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2.4 RSE: NOVA PERSPECTIVA

Os desafios são enormes para as empresas prosperarem em um ambiente adverso de problemas sociais e ambientais; entre esses desafios está em primeiro plano superar o problema de não enxergar na nova perspectiva ser focado a questão ambiental, o segredo da prosperidade dos negócios e, ao mesmo tempo acabar com ideias como: a responsabilidade socioambiental é um requinte exclusivo de empresas transnacionais e afortunadas; que as empresas engajadas o fazem visando puro interesse privado ou altruísmo e não se trata puramente da gestão de sua reputação; ou ainda, que as empresas podem esperar para quando as urgências e os obstáculos surgirem, então terá chegado a hora de agir para transformá-los em oportunidades; e principalmente,

entender que a responsabilidade socioambiental “não se trata de maneira alguma de privar a empresa de seu único meio de subsistência – o lucro – consagrando-o inteiramente a um objetivo não lucrativo.” Pois é também o lucro um sinal de que sua missão é útil. (LAVILLE, 2009, p. 48; WANDERLEY; COLLIER, 2005).

Quais são os desafios ambientais? E por que estes passam a ser relevantes para as empresas? Neste item apresentamos um quadro breve desses problemas ambientais. Um dos aspectos a ressaltar tem a ver com o esgotamento dos ecossistemas naturais provocado pelo impacto das atividades humanas, sobretudo, atividades econômicas que consomem recursos numa taxa superior a sua renovação por meios naturais. O declínio dos ecossistemas do planeta tem avançado em várias frentes como a destruição das florestas; degradação das terras cultiváveis; redução drástica dos estoques de peixes dos oceanos e rios; poluição dos recursos de água potável, etc.

O aumento do consumo das populações globais poderia estar causando um descompasso perigoso no processo de reposição dos estoques naturais, e isso representaria um risco a todas as atividades humanas no planeta. O processo de análise do consumo humano sobre os ecossistemas é conhecido mundialmente como “pegada ecológica mundial”, que aponta para um dado alarmante: consumo superior a 50% da capacidade de regeneração da Terra em 2008, conforme é ilustrado no Gráfico 2, que traz inclusive informações sobre o aumento da emissão de carbono, um dos gases que seria a causa do aquecimento global. O aquecimento global tornou-se uma linguagem comum entre políticos, empresários, consultores e leigos motivando discussões em torno da necessidade urgente da ecoeficiência no mundo empresarial.

Gráfico 2 – Pegada ecológica global por componente, 1961-2008.

Entretanto está longe ainda o consenso na comunidade científica sobre as causas que estariam provocando o aquecimento global. Uma corrente importante de cientistas defende que a temperatura do planeta está subindo e que a principal causa disso é o aumento das concentrações de Gases de Efeito Estufa (GEE) na atmosfera. Fala-se que este aumento decorre de atividades humanas pela queima de combustíveis fósseis, que vai desde e, principalmente, geração de energia, a produção de produtos e desenvolvimento de serviços utilizados na sociedade. A destruição das florestas e a queima da madeira são outros aspectos que impactam significativamente na concentração desses gases. O aumento da concentração GEE na atmosfera está causando efeitos adversos nas dinâmicas do fenômeno de forçamentos radiativos do sistema climático, segundo o quinto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas:

Forçamento radiativo é uma medida da influência que possui um fator para modificar o equilíbrio da energia que entra e sai no sistema atmosférico da Terra e representa um índice da importância de cada fator como mecanismo potencial de mudança climática. O forçamento positivo tende a aquecer a superfície, enquanto o forçamento negativo tende a esfriá-la. [...] os valores dos forçamentos radiativos correspondem às mudanças relacionadas com a situação industrial em 1750 e são expressos em Watts por metro quadrado (IPCC, 2013, p.11).

O prognóstico difundido é que as mudanças climáticas atribuídas ao aquecimento global continuarão a impactar de maneira crescente e de forma mais trágica todo o planeta. O desafio que se lança sobre a sociedade industrial é o investimento em uma nova forma de economia, denominada de Economia do Baixo Carbono ou Economia Verde. Neste novo modelo as mudança devem começar com a substituição das fontes energéticas baseadas nos combustíveis fósseis, passando pela preservação da biodiversidade e indo até a produção de produtos sustentáveis, entre outros aspectos.

Do ponto de vista econômico, a destruição dos recursos (capital) naturais pode colocar em risco a vida das sociedades e de todas as atividades produtivas desenvolvidas na econômia global. A relação de dependência entre a ecologia e a economia é total, não podendo ser

ignorada nem muito menos negligenciada porque, não existindo capacidades de fornecimento de recursos necessários à vida, não existiriam também condições de manutenção das atividades econômicas conhecidas.

E os desafios às empresas não se encerram nas questões ambientais. Será que elas ainda devem se preocupar com outros imperativos, por exemplo, no campo político e econômico? Acreditamos que sim porque a complexidade dos fenômenos não pode ser restrita a análises apenas sob uma perspectiva ambiental. Laville (2009) ajuda-nos a entender a situação afirmando que indicadores humanos e sociais são apresentados e exigem das empresas sua maior atenção e responsabilidade (como redução de riscos à saúde e segurança de funcionários e de comunidades do entorno; direitos humanos; segurança dos produtos e serviços para os consumidores; prestação de contas para sociedade sobre como a empresa segue seus princípios). A esses desafios foram adicionados exigências de ordem econômica (como política justa de remuneração; contribuição à economia das comunidades onde mantém seus negócios; promoção de concorrência justa e saudável, etc.). Ou seja, um conjunto de questões delicadas e de difícil gestão que desafia as organizações devido às especificidades culturais, regionais e setoriais.

Nesse contexto se inscrevem as iniciativas dos códigos de conduta e de normas voluntárias, as quais emergiram nos anos de 1990, e cujos objetivos gerais seriam plausíveis de aplicações a todas as empresas e todos os setores econômicos. Visando garantir que tais princípios sejam combinados com a multiplicidade de expectativas das partes interessadas, foram agregando interesses de empresas de vários setores; de organizações não governamentais, sociais e ambientais, além de organismos internacionais. Entre os códigos de conduta mais antigos e conhecidos está o da Coalition of Environmentally Responsible Economies (CERES) criado nos Estados Unidos em 1989. O CERES também foi responsável pela criação do Global Reporting Initiative (GRI) que tem como objetivo definir diretrizes globalmente aplicáveis na preparação de relatórios empresariais sobre o desenvolvimento sustentável. O GRI, desde sua criação, vem recebendo aperfeiçoamentos por parte de empresas de vários setores que se dispõem voluntariamente a testá-lo em suas aplicações concretas, implicando na adição de muitos outros indicadores além dos ambientais, como por exemplo, indicadores humanos, sociais e econômicos.

Nesse sentido Laville (2009) considera que antecipar as ameaças é a melhor opção para não ter que se submeter a elas e isso

implica às empresas buscarem seu desenvolvimento sustentável independentemente do setor em que atuam. Trata-se de uma estratégia que impõe às empresas a necessidade de buscar a conciliação de objetivos tradicionais como o lucro, mas também a viabilidade ecológica e a justiça social. Para a autora:

[...] é uma verdadeira revolução cultural a que vivemos atualmente, e a cada dia percebemos um pouco mais o quanto ela irá, durante os próximos trinta anos, transformar o mundo empresarial. Hoje, temos a possibilidade e a oportunidade de criar uma economia fundamentalmente diferente, um sistema industrial e comercial que seja capaz de restaurar os ecossistemas e de proteger o meio ambiente, ao mesmo tempo em que estimule a inovação, a prosperidade, a segurança e o sentido do trabalho de cada um. A empresa é a única instituição do mundo moderno suficientemente poderosa e criativa para implementar as mudanças necessárias (LAVILLE, 2009, p. 136).

É fácil atribuir às empresas qualidades de eficiência e gestão de recursos, elas realmente são instituições criativas e poderosas o suficiente para programar mudanças na direção do desenvolvimento sustentável. Entretanto, não podemos negar a primazia que move as empresas, a lucratividade econômica. O lucro que é também um sinal virtuoso das empresas, pode também tornar-se um fator complicador para alcançar a sustentabilidade, principalmente, quando é buscado a qualquer custo. Por isso, concordar que as empresas são as únicas instituições capazes de corrigir os rumos do desenvolvimento praticado no mundo moderno é um grande equívoco. Afinal, o mercado e o lucro não são objetivos principais, são apenas meios para o desenvolvimento de uma sociedade saudável. Neste sentido, a sociedade e os Estados devem interagir em relações de parcerias com as empresas para que juntos encontrem os melhores caminhos para o desenvolvimento sustentável.

A nova perspectiva da RSE está relacionada a uma era de oportunidades e do crescimento das economias “verdes” que buscam a administração dos recursos naturais com maior eficiência; dissociar o crescimento do esgotamento de recursos e aprimorar o bem-estar humano equitativo dentro da capacidade de sustento dos ecossistemas do planeta. Segundo Laville (2009) a nova postura avança para cuidar

não apenas das questões internas como as que caracterizam a fase 1.0: processo de produção; ecoeficiência dos locais de produção; compras responsáveis etc. E como justificativa para seu argumento, a autora traz um exemplo de uma montadora que produz veículos com motores de grande capacidade, onde o problema estaria no tempo de utilização do produto, na eficiência e na sua alta capacidade em emitir poluentes. Nestes casos, de nada adiantariam as boas práticas institucionais e industriais da empresa em detrimento do impacto negativo do uso de seus produtos.

Essa nova perspectiva da RSE estaria ganhando espaço em várias empresas que consideram seriamente a questão da proteção do meio e as concepções do desenvolvimento sustentável, cujos princípios baseiam-se na ideia do Triple Bottom Line (People, Planet and Profit) aliando-se, assim, à ideia de preocupação de longo prazo originária do relatório Brundtland conforme será apresentado.

Segundo Sartore (2011), o Instituto Ethos vem colaborando para difundir no Brasil uma nova proposta de atuação em RSE baseada na ação social voltada para todos os stakeholders, oferecendo indicadores de avaliação da gestão empresarial que mede o desempenho socioambiental das empresas e criando uma ponte que liga empresários brasileiros ao espaço internacional através do Business for Social Responsibility (BSR). Na proposta do Ethos a empresa que está em um estágio avançado de RSE será aquela atenta aos interesses dos diferentes públicos, ouvindo-os em suas necessidades, avaliando suas demandas e incorporando-as aos objetivos estratégicos corporativos. Nesse processo o fundamental seria não deixar muda nenhuma das partes interessadas como: acionistas; público interno; meio ambiente; fornecedores; consumidores e clientes; comunidade; governo e a sociedade. É também, estabelecer metas corporativas que estejam em sintonia com o desenvolvimento sustentável da sociedade, com a preservação dos recursos ambientais e culturais, respeito à diversidade e promoção da justiça social (ETHOS, 2013).

O Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social é uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público – OSCIP (Organização não governamental sem fins lucrativos criada pela iniciativa privada) cuja missão é mobilizar, sensibilizar e ajudar as empresas a gerir seus negócios de forma socialmente responsável, tornando-as parceiras na construção de uma sociedade justa e sustentável. Criado em 1998 por um grupo de empresários e executivos da iniciativa privada, o Instituto Ethos se autodefine como um polo de organização de conhecimento, troca de experiências e desenvolvimento

de ferramentas para auxiliar as empresas a analisar suas práticas de gestão e aprofundar seu compromisso com a responsabilidade social e o desenvolvimento sustentável (ETHOS, 2013).