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Economia solidária e organização social art asmendonça

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Econom ia Solidária e Organização Social

Solidarit y Econom y and Social Organizat ion

Econom ía Social y Organización Social

Econom ie Solidaire et organisat ion sociale

Aldo Silv a de Mendonça*

Resenha do liv r o Exper iências em Econom ia Solidár ia, de Alícia

Gonçalv es.Cam pinas: Edit or a Ar t e Escr it a, 2009.

O liv r o da ant r opóloga Alícia Gonçalv es, pr ofessor a do depar t am ent o de Ciências So-ciais do CCHLA da Univ er sidade Feder al da Par aíba - UFPB, int it ulado: Ex per iências em

Econom ia Solidária represent a um avanço no

at ual cam po ant r opológico que v em se de-senv olv endo no Br asil. A ant r opologia que enfocav a aspect os consider ados t ípicos de sua ár ea de conhecim ent o, t ais com o: indí-gena, r acial, m igr at ór io, pr ocesso de fr icção in t er ét n ica, e t an t os ou t r os em t or n o da et n icidade; t r an sit an do pelos est u dos de com unidades e chegando às gr andes m et r ó-poles, por m eio da ant ropologia urbana, com suas m anchas e pedaços; passando ainda pela per t inent e pr odução de gêner o. Todas essas cat egorias foram respost as às nuanças ligadas ao pr ocesso de m assificação cult ur al que colocou em r isco o pr incípio t eór ico-m et odológico da Ant r opologia, a alt er idade, pr incipalm ent e a alt er idade r adical, fundada no dist anciam ent o cult ur al e geogr áfico, que se const it uía com o pr em issa m aior da pr o-dução cient ífica ant r opológica. Ent r et ant o, Lév i- St r auss no alt o gr au de sua sapiência r espondia sobr e a pr oblem át ica do r isco de ex t inção das cat egor ias at é ent ão pesquisa-das pelos ant r opólogos, subm et ipesquisa-das ao pr o-cesso d e ocid en t alização, q u e en q u an t o ex ist ir em det er m inadas for m as de com por -t am en-t o cole-t ivo que incom odem ou-t ros gru-pos sociais, ex ist ir á cam po de est udo ant r o-pológico.

Nesse cont ex t o, a pr ofessor a Alícia en-v er eda no cam po dos significados das at ien-v i-dades da Econom ia Solidár ia, descr ev endo pr át icas, m aneir as de ser e sent ir de gr upos or ganizados em cooper at iv as e associações. Ut ilizou com o r ecur so m et odológico ao de-senv olv er sua pesquisa o cir cuit o t r inôm ine que im plica em ident ificar os at or es sociais, o cenár io onde se desenr olam suas t r am as e as r egr as que cir cundam o univ er so pesqui-sado, segundo Magnani. A cont r ibuição de sua pesquisa r eside no fat o de lançar um olhar ant r opológico num univ er so pouco es-t udado, especialm enes-t e no Nor deses-t e br asi-leir o, pela cham ada ant r opologia econôm ica ou et nografia do capit alism o cont em porâneo, cam po que conj uga aspect os econôm icos e cult ur ais, o que im plica em m ar cos t eór icos par a fins de análises com par at iv as com ou-t ras realidades. Com isso não querem os afir-m ar que sua obr a const it ui uafir-m a pr iafir-m azia da t em át ica Econom ia Solidár ia no Nor dest e, m as sim um t rabalho que vem a som ar com o referencial t eórico- m et odológico e aprofundar a lit er at ur a int er pr et at iv a do Br asil.

A t ônica do t rabalho et nográfico realizado no est ado do Ceará sust ent a- se no desafio de dest rinchar o universo da Econom ia Soli-dária, em um a região hist oricam ent e balizada pelo lat ifúndio, indúst ria da seca, êxodo rural e relações de poder que configuram um es-paço social m arcado pela exclusão social e em pobr ecim ent o do t ecido social, not

ada-* For m ado em Hist ór ia pela Un iv er sidade Est adu al da Par aíba- UEPB. Especialização em “ Hist ór ia do Br asil” pela Facu ldade I n t egr ada de Pat os – FI P; at u alm en t e é gr adu an do em An t r opologia pela Un iver sidade Feder al da Par aíba – UFPB.

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m ente nas regiões do sertão e sem iárido. Nes-se aspect o, processos de exclusão são veri-ficados t am bém na capit al Fort aleza com o cent ro irradiador do progresso capit alist a e que enfrent a problem as t ípicos das grandes m et rópoles, com o violência urbana, desem -prego, favelização e bolsões de pobreza. Es-tas m arcas que propositalm ente apontam para elem ent os apenas desagregadores, do pont o de vist a polít ico e social são com part ilhadas por out ros est ados do Nordest e brasileiro e foram post as em evidência para caract erizar det erm inados aspect os hist óricos do espaço socialm ent e produzido. Além do m ais, eleva o desafio de est udar a at m osfera social dos cha-m ados echa-m preendicha-m ent os echa-m Econocha-m ia Soli-dária, a part ir de um a base em pírica e com um a abordagem t eórica preocupada não em form ular abst rações que conduzem para a m orfologia social, preocupada apenas com as regras gerais que encobrem as ações de or-dem prát ica, os processos sociais e cult urais da vida cot idiana, m as para o est udo de ca-sos que perm it em elucidar e const ruir form u-lações a part ir das cont radições em anent es de cada ordem ou “ desordem ” est rut ural do cam po social de cada experiência est udada.

O eixo cent ral do livro coloca em m ovi-m ent o conceit os e prát icas que perovi-m it eovi-m lan-ça r u m a r ef l ex ã o , a p a r t i r d o t r a b a l h o et nográfico, acerca de form as alt ernat ivas de produzir a subsist ência, de se int egrar soci-alm ent e, de form ar espaços de vivência a part ir de cat egorias que se cont rapõem ao circuit o m ercadológico capit alist a, t endo com o preocupação a discussão de t em as gerado-res com o: dem ocracia, aut ogest ão, part ici-pação e cooperação. O que passa necessari-am ent e pelo profundo processo de educação e reeducação dos at ores envolvidos. Essas form as de organização são cat egorizadas e inst rum ent alizadas a part ir de um a base t eó-rica fom ent ada por pensadores que se lan-çaram no universo da Econom ia Solidária no Br asil com o Paul Singer, Luís I nácio Gaiger e out ros. O est udo passa pela abordagem t eó-rica de Durkheim e de Mauss para ressignificar os conceit os de solidariedade e reciprocida-de, respect ivam ent e, com o pont os basilares para a const rução do discurso dos em preen-dim ent os solidários, na sua dinâm ica cult ural. A t em át ica, por seu t urno, t om a corpo pela abordagem da descrição densa dos cham

a-dos Em preendim ent os Econôm icos Solidários focalizados em especial no est ado do Ceará, ligados a ADS ( Agência de Desenvolvim ent o Solidário) , cuj a origem rem et e às discussões na seara polít ica da CUT ( Cent ral Única dos Trabalhadores) com o propost as alt ernat ivas a o st a t u s q u o d a e co n o m i a ca p i t a l i st a globalizada. Sendo assim , a alm a do t rabalho se m at erializa quando a ant ropóloga se alm ent a das experiências individuais e colet i-vas dos at ores sociais, por m eio de est udos de casos, t endo com o referência a análise sit uacional. Esses elem ent os apropriados pela pesquisadora e gerados pelas relações soci-ais produzidas pelos indivíduos dos em preen-dim ent os form am as experiências êm icas e são confront adas pela produção acadêm ica a respeit o do ent endim ent o do que é Econo-m ia Solidária. Nessa perspect iva, a professo-ra Alícia busca filt professo-rar t odo esse universo a part ir de um a lógica de significados, um univ er so sim bólico pr ópr io er igido pela int er -secção de vários elem ent os – cult urais, reli-giosos, econôm icos, m orais e valorat ivos – que configuram os cham ados fat os sociais t ot ais.

A const rução do discurso se est abelece as part ir de t rabalho de cam po em cooperat ivas e associações. São est udados oit o em preen-dim ent os que se paut am em diversas realida-des vivenciadas, o que result a em vários con-t excon-t os econôm icos, sociais e polícon-t icos, confi-gurando realidades singulares estabelecidas por espaços hist oricam ent e consum ados. Nesses espaços foi est udado o nível de reciprocidade e de solidariedade, conceit os que nort eiam o universo cultural da Econom ia Solidária. A partir dessa noção é possível com preender o grau de coesão social e a sust ent abilidade do em -preendim ent o, pois nos casos est udados não se pôde universalizar ou uniform izar devido às configurações específicas, realidades díspares, desníveis ou níveis de socialização. Ent ret an-t o, a preocupação não reside na busca das regularidades e sim no processo, seguindo o raciocínio de Van Velsen de que as regras so-ciais se aj ust am ao sabor das necessidades específicas.

A pesquisa se inser e num cont ex t o m ais am plo, que é com pr eender alt er nat iv as de v iv ência, par alela à pr oduzida pelo m ot or capit alist a que, segundo out ras análises per-t inenper-t es à per-t r adição m ar x isper-t a, pr oduzem um

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ex ér cit o de desv alidos, j ust am ent e os que não conseguem se aj ust ar às engr enagens do sist em a econôm ico hegem ônico. E são ex cluídos socialm ent e, im pelidos par a a pe-riferia do sist em a, que cria universos parale-los que se com unicam e se r et r oalim ent am ; que fincam espaços sociais, códigos cult u-r ais e m odos de econom ia fam iliau-r. Segm en-t os que en-t enen-t am se or ganizar em en-t or no de obj et iv os com uns, dent r o de espaços polít i-cos e socialm ent e or ganizados em cooper at iv as ou associações. A sociedade civ il or -ganizada m ar ca seu espaço de at uação e ar t icula com out r os set or es com o o est ado e o m er cado, na busca de soluções par a os pr oblem as v iv enciados. Ent r et ant o, no t r a-balho et nogr áfico ficou clar o que em algu-m as ex per iências é possív el ar t icular r ent a-bilidade econôm ica com solidar iedade; em out r as, a falt a de int er esse dos indiv íduos em se lançar em nesse univ er so cult ur al e v alor at iv o com pr om et em t oda a r ede de so-ciabilidade, o que ger a ent r av es par a a con-secução dos obj et iv os pr opost os pelas r e-des de or ganização no que se r efer e ao de-senvolvim ent o hum ano a par t ir da lógica so-lidária de m ercado.

Foi possível vislum brar, pela análise sit ua-cional, exper iências int er essant es com o r es-post a ao individualism o e à econom ia de m er-cado. As cooper at iv as de cr édit o solidár io e de pr odução de m el em m eio ao univ er so dos assent ados rurais do sem iárido cearense; a Coopsol, cooper at iv a que at ua na confec-ção de r oupas, e que sur giu at r av és de m o-v im ent o social em busca de r espost as par a pr oblem as enfr ent ados na per ifer ia de For -t aleza/ CE, com o desem pr ego, v iolência e falt a de saneam ent o básico; a Coopv ida e Coopcaps, cooper at iv as sociais desenv olv i-das em am bient es hospit alar es que t r aba-lham respect ivam ent e com pacient es

soropo-sit iv os e com dist úr bios m ent ais, hum ani-zando o t r at am ent o e dando- lhes per spec-t iv a de um a v ida m elhor ; enspec-t r e ouspec-t r as ex pe-r iências. Ent pe-r et ant o, um a das gpe-r andes ppe-r eocupações daqueles que se lançam ao em -preendim ent o solidário é elim inar do circuit o econôm ico a figura do at rav essador, que é ident ificado com o o único beneficiado da pro-dução em conj unt o, que r elega aos v er da-deir os pr odut or es a m enor par t e do fr ut o do seu t r abalho.

Por fim , há um a pr eocupação dos que se ocupam e t r abalham nos em pr eendim ent os solidár ios, com o um espaço de int er secção ent r e o m er cado, est ado e sociedade civ il or ganizada, no sent ido de nor t ear em polít i-cas públii-cas eficazes no processo de reinser-ção de segm ent os hist or icam ent e ex cluídos. Cont udo, o t rabalho et nográfico dem onst rou facet as do sist em a de relações sociais t ecidas a part ir da lógica pat rim onialist a e client elist a, for m as de r elação de poder cr ist alizadas há séculos por r elações hier ar quizadas que blo-queiam ou dificult am dinâm icas dem ocr át icas. A noção do dom se est abelece de for -m a assi-m ét r ica, canalizada pela difusão do espír it o indiv idualist a cr av ado no seio de um am plo conj unt o econôm ico desagr egador do pont o de v ist a social. A cult ur a do associat i-v ism o dei-v e ser ent endida com o pr át ica so-cial, port ant o com part ilhada ent re grupos que com ungam com os m esm os obj et ivos. Nesse sent ido, o aspect o pedagógico im plica na int er nalização de v alor es que possam r es-paldar for m as de condut a social adequadas ao univ er so v iv enciado ou post ulado. Um desafio que dem anda am plos esforços e prin-cipalm ent e v ont ade de t ecer r elações pau-t adas pelas ideologias “ posipau-t iv as” da r eci-pr ocidade e solidar iedade na condução da const r ução de um a sociedade m ais j ust a e igualit ária.

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