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Foto 55 Ensaio fotográfico “Todos os filhotes merecem respeito”

2.4 GOVERNANÇA AMBIENTAL

A palavra governança tem sido utilizada de forma ampla e requer que seu significado seja visto em função do contexto considerado. A Governança Corporativa, por exemplo, refere-se às práticas e relacionamentos entre os acionistas, cotistas, conselhos administrativos, gestores das empresas e outros

stakeholders10 e tem como objetivo o desempenho ótimo da organização, de forma a

facilitar o acesso ao capital e ao lucro.

Para a governança corporativa interessa, portanto, organizar um sistema de decisões e práticas de gestão voltadas para a determinação e controle do desempenho e da direção estratégica das corporações.

Para isso, a busca da redução de riscos internos e externos inerentes ao negócio, o gerenciamento de interesses, a redução da volatilidade dos resultados e a conquista da credibilidade dos investidores e da sociedade em geral são aspectos próprios da governança corporativa para ampliação das bases estratégicas da criação de valor (SLOMSKI et al., 2008, p. 5).

De acordo com o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC apud SLOMSKI, 2008)11, a adoção das boas práticas de governança busca aumentar o valor da sociedade, facilitar seu acesso ao capital e contribuir para a sua perenidade. Assim, por meio de determinados mecanismos de gestão e do monitoramento do sistema, busca-se assegurar o bom desempenho da empresa para o aumento da sua riqueza. Para tanto, são estabelecidos direitos e

10 Stakeholders é a denominação dada ao conjunto de todas as partes envolvidas em uma empresa. 11 O IBGC é uma organização exclusivamente dedicada à promoção da Governança Corporativa no

Brasil. Tem como propósito contribuir para o desempenho sustentável das organizações, influenciando agentes da sociedade com vistas à transparência, justiça e responsabilidade. Para saber mais acessar: <www.ibgc.org.br>.

responsabilidades, bem como as regras e os procedimentos para a tomada de decisões corporativas.

Outro contexto trazido pela expressão governança vem de reflexões conduzidas, sobretudo, pelo Banco Mundial, na perspectiva de aprofundar o conhecimento das condições necessárias para a adoção de um Estado eficiente. Nesse sentido, o foco se desloca da abordagem meramente econômica para uma visão mais abrangente, ampliando o olhar para dimensões sociais e políticas no universo da gestão pública.

Esta mudança também está atrelada a uma nova relação estabelecida entre as esferas pública e privada, momento em que são disseminadas as organizações civis, cujas lideranças, mais flexíveis, passam a atuar em parceria com a estrutura formal do Estado, na busca de resultados frente à crescente complexidade demandada pela sociedade.

Paralelamente, para lidar com esses novos atores surgem as organizações não-governamentais ONGs, todas baseadas na idéia-força de que tão ou mais importante do que o capital financeiro é o poder transformador do capital social: uma boa idéia, a vontade de fazer e a capacidade de mobilizar pessoas, recursos e influências para obter resultados (CAMARGO, 2003, p. 310).

Outro aspecto importante destacado pela literatura é a distinção feita entre governança, governo e governabilidade. Camargo (2003) ressalta que governança refere-se a atividades apoiadas em objetivos comuns e partilhados, que abrangem tanto as instituições governamentais quanto mecanismos informais, de caráter não governamental, mas que só funcionam se forem aceitos pela maioria ou, mais precisamente, pelos principais atores de um determinado processo (CAMARGO, 2003, p. 308).

Assim, a governança está vinculada a ações apoiadas em objetivos e responsabilidades que são compartilhados entre diversos segmentos como, por exemplo, instituições governamentais, a sociedade civil e a iniciativa privada. Trata- se de um processo caracterizado pela ampla – numa referência à horizontalização das responsabilidades - participação social na tomada de decisões. É um fenômeno que tem na base o empoderamento da sociedade de forma tal que os diversos atores sociais assumam compromissos e responsabilidades nas escolhas e decisões em contextos determinados.

A busca da governança introduziu também na ordem do dia a prioridade ao fortalecimento do poder local e aos processos de descentralização, acompanhados da valorização dos movimentos comunitários, das micro e

pequenas empresas e da promoção do associativismo, especialmente o empoderamento dos principais atores através da capacitação, do desenvolvimento institucional e da democracia em rede (CAMARGO, 2003, p. 310).

Nesse sentido, o conceito de governança refere-se ao conjunto de iniciativas, regras, instâncias e processos que permitem às pessoas, por meio de suas comunidades e organizações civis, a exercer o controle social, público e transparente, das estruturas estatais e das políticas públicas, por um lado, e da dinâmica e das instituições do mercado, por outro, visando atingir objetivos comuns. Assim, governança abrange tanto mecanismos governamentais como informais e/ou não estatais. Significa a capacidade social (os sistemas, seus instrumentos e instituições) de dar rumo, ou seja, orientar condutas dos estados, das empresas, das pessoas em torno de certos valores e objetivos de longo prazo para a sociedade (BORN, 2007 apud FÓRUM BRASILEIRO DE ONGS E MOVIMENTOS SOCIAIS PARA O MEIO AMBIENTE E O DESENVOLVIMENTO (FBOMS); VITAE CIVILIS INSTITUTO PARA O DESENVOLVIMENTO, MEIO AMBIENTE E PAZ, 2007, p. 8).

O conceito de governança alterou o padrão e o modo de se pensar a gestão de bens públicos, antes restritos aos atores presentes na esfera pública estatal. A esfera pública não-estatal é incorporada por meio de novos atores que entraram em cena nos anos 70/80, pressionando por equipamentos coletivos públicos, melhores condições materiais e ambientais de vida, direitos sociais, cidadania, identidade de raça, etnia, gênero, geracional, etc., cada vez mais se tornaram parte de novas estruturas (GOHN, 2005,p. 63 apud BRASIL, 2007,p. 53).

Conforme definição do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD), as instituições da governança nos três domínios (estado, sociedade civil e o setor confidencial12) devem contribuir ao desenvolvimento humano sustentável estabelecendo as circunstâncias políticas, legais, econômicas e sociais para a redução da pobreza, a criação de trabalho, a proteção ambiental e o avanço das mulheres (BRASIL, 2007, p. 53).

Nesse contexto são traçados os caminhos da governança ambiental. A Cúpula sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, em 1992, foi um marco no reconhecimento do papel e das contribuições da sociedade civil para o processo de governança ambiental.

Milhares de ONGs e movimentos sociais participaram da Cúpula e do evento paralelo, o Fórum Global da Sociedade Civil, que foi organizado pelo FBOMS. A Declaração da Rio-92 e a Agenda 21 consagraram a participação da sociedade civil na governança ambiental internacional. O

12 O setor confidencial compreende operações bancárias, cooperativas, comércio e indústrias e o

Princípio 10 da Declaração do Rio define que temas ambientais são mais bem abordados com a participação dos cidadãos envolvidos. Também define a importância do acesso à informação, acesso à participação no processo de tomada de decisão política e acesso à justiça (FÓRUM BRASILEIRO DE ONGS E MOVIMENTOS SOCIAIS PARA O MEIO AMBIENTE E O DESENVOLVIMENTO (FBOMS); VITAE CIVILIS INSTITUTO PARA O DESENVOLVIMENTO, MEIO AMBIENTE E PAZ,

2007).

De acordo com o Fórum brasileiro de ONGS e Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (FBOMS) e Vitae Civilis Instituto para o Desenvolvimento, Meio ambiente e Paz (2007), o cenário de degradação ambiental

é cada vez mais evidente e com ele crescem os desafios em relação às soluções demandadas para fazer frente aos impactos decorrentes da ação humana.

Um dos motivos para esta situação pode ser identificado na complexa fragmentação da governança ambiental internacional, demonstrando múltiplas atribuições e papeis distribuídos em instituições de várias esferas e segmentos e a falta de coordenação. Os ambientalistas citam a falta de metas claras nos acordos, o que dificulta a implementação das medidas propostas. Da mesma forma, não há garantia de financiamento adequado para o desenvolvimento das ações.

Nesse sentido, um dos desafios citados por esse segmento está em recompor o desenho da governança ambiental, de forma a criar e aprimorar as estratégias e condições de governança, nos níveis local, regional, nacional e global.

O contexto dos veículos de tração animal no Distrito Federal, objeto desta pesquisa, também deve ser analisado sob essa ótica. É com essa perspectiva que o estudo - ancorado em referenciais teóricos que coadunam com a visão complexa e sistêmica - pretende oferecer uma visão da realidade vivida na região pesquisada. Da mesma forma, busca-se indicar alguns arranjos voltados à arquitetura da governança - necessária ao universo em questão - considerando todos os atores sociais envolvidos.

3 REFERENCIAL TEÓRICO

A revisão das bases e marcos teóricos que subsidiam este trabalho evidencia a relação intrínseca do ser humano com os animais e o ambiente urbano. Uma relação da ordem da complexidade, sendo impossível estabelecer alguma separação entre os seus atores sociais e processos. Daí a necessidade de percebê- los como um sistema.

A idéia central dessa concepção sistêmica da vida é de que seu padrão básico de organização é a rede. Em todos os níveis da vida – desde as redes metabólicas dentro da célula até as teias alimentares dos ecossistemas e as redes de comunicações da sociedade humana – os componentes dos sistemas vivos se interligam sob a forma de rede (CAPRA, 2002, p. 267).

É nessa perspectiva que Morin (2006) situa a Teoria da Complexidade, chamando atenção para o fato de que a complexidade não se reduz à complicação. O pensamento complexo busca estabelecer relações mútuas e influências recíprocas entre a parte e o todo num mundo complexo.

Para isso é preciso levar em conta princípios de unidade e diversidade humana, de recorrência (em que a mutação constante vai levar a uma organização), de complementaridade entre os opostos (antagonismo e concorrência) e a relação parte/todo.

Morin (2006) aborda três conceitos que são fundamentais para esta pesquisa e que ele denomina macroconceitos. São eles: dialógico, recursão organizacional e hologramático. O princípio dialógico permite manter a dualidade no seio da unidade. Na recursão organizacional, o autor admite que somos ao mesmo tempo produtos e produtores no âmbito da sociedade. A sociedade é produzida pelas interações entre indivíduos, mas a sociedade, uma vez produzida, retroage sobre os indivíduos e os produz (MORIN, 2006, p. 74). Já o princípio hologramático diz que não apenas a parte está no todo, mas o todo está na parte. Portanto, a própria idéia hologramática está ligada à idéia recursiva, que está ligada, em parte, à ideia dialógica (MORIN, 2006, p. 75).

Nessa concepção, o eixo do pensamento linear se desloca para aspectos anteriormente desprezados. A contradição é fundamental para o pensamento complexo e o conceito de emergência – que admite que de todas as qualidades de um universo físico emerge algo novo – não despreza qualidades anteriores, mas incorpora o novo, a criação. Para Morin, aí está o princípio criativo da vida – que passa pela liberdade de ação, da ação processual, que incorpora estratégias de sobrevivência com base na interação, no conhecimento pertinente - aquele que dá conta do

contexto, do global - valorizando incertezas e a condição diversa do humano e da identidade terrena (que aceita a diferença) e valoriza a ética (SILVA et al, 2007).

Em “No meio da rua – nômades, excluídos e viradores”, os autores registram a relação direta entre a vida no meio da rua e a sobrevivência a partir da coleta de materiais no lixo.

Esse imbricamento entre os rejeitos físicos (lixo) e humanos (excluídos) da sociedade revela uma dimensão perversa da modernidade: o aumento da produção de bens com componentes cada vez mais descartáveis, paralelamente ao aumento da produção de desempregados, dois elementos dialeticamente conexos. A vida no e do lixo é o corolário, nesse sentido, de um processo econômico que valoriza a reciclagem de materiais para um florescente negócio industrial, ao mesmo tempo em que desvaloriza o trabalho das populações que são jogadas no meio da rua (BURSZTYN, 2003, p. 21).

O cenário descrito nessa obra inclui, ainda, a utilização de animais nas circunstâncias de pobreza econômica e educacional da população que os maneja.

Esse universo comporta as dimensões política, econômica, cultural, social, ética e ambiental em meio às quais as narrativas do pensamento complexo precisam transitar.

Em Morin (2006, p. 6), a complexidade é uma palavra-problema e não uma palavra-solução. Trata-se de exercer um pensamento capaz de lidar com o real, de com ele dialogar e negociar.

O autor faz um contraponto entre o pensamento simplificador, que é incapaz de conceber a conjunção do uno e do múltiplo; traço que pode ser observado no contexto pesquisado:

Infelizmente, pela visão mutiladora e unidimensional, paga-se bem caro nos fenômenos humanos: a mutilação corta na carne, verte o sangue, expande o sofrimento. A incapacidade de conceber a complexidade da realidade antropossocial, em sua microdimensão (o ser individual) e em sua macrodimensão (o conjunto da humanidade planetária), conduz a infinitas tragédias e nos conduz à tragédia suprema. Dizem-nos que a política “deve” ser simplificadora e maniqueísta. Sim, claro, em sua concepção manipuladora que utiliza as pulsões cegas. Mas a estratégia política requer o conhecimento complexo, porque ela se constrói na ação com e contra o incerto, o acaso, o jogo múltiplo das interações e retroações (MORIN, 2006, p. 13).

Nesse contexto, a governança ambiental surge como um processo que poderá resultar dos esforços de intervenção interativa de todos os atores implicados – nas instâncias do Estado/administração pública, da iniciativa privada e dos movimentos sociais – onde se insere o contorno da situação problema desta pesquisa. Esse movimento busca não apenas organizar meios e recursos como também estabelecer novas relações entre diferentes segmentos, a partir de outras perspectivas de organização social.

Nas últimas duas décadas, sustentabilidade e governança surgiram como dois importantes conceitos no campo do planejamento do desenvolvimento. Esses dois conceitos tornaram-se fortemente relacionados, uma vez que, o conceito de governança, especialmente no que se refere à interação entre uma multiplicidade de atores influenciando uns aos outros na condução dos problemas coletivos e a estrutura normativa, transformou-se numa recomendação e um pré-requisito da política para sustentabilidade (UN- ESCWA, 2001 apud BESSA; FARIA; STAUB, 2006).

O termo sustentabilidade remete aos conceitos de gestão eficiente e equilibrada dos recursos ambientais no espaço e no tempo. Por sua vez, o espaço compreende o ambiente com todas as espécies vivas; no caso deste estudo, o espaço delimitado é o Distrito Federal. Esta noção encontra eco na Constituição Federal de 1988, que estabelece no caput do art. 225 o direito de todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo. De acordo com a Carta Magna, cabe ao Poder Público e à coletividade o dever de defender o meio ambiente e preservá-lo para a presente e as futuras gerações (BRASIL, 1988).

Com a autonomia conquistada pelos municípios, a esfera local tornou-se o lócus privilegiado para formulação de políticas públicas e planejamento da realidade socioambiental. Um dos exemplos contemporâneos está dado pela prática do Orçamento Participativo ou da Agenda 21.

Mas o sucesso dessa gestão dependerá, em grande medida, da participação efetiva e interação de todos os segmentos. Tal gestão integrada deve, ainda, levar em conta as dimensões econômica, política, social, cultural, ética e ambiental, associadas ao acompanhamento, às estratégias e ação comunicativa permanentes no processo de governança ambiental.

Assim, associam-se processos de desenvolvimento à capacidade dos atores de promover a comunicação, a negociação e a cooperação entre atores do mercado, da sociedade e do estado. Novas formas de governança ambiental podem desencadear formas mais inclusivas de desenvolvimento (BESSA; FARIA; SATAUB, 2006).

Para Morin (2005, p. 15), os problemas da complexidade estão em linha direta com a ética. Isso nos obriga a pensar a relação entre conhecimento e ética, ciência e ética, política e ética, economia e ética.

Todo conhecimento pode ser posto a serviço da manipulação, mas o pensamento complexo conduz a uma ética da solidariedade e da não- coerção. [...] O pensamento complexo alimenta a ética. Ao religar os conhecimentos, orienta para a religação entre os seres humanos (MORIN, 2005, p. 64).

Todavia, cabe destacar que esta religação deve estender-se a todos os seres vivos. De acordo com o World Society for the Protection of Animals (2008, p. 2), a preocupação com o tratamento dado aos animais não é uma questão abstrata ou teórica. Muito pelo contrário, como antecipa o Conselho Europeu, que tem uma série de recomendações sobre o tema para diferentes situações, a importância moral e política do bem-estar animal está cada vez mais sendo reconhecida, a exemplo da ampliação do debate em diversas instâncias, como é o caso das lides de construções do ordenamento jurídico.

A forma como tratamos os animais nos afeta como humanos; a qualidade de vida animal afeta a qualidade de vida humana (WORLD SOCIETY FOR THE PROTECTION OF ANIMALS, 2008, p. 8). Gandhi (apud WORLD SOCIETY FOR THE PROTECTION OF ANIMALS, 2008) situou bem a importância do desenvolvimento ético em relação aos não-humanos quando disse “que o valor de uma nação e seu progresso moral pode ser julgado pelo modo com que seus animais são tratados”.

De acordo com Irvênia Prada (2007), o paradigma Antropocêntrico - que vem norteando há muito a conduta humana - sustenta-se em duas características básicas – visa o bem-estar apenas do ser humano e recomenda a exploração da natureza, em seu benefício. Propósito reafirmado, sobretudo, após a Renascença.

Essa conduta, associada ao tema bem-estar animal, tem profundas implicações éticas. Segundo ela, já se tem informação suficiente de que os animais são seres sencientes – isto é, têm sensações tanto de bem-estar quanto de dor e sofrimento. Todavia, para muitas pessoas, os animais ainda são vistos como meros objetos passíveis de subjugação para o atendimento de interesses zootécnicos, comerciais, científicos e outros (PRADA, 2007).

O caráter jurídico e filosófico da relação entre seres humanos e não-humanos é ressaltado por Laerte Levai (2006, p 172):

Sob o prisma antropocêntrico, a natureza e os animais deixam de ser um valor em si, transformando em meros recursos ambientais. Tal sistema, ao desconsiderar a singularidade de cada criatura e o caráter sagrado da vida, justifica a tutela da fauna conforme a serventia que os animais possam ter. Tratados, via de regra, como mercadoria, matéria-prima ou produto de consumo, os animais – do ponto de vista jurídico – têm negada sua natural condição de seres sensíveis. Isso precisa mudar. Não pode mais prevalecer o silêncio diante de tamanha opressão.

Genebaldo Freire também acena com a importância dos princípios éticos. Segundo ele, o maior desafio para a sustentabilidade da espécie humana é ser ético em todas as suas decisões e relações (DIAS, 2003).

Para Morin (2005), o olhar sobre a ética é subjetivo, complexo e deve conduzir à compaixão e à solidariedade. A complexidade permite conceber as degradações humanas engendradas pelo excesso de egocentrismo, pela obsessão econômica, pelo espírito tecnoburocrático. Permite compreender as incompreensões (MORIN, 2005, p. 65).

Edna Cardozo Dias (2006, p. 119) registra que os animais são sujeitos de direitos subjetivos por força das leis que os protegem.

Embora não possam ter identidade civil e ser registrados em cartório, são portadores de direitos inerentes à sua natureza de ser vivo e de indivíduos de uma determinada espécie. Se observarmos que os direitos de personalidade do ser humano lhe pertencem como indivíduo, e se admitirmos que o direito à vida é imanente a tudo que vive, podemos concluir que os animais também possuem direitos de personalidade, como o direito à vida e ao não sofrimento. E tal como os juridicamente incapazes, seus direitos são garantidos por deveres de todos os homens.

Assim, a comunicação, a educação ambiental e humanitária, como instrumentos do processo de governança ambiental deverão responder por ações carregadas de sentido ético, ancoradas em valores complexos. Respostas emancipatórias do ponto de vista da sustentabilidade e das transformações necessárias para a construção de novas relações entre todas as formas de vida. A questão geral, então, é como os efeitos de nossas ações no meio ambiente de seres não humanos devem figurar em nossas deliberações sobre o que devemos fazer. Existe uma ilimitada variedade de contextos em que este assunto pode surgir (SINGER, 2007).

[...] Ora, a sociedade-mundo, para emergir, necessita de uma política da civilização e de uma política da humanidade que substituam a política de desenvolvimento.

[...] Estamos diante de uma contradição: a sociedade-mundo é uma condição prévia para sair da crise da humanidade, mas a reforma da humanidade é uma condição prévia para chegar a uma sociedade-mundo para além da idade de ferro planetária (MORIN, 2005, p. 166-1667).

4 METODOLOGIA

4.1 ESTUDO DE CASO

O método escolhido para esta pesquisa, foi o estudo de caso. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, de natureza exploratória, características estas aconselhadas para pesquisas feitas por meio de estudo de caso. As opções pelo método e pela natureza da pesquisa se coadunam em função do contexto estudado, que considera diversos atores sociais envolvidos e implica na descrição, compreensão e interpretação de fatos e fenômenos desse universo.

Estudo de caso pede avaliação qualitativa, pois seu objetivo é o estudo de uma unidade social que se analisa profunda e intensamente. Trata-se de uma investigação empírica que pesquisa fenômenos dentro de seu contexto real (pesquisa naturalística), onde o pesquisador não tem controle sobre eventos e variáveis, buscando apreender a totalidade de uma situação e,