• Nenhum resultado encontrado

políticas públicas e programas de desenvolvimento brasileiros Para maiores

STANDARDS E CERTIFICAÇÕES

4) Processos, atividades e otimização funcional – melhorar a eficiência através de simulação, automação, redesenho ou

3.3.1 O código de conduta do setor das TIC

O fundamento da concepção da EICC foi a elaboração de um código de conduta que permitisse o fortalecimento do desempenho da responsabilidade corporativa da indústria eletrônica. O Relatório EICC 2008 discute os elementos do Código de Conduta como sendo

norteadores para a melhoria da ecoeficiência e produtividade nos processos de suprimento da cadeia global da TIC. O código de conduta não foi o objetivo fim da EICC. Ele é apenas o meio utilizado como plataforma de operações que encaminham ações focadas em RSE para o setor de TIC. O Código da EICC é constituído por cinco dimensões integradas que abordam questões fundamentais da responsabilidade corporativa das empresas. Essas dimensões fornecem diretrizes para combater questões emergentes elencadas pela coalizão. O código integra as dimensões: trabalho, saúde e segurança, ética, meio ambiente e os sistemas de gestão (ver Figura 11).

Figura 11 – Dimensões e Princípios do Código de Conduta da EICC.

Fonte: o autor a partir de EICC (2009, p. 15) e EICC (2012).

Afinal, em que se diferencia este código de conduta dos demais? Segundo a EICC, o diferencial do seu código em relação a outros corresponde a inclusão da dimensão de Sistemas de Gestão, que teria a função de demonstrar o compromisso da coalizão em prevenir e

combater as causas dos problemas e não somente sua verificação depois que eles ocorrem, mas principalmente permitir o planejamento de melhorias em processos de gestão ambiental que retornam resultados insatisfatórios. Em outras palavras, a EICC tenta organizar uma estrutura de ação que visa não somente agir para neutralizar os problemas socioambientais, e sim atuar nas causas de forma a reorientar as dinâmicas das atividades produtivas.

Os princípios de cada uma das dimensões que compõem o Código de Conduta da EICC (EICC, 2012) são resultados das negociações dentro do fórum de membros da coalizão. Esses princípios foram inicialmente publicados em outubro de 2004 e depois passaram por três revisões e publicações até a versão 4 – última publicação do documento realizada em Abril de 2012. Congrega os interesses dos diversos atores que durante oito anos discutiram, negociaram e estabeleceram seus interesses comuns. No anexo C da tese o código de conduta é listado na íntegra.

Segundo a EICC os desafios socioambientais mudam constantemente e novos são colocados no cenário a todo o momento. É através de feedback dos seus membros e parceiros que outras questões emergentes consideradas chaves para o objetivo da responsabilidade corporativa são postos em destaque, conforme apresenta o mais recente relatório ambiental da coalizão (ver Quadro 11). Essa dinâmica de estar sempre se atualizando com questões caras para o desenvolvimento sustentável pode ser uma demonstração efetiva do desenho institucional da EICC e um forte indicativo do desejo de avançar em metas arrojadas.

É no enfrentamento das questões que envolvem o código da EICC que emergem os desafios, os conflitos e as complexidades referentes à responsabilidade corporativa do setor. A indústria da TIC demonstra com o seu código de conduta ter montado uma infraestrutura organizacional de gestão preparada para colocar o setor na via do desenvolvimento sustentável e da economia verde. Seria também no reconhecimento da necessidade de explorar questões como aquelas apresentadas no Quadro 11 um indicativo de que o setor das TIC avança em novas conjecturas de políticas ambientais. Portanto, avançar na busca de instrumentos econômicos e normativos para incentivar uma produção ambientalmente responsável representaria alguns dos fundamentos emergentes do desenvolvimento de uma nova sociedade industrial que almeja combater a escassez de recursos naturais e o persistente problema das desigualdades sociais.

Quadro 11 – Questões emergentes para EICC.

Mudança climática – para a cadeia global de suprimentos da indústria

eletrônica essa questão é entendida como um fator de grande relevância. A EICC promoverá os encaminhamentos que visem ao entendimento e a gestão das emissões em sua cadeia de suprimentos para que possam trabalhar na redução dessas emissões no futuro.

Toxicidade de produtos – com a aprovação de legislação pela União

Europeia para aumentar a fiscalização e regulação da fabricação, importação, comercialização e utilização de produtos químicos, a atenção aos materiais e produtos químicos utilizados em produtos eletrônicos precisa melhorar. Em 2008, a EICC discutiu e decidiu que a organização deve desempenhar forte papel para ajudar os membros a responder a esta questão, incentivando-os a resolver este problema individualmente através de iniciativas já existentes fora da EICC.

Responsabilidade corporativa na extração de minerais – reflete as

preocupações dos membros da EICC com a indústria de mineração para rastrear e identificar os principais metais (estanho, tântalo e cobalto) utilizados na indústria e provenientes de regiões livres de conflitos e onde as condições sociais e ambientais na exploração das jazidas são respeitadas. Promover o aumento da eficiência de recursos materiais através da reciclagem também faz parte de assuntos emergentes.

Fonte: o autor a partir de EICC (2009, p. 4).

Talvez por isso, a importância da aplicação do código da EICC na cadeia de suprimento da TIC está inserida entre as exigências de governança da inovação tecnológica do setor. Algo que acaba por acarretar outras exigências como: governança dos limites no uso de materiais, de energia e nas emissões de GEE. O código da EICC, portanto, se configura como um instrumento de incentivo que contribui para o avanço tecnológico na indústria da TIC e possibilita inovações enquanto oferta bens e serviços e que se propõe a atender às exigências da economia verde, como a ecoeficiência.

A aplicação do código de conduta nas empresas do setor tem revelado contradições e conflitos como: sobrecarga de trabalho; trabalho infantil; discriminações; problemas com pagamentos de salários e benefícios; licenças ambientais, entre outras questões controversas, um indicativo evidente de que processos estão sendo desenvolvidos para melhorar o desempenho socioambiental do setor. O fato é que o encontro entre empresas e as temáticas socioambientais apresenta suas próprias contradições e desafios como: a ideia de uma economia verde e

como equacionar a problemática da redução da pressão ecossistêmica ao mesmo tempo em que se tenta promover a equidade social.

Para Abramovay (2012), o equívoco na governança da economia verde está na ideia de que uma economia cujo crescimento incessante – ainda que com base no uso decrescente de materiais e energia – redimiria os que se encontram em situação de pobreza. O autor aponta para uma nova ética de produção e consumo concebida não para um mundo onde o desafio seria produzir cada vez mais, com métodos cada vez melhores e sim, para a gestão dos excessos de consumo, principalmente, para os excessos de consumo decorrentes das gigantescas desigualdades sociais. Neste aspecto o código da EICC nada acrescenta, mas também, a nosso ver, se afasta do cenário radicalmente tecnológico da eficiência onde predomina o progresso da técnica com foco na produção e no crescimento da disponibilidade de produtos e serviços. Busca-se, sobretudo mover-se em direção à fronteira da ecoeficiência reconhecendo as melhoras práticas e alternativas existentes de redesign dos sistemas socioprodutivos e econômicos.

3.3.2 Grupos de trabalho da EICC

Os grupos de trabalho são os principais agentes das atividades que são desenvolvidas pela EICC. Eles são a força motriz por trás das iniciativas da coalizão que criam as ferramentas e recursos para atender aos objetivos estratégicos. Além disso, trata-se de um efetivo indicativo institucional que marca o desejo de alcançar objetivos e traçar novas metas. O primeiro grupo de trabalho criado foi aquele que elaborou a primeira versão do código de conduta no ano de 2004 e o mantém atualizado. Logo após a primeira publicação foi criada uma equipe permanente para apoiar a implementação do código nas empresas membro (EICC, 2009).

Ocasionalmente, são estabelecidos grupos e subgrupos de trabalho para tratar de questões emergentes e projetos específicos dentro de grandes áreas de trabalho, sendo função do conselho de administração da coalizão fazer a supervisão para que todos os grupos operem dentro do planejamento estratégico. As equipes geralmente são compostas por representantes voluntários dos membros e parceiros da EICC que fornecem inputs específicos do setor para as atividades, dessa forma as equipes tentam transformar as ideias em ações. No Quadro 12 é apresentada de forma resumida uma lista dos grupos de trabalho, alguns são considerados forças-tarefas (criadas para executar uma tarefa

específica e uma vez que sua tarefa seja concluída ela é dissolvida) e iniciativas especiais da EICC.

Quadro 12 – Grupos de trabalho da EICC.

Ásia Network – Reúne as empresas da coalizão instaladas no continente asiático com o objetivo de resolver problemas importantes da cadeia de suprimento naquela região (principalmente na China). O principal tópico abordado através pelo grupo Ásia Network diz respeito às garantias de direitos (férias, condições de segurança de trabalho, realização de tarefas não relacionadas com a área de estudo, trabalhos exaustivos, etc.) para estudantes trabalhadores (estagiários).

Gestão do Código de Conduta – Gestão e manutenção do Código de Conduta da EICC e evolução do processo de revisão para garantir que ele reflete as melhores e as mais recentes práticas e expectativas das empresas membro e stakeholders.

Ferramenta de Gerenciamento – Supervisionar todos os processos e ferramentas da EICC estabelecidas para manter a sua utilização contínua, qualidade e coesão.

Processo de Auditoria – Criação de um processo de auditoria credível comum para toda a cadeia de suprimentos da TIC e ferramentas para acompanhamento e cumprimento do Código da EICC.

Aprendizagem e criação capacidades – Construir conscientização sobre questões sociais e ambientais através de formação e iniciativas práticas na cadeia de fornecimento.

Conflitos em Minerações – Busca influenciar as condições sociais e ambientais na cadeia de extração de metais utilizados na indústria da eletrônica.

Horas de trabalho – Identificação e combater as causas raiz para o enfrentamento do problema de excesso de horas de trabalho do setor

Sustentabilidade Ambiental – Melhorar o desempenho ambiental na cadeia de fornecimento através do desenvolvimento de ferramentas e recursos de medição do impacto ambiental do setor. Mesmo consciente que existem outras questões ambientais a ser trabalhadas, a EICC elencou como sua prioridade abordar a questão das emissões de carbono do setor. Utilizando padrões globais, como o WRI Greenhouse Gas Protocol e Carbon Disclosure Project. A coalizão desenvolveu uma ferramenta para as empresas medirem e compartilharem dados de emissões com seus clientes.

Transparência – Construir conscientização sobre a EICC como um líder ético na fabricação de produtos eletrônicos, e comunicar suas atividades essenciais; engajamento e progresso dos stakeholders em diálogo sobre as áreas de foco da EICC.

Fonte: o autor a partir de EICC (2009) e Website33da coalizão.

Essas equipes trabalham para garantir a execução da missão da coalizão e salvaguardar os interesses dos membros e dos stakeholders que se relacionam com a mesma. Nos próximos subitens discutiremos sobre os pontos importantes daqueles que consideramos os principais grupos de trabalho e apresentaremos as conquistas e desafios relatados nos relatórios anuais da instituição.

É interessante observar que a lista de grupos de trabalho da EICC não contempla nenhuma iniciativa com abordagem da questão da gestão do e-waste (resíduo eletrônico). O problema do resíduo eletrônico, conforme será apresentado em capítulo adiante, é praticamente ignorado pela EICC o que passa a impressão de que a questão não tem importância frente outras problemáticas ambientais. O assunto passa despercebido em todos os relatórios ambientais publicados pela coalizão desde o ano de 2008, quando foi emitido o primeiro, até o último relatório analisado correspondente ao ano de 2013. Mas o e-waste é um item de controle da EICC conforme transparece em outros trechos do relatório.

Segundo dados do primeiro relatório EICC em 2008, o grupo responsável pelas ações de Sustentabilidade Ambiental estabelecido naquele ano elaborou um estudo, entre os membros da EICC, que reuniu informações a respeito das melhores práticas existentes em relação a melhorias do desempenho ambiental daquelas organizações. O foco foi a identificação de métricas comuns para a partir daí fazer o acompanhamento. Os itens de controle e acompanhamento elencados foram classificados como: métrica de operações e métricas de produtos. As primeiras métricas correspondiam: consumo de energia; uso de energia renovável; emissões de GEE; uso da água; resíduos perigosos e não perigosos. Enquanto do lado dos produtos têm-se: conteúdo químico; material reciclável em produto e embalagens; materiais restritos; eficiência energética; retorno, reutilização e reciclagem de equipamentos (EICC, 2009, p. 28).

É interessante observar que o e-waste não é citado como uma métrica relevante e de urgente acompanhamento e controle, apesar dele estar no centro da problemática ambiental do setor das TIC. O código de conduta da EICC faz referência à palavra “resíduo” como pode ser verificado no trecho a seguir:

As normas de ambiente são as seguintes: [...] 2) Prevenção da Poluição e Redução de Recursos: todo o tipo de resíduos, incluindo águas e energia, tem de ser reduzido ou eliminado na fonte, ou

através de práticas como a modificação dos processos de produção, manutenção e das instalações utilizadas, além da substituição, conservação, reciclagem e reutilização de materiais.

4) Águas Residuais e Resíduos Sólidos: as águas