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Programa Banco Comunitário de Sementes de Adubos Verdes : possibilidade de geração de capital social no estado do Rio de Janeiro

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FACULDADE DE ENGENHARIA AGRÍCOLA

ANA CRISTINA SIEWERT GAROFOLO

PROGRAMA BANCO COMUNITÁRIO DE SEMENTES DE

ADUBOS VERDES: POSSIBILIDADE DE GERAÇÃO DE

CAPITAL SOCIAL NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

CAMPINAS 2017

(2)

PROGRAMA BANCO COMUNITÁRIO DE SEMENTES DE

ADUBOS VERDES: POSSIBILIDADE DE GERAÇÃO DE

CAPITAL SOCIAL NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Tese apresentada à Faculdade de Engenharia Agrícola da Universidade Estadual de Campinas como parte dos requisitos exigidos para a obtenção do título de Doutora em Engenharia Agrícola, na área de concentração Gestão de Sistemas na Agricultura e Desenvolvimento Rural

Orientador: Prof

a

. Dra Julieta Teresa Aier de Oliveira

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA TESE DEFENDIDA PELA ALUNA ANA CRISTINA SIEWERT GAROFOLO, E ORIENTADA PELA PROFA. DRA. JULIETA TERESA AIER DE OLIVEIRA

CAMPINAS 2017

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FEAGRI/UNICAMP

A Ata da defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no processo de vida acadêmica da discente.

________________________________________________________________ Dr.ª Julieta Teresa Aier de OliveiraPresidentee Orientadora

FEAGRI/UNICAMP

_________________________________________________________________ Dr.ª Cristhiane Oliveira da Graça AmâncioMembro Titular

EMBRAPA Agrobiologia

_________________________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Maristela Simões do CarmoMembro Titular

UNESP/Botucatu

_________________________________________________________________ Dr.ª Tércia Zavaglia TorresMembro Titular

CNPTIA/EMBRAPA

_________________________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Vanilde Ferreira de Souza EsquerdoMembro Titular

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Ao Marco, meu companheiro e grande amigo, por todo amor, carinho, compreensão e em especial paciência, em todos os momentos das nossas vidas e em especial durante o desenvolvimento este trabalho.

Às amadas de minha vida, minhas filhas Anneliese e Anna Carolina, pelo amor e carinho em especial nos momentos onde a distância foi muito dolorosa.

(6)

Em primeiro e principalmente a Deus por permitir esta conquista em minha vida.

À Prof.ª Dra. Julieta Aier de Oliveira pela orientação e confiança depositada em meu trabalho. Gratidão por acreditar em mim.

À meus pais, Jens Siewert e Alda Maria Siewert pelo apoio em todas as horas, por acreditarem em mim e me incentivarem desde sempre. Muito obrigada!

Às Dras Cristhiane Amâncio e Tercia Zavaglia Torres pelo apoio e incentivo, para que eu pudesse completar esta importante etapa pessoal.

Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Planejamento e Desenvolvimento Rural Sustentável da Faculdade de Engenharia Agrícola da Universidade Estadual de Campinas, pelos momentos de reflexão que me estimularam a prosseguir no caminho da pesquisa, em especial Prof.ª Sonia Maria Pessoa Pereira Bergamasco e Prof.ª Dra. Maristela Simões do Carmo. À Embrapa, na pessoa do Dr. Gustavo Xavier, chefe-geral da Embrapa Agrobiologia, pelo apoio material e financeiro a esse projeto pessoal e profissional.

Aos colegas da Embrapa Agrobiologia, em especial meu amigo Ilzo Artur Risso, pelo apoio na pesquisa de campo.

Ao Prof. Dr. Luiz Carlos Rodrigues pelo auxílio na escrita do abstract.

Aos sujeitos dessa pesquisa que contribuíram para que esta pesquisa tivesse sucesso, meus sinceros agradecimentos.

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"Para tudo há um tempo, para cada coisa há um momento debaixo dos céus: tempo para nascer, e tempo para morrer; tempo para plantar, e tempo para arrancar o que foi plantado" (Eclesiastes, 3: 1-2)

“Lembrai-vos: aquele que pouco semeia, igualmente, colherá pouco, mas aquele que semeia com generosidade, da mesma forma colherá com fartura”. (II Coríntios 9:6)

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O Programa Banco Comunitário de Sementes de Adubos Verdes (BCSAV) foi criado em 2007 pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento-Mapa. O Programa visou o fomento do uso de adubos verdes e diminuição da dependência de insumos externos por meio do estímulo à criação ou ampliação de bancos comunitários de sementes. Nesse sentido, o objetivo deste estudo foi verificar se o processo de implantação do Programa Banco Comunitário de Sementes de Adubos Verdes no período de 2007 a 2014 no estado do Rio de Janeiro contribuiu para a geração e fortalecimento de capital social local e independência dos agricultores do insumo semente. Foram considerados para efeito de discussão do Programa Banco Comunitário de Adubos Verdes diferentes conceitos de capital social e as inter-relações estabelecidas em termos de participação: laços de cooperação, reciprocidade e confiança. O universo de estudo foi composto pelos bancos comunitários e bancos familiares de sementes de adubos verdes identificados em levantamento de 2013 realizado pela Superintendência Federal de Agricultura, Pecuária e Abastecimento no Estado do Rio de Janeiro (SFA-RJ). A hipótese de pesquisa foi que a implementação do Programa BCSAV promoveu participação e condições para a geração e o fortalecimento de capital social local. Agricultores familiares que já participavam em alguma associação/cooperativa apresentavam maior engajamento na comunidade do seu entorno sendo maior a confiança nas ações em conjunto com outros agricultores e a participação em ações como mutirões, entretanto para estes agricultores a inserção do BCSAV não alterou, de modo significativo, sua participação social, confiança e cooperação. Na percepção dos técnicos entrevistados, o Programa possibilitou, em maior ou menor grau, a participação social intensificando os laços de confiança e cooperação entre os agricultores. Ao considerar os bancos de sementes, foi possível identificar fortes laços de reciprocidade onde as pessoas auxiliavam-se umas às outras, aumentando a confiança e a cooperação dos associados, auxiliavam-sendo o aspecto participativo muito valorado pelos gestores/guardiões dos bancos comunitários estudados. Percebeu-se que o Programa Banco Comunitário de Sementes de Adubos Verdes possuía condições de promover a participação e as condições para a geração e o fortalecimento de capital social local, entretanto isto evidenciou-se de modo mais incisivo em locais onde já havia, mesmo que de forma incipiente, laços de confiança, reciprocidade e cooperação instalados.

Palavras-chave: capital social, banco comunitário de sementes, reciprocidade; confiança; participação.

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The Ministry of Agriculture, Livestock and Food Supply, known as Mapa, created the Green Manure Seed Community Bank (GMSCB) in 2007. The Program aimed at encouraging the use of green manure and reducing dependence on external inputs by encouraging the creation or expansion of community seed banks. In this sense, the objective of this study was to verify if the process of implantation of the Green Manure Seed Community Bank Program from 2007 to 2014 in the state of Rio de Janeiro contributed to the generation and strengthening of local social capital and the independence of farmers from Seed supply. Different concepts of social capital and the interrelationships established in terms of participation were considered for discussing the Green Manure Seed Community Bank Program: ties of cooperation, reciprocity and trust. The study scope was composed of community and family green manure seed banks identified in a 2013 survey conducted by the Federal Superintendence of Agriculture, Livestock and Food Supply in the State of Rio de Janeiro (SFA-RJ). The research hypothesis was that the implementation of the GMSCB Program promoted participation and conditions for the generation and strengthening of local social capital. Family farmers who were already participating in some association / cooperative showed greater commitment in the community around them, with greater confidence in actions in conjunction with other farmers and participation in actions as joint efforts. However, for these farmers the insertion of the GMSCB did not change social participation, trust and cooperation. In the perception of the interviewed technicians, the Program made possible, to a greater or lesser degree, social participation, intensifying the bonds of trust and cooperation among farmers. When considering the seed banks it was possible to identify strong bonds of reciprocity where people helped each other, increasing the trust and cooperation of the associates, being the participatory aspect highly valued by the managers / guardians of the community banks studied. It was noticed that the Green Manure Seed Community Bank Program had the conditions to promote the participation and the conditions for the generation and strengthening of local social capital, but this was more incisive in places where there was, even at an incipient state, bonds of trust, reciprocity, and cooperation already installed.

(10)

Figura 1 - Número e tipo de bancos de sementes constituídos a partir das ações de capacitação para a formação de Bancos Comunitários e Bancos Familiares de Sementes de Adubos Verdes no estado do Rio de Janeiro, 2009 a 2012

76

Figura 2 - Macrorregiões do Estado do Rio de Janeiro cobertas pela pesquisa 85 Figura 3 - Número de municípios e grupos participantes da 1° fase do programa

BCSAV

106

Figura 4 - Agricultores beneficiados pelo Programa BCSAV (2008 a 2010) 108 Figura 5 – Bancos comunitários estudados na pesquisa, 2015. 114 Figura 6 – Banco de Sementes com campo de produção de sementes da Associação

Agroecológica de Teresópolis (AAT) em destaque, RJ, 2015.

120

Figura 7 - Sementes armazenadas no Banco de Sementes da Associação Agroecológica de Teresópolis (AAT), RJ, 2015.

120

Figura 08 - Casa de Sementes livres e local de armazenamento das sementes, Silva Jardim, RJ, 2015

(11)

Tabela 1 - Momentos históricos da evolução do conceito de Capital Social 55 Tabela 2 - Definição de Capital Social para diferentes autores 56 Tabela 3 – Definições de Capital Social apresentadas por Durston (2000), Bebbington (2005), Putnam (1996) e Evans (1996)

68

Tabela 4 - Pilares de Sustentação Teórica obtidos a partir da teoria de Capital Social 69 Tabela 5 - Questões sobre capital social aplicada aos agricultores familiares abordados na pesquisa, 2015.

70

Tabela 6 - Questões sobre capital social aplicadas aos técnicos multiplicadores abordados na pesquisa, 2015.

71

Tabela 7 - Questões sobre capital social e aplicada aos gestores dos bancos comunitários abordados na pesquisa, 2015.

73

Tabela 8 - Questões sobre capital social aplicada aos formuladores do Programa BCSAV e ao Superintendente Federal da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Estado do Rio de Janeiro abordado na pesquisa, 2016.

75

Tabela 9 - Diretriz para seleção do tamanho das amostras de pesquisa, 2015. 77 Tabela 10 - Universo da pesquisa e definição do espaço amostral para construção do panorama histórico da concepção, elaboração e implantação do Programa Banco Comunitário de Sementes de Adubos Verdes no Estado do Rio de Janeiro, 2015.

80

Tabela 11 - Universo da pesquisa e definição do espaço amostral para identificação do perfil socioeconômico dos agricultores familiares e levantamento dos condicionantes para implantação de Bancos Comunitários de Sementes de Adubos Verdes no estado do Rio de Janeiro, 2015.

82

Tabela 12 - Dimensões e Categorias de Análise obtidas a partir dos dados de campo 88 Tabela 13 - Correlação entre os Pilares de Sustentação Teórica, Dimensões de Análise, Unidades Temáticas e Evidências

(12)

Tabela 15 – Número de multiplicadores e técnicos capacitados para implantação do Programa

107

Tabela 16 - Espécies de sementes de adubos verdes distribuídas pelo Programa BCSAV no período de 2008 a 2010

109

Tabela 17 – Relação dos grupos/multiplicadores e localidades segundo a etapa de constituição e registro pelo Mapa, 2013.

112

Tabela 18 - Bancos comunitários e familiares constituídos no Estado do Rio de Janeiro registrados pelo Mapa no ano de 2013

113

Tabela 19 – Agricultores entrevistados por região considerando sexo e escolaridade. Estado do Rio de Janeiro, 2015

127

Tabela 20 - Tamanho dos estabelecimentos rurais pesquisados, em hectares (ha), Estado do Rio de Janeiro, 2015/2016

128

Tabela 21- Distribuição do ganho do agricultor com a agricultura em termos de salários mínimos, Estado do Rio de Janeiro, em porcentagem e números absolutos nos parênteses 2015/2016.

130

Tabela 22 - Características sóciodemográficas dos agentes multiplicadores entrevistados segundo sexo, escolaridade, área de atuação, instituição de filiação, tempo de serviço na Extensão Rural e região de atuação, Estado do Rio de Janeiro, 2016

131

Tabela 23 - Frequência do nível de escolaridade dos agentes multiplicadores do Programa BCSAV no estado do Rio de Janeiro, em números absolutos e porcentagem nos parênteses, 2015/2016.

132

Tabela 24 - Nível de escolaridade em relação ao tempo (em anos) de serviço dos agentes multiplicadores do Programa BCSAV no estado do Rio de Janeiro, em porcentagem e números absolutos nos parênteses, 2015/2016.

(13)

Tabela 26 - Correlação entre a vinculação do multiplicador e o recebimento de assistência técnica pelo agricultor durante a implantação do Programa BCSAV no estado do Rio de Janeiro, em porcentagem e números absolutos nos parênteses, 2015/2016.

139

Tabela 27 - Ocorrência de diferentes motivações dos multiplicadores para participação no Programa BCSAV no estado do Rio de Janeiro, em números absolutos e porcentagem nos parênteses, 2015/2016.

140

Tabela 28 - Correlação entre a motivação do multiplicador para participar no Programa e sua ação como agente de Ater no estado do Rio de Janeiro, em porcentagem e números absolutos nos parênteses, 2015/2016.

140

Tabela 29 - Correlação entre a multiplicação das sementes de adubos verdes, aumento de uso e observação de mudanças nas propriedades rurais devido ao Programa BCSAV no estado do Rio de Janeiro, 2015/2016.

147

Tabela 30 - Critérios de seleção adotados pelos diferentes multiplicadores para seleção dos agricultores a serem beneficiados pelo Programa BCSAV no estado do Rio de Janeiro, em números absolutos e porcentagem nos parênteses, 2015/2016.

149

Tabela 31 - Interação entre critério para seleção dos agricultores a serem beneficiados pelo Programa BCSAV no estado do Rio de Janeiro e ação do extensionista no estado do Rio de Janeiro, em porcentagem e números absolutos nos parênteses, 2015/2016.

150

Tabela 32 - Critérios de seleção adotados pelos diferentes multiplicadores para seleção dos agricultores a serem beneficiados pelo Programa BCSAV no estado do Rio de Janeiro em relação ao tempo de serviço, onde os números em parênteses indicam o número de multiplicadores envolvidos no critério, 2015/2016

151

Tabela 33 - Estratégias para avaliação da implantação do Programa BCSAV no estado do Rio de Janeiro, 2015/2016.

(14)

parênteses, 2015/2016.

Tabela 35 - Fatores limitantes na percepção dos multiplicadores do Programa BCSAV no estado do Rio de Janeiro, em números absolutos e porcentagem nos parênteses, 2015/2016.

155

Tabela 36 - Participação dos agricultores nas decisões da associação/casa de sementes do estado do Rio de Janeiro envolvidos com o BCSAV, 2015/2016.

159

Tabela 37 – Inter-relação entre grau de participção, confiança interpessoal e participação em mutirões, onde os números em parênteses indicam o número de agricultores entrevistados envolvidos no critério. Rio de Janeiro, 2015/2016.

160

Tabela 38 - Alteração do nível de confiança entre os agricultores beneficiados pelo BCSAV na percepção dos extensionistas em números absolutos e porcentagem nos parênteses. Rio de Janeiro,2015/2016.

164

Tabela 39 - Alteração do nível de cooperação entre os agricultores beneficiados pelo BCSAV na percepção dos extensionistas em números absolutos e porcentagem nos parênteses. Rio de Janeiro,2015/2016.

164

Tabela 40 - Participação dos agricultores nas decisões da associação/cooperativa e ou casa de sementes em 2015 em comparação à 2014.

(15)

ABIO - Associação dos Produtores Biológicos do Rio de Janeiro ACIPTA - Associação de Citricultores e Produtores Rurais de Tanguá

APFASB - Associação de Produtores Familiares e Amigos da Serra do Barbosão ASPUR - Associação de Desenvolvimento Comunitário de Purilândia

ATT - Associação Agroecológica de Teresópolis BCS – Banco Comunitário de Sementes

BCSAV - Banco Comunitário de Sementes de Adubos Verdes

CIAPO - Câmara Interministerial de Agroecologia e Produção Orgânica CNAPO - Comissão Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica

COAGREA/Mapa - Coordenação de Agroecologia, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

CPOrg - Comissões da Produção Orgânica

DPDAG - Divisão de Política, Produção e Desenvolvimento Agropecuário EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

IDACO - Instituto de Desenvolvimento e Ação Comunitária IBIO - Instituto Bio Atlântica

MAPA - Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento

PAIS - Produção Agroecológica Integrada e Sustentável PLANAPO - Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica

PNAPO - Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica

SFA-RJ - Superintendência Federal de Agricultura, Pecuária e Abastecimento no Estado do Rio de Janeiro

STPOrg - Subcomissão Temática de Produção Orgânica

SEPLAG - Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão do estado do Rio de Janeiro

TIRFAA - Tratado Internacional de Recursos Fitogenéticos para Alimentação e Agricultura TS – Tecnologia Social

(16)

RESUMO 8 ABSTRACT 9 LISTA DE FIGURAS 10 LISTA DE TABELAS 11 LISTA DE SIGLAS 15 1. INTRODUÇÃO 20

2. DESENVOLVIMENTO RURAL: PASSOS PARA SUSTENTABILIDADE 25

2.1. Agroecologia rumo à Sustentabilidade 25

2.1.1. Agroecologia como movimento de agricultura alternativa à convencional

29

2.1.2. Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável 32 2.2. Agroecologia e Políticas Públicas para sua implantação 34 2.2.1. A Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica 37 2.3. Das Sementes Selvagens aos Bancos Comunitários de Sementes 42 2.3.1. Bancos Comunitários de Sementes: características e modus operandi 47 2.3.2. Banco Comunitário de Sementes: uma Tecnologia Social 52 2.4. Capital Social: Uma construção do coletivo e para o coletivo 54 3. A CONCEPÇÃO METODOLÓGICA E O TRAJETO DA PESQUISA 66

3.1. A opção metodológica da pesquisa 66

3.2. O plano de trabalho e as estratégias de pesquisa 68 3.2.1. Elaboração dos questionários para coletas de dados no campo 68 3.2.1.1. Questionários dos agricultores familiares 70 3.2.1.2. Questionário para os Técnicos Multiplicadores 71 3.2.1.3. Questionários dos gestores dos Bancos Comunitários 72

(17)

3.2.2. A seleção dos sujeitos da pesquisa 75 3.2.3. Definição do espaço amostral da pesquisa 76

3.2.4. Etapas da pesquisa 78

3.2.4.1. Primeiro momento da pesquisa: Construção do panorama histórico da concepção, elaboração e implantação do Programa Banco Comunitário de Sementes de Adubos Verdes

78

3.2.4.2. Segundo momento da pesquisa: identificação do perfil socioeconômico dos agricultores familiares e levantamento dos condicionantes para implantação de Bancos Comunitários de Sementes de Adubos Verdes

81

3.2.4.3. Terceiro momento da pesquisa: verificação de como o Programa Banco Comunitário de Sementes de Adubos Verdes pode contribuir para a formação ou fortalecimento do Capital Social em termos de promoção da confiança, reciprocidade e cooperação entre os pares

83

3.3. Condução da pesquisa em campo 83

3.3.1. Análise dos documentos e relatórios da SFA-RJ 83 3.3.2. Entrevistas com agentes multiplicadores e agricultores familiares 84

3.4. Organização e análise das entrevistas 86

3.4.1. Análise estatística 90

4. O PROGRAMA BANCO COMUNITÁRIO DE SEMENTES DE ADUBOS VERDES NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

92

4.1. O Programa Banco Comunitário de Sementes de Adubos Verdes (BCSAV)

92

4.1.1. Uso de adubos verdes como prática agrícola 92

(18)

4.2. A implantação do BCSAV no Estado do Rio de Janeiro 103 4.2.1. Bancos Comunitários vinculados ao Programa BCSAV no estado do Rio de Janeiro

114

4.2.1.1. Associação Comunitária dos Produtores Orgânicos de Purilândia 114 4.2.1.2. Associação Agroecológica de Teresópolis (AAT) 117 4.2.1.3. Casa de Sementes Livres de Mata Atlântica 121 4.2.1.4. Os bancos comunitários de Cachoeiras de Macacu 124

4.3. Atores sociais do programa BCSAV 127

4.3.1. Agricultores familiares beneficiados 127

4.3.2. Técnicos multiplicadores 130

4.3.3. Formuladores e responsáveis pela execução do Programa BCSAV no

estado do Rio de Janeiro 133

4.3.4. Gestores dos Bancos Comunitários de Sementes 134 4.4. Empoderamento e Instrumentalização dos atores sociais 135

4.4.1. Agricultores Familiares 137

4.4.2. Multiplicadores 139

4.5. Análise da implantação do BCSAV na percepção de seus atores 144 4.5.1. O BCSAV para os agricultores familiares 145

4.5.2. O BCSAV segundo os multiplicadores 147

(19)

4.6.2 Mecanismos de cooperação, reciprocidade e confiança criados. 163

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 170

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 176

APÊNDICES 189

(20)

1. INTRODUÇÃO

Durante as últimas décadas do século XX grandes mudanças puderam ser observadas em diferentes setores culturais da civilização ocidental, o que provocou uma série de alterações na relação entre os seres humanos e entre estes e a natureza. As práticas agrícolas na busca pela produção de mais alimentos aliadas ao aumento da produção de biomassa para geração de energia e de comodities para a exportação impulsionaram a abertura de novas fronteiras agrícolas criando um modelo baseado na excessiva especialização dos sistemas produtivos, dependência de insumos externos de custo elevado e de alto impacto socioambiental.

Surge um movimento deflagrado pelo apelo à sustentabilidade, trazendo consigo a Agenda 211, um acordo internacional com a característica de ser um plano de ação para ser adotado global, nacional e localmente. Esta Agenda trouxe em seu escopo o Capítulo 32 dedicado ao fortalecimento do papel dos agricultores, peça chave para alcançar a sustentabilidade no campo.

Ao fortalecer da agricultura familiar, confere-se sustentabilidade aos agroecossistemas2 e também se promove a inclusão social e garantia de segurança alimentar. Contudo, para assegurar a sustentabilidade desta atividade, por parte destes agricultores torna-se necessário estudar criticamente o modelo de agricultura praticado com vistas a repensar conhecimentos, práticas e tecnologias socialmente adequadas e ambientalmente conservacionistas. Para se caminhar nessa direção, é preciso que tais iniciativas ganhem um salto em termos de escala, efetividade3 e perenidade. Este ganho pode ser realizado por meio de políticas públicas voltadas a melhorar a qualidade de vida da coletividade, garantindo, ao mesmo tempo, a sustentabilidade socioambiental, cultural, política, econômica, ética e espacial de cada comunidade contribuindo para que convirjam para o cumprimento das “promessas da pós-modernidade4” (SANTOS, 1995).

1AGENDA 21. Disponível em http://www.ibamapr.hpg.ig.com.br/agenda21.htm, acesso em 18 de

setembro de 2010.

2Agroecossistema é um local de produção agrícola compreendido como um ecossistema. O conceito de

agroecossistema proporciona uma estrutura com a qual se pode analisar os sistemas de produção de alimentos como um todo, incluindo seus conjuntos complexos de insumos e produção e as interconexões entre as partes que os compõem (GLIESSMAN, 2009, p.63)

3Entende-se como efetividade a relação entre os resultados e o objetivo, ou seja efetividade expressa o

resultado concreto dos fins, objetivos e metas desejadas por um projeto. (COHEN e FRANCO, 2013)

4 Pós modernidade refere-se ao período histórico em que a modernidade se desenvolveu, pautado nas

promessas de liberdade, igualdade e fraternidade de uma sociedade baseada nos imperativos da razão e com meios para o livre desenvolvimento material e progresso social a partir do uso racional dos recursos

(21)

Para tanto, é fundamental o envolvimento das comunidades nos processos de tomada de decisão que orientam o desenvolvimento, e assim também na formulação e implantação de políticas públicas voltadas às questões socioambientais. Esta afirmação ganha força ao considerar-se que os elementos que definem o bem-estar ou a qualidade de vida dependem do contexto sociocultural e de preferências individuais e coletivas, devendo ser definidos por meio de debates públicos, abrangentes e críticos (SEN, 2000).

Em 2007 foi criado o Programa Banco Comunitário de Sementes de Adubos Verdes (BCSAV), pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento-Mapa, em parceria com outras instituições. O Programa visou o fomento do uso de adubos verdes e diminuição da dependência de insumos externos à unidade de exploração agropecuária, por meio do estímulo à criação ou ampliação de bancos comunitários de sementes de adubos verdes. A proposta do Programa era ir além da distribuição de sementes, atuando com a lógica da multiplicação, armazenamento, e gestão de um banco de sementes, visto que a criação e manutenção de um banco de sementes pressupõe um trabalho coletivo direcionado ao envolvimento dos agricultores. No Rio de Janeiro o Programa foi iniciado no final de 2007, sendo executado pela Superintendência Federal de Agricultura no Estado–SFA/RJ em parceria com outras instituições. Este Programa foi ratificado pela Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Pnapo), criada por meio do decreto nº 7.794, de 20 de agosto de 2012. Esta política consolidou um passo importante a favor do desenvolvimento rural sustentável, já que uma de suas prioridades é o fortalecimento de ações de conservação e resgate de variedades, mediante o apoio e incentivo a criação de Bancos Comunitários de Sementes (BCSs).

Bancos Comunitários podem ser compreendidos como tecnologia social por apresentarem técnicas e metodologias que foram desenvolvidos na integração com a comunidade bem como serem potenciais soluções para a transformação social. Representam uma importante estratégia de fortalecimento à diversidade e a segurança familiar de pequenos agricultores, pois possibilitam a disponibilidade de sementes e diminuem a dependência externa deste insumo. Ademais, essa estratégia traz um elemento importante, o comunitário, que tem como premissa a participação ativa da comunidade em todo o processo. Desse modo, no contexto desta tese admitimos os bancos comunitários de sementes como uma Tecnologia Social desenvolvida como um fruto de uma construção social, produto dos atores que a

naturais esgotou-se. Neste contexto somente com outros meios, instrumentos e uma outra racionalidade seremos capazes de fazer cumprir o ideal da modernidade (GONÇALVES, 2014)

(22)

constroem e do contexto participativo no qual é desenvolvido. Muitos planos de desenvolvimento têm falhado porque não se leva em conta a opinião das pessoas envolvidas (HERRERA, 2010, pag.39). Segundo Nascimento et al. (2012) é por meio de bancos comunitários de sementes que foi possível realizar, em muitos casos, em conjunto com as comunidades, o associativismo, entre outros temas. Isto contribuiu com a resistência dos agricultores familiares frente ao domínio do mercado, o que é importante visto a capacidade de ação coletiva é um dos requisitos do desenvolvimento sustentável.

Nos últimos anos o interesse dos cientistas sociais no estudo sobre capital social, bem como na confiança entre os indivíduos, no associativismo e nas redes de relações sociais foi intensificado (KHAN e SILVA, 2005). Nicola (2007) pontua que o capital social está intimamente relacionado à capacidade de organização e constituição das redes de cooperação social as quais são importantes no processo de desenvolvimento sustentável.

Para efeito de discussão não foi adotado o conceito de um único autor. Foram considerados para efeito de discussão do Programa Banco Comunitário de Adubos Verdes os pilares de sustentação teórica de alguns autores selecionados, por consideramos positivas não somente as contribuições teóricas de diferentes autores, mas também as possíveis inter-relações entre elas, tendo como norteador do conceito de capital social aquele que ocorre por meio das relações estabelecidas em termos de laços de cooperação, reciprocidade e confiança.

Dentre as muitas contribuições teóricas Bourdieu (1980) definiu o capital social como agregador de recursos, reais e potenciais, que possibilitavam o pertencimento a determinados grupos e instituiçõescomo, por exemplo, em associações e cooperativas. Para este autor os diferentes capitais são uma forma de poder podendo ser criado em comunidades que possuem algumas características como a solidariedade, a confiança e reciprocidade. Para Putnam (2000) capital social refere-se a características da organização social, tais como leis, normas e relações interpessoais presente somente nas sociedades onde existe um forte sentimento cívico. Outro autor destacado é Bebbington (2005) que traz à discussão a ligação entre o capital social e as estratégias de superação da pobreza no meio rural. Ele identifica três tipos de capital social, entre os quais capital social de união, ponte e escada. Além dos autores citados, Durston (1999; 2000; 2006) traz grande contribuição ao subdividir o conceito de capital social em comunitário e individual. Para ele o capital social individual estaria presente nas relações sociais pautadas em confiança e reciprocidade manifestada em redes mais individualizadas, enquanto o comunitário se expressaria em instituições mais complexas pautadas na cooperação e gestão.

(23)

Nesta pesquisa buscou-se verificar os efeitos5 que o Programa de governo Banco Comunitário de Sementes de Adubos Verdes causou em determinadas localidades onde foi implantado no Rio de Janeiro no tocante ao fomento à participação dos diferentes atores sociais, em prol da independência na aquisição de sementes.

Considerando o exposto, o objeto de estudo desta pesquisa foi o programa de governo BCSAV, tendo como fundamentação teórica o papel dos bancos de sementes como tecnologia social capaz de promover capital social na forma de confiança, participação social, reciprocidade e cooperação entre diferentes atores sociais.

Neste contexto, esta pesquisa buscou responder ao seguinte questionamento: “As ações desenvolvidas pelo Programa do Banco Comunitário de Sementes de Adubos Verdes (BCSAV), entendido como tecnologia social, tem criado condições para a geração e o fortalecimento de capital social local? ”

Em outras palavras a hipótese deste trabalho foi que a implementação do Programa Banco Comunitário de Sementes de Adubos Verdes promoveu a participação e as condições para a geração e o fortalecimento de capital social local.

Nesse sentido, o objetivo geral da pesquisa foi verificar se o processo de implantação do Programa BCSAV no período de 2007 a 2014 contribuiu para a geração e fortalecimento de capital social nos locais onde foi implantado e independência dos agricultores de insumos externos, no caso sementes.

Os objetivos específicos foram:

1. Resgatar historicamente a concepção, elaboração e implantação do Programa

Banco Comunitário de Sementes de Adubos Verdes tanto para o âmbito nacional quanto no estado do Rio de Janeiro;

2. Verificar e analisar o papel dos diferentes atores envolvidos com a concepção, elaboração, implantação e acompanhamento do Programa Banco Comunitário de Sementes de Adubos Verdes no estado do Rio de Janeiro;

3. Identificar e caracterizar o perfil socioeconômico dos agricultores familiares envolvidos com os bancos comunitários de sementes de adubos verdes no estado do Rio de Janeiro;

4. Verificar os condicionantes que levam os agricultores familiares a adotarem a tecnologia social dos Bancos Comunitários de Sementes de Adubos Verdes; e

5 Entende-se por efeito todo comportamento ou acontecimento que pode razoavelmente dizer que sofreu

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5. Verificar em que os Bancos Comunitários contribuem para a formação do Capital Social em termos de promoção da confiança, reciprocidade e cooperação entre os pares e participação social.

Esta tese encontra-se estruturada em cinco capítulos incluindo este. O segundo capítulo discute a temática “Desenvolvimento Rural: passos para Sustentabilidade” traçando um panorama histórico da modernização agrícola frente ao surgimento da Agroecologia e da Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica. Também nesse capítulo é abordada a temática dos Bancos Comunitários de Sementes introduzindo-se a discussão do Programa Banco Comunitários de Sementes de Adubos Verdes. Neste ponto tratam-se os bancos comunitários de sementes como Tecnologia Social capaz de promover o desenvolvimento do Capital Social como uma construção do coletivo e para o coletivo e para o individual.

No terceiro capítulo é detalhada a concepção metodológica e o trajeto, o plano e as estratégicas de pesquisa, bem como as etapas executadas para o alcance dos objetivos propostos. Neste capítulo também são apresentados os procedimentos adotados para tratamento e análise dos dados e informações obtidas nas atividades de pesquisa em campo.

No quarto capítulo é apresentado o estado da arte do Programa Banco Comunitário de Sementes de Adubos Verdes, a partir de análise documental e pesquisas de campo realizado junto a gestores e formuladores do Programa. Serão apresentadas as características gerais dos atores sociais do Programa entrevistados na pesquisa: agricultores e técnicos multiplicadores bem como gestores dos bancos comunitários de sementes e formuladores do Programa. Também neste capitulo é desenvolvida a análise dos dados de campo a partir de três dimensões identificadas nos descritivos das entrevistas: histórico da idealização, formalização e implementação do Programa BCSAV no estado do Rio de Janeiro; empoderamento dos atores sociais do Programa BCSAV; e Capital Social presente e gerado pelo Programa BCSAV na perspectiva dos diferentes atores sociais.

O quinto capítulo aborda as considerações finais discutindo alguns dos principais aspectos dos resultados da pesquisa em termos da comprovação da hipótese de tese e do alcance dos objetivos geral e específicos, apresentando perspectivas de futuro para ações.

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2 DESENVOLVIMENTO RURAL: PASSOS PARA SUSTENTABILIDADE

Este capítulo tem a finalidade de embasar a discussão da potencialidade do Banco Comunitário de Sementes de Adubos Verdes, entendido como uma tecnologia social, ser capaz de promover a geração de capital social nas comunidades onde ele existe. Está dividido em tópicos, iniciando com um resgate histórico dos principais elementos que compõem a trajetória do desenvolvimento rural no Brasil desde o período da modernização agrícola nos anos 1950 e 1960 até a década de 2010 destacando-se os modelos de agricultores de bases ecológicas, incluso a agroecologia, culminando com o lançamento da Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Pnapo). Na sequência é trabalhado o conceito de banco comunitário de sementes dentro da perspectiva de análise de uma tecnologia social, seu modus operandi e a estruturação do Programa Banco Comunitário de Sementes de Adubos Verdes, enquanto uma proposta de solução à falta de sementes de adubos verdes para redução da dependência de insumos externos para os agricultores familiares. Finalizando, discute-se conceitualmente capital social em termos de promoção da confiança, reciprocidade, cooperação entre os pares e participação social dos agricultores familiares em suas comunidades.

2.1. Agroecologia rumo à Sustentabilidade

No final do século XIX, a forma de fazer agricultura foi transformada por descobertas científicas que abriram caminho para o uso de fertilizantes minerais (JESUS, 1985). A teoria dos húmus como fonte de fertilidade do solo foi substituída por uma agricultura pautada em leis físico-químicas, segundo as quais as plantas podiam nutrir-se com sais simples.

Ao final da Primeira Guerra Mundial o nitrato, produzido para a fabricação de pólvora, começou a ser usado como fonte de nitrogênio na agricultura, trazendo consigo os primeiros passos da modernização da agricultura em diversas áreas tanto em âmbito econômico quanto social e ambiental (NETO, 1997; PALMEIRA, 1989; PEIXOTO, 2009). O termo “modernização da agricultura” foi utilizado como referência as transformações técnicas ocorridas na agricultura neste período pós-guerra e pela dependência de importação dos meios de produção (GRAZIANO DA SILVA, 1996) pelos países periféricos.

A modernização agrícola trouxe um novo modelo de se fazer agricultura sendo difundido para vários países a partir de transformações tecnológicas. Trazia a bandeira do combate a fome representando, em tese, para os países periféricos a oportunidade de sanar a lacuna tecnológica que os separava dos países centrais. A modernização da agricultura seguiu,

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portanto, o modelo capitalista hegemônico que levou o produtor rural a tentar adaptar a natureza aos interesses mercadológicos tornando a agricultura subordinada à indústria (GRAZIANO NETO, 1985; TEIXEIRA, 2005).

O processo de modernização da agricultura no Brasil expandiu nos anos 1950 com as importações dos meios de produção e a implantação de um setor industrial que se estabeleceu no final dos anos 1960. Agra e Santos (2000) pontuam que a dinâmica produzida para modernizar a agricultura teve um caráter imediatista, marcado pelo aumento da produtividade no curto-prazo, pela minimização dos riscos e maximização do controle do homem sobre a natureza, além de ser orientado para os grandes proprietários de terra. Assim sendo o delineamento da agricultura moderna nos anos 1960, caracterizou-se pelo fortalecimento dos vínculos entre forma e tipo de produção agropecuária e os setores industriais, bem como pela forte presença do Estado na criação e utilização de instrumentos de política econômica tais como o crédito rural e incentivos fiscais (KAGEYAMA, 1985).

Aliado à alteração da base técnica, o final dos anos 1960 é considerado um marco da industrialização da agricultura (GRAZIANO DA SILVA, 1987). Representou grande aumento da produção de bens de consumo duráveis, implementos, sementes e agroquímicos entre outros. Para Wanderley

O final dos anos 60 é um período extremamente rico para a produção do conhecimento sobre o mundo rural brasileiro. É nesse momento que se consolida no país um novo paradigma que, superando alguns dos temas presentes, se constitui como um patamar a partir do qual novas questões podem ser formuladas e pesquisadas. (WANDERLEY, 2011, p. 23)

Graziano da Silva (1996) dividiu a modernização da agricultura no Brasil em três grandes fases: a) transformação da base técnica, induzida e estimulada pelo governo e empresas norte-americanas; b) industrialização da produção rural com a implantação de indústrias de bens de produção e de alimentos e c) integração entre a agricultura e a indústria, que desencadeou um modelo produtivo baseado nos princípios da Revolução Verde e na constituição dos complexos agroindustriais.

Destacam-se a partir dessa década, instituições públicas, como, por exemplo, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) criada em 1971, que incorporaram em suas pesquisas o melhoramento genético de grãos, estando este fato diretamente relacionado aos grandes produtores de sementes (MACHADO, 1998).

A partir deste momento foram dadas condições para a adoção em larga escala de mecanização agrícola, uso de sementes híbridas, uso de adubos e fertilizantes químicos entre

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outros. Foi a partir deste período que o Estado brasileiro intensificou a entrada no país de multinacionais voltadas para o segmento agropecuário e atrelou este setor ao desenvolvimento econômico. Na busca pela maximização da produção e do lucro desenvolveu-se um rol de práticas agrícolas e pecuárias sem considerar a dinâmica ecológica dos agroecossistemas (GLIESSMAN, 2009). Ressalta-se que muito pouco se conseguiu alcançar em termos sociais.

A necessidade pela produção de mais alimentos, demandada na década de 1970 pelo êxodo rural, pressão demográfica e urbanização, impulsionou a abertura de novas fronteiras agrícolas criando um modelo de exploração de terra baseado na excessiva especialização dos sistemas produtivos. Isto praticamente acarretou a eliminação das atividades de produção para autoconsumo, que aliada ao processo de industrialização da agricultura e à busca de novas matrizes energéticas levou à degradação de diversos recursos naturais.

[...] nosso sistema de produção global de alimentos está no processo de minar a própria fundação sobre a qual foi constituído. As técnicas, inovações, práticas e políticas que permitiram aumentos na produtividade também minaram a sua base. Eles retiraram excessivamente e degradaram os recursos naturais dos quais a agricultura depende [...] (Gliessman, 2009, p.35)

Segundo Gliessman (2009, p. 36) a espinha dorsal da moderna agricultura brasileira foi constituída por seis práticas básicas: cultivo intensivo do solo, monocultura, irrigação, aplicação de fertilizantes inorgânicos, controle químico de pragas e manipulação genética de plantas cultivadas. Segundo o autor, estas práticas formavam um sistema no qual há dependência uma das outras e o reforço da necessidade de usá-las.

Graziano da Silva (1996) caracterizou o período entre 1965 a 1979 como de modernização conservadora6, a qual se deu a partir de uma inserção da modernização técnica no campo. Nesta fase o governo induziu a modernização via crédito subsidiado e à internalização do pacote tecnológico da Revolução Verde, associando a indústria ao setor agrícola. É durante este período que a pesquisa e o desenvolvimento dos sistemas de produção

6 O processo de modernização da agricultura exigiu uma reorganização da agricultura a partir da

intervenção do Estado e com o apoio da oligarquia rural, fazendo surgir uma nova dinamização da produção agrícola e a renovação das estruturas de dominação, caracterizada por uma maior concentração, centralização, desigualdade e exclusão no campo, marcando o período chamado de “Modernização Conservadora”, ou seja, uma modernização sem mudanças estruturais. Este modelo desenvolvimentista manteve as características do modelo evolutivo da estrutura agrária do Brasil deste a sua colonização: a intensificação da produção para atendimento às demandas do consumo externo, a opção pela monocultura, o apoio político e econômico aos grandes proprietários de terras (incentivo à estrutura latifundiária) e a subordinação dos agricultores de pequena produção às grandes propriedades [...]. (SILVA, 2007).

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são orientados para a incorporação de pacotes tecnológicos na agricultura destinados a aumentar a produtividade agrícola (ASSIS, 2006). Como consequência destas medidas houve um aumento expressivo no uso de tecnologias como colheitadeiras, tratores e fertilizantes que, somado à presença da assistência técnica e das pesquisas agropecuárias promoveram a alteração na base de produção no campo. Estas alterações ampliaram a produtividade agrícola e promoveram o surgimento dos complexos agroindustriais viabilizando o que hoje denominamos de agronegócio brasileiro. Aliado ao uso de insumos agrícolas e à política de créditos vigentes a introdução de sementes híbridas trouxe redução do uso das sementes tradicionais, causando erosão genética e levando os agricultores à necessidade de adquirirem todos os anos sementes para fazerem suas lavouras (CORDEIRO e FARIAS, 1993). Em especial na década de 1970 o desenvolvimento agropecuário propulsionado por políticas de créditos facilitados destinados aos grandes produtores e pelo avanço no processo de desenvolvimento econômico urbano-industrial ganha destaque no cenário nacional, passando a responder aos anseios de parte da sociedade brasileira dominante na época.

A partir da década de 1970, começaram a surgir sérios problemas decorrentes da adoção de práticas agrícolas relacionadas à Revolução Verde entre os quais a promoção da uniformidade genética e o desenvolvimento de materiais genéticos altamente dependentes de insumos industriais ou insumos químicos (MACHADO et al., 2008). A agricultura convencional, até então pautada na maximização da produção e do lucro, sofreu um grande processo de transformação, já que a preocupação com o desenvolvimento de sistemas de produção sustentáveis, visando à redução ou a não utilização de insumos químicos e agrotóxicos ganhou espaço no cenário mundial. Em âmbito mundial surgem significativas manifestações na temática da sustentabilidade movida por grandes eventos internacionais.

[...] as problemáticas causadas pelo modelo de modernização agrícola, como o aumento da dependência tecnológica, o elevado nível de degradação ambiental, a ampliação da pobreza e da dependência financeira do agricultor e a generalização do desemprego rural, levaram à sua própria rejeição por parte dos produtores agrícolas de pequeno porte, tendo na discussão acerca das alternativas capazes de favorecer a retomada da valorização da produção agrícola familiar tradicional o direcionamento para um novo processo eficiente de produtividade sustentável e solidário (SOUZA, 2011, p.235)

Surgem a partir da década de 1970, no Brasil e no mundo movimentos de agricultura alternativa à convencional que se contrapunham ao uso abusivo de insumos agrícolas, à deterioração da base produtiva e à dissipação do conhecimento tradicional (ASSIS, 2006). Segundo este autor (p.77), esses movimentos preconizavam “[...] o rompimento com a

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monocultura e o redesenho dos sistemas de produção de forma a minimizar a necessidade de insumos à propriedade”.

A busca por uma agricultura mais sustentável evidenciou-se na década de 1980 quando uma crise generalizada nos países de capitalismo periférico, reforçada por diferentes crises sociais (via concentração de renda, de riquezas e da terra, êxodo rural e violência em todos os sentidos), crise ambiental (degradação e escassez dos “recursos naturais”, contaminação dos alimentos entre outros) e crise econômica (diminuição dos níveis médios de renda e da atratividade dos produtos incentivados pela Revolução Verde) (ALTIERI, 2005, pag.10). Agricultores buscaram redesenhar os sistemas produtivos minimizando o uso de insumos externos e diversificando a produção, dentro de um conceito de sustentabilidade entendido como a manutenção da capacidade de manutenção da produção de biomassa de um sistema (GLIESSMAN, 2009, p.54). Neste contexto a agroecologia surge como uma possibilidade de manejo sustentável dos recursos naturais por meio de formas de ação coletiva (GUZMAN, 2001).

No estado do Rio de Janeiro a estrutura fundiária sofreu a influência do processo de imigração a partir da colonização europeia resultando em um aumento significativo da pequena propriedade rural, favorecendo o estabelecimento de lavouras destinadas ao mercado interno (ALENTEJANO, 1997). Segundo Oliveira (2006, p.6) a agricultura fluminense ‘[...] caracteriza-se por baixos índices de produtividade, o que acaba por dar a imagem de estado onde a agricultura é praticamente inexistente, já que não encontramos grandes áreas contínuas cultivadas.” Diante deste cenário, destaca-se a produção de olerícolas, cuja agricultura baseada nas pequenas e médias propriedades apresentam uma estrutura mais moderna e intensiva com elevada capacidade de geração de valor.

A produção de hortaliças, de base familiar, é a exploração agrícola que concentra o maior contingente humano nas áreas rurais fluminenses, principalmente nas regiões Serrana, do Médio Paraíba e das Baixadas Litorâneas. As áreas de cultivo são, predominantemente, situadas em pequenos estabelecimentos com nível, via de regra, avançado de utilização de tecnologias industrializadas, normalmente fertilizantes sintéticos concentrados e agrotóxicos.

2.1.1. Agroecologia como movimento de agricultura alternativa à convencional

La agroecología surge a partir de la década de 1970 como respuesta teórica, metodológica y práctica a la crisis ecológica y social que la modernización e

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industrialización alimentaria generan en las zonas rurales (GUZMÁN e MONTIEL, 2009, p.35)

Agroecologia pode ser definida como o manejo sustentável dos recursos naturais por meio de formas de ação coletiva (GUZMÁN, 2001), visando o desenvolvimento rural em uma perspectiva multidimensional. Como ciência a agroecologia busca o entendimento do funcionamento de agroecossistemas7 complexos e as diferentes interações que lá ocorrem tendo como objetivo a conservação e a ampliação da biodiversidade dos sistemas agrícolas.

Há varias autores que trabalham diferentes visões da agroecologia (ALTIERI, 2005; GLIESSMAN, 2009; GUZMÁN, 2001; CAPORAL e COSTABEBER, 2000; CAPORAL e COSTABEBER, 2002a; CAPORAL e COSTABEBER, 2004a; CAPORAL e COSTABEBER, 2004b) considerando o aspecto multidisciplinar desta ciência.

Para Altieri a agroecologia é a ciência que traz consigo bases fitotécnicas que permitem o processo de transição da agricultura convencional para uma mais sustentável, através da preservação e ampliação da biodiversidade dos agroecossistemas.

A produção sustentável em um agroecossistema deriva do equilíbrio entre plantas, solos, nutrientes, luz solar, umidade e outros organismos coexistentes. O agroecossistema é produtivo e saudável quando essas condições de crescimento ricas e equilibradas prevalecem, e quando as plantas permanecem resilientes de modo a tolerar estresses e adversidades. [...]. Ocasionalmente, os agricultores que empregam métodos alternativos podem ter de aplicar medidas mais drásticas (isto é, inseticidas botânicos, fertilizantes alternativos) para controlar pragas específicas ou deficiências do solo. A agroecologia engloba orientações de como fazer isso, cuidadosamente, sem provocar danos desnecessários ou irreparáveis. Além da luta contra as pragas, doenças ou problemas do solo, o agroecologista procura restaurar a resiliência e a força do agroecossistema. (ALTIERI, 2005, p.24)

Considerando o exposto, Altieri (2005) apresenta como princípios preconizados pela agroecologia:

a) Diversidade e continuidade espacial e temporal onde cultivos mistos garantem constante produção de alimentos e a cobertura vegetal para proteção do solo, assegurando uma oferta regular e variada;

7Agroecossistema é um local de produção agrícola compreendido como um ecossistema. O conceito de

agroecossistema proporciona uma estrutura com a qual pode-se analisar os sistemas de produção de alimentos como um todo, incluindo seus conjuntos complexos de insumos e produção e as interconexões entre as partes que os compõem (GLIESSMAN, 2009)

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b) Otimização do uso de espaço e recursos, onde a combinação de plantas com diferentes hábitos de crescimento possibilita o melhor uso dos recursos ambientais, como nutrientes, água e radiação solar;

c) Conservação da água, aliando práticas adequadas a áreas de baixa pluviosidade e plantas tolerantes à seca;

d) Controle de sucessão e proteção de cultivos através de práticas e estratégicas agronômicas para enfrentar a competição com organismos indesejáveis;

e) Reciclagem de nutrientes assegurando a fertilidade do solo através da manutenção dos ciclos de nutrientes, energia, água e resíduos através do uso de consórcios e ou rotação de cultivos. Para Vogt et al. (2012) este princípio preconizado por Altieri (2005) traz a adubação verde como uma das práticas mais adequada. Nesta ótica e também se considerando o ponto de vista ambiental, a adubação verde é uma das práticas mais adequadas.

Ao buscar a restauração do equilíbrio ecológico, a agroecologia busca também pautar suas ações na diversidade cultural que nutre as agriculturas locais (ALTIERI, 2005). Enquanto ciência “contempla uma articulação entre o saber científico e o saber tradicional e popular, na construção de um corpo de conhecimentos capaz de orientar a conversão dos sistemas convencionais de produção [...] que torne possível o uso correto dos recursos naturais para a obtenção de alimentos” (UDRY e ARAÚJO, 2012, p. 135).

Guzmán (2001) em seus estudos traz para a agroecologia a dimensão social, afirmando que as variáveis sociais desempenham também um papel muito importante no entendimento de como a política e a economia geram impactos no agricultor. Desse modo a agricultura tradicional pode fornecer informações fundamentais para o desenvolvimento de estratégias agrícolas apropriadas e adaptadas a diferentes grupos de agricultores e agroecossistemas. Assim sendo a agroecologia busca trabalhar em sua dinâmica a auto-regulação e sustentabilidade dos agroecossistemas aliando questões socioeconômicas e “[...] resgatando o fato de que a agricultura, além de ser um processo ecológico, é um processo social” (ASSIS, 2006, p.77).

O desenho de agroecossistemas sob o viés da sustentabilidade exige da agroecologia a mudança cultural, pois se trata de estabelecer novas relações sociais e com a natureza, de inserir novos componentes na dimensão econômica de tomada de decisão, de redesenhar formas estabelecidas de produzir, processar e comercializar. Mudanças estas que demandam tempo e impõem riscos que não podem ser assumidos isoladamente por uma agricultura familiar desvalorizada e descapitalizada. Deste modo, para que essa incorporação

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no modus operandi do agricultor familiar agroecológico seja exitosa faz-se necessário outra forma de diálogo e socialização de conhecimentos, intercâmbio de práticas e tecnologias apropriadas, em um processo de transição.

A transição agroecológica objetivará a passagem de um modelo agroquímico de produção em um processo de evolução contínua e crescente no tempo, porém sem ter um momento final determinado (CAPORAL e COSTABABER, 2004b, p.12). Trata-se de um processo de enorme complexidade, tanto tecnológica como metodológica e organizacional, dependendo dos objetivos e das metas que se estabeleçam, assim como do “nível” de sustentabilidade que se deseja alcançar (CAPORAL e COSTABABER, 2004b).

Gliessman (2009) apresenta três níveis fundamentais no processo de transição ou conversão para agroecossistemas sustentáveis:

a) Primeiro nível de transição: refere-se ao incremento da eficiência das práticas convencionais para reduzir o uso e consumo de insumos externos caros, escassos e daninhos ao meio ambiente.

b) Segundo nível da transição: refere-se à substituição de insumos e práticas convencionais por práticas alternativas.

c) Terceiro nível da transição: refere-se ao redesenho dos agroecossistemas, para que estes funcionem com base em novos conjuntos de processos ecológicos. A agroecologia tem se configurado como possibilidade de fortalecimento do desenvolvimento rural sustentável, mostrando-se como alternativa viável e importante para o processo de fortalecimento da identidade camponesa e de suas condições de produção, contribuindo sobremaneira para garantir a segurança alimentar e a estabilidade dos ecossistemas. Entretanto, a transição agroecológica está sujeita a intervenção humana e a dinâmica social local, o que faz com que aliado a busca da racionalização econômico-produtiva do agroecossistema, tenha-se mudança nas atitudes e valores dos atores sociais em relação ao manejo e conservação dos recursos naturais (CAPORAL e COSTABABER, 2004b).

2.1.2. Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável

Conforme apresentado anteriormente o modelo pautado na agricultura convencional é insustentável no tempo, dada sua grande dependência de recursos não renováveis e limitados (CAPORAL e COSTABABER., 2004a).

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Desenvolvimento rural sustentável seria aquele que traria um modo de agricultura que atendesse a demanda produtiva, mediante o uso de tecnologias ecologicamente adequadas. Neste contexto, o objetivo da agricultura sustentável é “a manutenção da produtividade agrícola com o mínimo possível de impactos ambientais e com retornos econômico-financeiros adequados à meta de redução da pobreza, assim atendendo às necessidades sociais das populações rurais” (ALTIERI, 2005, p.12)

Para Gliessman (2009, p.55) uma agricultura sustentável

[...] teria efeitos negativos mínimos no meio ambiente e não liberaria substancias toxicas ou nocivas [...]; - preservaria e recomporia a fertilidade, preveniria a erosão e manteria a saúde ecológica do solo; - usaria a água de maneira que permitisse a recarga dos depósitos aquíferos e satisfizesse as necessidades hídricas do ambiente e das pessoas; - dependeria [...] dos recursos de dentro do agroecossistema ao substituir insumos externos por ciclagem de nutrientes [...]; - trabalharia para valorizar e conservar a diversidade biológica, [...] e garantiria igualdade de acesso a práticas, conhecimento e tecnologias agrícolas adequados e possibilitaria o controle local dos recursos agrícolas.

Às ideias apresentadas acima se somam às de Sevilla Guzmán que apresenta a definição agroecológica de sustentabilidade relacionando a um manejo dos recursos naturais que seja, ao mesmo tempo, ecologicamente sadio, economicamente viável, socialmente justo, culturalmente adaptável e socioculturalmente humanizado (CAPORAL e COSTABABER, 2004b)

Assim sendo, a configuração de um desenvolvimento rural sustentável aponta para a necessidade de se criar mecanismos e instrumentos que sejam capazes de dar respostas aos problemas colocados, em sintonia com o contexto social, econômico e agroecológico adequados às diferentes categorias e atores sociais. Qual seria então o enfoque de uma política voltada para o desenvolvimento sustentável? Quais seriam as práticas agrícolas a serem consideradas?

Durante anos, em muitos países, o desenvolvimento rural esteve associado às ações do Estado e dos organismos internacionais nas regiões rurais pobres que não conseguiam se integrar ao processo de modernização agrícola (NAVARRO, 2001).

A configuração de um desenvolvimento sustentável aponta para a necessidade de se criar políticas, mecanismos e instrumentos que sejam capazes de dar respostas aos problemas colocados, em sintonia com o contexto social, econômico e agroecológico adequados aos diferentes atores sociais presentes no rural. O grande desafio para uma agricultura sustentável passa pela emancipação da sociedade na qual os processos de conscientização coletiva e individual deverão ser participativos e peculiares de cada contexto a ser vivido. Para tal

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“é crucial que os cientistas envolvidos na busca por tecnologias agrícolas sustentáveis se preocupem com quem, finalmente, se beneficiará com elas. Isso exige que eles reconheçam a importância do fator político quando as questões científicas básicas são colocadas em discussão, e não somente quando as tecnologias são distribuídas à sociedade. Assim, o que é produzido, como é produzido e para quem é produzido são questões-chave que precisam ser levantadas, caso se queira fazer surgir uma agricultura socialmente justa” (ALTIERI, 2005, p. 111).

A busca pelo desenvolvimento sustentável rural pressupõe uma política articuladora dos valores da sociedade na construção de relações sociais, econômicas, culturais, ambientais e tecnológicas de modo equilibrado e igualitário. Como prática política, todo o processo deverá ter como característica marcante a proposição de construir uma organização coletiva na busca de soluções para os problemas comuns pautados no resgate de sua própria história de inserção política.

São muitos desafios e lacunas a serem preenchidos, contudo, a mudança de um paradigma quanto ao modelo de desenvolvimento de agricultura mais pertinente à agricultura familiar só será possível mediante reflexões científicas, tecnologias próprias para essa realidade, verificações empíricas e ações mediadas pelo Estado junto com a Sociedade Civil organizada. Serão necessárias políticas públicas que dialoguem com esta realidade e, sobretudo, condições para a viabilização destas junto ao seu público de interesse, no caso os agricultores familiares.

Deste modo “[...] uma estratégia de desenvolvimento agrícola sustentável, que realce o meio ambiente, deve ser baseada em princípios agroecológicos e numa abordagem mais participativa em relação ao desenvolvimento [...]” (WEID e ALTIERI, 2002, p. 234).

2.2. Agroecologia e Políticas Públicas para sua Implantação

Para Souza (2006) não existe uma única, nem melhor, definição sobre o que seja política pública. Para a autora Política Pública pode ser vista como “o campo do conhecimento que busca [...] colocar o governo em ação [...] e propor mudanças no rumo ou curso dessas ações [...]” (SOUZA, 2006, p.26)

A formulação de políticas públicas constitui-se no estágio em que os governos democráticos traduzem seus propósitos [...] e ações que produzirão resultados ou mudanças no mundo real. (SOUZA, 2006, p.26)

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Governar por políticas pressupõe o exercício da democracia, isto é, trazer para a ação do Estado a participação e a corresponsabilidade dos diferentes atores sociais, através de diferentes programas de governo8.

O termo participação desafia qualquer tentativa de definição ou de interpretação (OAKLEY et al.,1991, pag.6). Pode ser definida como o envolvimento voluntário das pessoas em programas públicos de desenvolvimento nacional. Ela pode também ser a participação das pessoas na implementação de programas visando o desenvolvimento rural. Participação comunitária também pode ser definida como um processo ativo através do qual, grupos de beneficiários influenciam a direção e a execução de um projeto de desenvolvimento (OAKLEY

et al.,1991, pag.6).

A participação é o caminho natural para o homem exprimir sua tendência inata de realizar, fazer coisas, afirmar-se a si mesmo e dominar a natureza e o mundo [...] envolve a satisfação de outras necessidades não menos básicas, tais como a interação com os demais homens, a auto expressão, o desenvolvimento do pensamento reflexivo, o prazer de criar e recriar coisas e [...] valorização de si mesmo pelos outros”. (BORDENAVE, 1983, p.16)

Participação não e apenas um instrumento para a solução de problemas, mas uma necessidade do ser humano, uma habilidade a ser aprendida (BORDENAVE, 1983). É um processo sempre inacabado, e, portanto, dinâmico, de autopromoção, emancipação e conquista de poder (DEMO, 1998).

Sorrentino e Tassara (1999) mencionam três pressupostos da participação nos quais são dimensões fundamentais e complementares:

a) Participação como instrumento pedagógico, no sentido de possibilitar o envolvimento de cada pessoa com o projeto coletivo que estiver em pauta, e de fomentar os sentimentos de pertencimento e importância de si para o todo, para os outros, para o ambiente, e pertencimento e importância do outro e do ambiente para a realização de cada um como pessoa;

b) Participação como estratégia de planejamento, no sentido de incluir os conhecimentos e contribuições de cada um e propiciar a divisão de tarefas e as avaliações entre todos; e

c) Participação como filosofia, como ética, tendo como foco primordial o bem-estar e felicidade de todos e de cada um, e onde se respeitem e valorizem os direitos da minoria, pois

8 Disponível em <http://www.portaldatransparencia.gov.br/glossario/DetalheGlossario.asp?letra=p>.

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na manutenção da diversidade e na sua permanente possibilidade de expressão reside o nosso maior segredo de viabilidade enquanto espécie e enquanto vida neste planeta.

Para que uma participação seja efetivada é preciso o uso de ferramentas tais como conhecimento da realidade, organização e comunicação. Destaca-se que sem comunicação não existe participação, e a tomada de decisões requer pelo menos dois processos, o da informação e do diálogo (BORDENAVE, 1983).

Para os estudos rurais é importante diferenciar participação como meio e como fim. Participação como meio implica no uso da participação para alcançar algumas metas ou objetivos. Em outras palavras, participação é um caminho de aproveitamento da existência dos recursos físicos, econômicos e sociais dos agricultores em ordem para alcançar os objetivos dos programas e projetos de desenvolvimento. Participação como fim é uma forma ativa e dinâmica de participação que permite que agricultores e agentes rurais aumentem sua ação nas atividades de desenvolvimento (OAKLEY,1991).

Bordenave (1983) afirma que a participação facilita o crescimento da consciência crítica da população fortalecendo seu poder de reinvindicação através do empoderamento desta na sociedade. Desse modo por meio da participação, problemas de um grupo ou comunidade podem ser resolvidos. Ao falar de participação nas políticas sociais, nos trabalhos com comunidades, Demo (1998) elenca alguns pontos que poderiam ser chamados de objetivos da participação, são eles: autopromoção, realização da cidadania, implementação de regras democráticas de jogo, controle do poder, controle da burocracia, negociação e cultura democrática.

Políticas públicas formuladas em conexão com os anseios de comunidades locais, em comum acordo com elas e com a responsabilidade distribuída de maneira justa – em proporção ao acesso à informação e ao poder de cada indivíduo e instituição - devem apresentar melhores resultados do que aquelas formuladas e implantadas unilateralmente. Assim sendo desenvolvimento sustentável envolve a participação nas atividades políticas.

Quando se pensa em desenvolvimento deve-se considerar que além de uma necessidade econômica envolvida há a necessidade de participação política visto que estratégias altamente centralizadas têm fracassado na mobilização de recursos econômicos e no desenvolvimento local. Assim sendo, para Bordenave (1983) “... a participação popular e a descentralização das decisões mostram-se como caminhos mais adequados para enfrentar os problemas graves e complexos dos países em desenvolvimento” (BORDENAVE, 1983, p.15)

A participação na construção de políticas públicas e programas de governo envolve atividades organizadas de grupos com o objetivo de expressar necessidades e demandas,

Referências

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