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2.3 Valores

2.3.2 Valores Humanos

Visando estabelecer uma visão mais completa sobre os valores organizacionais, há necessidade de compreender-se a origem desse construto, uma vez que ele é proveniente da teoria dos valores humanos. O modelo teórico dos valores humanos pressupõe que os valores são representações cognitivas de três exigências humanas universais: necessidades biológicas do indivíduo; necessidades sociais de interação e necessidades socioinstitucionais de sobrevivência e bem-estar dos grupos (SCHWARTZ; BILSKY, 1987; SCHWARTZ, 1996; citado por OLIVEIRA; TAMAYO, 2004, p. 131). Para atender tais necessidades, as pessoas criam e buscam respostas adequadas que, inevitavelmente, estejam em consonância com seu contexto cultural, a fim de que se mantenha a ordem e estabilidade da sociedade.

De acordo com Schwartz e Bilsky (1987; p. 550) os valores humanos são definidos como “princípios ou crenças, sobre comportamentos ou estados de existência, que transcendem situações específicas e guiam a seleção ou a avaliação de comportamentos ou eventos e que são ordenados por sua importância”. Schwartz (2005) enfatiza que a teoria dos valores humanos ou básicos apresenta valores que indivíduos de todas as culturas reconhecem, propondo-a como uma teoria unificadora para o campo da motivação humana, de forma que organiza as diferentes necessidades, motivos e objetivos das pessoas. Ao se pensar em necessidades, pensa-se no que é importante para a vida, pensa-se em valores. Schwartz (2005) considera que cada indivíduo detém numerosos valores, com variados graus

de importância. Um dado valor pode ser muito importante para uma pessoa, mas pode ser considerado insignificante para outra.

Os valores podem ser entendidos em uma estrutura formada por dez tipos motivacionais distintos, que inicialmente eram constituídos em oito, de acordo com Schwartz e Bilsky (1987). Porém, após pesquisas transculturais realizadas, estabeleceram dez tipos motivacionais (SCHWARTZ, 1992, 2001). Uma das grandes características desse modelo está no pressuposto de que os tipos motivacionais apontam uma dinâmica de conflito e congruência entre eles. Para Tamayo (1994, p. 272), “operacionalmente, um tipo motivacional é um fator composto por diversos valores que apresentam similaridade do ponto de vista do conteúdo motivacional”.

Os tipos motivacionais são:

1. Hedonismo: estes valores apresentam como meta o prazer e a gratificação sensual; 2. Auto-realização: sucesso pessoal através de demonstração de competência visando

ao reconhecimento social;

3. Poder: meta motivacional referente à busca e preservação de status social e controle sobre pessoas e recursos;

4. Autodeterminação: independência de pensamento e ação;

5. Conformidade: a meta deste tipo de valores é o controle de impulsos e de comportamentos em favor de expectativas sociais;

6. Benevolência: preocupação com o bem-estar de pessoas íntimas;

7. Segurança: este tipo de valores tem como meta a integridade e a estabilidade pessoal e da sociedade;

8. Tradição: respeito e aceitação dos ideais e costumes de determinada sociedade; 9. Estimulação: a meta consiste na procura de excitação, novidade e mudança na

vida;

10. Universalismo: compreensão e aceitação dos outros e preocupação com o bem- estar de todos.

O modelo teórico das relações entre os tipos de valor de ordem superior e dimensões de valores bipolares encontra-se representado na figura 1.

Abertura à mudança Conservaç ão Universalismo Benevolência Tradição Conformidade Segurança Poder Realização Hedonismo Estimulação Autodeterminação

Figura 1 – Modelo Teórico – Relações entre valores de ordem superior e dimensões bipolares

Fonte: S. H. Schwartz. In: Ros e Gouveia (Org.), 2006, p.62.

A teoria, segundo Schwartz (1992 citado por ROS, 2006), apesar de distinguir os tipos motivacionais de valores, pretende basicamente, formar uma continuidade de motivações inter-relacionadas. Esse continuum caracteriza sua estrutura circular e, além de evidenciar cada tipo motivacional, dá ênfase ao compartilhamento dos tipos de valores adjacentes. Ex: a) poder e realização – ambos enfatizam a superioridade e a estima social; b) realize e hedonismo – centrados na satisfação pessoal; c) hedonismo e estimulação – implicam o desejo do despertar afetivo; d) estimulação e autodeterminação – compartilham o interesse intrínseco pela novidade e maestria; e) autodeterminação e universalismo – expressam confiança no próprio julgamento e conforto com a diversidade da existência; f) universalismo e benevolência – ocupam-se do bem-estar dos outros e de ir além dos interesses egoístas; g) benevolência e conformidade – demandam o comportamento normativo que promove as relações próximas; h) benevolência e tradição – promovem a devoção ao próprio endogrupo; i) conformidade e tradição – implicam subordinação do self em favor de expectativas sociais impostas; j) tradição e segurança – destacam a preservação dos acordos sociais existentes para dar segurança à vida; k) conformidade e segurança – enfatizam a proteção da ordem e a harmonia nas relações; l) segurança e poder – sublinham o controle das relações e dos recursos.

A estrutura circular, conforme demonstra a figura anterior, retrata as relações teóricas de conflito e congruência entre os tipos motivacionais, “quanto mais próximos dois tipos motivacionais estão em qualquer uma das direções ao redor do círculo, mais semelhantes são suas motivações adjacentes” (SCHWARTZ, 2005, p. 29).

Em relação às oposições entre os tipos motivacionais, quanto mais afastados eles se encontram, mais antagônicos são, tratando-se dos tipos de valores em conflito. Assim, as oposições entre os tipos motivacionais verificadas, organizam-se em duas dimensões bipolares. A dimensão de abertura à mudança conflita-se com a de conservação, pois a primeira enfatiza a independência de julgamento e ação, favorecendo a mudança (autodeterminação e estimulação); a outra salienta a auto-repressão submissa, na preservação de práticas tradicionais e na proteção da estabilidade (segurança, conformidade e tradição).

A dimensão de autopromoção opõe-se à autotranscendência. Valores de autopromoção destacam a busca de sucesso pessoal e o domínio sobre os outros (poder e realização) enquanto valores de autotranscendência relevam a aceitação dos outros como iguais, bem como a preocupação com seu bem-estar (universalismo e benevolência). O tipo motivacional hedonismo relaciona-se tanto a dimensão de abertura à mudança quanto de autopromoção.