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Foto 50 - Crianças conduzem carroças em péssimo estado, com excesso de peso, em locais e horários proibidos

Fonte: A Autora

5.7.1.7.1 Proposta para alteração do Decreto 27.122 de 2006

Além dos fatos citados vale lembrar que, diante desse cenário de descumprimento da legislação pertinente, a fiscalização é absolutamente ineficaz, tanto no sentido de coibir tais infrações, quanto nos aspectos punitivos, tal como estabelecido nas normas em vigor.

Por outro lado, o Decreto 27.122/2006 (BRASIL, 2006) foi objeto de questionamento durante o trabalho do GT, por parte de representantes do IBAMA e das ONGs ProAnima e WSPA.

Como consequência desse debate no âmbito do GT o grupo apresentou minuta de novo Decreto, cujo teor contempla de forma mais abrangente aspectos relativos ao bem-estar dos animais de tração, objetivando o enquadramento legal desse dispositivo às normativas federais. Além disso, a proposta busca uniformizar as ações dos diversos órgãos de fiscalização, defendendo os interesses da sociedade, seja no que concerne ao amparo social, à limpeza urbana, à defesa do meio ambiente ou à segurança no trânsito.

Porém, o documento não foi acatado pelos dirigentes da Coordenadoria de Cidades, inviabilizando até o momento outras ações nesse sentido.

Na realidade, alguns técnicos da Coordenadoria, que apoiavam a medida, tentaram levar adiante a proposta discutida. Todavia, como já observado neste

estudo, indicações técnicas têm sido deixadas de lado em virtude de decisões políticas - ou descaso - dos tomadores de decisão.

5.8 LEGISLAÇÃO COMPARADA

No Brasil há casos exemplares de legislação aplicada à proteção dos equídeos. São contextos em que se percebe a evolução não apenas dos diplomas legais, mas, antes, do percurso de pressão social.

Essa é uma trajetória de protagonismo da sociedade civil organizada - em especial das ONGs de proteção animal, como também de especialistas em etologia e bem-estar animal - cujo conhecimento disseminado contribui para respaldar ações de representantes do Ministério Público nos Estados. Como resultado, há uma série de Termos de Ajustamento de Condutas (TACs) firmados por iniciativa do Ministério Público em Estados brasileiros, envolvendo instituições governamentais e não governamentais.

Em setembro de 2008, o prefeito de Porto Alegre sancionou a Lei 10.531/2008, aprovada pela Câmara Municipal. Esta lei institui no município o Programa de Redução Gradativa do Número de Veículos de Tração Animal e de Veículos de Tração Humana (PORTO ALEGRE, 2008).

Segundo esta lei, no prazo de oito anos o trânsito desses veículos estará proibido em definitivo. Desde então, o município – conhecido como a capital das carroças - deu início a um processo de governança, por meio do qual, todos os atores sociais envolvidos participaram da formulação de um planejamento estratégico, atualmente em execução, para formação e inclusão social dos trabalhadores, criação de cooperativas, destinação adequada dos animais, entre outras providências. Todo esse processo está vinculado à política de tratamento dos resíduos sólidos do município.

No município de São Paulo, o trânsito de VTAs é regulado pela Lei 11.887/95 (SÃO PAULO, 1995), que prevê uma série de equipamentos obrigatórios no veículo. Entre eles estão: sistema de freios com alavanca e lonas, rodas com pneumáticos e molas, arreios ajustados à anatomia do animal, local reservado para transportar água e alimento para o animal.

Segundo esta lei, o trânsito é proibido em toda área asfaltada e urbana do município. Nas áreas em que não há proibição, o trânsito desses veículos está condicionado a uma série de regras como horário, alvará municipal para a condução do VTA, condições e equipamentos que protejam o animal, devidamente atestadas por médico veterinário.

Outra Lei aprovada em São Paulo em 2006, a Lei 14.146 (SÃO PAULO, 2006) também dispõe sobre a circulação de VTAs. Esta lei determina que, em caso de abuso ou maus-tratos, o animal não será devolvido ao proprietário, e sim confiado a um fiel depositário, designado por ONG de proteção animal, até a apuração dos fatos, conforme os dispositivos da Lei 9.605/98 (BRASIL, 1998b).

No município de São Carlos (SP), os VTAs são regulados segundo a Lei 13.222/2003 (SÃO CARLOS, 2003), que determina o registro permanente de animais de tração, assim como a proteção da fauna. Para cumprir tais dispositivos a prefeitura criou o projeto “Carroceiro do Futuro”, por meio do qual o animal é identificado por microchip, recebe atendimento médico veterinário e ferrageamento de forma regular. O proprietário é cadastrado e recebe orientações sobre normas e manejo.

Segundo Kaari (2006), após a implementação do projeto “Carroceiro do Futuro”, o número de apreensões decresceu cerca de 60%. Os casos de maus- tratos de animais também diminuíram.

Comparando a legislação do Distrito Federal com a dos municípios de São Paulo e São Carlos, constata-se uma efetividade do Direito nesses locais devido a aspectos como: o valor significativo da multa ou taxa aplicada, a proibição da devolução de animal maltratado a seu antigo proprietário, o uso de meios eletrônicos na identificação do animal, a destinação de animal à fiel depositário e, principalmente, o exercício dos deveres constitucionais de proteção da fauna por parte dos atores envolvidos na questão, a saber – administração pública, operadores do direito e sociedade civil organizada. (ASSOCIAÇÃO PROTETORA DOS ANIMAIS DO DISTRITO

FEDERAL, 2007).

Na representação encaminhada ao MPDFT, a ProAnima registra:

Apesar da evolução da teoria jurídica ambiental e do aprimoramento das leis de proteção animal no país, as práticas de maus-tratos aos animais de tração não têm sido coibidas no Distrito Federal. O desconhecimento da legislação pertinente ao assunto, as dificuldades na caracterização de maus-tratos e a resistência na aplicação da lei – todos por parte dos operadores do direito (em grande parte não especializados em meio ambiente) - tornam ineficiente o arcabouço jurídico (ASSOCIAÇÃO PROTETORA DOS ANIMAIS DO DISTRITO

Nesse contexto, fica evidenciada a necessária urgência de aprimorar os dispositivos legais existentes no Distrito Federal, no que concerne ao trânsito de VTAs, bem como dar efetividade ao sistema de fiscalização para garantir o cumprimento da legislação.

5.9 BEM-ESTAR ANIMAL, QUALIDADE SOCIOAMBIENTAL E

SUSTENTABILIDADE: FACES DE UMA SÓ MOEDA

Uma vez abordados os conceitos sobre o bem-estar animal, no início deste estudo, cabe situar agora o contexto no qual ele se insere. Significa dizer, que o crescente reconhecimento acerca da importância dessa ciência implica outros desdobramentos. Por exemplo, no que se refere aos pilares do desenvolvimento sustentável – de relevância social, prudência ecológica e viabilidade econômica (SACHS, 2002).

Cabe destacar que esta tríade não é legitimada sem o empoderamento e o pertencimento dos atores sociais. Nesse sentido, as escolhas e os contextos nos quais se inserem esta discussão estão atreladas ao universo político-ideológico e científico e não ao campo das intenções.

Esses pilares estão presentes nos objetivos para o desenvolvimento do Milênio e na Declaração de Johannesburgo sobre o Desenvolvimento Sustentável. Assim, a contenção do alastramento de doenças, garantia da preservação ambiental sustentável e a criação de parcerias globais para o desenvolvimento configuram um repertório fundamental nesse universo.

Os cuidados e a redução do sofrimento dos animais utilizados pelos seres humanos produzem benefícios não apenas para os animais, mas também para as pessoas e o meio ambiente.

No caso da saúde humana, o tratamento adequado dos animais, e a gestão ambiental eficaz, contribuem para reduzir os riscos de doenças transmissíveis aos humanos, as chamadas zoonoses, e de intoxicações alimentares. Da mesma forma, a gestão responsável dos animais, e do ambiente, tem impacto positivo sobre a utilização da terra, alterações climáticas, poluição, recursos hídricos, conservação de habitats e a biodiversidade.

Nesse contexto, o caso dos animais de tração do Distrito Federal remete a algumas considerações absolutamente pertinentes - seja no que tange ao uso do cerrado como moradia precária, espaço de seleção e guarda de resíduos coletados, bem como ao aspecto sanitário, tendo em vista o percurso realizado nesses ambientes e nas vias públicas de grande movimento de pessoas.

No estudo apresentado ao Ministério das Cidades33, Berber (2007), aborda a rota de contaminação da coleta informal de resíduos sólidos no sistema de Saneamento Ambiental do Distrito Federal, relacionando a interferência das pessoas em situação de pobreza no ambiente.

As rotas de contaminação foram definidas como ponto de partida pelas ocupações espontâneas e temporárias, áreas residuais da urbanização, e delimitadas pelo trajeto realizado pelos catadores e carroceiros até o local de venda dos materiais recicláveis adquiridos. A avaliação da salubridade34 ambiental deste trajeto é que demonstra a fragilidade das políticas urbanas, principalmente as de habitação e saneamento ambiental (BERBER, 2007, p. 86).

O termo “rotas de contaminação” foi utilizado pela autora do estudo como uma alusão aos ambientes favoráveis ao acúmulo de doenças infecto-contagiosas, caracterizado pela ocupação informal da população de baixa renda, cuja razão está vinculada à interferência da pobreza sobre o ambiente, todavia agravado pela intervenção da população circundante (BERBER, 2007), aspectos que estão destacados mais adiante.

Berber (2007) adotou como base para caracterização dos impactos ambientais, as referências bibliográficas que possibilitam a abordagem da alteração no meio ou em alguns de seus componentes por determinada ação ou atividade.

Assim, foram mapeados alguns trajetos de carroceiros para identificar os impactos, os quais foram classificados segundo a variação estimada do alcance (ou extensão) em grandes ou pequenos.

A figura 4 mostra o que a autora chamou de “Rota de Contaminação 1”, que corresponde ao trajeto realizado pelo carroceiro desde a sua partida, da quadra 709 Norte, no Plano Piloto (região cujo trânsito de VTAs está proibido), até a chegada à

33 Monografia apresentada ao Ministério das Cidades, como parte dos requisitos para a conclusão do

curso intitulado “Gestão Integrada das Águas e dos Resíduos Sólidos nas Cidades”.

34

“Salubridade não é a mesma coisa que saúde, e sim o estado das coisas, do meio e dos seus elementos constitutivos, que permitem o melhor estado de saúde possível. Salubridade é a base material e social capaz de assegurar a melhor saúde possível dos indivíduos. E é correlativamente a ela que aparece a noção de saúde pública, técnica de controle e de modificações dos elementos materiais do meio, que são suscetíveis, de favorecer ou, ao contrário, prejudicar a saúde” (FOUCAUL, 1992 apud BERBER, 2007).

Vila Estrutural, onde realiza a venda do material coletado. Os impactos,foram registrados por cores distintas e ocorrem ao longo de todo o trajeto. São eles:

a) Impactos na limpeza urbana: formação de focos de lixo crônicos,

acúmulos de lixo em córregos e no Lago Paranoá (Extensão: grande); b) Impactos sobre a Saúde Pública: proliferação de vetores, em

conseqüência do acúmulo de lixo e das ocupações espontâneas e temporárias; zoonoses, em função dos animais utilizados nas carroças (Extensão: pequena);

c) Impactos mistos: impactos diversos verificados na área central da cidade (Extensão: grande);

d) Impactos em áreas públicas: utilização de áreas para coleta e triagem informal, com degradação ambiental crônica. Impactos sobre a infra-estrutura urbana, córregos e uma sobrecarga no esgotamento sanitário (Extensão: pequena);

e) Poluição visual: Vincula-se também ao item anterior e está relacionado ao “modus vivendi” desta população (Extensão: pequena); f) Impactos na drenagem urbana: o acúmulo de lixo nas ruas e “bocas

de lobo” é diretamente proporcional às inundações e alagamentos (Extensão: grande).

Figura 4 - Rota de Contaminação 1 Fonte: Berber (2007).

Em outra rota mapeada, denominada “Rota de Contaminação 2”, o trajeto foi escolhido por se tratar de um trecho onde há muitas invasões – local utilizado para o trabalho com o lixo urbano. A autora observa - o que também já foi salientado na presente pesquisa - que são locais que parecem “enraizados na cultura dos carroceiros e catadores de lixo”. Berber (2007) também comenta que, como o trajeto inclui algumas margens do Lago Paranoá, ficou claro que o local é utilizado como descarga de lixo e de asseio dos cavalos. Como dito há pouco, outra constatação do trabalho citado é que nenhuma das rotas analisadas deixa de considerar a intervenção da população circundante no agravamento da questão.

O registro feito por Berber (2007) indica que os recursos voltados ao saneamento ambiental estão sendo onerados pelas atividades informais ligadas ao lixo e por suas relações causais.

Nesse sentido, esta pesquisa tem destacado outras variáveis nas quais a relação custo benefício (sem entrar em valores, pois não foram levantados), apenas

considerando a logística complexa e inoperante das ações empreendidas em relação aos catadores e carroceiros, denotam este olhar lançado por Berber (2007).

O olhar diferenciado para a gestão dos resíduos sólidos no Distrito Federal é premente e está diretamente ligado ao contexto da gestão dos VTAs, objeto desta análise. Assim, a necessária governança pressupõe, também, que todos os atores do sistema de limpeza urbana, e demais envolvidos nesse universo socioambiental, vistos sob a ótica da complexidade proposta por Morin (2006), estejam articulados.

Um arranjo que deve considerar a cadeia de segregação na origem, coleta, tratamento e destinação final adequada dos resíduos sólidos urbanos. Aí incluída a reflexão acerca do binômio produção/consumo, como também a visão ética necessária ao desenvolvimento de tal cenário. Fato que o Distrito Federal há muito anda distanciado, haja vista os problemas de corrupção nesse setor – condutas que, ao invés de irem para o lixo, reproduzem-se na gestão do próprio.

Na “Carta de Brasília”, a Centcoop, que congrega 22 associações de catadores no DF, faz referência à Política Nacional de Resíduos Sólidos, Lei 12.305/10 (BRASIL, 2010), propõe a implantação da coleta seletiva solidária, o fortalecimento da cadeia produtiva da reciclagem, a implantação do pólo de cidadania e reciclagem, a regularização de terrenos para funcionamento das associações e cooperativas, a formação dos trabalhadores, entre outras providências.

Quanto ao aspecto sanitário, considerando o percurso realizado pelos carroceiros, é fundamental destacar que a má gestão no contexto dos VTAS pode representar graves problemas à saúde pública e dos animais.

Segundo Leschonski, Serra e Menandro(2008), as doenças nos animais de tração, de forma geral, têm aumentado, principalmente em função do seu intenso trânsito. Assim, torna-se fundamental que os municípios implantem programas de vigilância, prevenção e controle de zoonoses voltados aos equídeos.

A implantação de um programa de vigilância de zoonoses e manejo de equídeos, além da alocação de recursos materiais e humanos, exige planejamento que englobe questões como: atendimento de urgência e emergência de animais em vias públicas, recolhimento, previsão de instalações para a guarda e manejo de eqüinos, definição de protocolos para manutenção e recuperação da saúde dos animais alojados, destinação adequada, capacitação dos profissionais envolvidos e legislação específica sobre o assunto, incluindo a guarda responsável, fiscalização da comercialização de eqüinos e controle de zoonoses (LESCHONSKI, SERRA; MENANDRO, 2008).

Como dito, no capítulo referente ao Poder Público, a Seapa, atual Seagri, segue o que está disposto no Programa Nacional de Sanidade dos Equídeos. Entretanto, ao que parece, não há um planejamento estratégico e programático efetivo quanto às ações necessárias voltadas aos VTAs – uma vez que a abordagem é casual, nas ruas e não há um cadastro efetivo, ou real, e sistemático da população de animais usados para este fim. O mesmo vale para o quesito manejo e outras práticas fundamentais ao bem-estar dos animais, com reflexos na qualidade de vida das pessoas.

Ainda no contexto da vinculação do bem-estar animal e sustentabilidade, vale destacar que, além de serem prejudiciais ao desenvolvimento social e ambiental, os sistemas produtivos que envolvem confinamento e concentração, são prejudiciais ao bem-estar animal.

Assim, a agropecuária - assumida no modo de produção intensiva - é exemplo que evidencia os estragos ambientais, sociais e para os animais.

Várias pesquisas científicas estudam o crescimento exponencial da pecuária industrial em países em desenvolvimento, que ameaça ao mesmo tempo a sustentabilidade de populações rurais e sistemas tradicionais de produção de alimentos. De acordo com o International Food Policy Research Institute (IFPRI), países na América Latina, Ásia e África serão os líderes em produção de produtos animais por volta de 2020, sendo a agropecuária industrial o provável método de produção predominante. Com a pouca regulamentação existente para controlar os impactos da pecuária industrial, os resultados para o desenvolvimento das comunidades são motivo de grande preocupação.

[...] As metas para o Desenvolvimento do Milênio das Nações Unidas incluem reduzir à metade a proporção de pessoas vivendo em miséria e fome extrema até 2015. A agropecuária industrial está concentrada nas mãos de uma insignificante quantidade de interesses comerciais majoritários, cujos produtos são destinados a alimentar populações urbanas prósperas. Os únicos impactos da agropecuária industrial nas comunidades prósperas são os prejudiciais (COX, 2007, p. 5).

Uma campanha desenvolvida pela WSPA trata de conseguir adesões de países para que a Assembleia Geral das Nações Unidas aprove uma Declaração Universal de Bem-Estar Animal (DUBEA).

A Declaração busca estabelecer um acordo entre povos e nações pelo bem- estar animal, visando ao reconhecimento dos animais como seres sencientes, para defender o respeito a suas necessidades de bem-estar, na tentativa de por fim a todas as formas de crueldade a que são submetidos.

De acordo com representantes da instituição, a melhoria da vida dos animais está intimamente ligada à melhoria das condições de vida dos seres humanos, bem como ao desenvolvimento das nações. Por isso, a adoção de uma Declaração

Universal de Bem-Estar Animal será um passo importante para promoção dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio e melhoria da qualidade de vida dos seres humanos e dos animais. O quadro a seguir registra alguns pontos destacados como relevantes e de convergência entre os Objetivos do Milênio e a adoção do bem-estar animal no contexto das políticas públicas.

A redução da pobreza, da fome e da mortalidade infantil, a melhoria da saúde materna e o combate às doenças (objetivos 1,4,5 e 6) serão promovidos pela melhora da nutrição, incluindo a utilização apropriada de produtos originários de animais saudáveis.

O combate às doenças humanas (objetivo 6) deve também abordar as doenças dos animais. A garantia de sustentabilidade ambiental (objetivo 7) envolve decisões na gestão da produção animal e da vida selvagem, por exemplo, a seleção de sistemas de pastagens mais saudáveis em vez de criações intensivas.

O estabelecimento de parcerias para o desenvolvimento (objetivo 8) será promovido pelo comércio de produtos orgânicos e de origem animal, com elevado grau de bem-estar animal. A promoção da igualdade entre os sexos (objetivo 3) será auxiliada pelo reconhecimento de papéis e oportunidades que os homens e as mulheres têm no cuidado dos animais, apoiando apropriadamente para o benefício dos animais e das pessoas.

Quadro 6 - Bem-estar animal e os objetivos do Milênio Fonte: World Society for the Protection of Animals (2008a)

Nesse contexto, já não se pode mais pensar o desenvolvimento sem que o olhar, e as ações, alcancem todas as formas de vida e os pilares da sustentabilidade.

Edgar Morin (2006) nos fala da “ecologização do pensamento” como sendo fundamental para a mudança de paradigma. Ignacy Sachs (2002, p.49) recorre a Michel Serres para reforçar a ideia das mudanças necessárias.

A ética imperativa da solidariedade sincrônica com a geração atual somou- se a solidariedade diacrônica com as gerações futuras e, para alguns, o postulado ético de responsabilidade para com o futuro de todas as espécies vivas na Terra. Em outras palavras, o contrato social no qual se baseia a governabilidade de nossa sociedade deve ser complementado por um contrato natural (SACHS, 2002, p.49).

A mudança no sistema de valores que alavanca o modelo de desenvolvimento econômico global é tarefa urgente e cabe a todos. Este cenário implica em democratizar a educação e a informação como exercício primeiro para a sobrevivência com qualidade neste novo milênio - que a despeito dos objetivos traçados - anda longe de cumpri-los. Para tanto, o valor notícia deve ser concebido como função alimentadora de estruturas mais complexas e não mais a serviço do mercado ou de interesses isolados.

Nesse sentido, a comunicação, a educação ambiental e humanitária precisam ser capaz de, num esforço transdisciplinar, romper a inércia da fragmentação.

Descobrir os nexos da parte e do todo, texto e contexto, local, global, planetário e desvendar os paradoxos, as contradições que o modelo de desenvolvimento engendrou. Perceber, segundo a concepção do pensamento complexo, cunhado por Edgar Morin (2005), os múltiplos processos que organizam e desorganizam os sistemas naturais e sociais, seus pontos de instabilidade, desencadeando rupturas e forjando estratégias.

De acordo com Genebaldo Dias (2003), no fundo, o que a educação ambiental pretende é: desenvolver conhecimento, compreensão, habilidades e motivação, para adquirir valores, mentalidades e atitudes, necessários para lidar com questões/problemas ambientais e encontrar soluções sustentáveis.