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Veículos de tração animal no Distrito Federal : dos invisíveis ao paradigma da governança ambiental como trilha para construção de um ideário socioambiental e respeito a todas as formas de vida

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Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa

Stricto Sensu em Planejamento e Gestão Ambiental

VEÍCULOS DE TRAÇÃO ANIMAL NO DISTRITO FEDERAL:

DOS INVISÍVEIS AO PARADIGMA DA GOVERNANÇA

AMBIENTAL COMO TRILHA PARA CONSTRUÇÃO DE UM

IDEÁRIO SOCIOAMBIENTAL E RESPEITO A TODAS AS

FORMAS DE VIDA

Brasília - DF

2011

(2)

MARIA CRISTINA TORRES DA SILVA

VEÍCULOS DE TRAÇÃO ANIMAL NO DISTRITO FEDERAL: DOS INVISÍVEIS AO PARADIGMA DA GOVERNANÇA AMBIENTAL COMO TRILHA PARA CONSTRUÇÃO DE UM IDEÁRIO SOCIOAMBIENTAL E RESPEITO A TODAS AS

FORMAS DE VIDA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Planejamento e Gestão Ambiental da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para a obtenção do título de mestre em Planejamento e Gestão Ambiental.

Orientador: Prof.Dr. Paulo Ricardo da Rocha Araujo

(3)

Ficha elaborada pela Biblioteca Pós-Graduação da UCB

05/12/2011

S586v Silva, Maria Cristina Torres da.

Veículos de tração animal no Distrito Federal: dos invisíveis ao paradigma da governança ambiental como trilha para construção de um ideário socioambiental e respeito a todas as formas de vida. / Maria Cristina Torres da Silva – 2011.

177f. : il.; 30 cm

Dissertação (mestrado) – Universidade Católica de Brasília, 2011. Orientação: Paulo Ricardo da Rocha Araujo

1. Tração animal. 2. Veículos. 3. Ética ambiental. 4. Exclusão social. I. Araujo, Paulo Ricardo da Rocha da Rocha, orient. II. Título.

(4)

Dissertação de autoria de Maria Cristina Torres da Silva, intitulada “VEÍCULOS DE TRAÇÃO ANIMAL NO DISTRITO FEDERAL: DOS INVISÍVEIS AO PARADIGMA DA GOVERNANÇA AMBIENTAL COMO TRILHA PARA CONSTRUÇÃO DE UM

IDEÁRIO SOCIOAMBIENTAL E RESPEITO A TODAS AS FORMAS DE VIDA”, apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Planejamento e Gestão Ambiental da Universidade Católica de Brasília, em 24 de novembro de 2011, defendida e aprovada pela banca examinadora abaixo assinante:

_____________________________________________________________ Prof. Dr. Paulo Ricardo da Rocha Araujo

Orientador

Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Planejamento e Gestão Ambiental - UCB

_____________________________________________________________ Prof. Dr. Genebaldo Freire Dias

Examinador interno

Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Planejamento e Gestão Ambiental – UCB

_____________________________________________________________ Prof. Dr. Luiz Fernando Macedo Bessa

Examinador externo

Programa de Pós-Graduação em Administração – UnB

_____________________________________________________________ Prof. Dr. Douglas José da Silva

Suplente

Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Planejamento e Gestão Ambiental – UCB

(5)

Dedico este estudo aos meus pais José e Clara e aos irmãos Maurício, Marília e Maria do Carmo (Bá) (in memoriam) e ao irmão presente e parceiro Antônio.

Aos amigos que percorreram comigo a trilha do mestrado, em especial a Jussara, Mariana, Olga, Juliane, Stella e Geraldo.

(6)

Agradecer é um movimento de profunda alegria. Nem sempre as palavras conseguem expressar a intensidade de tal gesto, posto que o olhar não alcança a um só tempo e espaço a tantos rostos, pensamentos e mãos estendidas. Ai vai o meu muito obrigada:

Ao Prof.Dr. Paulo Ricardo da Rocha Araújo pela dedicação, amizade fraterna e orientações precisas, emocionais e polêmicas – todas carregaram de sentido esta difícil e necessária reflexão.

Aos Professores que viabilizaram esta caminhada. Em especial Dr. Luiz Fernando Macedo Bessa, Dr. Ricardo Seixas Brites, Dr. Genebaldo Freire Dias.

Aos amigos de todas as horas – em especial Marcia Zizzi, Adenilde, Fernando, Ednéa Jussara e Rosana.

Aos amigos e parceiros da WSPA. Em especial Ana Nira, Mara, Ingrid, Charli e Elizabeth.

Ao jornalista Antonio Augusto Silva pelos ensinamentos e pelas portas abertas. Às educadoras e crianças da EC 206 Sul, parceiras do projeto Janelas e a todas as educadoras que acreditaram no Escola é o Bicho, em especial Giselle Sprovieri.

(7)

“Tome partido. A neutralidade ajuda o opressor, nunca a vítima. O silêncio encoraja o algoz, nunca o oprimido.”

(8)

O Distrito Federal é um exemplo das contradições e contrastes que emergem dos processos migratórios com adensamento e expansão da malha urbana – fruto de um modelo perverso de desenvolvimento econômico. Parte do contingente de migrantes, excluídos do mercado formal recorre aos chamados Veículos de Tração Animal (VTAs) como fonte alternativa para gerar renda a partir do trabalho de catação de resíduos. Esta pesquisa aborda o processo desencadeado com a decisão administrativado Governo do Distrito Federal, em 2006, de proibir o trânsito dos VTAs na região do Plano Piloto, área tombada pela UNESCO como Patrimônio Cultural da Humanidade, como também a regulamentação desses veículos nas demais regiões administrativas. Tal decisão governamental se deu no bojo de um programa inicialmente intitulado “Brasília Cartão Postal”, cujo nome passou a ser “Brasília Cidade Limpa”. O estudo faz uma reflexão de tal contexto, observando quatro categorias de atores sociais – Poder Público, instituições não governamentais, carroceiros e população. A partir desse olhar interessa saber se a gestão dos VTAs evidencia um processo de governança ambiental. Qual o estado da arte das políticas públicas no que concerne aos carroceiros e aos animais de tração? Como pano de fundo, a pesquisa destaca dois grandes eixos temáticos que norteiam as indagações acerca desse processo e que estão absolutamente ligados. São eles: bem-estar animal e inclusão socioambiental.

O método escolhido para esta pesquisa foi o estudo de caso. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, de natureza exploratória. Tal escolha permitiu apreender como se relacionam os atores sociais envolvidos e quais são, por que e como se dão os processos e práticas na gestão dos VTAs no contexto socioambiental pesquisado. Os resultados deste estudo evidenciaram que não há um processo de governança ambiental estabelecido para a gestão dos VTAs no Distrito Federal, assim como não há políticas públicas voltadas à inclusão social dos carroceiros e à proteção dos animais de tração.

(9)

ABSTRACT

The Federal District (DF) is an example of contradictions and contrasts emerging from migration processes that led to an increase in the population density and expansion of urban areas - a landscape which is a byproduct of a perverse paradigm of economic development. Part of the internal migrants, which were excluded from the formal labor sector, appeal to the use of animal-drawn vehicles (VTA) to scavenge recyclable material as an alternative source of income. This research addresses the outcome of a DF governmental decision in 2006 that forbade VTAs’ traffic in the Plano Piloto area, which is recognized as a Cultural Heritage of Humanity by UNESCO, as well as regulated these vehicles elsewhere in the district. This political decision was included in a program initially called “Brasília Cartão Postal” (“Brasilia Post Cart”) that later was named “Brasília Cidade Limpa” (“Brasilia Clean City”). This research is a discussion of this context, dealing with four categories of social actors – public administration, non-governmental organizations, cart-drivers and population. The focus is to understand if the VTA management concerns a process of environmental governance. What is the state of the art of public policies concerning cart drivers and their animals? As this scenario’s backstage, this research relies upon two interconnected thematic axes which lead the discussions: animal welfare and socio-environmental inclusion.

A case study was the chosen method for this research. It is a qualitative research in an exploratory manner. It allowed to learn how the social stakeholders relate, what, why and how are the processes and practices used in the VTA management in the socialenvironmental context researched.

The results of this study showed that there is no process of environmental governance established for the VTA management in the Federal District, as well as no public policies for the social inclusion of cart-drivers and protection of animals.

(10)

Figura 1 - Mapa das Regiões Administrativas do Distrito Federal ... 27

Figura 2 - Infografia de Amaro Junior ... 36

Figura 3 - Mapeamento feito pela SUDESA para ações de retirada das invasões no cerrado ... 75

Figura 4 - Rota de Contaminação 1 ... 136

Figura 5 - Escola é o Bicho ... 155

(11)

Gráfico 1 - Divisão do trabalho ... 69

Gráfico 2 - Rotina de trabalho ... 70

Gráfico 3 - Divisão do trabalho ... 70

Gráfico 4 - Moradia ... 73

(12)

Foto 1 – Lixão da Estrutural: Contrastes e contradições da expansão urbana:

Pessoas e animais “vivendo do lixo dossedentários do presente” ... 34

Foto 2 - Reunião no MPDFT para apresentação de proposta do GT ... 59

Foto 3 - Participantes da reunião no MPDFT: Poder Público, ONGs, carroceiros .... 60

Foto 4 - Promotora da 4ª Prodema, Kátia Lemos, cobra ações relativas aos VTAs . 60 Foto 5 - Moradia no cerrado: invasão próxima à Universidade Católica/Campus Pós-Graduação... 72

Foto 6 - Condições indignas e prejudiciais às pessoas, animais e bioma Cerrado ... 72

Foto 7 - Reunião Coordenadoria de Cidades e representantes das ARs ... 83

Foto 8 - Médico veterinário da Seapa implanta microchip em animal ... 85

Foto 9 - Verificação do microchip ... 86

Foto 10 - Aplicação de vacina antirrábica ... 86

Foto 11 - Carroceiros da RA do Gama aguardam exames dos animais ... 86

Foto 12 - Animais são contidos para exame ... 87

Foto 13 - Animais são contidos para exame ... 87

Foto 14 - Carroças apreendidas pela fiscalização ... 88

Foto 15 - Carroças apreendidas pela fiscalização ... 88

Foto 16 - Carroças apreendidas pela fiscalização ... 88

Foto 17 - Animais apreendidos pela fiscalização ... 89

Foto 18 - Animais apreendidos pela fiscalização ... 89

Foto 19 - Animais apreendidos pela fiscalização ... 89

Foto 20 - Animais apreendidos pela fiscalização ... 90

Foto 21 - Durante fiscalização, agente verifica se animal foi chipado ... 90

Foto 22 - Animal abandonado próximo ao campus da UnB ... 91

Foto 23 - Animal solto é atropelado em Brasília, região vedada ao trânsito de VTAs ... 92

Foto 24 - Promotora Kátia Lemos em reunião com representantes do Poder Público ... 92

Foto 25 - Animal de carroceiro em tratamento no Hospital Veterinário da UnB ... 95

(13)

... 98

Foto 31 - Agente do DETRAN participa de ação conjunta de fiscalização dos VTAs 99 Foto 32 - Acidente com VTA em região proibida ao trânsito desses veículos ... 100

Foto 33 - Polícia Militar Ambiental participa de ação fiscalizatória ... 102

Foto 34 - Policiais participam de curso no IBAMA ... 103

Foto 35 - Curral comunitário de Planaltina ... 108

Foto 36 - Curral comunitário de Planaltina ... 108

Foto 37 - Curral comunitário da Candangolândia ... 109

Foto 38 - Curral comunitário da Candangolândia ... 109

Foto 39 - Baia de Curral comunitário do Paranoá transformada em moradia ... 110

Foto 40 - Trailer do Projeto Pangaré utilizado no resgate e destinação de animais 110 Foto 41 - Animais apreendidos por maus-tratos... 111

Foto 42 - Animais apreendidos por maus-tratos... 112

Foto 43 - Animal conduzia carroça com fratura no dorso ... 112

Foto 44 - Cavalos com várias marcas feitas a ferro quente ... 113

Foto 45 - Cavalos com várias marcas feitas a ferro quente ... 114

Foto 46 - Animal mutilado por carroceiro é eutanasiado por médico veterinário ... 114

Foto 47 - Crianças conduzem carroças em péssimo estado, com excesso de peso, em locais e horários proibidos ... 128

Foto 48 - Crianças conduzem carroças em péssimo estado, com excesso de peso, em locais e horários proibidos ... 129

Foto 49 - Crianças conduzem carroças em péssimo estado, em locais e horários proibidos ... 129

Foto 50 - Crianças conduzem carroças em péssimo estado, com excesso de peso, em locais e horários proibidos ... 130

Foto 51 - Placas de sinalização são insuficientes e desrespeitadas ... 146

Foto 52 - Placas de sinalização são insuficientes e desrespeitadas ... 147

Foto 53 - Carroça em local proibido, em péssimas condições e sem placa de identificação ... 147

Foto 54 - Entrega da “Carta das crianças dos DF pelos animais” aos deputados da Frente Parlamentar Ambientalista ... 157

(14)

Quadro 1 - Regiões Administrativas do Distrito Federal ... 28

Quadro 2 - Etapas de ações do GT ... 61

Quadro 3 - Categorias estabelecidas/ Atores sociais ... 65

Quadro 4 - Informações publicadas sobre VTAs ... 118

Quadro 5 - Legislação ... 122

Quadro 6 - Bem-estar animal e os objetivos do Milênio ... 139

Quadro 7 - Cronograma de ações previstas pelo GT x ações realizadas (Plano Piloto) ... 150

(15)

Tabela 1 - Cadastro Sócio-Econômico do Carroceiro - Visão Geral em 07-10-2008 76

Tabela 2 - Cotejo categorias/carroceiros ... 78

Tabela 3 - Animais examinados e microchipados nas RAs – Posição até 20/12/2008 ... 85

Tabela 4 - Números de eqüídeos mortos recolhidos pelo SLU ... 93

Tabela 5 - Acidentes de trânsito envolvendo carroça no Distrito Federal – 2000 a 2008 ... 100

Tabela 6 - Atuação do Governo ... 104

Tabela 7 - Inclusão Social ... 104

Tabela 8 - Bem-Estar Animal ... 105

Tabela 9 - Proibição ... 105

Tabela 10 - Dados população ... 116

(16)

Centcoop Central de Cooperativas de Materiais Recicláveis Codeplan Companhia do Desenvolvimento do Distrito Federal

CPMA Companhia de Polícia Militar Ambiental do Distrito Federal DER Departamento de Estradas e Rodagem do Distrito Federal DETRAN Departamento de Trânsito do Distrito Federal

GDF Governo do Distrito Federal

IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis Ibram Instituto Brasília Ambiental

MEC Ministério da Educação

MPDFT Ministério Público do Distrito Federal e Territórios Novacap Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil ONGs Organizações não governamentais

ONU Organização das Nações Unidas PM Polícia Militar do Distrito Federal

ProAnima Associação de Proteção dos Animais do Distrito Federal

Prodema Promotoria de Justiça de Defesa do Meio Ambiente e Patrimônio Cultural do Distrito Federal (4ª Prodema)

RAs Regiões Administrativas do Distrito Federal

Seapa Secretaria de Agricultura Pecuária e Abastecimento1

Sedest Secretaria de Desenvolvimento Social e Transferência de Renda SEDF Secretaria de Estado da Educação do Distrito Federal

SLU Serviço de Limpeza Urbana

Sudesa Subsecretaria de Defesa do Solo e da Água UnB Universidade de Brasília

VTAs Veículos de Tração Animal VTHs Veículos de Tração Humana

UNESCO United Nations Educational Scientific And Cultural Organization WSPA World Society for the Protection of Animals

1 Atual Secretaria de Agricultura e Desenvolvimento Rural Seagri. Para efeito deste estudo será

(17)

1 INTRODUÇÃO ... 17

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO ... 20

1.2 OBJETIVOS DO ESTUDO ... 24

1.2.1 Objetivo Geral ... 24

1.2.2 Objetivos Específicos ... 24

1.3 ÁREA DE ESTUDO ... 25

2 O PROBLEMA E A ABORDAGEM ... 29

2.1 EXPANSÃO URBANA: UNÍSSONO NO DF DA TRAJETÓRIA DE PRESSÃO AMBIENTAL E EXCLUSÃO SOCIAL ... 30

2.2UMA QUESTÃO ÉTICA ... 38

2.3 A CIÊNCIA DO BEM-ESTAR ANIMAL ... 43

2.4 GOVERNANÇA AMBIENTAL ... 47

3 REFERENCIAL TEÓRICO ... 51

4 METODOLOGIA ... 56

4.1 ESTUDO DE CASO ... 56

4.2 TRABALHO DE CAMPO ... 57

4.2.1 Grupo de Trabalho ... 58

4.2.2 Pesquisa documental ... 61

4.2.3 Questionários e entrevistas ... 62

4.3 ANÁLISE DOS DADOS ... 64

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ... 68

5.1 CARROCEIROS / PLANO PILOTO ... 68

5.2 CARROCEIROS / DEMAIS RAS ... 75

5.3 CARROCEIROS - COTEJO DAS CATEGORIAS ... 77

5.4 PODER PUBLICO ... 82

5.4.1 Coordenadoria de Cidades ... 82

5.4.2 Seapa ... 84

5.4.3 DETRAN e DER ... 97

5.4.4 Sedest ... 100

(18)

5.5 ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS ... 107

5.5.1 ONGs - Cotejo das categorias ... 111

5.6 POPULAÇÃO ... 115

5.6.1 Arquivos noticiosos ... 117

5.7 LEGISLAÇÃO ... 122

5.7.1 Aplicação da legislação ... 123

5.7.1.1 Constituição Federal Brasileira ... 123

5.7.1.2 Artigos 25 e 32 da Lei 9.605 de 1998 ... 124

5.7.1.3 Artigo 3º do Decreto 24.645/1934 ... 124

5.7.1.4 Lei 2.095 de 1998 ... 125

5.7.1.5 Lei 4.060 de 2007 ... 126

5.7.1.6 Lei 549 de 1993 ... 126

5.7.1.7 Lei 1.553 de 1997 e Decreto 27.122 de 2006 ... 127

5.7.1.7.1 Proposta para alteração do Decreto 27.122 de 2006 ... 130

5.8 LEGISLAÇÃO COMPARADA ... 131

5.9 BEM-ESTAR ANIMAL, QUALIDADE SOCIOAMBIENTAL E SUSTENTABILIDADE: FACES DE UMA SÓ MOEDA ... 133

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 141

6.1 CONCLUSÃO ... 146

6.2 RECOMENDAÇÕES ... 152

6.3 DA INTENÇÃO AO GESTO ... 154

REFERÊNCIAS ... 160

ANEXO A – FOLDER “CARROCEIRO LEGALIZADO ... 171

ANEXO B VISTORIA VTAS-DETRAN ... 172

ANEXO C CONTROLE DE ANIMAIS DE TRAÇÃO ... 173

ANEXO D – LICENÇA ANIMAL DE TRAÇÃO ... 175

ANEXO E CARTAZ PROJETO PANGARÉ ... 176

(19)

1 INTRODUÇÃO

São muitos os desafios que estão postos para a sociedade contemporânea. Entre eles, cabe destacar a busca por alcançar os Objetivos do Milênio (ODM), propostos pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2000.

Dos problemas elencados pela ONU e que passam a compor os ODM, ou como proposto no Brasil “Oito maneiras de mudar o mundo”, vale ressaltar dois deles –“a superação da fome e da miséria” e “qualidade de vida e respeito ao meio ambiente”. Temas que interessam particularmente ao escopo desta pesquisa, posto que remetem à mudança de paradigmas em relação à qualidade de vida dos seres vivos, à superação das desigualdades sociais e da degradação ambiental.

Tanto este estudo quanto autores nos quais a pesquisa está referenciada evidenciam que tais desigualdades e o comprometimento ambiental têm origem no modelo de desenvolvimento perverso, que incentiva processos migratórios, induzindo à expansão urbana com crescente perda da qualidade de vida nesses ambientes.

Em artigo publicado por Campo (2006), o autor toma como referência o conceito de sociedade de risco, desenvolvido a partir das contribuições teóricas de Anthony Giddens e Ulrich Beck, para explicitar os desafios impostos para a classe trabalhadora na chamada “sociedade global de risco”, tendo em conta o desemprego estrutural em escala mundial, como sendo um dos grandes riscos sociais da globalização contemporânea.

Tomando como referência o conceito de sociedade de risco, desenvolvido a partir das contribuições teóricas de Anthony Giddens e Ulrich Beck,procura-se descrever uma nova abordagem analítica proposta pelos autores, no qual o trabalho (conceito central na chamada sociedade de classes) perde sua centralidade ao ser substituído pela temática ambiental, cuja centralidade está agora fundamentada na questão ecológica (CAMPO, 2006).

(20)

impacto, cabe destacar que a soja foi uma das principais responsáveis pelo crescimento do agronegócio no país, em especial no Centro-oeste. Segundo Guanziroli (2006), hoje o agronegócio, entendido como a soma dos setores produtivos com os de processamento do produto final e os de fabricação de insumos, responde por quase um terço do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil e por valor semelhante das exportações totais do país.

A região compreendida pelo Distrito Federal apresenta grande contingente de trabalhadores, excluídos do mercado formal, que utilizam equídeos (equinos, asininos e muares) em trabalhos de tração - chamados Veículos de Tração Animal (VTAs), como fonte geradora de renda. Nesses veículos são transportados vários tipos de materiais – resíduos coletados em lixeiras nas vias públicas ou nos órgãos governamentais, entulhos da construção civil e fretes diversos.

Se por um lado o trabalho dos catadores contribui para minimizar o desperdício de materiais, em função do elevado padrão de consumo, por outro, as condições precárias em que se desenvolve tal atividade denotam o cotidiano de maus-tratos em relação aos animais utilizados para tração e as indignas condições de vida dos seres humanos que os conduzem. Um contraste que expõe o contexto distanciado da agenda de debates sobre o bem-estar animal e a construção de sociedades sustentáveis.

A rigor, a exclusividade de bem-estar é concebida para a colônia humana stricto sensu – sendo esta, via de regra, a depositária de tal deferência, ainda que dispositivos legais em vigor, a exemplo da Lei 9.605/1998 (BRASIL, 1998b), de Crimes Ambientais e do Decreto 24.645/1934 (BRASIL, 1934), de Proteção aos Animais, postulem o respeito às demais formas de vida.

(21)

Esta pesquisa é um estudo de caso sobre o processo desencadeado com a decisão administrativa do Governo do Distrito Federal (GDF), em 2006, de proibir o trânsito dos VTAs na região do Plano Piloto, área tombada pela United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization (UNESCO) como Patrimônio Cultural da Humanidade2, como também a regulamentação desses veículos nas demais regiões administrativas. Tal decisão governamental se deu no bojo de um programa inicialmente intitulado “Brasília Cartão Postal”, cujo nome passou a ser “Brasília Cidade Limpa”.

O estudo faz uma reflexão de tal contexto, sob a ótica da governança ambiental e da investigação dos impactos das ações adotadas pelo Executivo local nas respectivas áreas.

O texto está estruturado em seis capítulos que buscam articular a fotografia de um contexto socioambiental frente aos desafios das políticas públicas – ou a falta delas. Para tanto, os dois primeiros capítulos situam o universo pesquisado, os problemas encontrados, salientando a relevância do tema bem-estar animal, a exclusão social dos trabalhadores que conduzem os VTAs, assim como as implicações éticas desse cenário. Este capítulo também trata de aspectos relativos ao processo de governança ambiental.

O terceiro capítulo aborda a fundamentação teórica que dá suporte ao estudo, e destaca os elementos que sugerem o olhar da complexidade como via para refletir os temas tratados. No quarto capítulo está registrada a metodologia adotada, os protocolos utilizados para a coleta de dados e a construção do trabalho de campo em relação às categorias de atores sociais investigados – poder público, instituições não governamentais, carroceiros e população. No capítulo seguinte, são apresentados os resultados e a discussão sobre o contexto pesquisado.

No capítulo final são indicadas algumas recomendações a partir dos aspectos verificados e da conclusão desta pesquisa. Ainda neste capítulo há o registro do projeto “Escola é o Bicho” e do projeto “Janelas”. Ambos os projetos são produtos diretos deste trabalho de pesquisa e contribuem para ampliar a percepção ambiental e humanitária, vistas como instrumento de gestão em práticas pedagógicas no

2 O GDF publicou, em 14 de outubro de 1987, o Decreto nº 10.829 sobre o tombamento do conjunto

(22)

âmbito de vocações e atribuições da Secretaria de Estado da Educação do Distrito Federal (SEDF).

Os referidos projetos são viabilizados pela parceria entre a SEDF e a World Society for the Protection of Animals3 (WSPA). Parceria esta levada a efeito dentro do processo desta pesquisa de mestrado. Cabe ressaltar que os objetivos destes projetos foram alcançados, uma vez que durante a pesquisa foram formados cerca de 300 educadores humanitários e posteriormente os temas atinentes à educação humanitária foram incorporados no contexto do ensino formal de uma escola piloto, a Escola Clase (EC) 206 Sul, por meio da sala de leitura, lócus do projeto Janelas, que desenvolve as ações como eixo transversal aos conteúdos trabalhados em salas de aula.

Tais iniciativas buscam sinalizar a importância de se agregar valor aos processos decisórios, seja em instâncias formais, como, também, para o exercício da cidadania na observância dos preceitos humanitários e do bem-estar animal.

Este é o universo da pesquisa e a contribuição que está posta, no sentido de indicar estratégias que concorram para uma construção socioambiental mais justa e equilibrada. Tarefa que deve ser abraçada por todos – comunicadores, educadores e gestores ambientais.

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO

A mobilização e o empoderamento das comunidades são aspectos fundamentais, no sentido de oferecer instrumentos de construção e crítica da realidade socioambiental, para fazer frente à crescente perda de qualidade de vida e exclusão social. Neste sentido, a gestão no ambiente urbano representa desafio complexo, uma vez que as cidades respondem por profundas modificações nas paisagens naturais em função do elevado consumo e pressão ambiental. Trata-se de considerar os aspectos relativos à preservação dos recursos ambientais, como também a formulação de políticas públicas para assegurar condições de vida digna aos seres humanos e não-humanos.

(23)

Brasília é um exemplo das contradições e contrastes que emergem dos processos migratórios com adensamento e expansão da malha urbana. Nascida dos traços do urbanista Lúcio Costa brotou de um imenso canteiro de obras no Planalto Central em 1956. Concebida para abrigar 500 mil pessoas, cresceu com pressa e passou a acolher um contingente migratório formado por grande parte dos que nela vivem. Mas a cidade planejada e tombada como Patrimônio Cultural da Humanidade não ficou imune ao crescimento desordenado.

Parte do contingente de migrantes, excluídos do mercado formal na região do Distrito Federal, recorre aos chamados VTAs como fonte alternativa para gerar renda a partir do trabalho de catação de resíduos. Disputando espaço com os veículos automotores, os VTAS transportam pelas vias públicas de Brasília, e das demais cidades, resíduos da construção civil, fretes diversos e o chamado lixo nobre – com papeis e outros objetos utilizados nos processos de reciclagem.

Com o objetivo de integrar as diferentes e isoladas regiões do País, Brasília foi, e continua sendo, foco de grande fluxo migratório de trabalhadores à procura de emprego. No presente, o novo candango, que não mais constrói a cidade e nem encontra emprego na máquina administrativa do Estado, vive de pequenos biscates, do lixo e da bondade da população. De antigos agricultores, passam a ser catadores de lixo, sustentam seus filhos com os despojos da população de consumidores (BURSZTYN; ARAÚJO, 1997, p. 18-20).

Segundo o Senador Cristovam Buarque (1997), Brasília é um exemplo dos problemas da migração moderna, um caso típico da convivência do moderno com o nomadismo. Fenômeno que ele denominou de “modernômades” – nômades criados pela modernidade e “lixiveiros” – vivem do lixo dos sedentários do presente. Buarque também destaca a abordagem feita por Bursztyn sobre o fato de que “o sistema global produz pessoas descartáveis, que passam a viver do descarte do consumo. Como se os seres humanos fossem lixo, vivendo na rua e da rua, do lixo dos ricos. O descarte social e o descarte do consumo se unindo, um vivendo do outro” (BUARQUE, 2003). E nesse sentido, pessoas e animais constituem figuras invisíveis no universo em que circulam.

A característica do nomadismo faz com que esse segmento da população fique à margem das estatísticas oficiais.

(24)

Em nível nacional, de acordo com dados do Almanaque Brasil Socioambiental, estima-se que existam mais de 200 mil catadores de rua e mais de 40 mil pessoas vivendo diretamente da catação em lixões no Brasil (INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL, 2007, p. 402).

Nesse universo, de pobreza econômica e exclusão social, as famílias de catadores abrigam ainda os animais de tração que viabilizam o transporte, o trabalho e o sustento de seus donos.

Animais de grande porte implicam em alto custo de manutenção – alimento, higiene, espaço físico, cuidados com a saúde – em geral, difícil de ser mantido pelos proprietários.

Cavalos mal alimentados, doentes, feridos e abandonados circulando pelo Distrito Federal, além daqueles mortos e removidos pelo Serviço de Limpeza Urbana (SLU), denotam a complexidade do tema e a necessidade de uma ação pública efetiva para mitigar tais dificuldades.

Entre as inúmeras formas de maus-tratos infligidos aos animais de tração no DF estão: o trabalho excessivo, a alimentação inadequada e insuficiente4, animais

feridos ou doentes submetidos ao trabalho, o peso excessivo da carga tracionada, que geralmente ultrapassa a carga máxima (líquida) permitida, 359 kg (conforme Decreto Distrital 27.122, de 2006). As práticas de espancamento e mutilação, éguas em estado de prenhez avançado e animais jovens (sem formação óssea completa) submetidos ao trabalho, arreios e ferrageamento inadequados – por exemplo a utilização de vergalhões - provocando ferimentos diversos e deformações em cascos e articulações também estão no rol dos maus-tratos. Fatos que estão evidenciados nos registros levantados por este estudo.

Os acidentes de trânsito envolvendo eqüídeos soltos e os VTAs constituem outro aspecto importante no registro dessa atividade. Além dos acidentes, há relatos por parte da fiscalização do Departamento de Trânsito do Distrito Federal (DETRAN-DF) de vários casos de violência envolvendo catadores, crianças conduzindo carroças e até apreensão de cavalo cego tracionando carroça no Plano Piloto.

4Cavalos devem ser alimentados basicamente com forragens (gamíneas, capim verde, feno), que é a

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Até o início de 2007, não havia no GDF um sistema para cadastramento e identificação dos animais de tração, que circulam nas vias públicas do Distrito Federal e dos respectivos condutores dos VTAs.

Nesse contexto, o Governo do Distrito Federal decidiu proibir o trânsito de VTAs na área denominada Plano Piloto, situada em Brasília. Entre os objetivos, está o de preservar a região, que é tombada pela UNESCO como Patrimônio Cultural da Humanidade e o cumprimento do Decreto 27.122/2006, que dispõe sobre o trânsito de veículos de tração animal nas vias públicas urbanas e faixas de domínio das rodovias no Distrito Federal (BRASIL, 2006).

A proibição vale apenas para a região que compreende o Plano Piloto; nas demais regiões administrativas, o Executivo local está regularizando os VTAs. Para executar tais medidas, o governo designou um Grupo de Trabalho (GT), coordenado, inicialmente, pela assessoria do SLU. O GT, composto por órgãos governamentais e não governamentais contou ainda com a participação de representantes das associações e cooperativas de catadores. A equipe teve como tarefa articular as duas frentes de trabalho – a da proibição e da regularização – para levantar necessidades e cronograma de ações.

Com a divulgação das medidas, a 4ª Promotoria de Justiça de Defesa do Meio Ambiente e Patrimônio Cultural, vinculada ao Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (Prodema/MPDFT), alertou o governo local sobre a necessidade de estender a proibição do trânsito dos VTAs para todo o DF, no prazo de três anos. A iniciativa está fundamentada nas inúmeras denúncias recebidas pelo órgão, relativas a maus-tratos aos animais de tração, como também na exigência de um programa de inclusão social das famílias que dependem dos VTAs.

Este estudo buscou verificar se há um desenho de governança ambiental no processo desencadeado no âmbito do GDF, a partir da criação do GT, para a gestão das questões relativas aos VTAs. Os impactos decorrentes das ações desenvolvidas e a identificação de políticas públicas, que concorram para solucionar os problemas detectados, também deverão ser registrados pela pesquisa.

Como pano de fundo, a pesquisa destaca dois grandes eixos temáticos que norteiam as indagações acerca do processo de governança ambiental e que estão absolutamente ligados. São eles: bem-estar animal e inclusão socioambiental.

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ambiental, quanto pelo fato de que a pesquisa sinaliza algumas práticas nessa direção, desenvolvidas em outras localidades.

O olhar ampliado sobre o papel da comunicação e da educação ambiental e humanitária em relação ao bem-estar animal e inclusão social, vistos sob a ótica da complexidade, também contribuem para tal relevância. Ao mesmo tempo, a pesquisa pretende destacar as questões éticas envolvidas na exploração dos animais de trabalho. Trilha que remete à necessidade de se ampliar o debate com a sociedade acerca do bem-estar animal, com vistas à construção das bases da governança ambiental para a gestão dos VTAs no Distrito Federal.

1.2 OBJETIVOS DO ESTUDO

1.2.1 Objetivo Geral

Avaliar as implicações da decisão do governo do Distrito Federal - de proibir o trânsito dos Veículos de Tração Animal na região denominada Plano Piloto, em Brasília, e regularização nas demais Regiões Administrativas – na perspectiva de um processo de governança ambiental.

1.2.2 Objetivos Específicos

a) Avaliar os impactos decorrentes das medidas adotadas pelo Governo do Distrito Federal (GDF) - no que concerne ao bem-estar animal, inclusão socioambiental e contexto local;

b) Analisar quatro categorias de atores sociais - poder público, carroceiros, instituições protetoras de animais e população – a fim de identificar a existência de um processo de governança ambiental; c) Analisar as políticas públicas voltadas à inclusão socioambiental e ao

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1.3 ÁREA DE ESTUDO

O Distrito Federal está localizado em uma das áreas da Região Centro-Oeste onde o relevo é mais elevado – o Planalto Central, ocupando o centro do Brasil e o centro-leste do Estado de Goiás. Na porção sudeste, a região tem por limite o Estado de Minas Gerais. Sua área de aproximadamente 5.800 km² corresponde a 0,006% da superfície do território brasileiro, Tem como principais bacias hidrográficas os rios São Bartolomeu, Preto, Descoberto e Maranhão, que drenam em torno de 95% do território, sendo formadoras das três grandes bacias dos rios Paraná, Tocantins e São Francisco. As bacias do Corumbá e São Marcos também estão localizadas nesta região. A população do Distrito Federal é de 2.654.059, conforme estimativa da Companhia de Desenvolvimento do Distrito Federal- CODEPLAN (DISTRITO FEDERAL (BRASIL), 2010).

A discussão sobre a ocupação territorial do Distrito Federal remonta aos idos de 1761, época em que a transferência da capital do Brasil para o interior foi sugerida pelo Marquês de Pombal. Desde então, sucessivas incursões ao tema foram feitas em diferentes períodos da história do país (DISTRITO FEDERAL (BRASIL, 2010).

Em 1891 a transferência da capital para o interior foi confirmada com a aprovação, pela primeira Assembleia Constituinte Republicana, de Emenda apresentada pelo deputado Lauro Müller e publicada na Constituição de 1891, que determinava em seu artigo 3º: “Fica pertencendo à União, no Planalto Central da República, uma zona de 14.400 Km2 que será oportunamente demarcada para nela estabelecer-se a futura capital federal” (BRASIL, 1891).

A Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil, denominada Comissão Cruls, chefiada por Luiz Cruls, fez a primeira demarcação da área do Distrito Federal em 1893 (DISTRITO FEDERAL (BRASIL, 2006).

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topografia, geografia, solos para engenharia, do suprimento d’água e da drenagem, para posterior escolha do local onde seria construída Brasília.

No governo Eurico Gaspar Dutra, constituiu-se a Comissão Polli Coelho, encarregada de realizar estudos e reconhecer as vantagens oferecidas pelo local escolhido pela missão Cruls.

Em 8 de setembro de 1955, o presidente Café Filho aprovou o sítio e a área da nova metrópole, entre os rios Preto e Descoberto e os paralelos de 15º30’ e 16º3’5”, abrangendo as terras de três municípios goianos - Planaltina, Formosa e Luziânia.

Em 18 de abril de 1956, o presidente Juscelino Kubitschek encaminhou ao Congresso Nacional a “Mensagem de Anápolis”, propondo, entre outras medidas, a criação da Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap) e o nome de Brasília para a nova cidade. A Novacap foi constituída em setembro desse mesmo ano, tendo como presidente Israel Pinheiro. O arquiteto Oscar Niemeyer assumiu a chefia do Departamento de Urbanismo e Arquitetura a convite de Juscelino Kubitschek. No dia 16 de março de 1957, um júri internacional selecionou o projeto do urbanista Lúcio Costa entre os trabalhos apresentados por 26 concorrentes nacionais.

O presidente Juscelino sancionou Lei marcando para o dia 21 de abril de 1960 a transferência da capital da União para o novo Distrito Federal.

À época da construção de Brasília foram criados núcleos habitacionais para abrigar os trabalhadores que chegavam. A chamada “Cidade Livre”, posteriormente denominada Núcleo Bandeirante, surgiu em 1956 e em 1957 foi criado o Paranoá, que passou a abrigar os trabalhadores da construção da barragem do Lago Paranoá. Em 1958, foi criada Taguatinga, seguida do Gama e Sobradinho, em 1960, localidades que passaram à condição de cidades satélites. Na ocasião, Planaltina e Brazlândia, hoje Regiões Administrativas do Distrito Federal, integravam o Estado de Goiás.

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serviços públicos das respectivas regiões e estão subordinadas à Coordenadoria das Cidades, que por sua vez vincula-se à Secretaria de Estado de Governo.

Brasília, RA 1, foi inaugurada em 21 de abril de 1960, após 1.000 dias de construção. Em 1987 foi tombada pela UNESCO, como Patrimônio Cultural da Humanidade e no censo mais recente, 2007, teve população estimada em 204.836 habitantes (DISTRITO FEDERAL (BRASIL, 2010)). A RA é composta por Asa Norte, Asa Sul, Estação Rodoviária, Setor de Oficinas, Armazenagem e Abastecimento, Indústrias Gráficas, Embaixadas Norte e Sul, Militar Urbano, Clubes, entre outros; Parque Sara Kubitscheck, Área de Camping, Eixo Monumental, Esplanada dos Ministérios, Vilas: Planalto, Weslian Roriz e Telebrasília.

Tendo em vista que as medidas adotadas pelo Governo do Distrito Federal, acerca dos Veículos de Tração Animal, envolvem todas as Regiões Administrativas, será este o recorte espacial do estudo de caso. Para tanto, e por uma questão de logística, o acompanhamento das diferentes RAs foi feito, em grande parte, via Coordenadoria das Cidades, órgão responsável por todas as cidades do DF, e também com os demais órgãos envolvidos com o tema VTAs.

Figura 1 - Mapa das Regiões Administrativas do Distrito Federal Fonte: Fórum Skyscrapercity (2009)

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Regiões Administrativas Lei de Criação Data

RA I − Brasília 4.545 10/12/1964

RA II − Gama 4.545 10/12/1964

RA III − Taguatinga 4.545 10/12/1964

RA IV − Brazlândia 4.545 10/12/1964

RA V – Sobradinho 4.545 10/12/1964 RA VI – Planaltina 4.545 10/12/1964 RA VII – Paranoá 4.545 10/12/1964 RA VIII – Núcleo Bandeirante 049 25/10/1989 RA IX – Ceilândia 049 25/10/1989

RA X – Guará 049 25/10/1989

RA XI – Cruzeiro 049 25/10/1989 RA XII – Samambaia 049 25/10/1989 RA XIII – Santa Maria 348 04/11/1992 RA XIV – São Sebastião 705 10/05/1994 RA XV – Recanto das Emas 510 28/07/1993 RA XVI – Lago Sul 643 10/01/1994 RA XVII – Riacho Fundo 620 15/12/1993 RA XVIII – Lago Norte 641 10/01/1994 RA XIX – Candangolândia 658 27/01/1994 RA XX – Águas Claras 3.153 06/05/2003 RA XXI – Riacho Fundo II 3.153 06/05/2003 RA XXII – Sudoeste/Octogonal 3.153 06/05/2003 RA XXIII – Varjão 3.153 06/05/2003 RA XXIV – Park Way 3.255 29/12/2003 RA XXV – SCIA (Estrutural)(1) 3.315 27/01/2004 RA XXVI – Sobradinho II 3.315 27/01/2004 RA XXVII – Jardim Botânico 3.435 31/08/2004 RA XXVIII – Itapoã 3.527 03/01/2005 RA XXIX – SIA(2) 3.618 14/07/2005 RA XXX Vicente Pires 4.327 26/05/2009

Quadro 1 - Regiões Administrativas do Distrito Federal

Fonte: (DISTRITO FEDERAL (BRASIL), 2009, p. 28).

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2 O PROBLEMA E A ABORDAGEM

Qualidade de vida e sustentabilidade são temas recorrentes na agenda do debate contemporâneo, lógica essa que se espraia no contexto do bem-estar animal e nas interações com os seres humanos. Essa discussão inspira esferas local, nacional e global. Seara de embates, desafios e dilemas, a discussão dos temas ambientais envolve categorias diferenciadas de atores sociais e os respectivos interesses socioambientais. No cerne de todas as questões ambientais está o modelo de desenvolvimento econômico adotado e as consequências dessa opção que, necessariamente, precisa ser lida sob outras óticas, a exemplo das dimensões culturais, sociais, políticas, éticas e religiosas.

As informações disponíveis para a sociedade dão conta do tamanho da dívida humana para com o Planeta, aí consideradas todas as formas de vida. A literatura crescente autoriza a afirmação de que é necessário repensar ambições, estratégias e escolhas em relação ao binômio produção/consumo. Negar esta tendência significa dificultar, cada vez mais, a equação das variáveis do presente, como também subtrair as chances de um futuro com qualidade de vida para as próximas gerações de seres vivos.

Embora seja difícil precisar o surgimento da preocupação com o meio ambiente, o pensamento ambiental ganha expressão no bojo do questionamento do caráter massificante e predatório do desenvolvimento capitalista – e também da versão estatista, conforme distinção feita por Castells, nele incluídas as formas de produção, reprodução e consumo ocidentais, que se generalizaram como aspirações associadas às noções de afluência e bem estar material da sociedade e dos indivíduos. Ao nascer de um questionamento geral ao projeto de modernidade, o pensamento ambiental, em suas diversas vertentes, questiona, também, o modelo de organização territorial associado àquele projeto, sendo a urbanização contemporânea sua forma mais visível (COSTA, 2008, p. 80).

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De acordo com Leschonski, Serra e Menandro (2008), no Boletim Epidemiológico Paulista (publicação mensal sobre Agravos à Saúde Pública), estima-se que dois milhões de pessoas, em cerca de 30 países, utilizam em torno de 300 milhões de animais de tração, em especial equinos. Alguns estudos demonstram que este número tende a aumentar. No Brasil vivem quase seis milhões de equinos5, além de três milhões de asininos e muares, mantidos com diferentes interesses, utilidades e vínculos com os seres humanos.

Considerando a quantidade de animais envolvidos e o grande número de pessoas que se utilizam dessa atividade, frequentemente sendo a principal ou até a única fonte de renda de um grupo familiar, ou o meio de transporte fundamental de uma localidade, essa prática se impõe como importante questão de bem-estar, animal e humano (BROOM, 1999 apud SOUZA, 2006).

Assim, a abordagem do problema, objeto deste estudo, requer uma visada nos escaninhos da história de ocupação territorial do Distrito Federal, para destacar os elementos que configuram o contexto da reflexão iniciada neste capítulo. Da mesma forma, serão explicitados alguns conceitos necessários à compreensão do tema bem-estar animal e as vinculações com as temáticas socioambientais e de governança ambiental, vistos de forma panorâmica e sob a lente destacada dos contornos éticos que tais assuntos requerem.

2.1 EXPANSÃO URBANA: UNÍSSONO NO DF DA TRAJETÓRIA DE PRESSÃO AMBIENTAL E EXCLUSÃO SOCIAL

A ocupação do solo no Distrito Federal se confunde com a perda da cobertura vegetal do segundo maior bioma brasileiro - o Cerrado - ao longo do tempo.

O panorama regional começou a sofrer modificações com a chegada dos colonizadores, a partir do século XVIII. Em busca do ouro e das pedras preciosas, fizeram dos índios escravos, e deram início às primeiras cidades. Com elas, as cidades, vieram também os novos sinais de alteração da paisagem (UNITED

5 O grupo dos equídeos contempla os cavalos (Equus caballus), os asininos ou jumentos (

Equus asinus) e os muares. Estes são híbridos, cruzamento de jumento com égua, originando a mula

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NATIONS EDUCATIONAL, SCIENTIFIC AND CULTURAL ORGANIZATION, 2002, p. 55).

Findo o ciclo da mineração, a pecuária extensiva e a agricultura de subsistência imprimiram outras marcas na ocupação do bioma.

Um salto no tempo, e em 1956 o presidente Juscelino Kubitschek transformou o Planalto Central num imenso canteiro de obras e sonhos. Desde então, estava traçado o destino do Distrito Federal como polo de atração de correntes migratórias. Pessoas vindas de todas as partes do Brasil, em especial do Nordeste, em busca de vida melhor, viam brotar o avião de concreto no cerrado, que tornado asfalto imprimiu novos traços à história da região. Cenário que o jornalista e poeta TT Catalão registrou em Brasília Cidade Cidadã:

E aí... aos poucos brotava vida urbana, serviços, festa, casos, polícia, amores, tragédia, luta, busca permanente da cidade que se construía –

tatuagem de asfalto no cerrado – um dia mato, outro maquete. Um dia dor, outro euforia, um dia farpa, outro folia (CATALÃO, 2000, p. 21).

Cidade planejada, Brasília caminhou desde sua concepção pelos riscos da utopia. Brasília inventada, que segundo o urbanista Lúcio Costa, “nasceu de um gesto primário de quem assinala um lugar ou dele toma posse: dois eixos cruzando-se em um ângulo reto, ou cruzando-seja, o próprio sinal da cruz” (COSTA, 1991 apud FONSECA, 2001, grifo nosso).

O período entre a decisão de construir a cidade, a construção e os primeiros anos de existência da capital do país coincide com profundas mudanças econômicas, sociais e políticas. Momento em que o Brasil deixa de ser uma sociedade rural e passa a exibir um perfil com predominância do modo de vida urbano. Mudança significativa, uma vez que em 1960 a população urbana do País era da ordem de 44,7% do total de habitantes e uma década depois 55,9% dos brasileiros viviam nas cidades.

Ao mesmo tempo, se consolida o projeto de cidade/capital voltada a um grupo social específico – a burocracia do Estado, em torno do qual a cidade passaria a girar. Todavia, as contingências sociais, econômicas e políticas mudaram os rumos da cidade planejada, que passou a registrar grande crescimento populacional, denotando um processo complexo de ocupação do solo na região. Sinais de que a nova capital passaria longe do número de habitantes inicialmente idealizado.

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Entre 1980 a 1991 a cidade teve sua população aumentada em 36,06%. A população ideal estimada no plano original de Brasília, que não deveria ultrapassar os 500 mil habitantes, foi atingida já ao final da década de 1960 (BURSZTYN; ARAÚJO, 1997, p. 26).

Segundo Corrêa, quatro décadas depois, a população ultrapassou a marca dos dois milhões de habitantes, dos quais 98% concentram-se em área urbana (CORRÊA, 2002, p. 34).

Em estudo realizado em 1997, Bursztyn e Araújo (1997) derrubam o mito de que a migração para Brasília se dá porque a cidade oferece forte atração, independentemente do fato de que no campo não se morre de fome. O estudo, feito com 150 famílias de migrantes, que viviam nas ruas do Distrito Federal, revela que o que motiva este fluxo migratório é exatamente a busca do que comer imediato. Diz ele que ao chegarem a Brasília, sua maior expectativa se limita ao que comer na próxima refeição (BURSZTYN; ARAÚJO, 1997).

O descompasso entre o planejado, a realidade do crescimento demográfico e a expansão urbana denotam o fato de que o ideal de modernidade urbana não foi suficiente para aplacar as demandas e pressões por habitação e trabalho. Na esteira do crescimento, o fluxo migratório foi se dispersando em direção à periferia da região central, Plano Piloto. Movimento que acentua o contraste social e o distanciamento da população à margem da dinâmica de atração inicial, verificada em Brasília.

Desse contexto emerge, também, a figura das invasões6, a expansão dos

espaços residenciais, com o surgimento das cidades satélites, mais tarde denominadas cidades e não mais satélites e, recentemente, o crescimento dos chamados condomínios horizontais.

Entre os fatores que concorrem para esse cenário, estão o desenvolvimento da Região Integrada de Desenvolvimento do Entorno (Ride) – que exerce forte pressão quanto à habitação e postos de trabalho, a ação de grileiros, forjando um intrincado mercado de acesso à terra e aos recursos naturais e motivações eleitorais sob a roupagem de políticas sociais.

A concepção original de cidade sem periferia, prevista no projeto urbanístico de Lúcio Costa, passa a exibir novos traços – os chamados pontos de ruptura do

6 Conforme observa Corrêa (2002), o termo invasão não tem caráter pejorativo. Ele denota uma figura

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espaço – e dá lugar a duas periferias. Os espaços de ruptura são justamente as áreas onde não se completou o processo de desapropriação para a construção da cidade. Trata-se de uma oposição qualitativa entre a periferia concebida pelo poder público – que prioriza o assentamento em condições urbanas precárias, com agravantes de ordem eleitoreira, e a nova periferia que busca a qualidade de vida, morando junto à natureza (PENNA, 2003, p. 59).

De acordo com Bursztyn e Araújo (1997, p. 30), enormes aglomerações urbanas foram se formando sob o protetorado de autoridades públicas, que buscavam formar seus redutos políticos.

A constituição de verdadeiros currais eleitorais na capital do país coincide com a conquista da autonomia política do Distrito Federal, após a constituição de 1988. [...] Apesar do acesso à posse de um lote, o novo migrante não encontrou condições satisfatórias de emprego e, portanto, de subsistência (BURSZTYN; ARAÚJO, 1997, p. 30).

Este é o cenário que projeta no Distrito Federal, de forma contundente, a imagem já conhecida de outras regiões brasileiras – a exclusão social e o aparecimento de parcela da população que vive na rua e da rua, ou dos descartes daqueles que têm acesso ao trabalho e ao consumo. Muitos deles passam da condição de pedintes à de catadores, o que Bursztyn e Araújo (1997, p. 35) classificaram como a ponte do “extrativismo de subsistência imediata” à condição de “extrativistas para o mercado”, uma vez que ao coletarem resíduos para reciclagem e reutilização de matérias primas estabelecem relações de troca, auferindo renda proporcional ao que conseguem estocar.

O pobre urbano é um mestre no remendo e na reciclagem. [...] Hoje, o lixo cada vez mais opulento da pós-modernidade oferece campo para uma estratégia de sobrevivência ligada à coleta do reciclável do descarte urbano. Na perspectiva do pobre urbano, o lixo é fonte renovável de recursos naturais, na qual ele garimpa e cria mercadorias (BURSZTYN, 2000 apud CORRÊA, 2002, p. 38).

Parte desse contingente de excluídos assentou-se em áreas de cerrado, próximas ao Plano Piloto, na região central de Brasília, por onde circula o chamado lixo nobre e passou a utilizar os Veículos de Tração Animal na atividade de catação. Outros buscaram espaços públicos nas cidades do entorno, antigas satélites. Caixas de papelão descartadas, lonas e restos de madeiras compõem a arquitetura do abrigo de famílias inteiras.

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associado ao assentamento, mesmo que precário, desses imigrantes (BURSZTYN; ARAÚJO, 1997, p. 40-41).

Foto 1 – Lixão da Estrutural: Contrastes e contradições da expansão urbana: Pessoas e animais

“vivendo do lixo dossedentários do presente”

Fonte: A Autora (2007)

A despeito do que assinalou Bursztyn e Araújo (1997) quanto ao significado dos animais de tração nesse contexto social, cabe destacar que os aspectos da gestão do ambiente e as necessárias interações dessa atividade merecem um olhar ampliado por parte dos gestores governamentais, como também da opinião pública. Por ora, importa salientar que tais animais integram o universo de exclusão aqui reportado, sendo objeto de análise mais detalhada no capítulo “Resultados e Discussão”.

Nesse sentido, a produção do espaço urbano envolve conteúdos ambientais, sociais, políticos, econômicos, éticos, culturais, entre outros. Assim, a expansão urbana também revela, ao lado da exclusão social, prejuízos ambientais importantes. É o caso do avanço das cidades em direção às Áreas de Proteção Ambiental (APAs). No período de 1985 a 1995, por exemplo, o número de parcelamentos irregulares do solo saltou de 150 para 529 no Distrito Federal.

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econômicas e sociais em relação a uma centralidade urbana, que transforma a natureza em fator de valorização diferencial dos lugares na cidade, reforçando as desigualdades (PENNA, 2003, p. 57-58).

A rigor, o contexto social e espacial do Distrito Federal se desenvolveu no universo da contradição e do conflito, gerados pela relação governo, mercado de terras e sociedade.

Assim, desde a criação de Brasília ocorreram sucessivos processos de fragmentação da terra – seja em terras públicas ou privadas. Áreas destinadas ao uso rural e Unidades de Conservação, que estrategicamente ocupam grande parte do Distrito Federal, passaram a ser espaços vulneráveis e objeto de cobiça para parcelamento e ocupação pelo mercado. Essa ocupação desordenada do solo tem como consequência conflitos na gestão pública do território e, fundamentalmente, implica em degradação ambiental e exclusão social.

Esse cenário levou à criação da APA do Planalto Central, unidade de conservação de uso sustentável, em 10 de janeiro de 2002 que abrange a totalidade do Distrito Federal e parte do Estado de Goiás. Sua finalidade é proteger e regular o uso dos recursos hídricos e o parcelamento do solo, garantindo o uso racional dos recursos naturais, protegendo o patrimônio ambiental e cultural da região. A despeito de ter sido criada para proteger território de alta sensibilidade ambiental, por conseguinte de relevante interesse regional e nacional, o cerrado segue perdendo espaço para o avanço das cidades e da fronteira agropecuária.

A implantação, supervisão, administração e fiscalização dessa APA estiveram, num primeiro momento, a cargo do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) em articulação com demais órgãos em diferentes instâncias. Entretanto, a falta de integração dos poderes constituídos para gerir a APA do Planalto Central marcou a gestão da Unidade de Conservação desde a sua criação. Esta lacuna, associada às pressões econômicas e políticas, fez surgir um movimento no mínimo contraditório, que é de retornar a gestão da APA para o GDF.

Com efeito, a partir de 2009 a APA do Planalto Central passou a ser gerida pelo GDF. A contradição pode ser creditada ao fato de que a criação desta área de proteção tem na sua origem a urgência de barrar a expansão desordenada do solo.

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espaço que ocorre em velocidade inversamente proporcional à capacidade natural de renovação dos ecossistemas.

É o caso do estudo realizado pela UNESCO, que revela o processo de ocupação do espaço geográfico do Distrito Federal, no período de 1954 a 2001. Nele está evidenciado que a cobertura vegetal vem perdendo espaço, continuamente, para o processo de urbanização e para as atividades agrícolas

(UNITED NATIONS EDUCATIONAL, SCIENTIFIC AND CULTURAL

ORGANIZATION, 2002).

Figura 2 - Infografia de Amaro Junior 7 Fonte: Silva (2003)

Outras iniciativas para conter a degradação ambiental têm se constituído em importante instrumento de gestão ambiental para a região. É o caso do Programa “Homem e a Biosfera” (MaB), criado pela UNESCO em 1971. O Programa tem o objetivo de conciliar a conservação dos recursos naturais com a sua utilização econômica pela sociedade, de forma sustentável. O Brasil aderiu ao MaB em 1974, quando foi criada a Comissão Brasileira do Programa Homem e Biosfera. Como

7 Infografia de Amaro Junior, para o Trabalho de Conclusão do Curso de Comunicação Social,

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meta definiu-se a criação de pelo menos uma grande Reserva da Biosfera em cada um dos biomas brasileiros. Foram criadas sete Reservas, entre elas a do Cerrado – Fase 1, em 1993, e a do Cerrado – Fase 2, em Goiás.

Contudo, as áreas-núcleo da Reserva da Biosfera do Cerrado (RBC), que compreendem o Parque Nacional de Brasília, a Estação Ecológica de Águas Emendadas e a Zona Silvestre da APA Gama e Cabeça de Veado, encontram-se cercadas por condomínios residenciais, lavouras, pastos, rodovias e depósitos de lixo, comprometendo a fauna, flora e a qualidade de vida da população.

Estudo realizado pela Universidade Federal de Goiás (UFG) prevê redução de 40 mil km² do bioma cerrado por década, caso seja mantido o ritmo atual de desmatamento. A previsão é de que a área desmatada no bioma aumente de cerca de 800 mil km² para 960 mil km² em quatro décadas. Esse aumento corresponde à metade do Estado de Goiás ou dez vezes a área do Distrito Federal. Um impacto social, econômico e ambiental, com comprometimento das bacias hidrográficas e prejuízos diretos para os recursos hídricos, solo, biodiversidade e qualidade de vida na região.

Em discussão há dez anos no Congresso Nacional, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 115/95, conhecida como PEC do Cerrado, continua provocando polêmica entre os parlamentares e não entra na pauta de votação. A proposta tenta elevar o Cerrado à categoria de Patrimônio Nacional, tal como previsto na Constituição de 1988 em relação aos biomas Mata Atlântica, Zona Costeira, Pantanal e Amazônia (OLIVEIRA, 1995).

Em análise sobre a ocupação urbana no entorno de Unidades de Conservação do Distrito Federal, Corrêa ressalta a urgência de providências para redução dos efeitos desse crescimento. No caso do DF, uma região comprovadamente sensível, em especial no que diz respeito a recursos hídricos, permitir ocupações em áreas que deveriam estar preservadas pode ser entendido como omissão e falta de interesse em solucionar o problema (CORRÊA, 2002).

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Entre as críticas levantadas pelos especialistas está a expansão urbana projetada, com comprometimento de Áreas de Proteção de Mananciais, avanço da mancha urbana sobre a zona rural e o aumento da oferta de áreas urbanas destinadas à moradia da população de alta renda, em detrimento das classes média e de baixa renda, para as quais o déficit habitacional é um fato.

É nesse universo, no qual a expansão urbana, a exclusão social e a degradação ambiental ganham cada vez mais espaço, que se insere a questão dos Veículos de Tração Animal no Distrito Federal. Cabe ressaltar que diversas comunidades de catadores ocupam áreas de cerrado como moradia e local de seleção de resíduos coletados nas ruas, evidenciando condições absolutamente precárias e indignas de vida, comprometendo ainda a saúde pública e a qualidade ambiental desses locais.

O planejamento urbano da capital idealizou uma cidade eminentemente burocrática, distante dos conflitos sociais e políticos e, sobretudo, igualitária. Pelo seu plano urbanístico, a nova capital expressaria a negação de uma das expressões mais marcantes do subdesenvolvimento: a pobreza (BURSZTYN, 2000 apud CORRÊA, 2002).

Bursztyn (2000 apud CORRÊA, 2002) para registrar que Brasília representa amostra importante dos contrastes sociais vividos na sociedade brasileira. Apesar de ter sido concebida como cidade igualitária, organizada e funcional, foi transformada pela realidade de um Brasil de contrastes e historicamente desigual.

2.2 UMA QUESTÃO ÉTICA

Em 25 de outubro de 1809 uma reunião em um café na Bold Street, em Liverpool, marcou o início da primeira instituição protetora de animais, hoje RSPCA Liverpool (WORLD SOCIETY FOR THE PROTECTION OF ANIMALS, 2008). A intenção dos fundadores era atuar na repressão e prevenção da crueldade e dos maus-tratos causados aos animais. Um movimento que enfrentou, desde o início, fortes resistências, uma vez que a relação do ser humano com os animais sempre foi estabelecida pelo domínio.

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que pode ser lida desde os ensinamentos bíblicos, que outorgaram ao homem o domínio sobre todas as criaturas. A própria visão bíblica, ao considerar os animais como criaturas brutas e desprovidas de alma ou intelecto, afastou-lhes da esfera das preocupações morais humanas (LEVAI, 2004 p. 18)

A conduta antropocêntrica também está na base da ótica utilitarista, segundo a qual os animais não - humanos são tidos como bens a serem explorados, tendo relevância na mesma medida de sua serventia.

Nesse contexto não se atribui aos animais o valor intrínseco à vida, mas o valor de uso, sendo negada, do ponto de vista jurídico e filosófico, a sua condição natural de seres viventes.

Na Idade Média, auge do cristianismo, as atitudes para com os seres chamados “inferiores” encontram eco nas falas de Santo Agostinho (354-430) e São Tomás de Aquino (1225-1272), para quem o homem não cometia pecado algum ao matar animais, porque a lei natural estabelece uma necessária hierarquia entre as criaturas (LEVAI, 2004, p. 19).

A idéia de que na diversidade das formas de vida haja um “acima” e um “abaixo” em uma escala hierarquicamente ordenada, status estabelecido a

partir de uma linha divisória que varia de acordo com o interesse e o poder de quem a define, é antiga, remonta à tradição judaica, à filosofia grega (Aristóteles), ao cristianismo que nasce no Império Romano, e à Igreja Católica, de seus primórdios até a herança legada em nossos dias pela mesma tradição. Desse modo, homens e animais têm sido separados em âmbitos morais distintos, os quais, por sua vez, são classificados de modo hierárquico, assegurando aos primeiros que a classificação jamais seja estabelecida a partir de um critério que ponha em risco o status de beneficiário incondicional na ordem das espécies vivas. Aquele que tem o poder de fazer distinções e de classificar tem ao mesmo tempo o poder de ordenar e discriminar todas as formas de vida de acordo com seus interesses (FELIPE, 2003, p. 20).

De acordo com Edna Cardozo Dias (2000), professora de Direito Ambiental e Urbanístico da UFMG, o antropocentrismo ganha força com a máxima dita por Sócrates "conhece-te a ti mesmo", momento em que os sofistas transferem a noção de unidade, de conhecimento do cosmo, para o homem. Segundo os filósofos naturalistas, na Grécia Antiga, o ambiente está inserido numa perspectiva cósmica. Porém, com os sofistas o homem passa a ser considerado o centro do universo.

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Para Aristóteles (apud DIAS, 2000), o homem é naturalmente elevado em relação aos outros seres, pois tem o dom da palavra. Segundo sua obra, os animais não têm outra finalidade senão a de servir ao homem. Para o filósofo, o critério que define os atributos do homem é a razão. Esta razão definiu uma matriz ética, cuja herança se percebe ainda hoje, posto que exclui da dimensão do respeito e da consideração os animais não-humanos.

A ética tradicional obriga o sujeito moral a dois tipos de dever: ao direito, que prescreve o respeito ao semelhante em reconhecimento à dignidade daqueles que podem ser afetados negativa ou positivamente pelos atos do sujeito moral; e ao indireto, que proscreve ações contrárias ao bem-estar de seres destituídos de razão não por lhes reconhecer um direito moral qualquer, mas por considerar que têm algum valor para um sujeito racional qualquer. Animais, nesse sentido, devem ser bem tratados não porque algum ser humano, ao qual se reconhece o direito de propriedade, pode ter seu interesse lesado caso “seu” animal seja maltratado (FELIPE, 2007b, p. 175).

Descartes (apud FELIPE, 2007b) dizia que os animais agem apenas por impulsos naturais. Segundo ele, o pensamento e o sentimento seriam atributos da alma, o que seria próprio apenas dos humanos. Foi nesta época que se difundiu na Europa a vivissecção, prática de experimentos em animais vivos.

Em contraste ao pensamento de Galileu, Descartes e Newton, que estão na base da revolução tecnológica, surgem Montaigne, Rousseau e Goethe, em defesa do pensamento não manipulador da natureza e do respeito aos animais.

Com os Estóicos, tem-se a ideia de que o direito natural é comum a homens e animais. Porém, a aplicação da justiça é apenas para os seres racionais. São os precursores do contrato social.

Sendo o humanismo reafirmado pela Renascença, o drama dos animais torna-se ainda mais intenso, quando Thomas Hobbes (1558-1679) Spinoza (1632-1677) e John Locke (1632-1704) equiparam razão à sabedoria, incentivando a livre intervenção humana na natureza (LEVAI, 2004, p. 19-20). Em “O Leviatã”, Hobbes fundou a filosofia do direito individual moderno e deu à linguagem o papel de formadora das relações políticas e sociais, excluindo os animais do chamado contrato social (HOBBES, 2000).

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Figura 1 - Mapa das Regiões Administrativas do Distrito Federal  Fonte: Fórum Skyscrapercity (2009)
Foto 1  –  Lixão da Estrutural: Contrastes e contradições da expansão urbana: Pessoas e animais
Foto 2 - Reunião no MPDFT para apresentação de proposta do GT  Fonte: A Autora.
Foto 4 - Promotora da 4ª Prodema, Kátia Lemos, cobra ações relativas aos VTAs   Fonte: A Autora
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