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(1)MARIA ALICE CAMPAGNOLI OTRE. COMUNICAÇÃO POPULARALTERNATIVA DESENVOLVIDA POR JOVENS INDÍGENAS DAS ALDEIAS DO JAGUAPIRU E BORORÓ EM DOURADOS / MS. Universidade Metodista de São Paulo Programa de Pós -Graduação em Comunicação Social São Bernardo do Campo -SP, 2008.

(2) MARIA ALICE CAMPAGNOLI OTRE. COMUNICAÇÃO POPULARALTERNATIVA DESENVOLVIDA POR JOVENS INDÍGENAS DAS ALDEIAS DO JAGUAPIRU E BORORÓ EM DOURADOS / MS. Dissertação apresentada em cumprimento parcial às exigências do Programa de Pós- graduação em Comunicação Social da UMESP - Universidade Metodista de São Paulo, para obtenção do grau de Mestre Orientadora: Profa. Dra. Cicilia M. Krohling Peruzzo.. Universidade Metodista de São Paulo Programa de Pós -Graduação em Comunicação Social São Bernardo do Campo -SP, 2008.

(3) FOLHA DE APROVAÇÃO. A dissertação Comunicação Popular-Alternativa desenvolvida por Jovens Indígenas das aldeias do Jaguapiru e Bororó em Dourados / MS elaborada por Maria Alice Campagnoli Otre, foi defendida no dia 08 de abril de 2008, tendo sido:. (. ) Reprovada. (. ) Aprovada, mas deve incorporar nos exemplares definitivos, modificações sugeridas. pela banca examinadora, até 60 dias, a contar da data da defesa (. ) Aprovada. (X) Aprovada com louvor. Banca examinadora: _____________________________________________ Profa. Dra. Cicilia Maria Krohling Peruzzo _____________________________________________ Prof. Dr. Massimo Di Felice _____________________________________________ Profa. Dra. Sandra Reimão. Área de concentração: Processos Comunicacionais Linha de pesquisa: Comunicação Massiva Projeto temático:.

(4) "Suba um degrau de cada vez, à medida em que eles aparecem" – Manoel Francisco Otre (Meu pai)..

(5) DEDICO A entidades fundamentais em minha vida: ao Deus que me sustenta, à família que me acolhe, aos indígenas que muito me ensinaram, à amiga Ellen Nayara, sem definições..

(6) AGRADEÇO Faz dois anos que venho contabilizando todos os nomes merecedores de compor esta página. E como são merecedores! A Deus e, em especial, minha Mãezinha e protetora dos indígenas, Nossa Senhora de Guadalupe, que acompanhou este meu projeto de vida, sempre intercedendo por mim junto ao Pai. A meus pais que, sob um amor incondicional, “fingiram” não passar por dificuldades pra me ajudarem a fazer o mestrado, sempre confiantes. À professora Cicilia Peruzzo, que antes era um referencial teórico e hoje é um referencial de vida. Que soube segurar minha mão quando necessário, mas me ensinou a andar por mim mesma. A todos os professores e funcionários da Metodista que em algum momento intervieram positivamente em minha vida acadêmica. A todos os meus colegas de mestrado, em especial Ana Paula Silva Ladeira Costa, com quem morei em São Bernardo e muito aprendi; Nivea Maria Bona “Onda”, amiga de sorrisos, eventos e angústias, sempre pronta a me socorrer; Márcia, companheirona, Laura e Marcelo, com quem bons momentos dividi. A Ellen Nayara Kotai Costa, irmã e amiga, uma das pessoas mais fundamentais durante esta árdua caminhada. Desde os telefonemas eternos em SBC, até as noites mal-dormidas em Marília e Dourados . Ouvidos sempre abertos para meus devaneios teóricos, palavras mais usadas, gráficos e gráficos. Braços sempre abertos para as lágrimas, angústias, cansaço e acreditem, risadas. Olhar sempre firme me mandando não desistir deste objetivo. Minha gratidão eterna. À paciência em forma de homem: Robson Barros. Que se absteve de qualquer idéia de namorada ideal, e passava noites assistindo-me ao computador, fazendo massagem, servindo tereré, ouvindo meus resmungos. Sempre quieto e confortador. Aos amigos Aline Oliveira, sempre confiante, Kenedy e Jaqueline, sempre dispostos a me ajudar e a oferecer um sorriso. À Débora Gracio que me deu suporte em momentos importantíssimos, Raquel Mascarin que mesmo ausente esteve presente e a Maria Carolina, convicta de que daria tudo certo. Ao primeiro e eterno orientador, Roberto Reis, que me colocou neste caminho com confiança. À toda a minha família, tios, tias, primos e primas, que tanto acreditaram em mim e me incentivaram. Em especial tios Silvio e Nanci, que estiveram inclusive na defesa do mestrado, como pontos de sustentação..

(7) À profa. Dra. Maria de Lourdes Beldi de Alcântara que possibilitou meu acesso aos dados necessários para a pesquisa e muito me ensinou. À comunidade indígena de Dourados, em especial, aos jovens da AJI, exemplos de luta e perseverança. Aos companheiros que conheci e passei a admirar em Dourados/MS, em especial Érika Batista, Vanderléia Mussi, Bruno Barreto e Cristine Medeiros, que tanto me apoiaram e suportaram, e tantos outros amigos. A todos os meus primos queridos, em especial à minha prima Giovanna (10 anos), que sempre pergunta sobre o meu “livro” e diz que pede a Deus pra eu acabar logo. Por fim, à Capes, que possibilitou a realização deste trabalho e sem a qual eu não teria chegado..

(8) LISTA DE TABELAS. Pág.. TABELA 1 - Quadro de suicídios praticados por índios Guarani/Kaiowá no Mato Grosso do Sul. p.69. TABELA 2 - Quadro de suicídios praticados por índios Guarani/Kaiowá em Dourados / MS, entre 1992 e 1999, por gênero e idade. p.70. TABELA 3 - Quadro de suicídios no Brasil, MS e Dourados entre os anos de 2003 e 2005. p.71. TABELA 4 - Dados sobre a desnutrição do Mato Grosso do Sul. p.80. TABELA 5 - Assinaturas de cada jovem em textos individuais ou em co-autoria no ajindo.blogspot.com - 17/05/2006- 29/11/2007. p.128. TABELA 6 – Assinaturas de cada jovem em textos individuais ou em co-autoria no Jornal AJIndo - Fevereiro/2004 - Dezembro/2006. p.136.

(9) LISTA DE GRÁFICOS. Pág.. GRÁFICO 1 - Assuntos principais abordados no ajindo.blogspot.com 17/05/2006- 29/11/2007. p.117. GRÁFICO 2 - Novos assuntos que se formaram da generalização "Outros", no ajindo.blogspot.com - 17/05/2006- 29/11/2007. p.118. GRÁFICO 3 - Aspectos centrais abordados no ajindo.blogspot.com 17/05/2006- 29/11/2007. p.119. GRÁFICO 4 - Sobre quem se fala no ajindo.blogspot.com 17/05/2006- 29/11/2007. p.121. GRÁFICO 5 - Gêneros utilizados no ajindo.blogspot.com 17/05/2006- 29/11/2007. p.122. GRÁFICO 6 - Ilustrações utilizadas nos textos do ajindo.blogspot.com 17/05/2006- 29/11/2007. p.127. GRÁFICO 7 - Classificação, por sexo, dos jovens participantes do ajindo.blogspot.com - 17/05/2006- 29/11/2007. p.129. GRÁFICO 8 - Classificação, por etnia, dos jovens participantes do ajindo.blogspot.com - 17/05/2006- 29/11/2007. p.130. GRÁFICO 9 - Classificação, por sexo, dos jo vens participantes do Jornal AJIndo - Fevereiro/2004 - Dezembro/2006. p.138. GRÁFICO 10 - Classificação, por idade, dos materiais produzidos pelos jovens participantes do Jornal AJIndo que se identificaram Fevereiro/2004 - Dezembro/2006. p.139. GRÁFICO 11 - Tiragem por edição do Jornal AJIndo Fevereiro/2004 - Dezembro/2006. p.142. GRÁFICO 12 -Assuntos principais publicados no Jornal AJIndo Fevereiro/2004-Dezembro/2006. p.144. GRÁFICO 13 - Palavras mais usadas quanto à temática Descaso. p.151. GRÁFICO 14 - Palavras mais usadas quanto à temática Drogas. p.152. GRÁFICO 15 - Palavras mais usadas quanto à temática Educação. p.153. GRÁFICO 16 - Palavras mais usadas quanto à temática Emprego. p.154.

(10) GRÁFICO 17 - Palavras mais usadas quanto à temática Eventos Promovidos pela AJI / Mobilização interna. p.155. GRÁFICO 18 - Palavras mais usadas quanto à temática Eventos Externos. p.156. GRÁFICO 19 - Palavras mais usadas quanto à temática Horta. p.158. GRÁFICO 20 - Palavras mais usadas quanto à temática Lazer. p.159. GRÁFICO 21 - Palavras mais usadas quanto à temática Preconceito. p.160. GRÁFICO 22 - Palavras mais usadas quanto à temática Saúde. p.161. GRÁFICO 23- Palavras mais usadas quanto à temática Segurança. p.162. GRÁFICO 24 - Palavras mais usadas quanto à temática Terra. p.163. GRÁFICO 25 - Palavras mais usadas quanto à temática Violência. p.164. GRÁFICO 26 - Palavras mais usadas quanto à temática “Outros”. p.165. GRÁFICO 27 - Aspectos centrais dos textos do Jornal AJIndo Fevereiro/2004 - Dezembro/2006. p.166. GRÁFICO 28 - Sobre quem se fala no Jornal AJIndo Fevereiro/2004 - Dezembro/2006. p.170. GRÁFICO 29 - Gêneros utilizados no Jornal AJIndo Fevereiro/2004 - Dezembro/2006. p.172. GRÁFICO 30 - Formatos jornalísticos encontrados em "Jornalismo informativo" no Jornal AJIndo - Fevereiro/2004 - Dezembro/2006. p.173. GRÁFICO 31 - Formatos jornalísticos encontrados em "Jornalismo opinativo" no Jornal AJIndo - Fevereiro/2004 - Dezembro/2006. p.176. GRÁFICO 32 - Entretenimento ana lisado no Jornal AJIndo Fevereiro/2004 - Dezembro/2006. p.177. GRÁFICO 33 - Ilustrações utilizadas nos textos do Jornal AJIndo Fevereiro/2004 - Dezembro/2006. p.180. GRÁFICO 34 - Assuntos principais publicados nas matérias de capa do Jornal AJIndo - Fevereiro/2004 - Dezembro/2006. p.181.

(11) SUMÁRIO Introdução -------------------------------------------------------------------------------------- p. 16. CAPÍTULO I – A comunicação das minorias ----------------------------------------- p. 25 1. Comunicação popular no contexto de luta por democratização ------------------- p. 25 2. Reflexões sobre a comunicação popular-alternativa e comunitária --------------- p. 39 2.1. Função social da comunicação popular ------------------------------------- p. 39 2.2.. Sobre os conceitos de comunidade e comunidade indígena ---------- p. 51. CAPÍTULO II – A realidade social vivida pelos indígenas em Dourados/MS e sua abordagem pela mídia --------------------------------------------p. 59 1. A fixação dos indígenas em Dourados: formação das aldeias do Jaguapiru e Bororó --------------------------------------------------------------------- p.59 2. Conflitos internos: ---------------------------------------------------------------------- p.63 2.1. As diferenças étnicas e disputas por lideranças dentre os indígenas ------- p.63 2.2. Entreolhares ------------------------------------------------------------------------ p.66 2.3. Alcoolismo, uso de entorpecentes, violência e suicídio juvenil ------------- p.69 2.4. Mortes por desnutrição ----------------------------------------------------------- p.78 3. Conflitos externos ---------------------------------------------------------------------- p.82 3.1. Discriminação, abandono e marginalização ----------------------------------- p.82 3.2. Representação dos indígenas na grande mídia -------------------------------- p.86 4. A comunicação nas aldeias e o papel dos jovens indígenas na velha e nova ordem---------------------------------------------------------------------------- p. 91. CAPÍTULO III – Apropriação da comunicação dos brancos pelos indígenas de Dourados: rádio, fotografia, cinema e Internet--------------------- p.95 1. A rádio comunitária da Bororó: experiência extinta ----------------------------- p.96 2. Oficinas de cinema -------------------------------------------------------------------- p.102 3. Oficinas de fotografias ---------------------------------------------------------------- p.109 4. Blog e Fotolog: AJI on-line ---------------------------------------------------------- p.114.

(12) CAPÍTULO IV – Jornal AJIndo: uma alternativa comunicacional? -------- p. 132 1 Jornal AJIndo ------------------------------------------------------------------------- p.134 2 Exploração e análise do conteúdo do Jornal AJIndo ---------------------------- p.143 2.1. Quanto ao Assunto Principal -------------------------------------------------- p.144 2.1.1. Palavras mais usadas --------------------------------------------------- p.150 2.2. Quanto ao Aspecto central -----------------------------------------------------p.165 2.3. Sobre quem se fala --------------------------------------------------------------p.170 2.4. Gêneros utilizados -------------------------------------------------------------- p.171 2.5. Quanto às ilustrações ---------------------------------------------------------- p.180 3 Análise das capas – Fevereiro/2004 –Dezembro/2006 ------------------------- p.181 4 Características da comunicação popular-alternativa presentes no jornal ----- p.182 5 Limitações da comunicação popular-alternativa presentes no AJIndo --------p.187 6 Análise da participação no Jornal AJIndo ---------------------------------------- p.192 7 Funções da comunicação popular-alternativa para os jovens da AJI -------- p.195 8 Onde estão localizados os jovens hoje? ----------------------------------------- p.199. Conclusões ------------------------------------------------------------------------------- p.204. Referências ----------------------------------------------------------------------------- p. 209. Anexo A - Jornais---------------------------------------------------------------------- p.217. Anexo B – Autorização Funai ------------------------------------------------------- p. 261.

(13) Resumo. Trata-se de um estudo de caso em que analisamos a comunicação alternativa desenvolvida pela AJI (Ação dos Jovens Indígenas), em Dourados/MS, nas aldeias do Jaguapiru e Bororó. Os jovens, que produzem audiovisuais, fotografias, blog, fotolog e um jornal impresso, encontraram na comunicação uma alternativa ante à marginalidade com que os índios são tratados na cidade, e buscarem seus direitos à voz e ao espaço social, em suas próprias tribos, já que os jovens indígenas solteiros ocupam um não-lugar na Reserva, pois não pertencem à organização tradicional indígena, tampouco estão inseridos entre os brancos. A partir das características e limitações da comunicação alternativa no Jornal AJIndo, por meio de pesquisa bibliográfica, entrevistas semi-estruturadas e análise de conteúdo, buscamos verificar o impacto da utilização desta comunicação nas aldeias para os jovens que a produzem, levando em conta interferências nas formas tradicionais de hierarquia e comunicação entre os indígenas e a função social da comunicação alternativa para eles. Embora não seja o objetivo principal do AJIndo, destaca-se o desenvolvimento da auto-estima como resultado desse processo. Soma-se a esta função, a mobilização por transformação social e a formação crítico-educativa. Após o esforço de organização, os jovens começaram a se sentir pertencentes aos indígenas e a serem ouvidos pelos brancos, mesmo que acreditem ser por interesses políticos da comunidade como um todo.. Palavras-chave Comunicação Popular-Alternativa. Indígena. AJI. Jornal AJIndo. Auto -estima. Cidadania..

(14) Resumen. El presiente trabajo es un estudio de caso en que analizamos la comunicación alternativa desarrollada po r el AJI (Acción de los Jóvenes Indígenas), en Dourados/MS, en las aldeas de Jaguapiru y Bororó. Los jóvenes, que producen audiovisuales, fotografías, blog, fotolog y un periódico impreso, encontraron en la comunicación, una alternativa que hace frente a la marginalidad con que son tratados en la ciudad, además de buscaren el derecho a la opinión en sus propias tribus y al espacio social, ya que los jóvenes indígenas solteros no tienen una ubicación social en la Reserva, pues no pertenecen a la organización tradicional indígena, tampoco están inseridos en la sociedad de los blancos. Desde las características y limitaciones de la comunicación alternativa en el Periódico AJIndo, por medio de la investigación bibliográfica, entrevistas semi-estructuradas y análisis de contenido, buscamos verificar el impacto del periódico y blog para los jóvenes que los producen en las aldeas, considerando las interferencias en las formas tradicionales de jerarquía y comunicación entre los indígenas y la función social de la comunicación alternativa para ellos. Mismo que no sea su objetivo principal, en el AJIndo se destaca el desarrollo de la auto-estima como resultado de este proceso. Se añade a esta función, la movilización por transformación social y la formación crítico-educativa. Después del esfuerzo de organización, los jóvenes comenzaron a sentirse pertenecientes a los indígenas y han sido escuchados por los blancos, mismo que crean ser por conveniencias políticas de la comunidad como un todo.. Palabras-clave Comunicación Alternativa. Indígenas. AJI. Jornal AJIndo. Auto-estima. Ciudadanía..

(15) Abstract:. This work approaches the alternative communication that has been developed by the AJI (Ação dos Jovens Indígenas / Teen-Indians Action), in Dourados City (MS-Brazil), at Jaguapiru and Bororó Villages, through a case study. The teenagers – who produce audiovisuals, photographs, blog, photoblog, and a printed journal – have found out on communication an alternative to face up the social exclusion which the India ns are undergone in the city. They have also requested the voice rights and social locus at their own tribes, since the single young Indians dwell in a non-place in the reservation, for they do not belong to the Indian traditional organization, neither are inserted amid the nonIndian. Considering the characteristics and limitation of the alternative communication of the AJIndo Journal, and by means of bibliography survey, semi- structured interviews, and content analysis, it has been tried to verify the usage impact of these communication products on the villagers, taking into account the interference upon the traditional hierarchy forms and communication, as well as the social function the alternative communication plays to them. Although it is not the main purpose of the AJIndo, it is remarkable the development of the self-esteem as result of the process. To this feature, it may be added the mobilization for a social transformation and the critical-educative formation. After this organization effort, the teenagers started to feel belonging to the Indians and to be heard by the non-Indians, even believing it would be for political interests of the community as a whole.. Key-words: Citize nship. Alternative Communication. Indian. AJI. AJIndo Journal. Self-Esteem..

(16) 16. Introdução. No cenário de Dourados/MS, que comporta a segunda maior reserva indígena urbana do país, cerca de 11 mil índios de duas etnias, Terena e Guarani (Guarani-Ñandeva e Guarani-Kaiowá), dividem 3,6 hectares de terra. Envoltos em estruturas complexas que envolvem violência, desnutrição infantil, suicídios, disputas por liderança, brigas étnicas, discriminação e abandono por parte do governo e da sociedade, os indígenas só têm espaço na grande mídia quando acontece algum fato negativo. Notícias que valorizem sua cultura ou os projetos desenvolvidos junto à comunidade, dificilmente são publicadas. Sem voz na grande mídia de Dourados e região, jovens indígenas desenvolveram iniciativas de comunicação, que envolvem um jornal alternativo – o principal foco de nosso estudo -, um blog, documentários e fotografias realizados pela AJI (Ação de Jovens Indígenas), com o apoio de oficinas oferecidas pela GAPK (Grupo de Apoio aos Povos Kaiowá) 1 . Da escolha das pautas e redação dos textos aos critérios de seleção e diagramação, no caso do jornal AJIndo, tudo é formulado pelos indígenas. Quanto ao blog, produção dos textos, fotos e postagens também. No contato com essa realidade, particularmente tão distante, surgiu o interesse da pesquisa. A questão central da pesquisa remete à função da comunicação alternativa desenvolvida pelos jovens indígenas, num processo em que sua ação interfere nas práticas comunicativas tradicionalmente hierarquizadas pelos indígenas e ressemantiza as culturas e tradições dessas comunidades.. 1. O Grupo de Apoio aos Povos Kaiowá é uma ONG que atua na cidade de Dourados, ligada ao Labi-Nime (Laboratório de Estudos do Imaginário / Núcleo Interdisciplinar do Imaginário e Memória) do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. A GAPK oferece oficinas para a AJI (Ação de Jovens Indígenas) e a partir dessas oficinas os indígenas desenvolvem os meios de comunicação alternativa (jornal e blog) e produzem vídeos e fotografias..

(17) 17 A partir desta problematização, objetivamos verificar o impacto que a utilização de meios tecnológicos de comunicação nas aldeias do Jaquapiru e Bororó tiveram para os jovens produtores do jornal, levando em conta interferências nas formas tradicionais de hierarquia e comunicação entre os indígenas e a função social da comunicação popularalternativa como agente de educação, retomada de auto-estima, mobilização e transformação social. Objetivamos ainda, com a pesquisa, averiguar as finalidades os objetivos da criação de um espaço identitário de pertencimento para os jovens, verificar quais as diferenças que se colocam na prática alternativa do não-índio e do índio, levantar as razões que motivaram a utilização desses instrumentos de comunicação (jornal, blog e fotolog, vídeos e fotografias) e quais objetivos se pretende atingir com a utilização dessas novas tecnologias nas aldeias, avaliar como se dá a participação dos jovens indígenas nessas formas alternativas de comunicação, entender como se dá o processo de ressemantização do cotidiano a partir da tomada de poder pelos jovens das novas ferramentas de comunicação e averiguar o posicionamento de líderes indígenas sobre a inclusão das novas formas de comunicação em comunidades indígenas. O trabalho justifica-se primeiramente por trazer para a universidade uma discussão pouco desenvolvida no Brasil: a relação entre os indígenas e a inserção das novas tecnologias de comunicação. Também para os estudos de comunicação popular-alternativa, acredita-se na inovação da proposta, pois estes novos produtos de comunicação desenvolvidos pelos jovens indígenas de Dourados são utilizados na busca por garantir- lhes voz na relação entre jovens-aldeias e aldeias-cidade. Espera-se a partir deste estudo, contribuir para a produção teórica sobre comunicação entre os indígenas e, ainda, apontar as contribuições da comunicação alternativa dentro desse contexto social e como se dão suas configurações. Trabalhamos com a hipótese de que por meio da produção de jornal alternativo, blog, vídeos e fotografias, jovens indígenas de Dourados, tradicionalmente excluídos das discussões e tomadas de decisões em suas comunidades, encontravam uma forma de mobilização social que lhes garantia, embora com muita resistência dos indígenas tradicionais, maior aceitação dentro da própria tribo, além de a criação de canais que lhes.

(18) 18 dessem voz para apresentarem suas críticas à sociedade. Embora, antecipando a conclusão, tenhamos percebido que mobilização social não é a principal função desempenhada por jornal e blog, eles cumprem importante papel quanto à mobilização da entidade que os produz, a Ação de Jovens Indígenas (AJI). Para a realização da dissertação, obedecendo aos preceitos éticos, apresentamos o projeto de pesquisa para a Funai Regional de Dourados / MS, que o analisou e nos deu parecer favorável (ver anexos). O mesmo aconteceu quando o trabalho também foi submetido ao Comitê de Ética do Centro Universitário da Grande Dourados (UNIGRAN). Embora as populações indígenas sejam consideradas áreas temáticas especiais, nosso trabalho que não é de cunho antropológico e sim comunicacional, buscando apenas, a partir das entrevistas, contextualizar a realidade dos jovens indígenas e do surgimento dos produtos de comunicação numa realidade tão complexa. Destacamos que apesar de todos os entrevistados indígenas serem portadores de RG civil e aceitaram após o conhecimento de todos os objetivos do trabalho colaborar com a pesquisa, de forma que entenderam sê- la de importância tanto para o registro histórico de seus trabalhos, como para melhor entender, ao fim da pesquisa, as potencialidades que têm em mãos, decidimos manter seus nomes mantidos em sigilo para preservá-los de eventuais constrangimentos. Destaca-se ainda que, a maioria dos jovens entrevistados cursa o ensino superior.. Metodologia. Assim posto, adiantamos que a pesquisa foi dividida em duas etapas. Num primeiro momento buscamos desenvolver e delimitar, através da pesquisa bibliográfica, os conceitos que versam sobre a comunicação popular-alternativa e comunitária na América Latina e no Brasil, conceitos de participação, comunidade e comunidade indígena. STUMPF (2005, p. 51) assim define esse tipo de pesquisa. Num sentido restrito, é um conjunto de procedimentos que visa identif icar informações bibliográficas, selecionar os documentos pertinentes ao tema estudado e proceder à respectiva anotação ou fichamento das referências e dos dados dos documentos para que sejam posteriormente utilizados na redação de um trabalho acadêmico..

(19) 19 Para a segunda etapa, desenvolvemos um estudo de caso na cidade de Dourados/MS, buscando entender a comunicação alternativa juvenil dos indígenas das Aldeias Jaguapiru e Bororó. Devido à complexidade que envolve a questão indígena, a manutenção de suas tradições e a interferência dos não- índios em sua cultura, buscamos com o estudo de caso descrever a organização social das etnias Aruak (Terena) e Guarani (Guarani-Kaiowá e Guarani-Ñandeva), apresentar a relação destes com a sociedade urbana de Dourados e compreender o por quê da utilização de formas de comunicação popular-alternativa nãotradicionais dos indígenas - como o jornal, fotografias, vídeo e internet - por essa população claramente marginalizada. Desenvolvendo a estratégia do estudo de caso, para a coleta de dados realizamos entrevistas semi-estruturadas a) com os jovens da AJI (Ação de Jovens Indígenas) responsáveis pela produção dos meios de comunicação; b) com os voluntários da GAPK (Grupo de Apoio aos Povos Kaiowá) - ONG responsável pela elaboração das oficinas de redação, fotografia, vídeo e site, dando sustentação à iniciativa dos jovens indígenas -; e c) com lideranças indígenas que não estão entre os membros da AJI. Além das entrevistas semi- estruturadas, também realizamos uma análise de conteúdo do Jornal AJIndo (Ação de Jovens Indígenas de Dourados) e do blog mantido pelos jovens, na tentativa de verificar quais as posturas políticas, ideológicas e sociais presentes. A análise de conteúdo (AC), segundo BARDIN (1977, p. 42), define-se como Um conjunto de técnicas de análises das comunicações visando obter, por procedimentos, sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção / recepção (variáveis inferidas) dessas mensagens.. Método predominantemente quantitativo, surge como uma reação às análises subjetivas dos textos, que eram feitas antigamente. “A atitude interpretativa continua em parte a existir na análise de conteúdo, mas é sustida por processos técnicos de validação”, ressalta BARDIN (1977, p.14)..

(20) 20 De uma maneira geral, a autora (1977, p.29) destaca que o método corresponde a dois objetivos: a) a ultrapassagem da incerteza, que busca descobrir se a minha leitura de um texto pode ser generalizável; e b) o enriquecimento da leitura, a partir do momento que se pode compreender de maneira mais aprofundada o que o emissor daquela mensagem buscava passar no momento em que a codificou. Importante para a evolução do método no campo social foi o fato de que deixou a ênfase excessiva nos números e abriu possibilidades de inferências (deduções de maneira lógica) a partir de mecanismos subjacentes. Para explicar melhor os procedimentos da análise e o conceito de inferência, a autora faz a analogia do analista com um arqueólogo, que trabalha com vestígios. A partir dos vestígios, tal como um detetive, o analista trabalha com índices cuidadosamente postos em evidência por procedimentos complexos. Se a descrição (a enumeraç ão das características do texto, resumida após tratamento) é a primeira etapa necessária e se a interpretação (a significação concedida a essas características) é a última fase, a inferência é o procedimento intermediário, que vem permitir a passagem, explícita e controlada, de uma à outra (BARDIN, 1977, p.39).. Para a organização de uma análise de conteúdo, Bardin (1977, p. 95) apresenta três fases cronológicas delimitadas: 1) Pré-análise: consiste na fase de organização do trabalho, em que se deve escolher os documentos que serão submetidos à análise, formular hipóteses e objetivos e elaborar indicadores que fundamentam a interpretação final; 2) Exploração do material: consiste na análise propriamente dita. Se a pré-análise for realizada de maneira cuidadosa e convenientemente concluída, esta fase representa a administração sistemática das decisões tomadas anteriormente, envolvendo operações de codificação em função das regras previamente formuladas; 3) Tratamento dos resultados obtidos e interpretação: os resultados brutos são tratados de maneira a serem significativos e válidos e a partir deles, o analista pode interpretar, propondo inferências. Dentro da discussão proposta pela autora, destaca-se que a abordagem que daremos na análise de conteúdo é quanti e qualitativa, pelo fato de a “inferência - sempre que é.

(21) 21 realizada – ser fundada na presença do índice (tema, palavra, personagem, etc), e não sobre a freqüência da sua aparição, em cada comunicação individual” (BARDIN, 1977, p.116). Dessa forma, temos como corpus para a análise, as edições produzidas pela AJI (Ação de Jovens Indígenas), que resultam em oito exemplares do jornal, 95 matérias, e ainda, o blog nos anos de 2006 e 2007, 76 matérias, buscando a partir das temáticas verificar a função que esta forma de comunicação têm para os jovens indígenas, num contexto de dificuldades sócio -econômicas, preconceito, marginalidade e, muitas vezes, descrença. Para a realização da análise de conteúdo, trabalhamos com categorias, na tentativa de isolar os temas tratados. “As categorias, são rubricas ou classes, as quais reúnem um grupo de elementos (unidades de registro, no caso da análise de conteúdo) sob um título genérico, agrupamento esse efectuado em razão dos caracteres comuns destes elementos” (BARDIN, 1977, p.117). Durante nossa pré-análise, definimos cinco categorias para analisar: Assunto principal, Aspecto central, De quem se fala, Gêneros utilizados e Ilustrações dos textos. Para cada categoria, apresentamos os resultados em forma de gráficos, objetivando facilitar a análise e visualização do Jornal como um todo. Dentro de “Assunto principal”, detivemo nos ainda a classificar as palavras mais usadas, sendo que as quantificamos, agrupando os textos que compunham o mesmo assunto/tema. Todas as palavras que se repetiram mais de duas vezes foram computadas, porém, consideramos para a apresentação gráfica, as nove palavras que os jovens mais utilizaram, em ordem decrescente. Ao considerarmos a categoria “Gêneros utilizados”, vale atentarmos para o fato de que nos apoiamos na classificação proposta por José Marques de Melo (2003, p.65), segundo o qual, existem duas categorias para classificar o jornalismo: o informativo e o opinativo. O que não se encaixa nessas classificações por não fazerem parte da esfera jornalística, o autor sugere 2 , que se denomine “entretenimento”. Definimos, então, as seguintes categorias para a realização da AC dos jornais da AJI: Categoria 1: Assunto principal. 2. Em entrevista concedida por e-mail à autora no dia 29 de setembro de 2007..

(22) 22 Dentre os assuntos elencados, figuram: Descaso ; Preconceito; Educação; Saúde; Lazer; Drogas; Segurança; Violência; Eventos promovidos pela AJI / Mobilização interna; Participação em eventos externos; Terra; Emprego; Horta; e Outros.. Categoria 2: Aspecto central Nesta categoria encontramos: Críticas governo; Valorização da cultura indígena; Importância / Atuação da AJI; Críticas à grande mídia; Crítica ao não-indígena; Comparação entre índios e não- índios; Alerta sobre tema; Reivindicações e Outros.. Categoria 3: De quem se fala Sobre quem se fala no texto, tivemos três opções: sobre o indígena; não-indígena ou ambos.. Categoria 4: Gêneros utilizados Para melhor visualização dos gêneros utilizados nos textos, assim analisamos:. a) Jornalismo Informativo 1. Nota 2. Notícia 3. Reportagem 4. Entrevista. b) Jornalismo opinativo 5. Editorial 6. Comentário 7. Artigo 8. Resenha 9. Coluna 10. Crônica 11. Caricatura 12. Carta.

(23) 23. c) Entretenimento 13. Quadrinhos 14. Contos 15. Coluna Social. Categoria 5: Ilustrações do texto Nesta categoria temos: Desenho; Foto e Nenhum, para textos que não apresentavam ilustrações. Para análise do “Gênero utilizado ”, consideramos textos e / ou fotos que possibilitaram a identificação do Assunto principal e Aspecto central. Diante disso, foram analisados os conteúdos de contos, coluna social e quadrinhos. Outros itens como: música, agenda, sessão de piadas, cruzadinhas, desenhos avulsos, poesias, homenagens, agradecimentos e publicidades serão apontados num balanço geral dos jornais, sendo, portanto contemplados no trabalho, embora não analisados quanto ao Assunto principal, Aspecto central, Atores, Gênero e Ilustrações. A partir da definição das categorias então expostas, acreditamos atingir a condição de exclusão mútua entre elas, sua homogeneidade, pertinência, objetividade, fidelidade e produtividade, qualidades que a autora destaca para uma boa formulação de cate gorias. Fundamentadas nesta metodologia, detivemo-nos a cada capítulo, a percorrer um caminho que abarcasse fundamentação teórica, contextualização história, análise e interpretação dos dados coletados. No primeiro capítulo, nos detivemos a explorar a comunicação das minorias, em que pensamos a comunicação popular no contexto de luta por democratização, refletimos sobre a comunicação popular-alternativa, suas funções e os conceitos referentes à participação neste tipo de experiência, conceitos de comunidade e comunidade indígena. No segundo capítulo retratamos de maneira a contextualizar a realidade social vivida pelos indígenas em Dourados/MS e sua abordagem pela mídia, passando pela fixação dos indígenas na cidade, formação das aldeias do Jaguapiru e Bororó, conflitos internos como diferenças étnicas e disputas por lideranças dentre os indígenas, alcoolismo, uso de entorpecentes, violência, suicídio juvenil e mortes por desnutrição, e ainda, conflitos.

(24) 24 externos como a discriminação, abandono e marginalização e a representação dos indígenas na grande mídia. Ainda neste capítulo, detivemo-nos a discutir a comunicação nas aldeias e o papel dos jovens indígenas na velha e nova ordem comunicacional. No terceiro capítulo, em que afunilamos nossa abrangência e discussões, refletimos sobre a apropriação da comunicação dos brancos pelos indígenas de Dourados, retratando experiências de comunicação desenvolvidas na aldeia como: a rádio (já extinta), oficinas de fotografia, oficinas de cinema e desenvolvimento do blog e fotolog da Ação dos Jovens Indígenas (AJI). Já neste capítulo, apresentamos a Análise de Conteúdo (AC) do blog. Por fim, no quarto e último capítulo, buscamos realizar de maneira aprofundada a AC do Jornal AJIndo. Para isso apresentamos os gráficos produzidos a partir da coleta de dados quanto aos assuntos principais e as palavras mais usadas em cada um deles, quanto aos aspectos centrais, sobre quem se fala nos textos, gêneros utilizados e quanto às ilustrações apresentadas. Desenvolvemos, ainda, uma análise das capas dos jornais, de fevereiro de 2004 a dezembro de 2006, buscando comparar o todo do jornal com as matérias da primeira página. Fazendo relações com nossa fundamentação teórica, discutimos e apontamos as características da comunicação popular-alternativa presentes no Jornal AJIndo e também as limitações inerentes a este tipo de comunicação. Dentre as características e limitações, detivemo-nos a focar nossos olhares sobre a questão da participação dos jovens indígenas no Jornal, já que este é um dos fatores mais relevantes nas experiências de comunicação popular. Por fim, buscamos identificar e responder nosso problema de pesquisa quanto à função da comunicação alternativa para os jovens da AJI e verificar onde estão localizados os jovens hoje..

(25) 25. CAPÍTULO I – A comunicação das minorias. 1. Comunicação popular no contexto de luta por democratização. Falar de comunicação popular-alternativa e comunitária envolve falar de América Latina, marginalizados e transformação social. Esse tipo de comunicação, que sofre um boom nas décadas de 60, 70 e 80 do século passado, devido ao contexto de ditadura, censura, repressão, empobrecimento da população e fortalecimento de movimentos sociais que permeava a realidade do continente, está longe de ser esgotada. A necessidade de se democratizar a informação na busca por promover transformações na sociedade atual fez com que alunos e pesquisadores de comunicação retomassem as discussões sobre a função social dos meios de comunicação e, trouxe à tona, no começo do século XXI, os anseios por cidadania e a temática da comunicação popular. Regina Festa (1986) realiza uma análise histórico-conjuntural e pontua, no Brasil, três fases distintas da vida política, econômica e social que registram três processos diferentes de comunicação popular e alternativa.. A primeira fase, que corresponde ao período de 68 a 78 [do século passado] – entre o AI-5 e a abertura política – caracteriza -se por uma comunicação de resistência, denúncia e acumulação de forças por parte das oposições; a segunda fase, de 78 a 82, período de explosão social, eleições nacionais, abrandamento das restrições políticas, caracteriza-se por projetos políticos mais definidos e pela existência de uma comunicação popular, multiplicadora de meios nas bases e pelo quase desaparecimento da comunicação alternativa; e o terceiro período, de 8283, caracteriza-se por uma atomização do processo de comunicação popular e alternativa na mesma medida que reflete a incapacidade das.

(26) 26 forças de oposição para articularem uma alternativa política à crise atual vivida pela sociedade brasileira (FESTA, 1986, p. 10).. O final dos anos 1960 e começo dos 70 foram marcados por espaços de resistência social. De um lado, a repressão direta e a censura aos meios de comunicação de massa tentavam bloquear as manifestações e as reivindicações populares, com o objetivo de impor um isolamento ao movimento de base e à sociedade civil como um todo. De outro lado, as próprias condições de marginalidade social e política, acrescidas à crescente pauperização das classes subalternas, construíam pólos de conflito e resistência (FESTA, 1986, p. 12).. Neste período, ainda segundo a autora (1986, p.12), a classe operária teve seus salários “corroídos” devido ao aumento do custo de vida. Os problemas sociais também se estenderam ao campo, em que famílias inteiras foram ou expulsas das terras pelo “capital nacional e multinacional” ou transformadas de trabalhadores rurais em empregados assalariados, “sem os mínimos direitos sociais”. Cerca de 40 milhões de brasileiro se espalharam pelo país procurando terra e emprego, sendo que grande parte dessa população se instalou em São Paulo, aumentando os problemas sociais que já eram muitos. Vinícius Caldeira Brant (apud FESTA, 1986, p. 12-13) analisa no livro “São Paulo: o povo em movimento”: Os atos de resistência constituíram por muito tempo uma sucessão de fatos isolados, cuja repetição se dava sob forma de reiteração heróica e, por vezes, suicida. Assim foi, inicialmente, com as manifestações estuda ntis de rua, com as poucas greves e manifestações operárias, com os desafios à censura por parte de jornalistas e artistas, com os discursos de denúncia ou protesto de alguns parlamentares, com as homilias ou declarações públicas de clérigos ou membros da hierarquia eclesiástica em momentos de especial importância.. MOTTA (1987, p. 38) localiza no ano de 1980, a situação propícia para o surgimento da comunicação popular. Demonstra a contradição econômica existente na sociedade ao apontar que neste ano, 76% das casas no país possuíam ao menos um aparelho de rádio, e 55% pelo menos uma televisão, enquanto em apenas 67,3% dos domicílio s tinha energia rede elétrica, 53,2% possuía água encanada e 26,2% possuía rede de esgotos. Vale.

(27) 27 lembrar, ainda, que o desenvolvimento dos meios de comunicação e o rápido crescimento das empresas de comunicação observado nesse período, não garantiam espaço de produção de mensagens para as camadas mais baixas da população, não satisfazendo suas necessidades de reivindicação e informação “[...] a grande maioria da população participa deste processo social de comunicação apenas como passivos receptores, sem capacidade ou possibilidades de resposta” (MOTTA, 1987, p. 40). Acentuam-se duas fortes contradições para ele: Primeira, aumenta a oferta de informação, mas não se satisfazem as necessidades de comunicação; segunda, cresce o número de domicílios com rádio e TV e aumenta progressivamente o número de horas que a população se expõe a estes meios, mas continua faltando água encanada, rede de esgotos e muitas outras necessidades fundamentais para a sobrevivência da população (MOTTA, 1987, p. 39).. No processo de concentração de capital e dos meios de comunicação, as informações oferecidas pelos meios de comunicação de massa já não refletiam o cotidiano das pessoas comuns. Funcionavam mais como passatempo e distração e representavam os interesses da classe dominante. Num momento em que poucos gozavam de poder político e econômico e a maioria da população passava por problemas quanto à própria sobrevivência, apesar da forte repressão, os movimentos sociais surgem reivindicando espaços, denunciando e mobilizando as forças de oposição em busca de transformação social. Os movimentos sociais deram suporte às classes mais pobres da população, que lutavam por sobrevivência e mobilização para enfrentarem os problemas sociais em que estavam inseridas. Os movimentos sociais não ocorrem por acaso. Eles têm origem nas contradições sociais que levam parcelas ou toda uma população a buscar formas de conquistar ou reconquistar espaços democráticos negados pela classe no poder [...] Nesse sentido, os movimentos sociais estruturam-se de acordo com a conjuntura, com interesses de grupos específicos, classes ou extrações de classes e em torno de projetos alternativos de sociedade (FESTA, 1986, p. 11)..

(28) 28 Maria da Glória Gohn (2003, p. 189), destaca a importância dessas entidades para a sociedade atual e a necessidade de mudar a forma como esse tipo de organização é vista. Os movimentos são elementos fundamentais na sociedade moderna, agentes construtores de uma nova ordem social e não agentes de perturbação da ordem, como as antigas análises conservadoras escritas nos manuais antigos, ou como ainda são tratados na atualidade por políticos tradicionais.. Havia entre os excluídos a necessidade e vontade de transformação social. Sentimentos como solidariedade, fé e esperança exigiam, porém, ações concretas que pudessem romper com os problemas vigentes. O contexto de Regimes Ditatoriais autoritários, de censura, cerceamento dos direitos, tortura entre tantos outros problemas, garantia à sociedade anseios de alteração daquela realidade. Foi nesse período que as CEBs (Comunidades Eclesiais de Base), ligadas à Igreja Católica surgem aos milhares em todo o país. “Inegavelmente, o cristianismo, de modo particular a Igreja Católica, teve papel preponderante no desenvolvimento das idéias comunicacionais da América Latina” (GOMES, 2004, p. 237). Principalmente no que dizia respeito à comunicação popular-alternativa. A Campanha da Fraternidade ganhou densidade a partir do momento em que a Igreja, vítima, em seus membros da repressão do Estado autoritário, começou a ouvir o clamor de seu povo. Rapidamente os temas da Campanha passaram, a partir de 1968, a traduzir o sofrimento do oprimido, construindo na consciência dos fiéis recém-saídos de um catolicismo intimista, os referenciais simbólicos necessários para a aceitação da nova postura que incluía a defesa das reformas estruturais na sociedade e a defesa da própria liberdade de pensamento e expressão. Isso ocasionou, da parte de numerosas dioceses, o apoio às práticas da comunicação alternativa, principalmente aquelas surgidas, nas décadas de 1970, do Movimento Popular. (GOMES, 2004, p. 248).. A luta da Igreja nos anos 1970 e 1980 era por uma comunicação mais igualitária, acessível e disponível para todos os estratos sociais. SOARES (1988, p.56) disponibiliza em seu texto, um trecho da Carta aos comunicadores, de 3 de junho de 1984, falando sobre esse tipo de comunicação..

(29) 29 Uma comunicação autêntica e libertadora somente pode existir se for dialógica, privilegiando não mais o pólo emissor do processo de emissão de mensagens, mas o pólo receptor. Neste caso, o “dialógico” não diz respeito apenas à possível troca de informações entre interlocutores, mas ao próprio lugar social de onde se produz a comunicação e dos interesses que se defende.. Dentro dos movimentos sociais, promoveu-se o desenvolvimento de formas alternativas de comunicação, com conteúdos próprios, no intuito de conquistarem um espaço de expressão. Nessa perspectiva, a comunicação popular, que hoje chamamos de comunitária, surge e se desenvolve articulada aos movimentos sociais como canal de expressão e meio de mobilização e conscientização das populações residentes em bairros periféricos e submetidas a carências de toda espécie; de escolas, postos de saúde, moradia digna, transporte, alimentação e outros bens de uso coletivo e pessoal, em razão dos baixos salários ou do desemprego (PERUZZO, 2003, p. 247).. Luiz Motta (1987) e Regina Festa (1986) localizam o nascimento efetivo da comunicação popular no Brasil entre os anos de 1978 e 1982, a partir dos movimentos sociais. “No nosso entender, a comunicação popular no Brasil nasce efetivamente a partir dos movimentos sociais, mas, sobretudo da emergência do movimento operário e sindical, tanto na cidade como no campo” (FESTA, 1986, p. 25). A autora aponta cinco experiências-reflexos desse tipo de comunicação:. a) Imprensa sindical diária: o movimento operário introduz, sobretudo nas greves do ABC, os suplementos diários distribuídos a partir dos sindicatos, nas portas das fábricas, de mão em mão. “Quem introduz essa inovação é o Tribuna Metalúrgica, jornal do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema (SP), a partir de 79 e circula até hoje” (FESTA, 1986, p. 25). É nesse período que pequenos jornais e boletins voltados às reivindicações do operariado surgem por todos os lados.. b) A imprensa chega ao campo: essa atitude se dá principalmente devido ao trabalho da Comissão Pastoral da Terra, jornais e boletins publicados pelos centros de educação popular, da corrente sindical e da Confederação Nacional dos Trabalhadores Agrícolas (CONTAG). Os jornais da CPT, como afirma Festa (1986,.

(30) 30 p. 26) que atingem a zona rural dão origem a outras publicações desenvolvidas pelos. sindicatos rurais, como Enxadão, A Foice, O Picareta da Justiça e o Lamparina, todos provenientes de sindicatos de trabalhadores rurais.. c) Leitura crítica dos meios de comunicação de massa: em 1978, meio às greves, aparece o Jornal dos Jornais (JJ), intitulando-se “leitura política da grande imprensa”. Funcionando como um observatório da imprensa, o JJ montava publicações com títulos e fragmentos do que fora publicado na grande imprensa, fazendo críticas ao conteúdo e forma de abordagem das notícias.. d) O Núcleo de Serviços de Correspondência, primeira agência popular de informação: constituído em agosto de 1980, tinha o intuito de ser “canal de divulgação para que os grupos populares, da cidade e do campo, pudessem trocar suas experiências, notícias e documentação escrita por eles mesmos” (FESTA, 1986, p. 27 ).. e) Experiências concretas de comunicação popular se multiplicaram neste período: surge, por exemplo, o cinema comprometido, tendo alguns filmes filmados com apoio dos operários; o Jornalivro, um jornal que divulgava obras escolhidas por trabalhadores; a recriação dos cineclubes, os teatros com cunho político-ideológico apoiando o movimento popular, entre outros.. Além das dificuldades enfrentadas pelo proletariado neste período, - pobreza, miséria, falta de condições dignas de trabalho etc – que emergiram com o surgimento da sociedade pós-moderna, pesquisadores como Armand Mattelart, Luis Beltrán, Louis Althusser e Paulo Freire, se voltavam para denunciar a existência de uma comunicação dominante, impositiva e manipuladora, em que o fluxo de informação é unilateral e alienante para o receptor. Para Freire os meios de comunicação de massa são propagadores dos mitos, normas e valores das minorias oligárquicas e, como tais, instrumentos da comunicação vertical e alienante, encarregados de auxiliar na subjugação dos oprimidos (BELTRÁN , 1981 p. 26)..

(31) 31 A relação de exploração e controle percebida entre as classes sociais, existia, segundo Beltrán (1981, p. 23), também entre países dominadores e dominados. Desde então, o grande vilão imperialista eram os Estados Unidos, apontados pelos críticos como exportador não só dos bens de consumo, mas também do American way of life 3 , enquanto do outro lado estavam os países da América Latina com altos índices de desemprego, fome, mortalidade infantil, suscetíveis aos bens simbólicos estadunidenses e economicamente dependentes. O pensar na dependência dos países subdesenvolvidos, inclusive dependência cultural - que engloba a comunicação -, pediu dos latino -americanos que levassem em conta toda a estrutura de dominação que os envolvia. Assim percebida, a comunicação não é questão técnica a ser tratada de forma asséptica, fora da estrutura econômica, política e cultural da sociedade. Trata-se de uma questão política amplamente determinada por essa estrutura e que, por sua vez, contribui para a sua continuidade. Assim, a busca da saída para essa situação dirige-se à mudança da comunicação vertical/antidemocrática para a horizontal/democrática (BELTRÁN, 1981, p. 28).. O imperialismo cultural é criticado fortemente por pesquisadores influenciados pela Escola de Frankfurt e com ele, a comunicação dominadora. O uso da comunicação [na América Latina] se faz, em geral, em forma tão antidemocrática que chega a se chamar “comunicação vertical”, segundo Pasquali, Freire e Gerace. E o que acontece entre as classes sociais em todos os países da América Latina, também se passa entre eles – uma sociedade dependente – e os Estados Unidos da América, seu dominador externo. Em ambos os casos, os poderosos dominam os sem poder, com a ajuda da comunicação (BELTRÁN, 1981, p. 23).. O desenho que se faz da sociedade naquele momento, leva em consideração a realidade de pobreza em que vivia a população e a existência de meios de comunicação de massa que não retratam seu dia-a-dia. Além disso, estudiosos da comunicação se dedicam a analisar a comunicação de massa e indústria cultural, influenciados pela Escola de. 3. A expressão “The American way of life” ficou amplamente conhecida como a tentativa dos Estados Unidos de implantarem seu modo americano de vida, ou seja, a forma como eles se vestem, comem e se divertem a países sub desenvolvidos, que seria o caso dos latino-americanos..

(32) 32 Frankfurt com uma visão negativa e demonizadora da mídia. Essa tendência conforme destaca Beltrán, (1981, p. 21) foi muito comum na América Latina. Os latino-americanos são enfáticos a respeito das influências alienantes da comunicação de massa. A pesquisa documentou amplamente a enorme influência da orientação, conteúdo e financiamento norteamericano sobre os meios de comunicação de massa da região. Vários estudos descobriram uma série de inculcação de valores estrangeiros e de normas voltadas à promoção de todo “um modo de vida”: a ideologia capitalista.. Diante das denúncias realizadas em torno da comunicação de massa, vista como a comunicação que aliena o receptor e o faz um ser passivo, como a comunicação que transmite ideologias dominantes e que não garante espaço para as minorias 4 , a população se mobiliza em torno à democratização da informação, o acesso à produção dos conteúdos midiáticos pelos marginalizados e a transformação social da América Latina e dos excluídos. Algumas das experiências na luta por voz utilizavam-se da conscientização interpessoal, enquanto outras apoiavam-se em meios de comunicação de massa como as unidades móveis de vídeo-teipe para educação rural não- formal no Peru, o método do Cassete- foro no Uruguai desenvolvido por Mario Kaplún; e outras, ainda, que se utilizavam de meios simples, como periódicos comunitários e sistemas de alto-falantes que, segundo MATA et al (apud BELTRÁN, 1981, p. 29) estava “convertendo favelados em comunicadores ativos e autônomos”. Conforme explicita Cicilia Peruzzo (1995, p. 37) A Comunicação Popular é portadora de um conteúdo crítico da realidade e reivindica a construção de uma sociedade mais justa. Como produto de uma situação concreta , seu conteúdo nos últimos anos é essencialmente composto por denúncias sobre as condições reais de vida, críticas às 4. Fazendo um parêntese nessa discussão, destaca-se conquanto a evolução dos estudos sobre a “comunicação dominadora e alienante”, que antes apontavam para a influência negativa dos meios de comunicação de massa para a sociedade, e, atualmente sofreram diversas reformulações. Já não se aceita totalmente o poder manipulador e incontestável dos meios de comunicação de massa. Já em 1987, Grinberg (p. 31) questionava essa postura. “Se os meios fossem, porém, realmente esses maravilhosos reprodutores da submissão, esses todo-poderosos conformadores de consciências, a ordem social seria inamovível. Neste caso, deveria ser fechada, com resignação fatalista, toda a possibilidade de mudança; teríamos que renunciar a todo projeto, por modesto que fosse, no sentido de construir as pontes para a democratização das estruturas econômicas, políticas e sociais, e, por conseguinte, das próprias estruturas de comunicação”..

(33) 33 estruturas de poder geradoras das desigualdades, convite à participação e organização, reivindicações de acesso a bens de consumo coletivo etc.. Também retomando os conceitos de comunicação popular, Beltrán (1981, p. 32) destaca algumas considerações operacionais. Dentre elas, ressalta que “o processo livre e igualitário da comunicação acesso-diálogo-participação faz-se sobre a estrutura da comunicação direitos-necessidades-recursos e se dirige à realização de propósitos múltiplos”. Enfocando a questão do acesso, afirma ser este “a pré-condição da comunicação horizontal. Pois sem que as pessoas tenham oportunidades semelhantes para a recepção de mensagens, não pode haver interação social democrática”. A última consideração feita pelo autor, é a respeito do diálogo. O diálogo é o eixo da comunicação horizontal porque, se o objetivo é a genuína interação democrática, todas as pessoas deveriam ter oportunidades semelhantes para emitir e receber mensagens com o propósito de se evitar o monopólio da palavra no monólogo. Dado que, sob tal perspectiva, estes papéis opostos são incluídos num constante desempenho atual, em que todos os participantes no processo da comunicação devessem identificar-se como “comunicadores”, segundo a correta proposta de Harms Richstad. Dessa maneira, torna-se inadequada a diferença que se costumava fazer entre as duas opções separadas, “fonte” e “receptor” (BELTRÁN, 1981, p. 32-33).. Discutindo o termo comunicação popular, apoiamo-nos nas pesquisas de Peruzzo (2004, p. 118 e 119), em quem encontramos três correntes da Comunicação Popular:. 1. Popular-folclórico: “abarca o universo de expressões tradicionais e genuínas do “povo”, presentes em manifestações folclóricas, festas, danças, ritos, crenças, costumes, objetos etc”.. 2. Popular- massivo: essa segunda corrente situa-se no universo da indústria cultural dividindo-se em três linhas que se definem pela forma como o “popular é visto”. a) na apropriação das características da cultura do povo pelos meios de comunicação; b) em programas com altos índices de penetração e audiência, mais caracterizados como “popularescos”; e.

(34) 34 c) em programas massivos mais engajados com as problemáticas comunitárias, dando espaço aos que dele quiserem se utilizar para disseminar informações de utilidade pública.. 3. Popular-alternativo, que pode se dividir em duas linhas de pensamento: a) a primeira surgida logo no início dos anos oitenta, concebe a comunicação popular como libertadora, revolucionária, portadora de conteúdos críticos e reivindicativos capazes de conduzir à transformação social; ela concretizar-se-ia pelos meios “alternativos”, como contracomunicação da cultura subalterna, colocada em antagonismo com a comunicação de massa; é chamada de “populista esquerdizante” por Jorge Gonzáles; b) a segunda, que apareceu no início dos anos noventa em função das reelaborações ocorridas no âmbito da sociedade civil, tem uma postura mais dialética e mais flexível; considera que a comunicação popular pode inferir modificações em nível de cultura e contribuir para a democratização dos meios comunicacionais e da sociedade, a cuja transformação imediata ela não consegue levar, por suas limitações e contradições e sua inserção numa grande diversidade cultural; e, por concretizar-se em espaço próprio, ela não se contrapõe à comunicação massiva (PERUZZO, 2004, p. 119).. É da terceira corrente (popular-alternativa) que trataremos nesse trabalho. A estas formas alternativas de comunicação se convencionou chamar de comunicação popular, uma comunicação feita pelo povo e para o povo. Ela tem um nítido caráter de classe na medida em que expressa os interesses de um determinado grupo social no seu conflito pela sobrevivência, no seu enfrentamento da dominação política, cultural e econômica. [...] Neste caso, são formas de comunicação espontâneas, que nascem das necessidades imediatas dos grupos populares se orientarem nas relações de produção e reprodução, na vida econômica. Em outras circunstâncias podem assumir um caráter mais político de enfrentamento e de resistência frente à imposição massiva ou de afirmação de identidade popular (MOTTA, 1987, p. 42).. Cientes das limitações da comunicação produzida pelos movimentos sociais populares, referenciamos PERUZZO (2004, p. 149-154), buscando abandonar uma visão utópica desse tipo de comunicação:. 1.. Abrangência reduzida – os meios atingem apenas uma parcela reduzida da. população de um bairro por exemplo. Se seu canal é o meio impresso, as dificuldades são.

(35) 35 de reproduzir grandes tiragens e se são com veículos sonoros ou visuais, seu alcance não é muito potencializado, devido à falta de recursos materiais; 2.. Inadequação dos meios – utilização de veículos sem conhecimento do. público-alvo. Com jornais impressos por exemplo, em comunidades de maioria analfabeta ou com sistemas de alto-falantes em horário inadequado para a realidade daquela comunidade; 3.. Uso restrito dos veículos – os movimentos populares preferem se utilizar da. comunicação interpessoal e grupal a buscar outros espaços que possam lhes garantir maior alcance. “N o Brasil, não existe, até agora, uma mobilização mais ampla em torno da reivindicação de acesso à concessão de emissoras de rádio e televisão comunitárias locais” (PERUZZO, 2004, p.150); 4.. Pouca variedade – as organizações e os movimentos populares se utilizam de. poucos tipos de veículos, escolhendo um ou outro. Esses meios poderiam ser complementares uns aos outros, o que os tornaria mais dinâmicos, participativos e certamente aumentaria sua potencialidade comunicativa e, consequentemente, seu sucesso, devido ao enraizamento na cultura; 5.. Falta de competência técnica - além de uma utilização reduzida dos veículos,. no que diz respeito ao seu alcance, ela o é feito de forma pouco competente. Devido à falta de capacitação dos “produtores”, os conteúdos são muitas vezes desatualizados, inadequados ao meio, com voz de difícil audição ou linguajar de difícil compreensão para aqueles receptores; 6.. Conteúdo mal explorado – as limitações em relação ao conteúdo da. comunicação popular escrita e de áudio são gritantes, tanto na linguagem quanto na variedade da programação ou dos materiais divulgados. No que diz respeito à primeira, ela é quase sempre dura e pesada. Talvez devido ao afã de “conscientizar” a qualquer custo e rapidamente, transmitem-se discursos abstratos, prepotentes, panfletários ou doutrinários; 7.. Instrumentalização – Com o tom pesado relaciona-se a instrumentalização. que se faz dos meios de comunicação populares. Ou seja, eles geralmente são utilizados para um fim, como a conscientização / mobilização / transformação da sociedade e, ao mesmo tempo, negam-se, em partes, suas características e as mediações do contexto. Se o uso de meios de comunicação populares decorre das necessidades de expressão,.

(36) 36 conscientização e mobilização, justifica-se o empenho no sentido de que sejam aceitos por parte dos públicos a que se destinam. Nesta perspectiva, não há como fazer pouco-caso da demanda pela mídia massiva. Em outras palavras, se o instrumento é o rádio, não se pode desprezar a contribuição das emissoras come rciais que fazem sucesso, na montagem de uma boa programação, que atenda aos interesses da comunidade; 8.. Carência de recursos financeiros – é um dos grandes problemas das. organizações populares. Se, muitas vezes, as pessoas não têm dinheiro nem para se deslocar até a sede do movimento e freqüentar reuniões, é difícil fomentar veículos apoiados por recursos financeiros da própria comunidade. O problema financeiro é um complicador da comunicação popular, podendo tanto pôr em risco sua geração como até mesmo inviabilizar sua continuidade, pois a auto-sustentação, que seria um dos pilares de sua autonomia, é um problema de difícil solução; 9.. Uso emergencial – Há muitos casos de experiências comunicativas com. características de emergência, faltando-lhes continuidade e estruturação adequada; 10.. Ingerências políticas – sempre existe o risco de as iniciativas comunitárias. serem utilizadas com objetivos particulares ou político-eleitorais, desviando-as de suas finalidades e conturbando todo o processo. Cresce a tendência nesse sentido; 11.. Participação desigual – Apesar de não dispormos de dados de pesquisas,. podemos afirmar com segurança que, na maioria das práticas brasileiras de comunicação popular, a produção de mensagens, o planejamento e a gestão dos meios se centralizam em poucas mãos. Além de envolver o risco de controle de informação e do poder, entre outras implicações, isso favorece a reprodução de padrões de dominação e uma contradição da prática participativa mais ampla dos movimentos.. Apesar das limitações apresentadas por Cicilia Peruzzo nestes 11 tópicos acima, a autora reconhece (2004, p. 155) que existem experiências avançadas de comunicação popular “que envolvendo efetivamente a participação conjunta, contribuem para uma comunicação popular realmente útil ao processo de educação para a cidadania, encerrando um significado político inovador”. Este significado citado pela autora pode ser observado em algumas características que, contrapondo com as limitações, ela chama de aspectos positivos. São eles, segundo PERUZZO (2004, p. 155-158):.

Referências

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