• Nenhum resultado encontrado

Tecnologias da informação e comunicação no caminho da sustentabilidade

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Tecnologias da informação e comunicação no caminho da sustentabilidade"

Copied!
330
0
0

Texto

(1)João Samarone Alves de Lima. TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NO CAMINHO DA SUSTENTABILIDADE. Tese submetida ao Programa de PósGraduação Interdisciplinar em Ciências Humanas, da Universidade Federal de Santa Catarina, para a obtenção do Grau de Doutor em Ciências Humanas. Orientadora: Profa. Dra. Julia Silvia Guivant. Coorientador: Prof. Dr. Selvino José Assmann.. Florianópolis 2015.

(2) Ficha de identificação da obra elaborada pelo autor, através do Programa de Geração Automática da Biblioteca Universitária da UFSC. Lima, João Samarone Alves de Tecnologias da informação e comunicação no caminho da sustentabilidade / João Samarone Alves de Lima ; orientadora, Júlia Silvia Guivant ; coorientador, Selvino José Assmann. - Florianópolis, SC, 2015. 330 p. Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências Humanas. Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas. Inclui referências. 1. Ciências Humanas. 2. Tecnologias da Informação e Comunicação. 3. Responsabilidade Social Empresarial. 4. TI Verde. 5. Resíduos Eletroeletrônicos. I. Guivant, Júlia Silvia. II. Assmann, Selvino José. III. Universidade Federal de Santa Catarina. Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas. IV. Título..

(3)

(4)

(5) A minha família pela presença de cada um e apoio incondicional e por tudo que nos une. Meu porto seguro..

(6)

(7) AGRADECIMENTOS Foram quatro anos que se passaram rapidamente, nesse período muita luta suor e lágrimas. Noites adentro, e vários sentimentos: alegrias, tristezas, angústias, dúvidas entre tantos outros – uma tempestade deles. Assim, primeiramente rendo a Deus, criador supremo de todas as obras, meu profundo agradecimento por mais uma importante conquista. A Deus toda honra e toda glória. À professora orientadora, Dra. Julia Sílvia Guivant que prontamente aceitou orientar minha pesquisa, apostou na minha ideia, acreditou no meu potencial e que, por tantas vezes, me fez ampliar meus limites. Serei eternamente grato pela função desempenhada com louvor, pela paciência, compreensão, sugestões, críticas e franqueza, por servir de exemplo com sua invejável energia e generosidade. Muito obrigado pela oportunidade de fazer parte do Instituto de Pesquisa em Riscos e Sustentabilidade (IRIS) – ambiente profícuo de partilhas intelectuais e afetivas. Agradeço a meus Mestres, todos os professores do Programa de Pós-graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas da UFSC por primarem pela excelência no aprendizado, mostrando a importância do constante aprendizado, pela busca da qualidade, do profissionalismo que contribuiem para a formação do conhecimento – se dispuseram a quebrar paradigmas arraigados e se lançaram no desafio ‘dinteriano’. À banca avaliadora: Profª Drª Gina Rizpah Besen; Profº Drº Adilson Francelino Alves; Profº Drº Sérgio Luís Boeira; Profº Drº Luiz Fernando Scheibe; por aceitarem participar do processo de apreciação, avaliação e contribuições à pesquisa e em especial a Profa. Dra. Luzinete Simões Minella que participou da qualificação e da seleção do doutorado, sempre contribuído com honestidade e sinceridade na avaliação do trabalho. Ao Profº Drº Selvino José Assmann, meu coorientador que colabora com minha pesquisa desde o início e sempre teve participação decisiva em meu processo de formação. Agradeço aos meus colegas de trabalho e companheiros da turma DINTER – Aline, Beatriz, Célia, Eliana, Fátima, Jamylle, Josie, Marlesson, Raquel, Sandra, Sílvio, Socorro – pela convivência e instigantes discussões que colaboraram na construção coletiva do saber e, em especial a Aline, Beatriz, Marlesson, Sergio Guimarães, Socorro e Valquíria companheiros nas viagens para o campus Vitória de Santo Antão, pela solidariedade e por todas as trocas afetuosas..

(8) À professora Dra. Joana Maria Pedro e aos professores Dr. Luiz Fernando Scheibe e Dr. Selvino Assmann que, com competência e compromisso, empreenderam todos os esforços necessários para a realização do DINTER. À coordenação do DICH/UFSC, professora Dra. Teresa Kleba, sempre atenciosa e dedicada às nossas reivindicações e aos servidores da Secretaria, Jerônimo Ayala, Elaine de Lima e Cristina que, com atenção e presteza, sempre nos atenderam. Aos professores Francisco das Chagas, João Almeida e Fábio Denílson, respectivamente, Diretor-Geral, Diretor de Ensino e Coordenador do Curso Técnico em Informática do Campus Belo Jardim/IFPE, pelo apoio e compromisso inestimáveis para a concretização desse doutorado. Ao professor José Edilson de Moura Cavalcanti, pela atenção e generosidade no compartilhamento de informações. Às professoras Anália Keyla, Sofia Brandão e Normanda Beserra, pelo pioneirismo e empenho para que a proposta do DINTER se tornasse viável. Às professoras Núbia Frutuoso, Ana Patrícia Falcão e o professor Sandro Bezerra, pelo seu empenho e compromisso para que esse doutorado se tornasse realidade. À professora Velda Martins pelo apoio irrestrito durante a realização das aulas, no campus Vitória de Santo Antão, e aos estagiários, especialmente Karla Kedma e Enilma Almeida. A CAPES, pelo apoio para a efetivação do DINTER (UFSC / IFPE / IFPB / IFAL) e pela concessão de bolsa para a realização de estágio doutoral na UFSC / SC. Agradecimentos em especial a minha família, minha esposa, amiga e companheira Cristina Cunha de Lima e meus filhos Matheus, Priscila, João Pedro e Daniel, que com amor, carinho, atenção, dedicação, suportaram todos os momentos, abdicando de tantas horas sem nunca reclamarem. Meus motivadores pela busca constante do conhecimento, crescimento humano e profissional. À minha mãe, Maria Dione por uma vida de dedicação à família, a tia Nice minha segunda mãe, a meu irmão, tias e primos – pelas orações e por tudo que nos une. Por fim, agradeço a todos da gestão do IFPE por primarem pelo aperfeiçoamente dos seus colaboradores, incentivando e proporcionando as condições necessárias para a realização desse doutorado e a todos aqueles que, de alguma maneira, contribuíram com compreensão, amizade e estímulo..

(9) Os otimistas são ingênuos, os pessimistas são amargos. Bom mesmo é ser um realista esperançoso. Ariano Suassuna.

(10)

(11) RESUMO O objeto central desta tese é analisar os processos de constituição dos padrões de sustentabilidade que estão sendo utilizados na indústria das tecnologias de informação e comunicação. O primeiro eixo da tese corresponde a análises das estratégias de responsabilidade corporativa das grandes empresas produtoras de TIC e das coalizões e iniciativas estruturadas por elas. O segundo eixo se refere ao e-waste. Referente ao primeiro eixo, discutiram-se os significados de sustentabilidade do setor e o papel dos standards na cadeia global de suprimento de eletrônicos. Utilizou-se o referencial teórico da modernização ecológica. Nosso trabalho de pesquisa envolveu diversas fontes: 1) artigos científicos que continham as palavras “green computing” e “green it” publicados em diversas revistas acadêmicas disponibilizadas no portal de periódicos CAPES até o ano de 2013. A amostra final foi composta de 71 artigos que discutem principalmente a busca pela eficiência energética na utilização das TIC; 2) relatórios ambientais publicados pelas empresas Lenovo e Itautec, nos quais se procurou estudar o significado de sustentabilidade atribuído por essas empresas; 3) sítios eletrônicos das duas principais organizações representativas do setor, a EICC e a GeSI; e, 4) estudo de campo em Florianópolis (SC) e Recife (PE) das estratégias adotadas por empresas privadas, instituições públicas e organizações não governamentais na gestão de resíduos eletroeletrônicos. Conclui-se que os discursos denominados green computing, conhecido no Brasil como TI Verde, são influenciados diretamente pela difusão de práticas ecológicas pela organização GeSI, que estimula as empresas usuárias de TIC a desenvolverem estratégias voltadas à eficiência energética e os diversos setores da economia a buscarem maximização de eficiências na aplicação da TIC nos diversos processos de negócios. A EICC por intermédio da construção e aplicação de um código de conduta para a cadeia de suprimento da TIC tornou-se uma autoridade privada especializada em sustentabilidade do setor. Auditorias realizadas nas empresas pela EICC revelaram conflitos sociais e reflexões que visam identificar as melhores práticas produtivas na indústria da TIC. Referente ao segundo eixo da tese se aborda ainda as origens do e-waste das TIC, onde apresentamos seus impactos socioambientais e os desafios enfrentados pela cadeia de gestão. São abordadas as oportunidades de negócios e desenvolvimento social a partir da reciclagem deste tipo de resíduos no Brasil. Normas reguladoras tanto a nível nacional com a PNRS, como internacionais com as diretivas da União Europeia, estão entre as inovações discutidas..

(12) Desta maneira, com estes dois eixos de pesquisa, a tese discute de forma mais abrangente os discursos da TI Verde como estratégia de desenvolvimento sustentável da indústria de TIC, apresentando os avanços, conflitos e desafios enfrentados no caminho da responsabilidade corporativa. A tese apresenta uma análise que contribui para os estudos interdisciplinares sobre a responsabilidade social empresarial. Palavras chave: TI Verde. Resíduos Eletroeletrônicos. Standards. RSE. Modernização Ecológica..

(13) ABSTRACT The main goal of this thesis is to analyze the processes of constitution of sustainability standards being used in the industry of information and communication technologies. The first axis corresponds to the thesis analyzes of corporate responsibility strategies of large companies producing TIC and coalitions and initiatives structured for them. The second axis refers to the e-waste. Referring to the first axis, it discussed the sector's sustainability meanings and the role of standards in the global supply chain electronics. We used the theoretical framework of ecological modernization. Our research work involved several sources: 1) scientific articles containing the words "green computing" and "green it" published in several academic journals available in the CAPES portal by the year 2013. The final sample consisted of 71 articles mainly discuss the search for energy efficiency in the use of TIC; 2) environmental reports published by Lenovo and Itautec companies, of which it was intended to study the meaning of sustainability given by these companies; 3) electronic sites of the two main organizations representing the industry, the EICC and GeSI to; and, 4) field study in Florianópolis (SC) and Recife (PE) of the strategies adopted by private companies, public institutions and non-governmental organizations in the management of electronic waste. We conclude that the speeches called green computing, known in Brazil as Green IT, are directly influenced by the diffusion of environmentally friendly practices by GeSI organization, which stimulates TIC user companies to develop strategies for energy efficiency and the various sectors of the economy seek maximizing efficiencies in the application of TIC in various business processes. The EICC through the construction and application of a code of conduct for supply chain TIC has become an authority specialized in private sector's sustainability. Audits in companies by EICC revealed social conflicts and reflections aimed at identifying the best production practices in the TIC industry. For the second axis of the thesis also discusses the origins of e-waste TIC, where we present their environmental impacts and the challenges faced by the management chain. Business opportunities and social development are addressed from the recycling of this type of waste in Brazil. Regulatory standards at national level with the PNRS, and international with the European Union directives, are among the innovations discussed. Thus, with these two axes of research, the thesis discusses the Green IT discourses more broadly as sustainable development strategy of the TIC industry, with advances, conflicts and challenges in the way of corporate.

(14) responsibility. The thesis presents an analysis that contributes to the interdisciplinary studies on corporate social responsibility. Keywords: Green IT. Electronics waste. Standards. CSR. Ecological modernization..

(15) LISTA DE FIGURAS Gráfico Gráfico 1 Ações de RSE desenvolvidas pelas empresas................. Gráfico 2 Pegada ecológica global por componente, 1961-2008... Gráfico 3 Número de não conformidades por dimensão do Código............................................................................. Gráfico 4 Número de não conformidades por requisito do Código Gráfico 5 Número médio de não conformidades com o Código..... Gráfico 6 Estimativa de geração de e-waste no Brasil..................... 47 53 128 130 132 186. Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura Figura. 1 2 3 4 5 6 7 8 9. Figura 10 Figura 11 Figura 12 Figura 13 Figura 14 Figura 15 Figura 16 Figura 17 Figura 18 Figura 19 Figura 20 Figura 21 Figura 22. Modelos do selo RoHS................................................... 30 Modelos do selo EPEAT................................................. 31 Selo Energy Star............................................................. 32 RSE em três fases............................................................ 44 Triângulo do Desenvolvimento Sustentável................... 51 Estratégias ambientais competitivas............................... 63 Data Center do Google na Finlândia.............................. 89 Pegada de carbono da TIC.............................................. 96 Relações setoriais das alavancas e subalavancas de mudanças......................................................................... 101 Estrutura organizacional da EICC .................................. 109 Dimensões e Princípios do Código de Conduta da EICC................................................................................ 113 Modelo de implementação do Código de Conduta da EICC................................................................................ 122 Modelo de administração do VAP pela EICC & GeSI... 123 Porcentagem de não conformidades do código EICC 2011/2012........................................................................ 133 Certificações voluntárias Lenovo ThinkPad................... 145 Selo Verde do CCE da USP............................................ 150 Processador Intel 4004.................................................... 163 Capa do artigo de Veja sobre o drama do e-waste em Gana................................................................................ 172 Reciclagem informal de e-waste em Guiyu.................... 174 Rotas movimentação transfronteiriço do e-waste........... 175 Retratos dos impactos socioambientais de e-waste no Recife.............................................................................. 181 Processo básico de reciclagem do e-waste...................... 198.

(16) Figura 23 Estruturas para reciclagem e desmontagem manual de e-waste............................................................................ 201 Figura 24 Operações integradas de fundição e refino de metais da Umicore........................................................................... 203 Figura 25 Cenário da legislação do e-waste nos Estados Unidos... 216 Figura 26 Estrutura do Comitê Orientador para a implementação da LR............................................................................... 231 Figura 27 Localização da cidade de Tacaimbó............................... 239 Figura 28 Projeto Robô de Sucata do EREM de Tacaimbó............ 240 Figura 29 Laboratório de manutenção de PCs para reuso............... 244 Figura 30 Fardos para exportação de placas de circuitos impressos......................................................................... 244 Figura 31 Fardos de PCs Compuciclado para reciclagem............... 248 Figura 32 Segundo mutirão de descarte de e-waste na UFSC......... 255 Figura 33 Modelo de funcionamento do Projeto CI........................ 258 Figura 34 Ecoestação de recicláveis do Projeto EcoRecife............. 264.

(17) LISTA DE QUADROS Quadro 1 Quadro 2 Quadro 3 Quadro 4 Quadro 5 Quadro 6 Quadro 7 Quadro 8 Quadro 9 Quadro 10 Quadro 11 Quadro 12 Quadro 13 Quadro 14 Quadro 15 Quadro 16 Quadro 17 Quadro 18 Quadro 19 Quadro 20 Quadro 21 Quadro 22 Quadro 23 Quadro 24 Quadro 25 Quadro 26 Quadro 27 Quadro 28 Quadro 29 Quadro 30 Quadro 31 Quadro 32 Quadro 33. Perspectivas Responsabilidade Social Empresarial.... Visões de mundo da produção capitalista................... Ecolabels da TIC......................................................... Classificação de Membros e Parceiros da GeSI......... Potenciais reduções GEE em setores da economia..... Estudo de caso subalavanca de vídeo conferência...... Barreiras para adoção de tecnologias de TIC............. Empresas membros da EICC...................................... Conselho de Administração da EICC......................... Stakeholders da EICC................................................ Questões emergentes para EICC................................. Grupos de trabalho da EICC....................................... Etapas do VAP............................................................ Números de auditorias iniciais e conclusão por país.. Principais não conformidades código EICC em 2012 Elementos do fornecimento de metais para indústria da TIC......................................................................... Certificações de modelos ThinkPad............................ Disposições Lei 12.305/2010 de resíduos sólidos...... Evolução dos processadores Intel e dos sistemas operacionais................................................................ Substâncias perigosas contidas no e-waste................. Metodologias de dimensionamento do volume de resíduos....................................................................... Metais pesados contidos no e-waste........................... Tecnologias de reciclagem do e-waste....................... Tecnologias aplicadas a reciclagem do e-waste.......... Análises sustentabilidade de fundição state-of-theart................................................................................ Disposições da diretiva 65/2011/UE........................... Disposições da diretiva 19/2012/UE........................... Disposições Lei 12.305/2010 de responsabilidade compartilhada.............................................................. Disposições Lei 15.084/2013 coletores de e-waste em Pernambuco........................................................... Empresas recicladoras................................................. Disposições decreto nº7.404/10 regulamentar PNRS. Posto de coleta de e-waste em Florianópolis.............. Distribuição nacional dos CRC.................................... 42 61 72 81 102 103 105 108 110 112 115 117 127 131 134 137 147 161 166 176 185 192 198 199 204 213 214 224 227 229 232 247 259.

(18)

(19) LISTA DE TABELAS Tabela 1 Tabela 2 Tabela 3 Tabela 4 Tabela 5. Estimativas de geração e-waste em toneladas por ano... Vendas globais de PCs no 3º trimestre........................... Vendas globais de PCs de 2009 a 2013.......................... Vendas e estimativas de PCs obsoletos no Brasil........... Estimativas de metais recuperáveis no e-waste............... 179 179 180 188 194.

(20)

(21) LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica Associação Brasileira de Normas Técnicas Audit Program Manager Basel Convention Coalition of Environmentally Responsible Economies Centro de Ciências Biológicas Comitê pela Democratização da Informática Centro de Descarte e Reuso de Resíduos de Informática Conflict Free Smelter Initiative Comitê Orientador para a implementação da LR Centros de Recondicionamento de Computadores Cathodic Ray Tube, Tubo de Raios Catódicos Equipamentos Elétricos e Eletrônicos Electronic Industry Citizenship Coalition Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos EMLURB Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife United States Environmental Protection Agency EPA EPEAT Electronic Product Environmental Assessment Tool EREM Escola de Referência de Ensino Médio FCAM Fundação Cambirela do Meio Ambiente GEE Gases do Efeito Estufa GeSI Global e-Sustainability Initiative GRI Global Reporting Initiative GTTREEE Grupo de Trabalho Temático de Resíduos Eletroeletrônicos GtCO2e Gigatoneladas de Dióxido de Carbono Inclusão Digital ID IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada ISO International Standardization Organization ISR Investimento Socialmente Responsável LAO Licença Ambiental Operacional LR Logística Reversa MDIC Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior ONG Organização Não Governamental ONU Organização das Nações Unidas PNRS Política Nacional de Resíduos Sólidos. ABDI ABINEE ABNT APM BC CERES CCB CDI CEDIR CFSI CORI CRC CRT EEE EICC ELETROS.

(22) PC PCI RMR RoHS RSE SO TIC UE UNESCO UNEP USP VAP VAR WEEE. Personal Computer Placas de Circuitos Impressos Região Metropolitana do Recife Restriction of Certain Hazardous Substances Responsabilidade Social Empresarial Sistema Operacional Tecnologia da Informação e Comunicação União Europeia United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization United Nations Environment Programme Universidade de São Paulo Validated Audit Process Validated Audit Report Waste from Electrical and Eletronic Equipment.

(23) SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO......................................................................... 25. 2. SUSTENTABILIDADE E RESPONSABILIDADE EMPRESARIAL ....................................................................... 39. 1.1 1.2 1.3 2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 2.6 2.7. PROBLEMÁTICA DA PESQUISA ................................................ 27 JUSTIFICATIVA............................................................................. 32 METODOLOGIA DA PESQUISA.................................................. 33. RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL....................... 39 PROGRESSÃO DO INVESTIMENTO ÉTICO .............................. 44 O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL.................................. 49 RSE: NOVA PERSPECTIVA.......................................................... 52 A TEORIA DA MODERNIZAÇÃO ECOLÓGICA ....................... 58 PRODUTOS E PROCESSOS SUSTENTÁVEIS: ECODESIGN, DESMATERIALIZAÇÃO E STANDARDS .................................... 61 A TEORIA DOS STANDARDS ..................................................... 67. 3. A RSE DA TIC: DISCURSOS E PRÁTICAS DOS ATORES, STANDARDS E CERTIFICAÇÕES ....................................... 75. 3.1 3.2. A GOVERNANÇA INFORMACIONAL PRIVADA DA TIC ....... 75 A GESI: A REDE GLOBAL DE INTERAÇÕES DE PRÁTICAS SOCIOAMBIENTAIS DAS TIC ..................................................... 79. 3.2.1 Eficiência energética na TIC: uma aposta sustentável difundida pela GeSI .................................................................. 87 3.2.2 Oportunidades de futuro sustentável apontado pela GeSI.... 93 3.2.3 O papel da TIC na redução de GEE de outros setores .......... 99 3.3. EICC E A CIDADANIA EMPRESARIAL DAS TIC ................... 106. 3.3.1 3.3.2 3.3.3 3.3.4 3.3.5. O código de conduta do setor das TIC .................................. 112 Grupos de trabalho da EICC................................................. 116 Processo de auditoria do Código de Conduta da EICC....... 121 Auditorias do Código de Conduta da EICC ......................... 127 Responsabilidade mineral: The Conflict-free Sourcing Initiative.................................................................................... 135. 3.4. OS DISCURSOS E AS PRÁTICAS DOS FABRICANTES DE PRODUTOS DE TIC ..................................................................... 140. 3.4.1 RSE de uma empresa transnacional: o caso Lenovo ........... 140 3.4.1.1 Novos produtos: ecodesign na Lenovo ............................... 143 3.4.2 RSE de uma empresa nacional: o caso Itautec ..................... 149 3.4.3 Análise comparativa de fase da RSE: Itautec e Lenovo ...... 152 4 GESTÃO DO E-WASTE: ORIGENS E CENÁRIOS, ESTRATÉGIAS DE RECICLAGEM, RISCOS E BENEFÍCIOS, REGULAÇÃO PÚBLICA E PRIVADA .... 157.

(24) 4.1 4.2 4.3 4.4 4.5 4.6. O E-WASTE E A PROBLEMÁTICA DE RISCOS........................157 ORIGENS, DEFINIÇÕES E CLASSIFICAÇÕES DO E-WASTE 162 CENÁRIO GLOBAL DA POLUIÇÃO ELETRÔNICA: O DESTINO DO E-WASTE..............................................................170 CENÁRIO BRASILEIRO DA POLUIÇÃO ELETRÔNICA ........180 SUBSTÂNCIAS TÓXICAS E RECUPERAÇÃO DE RECURSOS NO E-WASTE. ................................................................................189 TECNOLOGIAS DE RECICLAGEM DO E-WASTE..................196. 4.6.1 Tecnologias de pré-processamento........................................ 201 4.6.2 Tecnologias de processamento final ...................................... 202 4.7 4.8 4.9 5 5.1 5.2. CONTEXTUALIZAÇÃO DA REGULAÇÃO INTERNA E EXTERNA DA POLUIÇÃO ELETRÔNICA................................211 RESPONSABILIDADE ESTENDIDA OU COMPARTILHADA DO E-WASTE: POLÍTICAS NO BRASIL.....................................217 PNRS E REGULAMENTAÇÃO APLICÁVEL AO E-WASTE ....222 ESTUDO DE CASOS: EDUCAÇÃO AMBIENTAL E CONTEXTOS PRODUTIVOS EM RECICLAGEM DO EWASTE NO BRASIL....................................................................237 EDUCAÇÃO AMBIENTAL E O E-WASTE EM ESCOLA NO AGRESTE DE PERNAMBUCO ...................................................237 RECICLAGEM DO E-WASTE NA PRÁTICA: CASOS EM FLORIANÓPOLIS E RECIFE.......................................................241. 5.2.1 Compuciclado, Palhoça-SC: gestão do e-waste e benefícios sociais ....................................................................................... 242 5.2.2 Mutirões de descarte do e-waste na UFSC............................ 253 5.2.3 CRC, Recife-PE: gestão do e-waste e benefícios sociais....... 257 5.2.4 A Gestão do e-waste no Recife ............................................... 263 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................. 269 REFERÊNCIAS...................................................................... 275 ANEXO A – Relação de Artigos Relacionados a TI Verde. 295 ANEXO B – Sub-Alavancas de transformações por Alavancas de mudanças. .................................... 303 ANEXO C – Código de Conduta da EICC........................... 309 ANEXO D – Memórias do contato com a EICC.................. 319 ANEXO E – Memórias de experimentos de programas de reciclagem e-waste. ............................................. 321.

(25) 25. 1. INTRODUÇÃO. A busca pela sustentabilidade ambiental tem se tornado uma meta prioritária para grande parte das organizações empresariais do planeta. A indústria das tecnologias da informação e comunicação (TIC) com toda sua pujança lança-se na batalha como um ator importante que pode fazer a diferença no processo de mitigação dos riscos socioambientais e das mudanças climáticas. Esta indústria acredita que aplicações diretas e indiretas de TIC nas organizações podem resolver muitos dos problemas ambientais enfrentados na modernidade. A iniciativa está sendo chamada de Green Computing (Computação Verde ou Computação Ecológica) pelas grandes empresas do setor. Na investigação da historicidade do discurso, observa-se que ele começou a ser produzido no início do século XXI com o respaldo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) o do órgão de promoção das tecnologias da informação da ONU, o International Telecommunication Union (ITU). Desta iniciativa surge um ator importante, a Global e-Sustainability Initiative (GeSI) que passa a explorar as relações entre desenvolvimento responsável e o setor da TIC. Na mesma época surge a Electronic Industry Citizenship Coalition (EICC) importante representante da indústria eletrônica que busca conciliar os interesses econômicos daquele setor com as questões do desenvolvimento sustentável. Nos anos seguintes a adesão de executivos de empresas importantes do setor como o Google e a Intel reforçam a proposta com a promoção de conferências como a realizada em 2007 na sede do Google na Califórnia para discutir as estratégias ambientais daquelas organizações transnacionais. Na conferência organizada pelo Google e pela Intel foram divulgadas as principais iniciativas e as metas da indústria de TIC. O foco principal naquele momento concentrava-se na eficiência energética da computação. O grupo de discussão incluiu gigantes transnacionais da alta tecnologia como a Dell, eBay, Microsoft, Hewlett-Packard (HP), Hitachi, IBM, Cisco, AMD, Intel, Sun, NEC, entre outros. Faziam parte também instituições de pesquisa como o Massachusetts Institute of Technology (MIT) e escritores como Andrew S. Winston, autor do livro “Green to Gold: How Smart Companies use Environmental Strategy to Innovate, Create Value, and Build Competitive Advantage” – (Ouro Verde: Como empresas inteligentes utilizam a estratégia ambiental para inovar, criar valor e construir uma vantagem competitiva); organizações ambientais; agências governamentais, incluindo a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA). A IBM com o Project Big Gree;.

(26) 26. e a Apple que pretende eliminar produtos tóxicos dos seus produtos fazem parte desse consórcio poderoso da indústria da TIC que tem como propósito salvar o mundo da ameaça das mudanças climáticas (GOOGLE..., 2007; SCHURR, 2007). É interessante observar que se trata de um grande encontro, um fórum que reúne as empresas transnacionais de alta tecnologia mais importantes do cenário mundial, a comunidade científica, instituições que representam políticas governamentais e a mídia. Estes atores constituem, em nosso entendimento, a dimensão de argumentadores responsáveis para construção do problema ambiental relacionado com as empresas de TIC. É através das vozes desses interlocutores que se constrói a credibilidade e prestígio como forma de patrocinar a construção bem-sucedida do problema ambiental provocado pela TIC. Hannigan (2009, p.119) ajuda-nos a compreender o fenômeno apresentando detalhadamente os fatores necessários que confluem na construção social da problemática ambiental: autoridade da comunidade científica que oferece validade aos argumentos; popularizadores – pessoas capazes de formar opinião como jornalistas, líderes políticos entre outros – que conseguem integrar o ambientalismo e a ciência; visibilidade na mídia que procura estruturar o problema apresentando-o como novo e importante; dramatização do problema em termos simbólicos e visuais; incentivos econômicos para uma ação positiva; existência de patrocinador institucional que possa garantir legitimidade e continuidade. A contribuição desse evento para propagar mundialmente a ideia de uma “Computação Verde” torna-se fundamental. Trata-se, portanto, de um evento de grande envergadura que contou inclusive com a participação de nomes imponentes da alta tecnologia como o cofundador do Google, Larry Page. É a partir desse momento que se começa a observar com maior ênfase no meio tecnológico a utilização de discursos como: Green IT, TI Verde, Tecnologias da Informação Sustentável, entre outros que apontam para a importância da sustentabilidade ambiental da indústria de TIC. Surge, assim, uma nova tendência de práticas no mercado da TIC que ao nosso ver carece de ser estudada e analisada em profundidade, objetivando verificar a sua efetividade. Propomos aqui estudar tal tendência a partir da ótica do construcionismo social dos problemas ambientais. Esta é uma perspectiva teórica que vem sendo fortalecida a partir de várias pesquisas bem sucedidas desenvolvidas, entre outros espaços acadêmicos, no Instituto de Pesquisa em Riscos e Sustentabilidade (IRIS) da Universidade Federal de Santa Catarina.

(27) 27. (UFSC). Para Guivant (2002, p. 3), a proposta da perspectiva construtivista na sociologia ambiental busca: [...] entender como as pessoas atribuem significados a seus mundos. O que passa a ser socialmente considerado como um problema ambiental não implica meramente uma leitura imparcial e neutra de um fenômeno real, ou estar se referindo a fatos objetivos sobre a natureza, mas de demandas construídas socialmente. O trabalho da sociologia ambiental seria o de analisar como os problemas ambientais são montados, são apresentados e contestados. Em princípio, alguém precisa persuadir outros atores sociais sobre quais são os problemas mais e menos urgentes.. As empresas de TIC têm pela frente um grande desafio: produzir novos produtos para atender a essa nova exigência socioambiental e serão eles os produtos, incluindo os serviços, que indicam a fase da Responsabilidade Social Empresarial (RSE) na qual as organizações do setor estariam posicionadas. Identificar se os discursos de Green Computing estão em conformidade com os conceitos de ecodesign e desmaterialização, e assim, posicionando aquela indústria na fase mais recente da RSE, é uma das motivações que dirigem esta tese. Valendo-se dessa discussão considerando a importância do fenômeno, as consequências socioambientais do uso das TIC no mundo moderno, e foco na teoria da Mordenização Ecológica – que apresentaremos posteriormente – e na perspectiva socioconstrutivista dos problemas ambientais, colocamos a pergunta central desta tese: como as empresas produtoras de TIC definem as estratégias de sustentabilidade e como as implementam através de standards? 1.1. PROBLEMÁTICA DA PESQUISA. A Green Computing, referente aos impactos sociais, econômicos e ambientais decorrentes da operacionalização dos serviços de tecnologia da informação e comunicação, é baseada, segundo aquela indústria, conforme será apresentado, em iniciativas que buscam diminuir os efeitos nocivos daquele setor, ao mesmo tempo em que conservam ou até incrementam os seus benefícios..

(28) 28. Nos discursos de sustentabilidade em TIC observa-se o incentivo para atualização tecnológica como meio de promoção da sustentabilidade ambiental. A indústria da TIC trabalha em rede com outros atores econômicos para construir demandas que carregam fortes simbolismos de ecoeficiência e ecoconsumo, uma vez que a sustentabilidade do planeta consolidou-se como um princípio inquestionável. A teoria da modernização ecológica ajuda-nos a entender o processo complexo dessas transformações. Guivant (2009, p.173) explica: A noção de modernização ecológica pode ser vista como a interpretação sociológica do processo de reforma ambiental em múltiplas escalas no mundo contemporâneo. A teoria se propõe a analisar como diversas instituições e atores sociais podem integrar suas preocupações ambientais no seu cotidiano, no desenvolvimento e relacionamento com outros, incluindo aqui o mundo natural, e transcender a divisão entre ecologia e economia, internalizando os “custos externos” em funções do mercado e da economia em geral.. A autora mostra em sua pesquisa realizada no setor supermercadista que este constrói uma imagem onde “não são vistos só como forças que deterioram o meio ambiente, mas como instituições de mercado que podem trabalhar em favor de uma reforma ambiental” (GUIVANT, 2009, p.173). Consideramos que existe aqui uma semelhança muito forte com o movimento de sustentabilidade da TIC. Por isso, este precisa ser analisado numa perspectiva não essencialista ou dicotômica para entendermos: [...] como as dinâmicas e demandas ambientais passam a fazer parte não só do discurso, mas de práticas influentes de atores econômicos poderosos e que podem passar a ter consequências não premeditadas nas relações entre produção e consumo nas novas regras da globalização dos mercados (GUIVANT, 2009, p.194).. O grande desafio passa a ser a identificação da validade ambiental da demanda de novos produtos de TIC e compreender se ela.

(29) 29. foi construída visando apenas fins econômicos ou soma-se também benefícios para o meio ambiente. Preocupação justificada por Jenkin, Webster e Mcshane (2011), que asseguram que a indústria de TIC divulga que existe um problema ambiental real e concreto o qual precisa ser combatido, e que existe uma grande variedade de oportunidades porque há lacunas reais para práticas de sustentabilidade ambiental a partir da aplicação de novos produtos e serviços de TIC. Nesse sentido, os novos produtos da TIC sustentável precisariam estar de acordo com o conceito de ecodesign, que pode incluir o redesenho completo dos produtos de uma empresa, até a mudança do tipo de produto, no qual se substitui um produto físico por uma prestação de serviço, ou seja, uma mudança radical na estratégia do negócio (LAVILLE, 2012). Shahid (2009), engenheiro que compõe a equipe do L-Lab (Alternative Leadership Approach to Sustainability, Laboratório de abordagem alternativa de liderança para sustentabilidade) no MIT, esclarece que a Green Computing ou Green IT diz respeito ao uso dos recursos da computação de forma eficiente e está relacionado com a gestão do ciclo de vida dos equipamentos, com a redução ou eliminação de produtos tóxicos dos equipamentos e no processo de fabricação. Inclui ainda considerações quanto à gestão de melhorias nas práticas de uso nas organizações e nos departamentos de TIC. Nessa perspectiva o autor sugere que adotar uma postura verde em computação significa ter uma postura responsável com a reciclagem dos equipamentos para diminuir riscos à saúde das pessoas e contaminação do meio ambiente, economia de energia elétrica como forma de conservação dos recursos naturais e mitigar os efeitos das mudanças climáticas. No Brasil, a discussão ganhou visibilidade a partir das iniciativas desenvolvidas pelo Centro de Computação Eletrônica (CCE) da Universidade de São Paulo (USP) com o projeto Centro de Descarte e Reuso de Resíduos de Informática (CEDIR) iniciado em 2007 – um exemplo de patrocinador institucional como observa Hannigam (2009). Este projeto corresponde a uma das ações emanadas da Comissão de Sustentabilidade de TIC da USP, a gestão dos resíduos tecnológicos (CARVALHO; FRADE; XAVIER, 2014). Desenvolvido no CCE da USP e idealizado pela professora Carvalho1, que na ocasião dirigia aquele centro. O projeto CEDIR foi desenvolvido em parceria com o 1. Curriculum vitae. Disponível em: <http://lassu.usp.br/equipe/terezacristina-melo-de-brito-carvalho>. Acesso em: 08 out. 2012..

(30) 30. MIT que forneceu suporte na especificação dos processos de reciclagem dos equipamentos eletrônicos. Os discursos em torno de uma computação verde surgiram com ênfase na eficiência energética na operacionalização dos sistemas computacionais, na preocupação com a gestão da reciclagem e reuso dos resíduos eletrônicos e na eliminação ou redução de substâncias tóxicas que compõem os equipamentos eletrônicos, ou seja, aspectos que, de acordo com Jenkin et al. (2011), correspondem a impactos diretos na mitigação dos problemas ambientais daquela indústria. Os autores dizem ainda existir outros aspectos que proporcionam impactos indiretos em relação à problemática ambiental, os quais serão explorados mais adiante na tese. Finalmente, algumas empresas de TIC investem em ações filantrópicas como forma de construir sua imagem de organização que têm preocupações socioambientais (BRYANT, 2007; BRODKIN, 2007; SCHURR, 2007). Como indicativo para clientes cujos equipamentos estão em conformidade com standards os quais determinam, por exemplo, que sejam banidas substâncias químicas perigosas dos produtos e do próprio processo de fabricação, algumas empresas de TIC começam a rotular seus produtos com selos correspondentes, como é o caso da Itautec, entre outras. No caso do selo RoHS2 (Restriction Of Hazardaous Substances, Restrição de Substâncias Perigosas) não significa que a empresa passou por um processo de certificação específico para utilizálo. A Figura 1 apresenta modelos do referido selo. Figura 1 – Modelos do selo RoHS.. 3. Fonte: Sítios eletrônicos. 2. 3. Regulamentação da União Europeia (UE) que restringe o uso de algumas substâncias perigosas em equipamentos elétricos e eletrônicos, em vigor desde julho de 2006. As diretrizes RoHS proíbe a comercialização de equipamentos elétricos e eletrônicos nos mercados da UE que contêm mais do que os níveis acordados de chumbo; cádmio; mercúrio; cromo hexavalente; bifenilos polibromados (PBB); e, retardadores de chamas a base de éter difenil polibromados (PBDE). Disponível em: <http://www. bis.gov.uk/nmo/enforcement/rohs-home>. Acesso em: 09 out. 2012. Disponível em: < http://www.google.com.br/search?q=figura+rohs&hl=ptBR&prmd =1366&bih=643>. Acesso em: 19 out. 2012..

(31) 31. Resumidamente, Shahid (2009) do MIT organizou cinco padrões que regulamentam boas práticas de sustentabilidade da indústria de TIC: 1) Waste Electrical and Electronic Equipment – WEEE (Resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrônicos - REEE); 2) European RoHS directive - Restriction of Certain Hazardous Substances (Diretrizes RoHS da União Europeia (UE) - Restrição de Certas Substâncias Perigosas); 3) EU Eco-Label (Rótulo ecológico da União Europeia); 4) IEEE 1680. Em nosso entendimento, o autor transmite a ideia de que esses instrumentos precisam ser adotados por todo o mercado e devem também ser objeto de avaliação dos consumidores de TIC, questão também defendida pelas empresas transnacionais Google e Intel. Outro exemplo de padrão é o sistema Electronic Product Environmental Assessment Tool (EPEAT) utilizado em diversos países para determinar a classificação do nível de sustentabilidade de computadores e outros produtos eletrônicos. Este selo tem como objetivo mostrar e validar projetos verdes e a produção limpa das organizações, que assim estariam reduzindo os impactos ambientais e sociais negativos da produção e comercialização de eletrônicos. Concebido e desenvolvido pela indústria de eletrônicos e seus parceiros, contando também com a participação de órgãos governamentais e a academia, o sistema busca ajudar compradores interessados em produtos que demonstram responsabilidade ambiental e beneficia os fabricantes que apostam em inovação. O sistema classifica os produtos em Ouro, Prata e Bronze de acordo com critérios como: conservação de energia; ciclo de vida e longevidade do produto; gestão de resíduos; utilização de materiais menos tóxicos; embalagens entre outros. A Figura 2 mostra o selo que acompanha cada produto conforme sua classificação (EPEAT..., 2012; SHAHID, 2009). Figura 2 – Modelos do selo EPEAT.. Fonte: Sítios eletrônicos.4 4. Disponível em: < http://www.google.com.br/search?q=label+epeat&hl=ptBR&prmd=imvns&tbm=isch&tbo=u&source=univ&sa=X&ei=RcyGUMLhC 4eS9gTx3YHoCg&sqi=2&ved=0CHkQsAQ&biw=1092&bih=514>. Acesso em: 23 out. 2012..

(32) 32. Outro standard observado pela indústria de TIC é o das diretrizes do EPA Energy Star que tem exigido índices de eficiência energética superiores a 80% desde 2007 para que os fabricantes possam usar o selo Energy Star em seus produtos (Figura 3), como indicativo a fim de os consumidores serem orientados para compras de produtos que agridem menos o meio ambiente, mesmo se eles custarem um pouco a mais (GOOGLE..., 2007). Figura 3 – Selo Energy Star.. Fonte: Sítios eletrônicos.5. Este selo americano (Figura 3) indica que nos EUA a indústria de TIC reage em direção à sustentabilidade energética porque se vê obrigada por órgãos reguladores que impõem suas normas com o objetivo de contribuir para redução das emissões dos gases do efeito estufa. As empresas começam a ser compelidas a criar e fabricar produtos mais eficientes em consumo de energia ao mesmo tempo em que aproveitam para incrementar suas vendas, uma vez que incentivam seus clientes com a promessa de redução no consumo de energia elétrica. 1.2. JUSTIFICATIVA. Temos como interesse compreender o desenvolvimento das estratégias de sustentabilidade da indústria de TIC, do significado do conceito Green IT (TI Verde) relacionando-o à ideia de sustentabilidade e à emergência dos processos de certificações e standards do mercado global de TIC. Esta pesquisa diferencia-se de muitos outros estudos acadêmicos sobre Green IT e há poucos estudos numa perspectiva interdisciplinar. De maneira geral, os estudos encontrados estão relacionados ao uso que se faz da TIC nas organizações como instrumento que colabora para que aquelas empresas construam capacidades no campo da sustentabilidade ambiental.. 5. Disponível em: <http://www.energystar.gov/#/> Acesso em: 05 out. 2012..

(33) 33. Na literatura acadêmica analisada encontram-se estudos com ênfase no fenômeno de uso “verde” dos recursos de TIC. A ausência ou poucas pesquisas que relacionam outros aspectos da discussão sobre o esverdeamento dessa indústria tem nos motivado a pesquisar a Responsabilidade Social Empresarial (RSE), seu desdobramento em sustentabilidade e investimento socialmente responsável. E o que motivou a escolha da indústria de TIC e os discursos da Green Computing? Primeiramente, porque a tese insere-se em um conjunto mais amplo de pesquisa sobre Sociologia Ambiental, Sustentabilidade, Riscos e Governança que vem sendo desenvolvido no Instituto de Pesquisa em Riscos e Sustentabilidade (IRIS), coordenado pela professora Dra Júlia Guivant. Em segundo, devido a minha formação em licenciatura em matemática e trajetória profissional, que desenvolveu-se a partir de atividades profissionais especializadas em TIC por mais de uma década. Esforços esses que culminaram na migração para a docência na área que é atualmente exercida em cursos técnicos em TIC no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco (IFPE). Analisando essa indústria e suas associações buscam-se respostas para a pergunta orientadora da tese: quais são as estratégias de sustentabilidade utilizadas pela indústria de TIC e como as implementam através de standards? Para alcançar o objetivo desta tese, propõe-se: identificar, caracterizar e analisar as estratégias de RSE da indústria de TIC; identificar, caracterizar e analisar os standards de certificação estabelecidos para indústria de TIC; identificar as redes sociais envolvidas no processo de definição e implementação dos standards de TIC; analisar os problemas, conflitos e consensos em torno de como se constroem e se aplicam os standards de TIC; fazer uma análise das relações de proximidade ou distância entre os discursos e as práticas das empresas que adotam standards de TIC; identificar o que têm em comum os discursos das empresas de TIC analisadas; identificar se existem estratégias diferenciadas das empresas referentes às políticas ambientais de TIC entre países altamente industrializados e os países emergentes. 1.3. METODOLOGIA DA PESQUISA. Nesta pesquisa, desvelamos os discursos de sustentabilidade ambiental da indústria de TIC analisando as estratégias de grandes.

(34) 34. empresas que fabricam e utilizam equipamentos eletrônicos em larga escala e suas redes sociotécnicas. Com referência à natureza das fontes utilizadas na pesquisa para a abordagem e tratamento do objeto – a sustentabilidade ambiental do setor das TIC – o olhar foi direcionado para fontes primárias de informações, em publicações científicas (livros e artigos) configurandose assim como documentação indireta de pesquisa. A seleção de publicações científicas foi realizada a partir da utilização dos serviços do portal de periódicos da Plataforma de Coordenação e Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). No repositório eletrônico de informações científicas foi possível identificar, no período de 2012 e 2013, mais de 400 publicações relacionadas com o tema da tese, utilizando a ferramenta de busca disponibilizada pela plataforma com as seguintes chaves de busca: “(Information AND Technology) AND (environmental OR sustainability))”; “(Lenovo AND sustainability)”; “((environmental OR sustainability) AND (HP OR DELL OR LENOVO OR APPLE OR ACER OR TOSHIBA))”. Refinando a busca com a introdução de termos como Green Computing e Green IT foi possível selecionar um número de 71 artigos mais representativos e convenientes para uma análise de conteúdo eficiente. Laurence Bardin já afirmava que: “nem todo o material de análise é susceptível de dar lugar a uma amostragem, e, nesse caso, mais vale abstermos-nos e reduzir o próprio universo [e, portanto, possibilitar o alcance da análise] se este for demasiado importante” (BARDIN, 1979, p.123). A análise de conteúdo qualitativa exige um método que contribua para a descoberta de sentidos das informações ou textos analisados, que ajude na busca para a compreensão crítica do sentido manifesto ou oculto das comunicações. Segundo Bardin (1979), na análise de conteúdo se deve ter como ponto de partida uma organização com fases diferentes que orientem a análise, sendo ela composta pela pré-análise, da exploração do material e, por fim, do tratamento dos resultados com a inferência e a interpretação do pesquisador. Adotando os princípios definidos pela autora foi realizada inicialmente uma leitura flutuante dos resumos e dos tópicos dos 71 artigos (Anexo A) o que possibilitou identificar os artigos mais representativos em termos de categorias de análises, para a realização da fase seguinte de leitura que relevou em parte dos artigos dados consistentes para a pesquisa. O mesmo princípio foi adotado na revisão da literatura que envolveu as análises de conteúdos da sociologia ambiental, modernização ecológica,.

(35) 35. da responsabilidade social empresarial, e da literatura sobre standards e certificações. Em combinação com o referencial teórico exposto, a pesquisa empírica envolveu outras fontes primárias diretas. Entre as fontes encontram-se: fotografias, filmes, imprensa falada, documentos legais e outros testemunhos textuais e gráficos. Todos são documentos importantes porque constituem uma fonte rica e estável de dados, como por exemplo, os relatórios ambientais das empresas de TIC, Lenovo e Itautec, e das associações representativas do setor como a GeSI e EICC. Nestes casos, os conteúdos ainda não haviam recebido nenhum tratamento analítico e correspondiam à matéria-prima a partir da qual o pesquisador desenvolve a investigação e análise. Para Oliveira (2007) é necessário ter atenção com a análise documental das fontes primárias porque, mesmo contendo informações úteis para a pesquisa, faz-se necessário um olhar crítico e cuidadoso uma vez que esses documentos não passaram ainda por um tratamento científico. Outro tipo de fontes formais utilizadas, também compreendidas como primárias e diretas, foi a das entrevistas semiestruturadas com informantes-chave que foram conduzidas durante a investigação. Foram ouvidos três representantes de empresas recicladoras de e-waste: a proprietária da Compuciclado – única empresa que autorizou a presença inloco do pesquisador para fazer o estudo de caso; e duas secretárias uma da empresa ReciclaShop a outra da empresa Cerel; uma especialista em processos de gestão de resíduos eletroeletrônicos da Fundação Joaquim Nabuco (FUNDAJ); e, três entusiastas que desenvolvem projetos de educação e conscientização em reciclagem de resíduos eletrônicos, a Bióloga e a Técnica de Laboratório do CCB da UFSC e o professor de Química do EREM. Segundo May (2004) a utilização de estudo de casos como método em pesquisa acadêmica, torna-se útil porque fornece não somente um relato contemporâneo e aprofundado das transformações ocorridas com o fenômeno que está sendo investigado, como também se preocupa em entendê-los em sua subjetividade. Em seis ocasiões os levantamentos de informações foram realizados por e-mail como no caso do Diretor de Programas de Sustentabilidade da EICC para o continente asiático; e, os funcionários responsáveis pelas relações corporativas e de sustentabilidade da Itautec, Lenovo, Positivo, Dell e HP. Os contatos por e-mail constam devidamente registrados nos Anexos D e E da tese. Por fim, um dos limitadores observados na trajetória da pesquisa foi a recusa de empresas de reciclagem de e-waste em receber.

(36) 36. o pesquisador para entrevista. Também não demonstraram disponibilidade para responder o survey enviado. Assim, a primeira parte da tese é de caráter conceitual trazendo definições teóricas e metodológicas que situam a pesquisa. Na sequência dá-se a caracterização empírica com a análise da trajetória de responsabilidade socioambiental de empresas de TIC, a definição de standard pela indústria e as consequências ambientais relacionadas aos resíduos eletroeletrônicos, revelando que o setor não está imune às consequências relacionadas ao avançado consumo de recursos do planeta. A tese foi estruturada em seis capítulos que situam a problemática de pesquisa dentro da teoria social procurando responder aos objetivos anteriormente traçados. No capítulo 1 se faz a introdução à matéria. No segundo capítulo, é apresentada uma revisão da literatura na qual se apoiam as discussões e análises da tese, como a modernização ecológica e o desenvolvimento sustentável. O capítulo introduz a questão da RSE dando ênfase a sua progressão para a proposta de investimento ético e às novas perspectivas para consolidação das empresas como agentes transformadores e restruturadores ambientais. O terceiro capítulo intitulado A RSE da TIC – discursos e práticas dos atores, standards e certificações traz as ações práticas de sustentabilidade ambiental de atores públicos e empresas privadas do setor. O confronto dos discursos com as relações de proximidade ou distanciamento das práticas das principais empresas líderes do mercado nacional e global são discutidos e comparados. A RSE das empresas selecionadas é colocada em evidência e se discute o grau de maturidade com base na identificação das fases de evolução nas quais se encontram. O capítulo também apresenta de que forma as empresas do setor se organizaram em associações e iniciativas voluntárias de sustentabilidade (EICC, nos Estados Unidos e a GeSI na Europa) para construir processos de definições de normas do standard comum para o setor, além de ponderar sobre as iniciativas voltadas à redução do impacto socioambiental do setor e a aplicação das TIC como instrumentos que podem contribuir numa escala global para a construção de um futuro sustentável. Os capítulos 4 e 5 foram dedicados às discussões relativas ao ewaste, fenômeno que revela para o mundo que a indústria das TIC não é socioambientalmente tão limpa como se imaginava, afirma Laville (2009). No capítulo 4 a temática do e-waste é inserida com as discussões a respeito das suas origens com a rápida evolução tecnológica e a explosão do consumo, além de suas classificações. São apresentados e.

(37) 37. discutidos os impactos socioambientais causados pela poluição eletrônica, tanto em nível nacional como no contexto global. Traz ainda as estratégias de gestão do e-waste, como a reciclagem e seus benefícios e pondera a respeito dos riscos à sociedade em função da composição tóxica desses resíduos; no capítulo ainda são discutidas as tecnologias utilizadas para o processamento. Por fim, o capítulo traz a discussão das políticas reguladoras no Brasil e no exterior e uma análise a respeito de suas diferenças e aproximações. No quinto capítulo são apresentados os resultados das nossas pesquisas de campo, estudo de casos que discutem como empresas, organizações e iniciativas operam na reciclagem do e-waste em regiões distintas do território nacional como na cidade de Florianópolis, em Santa Catarina e no Recife, estado de Pernambuco. Finalmente, no sexto e último capítulo, são apresentadas as considerações finais da pesquisa visando sintetizar as discussões ao mesmo tempo em que se volta à pergunta orientadora da pesquisa e ao cumprimento dos objetivos..

(38) 38.

(39) 39. 2. SUSTENTABILIDADE E RESPONSABILIDADE EMPRESARIAL. 2.1. RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL. Na gênesis da Responsabilidade Social Empresarial (RSE) estão a ineficiência das ações dos poderes públicos e o jogo de interesses que muitas vezes impedem a execução de projetos de cunho socioambiental – como exemplo mais recente está a recusa dos Estados Unidos em assinar o Protocolo de Kioto6 – motivando respostas que emanam, historicamente, do seio dos próprios mercados. As empresas se apresentam como atores importantes no cenário global capazes de contribuir para o enfrentamento das problemáticas com que a humanidade convive como: pobreza; analfabetismo; mortalidade infantil; justiça social e de gênero; epidemias; preservação do meio ambiente etc. Laville (2009), economista e consultora de empresas em desenvolvimento sustentável, é considerada uma referência acadêmica relevante no tema na França. A autora afirma ser possível detectar progressos realizados pelas empresas a partir do seu comprometimento com essas questões junto às partes interessadas, mas esclarece que existem limites que precisam ser superados porque muitas delas desenvolvem ações de forma periférica, não atuam no cerne das suas atividades e não consideram aquelas ações estratégicas de longo prazo. Para a autora, as empresas executam “ações sobre essas questões [mas] ao mesmo tempo em que continuam [fazendo] lobby por padrões sociais e ambientais menos exigentes” (p. 377). Andrew Carnegie, fundador da U.S. Steel Corporation, tende a ser identificado com a idealização do conceito de responsabilidade social da empresa no final do século XIX a partir da obra O Evangelho da Riqueza, publicada nos Estados Unidos em 1899, onde afirmava que o princípio da RSE se fundamenta na premissa de que organizações são instituições sociais e, naturalmente, caracterizadas por princípios da custódia e caridade. Entretanto, nesse período, a RSE era compreendida meramente como uma questão doutrinária – o que não deixava de ser 6. O Protocolo de Kyoto é um tratado internacional negociado em Kyoto, Japão, em 1997 entre países industrializados e outros integrantes das Nações Unidas. O documento estabelece metas de redução das emissões de dióxido de carbono (CO2) e outros gases causadores do efeito estufa e do consequente aquecimento global. Disponível em: <http://www.greenpeace.org.br/clima/ pdf/protocolo_ kyoto.pdf>. Acesso em: 5 mai. 2013..

(40) 40. também uma estratégia empresarial como nos dias atuais – mesmo diante do problema de crescimento da pobreza e de uma consciência que começava a se formar a respeito da necessidade de enfrentamento daquela realidade por parte do Estado, de empresas e da sociedade (ALVES, 2003; STONER; FREEMAN, 2010). Alves (2003) explica que a ética daquelas doutrinas naquele momento eram a custódia e caridade; justifica-se; a primeira, porque as organizações empresariais e os homens ricos passavam uma imagem para a sociedade de principais zeladores das riquezas das nações, portanto, dignos de confiança para guardar o dinheiro para o resto da sociedade e também pela função de multiplicar a riqueza da sociedade. A segunda porque exigia que indivíduos mais afortunados ajudassem de forma direta ou indiretamente os menos afortunados, os pobres, através de instituições das mais diversas: igrejas; asilos etc. Mas de acordo com Stoner e Freeman (2010), professores de administração e ética nos negócios, esse segundo princípio encontrou limitações porque a partir dos anos de 1920 as necessidades comunitárias superaram a riqueza até mesmo dos indivíduos mais generosos e passou-se a esperar que também as empresas contribuíssem com recursos para instituições de caridade que ajudavam os pobres (p. 72).. O marco das análises com maiores critérios e profundidade da RSE é somente apresentado no trabalho de Howard Bowen, intitulado Responsabilidades Sociais do Homem de Negócios, publicado nos Estados Unidos em 1953. Contudo, recai sobre os princípios anteriores comentados, ou seja, adota abordagens fortemente relacionadas a percepções religiosas da sociedade americana da época (ALVES, 2003). O entendimento de RSE como prática de caridade e como lógica de solidariedade empresarial formando uma boa conduta social às empresas e, sobretudo, aos homens de negócios afortunados teve predominância até a década de 1960, quando surgiram argumentos de oposição a essas práticas (STONER; FREEMAN, 2010). Friedman (1970 e 1977), prêmio Nobel de Economia de 1976, declarava que a RSE era um desserviço quanto ao papel social da empresa, porque agindo com esse tipo de comportamento a empresa estaria atendendo a outros públicos e não ao público mais importante, os acionistas. O ponto de vista do autor representa o extremo em relação à função social das empresas. Nas palavras do autor:.

(41) 41. há uma, e somente uma, responsabilidade social das empresas, utilizar seus recursos e sua energia em atividades destinadas a aumentar seus lucros, contanto que obedeçam às regras do jogo, ou seja, participem de competições de negócios de 7 forma aberta e livre, sem enganos ou fraudes.. Friedman admite a prática da RSE exclusivamente quando realizada de forma pessoal às obras de caridade e especialmente para universidades, mas nunca com os fundos da companhia porque isso poderia representar riscos para os acionistas, diminuindo seus lucros e frustrando suas expectativas no investimento. Ao Estado, portanto, caberia exclusivamente a função de zelo pelo bem público e social em virtude dos impostos já pagos pelas empresas. Para afirmar sua posição Friedman (1977) recorre a Adam Smith que diz: levado por mão invisível a promover um fim que não fazia parte de suas intenções. E nem sempre é o pior para a sociedade que pode resultar. Tentando realizar seu próprio interesse ele frequentemente promove os da sociedade de modo mais efetivo do que quando pretende realmente promovê-lo. Não sei de grandes benefícios feitos por aqueles que pretendem estar trabalhando para o bem público (p. 116).. Stoner e Freeman (2010) contestam o argumento de Friedman (1970 e 1977) com o exemplo do desastre ambiental provocado pelo derramamento de petróleo no mar do Alasca pelo Exxon Valdez8. 7. 8. Tradução do autor desta passagem do original em inglês: "there is one and only one social responsibility of business–to use it resources and engage in activities designed to increase its profits so long as it stays within the rules of the game, which is to say, engages in open and free competition without deception or fraud." Disponível em: <http://www.colorado.edu/ studentgrou ps/libertarians/issues/friedman-soc-resp-business.html>. Acesso em: 10 mai. 2013. Acidente no navio Exxon Valdez em 1989, despejou 41 milhões de litros de petróleo em uma área de vida selvagem no Alasca (EUA). A empresa petrolífera ExxonMobil dona do navio foi multada em mais de US$ 5 bilhões pelos danos ambientais decorrentes do acidente do Exxon Valdez, a empresa foi considerada culpada por infringir inúmeras leis ambientais. Disponível.

(42) 42. causado, entre outros motivos, pela redução de recursos humanos na operação do navio e equipamentos necessários para enfrentar acidentes de derramamento de petróleo. Ou seja, as diretivas de maximizar os lucros da empresa a todo custo condiz com as orientações antes citadas em detrimentos de outros beneficiários que não sejam os acionistas. Ampliando as dimensões de atuação da RSE, os autores defendem a ideia de que as empresas precisam desenvolver ações em prol de todos os interessados (stakeholders) que podem ser afetados no percurso de busca dos objetivos organizacionais. Quadro 1 – Perspectivas de Responsabilidade Social Empresarial. Perspectiva Conceitos Principais Responsabilidade A RSE está restrita exclusivamente à Econômica e criação de valor para os acionistas; a Obrigação Social orientação principal da empresa deve ser a obtenção do lucro, respeitando as regras impostas pela sociedade e pela Lei. Responsabilidade A RSE aparece como contribuição Filantrópica e da voluntária, filantrópica no âmbito da Reação Social solidariedade social; faz-se presente a lógica dos ajustes da empresa às pressões e expectativas exteriores. Responsabilidade A concepção de RSE afirma-se como Ética e atitude de comprometimento dos gestores Sensibilidade com o desenvolvimento sustentável, Social criando valor econômico social e ambiental. Criação de Valor Enquadra a RSE numa visão estratégica, na qual a gestão empresarial deve procurar e Benefício desenvolver ações de responsabilidade Mútuo social objetivando a criação de valor para toda a sociedade. Responsabilidade Contempla uma visão ainda mais ampla do Civil e Cidadania papel das empresas e se refere à integração Empresarial das empresas a outras organizações, com vistas à afirmação do desenvolvimento sustentável e à construção de formas de governança civil. Autores Friedman (1970 e 1977). Andrew Carnegie (1889); Howard Bowen (1957) Mintzberg; Ahlstrand; Lampel (2000); Laville (2009) Linde e Porter (1999); Laville (2009) Zadek (2006 e 2008); Laville (2009). Fonte: adaptado de Oliveira (2013, p. 103).. em: <http://www.greenpeace.org/brasil/pt/Noticias/desastre-do-exxon-valdezuma/>. Acesso em: 10 mai. 2013..

Referências

Documentos relacionados

O ambiente de pesquisa foi realizado em uma empresa de serviços contábeis e para o estudo qualitativo, definiu-se como unidade de análise a empresa P&amp;P Contabilidade

A avaliação de populações ou coletividades apresenta caráter mais abrangente, uma vez que aborda a questão com maior ênfase na dimensão social, possibilitando o diagnóstico e

necessidade de se trabalhar com projetos de aprendizagem, através de um planejamento participativo que contemple a realidade local (ESCOLA ESTADUAL FLORESTAN

Para Souza (2007), esse processo educativo deve ter por finalidade a humanização dos sujeitos da educação. 5) defende que, nesses processos educativos escolares, essa

Nuno Filipe Lopes Moutinho | Instituto Politécnico de Bragança Mário Lino Barata Raposo | Universidade da Beira Interior João José de Matos Ferreira | Universidade da Beira Interior

Os resultados apresentam indicadores para que profissionais, gestores municipais, estaduais e federais conheçam a perspectiva masculina sobre o processo de saúde,

A seção A seção 2.1 mostra a participação no 1º Sprint Backlog, indicando as principais funcionalidades aprendidas nos Warm-Ups e Labs e aplicadas no seu Produto

Visto que o comprometimento educacional abarca os focos do comprometimento com o ambiente de trabalho dos professores e demais profissionais da área organizacional, carreira,