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Foto 55 Ensaio fotográfico “Todos os filhotes merecem respeito”

5.4 PODER PUBLICO

Num primeiro momento, a coordenação do GT para organização das ações decorrentes da decisão governamental de proibir o trânsito de VTAs no Plano Piloto e regularizar a atividade nas demais RAs esteve à cargo do SLU. Com o início das reuniões e as dificuldades apresentadas pelo órgão para o desenvolvimento das ações junto às Administrações Regionais, a articulação do GT passou a ser feita pela Coordenadoria das Cidades.

5.4.1 Coordenadoria de Cidades

Assim, a Coordenadoria das Cidades passou a se responsabilizar pela síntese do cadastramento realizado nas RAs e montou um cronograma para desenvolver as atividades conjuntas para vistoria das carroças e palestras sobre trânsito, a cargo do DETRAN, exame dos animais (resenha, coleta de material e vacinação anti-rábica e chipagem dos animais) e palestra sobre manejo dos animais, sob responsabilidade da Seapa. Além disso, o cronograma incluiu ações de fiscalização, que num primeiro momento eram apenas de caráter educativo e posteriormente passaram a ter um viés punitivo (com apreensão de carroças e animais).

Uma das providências tomadas pela Coordenadoria foi a elaboração e distribuição, para os carroceiros, de folder informativo denominado “Carroceiro Legalizado”. O folder destaca os cuidados e proibições relativas ao trânsito de VTAs no DF, seja em relação às carroças, quanto aos animais e pessoas (ver folder no Anexo A).

Foto 7 - Reunião Coordenadoria de Cidades e representantes das ARs Fonte: A Autora

Entre as evidências encontradas no rol de ações da Coordenadoria das Cidades há a grande dificuldade de articular ações, a começar pelas próprias Administrações Regionais. Interesses políticos dificultaram a prática de decisões técnicas de representantes dos órgãos, até mesmo em relação à própria decisão de proibir e regularizar. Isto porque há intenções claramente eleitoreiras em relação a esta população. Exemplo desse contexto se deu por ocasião de cadastramento em determinada RA, quando o Administrador Regional reuniu a todos pedindo que “prestigiassem” o lançamento de determinada obra, pois o então governador atenderia a todos naquele dia para resolver todos os problemas da categoria.

Segundo informação de um representante da Coordenadoria17, durante o período de cadastramento, muitos se dirigiam às Administrações Regionais pensando que “iriam ganhar casas ou lotes do governo”. O número de cadastramentos diminuiu quando se percebeu o motivo de tal ação. Ainda segundo este representante, “quem tem o poder de decisão deixou claro, inúmeras vezes, que não interessa resolver esta questão dos VTAs”.

Ainda no plano das articulações, a coordenadoria demonstrou dificuldade de integrar todos os órgãos envolvidos para a realização das ações fiscalizatórias e educativas, dada a complexidade da logística e número de órgãos/pessoas envolvidos. A atuação do órgão limitou-se a tais ações, ficando de lado a proposta inicial para criação de cooperativas, formação de mão-de-obra, o atendimento às

17 Entrevista concedida à autora, que denota aspectos importantes de assuntos tratados no contexto

famílias, por meio de suprimento de fundos (auxílio-aluguel), albergamento, transporte urbano, em articulação com a Sedest e o SLU.

Merece destaque o fato de que a Sedest passou apenas a acompanhar as ações de fiscalização, para dar orientações aos carroceiros. Mas, efetivamente, não se viabilizou qualquer programa voltado a esses trabalhadores – seja de geração de renda, política habitacional, de transporte, saúde ou educação. Da mesma forma, a Coordenadoria das Cidades não logrou êxito em executar ações integradas nesse sentido, tampouco deu continuidade aos contatos para encaminhamento dos filhos de carroceiros ao sistema educacional.

5.4.2 Seapa

À Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Distrito Federal (Seapa – DF) coube realizar exames e a chipagem18 dos animais utilizados na tração dos veículos; proceder à vacinação semestral contra raiva, dos animais identificados e examinados nesse processo. A Seapa também realizou palestras sobre o manejo dos animais.

A emissão da licença para o animal, na forma do Anexo IV do Decreto 27.122/2006 (BRASIL. 2006), o recolhimento, transporte e guarda dos animais apreendidos na fiscalização, a vistoria dos currais comunitários e a elaboração de um sistema integrado de informações sobre os animais também ficaram a cargo da Seapa.

Na tabela 3 há um demonstrativo de animais examinados e microchipados nas Regiões Administrativas do DF, até dezembro de 2008.

Em anexo a este estudo encontram-se alguns formulários utilizados pelo Poder Público nesse trabalho.

18 Os exames realizados focavam, sobretudo pesquisar se os animais eram portadores de Anemia

Infecciosa Eqüina (AIE), que equivale à AIDS nos humanos. No caso dos animais apresentarem resultados positivos eles são sacrificados. A chipagem consiste em introduzir um chip em região subcutânea, próximo ao pescoço do animal. O objetivo é rastrear e controlar, por meio desse dispositivo, de tal forma que o animal possa ser identificado quanto à origem, proprietário do mesmo e os exames realizados.

Tabela 3 - Animais examinados e microchipados nas RAs – Posição até 20/12/2008

Região administrativa examinados Animais Inaptos

%

inaptos Positivo p/ aie positivos % licenciados Animais

Brazlândia 72 1 1,39 1 1,39 70

Ceilândia 419 21 5,01 10 2,39 388

Gama 95 6 6,32 2 2,11 87

Guará 98 6 6,12 0 0,00 92

Recanto das Emas 90 5 5,56 1 1,11 84

Riacho Fundo I 18 0 0,00 0 0,00 18 Riacho Fundo II 37 5 13,50 0 0,00 32 Santa Maria 127 1 0,79 2 1,57 124 Sobradinho I 40 1 2,50 1 2,50 38 Sobradinho II 37 1 2,70 1 2,70 35 Águas Claras 56 0 0,00 4 7,14 52 Candangolândia 22 4 18,18 0 0,00 18 Itapoã 30 1 3,33 0 0,00 29 Núcleo Bandeirante 20 5 25,00 0 0,00 15 Paranoá 40 0 0,00 0 0,00 40 Plnaltina 237 1 0,42 6 2,53 230 SAI 36 0 0,00 3 8,33 33 Samambaia 114 9 7,89 2 1,75 103 São Sebastião 49 5 10,20 0 0,00 44 SCIA - Estrutural 93 15 16,13 2 2,15 76 Taguatinga 136 7 5,15 2 1,47 127 R. Fundo I (2ª etapa) 19 0 0,00 0 0,00 19 R. Fundo II (2ª etapa) 45 1 2,22 0 0,00 44 Gama (2ª etapa) 92 4 4,35 0 0,00 88 Ceilândia (2ª etapa) 442 32 7,24 5 1,13 405 TOTAL 2464 131 5,76 42 1,53 2291 RAs c/ animais

microchipados: 1431 MÉDIA MÉDIA

Fonte: Distrito Federal (Brasil) (2008b)

Foto 8 - Médico veterinário da Seapa implanta microchip em animal Fonte: A Autora

Foto 9 - Verificação do microchip Fonte: A Autora

Foto 10 - Aplicação de vacina antirrábica Fonte: A Autora

De acordo com informação de representante da Seapa19, durante as operações do GT foram utilizadas de 10 a 15 pessoas do órgão, dois caminhões, microchips, agulhas para vacina, três carros. Gastos com alimentação e cuidados veterinários dos animais apreendidos também entram nessa contabilidade.

Foto 11 - Carroceiros da RA do Gama aguardam exames dos animais Fonte: A Autora

19 Entrevista concedida à autora, que denota aspectos importantes de assuntos tratados no contexto

Foto 12 - Animais são contidos para exame Fonte: A Autora

Foto 13 - Animais são contidos para exame Fonte: A Autora

Ainda segundo o representante do órgão20, foram realizadas oito ações de fiscalização educativa na região do Plano Piloto, até dezembro de 2008. Com relação à fiscalização punitiva, há o registro de 750 apreensões de animais em 2007 e 748 até outubro de 2008. Nas demais RAs, os números foram de 30 em 2007 e 45 em 2008.

20 Entrevista concedida à autora, que denota aspectos importantes de assuntos tratados no contexto

Foto 14 - Carroças apreendidas pela fiscalização Fonte: A Autora

Foto 15 - Carroças apreendidas pela fiscalização Fonte: A Autora

Foto 16 - Carroças apreendidas pela fiscalização Fonte: A Autora

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Foto 17 - Animais apreendidos pela fiscalização Fonte: A Autora

A

Foto 18 - Animais apreendidos pela fiscalização Fonte: A Autora

Foto 19 - Animais apreendidos pela fiscalização Fonte: A Autora

Foto 20 - Animais apreendidos pela fiscalização Fonte: A Autora

Foto 21 - Durante fiscalização, agente verifica se animal foi chipado Fonte: A Autora

Além das apreensões por maus-tratos verificados durante a fiscalização, há o registro de animais abandonados ou soltos21 pelos donos nas vias públicas - em média um por mês no Plano Piloto. Nas demais RAs o número de animais abandonados cresce para 5 a 10 ao mês, segundo esta fonte.

21 Há uma distinção entre animais soltos e abandonados. Os primeiros são animais deixados ao longo

das vias públicas, soltos, em períodos de descanso ou para pastarem. Os animais abandonados são deixados nas vias, em geral depois de estarem em estado avançado de maus-tratos ou serem considerados “inservíveis” ao trabalho de tração, por motivo de doença.

Foto 22 - Animal abandonado próximo ao campus da UnB Fonte: A Autora

O representante do órgão mencionou22 que a Seapa tem estrutura para abrigar em torno de no máximo 40 animais, considerando a adequação do espaço. De qualquer forma a estrutura é precária, havendo, inclusive roubo de animais no próprio curral do órgão. A informação é de que o órgão recebeu, em taxas dos carroceiros que tiveram animais apreendidos, o correspondente a R$ 12 mil em 2007 e R$ 18 mil em 2008.

Um dado importante é que em 2007 e 2008 os carroceiros pagavam taxas de apreensão. A multa, correspondente aos maus-tratos, tal como estipulado pela lei nº 9.605/98 (BRASIL, 1998b), de Crimes Ambientais, só foi cobrada quando o IBAMA, agindo supletivamente, atuou nas ações de fiscalização. O Ibram foi absolutamente omisso nesse período.

Recentemente, houve uma reestruturação no organograma da Seapa, agora denominada Secretaria de Agricultura e Desenvolvimento Regional (Seagri-DF), que passou a contar com o Núcleo de Apreensão de Animais e o Núcleo de Sanidade Animal. Segundo representante do órgão23, há mais profissionais atuando, o que, somado ao acordo de articulação com o Ibram, imprimiu mais efetividade no quesito autuação. Ou seja, sempre que há uma ação fiscalizatória e as apreensões são

22 Entrevista concedida à autora, que denota aspectos importantes de assuntos tratados no contexto

da pesquisa

23 Entrevista concedida à autora, que denota aspectos importantes de assuntos tratados no contexto

necessárias, há também a autuação aos infratores por parte do Ibram, com base em relatório formalizado por médico veterinário constatando maus-tratos.

Quanto aos animais eutanasiados, há registros em 2007 e 2008. Os motivos são Anemia Infecciosa Equina, bem como fraturas decorrentes de acidente automobilístico e atropelamento de animal solto em vias públicas.

Em reunião realizada no MPDFT, o então Secretário da Seapa afirmou que o órgão não tem como apreender todos os animais que apresentam problemas, uma vez que não há orçamento ou estrutura para mantê-los. Segundo ele, a instituição tem problemas para destinar os animais apreendidos que não retornam aos donos.

Foto 23 - Animal solto é atropelado em Brasília, região vedada ao trânsito de VTAs

Fonte: Associação Protetora dos Animais do Distrito Federal (2007)

Foto 24 - Promotora Kátia Lemos em reunião com representantes do Poder Público

Segundo dados do Núcleo Regional de Operações Especiais (Nuroe) – órgão vinculado ao SLU, em 2004 e 2005 foram removidos de logradouros e terrenos públicos o correspondente a 461 e 409 equídeos mortos nesse período. A destinação dos animais após recolhimento é a incineração na usina da RA de Ceilândia ou o chamado lixão da Vila Estrutural. Na tabela 4 há outros números de equídeos recolhidos.

Tabela 4 - Números de eqüídeos mortos recolhidos pelo SLU

Mês Ano de 2007 Ano de 2008

Janeiro Dados não informados 25 Fevereiro Dados não informados 30 Março Dados não informados 23

Abril 22 35 Maio 30 25 Junho 27 24 Julho 28 24 Agosto 44 32 Setembro 26 32 Outubro 32 34 Novembro 40 28 Dezembro 46 20 Total 295 332

Fonte: Distrito Federal (BRASIL) (2009b)

Em cotejo das tabelas de cadastramento de carroceiros e animais apresentadas, bem como das observações realizadas nas ações de fiscalização é possível registrar que o número de veículos licenciados é baixo e que os números não correspondem à realidade, posto que muitos carroceiros não se cadastraram ou não cadastraram todas as carroças ou animais. Aqueles que sabem dos problemas relativos às especificações dos veículos ou maus-tratos aos animais não compareceram aos locais de cadastramento.

Outro dado verificado por ocasião das ações de fiscalização é de que muitos animais são roubados entre os carroceiros ou mesmo vendidos e não há documentação que comprove a posse.

A reprodução descontrolada também é fato verificado. Da mesma forma, alguns entrevistados da Coordenadoria de Cidades e do DETRAN informaram que

as placas de algumas carroças, já licenciadas, tiveram os lacres rompidos para utilização das mesmas em outras carroças.

A Seapa também não estabeleceu um sistema de acompanhamento dos animais examinados, chipados e licenciados. O que deveria ser feito em articulação com os demais órgãos envolvidos (DETRAN, Coordenadoria de Cidades, Sedest, SLU, Polícia Militar). Um dos indicadores acerca das dificuldades do órgão diz respeito à deficiência de pessoal, em especial de médicos veterinários.

Segundo informações do órgão, o inquérito epidemiológico para verificação da sanidade animal segue as indicações do Programa Nacional de Sanidade dos Equídeos (BRASIL. 2011). Programa que é destinado a todos os equídeos, e não somente aos animais de tração, que tem entre as estratégias a prevenção, controle e erradicação de doenças dos equídeos e a vigilância epidemiológica.

Cabe destacar que o referido inquérito é feito por abordagem na rua e não pelo cadastro realizado pelo GDF. Considerando que os animais de tração constituem população mais suscetível, de maior risco, fica o questionamento acerca da eficiência do controle sanitário desses indivíduos, e do contexto de vigilância sanitária no Distrito Federal no tocante aos VTAs.

O Hospital Escola de Grandes Animais da Granja do Torto, da UnB - é importante parceiro da Seapa nas ações voltadas aos animais de tração. Por meio do projeto “Carroceiros” os professores e alunos da instituição realizam o atendimento dos animais utilizados para esse fim. Todavia, o projeto patrocinado pelo MEC recebe em torno de R$ 60 mil por ano apenas.

Por ocasião das atividades do GT, o hospital acompanhou a equipe da Seapa na realização da avaliação de animais, bem como realizou palestras para os carroceiros.

Foto 25 - Animal de carroceiro em tratamento no Hospital Veterinário da UnB

Fonte: A Autora

Temas como manejo sanitário e nutricional foram abordados, a fim de oferecer aos trabalhadores noções de condutas adequadas e cuidados que devem ser observados no trato dos animais utilizados por eles. Porém, o número de carroceiros participantes de tais cursos foi pequeno, assim como no cotidiano desse tipo de transporte observa-se pouca prática do manejo correto. Prova disso está nos casos de maus-tratos verificados em animais tratados pelo Hospital Veterinário.

Entre as diversas formas de maus-tratos infligidos aos animais de tração no Distrito Federal está o trabalho excessivo e peso excessivo a ser transportado. As grandes distâncias percorridas, além da prática de “aluguel” de animais em turnos extras, éguas em estado avançado de prenhez, animais jovens submetidos ao trabalho (sem a formação óssea adequada), a alimentação e hidratação inadequadas e insuficientes – são outros fatores observados pelos médicos veterinários.

Em geral os animais são soltos para vasculhar lixo à procura de alimento. De acordo com os médicos veterinários, esta prática leva com freqüência a diversos problemas como a ingestão de materiais como sacos plásticos, tecidos, cordas e outros, com consequências graves para o animal.

O ferrageamento inadequado, assim como a prática de manejo dos cascos de forma incorreta leva os animais a trabalharem mancando (cavalos claudicantes). Muitos carroceiros utilizam vergalhões de ferro ao invés da ferradura, o que causa problemas locomotores, agravados pelo uso de pregos e não cravos adequados.

Outra constatação de maus-tratos está no ferimento dos animais pelo arreiamento inadequado. Os ferimentos na boca, causados pelos bridões24 inadequados ou improvisados com barbantes; no focinho, por um tipo de freio que fere profundamente o animal, assim como no dorso, ventre e lombo.

Em entrevista, um médico veterinário também relatou os ferimentos que ocorrem nos olhos; muitos chegam à cegueira, em virtude dos espancamentos com chicotes.

Segundo informação do hospital veterinário da UnB25, o número de animais atendidos pelo hospital chega a 300 por ano. A grande maioria dos casos está relacionada aos maus-tratos e desnutrição.

Foto 26 - Animais tratados no Hospital Veterinário da UnB: vitimas de maus- tratos

Fonte: A Autora

24 Segundo Valentino apud (ASSOCIAÇÃO PROTETORA DOS ANIMAIS DO DISTRITO FEDERAL,

2007), o freio do tipo Bridão, ou Cabeção (art. 2º, § 2º, inciso I, previsto no Decreto 27.122/06, consiste em um ferro com um nó no centro, colocado na boca do animal para ser usado como breque. Este, em sendo mal colocado, pressiona e amortece os maxilares, causando dor e feridas no céu da boca, tornando-se um terrível instrumento de tortura na boca do animal. O freio do veículo deveria estar no veículo, suportando o peso, sendo o bridão apenas utilizado para o manejo da movimentação do cavalo, nunca para o suporte do peso quando numa inclinação, por exemplo, o que constitui verdadeira tortura.

25 Entrevista concedida à autora, que denota aspectos importantes de assuntos tratados no contexto

Foto 27 - Animais tratados no Hospital Veterinário da UnB: vitimas de maus-tratos

Fonte: A Autora

Foto 28 - Animais tratados no Hospital Veterinário da UnB: vitimas de maus-tratos

Fonte: A Autora

5.4.3 DETRAN e DER

Ao Departamento de Trânsito (Detran) e ao Departamento de Estrada de Rodagem (DER) do Distrito Federal coube elaborar instruções normativas nº 171 de 8/8/2007 (BRASIL, 2007c) e n º 38, de 03/08/2007 (BRASIL, 2007d), respectivamente. As instruções indicam as vias e rodovias onde fica proibido o tráfego de VTAs.

Agentes do Detran DF também participaram de ações conjuntas de fiscalização para verificar o cumprimento dos dispositivos legais quanto às especificações das carroças e documentação dos condutores. Anteriormente, os agentes contribuíram na etapa do cadastramento, para vistoria das carroças,

emplacamento, expedição de documentos dos veículos e dos condutores, curso sobre regras de trânsito e condução dos VTAs.

Foto 29 - Agentes do DETRAN realizam emplacamento e conferência das carroças

Fonte: A Autora

Foto 30 - Agentes do DETRAN realizam emplacamento e conferência das carroças

Fonte: A Autora

Entre os itens verificados nas ações fiscalizatórias estão: o licenciamento da carroça quanto ao emplacamento, medidas do veículo; arreios utilizados; se possui coletor de excrementos; compatibilidade da carga tracionada com a capacidade do animal (conforme lei); ferrageamento dos animais; utilização de colete refletivo e identificação do condutor; objetos utilizados para condução do veículo tais como chicotes, varas ou outros que causem ferimentos; estado geral do animal; identificação de chip.

Um dos problemas constatados pelos agentes em relação a diversos condutores de VTAs está o uso de bebidas alcoólicas e drogas. A ausência de habilitação também é freqüente.

Foto 31 - Agente do DETRAN participa de ação conjunta de fiscalização dos VTAs

Fonte: A Autora

Entre as alegações para a proibição do trânsito de VTAs no Plano Piloto e regularização nas demais RAs estão os acidentes de trânsito envolvendo tais veículos. Todavia, ao levantar os dados, é possível perceber, por exemplo, que as estatísticas do DETRAN, só relacionam acidentes com vitimas humanas fatais. Quando há morte apenas do equídeo, o acidente não é computado como fatal.

Esse contexto denota de forma inequívoca o cenário abordado no início do estudo acerca da visão antropocêntrica que norteia a conduta humana – seja na condição individual, quanto na social, por meio das decisões institucionais. O que leva a questionar sobre que argumentos são defendidos para não se tratar as mortes de animais de tração nas estatísticas de vítimas fatais.

É importante salientar que se tais dados forem somados aos já computados e, sobretudo, se houver uma comparação com o número de veículos automotores na série histórica, é possível inferir que o número de acidentes envolvendo VTAs é grande. Como também é possível inferir que tal dado sinaliza a necessidade de se repensar os indicadores nas esferas públicas, de forma a também repensar as decisões acerca do trânsito de VTAs nos centros urbanos; leia-se todo o Distrito Federal.

Foto 32 - Acidente com VTA em região proibida ao trânsito desses veículos Fonte: Anderson do Valle (2007)

Tabela 5 - Acidentes de trânsito envolvendo carroça no Distrito Federal – 2000 a 2008

Gravidade e tipo de via 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2008

Acidente fatal 2 5 1 1 3 2 3 6

Via urbana - 1 1 1 2 1 - 3

DFs 2 3 - - 1 1 3 2

BRs 1

Acidente com ferido 35 56 47 54 52 51 45

Via urbana 24 36 37 36 34 34 29

DFs 9 16 8 13 16 13 13

BRs 2 4 2 5 2 4 3

Fonte: Distrito Federal (BRASIL) (2009b)

*Não há acidente registrado com vitima fatal envolvendo tração animal em 2007.

5.4.4 Sedest

Como dito anteriormente, além de desencadear as etapas de ações para cumprimento da decisão governamental, quanto à retirada dos VTAs do Plano Piloto e regularização nas demais RAs, o GT se propunha também a apoiar a organização do segmento de carroceiros em cooperativas e/ou associações, de tal forma a viabilizar o transporte de materiais por meio de veículos motorizados – no caso do Plano Piloto, região abrangida pela proibição do trânsito de VTAs.

Nesse sentido, era de se esperar que a Sedest cumprisse papel importante no arranjo das ações voltadas a tal organização, para além do exercício pontual e tarefeiro assumido no âmbito do GT. Prova disso está na atuação limitada ao levantamento de dados acerca da comunidade de catadores/carroceiros (citada no

item 5.1), como também no ato de “orientar os carroceiros e as famílias sobre direitos e deveres” no transcorrer das ações fiscalizatórias.

Da mesma forma, o auxílio com fornecimento de caminhão para o transporte dos pertences, repasse do auxílio aluguel ou encaminhamento para o Albergue Conviver denotam a atuação tarefeira, paternalista, distanciada de proposições concretas, sistemáticas e contextualizadas no âmbito do Poder Público. Vale lembrar