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2.2 Estresse Ocupacional e suas acepções

2.2.3 Modelos Teóricos sobre o Estresse Ocupacional

2.2.3.1. Modelo de McGranth (1976 citado por KAHN; BYOSIERE, 1992)

Em relação ao processo do estresse ocupacional, esse modelo dá ênfase ao processo de feedback entre quatro estágios. Os estágios são conectados a respostas comportamentais do indivíduo, em relação à situação que evocou essa resposta. As situações do ambiente de trabalho caracterizam-se como o primeiro estágio do processo. O segundo estágio consiste na percepção e na avaliação das situações, pelos indivíduos. Se as percepções a respeito dos eventos organizacionais são negativas, o evento caracteriza-se como um estressor. Com base nessa avaliação, ocorrerá decisão por parte do trabalhador, isto é, como ele responderá ao evento. A escolha da resposta é caracterizada como terceiro estágio. Dada a resposta, desenvolve-se uma linha de comportamento, a qual pode alterar a situação original. É o quarto estágio. A principal característica desse modelo recai em sua generalidade e simplicidade. Entretanto esse aspecto faz com que possa ser aplicado a diversos estudos organizacionais.

Quanto à crítica ao modelo de McGranth (1976), considera-se que, embora seja um modelo simples e aplicável a diversos estudos, ele omite informações importantes para análises mais apuradas do fenômeno, como informações importantes sobre: as características organizacionais que geram estressores; as conseqüências organizacionais e pessoais desses estressores e os fatores individuais e situacionais que podem influenciar a avaliação do indivíduo e a maximização ou a diminuição dos efeitos do estresse.

2.2.3.2 Modelo de Lazarus e Folkman (1984)

Esse modelo conceitua o estresse como uma relação conturbada entre a pessoa e o ambiente, na qual uma demanda ambiental, uma restrição ou uma oportunidade, é considerada excessiva para os recursos que o indivíduo possui para lidar com ela. Há ênfase no processo cognitivo do estresse. Uma determinada situação gera estresse se for avaliada como capaz de gerar perdas e danos, ser ameaçadora ou desafiadora.

Quanto às principais características desse modelo, encontra-se a avaliação que o sujeito faz da situação. Essa avaliação ocorre mediante dois processos principais: avaliação primária (primary appraisal) e avaliação secundária (secundary appraisal). Concebe-se que essa avaliação é freqüentemente influenciada por fatores emocionais. A avaliação primária forma-se a partir da avaliação situacional e depende de duas condições antecedentes: percepção das características dos estímulos situacionais e estrutura psicológica do indivíduo. (Exemplo: crenças sobre si mesmo e sobre o ambiente, personalidade e força de seus valores). A avaliação secundária ocorre a partir da avaliação do indivíduo sobre seus recursos para lidar com a situação, isto é, recursos para suprimir ou abrandar os efeitos dos estímulos estressores. O processo de avaliação ocorre ao longo dos eventos organizacionais e pode ser que uma situação inicialmente avaliada como ameaçadora, posteriormente torna-se branda. Além disso, estratégias de enfrentamento avaliadas, a princípio, como inadequadas, podem passar a ser percebidas como adequadas e vice-versa.

2.2.3.3 Modelo de Lazarus (1995)

Nesse modelo, o estresse não é visto como uma propriedade da pessoa ou do ambiente, mas pode se desenvolver a partir da conjuntura de particularidades do ambiente com um tipo determinado de pessoa (características de personalidade). As principais características desse modelo incidem na avaliação que o indivíduo faz em relação às demandas do trabalho, isto é, quando ele as considera como excessivas para os recursos de enfrentamento que possui. Exemplos de situações: pressão de tempo, sobrecarga de trabalho, falta de autonomia e conflitos com superiores para muitos trabalhadores são avaliados como estressores, mas não necessariamente para todos.

Para Lazarus (1995), algumas pessoas, como, por exemplo, aquelas com tendência à depressão ou as usuárias de drogas, podem demonstrar freqüentemente mais reações intensas aos estressores organizacionais, o que resulta em problemas como absenteísmo, baixo desempenho e disfunções emocionais.

2.2.3.4 Teoria do Ajustamento pessoa-ambiente (EDWARDS; COOPER, 1990)

Essa teoria concebe o estresse ocupacional como demandas que excedem a capacidade ou o nível desejado pela pessoa ou pelas capacidades que excedem as demandas. A principal característica desse modelo refere-se ao estresse ocupacional, calculado segundo a

discrepância entre o que o indivíduo percebe e o que deseja em relação aos vários aspectos do contexto do trabalho.

A idéia subjacente a essa teoria é a de que o comportamento seria uma função da interação entre a pessoa e o ambiente, sendo que um aspecto desta relação consistiria no grau em que o indivíduo ajusta-se à situação.

2.2.3.5 Teoria Cibernética do Estresse (EDWARDS, 1992)

Essa teoria conceitua o estresse ocupacional como disparidade entre uma situação percebida pelo empregado e uma situação desejada. Porém, a presença dessa discrepância deve ser considerada importante pelo empregado. As principais características do modelo, de acordo com a conceituação do estresse ocupacional, são: a) o estresse é relacional, isto é, é visto não como um aspecto do empregado ou do ambiente objetivo, mas como uma relação entre os dois; b) o estresse é caracterizado como uma relação entre o que é percebido e o que é desejado pelo indivíduo.

Caracteriza-se pelo princípio básico do negative feedback loop, isto é, o indivíduo recebe informações do ambiente e as compara com um critério de referência relevante. Se a comparação revela uma discrepância entre o ambiente percebido e o critério de referência, o indivíduo tenta modificar o ambiente para diminuir ou eliminar a discrepância. Este processo pode ser iniciado por um distúrbio no ambiente ou por uma mudança no critério de referência do indivíduo.

2.2.3.6 Modelo de Kahn e Byosiere (1992)

É um modelo integrador, pois incorpora desde os antecedentes dos estímulos estressores até as conseqüências das diferentes respostas que o indivíduo dá aos estressores. Tenta ilustrar o processo do estresse ocupacional, especificando muitas variáveis de interesse, bem como as categorias conceituais a que elas pertencem, incluindo antecedentes organizacionais ou características que geram estressores específicos.

Na literatura, estressores são considerados variáveis independentes, mas Kahn e Byosiere (1992) salientam a existência de propriedades organizacionais antecedentes. Políticas, tecnologias e estruturas, nesse modelo, podem gerar eventos estressores no nível de trabalhos e ocupações específicas. Para os citados autores, os antecedentes do estresse são assim elucidados e classificados: a) Organizacionais, por exemplo, tamanho da organização

(KATZ; KAHN, 1978). Organizações muito grandes, onde existe uma distância considerável entre os diversos níveis hierárquicos em que o funcionário tem pouco controle sobre seu trabalho, podem ser mais propícias a gerar eventos estressores. Características do papel (BARTUNEK; REYNOLDS, 1983; IWATA; SUZUKI, 1997 citado por TAMAYO, 2001) e da tarefa (ALFREDSSON; THEORELL, 1983 citado por TAMAYO, 2001) e o próprio deslocamento cotidiano da residência até a organização (KOSLOWSKY, 1997 citado por TAMAYO, 2001) também são considerados antecedentes organizacionais do estresse. b) Estressores da vida organizacional, estímulos propiciados pela própria vida organizacional que geram conseqüências negativas de natureza física (barulho, iluminação) ou psicossocial (ambigüidade do papel, conflito entre papéis, conflito inter-pessoal no trabalho e sobrecarga no trabalho). c) Características individuais, as quais, Kahn e Byosiere (1992) concebem como mediadores do estresse. Relacionam-se às características do indivíduo (personalidade, locus de controle e características demográficas) e as propriedades da situação (suporte social do supervisor e suporte social dos colegas de trabalho) são moderadores do processo.

Esse modelo também faz alusão aos conseqüentes e às respostas ao estresse ocupacional. Em relação aos conseqüentes, às respostas dadas ao estresse, se o indivíduo percebe e avalia os eventos como estressores, têm-se as respostas a eles, as quais podem ser de natureza fisiológica (como problemas cardiovasculares e gastrintestinais), psicológica (como depressão e insatisfação no trabalho) e comportamental (como rotatividade e absenteísmo). Como conseqüência, essas respostas causam um impacto na saúde dos indivíduos, na efetividade organizacional e na performance em outros papéis da vida.