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Oportunidades de futuro sustentável apontado pela GeS

políticas públicas e programas de desenvolvimento brasileiros Para maiores

STANDARDS E CERTIFICAÇÕES

3.2 A GESI: A REDE GLOBAL DE INTERAÇÕES DE PRÁTICAS SOCIOAMBIENTAIS DAS TIC

3.2.2 Oportunidades de futuro sustentável apontado pela GeS

A GeSI estaria interessada em apresentar soluções para as TIC que oportunizem a condução para um futuro mais sustentável. Como parte desses esforços tem-se dado particular interesse a pesquisas que olham para o potencial das TIC na condução da transição para uma economia de baixo carbono. Mas de que maneira esses discursos são construídos? Supomos que ela passa inicialmente pela dimensão econômica e produtiva fundamentada em uma racionalidade de busca por ecoeficiência. Ou seja, redução no consumo de recursos ambientais. Por exemplo, aqueles habilitados pelas novas infraestruturas tecnológicas aplicadas aos data centers, mas não apenas esses. Na sociedade moderna e da informação esses centros de dados são fundamentais para manter diversos serviços de tecnologia funcionando e avançando. Tornar esses ambientes ecoeficientes é uma exigência porque não podemos considerar o mundo moderno sem sua presença como também não é possível pensar a sociedade sem a eletricidade. A comparação não é exagerada, as implicações para a sociedade seriam sérias e de longo alcance caso houvesse falência dessas duas tecnologias.

O relatório intitulado SMARTer 2020: The Role of ICT in Driving a Sustainable Future, encomendado pela GeSI e publicado no ano de 2012, é um denso documento com 243 páginas produzido pela The Boston Consulting Group29 que explora as várias possibilidades de compatibilizar o desenvolvimento com sustentabilidade com o apoio da TIC. Neste capítulo chamaremos o relatório de SMARTer 2020, e o que esse relatório pretende? Primeiramente, a GeSI procura demonstrar como o setor das TIC tem amadurecido na direção da sustentabilidade desde a publicação do primeiro relatório em 2008. Depois, como novas soluções de tecnologias têm surgido em setores chave da economia como: energia, transporte, produção, agricultura, edifícios, consumo e de serviços. As novas soluções tecnológicas definiriam as dimensões do

29 Empresa de consultoria em estratégia empresarial fundada em 1963 com sede

em Boston nos Estados Unidos. No Brasil, possui escritórios em São Paulo e no Rio de Janeiro. cf. < http://www.bcg.com/> Acesso em: 08 mai. 2014.

campo das possibilidades de transição à sustentabilidade. Nas palavras de Luis Neves, presidente da GeSI, que é membro da instituição como representante da Deutsche Telekom, o relatório não é apenas um recurso, mas um conjunto de ferramentas essenciais que poderão habilitar uma redução de 16,5% nas estimativas de emissões de GEE do setor até o ano de 2020.

De acordo com o website da GeSI, o SMARTer 2020 trata-se de uma das iniciativas de destaque da instituição iniciada em 2008 quando foi publicada uma primeira versão intitulada SMART 2020: Enabling the low carbon economy in the information age. O SMARTer 2020 apresenta uma visão otimista e viável para um mundo sustentável possibilitado através da transformação responsável onde a aplicação da TIC favoreceria esse metabolismo.

No livro Era do Acesso (publicado originalmente em 2000 e traduzido no Brasil em 2001), o economista Jeremy Rifkin apresenta os sistemas interconectados como o novo metabolismo da sociedade sustentável. Ele seria o resultado da difusão das TIC e do completo amadurecimento de seus possíveis efeitos em termos de reorganização dos processos produtivos e de consumo. O autor sugere que a economia atual estaria sendo impulsionada pela TIC para a terceira revolução industrial, da transição da posse da propriedade para o acesso de bens e serviços. Uma das teses do livro é que os fluxos elevados de informações irá permitir a gestão mais eficaz dos recursos ambientais podendo reduzir a intensidade material dos produtos e dos serviços que respondem a demanda do bem-estar social.

Argumentamos que a estratégia da GeSI estaria ancorada nesta nova perspectiva – uma sociedade sustentável dotada de um sistema resultante das tecnologias da informação e comunicação. As empresas que formam a GeSI têm relação direta com a promoção desta nova sociedade industrial. Por isso, o discurso focado no combate ao aumento das emissões de dióxido de carbono (CO2) e de outros Gases do Efeito Estufa (GEE) na atmosfera do planeta seria um fundamento bastante relevante de convencimento das empresas e da sociedade. Neste sentido, o modelo de eficiência vigente precisaria sofrer atualizações para o modelo da ecoeficiência apresentado pela GeSI. Vejamos o que diz o seguinte trecho do SMARTer 2020:

[...] evidências científicas sobre o papel das atividades humanas sobre o aquecimento global foram fortalecidas. Então hoje, esta afirmação do relatório anterior continua a ser muito verdadeira:

o aquecimento do sistema climático é inequívoco, como agora é evidente a partir de observações de aumentos médios na temperatura global do ar e dos oceanos, o derretimento generalizado da neve e das geleiras e a elevação global do nível médio dos oceanos. [...] Sem qualquer alteração nas tendências atuais ou sem grandes esforços para reduzir as emissões, as emissões totais anuais de GEE poderão subir para mais de 55 gigatoneladas de dióxido de carbono (GtCO2e) em 2020 e ultrapassar 80 GtCO2e em 2050 (GESI, 2012, p. 15).

Considerando ser difícil especificar os efeitos exatos provocados pelo aumento das emissões de GEE sobre o clima global, o relatório aponta para impactos ambientais com efeitos devastadores que poderão atingir a sociedade. Aponta ainda para estimativas sobre os impactos econômicos com perdas estimadas de 5% do Produto Interno Bruto (PIB) global a cada ano. O estudo argumenta que os custos para combater o aumento das emissões de GEE se apresentam em níveis aceitáveis e gerenciáveis, apontando como caminho promissor a produção de energia limpa e eficiência energética – esse último relacionando intrinsecamente à TIC.

O relatório discute também o papel da indústria da TIC na economia global, apontando para a sua importância no recente período de recessão econômica. Nos anos de 2008 a 2009 houve redução no crescimento das emissões de GEE, nos três anos seguintes ocorreu a retomada do crescimento em alguns países em desenvolvimento e logo as emissões de GEE voltaram a crescer, parte da recuperação é atribuída ao setor das TIC. Chama a atenção à ênfase dada ao crescimento econômico ambientalmente sustentável, porque em outro trecho do relatório é sugerido que os países devem buscar soluções tecnológicas para dissociar o crescimento de emissões de GEE do crescimento econômico como forma de criar riqueza e melhorar os padrões de qualidade de vida. Neste sentido, a GeSI estaria buscando inserir as TIC como uma solução tecnológica diferenciada e não apenas como progresso da técnica pela técnica, onde o fundamento estaria no crescimento da disponibilidade de produtos e serviços com redução dos recursos naturais.

Segundo a GeSI, o setor das TIC tem responsabilidade significativa sobre as emissões e continuará contribuindo diretamente, uma vez que as emissões de GEE do setor apresenta plena expansão.

Apesar disso, a organização diz que o setor estaria conseguindo fazer a própria transição para uma infraestrutura tecnológica sustentável. A Figura 8 apresenta a pegada de carbono da indústria da TIC e mostra também que poderá haver uma diminuição na taxa de crescimento nesta década, apesar da expansão prevista para o ano 2020.

Figura 8 – Pegada de carbono da TIC.

Fonte: GeSI (2012, p. 21).

O relatório SMARTer 2020 descreve em detalhes as projeções das emissões de GEE das três categorias de dispositivos do setor: Data centers; Redes de Telecomunicações e Dispositivos de Usuário Final. Aponta que, apesar de se manter a projeção de crescimento das emissões do setor, é esperada uma taxa de expansão inferior para o período de 2011 até 2020, quando comparado com o crescimento constatado no período de 2002 até 2011. Segundo a GeSI, o avanço positivo seria o resultado do progresso da técnica fundamentada na ecoeficiência, o que é muito diferente da eficiência por eficiência que se baseia apenas no crescimento da disponibilidade de produtos e serviços.

Como resultado positivo, o SMARTer 2020 projeta um avanço de 3,8% na pegada de carbono. No período anterior medido, ou seja, do

ano 2002 a 2011 a taxa de crescimento foi bem maior e atingiu os 6,1% desde a última marca. Segundo o relatório os fatores que estão impulsionando essa queda no crescimento estão localizados na categoria de aplicações dos dispositivos para usuários finais. De acordo com o relatório e conforme pode ser observado na Figura 8, os dispositivos de TIC utilizados por usuários finais sempre estiveram na dianteira das emissões de GEE, no ano de 2011 esses dispositivos foram responsáveis por 0,55 GtCO2e, ou seja, 59% das emissões totais da TIC.

Entre esses dispositivos, o PC tem a maior participação com cerca de 60% já que são utilizados em grande escala em todo o mundo. Impressoras e outros periféricos de TIC respondem por 18% e 13%, respectivamente. Os 9% das emissões até aquele ano correspondem a dispositivos como smartphones e tablets, equipamentos que em comparação com os outros têm uma menor pegada de carbono.

O SMARTer 2020 prevê um forte crescimento nas vendas de dispositivos de usuários finais até o final do ano 2020 o que favorecerá o contínuo processo de aumento das emissões de GEE do setor. Economias de países emergentes como China, Índia e Brasil continuarão a demandar um alto consumo desses dispositivos, mas existe a tendência de migração do consumo para novas tecnologias em substituição ao PC desktop, tais como tablets, laptops e smartphones. E isso será importante na redução do crescimento das emissões segundo a GeSI. Como as emissões desta categoria são as que geram maior impacto, portanto, sua desaceleração terá um grande impacto sobre a taxa de crescimento total das emissões de TIC. O declínio vem por razões de migração de uso dos usuários para dispositivos com menor pegada de carbono como laptops e tablets, além de ganho de eficiência energética na própria utilização dos PCs desktops remanescentes – a exemplo da tecnologia thin client30.

Na categoria de Redes de Telecomunicações o impacto das emissões de GEE no ano de 2011 correspondeu a 0,20 GtCO2e (Figura 8). Esse valor representa aproximadamente 22% das emissões totais do setor, que estão contemplados nesta categoria os serviços de comunicações de voz e dados através de redes fixas e sem fio. As estimativas apontadas pela GeSI é para o crescimento exponencial do

30 É um equipamento que funciona como um mini PC, mas não possui, em sua

estrutura interna, hard disc, processador e memória (não como os convencionais). A estrutura de funcionamento depende da adoção das tecnologias cloud computing. Disponível em: <http://www.thinclient brasil.com/>. Acesso em: 14 jun. 2014.

tráfego de informações que acarretará em aumento das emissões o que representará um grande desafio técnico, operacional e financeiro para os operadores em todo o mundo. Vários fatores contribuíram e ainda continuarão a contribuir para a explosão do tráfego de informações. Entre eles o relatório cita: duplicação do número de usuários de dispositivos móveis até o ano de 2020, em 2011 eram 6 bilhões; aumento do uso de dados por esses usuários à medida que novos serviços e aplicações tornam-se disponíveis; atualização da própria tecnologia das redes para suportar o aumento no volume do tráfego, por exemplo, as tecnologias de quarta geração (4G) de redes sem fio.

O estudo analisa ainda que o impacto só não será maior porque melhoramentos têm sido realizados como: substituições de redes com tecnologias mais modernas e otimização do tamanho de células de redes sem fio; substituição de redes de cobre por redes de fibra óptica que reduz significativamente o consumo de energia. Se forem bem sucedidos, a ampliação dessas soluções para cobrir o máximo número de torres de celular, poderá ser ter um enorme impacto sobre a redução das emissões em infraestrutura de rede de telefonia móvel, como por exemplo na Índia.

Na terceira categoria de dispositivos de TIC que gera impactos ambientais estão os data centers. As emissões de GEE desta categoria foram as menores em 2011 e representaram 0,16 GtCO2e (Figura 8). Entretanto, o SMARTer 2020 sugere que as emissões desta categoria devem aumentar mais rapidamente que as demais, a uma taxa de crescimento de 7,1% ao ano até 2020 atingindo 0,29 GtCO2e naquele ano. A razão desse crescimento significativo é apontada como sendo a alta demanda por armazenamento de dados e ampliação de serviços fornecidos por eles. Como apresentado anteriormente, vários desenvolvimentos tecnológicos visam melhorar a eficiência energética o que proporcionaria a redução do Power Usage Effectiveness (PUE) de data centers. Entretanto, o SMARTer 2020 assume que por falta de análises e estudos aprofundados não pode afirmar que as tecnologias atualmente em implantação em data centers, como foi exemplificado no subitem anterior deste capítulo, serão suficientes para compensar e até reduzir as emissões de GEE do setor. Mas deixa em aberto como potenciais soluções e reforça essa necessidade justificando e apresentando os benefícios dos data centers para as novas propostas de utilização das TIC para um mundo mais sustentável.

É interessante observar que os data centers teriam grande importância em um cenário de desafios que é a geração de economias ao mesmo tempo em que se apresenta como um potencial recurso que

habilitaria reduções de emissões de GEE. Seriam eles, talvez, essenciais para uma nova infraestrutura tecnológica de uma TIC provedora de sustentabilidade.

O setor das TIC até o ano de 2020 continuará aumentando suas emissões GEE, porém suas emissões diretas estarão em um ritmo inferior ao de anos anteriores e o motivo disso seriam os esforços realizados no setor com o desenvolvimento e adoção de novas tecnologias. Poderíamos considerar que seria um avanço, tímido talvez, mas significativo para um setor que mesmo sendo considerado pouco poluidor quando comparado com outros, não estaria negando seu papel nos esforços globais de transição para uma economia sustentável. O relatório da GeSI busca apresentar inicialmente que o setor das TIC está fazendo o seu dever de casa, trabalhando com ecoeficiência (eficiência econômica e ecológica) estaria produzindo resultados animadores e se colocando no caminho da sustentabilidade. Mas é nos capítulos seguintes que a GeSI se ocupa em apresentar de onde virá o impacto positivo à sustentabilidade habilitado a partir da TIC.

3.2.3 O papel da TIC na redução de GEE de outros setores

A GeSI reconhece as limitações das próprias iniciativas para combater os impactos ambientais globais. Com isso, lança no relatório SMARTer 2020 propostas de difusão das TIC como instrumentos de reorganização dos processos produtivos e de cosumo. O relatório apresenta uma estimativa de potencial de redução das emissões global de GEE de 9,1 GtCO2e ou 16,5% do montante total, um número sete vezes maior que as emissões diretas do setor e que poderia ser habilitado pela TIC.

Especialista da era do acesso, as empresas que formam a GeSI conseguem vislumbrar as possíveis mudanças no mundo dos negócios e como protagonistas defendem com o SMARTer 2020 a construção de um cenário sustentável potencialmente praticável. Essas empresas respondem pelo provimento das infraestruturas tecnológicas necessárias para o fornecimento e suporte a muitas das atividades apontadas no relatório, mas também preconizadas por Rifkin (2001) que incluem: a redefinição da ideia de trabalho; atividades que não correspondem a esquemas tradicionais; multiplicidades de economias etc.

Interessadas em um cenário possivelmente praticável, onde mudanças de caráter tecnológico e cultural poderão ocorrer, a GeSI busca materializar os caminhos a serem seguidos em rumo à redução significativa das emissões de GEE. Ilustrando o papel das TIC de como

desempenhar um papel proativo, o SMARTer 2020 descreve quatro categorias que são chamadas de alavancas de transformações econômicas. Detalhadas na Figura 9.

É, portanto, com a aplicação desses recursos de TIC que a GeSI passa a apostar em um mundo mais sustentável. Vejamos a seguir:

1) Digitalização e desmaterialização – substituindo ou