve ser considerada importante pelo empregado.

As duas teorias anteriormente citadas (ajustamento pessoa-ambiente e cibernética) também exibem similaridade com a teoria de Lazarus (teoria transacional). Esta teoria afirma que o estresse ocorre a partir da relação entre um determinado tipo de indivíduo e um determinado ambiente, e não a partir das características de um ou de outro. Outro aspecto a ser considerado na trilogia teórica sobre o estresse ocupacional diz respeito às avaliações e aos julgamentos do indivíduo sobre os eventos organizacionais, na percepção que ele tem dos acontecimentos que ocorrem no local de trabalho. A diferença entre elas é que as duas últimas teorias, a de Lazarus e Folkman (1984) e de Lazarus (1995), fazem alusão à carga emocional existente nas avaliações cognitivas dos estressores organizacionais.

Das teorias analisadas, Kahn e Byosiere (1992), a partir de uma revisão de diversas teorias e de descobertas empíricas sobre o estresse ocupacional, desenvolveram um modelo integrador, o qual concebe ações recíprocas entre percepção (cognição), antecedentes organizacionais, estressores da vida organizacional, respostas e conseqüências do estresse, características do indivíduo e propriedades da situação.

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estressantes de trabalho, indicando que a auto-estima elevada está associada com baixos níveis de estresse ocupacional (MOSSHOLDER; BEDEIAN; ARMENAKIS, 1982; PETRIE; ROTHERAM, 1982 citado por TAMAYO, 2001).

O padrão de comportamento tipo A têm sido um moderador bastante estudado, porém resultados ainda são divergentes. Algumas pesquisas têm mostrado que os indivíduos tipo A (competitivo, impaciente, agressivo) quando trabalhando em condições iguais com indivíduos tipo B são mais suscetíveis à tensão (HURRELL, 1985; GANSTER, 1987; JAMAL, 1990 citado por TAMAYO, 2001).

O moderador locus de controle, também é objeto de numerosas pesquisas em estudo com outras variáveis. Para Dela Coleta (1987) e Tamayo (1989), este construto é um conceito dinâmico que explica e descreve as crenças, mais ou menos estáveis, a partir das quais o indivíduo estabelece a fonte de controle dos eventos e de seu próprio comportamento.

Em relação ao estresse, a hipótese geral é que as pessoas com locus de controle dominado pela internalidade, isto é, explicações em que o sujeito percebe a fonte de controle dos eventos de sua vida como de responsabilidade própria, responderão de forma diferente aos estressores do que aquelas com escores altos em externalidade (explicações nas quais a fonte de controle dos eventos está localizada fora do sujeito). Os resultados das pesquisas empíricas não são convergentes, mas a tendência geral é a confirmação desta hipótese (KRAUSE; STYKER, 1984 citado por TAMAYO, 2001, p. 131).

Em análise realizada por Paschoal (2003) sobre o modelo de Kahn e Byosiere (1992), a autora enfatiza a concordância de que a percepção do indivíduo é fundamental para a avaliação de demandas organizacionais como estressores, porém alerta quanto à localização dos estressores. No citado modelo, estressores ocupam lugar anterior à percepção do indivíduo, o que sugere que antes de passar pela avaliação individual, determinados eventos já seriam estressores naturais.

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Os modelos teóricos do estresse ocupacional, segundo Paschoal (2003), tendem a concordar que as percepções são mediadoras do impacto do ambiente de trabalho sobre o indivíduo. Porém, para o evento organizacional ser um estressor, ele precisa ser percebido como tal pelo empregado. Outro fator de mesma opinião dos teóricos é que as pessoas participam ativamente no processo de estresse. Por fim, tanto as características individuais quanto as situacionais têm um impacto na percepção sobre os estressores. O indivíduo percebe demandas do trabalho como estressores, os quais ao exceder sua habilidade de enfrentamento provocam no sujeito reações negativos.

Considerando-se, portanto, as perspectivas teóricas e as concepções versadas neste trabalho, o estresse ocupacional será considerado como um processo decorrente de eventos organizacionais ou do trabalho que, depois de avaliados e percebidos como estressores, produzem reações insatisfatórias de saúde física e/ou mental no indivíduo, uma vez que suas habilidades de enfrentamento são excedidas.

Dessa forma, este estudo será fundamentado pela definição proposta por Paschoal (2003; p. 18) que define o “estresse ocupacional como um processo em que o indivíduo percebe demandas do trabalho como estressores, os quais ao exceder sua habilidade de enfrentamento, provocam no sujeito, reações negativas”. Portanto, a concepção aceita sobre o estresse ocupacional é que ele é um fenômeno que ocorre mediante um conjunto de variáveis pessoais e organizacionais, mas que, fundamentalmente passa pela avaliação e pela percepção do indivíduo.

2.2.5 Pesquisas nacionais sobre o estresse ocupacional

A literatura existente aponta alguns principais estressores organizacionais, respostas dos indivíduos aos estressores e outras variáveis que são possíveis promotoras do estresse ocupacional. Dada a importância de todas as abordagens, a seguir será apresentada uma revisão sobre estresse ocupacional mediante a exposição de artigos publicados em periódicos científicos nacionais, juntamente com as contribuições teóricas existentes.

Considerando que há uma relação entre estressores organizacionais e demandas de trabalho, os estressores podem ser de natureza física (ruídos excessivos, falta de iluminação e ventilação) ou psicossocial. Estes últimos, de acordo com a literatura examinada, produzem maior interesse nos pesquisadores.

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nacionais estudados e analisados e o quantitativo de artigos (entre parênteses) estão citados a seguir:

Revistas: Revista de Administração da USP – RAUSP (2); Revista de Administração Contemporânea – RAC (1); Psicologia: Reflexão e Crítica (2);

Revista Psicologia: Organizações e Trabalho – rPOT (2); Psicologia: Ciência e Profissão (1);

Psicologia: Teoria e Pesquisa (3); Estudos de Psicologia/Natal (1); Estudos de Psicologia/Campinas (1); PsicoPUC-RS (1) ;

Psicologia em Estudo (2).

Foram identificados 16 artigos, tratando de temas micro em comportamento organizacional, relacionados ao estresse ocupacional e estratégias de coping. Quanto ao período analisado, observou-se que de 1996 a 2007, os anos de 2002 e 2004 registraram um maior número de publicações, conforme demonstra o Gráfico 1.

Gráfico 1 – Registro de publicações entre 1996 a 2007

As amostras ocupacionais foram diversificadas, não havendo evidência de predominância em nenhuma área específica. Este resultado pode ser interpretado como uma necessidade existente em continuar investigando-se outras áreas ocupacionais, bem como

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aprimorar as investigações nas áreas já pesquisadas. As amostras ocupacionais pesquisadas foram: trabalhadores de unidades fabris, trabalhadores de instituições públicas e privadas, bancários, magistrados, petroleiros e contratados, psicólogos, trabalhadores de hospitais, comerciários, bombeiros e docentes de nível superior.

Dos periódicos classificados contendo artigos sobre estresse ocupacional, com relação ao tipo de publicação, três artigos foram publicados em revistas de Administração, os demais em revistas de Psicologia. Quanto à área de conhecimento dos autores, a maioria são psicólogos (Gráfico 2). Um dos artigos publicados foi elaborado conjuntamente entre um profissional da área de administração e uma profissional da área de Psicologia. O referido artigo pode ser considerado o primeiro e mais antigo, se tomarmos como referência o período analisado, uma vez que foi publicado em 1998. A partir dessa data, os demais artigos foram publicados, na sua maioria, por psicólogos.

Gráfico 2 – Publicações por área de conhecimento

Como evidenciado, há prevalência de profissionais da área de Psicologia realizando investigações científicas em estresse ocupacional. Uma das possíveis justificativas para o interesse estar focado mais nessa área de conhecimento pode estar associada à carga de subjetividade que o construto concebe, às relações de afetividade e emoções que são necessárias de serem analisadas.

Nos estudos analisados, a ênfase da metodologia e da coleta de dados centrou-se na percepção dos trabalhadores. Instrumentos tais como escalas, inventários, questionários, frases abertas foram mais utilizados em relação a outras técnicas. Um aspecto a ser observado refere-se aos instrumentos de coletas de dados nos artigos analisados. Há uma variedade de instrumentos sendo utilizados na área de estresse ocupacional. Nitidamente, observam-se tendências metodológicas marcantes para pesquisadores pertencentes à mesma região, em

11

2

0 5 10 15

Psicologia Administração

P s ic o lo gia

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especial, às regiões Sudeste e Centro-Oeste. Caso se pretendesse delimitar quais os instrumentos que foram mais utilizados nessas pesquisas, no caso da região Sudeste, teríamos dificuldades em estabelecer um parâmetro, tal é a variedade de instrumentos.

Em Albuquerque e França (1998) – o foco é evidenciar os movimentos de gestão da qualidade de vida no trabalho, associados ao estresse num escopo de ambiente de certificação ISO 9000 – Gestão da Qualidade Total. Foram utilizados instrumentos para medir a satisfação dos empregados com relação ao seu estado geral de estresse e os seus valores pessoais sobre a importância da qualidade de vida para a vida pessoal e da empresa, bem como utilizadas observações clínicas a partir de registros das consultas médicas dos empregados. O estudo realizado indicou que as preocupações com a Qualidade de Vida no Trabalho vêm ganhando expressão cada vez maior no ambiente empresarial brasileiro. As principais razões para tanto foram os dois movimentos identificados: aprofundamento da compreensão a respeito do estresse e de doenças associadas às pressões organizacionais; e expansão do conceito de qualidade total em um ambiente competitivo. Esses movimentos geram a necessidade de novo posicionamento por parte dos gestores de pessoas nas empresas, situando as ações de QVT em suas estratégias de recursos humanos. Os pesquisadores concluem que a mobilização e os esforços encontrados nesta pesquisa ainda são desarticulados das políticas de investimento e de recursos humanos.

Lipp e Tanganelli (2002) averiguaram o estresse ocupacional de juízes do trabalho, níveis de qualidade de vida, fontes de estresse e estratégias de enfrentamento. Ao pesquisar estresse e qualidade de vida dos Magistrados da Justiça do Trabalho, utilizam instrumentos diferenciados, a seguir citados:

ª ISS (Inventário de Sintomas de Stress), elaborado com base nos conceitos de Selye (1956) e validado por Lipp e Guevara (1994);

ª IQV (Inventário de Qualidade de Vida) publicado por LippeRocha (1995);

ª IFSJ (Inventário de Fontes de Stress em Juízes);

ª IESM (Inventário de estratégias de Manejo do Stress dos Magistrados) baseados nos conceitos de Girdano e Everly (1979).

Verificou-se que 71% dos juízes apresentavam sintomas de estresse. Havia mais mulheres com estresse do que homens. Os estressores mais freqüentes foram sobrecarga de trabalho e interferência com a vida familiar. A estratégia de enfrentamento mais mencionada foi conversar com o cônjuge.

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Cooper, Sloan e Williams (1988), Glowinkowski e Cooper (1987) resumem a idéia de que a existência de conflito entre papéis desempenhados nessas duas dimensões pode ser tratada como um estressor organizacional, porém tais variáveis devem ser vistas como situacionais que influenciam o estresse ocupacional, uma vez que não se limitam a demandas do ambiente de trabalho, mas podem influenciar a percepção dos estressores organizacionais.

Não raras são as investigações sobre quais impactos o estresse ocupacional pode ter na família e como se dá esse processo (PERRY-JENKINS; REPETTI; CROUTER, 2000). A direção contrária também pode ser estabelecida, ou seja, de que modo acontecimentos na família podem ter impacto na vida profissional do indivíduo.

Paschoal e Tamayo (2005) realizaram pesquisa com o objetivo de investigar a influência da interferência família-trabalho e dos valores do trabalho sobre o estresse ocupacional. Participaram dessa pesquisa funcionários de uma instituição bancária. Foram utilizados três instrumentos: 1) Escala de Estresse no Trabalho (EET), validada por Paschoal e Tamayo (2004), unifatorial, composta por 23 itens; 2) Escala de Interação Trabalho-Família, validada por Paschoal, Tamayo e Barham (2002), composto por dois fatores: impacto da família sobre o trabalho e impacto do trabalho sobre a família, ambos enfocando as interferências de um sobre o outro. Cada fator é formado por 7 itens; 3) Escala de Valores Relativos ao Trabalho, validada por Porto e Tamayo (2003), avalia quatro tipos de valores do trabalho: realização no trabalho, relações sociais, prestígio e estabilidade, formando 45 itens no geral.

Os resultados indicaram que a interferência família-trabalho influencia o estresse ocupacional, sendo que quanto maior o escore de interferência, maior o estresse. Sugere-se que a interferência família-trabalho possa favorecer diretamente o aparecimento de estressores organizacionais e orientar cognições e afetos que influenciam a percepção de demandas do trabalho como estressores. Em relação aos valores do trabalho, estes não apresentaram relação com o estresse ocupacional, o que pode ser decorrente do instrumento utilizado para avaliar o estresse ou da maior importância desses valores na escolha da profissão.

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hierárquica, carência familiar em decorrência do período de ausência no convívio familiar, dentre outras queixas.

Coelho (2004), objetiva analisar como o clima organizacional, nas suas diferentes dimensões baseadas nos novos padrões culturais, pode se relacionar com o nível de estresse desenvolvido entre trabalhadores de uma empresa de comércio varejista. A hipótese básica desse trabalho considera que a demanda por autonomia pode contribuir para a geração de estresse entre trabalhadores do meio cultural brasileiro. A dimensão da autonomia e a dimensão relativa à exigência por altos padrões de desempenho, levando a um fator de sobrecarga, tenderiam a se correlacionar positivamente com a experiência de estresse no trabalho. A dimensão do clima organizacional em relação ao relacionamento interpessoal, ou seja, a percepção de calor humano, vínculos entre companheiros, que envolvem ajuda mútua e confiança, estaria relacionada negativamente à tensão, com base nos efeitos demonstrados de apoio social. Foi utilizada uma escala de clima organizacional adaptada de Litwin e String (1968), cuja medida envolve afirmativas nas quais os trabalhadores revelam a sua percepção sobre o ambiente profissional. A escala é constituída por 45 itens que se agrupam em nove dimensões, a saber: 1)excelência e padrões de desempenho; 2) reconhecimento; 3) relacionamento; 4) autonomia; 5) gestão e autoridade; 6) desenvolvimento e aperfeiçoamento do pessoal; 7) justiça e eqüidade; 8) missão da empresa e 9) saúde e segurança. Para a escala de medida de estresse foi utilizada uma lista de sintomas apresentados com freqüência pelos trabalhadores, em que cada item o sujeito marca sim ou não.

Os resultados apontaram que as freqüências de estresses em vários itens foram bastante elevadas. A amostra do presente estudo constituiu-se de trabalhadores de renda socioeconômica média baixa, cujas perspectivas de vida estão muito associadas ao trabalho, mas numa atitude de forte submissão e não de experiências de autonomia. Muitos dos sujeitos estão obtendo uma condição de vida não só do ponto de vista material, mas, sobretudo, simbólico, que lhes traz referências muito significativas, em função de desenvolver fortes laços de afetividade. Alguns aspectos da experiência dos trabalhadores são potencialmente criadores de estresse como a comunicação das exigências muito altas de rendimento e de lucro, a sobrecarga no trabalho que implica o risco do fracasso e, sobretudo, a organização do sistema de controle, visando ao respeito e às exigências. Euforia em obter sucesso, alcançar metas e o estímulo para a auto-superação se mesclam com o medo do fracasso e levam ao estresse.

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possibilitando uma maior compreensão do fenômeno. As conseqüências das demandas laborais sobre a saúde dos indivíduos diferem de acordo com o grau de controle ou de autonomia do contexto.

Gottlieb, Kelloway (1998), Barham (1997) e Polasky e Holahan (1998) discorrem sobre a importância de controle sobre as situações de trabalho no processo de estresse. Para esses autores, quanto maior a possibilidade de decidir como realizar as tarefas e estruturar papéis de trabalho, menor a percepção de estresse. A falta de controle no trabalho pode ser considerada como um tipo de estressor organizacional para alguns estudiosos, dependendo das características pessoais e do contexto.

Tamayo, Lima e Silva (2002) também investigaram a relação do clima organizacional com o estresse ocupacional. Apesar da insistência teórica da relação entre as duas variáveis, o impacto do clima sobre o estresse ocupacional tem sido empiricamente pouco estudado. Segundo Beehr (1998) esta variável não é muito investigada porque representa dimensões do nível macro da organização e a sua mensuração pode ser mais complexa. No estudo de Tamayo et al. (2002), o clima organizacional foi operacionalizado a partir de quatro fatores: comunicação, ambiente relacional, liderança gerencial e valorização do empregado. Os resultados revelaram que o ambiente relacional e o estilo de liderança gerencial são preditores do estresse ocupacional. A relação do ambiente relacional e do estilo de liderança com o estresse ocupacional é negativa, indicando que quanto maior a deficiência nestes dois fatores, maior o estresse.

Areias e Guimarães (2004) objetivaram comparar entre gêneros, os fatores psicossociais de risco e a saúde mental e os estressores, e fatores de apoio nas dimensões pessoal, do trabalho e social, em trabalhadores de uma universidade pública. Utilizaram o questionário SWS Survey (Self, Work and Social), criado por Ostermann e Gutiérrez (1992), com validação brasileira feita por Guimarães e MacFaden (1999). Este questionário foi aplicado na sua forma completa, composto por 200 questões, sendo 25 para cada uma das 8 escalas que se apresenta, descritas a seguir: 1) fatores psicossociais de risco(FPR); 2) saúde mental(SM); 3) estresse social(ES); 4) apoio social(AS); 5) estresse no trabalho(ET); 6)apoio no trabalho(AT); 7)estresse pessoal(EP) e 8)apoio pessoal(AP).

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Paschoal (2003) destaca o suporte social como variável situacional. Para a autora este suporte é encontrado pelo trabalhador, o qual pode ser recebido do supervisor, dos colegas de trabalho ou mesmo de pessoas fora do trabalho. Pesquisa realizada com técnicos de hospitais psiquiátricos verificou que a presença de redes sociais que ofereciam suporte ao trabalho, melhorava a avaliação do empregado sobre sua saúde (BROWNER, 1987 citado por Paschoal, 2003). Iwata e Suzuki (1997 citado por Paschoal, 2003) estudaram a relação do suporte social de supervisores, colegas, de membros da família e de outras pessoas significativas com o estresse ocupacional e observaram que o suporte dos supervisores e dos outros significativos relacionou-se negativamente com o estresse.

O impacto do suporte social sobre o estresse ocupacional pode ser benéfico ou prejudicial, segundo Tamayo et al. (2002). Neste sentido, os autores consideram que quando o suporte social está bem desenvolvido na organização, ele tem um efeito protetor, que se manifesta em baixos níveis de estresse. Assim, quanto maior o nível de suporte social no ambiente organizacional, menor o nível de estresse no trabalho. Por sua vez, quando o suporte social é inexistente ou deficitário na organização, este fator transforma-se num estressor.

Os resultados da pesquisa de Areias e Guimarães (2004) também corroboram a teoria proposta pelo modelo de estresse/apoio de Osterman (1989), o qual postula que a saúde mental e os fatores psicossociais de risco são determinados tanto por apoios como por estressores nas dimensões trabalho, social e pessoal – e que fatores de apoio podem anular os efeitos danosos do estresse.

Conforme mencionado anteriormente, neste estudo, o gênero feminino apresenta mais fatores psicossociais de risco, estresse no trabalho, estresse social e estresse pessoal do que o masculino. As mulheres, para Areias e Guimarães (2004), estão sujeitas, a princípio, a um considerável dilema entre casamento e filhos e demandas ocupacionais. As mulheres que concentram suas energias na carreira sentem-se freqüentemente culpadas ou preocupadas com o fato de ter deixado a família de lado.

Ao passo que as autoras citadas no parágrafo anterior utilizavam o SWS Survey (Self, Work and Social), em anos anteriores, Paschoal e Tamayo (2004), realizam um trabalho tendo como objetivo construir e validar um instrumento de estresse ocupacional geral, de fácil aplicação e que pudesse ser utilizado em diversos ambientes de trabalho e para ocupações variadas. A Escala de Estresse no Trabalho (EET) foi elaborada a partir de críticas feitas a alguns instrumentos norteadores utilizados, um deles o SWS Survey (Self, Work and Social).

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Gráfico 1 – Registro de publicações entre 1996 a 2007
Gráfico 2 – Publicações por área de conhecimento
Figura 1 – Modelo Teórico – Relações entre valores de ordem superior e dimensões bipolares
Figura 2 – Dimensões Culturais dos Valores
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Referências

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