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2.2 Estresse Ocupacional e suas acepções

2.2.4 Considerações sobre os Modelos Teóricos do Estresse Ocupacional

Percebe-se, após analisar os seis modelos teóricos sobre o estresse ocupacional, que no transcurso do tempo, as abordagens foram se enriquecendo e novos elementos foram agregando-se a elas, desenvolvendo-se assim outras teorias, tornando os modelos mais abrangentes.

Há compatibilidade entre os modelos de McGrath (1976 citado por KAHN; BYOSIERE, 1992) e o de Lazarus e Folkman (1984) e Lazarus (1995). Ambos abordam o estresse como uma disposição interna do indivíduo, que se define conjuntamente com propriedades ambientais e pessoais. Vale ressaltar que os trabalhos de Lazarus apresentam de forma mais proeminente a importância do processo cognitivo na determinação do estresse ocupacional.

Sobre a teoria do ajustamento pessoa-ambiente (EDWARDS; COOPER, 1990), Jex (1998), numa análise mais abrangente, considera que esta abordagem contempla aspectos relacionados aos valores do empregado a da organização. Enfatiza que os valores individuais não necessitam ser idênticos aos priorizados pela organização, mas uma discrepância considerável entre eles pode levar a efeitos negativos de estresse.

O estresse ocupacional é concebido como uma relação entre o indivíduo e seu ambiente de trabalho, caracterizada por uma discrepância entre o que o indivíduo deseja e o que percebe como sendo real. Essa concepção é reproduzida tanto pela teoria de ajustamento pessoa-ambiente (EDWARDS; COOPER, 1990) quanto pela teoria cibernética (EDWARDS, 1992). A diferença entre ambas encontra-se na ênfase dada pela teoria cibernética sobre o critério de referência relevante do indivíduo, isto é, que a presença da discrepância deve ser considerada importante pelo empregado.

As duas teorias anteriormente citadas (ajustamento pessoa-ambiente e cibernética) também exibem similaridade com a teoria de Lazarus (teoria transacional). Esta teoria afirma que o estresse ocorre a partir da relação entre um determinado tipo de indivíduo e um determinado ambiente, e não a partir das características de um ou de outro. Outro aspecto a ser considerado na trilogia teórica sobre o estresse ocupacional diz respeito às avaliações e aos julgamentos do indivíduo sobre os eventos organizacionais, na percepção que ele tem dos acontecimentos que ocorrem no local de trabalho. A diferença entre elas é que as duas últimas teorias, a de Lazarus e Folkman (1984) e de Lazarus (1995), fazem alusão à carga emocional existente nas avaliações cognitivas dos estressores organizacionais.

Das teorias analisadas, Kahn e Byosiere (1992), a partir de uma revisão de diversas teorias e de descobertas empíricas sobre o estresse ocupacional, desenvolveram um modelo integrador, o qual concebe ações recíprocas entre percepção (cognição), antecedentes organizacionais, estressores da vida organizacional, respostas e conseqüências do estresse, características do indivíduo e propriedades da situação.

O modelo de Kahn e Byosiere (1992) enfatiza como um dos antecedentes do estresse as características pessoais. Segundo Tamayo (2001), as características psicológicas pessoais mais estudadas têm sido a auto-estima, o padrão de comportamento tipo A e o locus de controle. Em relação à auto-estima, o referido autor concebe que ela representa uma função de fundamental importância na proteção do self. Quando elevada, a auto- estima assegura ao indivíduo a percepção que ele tem de si mesmo, preservando-o de informações que possam ameaçar o seu autoconceito. Assim, funciona como um filtro de proteção que seleciona as informações. Algumas pesquisas têm demonstrado os efeitos no nível das situações

estressantes de trabalho, indicando que a auto-estima elevada está associada com baixos níveis de estresse ocupacional (MOSSHOLDER; BEDEIAN; ARMENAKIS, 1982; PETRIE; ROTHERAM, 1982 citado por TAMAYO, 2001).

O padrão de comportamento tipo A têm sido um moderador bastante estudado, porém resultados ainda são divergentes. Algumas pesquisas têm mostrado que os indivíduos tipo A (competitivo, impaciente, agressivo) quando trabalhando em condições iguais com indivíduos tipo B são mais suscetíveis à tensão (HURRELL, 1985; GANSTER, 1987; JAMAL, 1990 citado por TAMAYO, 2001).

O moderador locus de controle, também é objeto de numerosas pesquisas em estudo com outras variáveis. Para Dela Coleta (1987) e Tamayo (1989), este construto é um conceito dinâmico que explica e descreve as crenças, mais ou menos estáveis, a partir das quais o indivíduo estabelece a fonte de controle dos eventos e de seu próprio comportamento.

Em relação ao estresse, a hipótese geral é que as pessoas com locus de controle dominado pela internalidade, isto é, explicações em que o sujeito percebe a fonte de controle dos eventos de sua vida como de responsabilidade própria, responderão de forma diferente aos estressores do que aquelas com escores altos em externalidade (explicações nas quais a fonte de controle dos eventos está localizada fora do sujeito). Os resultados das pesquisas empíricas não são convergentes, mas a tendência geral é a confirmação desta hipótese (KRAUSE; STYKER, 1984 citado por TAMAYO, 2001, p. 131).

Em análise realizada por Paschoal (2003) sobre o modelo de Kahn e Byosiere (1992), a autora enfatiza a concordância de que a percepção do indivíduo é fundamental para a avaliação de demandas organizacionais como estressores, porém alerta quanto à localização dos estressores. No citado modelo, estressores ocupam lugar anterior à percepção do indivíduo, o que sugere que antes de passar pela avaliação individual, determinados eventos já seriam estressores naturais.

Em síntese, foram aduzidos alguns marcos teóricos que têm se destacado na revisão sobre estresse ocupacional, abordando-se também os principais enfoques adotados para a definição do construto.Percebe-se consonância entre os teóricos mencionados em relação ao estresse ocupacional derivar da interação entre os estressores existentes no ambiente organizacional e que eles podem impactar negativamente na saúde dos indivíduos. A falta de saúde dos empregados pode ser expressa por respostas fisiológicas, psicológicas e comportamentais.

Os modelos teóricos do estresse ocupacional, segundo Paschoal (2003), tendem a concordar que as percepções são mediadoras do impacto do ambiente de trabalho sobre o indivíduo. Porém, para o evento organizacional ser um estressor, ele precisa ser percebido como tal pelo empregado. Outro fator de mesma opinião dos teóricos é que as pessoas participam ativamente no processo de estresse. Por fim, tanto as características individuais quanto as situacionais têm um impacto na percepção sobre os estressores. O indivíduo percebe demandas do trabalho como estressores, os quais ao exceder sua habilidade de enfrentamento provocam no sujeito reações negativos.

Considerando-se, portanto, as perspectivas teóricas e as concepções versadas neste trabalho, o estresse ocupacional será considerado como um processo decorrente de eventos organizacionais ou do trabalho que, depois de avaliados e percebidos como estressores, produzem reações insatisfatórias de saúde física e/ou mental no indivíduo, uma vez que suas habilidades de enfrentamento são excedidas.

Dessa forma, este estudo será fundamentado pela definição proposta por Paschoal (2003; p. 18) que define o “estresse ocupacional como um processo em que o indivíduo percebe demandas do trabalho como estressores, os quais ao exceder sua habilidade de enfrentamento, provocam no sujeito, reações negativas”. Portanto, a concepção aceita sobre o estresse ocupacional é que ele é um fenômeno que ocorre mediante um conjunto de variáveis pessoais e organizacionais, mas que, fundamentalmente passa pela avaliação e pela percepção do indivíduo.