• Nenhum resultado encontrado

2.2 Estresse Ocupacional e suas acepções

2.2.6 Variáveis antecedentes e respostas dos indivíduos aos estressores

De forma global, as variáveis antecedentes do estresse ocupacional que foram mais relacionadas na literatura, são de natureza psicossocial. Dentre essas variáveis estão:

z Natureza da tarefa e do papel ocupacional: sobrecarga, relacionamentos interpessoais, autonomia, controle, desenvolvimento da carreira.

z Características pessoais: auto-estima, comportamento tipo A e locus de controle.

z Variáveis de natureza situacional e pessoal: suporte social, conflito entre papéis (família-trabalho), ambigüidade do papel.

Autores como Glowinkowski e Cooper (1987) e Jex (1998), enfatizam sobre a relevância dos relacionamentos interpessoais no trabalho. Contextos laborais cujas interações pessoais, sejam do mesmo nível hierárquico ou diferentes, entre empregados e clientes, se essas relações apresentam-se conflituosas, tornam-se fontes de estressse.

Há ainda outros fatores que podem aumentar a probabilidade da ocorrência de um conflito interpessoal no trabalho e serem fontes de estresse ocupacional, como: a competição entre colegas para alcançar uma promoção ou para ter acesso a recursos de trabalho escassos na organização e a percepção de injustiça e desrespeito no tratamento recebido por colegas e superiores (JEX, 1998).

Sobre as variáveis de natureza situacional, além dos conflitos entre papéis – família/trabalho e trabalho/família há estressores baseados nos papéis desenvolvidos, ou seja, às formas de comportamento associadas às tarefas. Estes comportamentos configuram-se em padrões comportamentais, referindo-se aos comportamentos adotados quando no desempenho de certas funções (KATZ; KAHN ,1978).

Na literatura há a abordagem sobre algumas funções que são mais geradoras de conflitos do que outras, com maior probabilidade de serem fatores de estresse. É o caso de gerentes, que devem manter a estabilidade de trabalho para seus subordinados, bem como ponderar as necessidades da empresa (GLOWINKOWSKI; COOPER, 1987).

Há também o fator ambigüidade do papel. Este é considerado um estressor, quando as informações associadas ao desempenho do papel do empregado são pouco claras e inconsistentes. Essa falta de nitidez quanto ao desempenho de função pode afetar o trabalhador na realização de suas tarefas (JEX, 1998).

Conviver no contexto organizacional, diante de demandas organizacionais conflitivas e tensas, carregadas de variáveis estressoras faz com que os indivíduos respondam das mais diversas formas, com uma variabilidade de comportamentos abrangentes. Assim, as respostas dadas pelos indivíduos frente aos estressores são infindáveis.

A maioria dos estudos existentes aborda as formas negativas de reação dos indivíduos. O fenômeno strain refere-se à diversidade de reações negativas decorrentes da exposição aos estressores. Talvez se estude mais as reações negativas ao estresse, justamente porque se necessite mais discutir sobre o que é ter saúde no trabalho, como viver com maior bem-estar nas organizações. Compreender melhor o que faz adoecer torna possível a abertura de caminhos para a melhoria da saúde física e psíquica, faz as pessoas refletirem sobre as formas de manejar os fatores estressantes. Outra razão para tanta ênfase dada aos aspectos negativos

do estresse ocupacional pode estar ancorada nos custos que o fenômeno acarreta para as organizações e para a saúde dos trabalhadores.

Os processos de estresse desencadeiam sentimentos de ameaça e insegurança. Por conseqüência, as reações orgânicas conscientes ou inconscientes podem ocorrer simultaneamente. As respostas que o organismo dá aos estressores podem ser de ordem: psicológicas, fisiológicas e comportamentais.

Para Selye (1956), situações que caracterizam o estresse em curto grau são necessárias ao organismo, pois colaboram com o bom desempenho das funções orgânicas e psíquicas como crescimento, criatividade. Dessa forma, este teórico considera que existem dois tipos de estresse: o positivo – eustress - e o negativo – distress.

Nessa perspectiva, os estressores, nos dois casos, têm funções similares, porém, a disparidade está na possibilidade das situações vivenciadas proporcionarem realização ou não aos indivíduos. A constância das situações de estresse é o que definirá sua positividade ou negatividade. Os processos negativos de estresse – distress – são caracterizados por situações aflitivas. O distress pode ser agudo (intenso, mas por breve período), por exemplo, notícia da morte de um ente querido; ou crônico (não é necessariamente tão intenso, mas ocorre repetidamente, constantemente), por exemplo, situações tensas familiares e no trabalho, preocupações com dívidas sem previsão de como pagar. Assim, se os desafios proporcionarem oportunidades para o sujeito aperfeiçoar suas capacidades e habilidades, proporcionando-lhes realização, isso seria o eustress, o inverso o distress.

Kahn e Byosiere (1992) corroboram com a abordagem de Salye (1956), pois entendem que considerar o estresse como algo completamente indesejável seria supor que o estado preferido pelo homem é a inércia, a falta de ação.

Segundo Lipp (1996, p. 30), "Stress é definido como uma reação do organismo, com componentes físicos e/ou psicológicos, causadas pelas alterações psicofisiológicas que ocorrem quando a pessoa se confronta com uma situação que, de um modo ou de outro, a irrite, amedronte, excite, confunda ou mesmo que a faça imensamente feliz".

Percebe-se que as reações associadas aos estressores fundamentalmente são de natureza emocional, sendo que as respostas psicológicas aos estressores organizacionais são comuns na literatura. Alguns autores consideram o estresse e emoções destrutivas como único construto e declaram que futuramente os estudos das emoções no trabalho substituirão os estudos sobre estresse ocupacional (COOPER; CARTWRIGHT, 2001).

A carga emocional experimentada pelo indivíduo é intensa nos processos de estresse. Segundo Stanley e Burrows (2001) a ativação psicológica ou física originada pelo grau de

contraste entre demandas situacionais e mecanismos de enfrentamento, conduz a uma sucessão de emoções (tensão, ansiedade, irritabilidade, nervosismo, raiva, entre outras). A depender da intensidade e da freqüência com que essas emoções apareçam, causadas por estresse e adicionadas a características pessoais, podem fazer com que o indivíduo entre em depressão. Quanto maior o estresse ocupacional, mais sintomas de depressão os indivíduos apresentam (WANG; PATTEN, 2001).

Cabe enfatizar que as respostas dadas aos estressores não são isoladas ao acaso. Elas ocorrem, muitas vezes, simultaneamente no nosso organismo. Estressores produzem estados afetivos negativos, os quais impactam sobre o biológico ou no comportamento, produzindo riscos de doenças. É assim que o organismo pode responder fisiologicamente aos estressores. Sintomatologias relatadas como distúrbios cardiovasculares e disfunções gastrintestinais têm sido correlacionadas com a existência de estressores no ambiente de trabalho (EVANS; STEPTOE, 2001; LIM; ONG; PHOON, 1987; POLLARD, 2001).

Quanto às respostas comportamentais dadas aos estressores organizacionais, o desempenho no trabalho, o absenteísmo e a rotatividade são os comportamentos organizacionais mais evidenciados.

Até o presente momento objetivou-se realizar uma sistemática revisão bibliográfica das abordagens teóricas existentes sobre o estresse ocupacional, bem como dos periódicos científicos nacionais publicados entre 1996 a 2007. Dos artigos pesquisados na literatura nacional, percebe-se que a variável gênero é abordada em quatro dos demais artigos analisados.

Entrevistas e observações foram as técnicas mais utilizadas quando a metodologia adotada é a qualitativa, de modo que escalas e questionários são mais utilizados quando a metodologia é quantitativa. Observou-se que algumas pesquisas mesclaram ambas as metodologias, analisando o fenômeno estresse com uma maior dimensão.

O lado positivo dessa análise é verificar que a maioria das pesquisas tem realizado abordagens conceituais precisas, porém alguns enfoques instigam mais reflexões, como, por exemplo, posicionamentos a respeito do estresse positivo, eustress, sendo necessário ao organismo como forma de proporcionar desenvolvimento ao indivíduo. Tal posicionamento é defendido por Salye (1956) e corroborado mais tarde por Kahn e Byosiere (1992).

O item a seguir introduz a literatura sobre valores, relatando um breve panorama histórico sobre seu desenvolvimento. Logo, apresenta os valores organizacionais, variável independente deste trabalho.