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Mediações sonoras da Rádio Favela pela Internet

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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE COMUNICAÇÃO E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO. Mediações Sonoras da Rádio Favela pela Internet. ISMAR CAPISTRANO COSTA FILHO Recife Abril - 2008.

(2) UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE COMUNICAÇÃO E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO. Mediações Sonoras da Rádio Favela pela Internet. Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Universidade Federal de Pernambuco, como exigência parcial para obtenção de título de mestre em Comunicação, sob a orientação da Professora Doutora Lília Junqueira.. ISMAR CAPISTRANO COSTA FILHO Recife Abril - 2008.

(3) FOLHA DE APROVAÇÃO. Banca examinadora:. _____________________________________. _____________________________________. _____________________________________. _____________________________________. _____________________________________.

(4) AGRADECIMENTOS. A Deus, que fez deste improvável possível. A meu pai, Ismar Capistrano, pelo apoio incondicional. A minha esposa, Amanda Capistrano, pelo estímulo apaixonante. A minha orientadora, Lília Junqueira, pelo profundo respeito à diversidade do conhecimento. A professora Catarina Tereza, pelo incentivo crítico. A Pe. Vicente Albuquerque e Paulo Apóstolo (in memorium), pela proteção A minha família de Recife, Luci, Zé Carlos e Cláudia. A meus professores presenciais, Edgardo Rebouças, Ângela Pryston, Isaltina Gomes, Yvana Fechine. A meus colegas de turma pelas dicas e preocupação com minha pesquisa. A meus professores “à distância”, Jésus Martín-Barbero, Manfredo de Oliveira, Manoel Castells, Nestor Garcia Canclini, John Downing, Cecília Peruzzo, Itânia Gomes e Nilda Jacks a quem devo muito do pouco que sei. Aos orientadores “à distância”, Marta Maia, Vera França, Jairo Greisa, Nair Prata, Lígia Trigo, Bufarah Junior pelos caminhos apontados. À banca de qualificação, Alfredo Vizeu e Afonso Junior, pela leitura e crítica minuciosa. À Rádio Favela e à Associação Brasileira de Rádios Comunitárias (Abraço) pela resistência e luta constante pela democratização da comunicação, minhas fontes de inspiração. Às dezenas de colaboradores da Internet nas comunidades da Rádio Favela no Orkut e nas listas de discussão do “Intercom Rádio” e “Abraço nacional” pela força nos momentos mais difícis. A Wemersom Amorim, da Rádio FaE, Nerimar Teixeira, da Rádio Favela, e José Guilherme, da Abraço, pela atenção à pesquisa. E aos ciberouvintes, principalmente os pesquisados, sem eles esse trabalho não seria realizado..

(5) EPÍGRAFE. Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria. O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece. não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá; porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos; mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado. Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino. Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido. Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o amor. (Coríntios 13).

(6) RESUMO Esta pesquisa investiga a relação entre emissoras, instituições, receptores e universo cultural, através do som da Rádio Favela pela Internet. Como categoria de análise utiliza-se o conceito de mediações na linha de pesquisa do uso social da mídia. Para compreender a produção dessa emissora e o uso de seus ciberouvintes, trabalha-se com a idéia da invenção e da subversão das culturas populares. Na relação da Rádio Favela com as instituições, utilizase também o conceito de industrias culturais. A fim de localizar o universo cultural dos ciberouvintes, investiga-se seus habitus.. Palavras-chaves: Mediações, culturas populares, rádio, Internet e recepção..

(7) ABSTRACT This research investigates the relationship between issuers, institutions, receivers and cultural universe through the sound of Radio Favela the Internet. As a category of analysis using the concept of mediation in the line of research of the use of social media. To understand that issuing the production and use of their ciberouvintes, works with the idea of the invention and the subversion of popular cultures. In respect of Radio Favela with the institutions, it is also using the concept of cultural industries. In order to locate the cultural universe of ciber listeners, investigates up their habitus.. Key words: Mediations, cultures popular, radio, Internet and reception..

(8) SUMÁRIO Introdução................................................................................................................................09 1. Pressupostos teóricos..........................................................................................................13 1.1 Estudos de recepção............................................................................................................13 1.2 Mediações...........................................................................................................................21 1.2.1 Jogo de ethos....................................................................................................................23 1.2.2 Instituições nas mediações...............................................................................................24 1.2.3 Recepção nas mediações..................................................................................................25 1.3 Territórios do popular.........................................................................................................27 1.3.1 Folclórico popular............................................................................................................28 1.3.2 Popular industrial.............................................................................................................29 1.3.3 Popular subversivo...........................................................................................................32 1.3.4 Invenção do popular.........................................................................................................34 1.3.5 Popular como reprodução................................................................................................35. 2 As mediações nas sociedades contemporâneas..................................................................39 2.1 Mediações de produção e consumo....................................................................................39 2.2 Mediações políticas-estatais................................................................................................40 2.3 Mediações culturais.............................................................................................................41 2.4 Mediações tecnológicas......................................................................................................42 2.4.1 Redesenho das tecnologias...............................................................................................43 2.4.2 Tecnologia do redesenho.................................................................................................44 2.4.2.1 Trajetória do uso social da Internet...............................................................................44 2.4.2.2 Uso social dos internautas.............................................................................................50 2.4.2.3 Características da Internet.............................................................................................51 2.4.2.4 Rádios na Internet.........................................................................................................55.

(9) 2.5 Mediações do rádio.............................................................................................................58 2.5.1 Papel social do rádio........................................................................................................58 2.5.2 Oralidade do Rádio..........................................................................................................60 2.5.3 Recepção do Rádio...........................................................................................................62 2.5.4 Trajetória do uso social do rádio......................................................................................65 2.5.5 Rádios livres e comunitárias............................................................................................68 2.5.6 Rádios comunitárias na Internet......................................................................................75. 3 A Rádio Favela na Internet.................................................................................................77 3.1 Trajetória social da Rádio Favela Fm.................................................................................77 3.2 Rádio educativa Favela Fm.................................................................................................80 3.3 Programação da Rádio Favela.............................................................................................81 3.4 Mensagens da Favela..........................................................................................................85 3.5 A recepção da Rádio Favela na favela................................................................................86 3.6 Mediações da Favela Fm com instituições.........................................................................86 3.7 Internet dos Favelados na Internet................................................................................ .....89 3.8 Rádio Favela On-Line.........................................................................................................90 3.9 Ciberouvintes da Rádio Favela...........................................................................................92 3.9.1 Uso preferencial...............................................................................................................94 3.9.1.1 Habitus do uso preferêncial..........................................................................................96 3.9.2 Reapropriações.................................................................................................................98 3.9.2.1 Habitus das reapropriações.........................................................................................100 3.9.3 Reações..........................................................................................................................102.

(10) 3.9.3.1 Habitus das reações.....................................................................................................103 Considerações finais..............................................................................................................106 Bibliografia............................................................................................................................109 ANEXO I: Entrevista com o diretor da Rádio Favela Nerimar Teixeira...............................116 ANEXO II: Entrevista com o ciberouvinte Bruno Ferreira...................................................118 ANEXO III: Entrevista com a ciberouvinte Tereza Regina..................................................121 ANEXO IV: Entrevista com o ciberouvinte Wesley Coelho.................................................124 ANEXO V: Entrevista com o ciberouvinte Vitor Matina......................................................127 ANEXO VI: Entrevista com a ciberouvinte Eliana Alves.....................................................129 ANEXO VII: Entrevista com o ciberouvinte Chico Lobo.....................................................131 ANEXO VIII: Entrevista com o ciberouvinte Elbert Vinicius..............................................134 ANEXO IX: Entrevista com a ciberouvinte Sigrid Gabriel...................................................137 ANEXO X: Entrevista com o ciberouvinte Jéferson Soares..................................................139.

(11) 10. Introdução Entre os morros, vilas, barracos e ruelas, ecoa, no Aglomerado da Serra, em Belo Horizonte, a Rádio Favela. Mesmo sendo um espaço comunitário, a emissora está longe de ser restrita à penetração de suas ondas hertizianas. A Rádio Favela representa, desde a década de 80, um marco na democratização da comunicação. Sua origem remonta a um grupo de jovens de baixa renda, moradores de áreas de risco social (denominadas de favelas), que propunham uma alternativa ao ascendente tráfico de drogas e à criminalidade crescente na região. A conquista do canal, no entanto, não foi pacífica. Seus idealizadores travaram uma dura luta contra todas as adversidades a que a favela está condenada: marginalização, falta de apoio político e governamental, perseguição dos órgãos fiscalizadores, dificuldades financeiras, infra-estrutura precária e intempéries do clima. A resistência dos jovens foi maior do que as dificuldades. Fugindo de barraco a barraco, renascendo depois de apreensões e alagamentos, recomeçando após prisões e torturas, afastando a comunidade das drogas, conquistando a audiência e a aprovação de ouvintes, assim a Rádio Favela ganhou visibilidade e reconhecimento não só na capital mineira, mas no mundo. Duas condecorações da Organização das Nações Unidas (ONU), seguidas de duas honra ao mérito legislativo da Câmara de Vereadores de Belo Horizonte, consolidaram a imagem da Favela Fm como uma emissora modelo de radiodifusão comunitária. O Sindicato dos Jornalistas da Alemanha considerou, em 1997, a emissora um exemplo de comunicação para o terceiro mundo. A experiência ganhou mais um espaço para seu compartilhamento, a rede mundial de computadores. Em 1995, quando a Internet ainda engatinhava no Brasil, a Rádio Favela já possuía seu site para mostrar ao mundo uma forma alternativa de fazer comunicação no Brasil. Depois de 5 anos na Grande Rede, a Favela também passou a disponibilizar seu som pela Internet. Na perspectiva de compreender essa iniciativa de comunicação radiofônica popular na web, essa pesquisa propõe analisar essas relações da emissora na produção e recepção de seu som na rede mundial. A análise das mediações da Rádio Favela, através de sua transmissão sonora pela Internet, situa-se nas fronteiras dos estudos sobre a comunicação. O objeto envolve as temáticas da recepção midiática, da cultura popular e da convergência digital. Áreas distintas, assim como as próprias contradições do ouvinte da Rádio Favela pela Internet. Este se configura como receptor de uma rádio com trajetória comunitária escutada, possivelmente, fora de seu território e fora das tão disputadas ondas hertizianas. A partir desses conflitos, decorrem as tramas desta pesquisa..

(12) 11. Qual o uso social da Rádio Favela por seus ciberouvintes? Essa é a questão central desta pesquisa que se desdobra em outros questionamentos: Por que um internauta escuta pela rede mundial de computadores uma rádio ligada prioritariamente aos problemas localizados de uma comunidade específica? Onde ele está não seria possível sintonizar as ondas hertizianas dessa emissora? Quais as possíveis reações, reapropriações e usos destas? São esses os desafios que motivam a presente pesquisa. Para alcançá-los, faz-se necessário percorrer o caminho dos cruzamentos teóricos que definem a comunicação como uma relação de mediação que possui, além da produção e transmissão do emissor e das condições tecnológicas, um receptor como pólo ativo na construção dos significados. É nesse sentido que se conduz a pesquisa bibliográfica: romper com a idéia da passividade da recepção e com a idéia da comunicação midiática como um processo que objetiva somente a mudança de comportamentos de seus espectadores, meros alvos. Outro pressuposto necessário dessa fundamentação teórica é a reflexão sobre a cultura popular como território onde se situa tanto o receptor em seu cotidiano como os movimentos sociais em suas intervenções. Desta maneira, é possível um cruzamento entre os estudos da recepção e a compreensão das lutas pela democratização dos meios de comunicação à qual a Rádio Favela se tornou referência nas últimas duas décadas. Essa pesquisa objetiva assim refletir sobre o uso social do som da Rádio Favela pela Internet pelos receptores, uma relação que envolve universos culturais de ouvintes e produtores. Para compreender essa mediação sincrônica (isto é, num dado espaço temporal) entre tecnologia, emissores e receptores, é necessário compreender também a trajetória diacrônica do rádio e da Internet e o encontro de ambos na convergência digital, dado que as relações presentes são influenciadas por processos desenvolvidos em outras épocas. Então, a construção do objeto de pesquisa passa pela análise histórica de ambas as mídias. Essa trajetória será pensada numa perspectiva de contradições, de brechas e de fissuras entre os diferentes sujeitos envolvidos no desenvolvimento, uso e redesenho dessas tecnologias. A transmissão sonora do rádio pela Internet se torna resultado de uma história de embates, acordos, negociações e criações de diversos atores. Essa situação cria determinadas características. Por não dar conta da complexidade desses fenômenos, a teoria dos usos social, base dessa análise, será complementada por conceitos do construtivismo social para explicar as características da Internet, como o compartilhamento de conhecimento, hipertexto, convergência e atualidade..

(13) 12. A fim de conquistar seu espaço também nas páginas da Internet, a Rádio Favela realizou mediações com diversos sujeitos sociais. Reconstruir essas relações será possível por entrevistas abertas com as pessoas envolvidas e pela análise de conteúdo dos programas e publicações na grande rede. Dado a distância entre pesquisador e pesquisados, essas entrevistas serão realizadas por telefone. O que, por um lado, pode vencer essa dificuldade, no entanto, pode limitar esse contato, pois não será possível ao entrevistador analisar o ambiente no qual o entrevistado se encontra, nem suas reações não verbais. Optou-se por esse caminho, ao invés de envio de questionários por e-mails, para buscar um diálogo aberto e preservar a oralidade. O passo seguinte foi a localização dos ciberouvintes da Rádio Favela. Por ter alcance global, essa tarefa foi o entrave principal dessa pesquisa. Para superá-lo, foram feitas sondagens prévias com internautas que participam de redes sociais sobre a emissora a fim de verificar quem escuta a emissora. Encontrados os ciberouvintes, buscou-se penetrar em suas experiências pela Internet: seu tempo de acesso, os sites navegados, os usos da web, seus intercâmbios de significados e seus laços societários na Grande Rede. Em seguida, a pesquisa de campo procurará revelar as ligações dos internautas entrevistados com a Rádio Favela: como conheceu a emissora? O que representa a Rádio Favela em suas vidas? Quais os programas que mais escutam e qual o motivo dessas preferências? Por fim, tenta-se compreender por que deixar de escutar rádio pelas ondas hertizianas para ouvir pela Internet? Quais outras emissoras são acessadas e escutadas pela web? A análise desses ciberouvintes terá como referência as categorias da recepção nas mediações, dos habitus, da invenção do popular e do popular-subversivo. Devido à impossibilidade de estar pessoalmente com os ciberouvintes que estão multiterritorializados, foram realizados cinco testes com diferentes ferramentas para essa entrevista aberta com receptores de outras rádios na Internet. Concluiu-se que a entrevista por telefone, apesar de poder render respostas mais longas, rapidamente, leva à exaustão o pesquisado que não suporta responder a mais do que cinco perguntas. Como o roteiro dessa entrevista possui dez perguntas básicas, devendo desdobrar-se por mais outras, ficou demonstrada a ineficácia dessa ferramenta. Também se tentou realizar por diversos e-mails com perguntas que aprofundam as respostas anteriores dos entrevistados. Isso também se tornou inviável, pois, além de perder a espontaneidade da oralidade, irrita bastante os pesquisados que, em muitos casos, não responderam os e-mails, além da demora. A ferramenta escolhida foi a comunicação instantânea pela Internet (no caso desta pesquisa,.

(14) 13. utilizou-se o serviço MSN Messanger). Observou-se a possibilidade de manter a condução aberta do diálogo e a menor irritabilidade do entrevistado em responder a várias perguntas. Todavia, essa ferramenta possui suas limitações: perda da espontaneidade da oralidade e as respostas curtas, dado a necessidade do entrevistado ter de redigir um texto escrito. Essa opção foi escolhida porque, de todas, é a que possibilita uma maior segurança para a pesquisa conseguir, pelo menos, um mínimo de informação necessária para analisar esse fenômeno. Nesta investigação, foi possível perceber três diferentes recepções: o uso preferencial, a reapropriação e as reações. No primeiro, a escuta do ciberouvinte aproxima-se da intenção do emissor. A partir das características de uma rádio comunitária, subversiva e transmitida pela Internet, o receptor preferencial passa a ser alguém que mora fora de seu espectro hertiziano e mantém com a emissora laço identidário de seus posicionamentos críticos às injustiças sociais. Já outros ciberouvintes guardam algum desses elementos, mas utilizam a emissão sonora do site da Rádio Favela com outros fins. Esse tipo de recepção é classificada como reapropriação. Há também os ciberouvintes que não possuem nenhuma dessas características e fazem usos completamente diferenciados dessa web rádio, constituindo assim uma reação..

(15) 14. 1. Pressupostos teóricos O estudo das mediações sonoras da Rádio Favela na Internet se desenvolve a partir das pesquisas do uso social das mídias, iniciadas pelo filósofo espanhol Jesus Martín-Barbero (1998). Para compreender essa visão, é necessário, porém, resgatar a trajetória dos diferentes posicionamentos das teorias da comunicação sobre os receptores. Após localizar a abordagem de Martín-Barbero, será caracterizado o modelo comunicacional das mediações, refletindo sobre os diversos atores envolvidos, instituições, territórios, tecnologias e contextos sócioculturais.. 1.1 Estudos de recepção Este trabalho parte da compreensão sobre o receptor, suas experiências e sua relação com a Rádio Favela, através da emissão de seu som pela Internet. Essa posição teórica é uma reviravolta nos estudos desse processo. De coadjuvante a sujeito construtor dos significados, essa trajetória atravessa diferentes concepções e linhas de pesquisa. Para localizar as especificidades dessa abordagem, é necessário compreender o reposicionamento da recepção nos diferentes estudos da comunicação. As abordagens sobre recepção, nos estudos das mídias, remontam à Teoria Hipodérmica, definida pelo teórico da comunicação italiano Mauro Wolf (2005) como estudos baseados no modelo behaviorista de Psicologia iniciados em meados do século XX. A comunicação é tratada como um processo de mudança de comportamento do receptor a partir das mensagens enviadas pelo transmissor, seguindo o esquema estímulo e resposta da teoria comportamental. Os estudos de recepção da Teoria Hipodérmica se resumem aos efeitos imediatos de uma mensagem sobre seus espectadores. Também conhecida como Teoria da Bala Mágica ou da Seringa, parte de dois pressupostos: a onipotência dos meios de comunicação e a vulnerabilidade dos indivíduos atomizados na sociedade de massa. “Isolados e desprendidos da sociedade, entra em cena os meios de comunicação, que vão agir, de uma maneira ilimitada, sobre os indivíduos almejados” (FERREIRA, 2005, p. 2). As reações dos receptores são reduzidas ao esquema estímulo e resposta com efeitos inevitáveis e instantâneos produzidos conforme o direcionamento das mídias. O receptor, na Teoria Hipodérmica, é considerado um alvo a ser atingido, modificado e controlado pela mídia..

(16) 15. O sociólogo estado-unidense Harold Lasswell, criando uma evolução deste modelo, conforme Wolf (2005), produz uma fórmula para descrever um ato de comunicação respondendo às seguintes perguntas: Quem? Diz o quê? Por que canal? A quem? Com que efeito? Respectivamente, essas perguntas esclarecem a análise de controle (estudo do emissor); análise de conteúdo das mensagens; análise dos meios e análise da audiência e dos efeitos. Lasswell não se desvincula completamente da Teoria Hipodérmica porque o objetivo da comunicação, para ele, continua a ser a obtenção do controle do comportamento dos receptores, “(...) uma massa passiva de destinatários que reage quando ‘atingida’ pelo estímulo (...)” (WOLF, 2005, p. 13). Os sociólogos conterrâneos dele, Robert Merton e Paul Lazarsfeld e o israelense E. Katz analisam, a partir da década de 40, as influências dos mass media nos grupos sociais. Eles tinham como finalidade “(...) entender como as ‘campanhas’ veiculadas pelos meios de comunicação (de campanhas eleitorais a promoção de produtos comerciais) influenciavam opiniões e atitudes” (PORTO, 2003, p. 2). Os interesses principais eram os efeitos específicos e de curto prazo. A contribuição da investigação foi descobrir o papel dos líderes de opinião. Numa pesquisa, empreendida nas eleições presidenciais dos Estados Unidos em 1940, muitos indivíduos entrevistados revelaram que outras pessoas exerciam influência sobre sua decisão. Assim surge o modelo comunicacional two step flow of communication (comunicação de duas etapas): “as idéias fluem da mídia para os líderes de opinião e posteriormente destes para segmentos menos ativos da população” (PORTO, 2003, p. 2). Os efeitos da mídia, desta maneira, tornam-se limitados, pois há uma filtragem através das lideranças locais. Os receptores, nesse caso, passam a ser influenciados também pelos líderes de opinião. As mídias têm então, nessa abordagem, o papel de atingir não somente a audiência, mas também as lideranças. Já a teoria funcionalista da comunicação de massa, segundo Wolf (2005), parte do paradigma da teoria do sistema social do sociólogo estado-unidense Talcott Parsons, que analisa a sociedade como um sistema complexo composto de subsistemas que tende manter o equilíbrio. Nesta perspectiva, seu conterrâneo, David M. Wright, apresenta as seguintes funções das mídias: a atribuição de status e prestígio às pessoas, o reforço das normas, leis e regras sociais e o reforço do prestígio para quem se adapta aos valores sociais. Os meios de comunicação podem também promover, de acordo com P. Lazarsfeld e R. Merton, uma disfunção narcotizante que leva “o cidadão interessado e informado (...) sentir-se satisfeito com tudo o que sabe, sem se dar conta de que se abstém de decidir e de agir” (LAZERSFELD.

(17) 16. in CONH, 1987, p. 85). O estado-unidense Melvin DeFleur explicita outra função de manter o baixo nível intelectual do público. “(...) a capacidade de resistência do sistema da mídia, diante dos ataques, das críticas e das tentativas de elevar a baixa qualidade cultural e estética e da produção de comunicações de massa (...)”(WOLF, 2005, p. 58). Nesta teoria, as mídias continuam cumprindo o mesmo papel de controle das audiências da Teoria Hipodérmica. O receptor é alvo dos mecanismos sociais de manutenção do status quo. Derivado da linha funcionalista, o literário canadense Marshal McLuhan estabelece uma relação entre as mídias, receptores e mensagens. Para ele, há três principais tradições na história das comunicações: a comunicação oral, a comunicação escrita e a comunicação audiovisual. A primeira se realiza pela fala, possibilitando um acesso livre para o conhecimento (todos que pertencem a uma comunidade lingüística podem compreender as mensagens) e a compreensão limitada, dado a dificuldade de armazenamento das informações. Já a comunicação escrita supera essa limitação, podendo arquivar as mensagens em livros, folhetos, cartas, entre outros; mas restringe o acesso (somente os alfabetizados atingem esse conhecimento). Na comunicação audiovisual, o receptor pode ser ainda mais envolvido, pois realiza a mixagem de três diferentes sentidos: a audição, a visão e a fala. O primeiro, segundo os psicólogos franceses Pierre Babin e Marie-France Kouloumdjian (1989) seguidores da concepção sistêmica de McLuhan, é o sentido da interioridade, pois “reagimos psicologicamente ao som antes de tomarmos consciência” (BABIN; KOULOUMDJIAN, 1989, p. 40). Já a visão é o critério de credulidade e verdade das pessoas, e a fala possibilita a nomeação das experiências do mundo. Essa comunicação não só possibilita uma compreensão complexa e de livre acesso, mas também estender experiências de determinadas comunidades aos mais longínquos territórios transformando o mundo numa Aldeia Global. Desta maneira, o canadense conclui que, para cada meio, há uma maneira específica de produzir sua mensagem. Assim, McLuhan compreende a recepção relacionada às tecnologias da comunicação. Nesta mesma linha de construtivismo social, o comunicólogo tunisiano Pierre Lèvy compreende a cultura criada pela rede mundial de computadores, a cibercultura, como promotora de laços comunitários e de uma comunicação de todos para todos. Para ele, os processos sociais desenvolvidos pela Internet condicionam as novas relações políticas, sociais e culturais. Já os estudos Usos e Gratificações, conforme os teóricos da comunicação belgas Armand e Michèle Matterlard (1999), fazem uma aferição dos resultados da persuasão de uma propaganda sobre os receptores. A corrente se centra na satisfação dos usuários, questionando.

(18) 17. o que as pessoas fazem da mídia? Para Mauro Wolf, teóricos como o israelense Katz e o alemão K. Merten reconhecem que emissor e receptor são companheiros ativos no processo de comunicação. O efeito da comunicação depende então das gratificações às necessidades do receptor. Para o israelense, são quatro as necessidades: cognitivas (compreensão e conhecimento do meio ambiente social); afetivo-estéticas (sensibilidade de emocionar e admirar); integrativas (segurança, estabilidade emocional, credibilidade e status) e integração em nível social (contatos pessoais). Os meios de comunicação devem assim buscar seu espaço na satisfação dessas. O objetivo não é conferir possibilidade de autonomia à recepção, mas tão só controlá-la. Essas pesquisas são utilizadas, no mercado, para tentar criar mecanismos eficazes de dominação. Numa visão mais passiva do receptor, a Teoria Matemática da Informação formula um modelo de comunicação como um processo de transmissão num circuito eletrônico que busca o isomorfismo – entendimento do receptor – e evita a entropia – desorganização dos dados – e o ruído. O modelo foi desenvolvido para aplicar às telecomunicações, mas sua base teórica acabou, equivocadamente, sendo usada para compreender processos comunicativos. O engenheiro estado-unidense Claude Elwood Shannon, em 1948, foi o responsável por formular a tese da teoria dos sistemas que entendia a comunicação a partir de um esquema linear em que a comunicação percorre alguns componentes entre dois pólos distintos: um pólo que define sua origem (princípio) e outro que define seu fim. A fonte produz um código para o transmissor gerar o sinal enviado pelo canal que é decodificado pelo aparelho receptor e recebido pelo destinatário. Como modelo funcional da comunicação, este esquema é aplicado com várias funcionalidades, principalmente, nos circuitos de comunicação eletrônica, pois a finalidade operativa desta teoria da informação “é justamente a de fazer passar pelo canal o máximo de informação, com o mínimo de distorção e a máxima economia de tempo e energia” (WOLF, 2005, p. 111),. O comunicólogo brasileiro Carlos A. Araújo (HOHLDELDT, 2001) afirma que a Teoria Matemática da Comunicação caracteriza-se por unidirecionalidade, pré-definição dos papéis, congelamento e simplificação do processo. A comunicação, neste esquema, percorre um só caminho onde cada elemento tem sua função previamente definida. O receptor é assim considerado um pólo passivo que só recebe no processo comunicativo. Utilizando-se também das idéias de entropia e isomorfismo, o matemático e filósofo estado-unidense Nobert Wiener concebeu a teórica cibernética. Ele parte do pressuposto de que homens e máquinas possuem a mesma capacidade comunicativa de evitar a.

(19) 18. desorganização das informações. A história das comunicações está assim relacionada a das tecnologias industriais. Segundo Armand e Michele Mattelart (1999), o ideal da cibernética é construir um sistema de informação para controlar reações tanto de máquinas quanto de pessoas. Na comunicação humana, o receptor é, desta maneira, o objeto desse controle. Para testar os efeitos da comunicação sobre receptor e consumidor, a Teoria EmpíricoExperimental demonstra os limites da eficácia da persuasão segundo fatores relativos à audiência e à mensagem. Nestes primeiros, há quatro variáveis fundamentais, segundo o comunicólogo britânico Denis McQuail (WOLF, 2005), para aferir o êxito de uma comunicação: o interesse do receptor em adquirir uma informação, sua escolha em receber uma determinada mensagem, sua seleção em prestar atenção numa determinada informação e sua capacidade em memorizar as mensagens. Já os fatores ligados à mensagem dependem da credibilidade do comunicador, a ordem e a clareza de suas argumentações, o caráter exaustivo das mensagens (sua redundância) e a explicitação das conclusões. O poder de escolha da audiência é considerado como fundamental no processo de conquista da mudança comportamental. No entanto, a relação comunicacional continua sendo tratada com o objetivo de conquistar sua mudança comportamental do receptor que, por sua vez, determina as leis de mercado. Os filósofos alemães Max Horkheimer e Theodor Adorno (1985), da Escola de Frankfurt, já denunciam o contrário: o consumidor não é rei. A lei da oferta e da procura é manipulada pela cultura produzida industrialmente, que realiza a identidade entre o particular e o universal na sociedade a partir da Revolução Industrial. Segundo eles, a cultura industrial controla a demanda, criando novas necessidades na sociedade. Apesar da reflexão crítica, o receptor continua sendo estudado como sujeito passivo, vítima da Indústria Cultural. Para eles, “a supremacia da sociedade sobre os indivíduos ocorre na várias situações (trabalho, lazer...), caracterizando uma atrofia da imaginação e da espontaneidade do consumidor cultural” (FERREIRA, 2005, p. 3). Desta maneira, a teoria crítica “elimina toda a possibilidade de uma postura do indivíduo de consumir a cultura de maneira contestatória, irônica, muito menos crítica” (FERREIRA, 2005, p. 3). Nos estudos estruturalistas, destacam-se Umberto Eco e o semiólogo francês Roland Barthes. O primeiro analisa a estética da recepção em textos literários; o segundo a polissemia do texto. A interpretação individual molda a semântica dos textos para ambos. Conforme Eco, o código não se limita ao conteúdo cognitivo do signo. Além da atividade de produção do emissor, o receptor está empenhado no ato de interpretação. O consumo das mensagens.

(20) 19. depende da leitura que pode construir diferentes significados. “A mensagem perde, assim, aos olhos do receptor, sua carga de informação” (ECO apud OROZCO, 2002, p. 53). O autor constrói, desta maneira, o conceito de estratégia desviante para demonstrar as reações dos destinatários. (...) designa a maneira em que os receptores – núcleo periférico de uma situação de comunicação – reagem contra o dispositivo de enunciação dos emissores – núcleo central – recusando-o sem entrar abertamente num enfrentamento (ARAÚJO in OROZCO, 2002, p. 54, tradução nossa).. Na tentativa de controlar essa reação, o emissor pode utilizar as estratégias de redundância e evitar a ambigüidade. Quanto mais redundante for a mensagem, mais os significados são reforçados. Já a ambigüidade elimina a possibilidade de uma decodificação unívoca. Os indivíduos estão, neste modelo de linguagem, numa constante troca, confrontação e contradição. Todavia, esse processo é individualizado. O contexto social, as experiências comunitárias não são levadas em conta. Os Estudos Culturais, originados no Center of Contemporany Studies Cultural de Birmingham (CCCS), rompem com idéia da recepção como um processo de interpretação individual. O modelo em que a interpretação das mensagens é considerada importante nas abordagens que enfatizam os microprocessos comunicacionais interpessoais é questionada por Morley. Segundo este autor esta abordagem é relevante, “pero os deconectara por completo de qualquer noción de um poder institucional o de unas relaciones estrcturales de clasey políticas” (OLIVEIRA, 2007, p. 192).. Para o sociólogo da cultura e semiótico inglês do CCCS, David Morley, os estudos de recepção devem investigar como as leituras individuais se articulam em estruturas e conglomerados culturais. Em sua pesquisa sobre o programa televisivo inglês de variedades, “Nationwide”, Morley conclui que audiência é “uma complexa configuração de subculturas e subgrupos, nos quais se situam os indivíduos” (MORLEY apud GOMES, 2005, p. 185). A decodificação varia assim segundo fatores sociodemográficos básicos (sexo, idade, raça e classe); inserção dos receptores em diversos “marcos e identificações culturais” e os temas das mensagens. No entanto, o aprofundamento de sua pesquisa revelou que a posição sociocultural dos grupos pesquisados não permitiria estabelecer uma relação com suas respostas aos programas. A comunicóloga brasileira Catarina de Oliveira (2007) defende que essa pesquisa de Morley sobre o “Nationwide” não permite compreender o universo cultural dos receptores, dado que foi realizada com os grupos focais em laboratório, fora de seus.

(21) 20. espaços cotidianos de audiência. A tradição de pesquisa do CCCS sobre a recepção surge, todavia, anteriormente, a Morley com o clássico artigo “Encoding/Decoding” do sociólogo da cultura jamaicano, Stuart Hall (2003). Ele defende a idéia do código como produto negociado através das instituições e sujeitos pela negação e aceitação de valores. A cultura herdada tem, ao mesmo tempo, elementos afirmando-a e negando-a na construção de novas tradições e costumes. Há assim uma reação potencial do receptor. Hall identifica três formas de sua codificação elaboradas pelo receptor: a de preferencial, quando o código do leitor assimila-se com o dominante; a de negociação, quando, mesmo compreendendo, o receptor só aceita em parte a mensagem do emissor; e a de oposição, quando o leitor, ainda que entenda o código, interpreta-o inversamente contrário. Segundo ele, o receptor tem próprias estruturas de significado diferentes das do emissor. A leitura é, então, a “capacidade subjetiva de por uma relação criativa entre si e com outros signos do ambiente e do contexto onde o receptor está inserido” (HALL, 2003, p. 399). A crítica a esse modelo questiona se a leitura predominante é mera reprodução do sentido preferencial. O artigo clássico de Hall (1980) tem sido também criticado por assumir ‘de forma não problemática que o significado preferencial e a leitura preferencial do texto são equivalentes à ideologia dominante’ (Pillai, 1992, p. 222). (...) o próprio Hall (1994) reconheceu o problema. Segundo o autor há uma falta de distinção no artigo original entre o ‘significado preferencial’ e a ‘leitura preferencial’ (PORTO, 2003, p. 12).. Morley, ainda que herdeiro dessa tradição, também critica e está distanciando-se do conceito de decodificação, pois “é um conceito que sugere um ‘ato único’ de leitura de um texto. Quando talvez inclua melhor uma ‘série’ de processos (...)” (MORLEY apud GOMES, 2005, p. 188). Assim o sociólogo e semiótico inglês está desenvolvendo, em substituição a essa idéia, a teoria de gêneros “como conjuntos de regras para a produção de sentido, regras que determinam as combinações de signos em configurações específicas que regulam o modo pelo qual os autores produzem os textos e o modo pelo qual as audiências os lêem” (MORLEY apud GOMES, 2005, p. 188). Ele também passou a dedicar-se à pesquisa do consumo da televisiva na esfera doméstica. Na América Latina, os Estudos de Recepção não herdam esse problema com o conceito de decodificação, pois essa relação é pensada como as formas pelas quais os sujeitos atendem, reagem e processam as mensagens em seu contexto social. Essas pesquisas possuem, segundo a comunicóloga brasileira Itânia Gomes (2005), cinco frentes culturais:.

(22) 21. estudo sobre as culturas contemporâneas, liderado pelo mexicano Jorge Gonzalez; recepção ativa, representado pelos chilenos Valrio Fuenzalida e Maria Elena Hermosilla; consumo cultural, desenvolvida pelo argentino Nestor Garcia Canclini; enfoque integral da audiência, guiada pelo mexicano Guillermo Orozco Gómes; e uso social dos meios, conduzida pelo espanhol Martín-Barbero. Outra característica da pesquisa da recepção na América Latina é não estudar somente a relação dos receptores com os meios de comunicação de massa, mas também sua relação com meios comunitários e alternativos e outras formas não midiáticas de comunicação, refletindo sobre sua possível emancipação nestas experiências comunicativas. A recepção, em todos esses casos, é plural, pois acontece num espaço de conflito e negociação onde há aceitação e resistência. O antropólogo argentino Nestor Garcia Canclini (2006) amplia ainda mais essa abordagem. Ele analisa a recepção na perspectiva do consumo. Segundo ele, esse processo ocorre com a participação ativa dos consumidores negociando, não só preços e marcas, mas os significados dos produtos. Nessa relação, há inclusive a possibilidade de consumir obliquamente sem necessariamente aderir às idéias do produto. Desta maneira, o receptor, a partir de seu múltiplo repertório de influências, reproduz e modifica as mensagens da mídia reapropriando-se. A dominação ocorre, conforme o filósofo italiano Antonio Gramsci (VILANUEVA, 2000), de maneira hegemônica, nunca absoluta, homogênea ou determinante como defende o marxismo ortodoxo representado pelo pensamento dos revolucionários soviéticos, Stalin e Lênin. Para dominar, uma classe reconhece e assimila identidades de outra. Esta guarda, então, em si, características dos dominados a fim de negociar sua dominação por meio de cumplicidade e sedução. O poder, desta maneira, passa a ser compreendido como uma zona de tensão sem resultados prédefinidos. Assim a recepção, um termo ambíguo na teoria da comunicação porque, por vezes, foi considerada uma oposição à produção, torna-se elemento fundamental para compreender “a significação que grupos distantes atribuem a tecnologias comunicativas (...)” (CORONA in OROZCO, 2002, p. 70). Esses significados são, no entanto, construídos socialmente, “(...) como insiste Wolton, assistir à televisão é fazer parte de uma coletividade, numa constituição de um espaço de uma comunidade invisível (...)” (FERREIRA, 2005, p. 11). Por isso, a recepção deve ser considerada como um lugar de reconhecimento e de construção de sentido. A análise da recepção sonora da Rádio Favela pela Internet irá conduzir-se, nesta pesquisa, na perspectiva dos usos sociais das mídias, dado que a comunicação é concebida no.

(23) 22. contexto sócio-cultural dos receptores. Para o filósofo espanhol Martín-Barbero, a recepção não pode ser estudada somente nos locais onde o sujeito recebe as mensagens, mas em todos os espaços onde o receptor transita, pois o processo comunicativo continua com os usos, reações e reapropriações das mensagens em diversos momentos do cotidiano do receptor. Assim será possível confrontar os múltiplos territórios de recepção da Favela Fm dos ciberouvintes. A comunicação é pensada, então, por sua relação com a cultura por ser uma atividade produtora de sentido e laços societários. Tem, então, um “caráter de processo produtor de significações e não de mera circulação de informações, no qual o receptor, portanto, não é um simples decodificador daquilo que o emissor depositou na mensagem, mas também o produtor” (MARTÍN-BARBERO, 1998, p. 299).. 1.2 Mediações Essa relação entre emissor, mensagem, receptor, tecnologia e os diversos outros sujeitos e instituições que participam desse processo é uma perspectiva de pensar a comunicação como mediações. De acordo com Martín-Barbero, essas são “(...) as articulações entre práticas de comunicação e os movimentos sociais, (...) temporalidades e (...) a pluralidade de matrizes culturais” (MARTÍN-BARBERO, 1998, p. 270). Neste modelo, movimentos sociais são todas as intervenções coletivas, independente de seu nível de organização, podendo ser as rebeliões das multidões de maneira insensata; as organizações racionais como “(...) greves, ocupações, passeatas, operações tartaruga, bloqueios de tráfego (...) táticas cuidadosamente refletidas e levadas a cabo por aqueles que não têm riqueza nem poder estatal” (DOWNING, 2001, p. 56) e os Novos Movimentos Sociais, ecológico, feminista ou pacifista, que “(...) em grande medida, independiam do que o Estado podia conceder (...)” (DOWNING, 2001, p. 57). Levando em consideração essa articulação entre comunicação, universo cultural, temporalidades e movimentos sociais, a visão adotada para os estudos das mediações é a relacional, isto é, um sistema de conjunções entre “(...) os lugares (teóricos) de entrada para os problemas e para a trama de ambigüidades (políticas) que envolvem e deslocam as saídas” (MARTÍN-BARBERO, 1998, p. 271). As mediações são assim as interações entre as pessoas, as formas de estar no mundo, a linguagem e a ação. Compõem a realidade juntamente com as estruturas, formas objetivas, e os sujeitos, experiência originária do homem..

(24) 23. O método de análise dessas relações deve não somente levar em consideração a trajetória histórica do fato social estudado, mas também “(...) razão de ser, tecido de temporalidades e espaços, memórias e imaginários (...)” (MARTÍN-BARBERO, 1998, p. 271). Na trajetória histórica, devem ser analisadas as contradições internas, as fissuras, e os espaços não controlados, as brechas. A razão de ser, uma velha categoria medieval, compreende a realidade fora dos ditames da racionalidade linear da causa e efeito. As explicações para os fenômenos sociais podem estar relacionadas desde as emoções compartilhadas ao inconsciente da memória coletiva. As organizações do tempo e do espaço pelas culturas são variáveis fundamentais para compreender a comunicação. Há múltiplas temporalidades convivendo simultaneamente. A temporalidade familiar, por exemplo, “está associada a uma certa negociação entre a temporalidade interna e a externa, visto que as pessoas tentam organizar as suas vidas de acordo com determinados interesses” (MAIA, 2003, p. 97). A memória socialmente compartilhada possibilita ativar mobilizações, acomodar situações e criar competências culturais. Estas últimas são os modos (...) como as pessoas recebem e resignifcam determinadas produções. As diversas narrativas encontram um ambiente que tem uma memória cultural e que, portanto, adquirem certos significados que não são necessariamente os mesmos postulados pela lógica interna da produção. (MAIA, 2003, p. 98). Martín-Barbero (2002) revela que a idéia de construir a categoria mediações teve origem de suas leituras de Paulo Freire. A partir dos estudos de extensão rural, o educador brasileiro diferencia a transmissão de comunicação. A primeira é um ato vertical e autoritário, “a comunicação implica uma reciprocidade que não pode ser rompida (...) que ela é o diálogo (...), um encontro amoroso dos homens que mediatizados pelo mundo, o pronunciam (...) um devotamento permanente à causa da transformação da realidade” (FREIRE apud LIMA, 2004, p. 61). A educação, para ele, deve buscar construir essa comunicação dialógica incentivando os alunos a “participar, desde o início, de um diálogo com a realidade dos aprendizes, incentiva sua manifestação de oposição à exploração que sofriam à sua pobreza material” (DOWNING, 2002, p. 83). Assim, a comunicação é uma mediação que religa a palavra à ação, constituindo-se o princípio do processo de libertação. Somente através da coerência entre o que se diz e o que se faz, é possível, para Freire, iniciar um processo de ruptura com a opressão e a dominação. Martín-Barbero encontra nesta ligação entre símbolos, signos, palavras, estruturas, sujeitos, ação, mundo e realidade a chave para compreender a comunicação como mediação. É um processo construído por “diversas relações que envolvem o meio, a produção, o receptor, o contexto e as diversas significações das mediações.

(25) 24. existentes“ (MAIA, 2003, p. 89).. 1.2.1 Jogo de ethos Na perspectiva de Garcia Canclini (1997), a mediação pode ser entendida como um jogo de ethos envolvendo os diversos significados que transitam nos repertórios das pessoas. “A essa circularidade do comunicacional e do urbano subordinam-se os testemunhos da história, o sentido público construído em experiências de longa duração” (CANCLINI, 1997, p. 290). Além da mídia, a disputa dos significados sobre a realidade envolve vários outros grupos, como a família, a igreja, o time de futebol, a escola, os colegas de trabalhos, os diretores da empresa ou dirigentes sindicais, que constituem o universo cultural das pessoas. Adotar o modelo comunicacional das mediações é, desta maneira, romper com o formato vertical que considera a comunicação como transmissão de informações e controle de comportamento dos receptores pelos emissores. O processo comunicativo passa a levar em consideração os múltiplos sujeitos e instituições atingidos direta e indiretamente por este e as diferentes mídias e suas formas de acesso à realidade. As decisões e posições dos receptores diante de uma determinada mensagem transmitida pela mídia dependem também de seus valores, de suas crenças, de seus costumes, de sua cultura e da influência de vários outros sujeitos, como familiares, amigos, colegas de trabalho, membros da igreja ou do time de futebol, por exemplo. A partir desse intercâmbio, o receptor pode usar, reagir ou reapropriarse de uma mensagem da mídia. Esta, por sua vez, pode ser afetada pela recepção que passa a fornecer novos repertórios simbólicos (principalmente através da negociação e reapropriação) para suas novas produções. Nesta visão, a comunicação pode ser entendida no seguinte modelo horizontal:.

(26) 25. A Mediação cria um modelo horizontal de Comunicação:. POLÍTICOS. GRUPOS ECONÔMICOS. INTERESSES COMERCIAIS. R R. FAMÍLIA. IGREJA. R. EMISSOR. AMIGOS R R. CULTURA POPULAR. LÍDERES. Decodificações: - Uso: quando aceita. - Reações: rejeita. - Negociação: aceita parcialmente. - Repropriação: uso diferenciado.. Analisar a Rádio Favela, nesta perspectiva, significa levar em consideração as relações que a emissora mantém com outras instituições; a recepção no contexto sócio-cultural dos ciberouvintes; seus intercâmbios com a cultura industrial e sua produção de cultura popular. Faz-se necessário antes esclarecer os referenciais teóricos usados para compreender os territórios do popular e do industrial e as mediações das instituições e da recepção.. 1.2.2 Instituições nas mediações As instituições sociais participam do processo comunicativo, seja como emissores, seja como influenciadores destes e dos receptores. O sociólogo espanhol Manoel Castells explica: (...) os meios de comunicação possuem, sistemas que controlam sua capacidade de influenciar o público, pois, antes de qualquer coisa, eles são empresas submetidas aos imperativos da rentabilidade e precisam ter audiência ou estender sua difusão. (CASTELLS, 2006). As mídias podem organizar-se como empresas, no caso das comerciais; como órgãos públicos, no caso das estatais; ou como movimentos sociais, como no caso das rádios, televisões e jornais comunitários. As duas primeiras possuem procedimentos, divisão de tarefas, hierarquias, tempos e espaços definidos e padronizados. Suas mensagens produzidas refletem um tecido de influências de suas relações com outras instituições, como grupos políticos que as representam nos espaços públicos e econômicos que as mantêm com anúncios.

(27) 26. e outros negócios. Além dessas relações políticas e econômicas, as mídias também possuem brechas e fissuras. As primeiras são as dificuldades de vigilância e controle de sua produção, permitindo, por vezes, publicar material contrário a sua política editorial determinada pelas diversas influências. Já as fissuras são as contradições dos meios causadas principalmente pelas lutas internas e pelas limitações econômicas. Essas levam, muitas vezes, à ineficiência e à fabilidade das mídias na execução de seus planos e estratégias. Essa caracterização dos meios de comunicação revela que estes estão longe de serem todo-poderosos e infalíveis como aponta a Teoria Hipodérmica (WOLF, 2005). Apesar de ser um importante agente na construção social, os meios de comunicação, por vezes, mais dependem do poder econômico e político do que os determinam. Essas constatações não podem levar à hipertrofia da mídia e da produção. São dois elementos tão fundamentais no processo comunicativo assim como a recepção, principalmente porque as sociedades contemporâneas vivem um processo de mediatização “(...) onde as práticas institucionais se transformam em decorrência da existência e ação dos meios de comunicação, fazendo tais meios se tornarem um grande gestor das representações sociais” (FERREIRA, 2005, p. 12). Essa batalha pela significação da realidade marca as mediações. Por vezes, as mídias criam representações que são resignificadas pelos receptores e depois apropriadas pelos meios criando um intercâmbio infindável de sentidos.. 1.2.3 Recepção nas mediações Nesse processo de mediação, a recepção exerce participação fundamental, através de uso preferencial, das reações e das reapropriações, que modificam o sentido da mensagem e da tecnologia. O uso preferencial aproxima-se do sentido construído pela mídia. Há, contudo, diferenças entre ambos. O processo de apropriação de um sentido preferencial traz mudanças, pois o universo cultural do receptor não é necessariamente o mesmo do emissor, podendo, mesmo ao aderir a posição do emissor, alterar os significados das mensagens ao serem relacionadas com outras estruturas, temporalidades, espaços e memórias. Já as reações se opõem adversamente ao sentido preferencial. Podem ser construídas pela reflexão crítica ou por gostos e habitus. Mesmo nesse processo de reação, é necessário perceber também que a oposição não deixa de colaborar para afirmar uma determinada situação, dado que a primeira existe a partir de uma referência a esta última..

(28) 27. As reapropriações, por sua vez, resignificam as mídias e suas mensagens, dando um novo sentido, adaptado ao contexto cultural da recepção. Não há oposição entre o significado preferencial da mídia e a leitura do receptor, mas diferenças que sobrepõem as proximidades. Não se constitui como uma simples troca negociada, mas um processo de demarcação de significados. Percebe-se, desta maneira, que a recepção é o conjunto de “habilidades de decodificação crítica nos membros de uma audiência das mídias” (CALES in OROZCO, 2002, p. 147). Não é só, como define Hall, a capacidade de relacionar um texto ao mundo, mas uma mídia a um universo cultural. Assim, a audiência “elabora e molda os produtos da mídia (e a própria mídia), e não absorve passivamente suas mensagens” (DOWNING, 2002, p. 38). O receptor é, desta maneira, (...) agente ativo no processo da comunicação: porta-se criticamente ante as mensagens, é um agente social, construtor de significados e com o advento do controle remoto, seu poder de escolha e decisão aumenta. O receptor não recebe o significado da mensagem, mas o negocia diante de diversas circunstâncias. O entendimento da recepção como dependente de fatores particulares de cada indivíduo também é ponto comum entre os trabalhos, o que resulta numa recepção sempre única e distinta: as pessoas lerão, ouvirão e prestarão atenção com base nas suas próprias experiências e característica (poder financeiro, conhecimentos, educação, posição social). O ambiente da recepção modifica a atenção e a retenção da informação pelo receptor, podendo um mesmo produto ser recebido de formas diferentes (JACKS; FRANKE, 26, p. 87). O processo de recepção também se constitui de ritos. A liturgia de procedimentos que leva o receptor conectar-se à Internet e acessar uma página ou ligar um aparelho de televisão e sintonizar um canal tem um mínimo de gramaticalidade de ação. É um ritual que, como lembra Martín-Barbero (2004), “impõe regras ao jogo de significação (...) que faz possível expressar e tornar compatível o sentido” (MARTÍN-BARBERO, 2004, p. 232). Mas o autor alerta que as regras de produção não determinam o sentido criado pelo receptor. Pelo contrário, (...) as ritualidades remetem então, de um lado aos diferentes usos sociais das mídias (...). De outro lado, as ritualidades remetem aos múltiplos trajetos de leitura ligados às condições sociais do gosto, marcados pelos níveis e qualidades da educação, pelos haveres e saberes constituídos em memória étnica, de classe ou de gênero, e pelos hábitos familiares de convivência com a cultura letrada, a oral ou audiovisual (MARTÍN-BARBERO, 2004, p. 233).. Os ritos de recepção são, então, momentos de confrontação entre significação e.

(29) 28. sentido, entre imaginário e realidade. São formas de reapropriação dos signos que guardam cumplicidade e resistências afetadas principalmente pelo universo cultural constituído de símbolos, signos, significados, sujeitos, instituições e territórios.. 1.3 Territórios do popular Para compreender essas mediações, segundo Martín-Barbero, é necessário entender o universo cultural onde habita o receptor. Quais os espaços em que transitam as mídias e as mensagens? Esses lugares são denominados de territórios que, conforme o historiador francês Michel de Certeau (1994), compõem-se de espaços demarcados e controlados, sejam lugares físicos ou informacionais. Em comum, ambos possuem uma significação socialmente construída. Enquanto o território físico é geopoliticamente demarcado por fronteiras (por exemplo, um país), o informacional constitui-se pelos significados estabelecidos socialmente sobre os lugares. De acordo com Martín-Barbero (1998), o território informacional é, em algumas situações, denominado, de cultura popular. Esse conceito, segundo a comunicóloga brasileira Cecília K. Peruzzo, entretanto, é “dinâmico, aberto, conflitivo e, portanto, histórico” (PERUZZO, 1998, p. 117) assim como são diversos os territórios pelos quais a comunicação transita. A também comunicóloga brasileira Graziela Bianchi concorda com a idéia. Considera-se então que esta é uma zona de alta complexidade; ambígua, mutável, que se relaciona com uma série de instâncias que compõem o cotidiano, sendo perpassadas por muitos e diferentes processos (BIANCHI in MEDITSCH, 2005, p. 298).. Há diferentes abordagens para definir o popular. A primeira o conceitua como as tradições folclóricas. A segunda o confunde com a cultura produzida industrialmente que conquista grandes audiências. Já uma terceira concepção compreende o popular como espaço da invenção cotidiana. Esse é também considerado como espaço da reprodução social e, por fim, ainda como lugar da subversão. Essas abordagens estão no campo das práticas simbólicas. Como referencial de análise, será utilizado o conceito de alteridade cultural, que propõe o respeito aos diferentes de modos de vida e rompe com o etnocentrismo – visão de mundo no qual meu grupo é a referência de comportamentos corretos e os demais são errados e/ou primitivos. Compreendese, desta maneira, cultura como o “conjunto de mecanismos de controle simbólico (...) para governar os comportamentos do homem” (GEERTZ, 1978, p. 56). Reconhecendo as.

(30) 29. diversidades, tenta-se superar os preconceitos geradores de intolerância. Para encontrar uma definição de culturas populares, cabe então reconhecer seus sinais diacríticos, que a diferencia das demais.. 1.3.1 Folclórico popular Segundo Garcia Canclini, o termo popular é, comumente, usado pelos folcloristas para denominar os costumes, a literatura oral, o artesanato e, por vezes, as manifestações consideradas primitivas de certas comunidades rurais. Para Martín-Barbero (1998), a reunião desses símbolos, no folclore, tem origem no movimento romântico do século XVIII de contraposição aos valores racionalistas da Ilustração. O Romantismo exalta o popular, a coletividade e os heróis do povo, opondo-se à fé científica e ao utilitarismo burguês. Há uma valorização, desta maneira, do sentimento, da experiência e da espontaneidade do povo. Para os românticos, o conceito popular é composto pelas idéias de organizações sócio-políticas (Peuple), de matrizes geológicas (Volk) e de tradição na modernidade (Folk). O folclore nasce assim dos costumes do passado resgatados no presente. Em sua origem, era uma concepção de mundo diferente da oficial da igreja ou da burguesia. Folklore capta antes de tudo um movimento de separação e coexistência entre dois “mundos” culturais: o rural, configurado pela oralidade, as crenças e a arte ingênua, e o urbano, configurado pela escritura, a secularização e a arte refinada: quer dizer, nomeia a dimensão do tempo na cultura, a relação na ordem das práticas entre tradição modernidade, sua oposição e às vezes sua mistura. (MARTÍN-BARBERO, 1998, p. 38). Esse conceito se tornou confuso com migrações, urbanização e industrialização. O hibridismo cultural, segundo Canclini (1997), destruiu as idéias ligadas às raças que, na América Latina, serviam de subsídio para justificar o conceito de cultura nacional e preservar as tradições folclóricas. Segundo o sociólogo brasileiro Renato Ortiz (1998), o mito da miscigenação das três raças (branca, negra e índia) criou a identidade do Brasil num determinado período histórico. No México, a etnia indígena cumpriu esse papel. Canclini conclui que “o folclore é melancólico por sustentar o tradicional no reordenamento industrial do mundo simbólico e fixá-lo em formas artesanais de produção e comunicação” (CANCLINI, 2005, p. 3). Martín-Barbero também considera essa idéia contraditória, porque o passado passa a ser o único lugar do popular. O filósofo espanhol.

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