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Alcoolismo, uso de entorpecentes, violência e suicídio juvenil

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CAPÍTULO II – A realidade social vivida pelos indígenas em Dourados/MS e sua abordagem pela mídia

6. Conflitos internos:

6.3. Alcoolismo, uso de entorpecentes, violência e suicídio juvenil

Cada dia é mais difícil ser jovem entre tantos riscos e prazeres expostos na atualidade. Ser jovem indígena Guarani ou Kaiowá na Reserva de Dourados é suficiente para tornar a realidade ainda mais complexa.

A utilização de álcool e drogas aliada à violência, discriminação social, desemprego, falta de expectativa de vida e a rejeição por seus familiares e parceiros, faz com que o dia- a-dia dos jovens seja uma luta constante contra a morte. Que quando não provocada pelos conflitos internos apresenta-se em forma de suicídio.

Dados fornecidos pela Comissão Pró-Índio de SP, Procuradoria Geral da República da 3ª Região, a Silze Nara Giraldelli, que estudou “Apectos psicossociais do suicídio praticado pelos índios Guarani/Kaiowá na Reserva Indígena de Dourados”, registram números capazes de ilustrar essa realidade.

TABELA 1

Quadro de suicídios praticados por índios Guarani/Kaiowá no Mato Grosso do Sul Ano 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 Total Casos 05 08 01 07 34 23 21 26 24 56 26 29 29 16 305 Fonte: Comissão Pró-Índio de SP (apud GIRALDELLI, 2004, p. 61).

No levantamento de 13 anos, pôde-se constatar 305 mortes por suicídios no estado entre os Guarani/Kaio wá, sendo o ano de 1995 o mais alarmante até então, destacando 56 suicídios.

Quando trazemos esses dados para a cidade de Dourados, os números não são mais otimistas. Em sete anos, de 1992 a 1999, foram registrados 81 suicídios, sendo 52 de indígenas do se xo masculino e 29 do sexo feminino. Pode-se ainda destacar que os menores de 25 anos são os que mais sofrem com esse tipo de patologia social.

Refletindo o quadro do Estado, nota-se no ano de 95 um aumento significativo dos suicídios: 21 casos são registrados. “O método mais usualmente empregado é a asfixia mecânica ou enforcamento, havendo também vários casos de envenenamento” (GIRALDELLI, 2004, p. 63).

TABELA 2

Quadro de suicídios praticados por índios Guarani/Kaiowá em Dourados / MS, entre 1992 e 1999, por gênero e idade

Área 92 93 94 95 96 97 98 99 Total M F Até 25 anos Mais de 25 anos Dourados 11 14 09 21 05 08 07 06 81 52 29 45 36 Fonte: Comissão Pró-Índio de SP (apud GIRALDELLI, 2004, p. 62).

Após esses dados colhidos pela Comissão Pró-Índio de São Paulo, o Conselho Indígena Missionário (CIMI) atualizou as pesquisas, apresentando um relatório sobre todos os aspectos que envolvem violência contra os indígenas do Brasil, de 2003 a 2005.

Quanto aos suicídios, de acordo com o documento (CONSELHO, 2005, p. 137- 140), os maiores índices apontados estão no Mato Grosso do Sul. No ano de 2003, quando se iniciam as análises, foram registrados entre os indígenas de todo o país 24 suicídios, sendo 22 deles no MS e sete na cidade de Dourados. Dentre os sete, todas as vítimas eram da etnia Guarani-Kaiowá e seis mortes foram registradas na aldeia Bororó, apenas uma, entre as sete, na Jaguapiru.

No ano de 2004, foi registrada uma queda no número de suicídios: 18 casos em todo o Brasil. O que chama a atenção, porém,é que todos os casos ocorreram no Mato Grosso do Sul, cinco, em Dourados. Todas as vítimas eram da etnia Guarani-Kaiowá. (CONSELHO, 2005, p. 140-141).

Já em 2005, houve novamente um aumento no número de suicídios: 31 no país todo, sendo 28 no Mato Grosso do Sul e sete em Dourados (CONSELHO, 2005, p. 141-145). Para facilitar a visualização dos dados, confira a tabela desenvolvida de acordo com o relatório.

TABELA 3

Quadro de suicídios no Brasil, MS e Dourados entre os anos de 2003 e 2005

Ano Suicídios no Brasil MS Dourados

2003 24 22 7

2004 18 18 5

2005 31 28 7

Fonte: Conselho Indígena Missionário (2005, p. 138-145).

Enfatizando que todos os suicídios foram registrados entre os Guarani-Kaiowá, diversos estudos vêm sendo desenvolvidos com o objetivo de explicar esse aspecto ao mesmo tempo desolador e intrigante, que parece fazer parte da cultura desse povo. A utilização do álcool e entorpecentes inseridos entre os indígenas, principalmente devido à proximidade com a cidade (cerca de oito quilômetros da aldeia), é uma das explicações.

O relatório do CIMI aponta, no ano de 2003, que duas das sete vítimas da cidade de Dourados estavam sob o efeito de álcool no momento do suicídio. Seis dos casos foram por enforcamento e um deles, envenenamento, através da ingestão de defensivo agrícola (CONSELHO, 2005, p. 138-140). Em 2004, foram cinco enforcamentos por motivos diversos. Um dos casos foi cometido pelo filho do cacique Valério Gonçalves, um jovem de 16 anos. Foi o terceiro filho do líder, que se suicidou.

Em 2005, das sete mortes registradas em Dourados, cinco foram por enforcamento e duas por ingestão de veneno: para ratos e para a lavoura. Dentre os casos, em um, houve o relato de ingestão de bebida alcoólica pelos familiares. Em outros dois, a ingestão não foi informada, porém houve o relato de que haviam saído de festas.

Dentre os pesquisadores que buscam as causas para as mortes está Maria de Lourdes Beldi de Alcântara, que envolveu-se com a Reserva de Dourados primeiramente com o objetivo de estudar o suicídio juvenil. “A maneira como realizavam, assim como a idade

dos jovens que o cometiam, eram e são assustadores. Sabia que minha permanência na RD necessitava ser longa e que, por meio da confiança, eu poderia entender o que estava acontecendo” (ALCÂNTARA, 2007a, p. 42).

Durante suas pesquisas, que resultaram no livro então estudado17, a pesquisadora entra em contato com diversos fatores que de certa forma estimulavam os suicídios na RD. Todos, porém, resultavam da não-existência de lugares de pertencimento por parte dos jovens indígenas: eles não se encontram dentro de sua própria comunidade. “Os jovens indígenas têm uma intensa circulação entre a Reserva e a cidade. Marcados, por um lado, pela discriminação dos não- índios e, por outro, por uma convivênc ia intensa com a cidade, esses jovens negociam, o tempo todo, suas identidades” (ALCÂNTARA, 2007a, p. 72-73).

Em outro momento a autora chama a atenção para uma alteração nas interações sociais, que dizem respeito ao casamento, que vêm sendo averiguadas atualmente.

Habitando uma reserva que abriga duas etnias, Aruák e Guarani, esses jovens têm como principais características o casamento entre si, carregando consigo toda a história de conflito entre as duas etnias que marca essa reserva. Além disso, há o fato de estarem se casando mais velhos, o que cria uma categoria social não existente: a de jovens solteiros.

Tentando negociar um lugar, esses jovens entram em conflito com os mais velhos e passam a ser culpados por tudo de ruim que acontece. Tornam-se o bode expiatório de todos os males e os responsáveis pelo “final dos tempos”, segundo os anciãos (ALCÂNTARA, 2007a, p. 77).

A não existência de um núcleo familiar sólido e que garanta apoio aos jovens indígenas, passa a ser um outro motivo para os suicídios. “Diante dessa truncada comunicação entre as relações sociais, os jovens indígenas sofrem profundas desilusões emocionais, chegando, em vários casos, a cometer suicídio, pois sentem-se alheios a qualquer vínculo familiar” (ALCÂNTARA, 2007a, p.84).

Um fato relevante, apontado por Giraldelli (2004, p. 65), diz respeito a maior incidência de suicídios entre os Kaiowá. Assim afirma:

17

ALCÂNTARA, Maria de Lourdes Beldi de. Jovens indígenas e lugares de pertencimento: análise dos jovens indígenas da Reserva de Dourados/MS. São Paulo: Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Laboratório de Estudos do Imaginário, 2007.

No que diz respeito à problemática Guarani/Kaiowá o que chama a atenção é o fato dos suicídios ocorrerem predominantemente entre os Kaiowá do Mato Grosso do Sul e do Paraguai. Em menor proporção, a auto-agressão ocorre também entre os Ñhandeva, não havendo registros entre os M´byá. Diversas hipóteses foram levantadas na tentativa de esclarecer o fenômeno (disputa entre grupos familiares, frustração no desempenho de papéis sociais, impossibilidade de consumir, alto consumo de bebidas alcoólicas, proselitismo cristão, escassez de terras, confinamento nas aldeias), entretanto nenhuma delas parece responder adequadamente à questão, já que os Guaranis enfrentam essas dificuldades há muito tempo e que índios de outras etnias sofrem com os mesmos problemas e nem por isso recorrer ao suicídio para escapar aos problemas ou pressionar o governo.

O fato de que em muitos casos de suicídio os jovens estavam bêbados, levou Maria de Lourdes Beldi de Alcântara a tentar entender o porquê da grande ingestão de bebidas alcoólicas pelos jovens. Relatando diálogos com os indígenas ela nos mostra que ao consumirem o álcool eles se sentem num outro mundo onde não sentem dor.

O “não sentir dor” está associado à tristeza, estado que descrevem como doentio, já que está associada ao feitiço. Isso, na maioria das vezes, pode levar ao suicídio. Esse tipo de doença é esquecido a partir do momento em que bebem – “não tenho medo e passo a enfrentar qualquer um”. O estado de embriaguez, segundo o relato dos jovens, faz com que se perca a consciência. Com isso o corpo é abandonado, deixando-os expostos à entrada de qualquer espírito; nesse caso, ao anã , espírito do mal, assumindo, assim, outra identidade que, ao mesmo tempo em que é temida, é desejada, porque o transforma em uma pessoa diferente – “sem dor e corajosa”. Em muitos casos de suicídios, os jovens estavam bêbados. Segundo eles: “é necessário beber para que tenhamos coragem de nos matar” (ALCÂNTARA, 2007a, p.87-88).

Em um outro momento, a autora também relata o fato de que os mais velhos vêem na educação uma chance de os filhos terem mais acesso ao mundo dos não- índios, e querem que eles permaneçam na aldeia, estudando ao invés de trabalhar. Relata porém (ALCÂNTARA, 2007a, p. 81) que sem trabalho os jovens não conquistam sua independência financeira e vêem o estudo como atraso de vida.

O sair da RD para trabalhar como se fosse um lugar de passagem [para tornarem-se adultos] não é reconhecido pelos mais velhos causando uma grande tensão entre os familiares e os mais jovens. Isso resulta em alguns suicídios. O último foi o do filho de um cacique, que falsificou sua carteira de identidade para trabalhar na

usina. Seu pai o proibiu de ir. Na manhã seguinte, o jovem foi encontrado enforcado na casa de reza do pai. (ALCÂNTARA, 2007a, p.81-82).

Transcrevemos aqui um texto postado por uma Kaiowá de 17 anos, com o título “Por que os indígenas se suicidam??????????” no blog da AJI18. No texto ela fala sobre os suicídios, aponta as possíveis causas dos altos índices entre os jovens e fala ainda sobre a utilização de álcool e entorpecentes.

Isso é um dos assuntos muito delicados da aldeia, muitas vezes não temos uma resposta exata. Esse é o motivo que muitos historiadores, antropólogos vem estudar na aldeia, a pergunta é'' por que os indígenas se suícidam?''

Eu como índigena vivo com isso no meu dia-dia, e muitas vezes os índigenas se suícidam por problemas familiares, ou quando terminam um relacionamento. algums suícidios tem sido consequência da bebida alcóolica e das drogas, pois na aldeia no fim de semana os índigenas tem comprado bebidas com muita facilidade, pois na própia aldeia há pessoas que comercializam drogas e bebidas, essas pessoas trazem bebidas das cidades vizinhas para comercializarem na aldeia, muitas vezes viajam até o ''Paraguai '' para comercializarem drogas.

Há pontos em que há pessoas brancas que vem de noite e descarrega bebidas alcoólicas para serem comercializadas, e os própios índios comerciantes tem um lugar secreto onde guardam as bebidas. Isso é alguma das causas do suícidio onde as pessoas bebem e ficam lembrando de muitas coisas ruim que já aconteceu em sua vida, ou está acontecendo e se suícida.

Outra causa que sempre está em debate é, por falta de oportunidades onde não tem trabalho e as pessoas se envolvem com tráficos de drogas, ou qualquer outra coisa que possa dar dinheiro a essa pessoa. Onde mais adiante sofrem as consequências e se suíc idam.

Muitas vezes o feitiço a macumba é alvo dos suícidios, pois na aldeia está em alto o numero de pessoas que acreditam em feitiço, muitas vezes os(as) indios(as) quando não conseguem o amor da sua vida vão até os feiticeiros e mandam fazer o feitiço para a pessoa se suicidar ou seja muitas pessoas frequentam e acreditam no poder do feitiço e da macumba.

A questão da disputa pelas terras tanbém é uma das causas do suicídio. E isso na maioria das vezes são as causas suficientes para o não índio dizer que o indio é sujo, bêbado, vagabundo, eles não procuram nos entender e nos condena nos massacra dizem que somos selvagens. Há muitas coisas que deveriam ser melhoradas mas não temos oportunidades.

Mas ainda há esperança pois temos pessoas que lutam para ter um futuro melhor, uma vida digna, pois está mais que na hora de virar esta pagina!!!!!!!!! (POR QUE, 2007, p.1)

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Não bastassem os suicídios, que mantêm relação muito próxima com o uso de álcool, a violência nas aldeias também é motivo de preocupação. São verificadas mortes entre os indígenas com várias justificativas (roubo de dinheiro, da bicicleta etc), agressões físicas sem motivo, brigas entre jovens devido a fofocas entre outros.

As drogas também foram percebidas pela autora como grande parte do problema relacionado à violência. Uma indígena chamada apenas de Claudete, pela pesquisadora, dá seu depoimento, em que afirma que “as drogas são um grande problema vivido pela comunidade indígena”. Ela ilustra a afirmação, relatando o caso de um jovem usuário de drogas, cuja irmã procurou ajuda na casa de Claudete:

Uns dias atrás, a irmã dele veio até minha casa e disse que já não estava agüentando mais aquela situação. Seu irmão havia se drogado muito e ficou totalmente descontrolado, agressivo; começou a chutar tudo, não escutava ninguém pois estava muito dopado. Ele pegou a bicicleta dela, começou a chutar e a jogar no chão. Ela trouxe a bicicleta até a bicicletaria de meu pai para consertar e disse que, uma hora ou outra, ele vai acabar machucando alguém e que teme por seus filhos, pois tem um bebê e uma menina pequena. Nem seus pais têm controle sobre ele (CLAUDETE apud ALCÂNTARA, 2007, 89).

Relatos como esse se tornam cada vez mais comuns na aldeia, sendo incorporados como parte de seu dia-a-dia. Recentemente (julho de 2007), seis membros da AJI (Associação de Jovens Indígenas) participaram de um livro de fotografia organizado por Maria de Lourdes Beldi de Alcântara, contando com o apoio da IWGIA (International Work Group of Indigenous Affairs19), do LABI (Laboratório de Estudos do Imaginário) e NIME (Núcleo Interdisciplinar do Imaginário e Memória) da USP e Ministério da Cultura. Na publicação os indígenas foram convidados, a partir de uma oficina oferecida pelo fotógrafo italiano Andréa Ruggeri, a apresentarem a aldeia segundo seus pontos de vista. Sob o título “Nossos olhares”, entre paisagens, caracterização do povo, de seus saberes, das casas da aldeia, festas e trabalhos lá realizados, deparamo-nos com a presença já banalizada do álcool e das drogas entre os indígenas.

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Ernesto Raulio Gonçalves, 18 anos, Kaiowá, explica a escolha das fotos, apresentando-as da seguinte forma:

Olhar de formiga. Eu faço assim. Sabe por que eu quero tirar fotos assim, com olhar de formiga? Porque quero ser uma pequena pessoa para dar um passeio pela terra inteira.

Também gosto de tirar umas fotos de modelo, porque gosto de ver as meninas na moda.Gosto de tirar fotos das meninas mais lindas do palco, por isso tirei fotos de modelo e das minhas amigas, da minha irmã e da revista, porque tinha uma foto de moda. Também por isso tirei dos bêbados, pois é importante para mim. Lá na aldeia os homens não param de tomar pinga. Das moradias, tirei fotos porque quero escrever um texto para o jornal da AJI e mostrar que algumas pessoas ganharam casa e outras não ganharam casa.

Tirei fotos minhas, mesmo, porque também queria sair nas fotos (GONÇALVES apud ALCÂNTARA, 2007b, p. 20, grifo nosso).

Seguem as fotos tiradas por Ernesto Raulio Gonçalves:

Indígena consumindo bebida alcoólica e fotografado por jovem da aldeia (ALCÂNTARA, 2007b, p. 30)

Durante o dia, jovem indígena flagra dois homens alcoolizados (ALCÂNTARA, 2007b, p.46- 47)

Se por um lado alguns indígenas acham importante mostrar a realidade da aldeia, e gostam de fotografá- la, como Ernesto Gonçalves afirma ser importante pra ele, outros, talvez pela visão negativa que a cidade tem da aldeia, já não gostam tanto.

Cleberson Ferreira, 16 anos, Kaiowá, postou no blog da AJI: “Na minha opinião achei o livro mais ou menos, eu não gostei muito da figura dos dois índios bêbados brigando e uma garrafa de bebida alcoólica no meio deles. Já sabem que na aldeia existem muitos índios alcoólatras. Na minha opinião é isso. As outras fotos eu adorei, gostei muito desse livro”.

É certo que a presença de álcool e drogas na RD é favorecida pela curta distância que separa as aldeias da cidade (cerca de oito quilômetros), porém existem processos que facilitam a entrada desses produtos na reserva. Em entrevistas realizadas por uma das jovens da AJI, relatada por ALCÂNTARA (2007a, p. 88), as drogas (geralmente maconha misturada com pasta de cocaína) vêm da cidade ou são deixadas na fronteira da Reserva. A partir daí, os jovens indígenas tornam-se ‘mulas’, responsáveis pelo repasse. A fiscalização por falta de policiamento é outro problema apontado para a RD. “A venda e consumo de álcool e drogas estão presentes na Aldeia Bororó (MS), como foi relatado em 2004. Não há posto policial no local e a PM alega falta de estrutura para implantação” (CONSELHO, 2005, p. 147).

Diante desse problema foi implantado no Mato Grosso do Sul em 2004, a Operação Sucuri, que de acordo com o relatório “visava combater a entrada de álcool, drogas e armas nas comunidades” (2005, p. 180). Jovens indígenas que decidimos manter em sigilo por questões de segurança pessoal, nos disseram em entrevista que a Operação Sucuri poderia até ser positiva, mas é muito falha. A começar que são quatro seguranças para 12 mil índios, o que equivaleria a três mil homens pra cada segurança tomar conta. Além disso, os jovens destacam que as “pingas” recolhidas na aldeia ficam lá na Funai, expostas, porém, cerveja e vinho, que também são recolhidos, desapareçam. Os jovens revelaram que com o tempo, os seguranças tornaram-se amigos de alguns indígenas e organizam festas nos finais de semana, sendo que ficam encarregados de levar cerveja e vinho. Os jovens acreditam que as bebidas recolhidas, de uma forma ou outra voltam para a RD.

Além de relacionar-se com os casos de suicídio, o consumo de álcool e entorpecentes tem sido impulso para o aumento da violência doméstica nas aldeias, atingindo principalmente mulheres e crianças. Faz-se necessário, portanto, maior controle e fiscalização com relação à banalização e consumo desses produtos na RD.

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