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Análise comparativa de fase da RSE: Itautec e Lenovo

Os think tanks, portanto, faz muito sentido nas sociedades modernas que por

3.4.3 Análise comparativa de fase da RSE: Itautec e Lenovo

A primeira fase da RSE para Laville (2009) corresponde a “sustentabilidade 0.0”, é marcada principalmente por ações de

filantropia com a criação de fundações para promoção de ações sociais como: distribuições de recursos para organizações de proteção ao meio ambiente, de defesa dos direitos humanos, ações humanitárias, etc. Na análise de relatórios de sustentabilidade da Lenovo e Itautec constata-se que as empresas continuam atuando dessa forma. Em todos os seus relatórios são declaradas ações pautadas na perenidade dessas práticas, inclusive com o estímulo para que seus empregados se engajem e atuem em suas comunidades em ações de cunho socioeconômico, ambiental e cultural. Entretanto, as empresas não apresentam com fatos concretos como isso estaria sendo operado, pelo menos não constam estas informações nos últimos relatórios de sustentabilidade.

A Itautec ainda declara que realiza por meio de recursos próprios e, também combinados com recursos oriundos de leis de incentivo fiscal, projetos de fomento à cultura, à educação e ao esporte. Ações de incentivo à diversidade e defesa dos direitos humanos ou de luta contra formas de exclusão são também citadas. O aporte financeiro possibilitado a partir de leis de incentivo utilizado pela ITAUTEC é uma estratégia que se aproxima em similitude com campanhas antes conhecidas como marketing “social” ou “solidário”. Segundo Laville (2009), esses casos permaneceram, porém, marginais, e se configuram como contribuições associadas com parte das vendas que na sequência seriam revertidas para causas sociais ou ambientais. No caso em tela, argumentamos que o correspondente financeiro das vendas são os impostos pagos pela sociedade que financia o mecenato da Itautec. Dessa forma, tanto a Lenovo como a Itautec demonstram traços da RSE “0.0” onde o importante é a busca do reconhecimento público, sendo característica da fase a apresentação como empresa cidadã. Não é que a filantropia deva desaparecer por completo das ações empresariais, não é essa a questão. O mais importante é que as empresas não reduzam suas ações a isso, mas que voltem o olhar principalmente para questões emergentes e urgentes da sociedade.

A RSE “1.0” trata do enriquecimento da fase anterior, caracterizada principalmente por práticas de ecoeficiência, sistemas de gestão, transparência e relatórios de sustentabilidade. Existem sinais, sobretudo, da Lenovo que suas ações avançaram nesse sentido. Quando comparada com a Itautec, a Lenovo estaria na dianteira em ações de ecoeficiência, respeito ao meio ambiente e atendimento de regulações, a exemplo das diretrizes para o processamento do e-waste.

O novo momento da RSE, ou seja, a versão “2.0” representa a nova fronteira do desenvolvimento sustentável. Ela aponta para grandes desafios ao mesmo tempo promete resultados positivos para toda a

sociedade. Segundo Laville (2009), a RSE “2.0” inaugura a adoção de estratégias inovadoras com foco fundamental nos produtos e serviços de uma empresa, uma verdadeira reorientação da estratégia e do modelo econômico. Trabalhar nos produtos, torná-los sustentáveis e avançar para “uma economia em que as empresas não mais vivam da produção e da venda de produtos, mas dos seus resultados – não automóveis, mas mobilidade; não máquinas de lavar roupa, mas limpeza [...]” (MANZINI; VEZZOLI, 2011, p. 52). Neste caso, estaria-se falando da desmaterialização da indústria. Um conceito que muda as práticas comerciais, muda o papel dos produtos e a própria ideia do produto e do consumidor. Esses são traços que não são encontrados de forma robusta nas duas empresas. Mas a Lenovo se aproxima aos novos ideais da RSE “2.0” quando promove o desenvolvimento de novos produtos com requisitos ambientais e certificados por mecanismos de governança privada ou pública. Por exemplo, os standards privados ilustrados no Quadro 17 seriam parte destes elementos fundamentais da proposta.

Neste capítulo, discute-se acerca de alguns resultados positivos que governos e iniciativa privada produzem em questões de desenvolvimento sustentável. Os mecanismos de governança informacional privada desempenham papel importante na governança ambiental e, por isso, já não podem mais ser ignorada a autoridade por eles produzida. Ressalta-se, entretanto, que este modelo de governança pode ser bem sucedido desde que acompanhado da regulação estatal, até porque seu sucesso depende, inclusive, do fato dele mesmo já estar abrigado em sistemas estatais mais amplos. Outras questões discutidas foram os programas de responsabilidade corporativa e códigos de conduta adotados por empresas de TIC. A GeSI aposta em uma postura responsável que passa pela ecoeficiência na utilização dos recursos ecossistêmicos como estratégia de combate as mudanças climáticas. A eficiência energética é colocada em foco para elevar a conscientização da indústria de TIC quanto à necessidade alinhar este princípio com o desenvolvimento sustentável. Ou seja, as empresas de tecnologia já estariam habilitando recursos dotados de ecoeficiência que demonstra a redução da pegada de carbono do setor. Mas a contribuição importante da TIC para redução das emissões globais do GEE, segundo a GeSI, virá quando a TIC for aplicada em outros setores onde será capaz de reorientar reduções de fluxos materiais e de energia, criando um novo metabolismo econômico com eficiência superior aos atuais.

Conforme foi visto no capítulo, iniciativas a partir de associações representativas da indústria da TIC desenvolvem ações a exemplo do VAP e do CFSI com o objetivo de tornar o setor

ambientalmente responsável. A nosso ver estes programas mantidos pela EICC e GeSI coloca as empresas do setor em rota de aproximação dos critérios defendidos por Laville (2009) para uma RSE de vanguarda. Entretanto, a indústria eletrônica ainda não pode ser classificada na última fase da RSE, a sustentabilidade “2.0”, porque só assumir compromissos em relação a processos e sistemas internos, adotando uma abordagem de prevenção de riscos e fazendo melhoramentos em ecoeficiência não seriam avanços suficientes, segundo a autora. Mas esses já seriam critérios que aproximam a indústria de TIC da indústria química holandesa, encontrada por Mol et. al. (2002) em sua pesquisa empírica dentro da modernização ecológica, realizando adequações ambientais nos processos produtivos e nos produtos.

Nesse sentido, argumentamos que ainda há um longo caminho a ser desvendado pelas empresas de TIC que buscam a vanguarda do desenvolvimento sustentável. Entretanto, esses últimos passos ensaiados podem e devem ser reconhecidos como importantes se forem parte de um processo de reformulações de políticas ambientais.