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4 O PROGRAMA BANCO COMUNITÁRIO DE SEMENTES DE ADUBOS VERDES NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

4.2 A implantação do BCSAV no Estado do Rio de Janeiro

4.2.1 Bancos Comunitários vinculados ao Programa BCSAV no estado do Rio de Janeiro

4.2.1.1. Associação Comunitária dos Produtores Orgânicos de Purilândia

Este Banco Comunitário, localizado na região noroeste do estado do Rio de Janeiro, iniciou suas atividades a partir do movimento agroecológico em Porciúncula, principalmente na região do 2° Distrito de Purilândia.

Porciúncula é uma cidade com área de 291.054 km² de unidade territorial e onde, em 2016, os estabelecimentos agropecuários totalizavam 20.635 ha: destes 18.038 ha são terras de proprietários. As lavouras somavam 1.096 ha de área plantada com forrageiras para corte (destinadas ao corte e uso na alimentação de animais), 3.497ha com plantações permanente e 706 ha com lavouras temporárias. Havia 1.320 estabelecimentos agropecuários, sendo 1.032 de lavouras permanentes e 130 de lavouras temporárias. Destacavam-se o café, como a lavoura permanente mais expressiva, totalizando 973 estabelecimentos com mais de 50 pés existente. A lavoura temporária de maior expressão é a de milho em grão com 132 estabelecimentos agropecuários.42

Naquela região havia em 2007 um grupo de agricultores em transição agroecológica que já faziam uso de adubação verde e estavam tendo muita dificuldade em conseguir sementes. Este grupo, inicialmente composto de 8 produtores envolvidos com o banco, entre gestores e agricultores, se reunia mensalmente na Associação Comunitária dos Produtores Orgânicos de Purilândia, a qual era vinculado à Associação de Desenvolvimento Comunitário em Purilândia – Aspur. Foi a partir destes encontros e como o incentivo do Programa Banco Comunitário de Sementes de Adubos Verdes, que fornecida sementes e orientações de produção e armazenamento que foi possível a formação do banco comunitário de adubos verdes.

Por cerca de cinco anos o banco foi mantido graças ao empenho pessoal do seu atual guardião que na época atuava como facilitador, multiplicador, e respondia pelo banco. O funcionamento do banco consistia em empréstimo de sementes seguida de devolução em dobro das espécies emprestadas. O controle do estoque de sementes do banco era feito pelo gestor e pela secretaria da Aspur, sendo que para o registro dos empréstimos se utilizava o modelo de cadastro de agricultores proposto pelo Mapa. Todos podiam tirar sementes, mas não se motivavam, sendo que para o gestor do banco isto poderia estar atrelado à pouca divulgação do Programa e do benefício da adubação verde.

As variedades para serem mantidas no banco foram escolhidas por conta de sua multifuncionalidade, isto é, servirem como adubos verdes e forrageiros além de fazerem parte da alimentação e da cultura local. As espécies em questão que melhor se adaptaram na região foram Crotalaria juncea, Crotalaria spectabilis, guandu, feijão de porco, mucuna cinza e preta, stilosantis mineirão e galáxia.

42 IBGE, Censo agropecuário 2006. Para maiores detalhes consulte

http://www.cidades.ibge.gov.br/v3/cidades/municipio/3304102/pesquisa/24/2006, acesso em 06/02/2017

Na época da pesquisa (2015), o banco comunitário não estava atrelado a Aspur e segundo J.S.M.V., “[...] não tem mais aquela expressividade, sendo que ainda existem 3 bancos familiares onde esporadicamente acontece alguma troca de sementes entre eles” (J.S.M.V., consultor técnico, 08/04/2015, Seropédica, RJ).

Em 2015, com a implantação do projeto Pais43 (Produção Agroecológica Integrada e Sustentável) e apoio dos técnicos da Emater-Rio que executam o Rio Rural44 na região de Porciúncula, o banco comunitário começou a ser reconstituído. Ele foi vinculado a Aproenf (Associação dos Produtores Orgânicos do Extremo Noroeste Fluminense) que engloba 4 municípios: Natividade, Porciúncula, Varre Sai e Bom Jesus. A dinâmica deste banco difere daquele inicialmente formado, sendo que as reuniões ocorrem bimestralmente. Não havia critérios para participação no Banco de Sementes Comunitário, bastando o agricultor estar motivado e ter interesse na utilização da semente. Entretanto, só participavam aqueles que estivessem em processo de transição agroecológica ou que já sejam certificados na produção orgânica.

Uma das principais dificuldades deste Banco Comunitário é não ter local adequado para armazenagem. Em geral as sementes são armazenadas na casa do guardião. O apoio financeiro dado pelo programa Rio Rural tem sido importante porque tem possibilitado a compra de equipamentos tais como geladeiras para uma melhor conservação das sementes. Segundo o gestor do banco o armazenamento coletivo é importante “[...] por que em geral o agricultor tem poucas condições, você armazena lá por que não tem recursos. Então houve uma maior motivação para isso” (J.S.M.V., consultor técnico, 08/04/2015, Seropédica, RJ).

Outro importante gargalo para os sistemas de produção agroecológico/orgânico é a disponibilidade de sementes. Na região de Purilândia uma possiblidade de incentivo para a

43 O projeto Pais é uma tecnologia social que representa uma nova alternativa de trabalho e renda para

a agricultura familiar. Pode ser usado por todos os produtores rurais que queiram melhorar a qualidade de produção, visando possibilitar o cultivo de diversas hortaliças, frutas, cereais e plantas medicinais e fitoterápicas mais saudáveis para o consumo das famílias e para comercialização. Seu objetivo é estimular a formação de núcleos produtivos para promover interações e troca de experiências. (SEBRAE, 2017). Disponível em

http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/ufs/ms/sebraeaz/projeto-pais-producao-agroecologica- integrada-e-sustentavel,6cb5f2cd2f3a9410VgnVCM2000003c74010aRCRD , acesso em 17/01/2017.

44 O Programa Rio Rural tem como desafio a melhoria da qualidade de vida no campo, conciliando o

aumento da renda do produtor rural com a conservação e o uso sustentável dos recursos naturais. Para atingir este objetivo, desenvolve uma estratégia de ação com as comunidades que vivem nas microbacias hidrográficas, espaços geográficos delimitados pela rede hídrica (nascentes, córregos, rios, aquíferos etc.). O programa incentiva a adoção de sistemas produtivos sustentáveis, com técnicas mais eficientes e ambientalmente adequadas. Até 2018, serão investidos US$ 233 milhões em ações de desenvolvimento, beneficiando 48 mil agricultores familiares residentes em 366 microbacias de 72 municípios. Disponível em http://www.microbacias.rj.gov.br/pt/rio-rural, acesso em 17/01/2017.

formação de bancos comunitários está no acesso dos agricultores familiares a sementes que o mercado não disponibiliza e na possibilidade de redução de despesas na aquisição deste insumo.

Não há sementes no mercado. Os bancos são a solução até que se passe a comercializar. É menos uma despesa. O que falta é o agricultor ver uma vantagem muito concreta para o agricultor ver sua importância. (J.S.M.V., multiplicador, 08/04/2015, Seropédica, RJ).

Em 2015, por ocasião da entrevista com o guardião, o banco estruturado por incentivo do projeto Pais e Rio Rural não tinha definidas as regras para empréstimos de sementes. A devolução das sementes emprestadas era definida pelo próprio agricultor que fazia o empréstimo e sem regularidade e obrigatoriedade de devolução de quantidade.

Para J.S.M.V., ‘[...] o banco atual não funciona como anteriormente, mas está ressurgindo com esta nova ideia, este novo impulso dado pelo PAIS e pelo Rio Rural. ” Segundo ele, as expectativas deste banco “[...] daqui pra frente são boas. Antes tinha 8 hoje temos 58 produtores e vai ter mais. Alguns vão sair e estão bem organizados. Em 5 anos as pessoas foram peneiradas e mantiveram dentro do programa porque tem perfil para aquilo” (J.S.M.V., consultor técnico, 08/04/2015, Seropédica, RJ).

A expectativa para o Banco é muito boa [...]. A expectativa nossa é que eles se desenvolvam, busquem parcerias, trabalhando diretamente em práticas que o Rio Rural apoia dentro da cadeia do orgânico. (J.S.M.V., consultor técnico, 08/04/2015, Seropédica).