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(1)UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE CIÊNCIAS MÉDICAS E DA SAÚDE Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Saúde. CRISTIANO DE JESUS ANDRADE. O RETORNO AO TRABALHO NA PERSPECTIVA DA MULHER APÓS A LICENÇA MATERNIDADE: um. estudo com profissionais da educação. São Bernardo do Campo 2018.

(2) UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLA DE CIÊNCIAS MÉDICAS E DA SAÚDE Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Saúde. CRISTIANO DE JESUS ANDRADE. O RETORNO AO TRABALHO NA PERSPECTIVA DA MULHER APÓS A LICENÇA MATERNIDADE: um. estudo com profissionais da educação. Dissertação apresentada como pré-requisito para o processo de conclusão de Mestrado junto ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Saúde da Universidade Metodista de São Paulo. Orientadora: Profa. Dra. Lucieneida Dováo Praun Co-orientadora: Profa. Dra. Hilda Rosa Capelão Avoglia. São Bernardo do Campo 2018.

(3) FICHA CATALOGRÁFICA An24r. Andrade, Cristiano de Jesus O retorno ao trabalho na perspectiva da mulher após a licença maternidade: um estudo com profissionais da educação / Cristiano de Jesus Andrade. 2018. 145 f. Dissertação (Mestrado em Psicologia da Saúde) –Escola de Ciências Médicas e da Saúde da Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, 2018. Orientação de: Lucieneida Dováo Praun. Co-orientadora: Hilda Rosa Capelão Avoglia. 1. Mulheres - Trabalho 2. Servidoras públicas 3. Licença maternidade 4. Psicodinâmica do trabalho I. Título CDD 157.9.

(4) A dissertação de mestrado sob o título O RETORNO AO TRABALHO NA PERSPECTIVA DA. MULHER. APÓS. A. LICENÇA. MATERNIDADE:. UM. ESTUDO. COM. PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO, elaborada por Cristiano de Jesus Andrade foi apresentada em 17 de abril de 2018, perante banca examinadora composta por Profa. Dra. Hilda Rosa Capelão Avoglia (Presidente), Prof. Dra. Paulo Roberto Grangeiro Rodrigues (UNITAU) e Profa. Dra. Miria Benincasa Gomes (UMESP).. Profa. Dra. Hilda Rosa Capelão Avoglia Co-orientadora e Presidente da Banca Examinadora. Prof a. Dra. Maria do Carmo Fernandes Martins Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Saúde. Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Psicologia da Saúde Área de concentração: Psicologia da Saúde Linha de Pesquisa: Trabalho, Organizações e Saúde.

(5) São Bernardo do Campo, 17 de abril de 2018.. RESUMO. Não raramente, o fim do período de licença maternidade tende a desencadear nas mulheres diversos tipos de sofrimento psíquico. Este, por sua vez, resulta de fatores diferenciados presentes na vida de cada mãe. Este estudo teve por objetivo analisar o retorno ao trabalho na perspectiva da mulher após a licença maternidade. Para tanto, adotou-se como método a pesquisa qualitativa do tipo estudo de caso, que teve como participantes 13 servidoras públicas da área da educação, do município de Poços de Caldas/MG, egressas da licença maternidade nos anos de 2014 e 2015. A entrevista semiestruturada foi utilizada como instrumento, analisando os resultados à luz da teoria da psicodinâmica do trabalho. Os resultados indicaram que no tocante ao conciliar maternidade e trabalho, as participantes de maneira quase que geral expressaram opiniões que levam a compreender que ser mãe relaciona-se a uma realização pessoal, uma experiência única dotada de sentido e afeto. No entanto, também compreendem que tal escolha não é um fenômeno que se desvela somente nutrido de prazer, mas ao contrário dos ditames sociais ainda hoje prevalentes, tornar-se mãe as limita tanto como trabalhadora, quanto como mulher/pessoa. Em relação ao prazer mediante ao desenvolvimento das atividades profissionais, aos olhos destas egressas tornarem-se mães, pode servir como aprimoramento pessoal/profissional, já que dado fenômeno as convoca a lidar de modo diferenciado com seu trabalho na educação, porém, entre as formas mais frequentes de sofrimento, desencadearam a insegurança, mas não ao retornarem ao posto de trabalho, e sim, em pensar como seus bebês seriam cuidados no período em que estiverem trabalhando. Ao contrário do que aponta a teoria psicodinâmica que aborda os mecanismos de defesa quanto a uma estratégia no que tange as vivências profissionais, as participantes trouxeram em seus discursos estratégia de defesa contra o possível sofrimento a ser experimentado devido à separação do bebê, já que nutrem uma fantasia de perda do lugar materno. Segundo os dados obtidos, além de ensinar e aprender, em seus discursos trazem a afetividade como fator fundamental para o sentido no trabalho junto a crianças, mas também reconhecem que a busca por técnica é de extrema relevância para o desenvolvimento das atividades junto ao público infantil. Por fim, pode-se considerar que mesmo estando estas mulheres imbricadas em contextos diversos que além de prazer trazem sofrimento, não se encontram adoecidas. Visto que em seus discursos não apontam dados que possam ser relacionados ao diagnóstico psicopatológico. Fazendo assim compreender, que embora muitas vezes sofram, mas encontram em suas trajetórias sentido para serem mães e trabalhadoras. Palavras-chave: Trabalho e Maternidade. Servidoras públicas. Licença maternidade. Psicodinâmica do Trabalho..

(6) ABSTRACT Not infrequently, the end of the period of maternity leave tends to trigger in women different types of psychic suffering. This, in turn, results from differentiated factors present in the life of each mother. This study aimed to analyze the return to work from the perspective of women after maternity leave. To do so, it was adopted as a qualitative research method of the type of case study, which had as participants 13 public servants of the education area, in the municipality of Poços de Caldas/MG, that returned from maternity leave in the years 2014 and 2015. The semistructured interview was used as an instrument, seeking analysis of the results in light of the theory of work psychodynamics. The results indicated that in the context of reconciling motherhood and work, the participants, in an almost general way, expressed opinions that lead to the realization that being a mother is related to a personal fulfillment, a unique experience gifted with meaning and affection. However, it is also not so easy, but it is also known for a lot more than for a long time, but unlike most up to date things, it becomes a mother as it limits both as a worker and as a woman/person. With regard to pleasure through the development of professional activities, in the eyes of these graduates, becoming mothers can serve as a personal/professional improvement, since this phenomenon calls them to deal differently with their work in education, but among the most frequent of suffering, triggered insecurity, but not when returning to the job, but in thinking how their babies would be cared for in the period in which they are working. On the contrary, it points to the psychodynamic theory that addresses the defense mechanisms as to a strategy is not as difficult as professional experiences, as participants brought in their speech defense strategy against possible suffering to be experienced due to the separation of the baby, since nurturing a fantasy of loss of the mother's place. According to the data obtained, in addition to teaching and learning, in their discourses they bring affectivity as a fundamental factor for the sense in the work with children, but also recognizes that the search for technique is of extreme relevance for the development of the activities with the children public. Finally, it can be considered that even though these women are imbricated in diverse contexts that besides pleasure bring suffering, they are not sick. Since in their speeches do not indicate data that can be related to the psychopathological diagnosis. In doing so, they understand that although they often suffer, but they find in their trajectories the sense to be mothers and workers.. Keywords: Labor and Maternity. Public servants. Maternity leave. Psychodynamics of Work..

(7) DEDICATÓRIA. Dedico este trabalho à professora Luci Praun que no processo de construção deste estudo orientou me com tanto afeto, profissionalismo e respeito. Ao longo de um ano e quatro meses pudemos trocar inúmeros saberes e com suas provocações que sempre eram de grande valia pude ressignificar inúmeros conteúdos profissionais, mas também pessoais. No entanto, por contingências da vida a mesma não pôde comigo concluir esta pesquisa de modo presente, contudo, suas contribuições serão por mim sempre lembradas e por isso desejo que esta dissertação a ela seja como uma homenagem, um modo de agradecimento por ter me auxiliado a chegar e ocupar o lugar de mestre sempre desejado!.

(8) AGRADECIMENTOS. Em minha trajetória, inúmeras pessoas fizeram se e ainda fazem presentes oferecendo suporte social, dado este que fez com que pudesse sentir me fortalecido nas escolhas que fiz, bem como nos degraus que ainda hoje galgo. Fazendo assim com que aqui possa chegar e para estas que diretamente ou indiretamente contribuíram para meu aperfeiçoamento é que aqui tecerei algumas palavras singelas, porém sinceras em forma de gratidão, que é o sentimento mais genuíno e maravilhoso que experimento.. Inicialmente ao mestre Jesus que com sua pedagogia cuidadora me sustenta, orienta e protege em toda a caminhada. Graças à força inesgotável que me transmite pude encontrar criatividade cotidiana para dar conta de conciliar trabalho acadêmico, trabalho organizacional e clínico, aliando-os a vida pessoal e sempre com o desejo de continuidade, não permitindo que energias negativas pudessem inibir-me, nem afetar-me como um sujeito singular em produção.. Aos meus pais, Antonia da Penha de Oliveira e Alípio de Jesus Andrade por terem me dado o dom da vida e junto com esta as infinitas possibilidades de vir a me tornar o que agora estou. Como sempre digo, graças à base que me deram, hoje construo minha existência como um todo, dotada de fortalecimento, sentido e disponibilidade interna para superar os limites que pelo caminho encontrar!. A minha irmã Luzia Cristina Andrade que sempre me estimula a ir além, permitindo-me compreender o sentido da confiança e da parceria na vida.. Ao meu companheiro José Carlos Dias Santana por dedicar a mim sua existência em busca de juntos construirmos a nossa história. Nestes últimos 18 meses, experimentamos exageradamente o valor da paciência aliado ao cuidado e ao estímulo, fazendo assim nossa relação tornar-se ainda mais real e fortalecida de modo mútuo.. A minha amiga Dirléia Martins pela escuta, parceria, confiança e tanta disponibilidade em ser a presença que precisava nos momentos mais necessários. Com sua partilha certamente meu trabalho passou a ganhar outras formas, bem como meu modo de pensar encontrando outros caminhos de se solidificar..

(9) A minha amiga/afilhada Juliana de Lorenzo pela inspiração e afeto que me ensina a nutrir a cada dia mais. Com sua presença compreendo o sentido real de amar, dedicar e de vir a ser uma mãe real, ou seja, aquela que vai além da teoria, mas que encontra tons existentes e não existentes por meio de sua criatividade e faz com que a vida seja mais leve e interessante de se experimentar.. Ao meu amigo Carlos de Sousa Filho por tanto apoio a mim dedicado na formatação do trabalho e nas formas de pensar os conteúdos existenciais imbricados em nossa relação de modo poético e muitas vezes estéticos, já que suas palavras são um primor!. A minha amiga Paula Aversa que a cada encontro faz-me entender ainda mais o valor do cuidar, do ser cuidado e do perpetuar boas reflexões pela humanidade! Com você aprendo que as transformações são nosso guia e que nossa potencialidade sempre criativamente nos leva a percorrer caminhos capazes de propiciar encontros com pessoas e lugares que desejamos.. A minha amiga Érika Maria Foreste Pinto pela confiança e carinho que sempre a mim dedicou. Com você aprendo que recomeçar sempre é possível e que ter leveza e amor em tudo que fazemos é o caminho para termos mais plenitude existencial!. Ao meu amigo Flávio Cesar de Souza pelo apoio na formatação do trabalho e por ter sido a presença necessária no momento fundamental. Com ele aprendi que conhecimento vai além de contato pessoal, pois o afeto que construímos atravessa dadas conformidades, já que ao nosso modo encontramos caminhos de construir respeito e gratidão em nossa amizade.. Ao meu amigo Adriano Almeida que sempre acreditou em meu potencial, pelas partilhas que a mim disponibilizou neste tempo e pelo incentivo que atribui ao meu crescimento profissional.. As minhas queridas amigas Beth Almeida e Glória Pirinotto pela acolhida a mim atribuída desde a época da graduação e pelo incentivo que sempre me direcionam..

(10) A minha amiga Marcela Baccele que sempre digo foi um presente que o mestrado me deu! Juntos construímos parcerias que hoje resultam muito mais que contato acadêmico e sim afeto para a vida!. A minha querida e sempre lembrada professora Dra. Valdete Maria Ruís por sempre ter sido uma inspiração, uma vez que desde o primeiro semestre da graduação mostrou-me o sentido e a seriedade de ser professor e psicólogo. Demonstrando que para isso requer não somente técnica, mas também afeto e criatividade no que fazemos. Com você aprendi e ainda aprendo o valor da gratidão! Sentimento este que a cada dia me alimenta e me faz ainda mais feliz como pessoa/profissional!. As queridas e admiráveis psicólogas: Anna Catarina Hegedos, Fabiana Martins Guimarâes, Fátima Catunda, Helga Heinhold, Maria José Assalim (Majú) e Marília Dória que são para mim modelos de terapeutas a serem seguidas. Pessoas genuínas em seus modos singulares de serem psicólogas, encontrando sempre com técnica, porém humanidade caminhos que facilitem o despertar das reflexões no contexto clínico e com afeto/profissionalismo sempre reconstruindo a criatividade de ser pessoa.. Ao psicanalista Luiz Henrique Virga por ter me mostrado o valor da compreensão, o sentido de se aceitar e respeitar o outro como um sujeito singular e não uma continuidade de nosso desejo. Com suas reflexões/ensinamentos pude construir meu modo de hoje ser psicólogo.. A Prefeitura Municipal de Poços de Caldas, pela parceria e pela permissão em realizar a pesquisa em seus centros educacionais, bem como pela liberação para poder cursar as disciplinas mesmo em período de trabalho.. A coordenadora de RH e Gestão de Pessoas da Prefeitura Municipal de Poços de Caldas Adriana Moraes por sempre ter me apoiado na caminhada! Por ter acreditado na proposta de implementarmos o apoio psicológico às egressas da licença maternidade em nosso setor.. Ao diretor de RH e Gestão de Pessoas da Prefeitura de Poços de Caldas Eduardo Navarro pela confiança em meu trabalho e pela autonomia que me dispõe em ser psicólogo do setor de psicologia da instituição já citada..

(11) A todas as mulheres/mães que gentilmente aceitaram participar da minha pesquisa, uma vez que confiaram genuinamente em doar suas vivências maternas/trabalhadoras em forma de discurso a esta dissertação. Certamente sem suas contribuições este trabalho não seria possível, por isso sempre afetivamente irei agradecê-las!. As minhas queridas e sempre lembradas estagiárias Kelly Moreira, Camille Cale, Larissa de Souza, Isabel Vilas Boas e Kettelin Eleutério que sempre me propiciaram momentos de troca e infinitas possibilidades de dividir as reflexões inerentes à construção da identidade profissional.. A coordenadora do programa de Pós-Graduação em Psicologia da Saúde, professora Dra. Maria do Carmo Fernandes Martins que com tanto profissionalismo e dedicação faz o nosso programa caminhar com tanto brilhantismo, bem como me fez adentrar com muita disponibilidade interna e inclusiva na instituição.. A secretária do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Saúde da Metodista e hoje minha amiga Elisangela de Castro que sempre defino como minha porta de entrada no mestrado e minha plena continuidade, já que em todo este percurso, sempre esteve presentificada com afeto, cuidado, atenção e profissionalismo. Ingredientes estes, mais que necessários para chegar aqui agora!. A todas e todos colegas de sala que me propiciaram momentos de troca, aprendisado e ressignificação na caminhada acadêmica. De modo particular deixo minha gratidão às queridas Aline Costta e Eloisa Antonietto que tornaram se para mim duas amigas maravilhosas! Ouvintes e companheiras de muitos momentos!. A todas e todos professores (as) do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Saúde que comigo tiveram este período.. A professora Mara Villas Boas de Carvalho do UNIFEOB de São João da Boa Vista/SP pelo carinho e profissionalismo que sempre me dedica nas parcerias de pesquisas que realizamos..

(12) Ao professor Paulo Roberto Granjeiro Rodrigues pelo carinho e profissionalismo que demonstrou ao aceitar compor a banca de minha qualificação e defesa. Certamente com suas contribuições meu trabalho ganhou um brilho a mais!. A querida professora Dra. Miria Benincasa que se abriu a me receber de modo tão confiante e humano. Com seu apoio foi que consegui publicar meu primeiro artigo, realizei inúmeros trabalhos para congressos e eventos a fins. Como sempre digo, sua paixão pela pesquisa me inspira e seu amor pelas pessoas me cativa, não tenho outra palavra a dizê-la a não ser eterna gratidão!. Ao querido professor Dr. Manuel Morgado Resende que com sua sabedoria e sempre paixão pelo ensinar, motivou-me a compreender e a vivenciar a vida de modo coletivo/grupal, reconhecendo que vínculo é a mola propulsora para sermos mais completos como humanos.. Por último e em especial, a minha co-orientadora e professora Dra. Hilda Capelão Avoglia que com tanto carinho e disponibilidade me acolheu no momento de maior necessidade. Serei para sempre grato ao modo como me abraça, pois esta presença/confiança aliada a sua forma humana/profissional de ser educadora foi o que fez com que a minha dissertação pudesse vir a tornar se suficientemente boa!.

(13) SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ..............................................................................................................................14. 2 MATERNIDADE E TRABALHO ..................................................................................... 17 2.1 A construção social da maternidade ...........................................................................................17 2.2 A construção social do feminino .................................................................................................22 2.3 A divisão social e sexual do trabalho .........................................................................................28 2.4 Inserção e lugar das mulheres no mercado de trabalho ............................................................32 2.5 Maternidade e trabalho .................................................................................................................35 2.6 Resistência ao fracasso e mobilização da inteligência .............................................................38 2.7 Estratégias defensivas e sentidos do trabalho ............................................................................39 2.8 Objetivos ........................................................................................................................................43. 3 MÉTODO ............................................................................................................................. 44 3.1 Primeira etapa: determinação da amostra ..................................................................................45 3.2 Segunda etapa: seleção das participantes ...................................................................................46 3.3 Terceira etapa: realização das entrevistas ..................................................................................46 3.4 Análise das entrevistas .................................................................................................................47 3.4.1 Categorias de análise das entrevistas .............................................................................. 47. 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ....................................................................................... 49 4.1 Apresentação das participantes trabalhadoras/Mães ................................................................49 4.2 Aspectos Sociodemográficos: breve compreensão ...................................................................54 4.3 Análise das Categorias previamente elaboradas: ......................................................................56 4.4 Maternidade e Trabalho................................................................................................................57 4.5 Do vir a ser mãe as implicações em “estar” trabalhadora ........................................................57 4.6 A maternidade como possibilidade de transformação profissional ........................................62 4.7 Prazer e sofrimento nas vivências de trabalhadoras mediante ao egresso da licença maternidade ..........................................................................................................................................66 4.8 Prazer nas vivências das trabalhadoras após o egresso da licença maternidade ...................67 4.9 As vivências de sofrimento mediante o retorno ao trabalho ...................................................70.

(14) 4.10 Principais estratégias de defesa utilizadas pelas mulheres trabalhadoras mediante ao fim da licença maternidade ........................................................................................................................77 4.11 Sentidos do trabalho: ..................................................................................................................83. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 91. REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 99. ANEXOS ............................................................................................................................... 105 ANEXO A: Autorização do CEP para execução do Projeto de Pesquisa. ................................105. APÊNDICES .....................................................................................................................................106 APÊNDICE A: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido..................................................106 APÊNDICE B: Roteiro de entrevista semidirigida ......................................................................109 APÊNDICE C: Transcrição da entrevista com Auxiliar de Desenvolvimento Infantil ........112 APÊNDICE D: Transcrição da entrevista com Auxiliar de Desenvolvimento Infantil 2 .......114 APÊNDICE E: Transcrição da entrevista com Aux. de Educação Inclusiva 1 .......................116 APÊNDICE F: Transcrição da entrevista com Aux. de Educaçâo Inclusiva 2 ........................118 APÊNDICE G: Transcrição da entrevista com Auxiliar de Serviços Gerais 1........................120 APÊNDICE H: Transcrição da entrevista com Berçarista 1 ......................................................122 APÊNDICE I: Transcrição da entrevista com Berçarista 2 ........................................................125 APÊNDICE J: Transcrição da entrevista com Merendeira 1 .....................................................128 APÊNDICE K: Transcrição da entrevista com Merendeira 2 ....................................................131 APÊNDICE L: Transcrição da entrevista com Professora 1 ......................................................134 APÊNDICE M: Transcrição da entrevista com Professora 2 .....................................................136 APÊNDICE N: Transcrição da entrevista Supervisora Pedagógica 1 .......................................139 APÊNDICE O: Transcrição da entrevista Supervisora Pedagógica 2 ......................................143.

(15) LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Descrição sociodemográfica das participantes .................................................................. 54.

(16) 14. 1 INTRODUÇÃO. A maternidade é um processo que uma parcela importante das mulheres vivencia. Conforme o Censo de 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010), 68,8% das mulheres brasileiras com 15 anos ou mais já tiveram pelo menos um filho. Beauvoir (1980), ao tratar sobre a maternidade, salienta o quanto o desenvolvimento das diferentes possibilidades de controle de natalidade, inseriu a no campo da escolha. A ampliação dos métodos contraceptivos permitiu à mulher, potencialmente, a possibilidade de livremente assumir gerar ou não uma criança, ainda que persista e imponha se a ela a ideia de maternidade como vocação natural. No mesmo passo seguem os desafios resultantes do papel destinado histórica e socialmente à mulher. Por um lado, seja por sua livre escolha ou não, a ela é socialmente reservado o cuidado dos filhos e o trabalho doméstico. Por outro, seja pelas exigências impostas pela sobrevivência e/ou pelo desejo de, ao romper com os limites do espaço privado da família, inserir-se na vida pública, ser mãe implica, na maioria das vezes, conciliar maternidade e atividade profissional. Estudar a maternidade e sua relação com o trabalho fora do ambiente doméstico, portanto, tema dessa pesquisa, envolve considerar as construções sobre os papeis sociais atribuídos à mulher, questionar sobre como essas atribuições se expressam no sentido conferido à experiência da maternidade, e quais implicações e conflitos se impõem quando a mulher se vê diante do desafio de conciliar materinidade e atividade profissional. No Brasil, conforme o Censo de 2010, do IBGE, quando nosso olhar volta se para a inserção no mercado de trabalho, pode se observar que 48% das mulheres com 16 anos ou mais, que exercem alguma ocupação, possuem pelo menos um filho vivo. Uma parcela dessas mulheres, que possui vínculo contratual formal com o trabalho, tem direito à licença maternidade, que incide entre o período final da gestação e os primeiros meses de vida da criança. A legislação sobre o tema data de 1943, com a promulgação da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Desde então, ao longo dos anos, a lei sofreu alterações, particularmente no que diz respeito ao tempo de afastamento da mãe de suas atividades profissionais, sendo que, as normas em vigor preveem o afastamento do trabalho em um período que varia entre 120 e 180 dias. No caso específico do serviço público é válido o afastamento por 180 dias..

(17) 15. Neste estudo, o grupo pesquisado foi composto de mulheres trabalhadoras assalariadas do serviço público do município de Poços de Caldas, Minas Gerais, que estiveram em licença maternidade entre os anos de 2014 e 2015. Trata-se de um grupo heterogêneo do ponto de vista profissional, já que a categoria em questão abriga trabalhadoras de diferentes formações e profissões. Refletir sobre a problemática proposta por esta pesquisa envolve uma gama de situações potencialmente geradoras de sofrimento: conflitos decorrentes da ruptura do convívio integral com o recém-nascido, possível em função da licença maternidade; confronto entre as responsabilidades socialmente atribuídas à mulher, no que diz respeito ao cuidado dos filhos, e seu impacto do ponto de vista subjetivo frente à necessidade de retorno às atividades do trabalho fora de casa; necessidade de forjar condições materiais e emocionais adequadas de cuidado da criança na ausência da mãe; ampliação da sobrecarga de trabalho doméstico; dentre outras. Vale também destacar que a atuação profissional deste pesquisador, junto ao Setor de Psicologia do Departamento de Recursos Humanos da Prefeitura Municipal de Poços de Caldas, Minas Gerais, no atendimento às servidoras públicas municipais que retornam de licenças maternidade, possibilitou observar que, não raramente, o fim do período de licença maternidade tende a desencadear nestas mulheres processos de sofrimento. Este sofrimento, por sua vez, resulta de fatores diferenciados presentes na vida de cada uma dessas mães. No entanto, na hipótese desenhada por esta pesquisa, este se desdobra fundamentalmente do sentimento de incapacidade, significado socialmente e interiorizado pelas mães trabalhadoras, diante da necessidade de conciliar maternidade e vida profissional. O que se coloca, portanto, como questões a serem desvendadas pelo processo de pesquisa é a compreensão sobre: a) qual o entendimento que as mulheres egressas de licenças maternidade possuem sobre o processo de afastamento e retorno ao trabalho? b) como lidam com a necessidade de conciliar maternidade e atividade profissional? c) maternidade e atividade profissional se apresentam a estas mães trabalhadoras de forma conflituosa ou como processos e vivências que podem ser conciliadas? d) sentem-se ou não amparadas pela família e pela estrutura e relações de trabalho no processo de retorno às atividades profissionais? A pesquisa foi realizada junto a um grupo de 13 trabalhadoras da localidade acima mencionada. No processo de pesquisa, o instrumento de coleta de dados utilizado foi o da entrevista semiestruturada, que, por sua vez, foram realizadas no consultório do pesquisador..

(18) 16. Entende-se, por fim, que a realização desta pesquisa se justifica pela pequena quantidade de trabalhos sobre a temática central, qual seja, os impactos subjetivos que se desdobram do confronto e implicações entre a maternidade e a necessidade de retorno regular às atividades do trabalho fora de casa. Para fins de aprofundamento e melhor compreensão da temática proposta, a pesquisa desenvolveu uma fundamentação teórica organizada a partir de diferentes tópicos. Inicialmente são apresentadas as discussões relativas à relação entre “trabalho e maternidade”. Neste momento, busca-se discutir criticamente a construção social da maternidade, visto que o referencial que foi adotado para análise dos dados obtidos concebe tal fenômeno para além de uma manifestação biológica, como um resultado de interações que a mulher realiza junto ao seu ambiente e a sua cultura como um todo, tornando-se então uma manifestação histórica e social. Na sequência desse debate analisa-se também o cuidado como uma atividade atribuída e associada principalmente ao feminino, no sentido de compreendermos o dilema da mulher frente à disjuntiva trabalho e maternidade. A fundamentação avança ainda no sentido da reflexão sobre “a construção social do feminino”. Pretende-se, nesse momento, uma abordagem sobre como o papel social ocupado pela mulher e o contexto do qual ela participa interferem na construção de sua identidade como mulher e trabalhadora. Torna-se também fundamental para a pesquisa vislumbrar a divisão sexual do trabalho, o cuidado diante da maior inserção da mulher no mercado de trabalho, bem como compreender a participação e o lugar que esta ocupa no contexto trabalhista. Mesmo tendo galgado novos espaços no mercado de trabalho, ainda hoje, a mulher no exercício de suas atividades profissionais, precisa lidar com a segregação de gênero, o que torna sua atividade produtiva, dentro ou fora de casa, muitas vezes invisível. Por fim, cabe salientar que, os resultados e discussões das entrevistas serão apresentados em forma de categorias, que simultaneamente dialogarão com a teoria da psicodinâmica do trabalho, bem como com autores que possam vir a contribuir com tais achados..

(19) 17. 2 MATERNIDADE E TRABALHO. Antes de serem abordadas questões inerentes à relação entre maternidade e trabalho, torna-se relevante analisar criticamente como a maternidade e o nascimento foram vistos em diferentes épocas. A perspectiva apresentada neste momento parte do pressuposto de que o fenômeno em questão, ou seja, a "maternagem" resulta de uma construção sociohistórica, não se constituindo, portanto, em fenômeno meramente biológico, como parte da ciência contemporânea o concebe. A este modo, fica claro que ao analisar tal acontecimento, não se pode supor que desde sempre esses fenômenos, e seus impactos na vida feminina e familiar, foram vistos como o são atualmente. Sendo assim, para que se fale acerca da maternidade de modo contundente, precisa-se compreender como esta foi vista durante a história, ou seja, construída socialmente, tendo em vista que as concepções sobre o nascimento de uma criança mudaram consideravelmente desde a pré-história até o século XXI.. 2.1 A construção social da maternidade. Embora diversas teorias busquem definir a maternidade como um fenômeno meramente fisiológico, pode-se compreender que a intensidade e o momento em que se vivencia a maternidade estão diretamente relacionados às influências culturais do meio em que a mulher se encontra e também de sua história pessoal e afetiva (Badinter, 1985). Enquanto a maternidade é tradicionalmente permeada pela relação consanguínea entre mãe e filho, a maternagem é estabelecida no vínculo afetivo do cuidado e acolhimento ao filho por uma mãe. O modo como se dará esse cuidado, para Kitzinger (1978), dependerá dos valores socialmente relacionados ao que é ser mulher, ser mãe e ao significado de um filho em um determinado contexto cultural. Desta forma, espera-se que a valoração e a vivência da maternidade e da maternagem variem historicamente e de acordo com a inserção das mulheres em culturas e contextos sociais específicos. Isso porque o conceito de maternidade, tal como se vislumbra atualmente, é uma construção sociocultural que foi, portanto, se modificando ao longo da história. Gradvohl, Osis e Makuch (2014) apontam que no antigo Egito, quando a gestante ia dar à luz, uma das.

(20) 18. parteiras rezava para a deusa Ísis rogando pela redução das dores do parto. Enquanto isso, outra mulher a sustentava quando as contrações aconteciam, e outra massageava seu ventre. Quando o bebê já estava por nascer, uma parteira, ajoelhada de frente à mãe, recebia-o e elegia seu nome de acordo com a posição dos astros no momento do nascimento. Os mesmos autores apontam que na Grécia Antiga, diante dos primeiros sinais de trabalho de parto, as parteiras invocavam a deusa Ártemis, além de prepararem poções para auxiliarem o parto e cantarem com as gestantes. Já na Roma Antiga, as mulheres preparavam um óleo, a cadeira de parto e acompanhavam a parturiente até a mesma dar à luz. Diante desses exemplos, trazidos por Gradvohl e outras (2014), pode-se observar que as parteiras auxiliavam as parturientes não apenas do ponto de vista físico, mas também cumpriam um papel de suporte psicológico, em um contexto em que a palavra divina tinha um lugar privilegiado. Tornar-se mãe também era considerada uma dádiva divina, cabendo à parteira posicionar se não apenas como responsável por amparar a chegada do bebê, mas também oferecer à "entidade mãe" um lugar quase que "sagrado". Diante de tais apontamentos, Ariès (1981, p. 31) salienta que entre os séculos XVI e XVIII a sociedade via a criança de modo diferente ao que hoje é vista. Prova disso, segundo o autor, é que a duração da infância era reduzida ao período inicial, o qual demandava maiores cuidados do adulto em relação ao bebê. A criança, assim que dotada de alguma autonomia física, era logo inserida no contexto dos adultos, no qual passava a partilhar de seus trabalhos e jogos. Sendo assim, de uma criança pequena, ela se transformava imediatamente em um adulto "forçado", sem passar pelas etapas da juventude, que talvez fossem praticadas antes da Idade Média e que se tornaram aspectos essenciais das sociedades contemporâneas. Conforme aponta Ariès (1981, p. 35), a transmissão dos valores e dos conhecimentos, bem como a socialização da criança, não eram proporcionadas pela família. Uma vez que a criança se afastava logo de seus pais, pode-se dizer que durante séculos a educação foi construída por intermédio da aprendizagem desdobrada das relações cotidianas, ou seja, se dava por conta de as crianças lidarem prematuramente com o universo adulto. Aprendiam as coisas que deviam saber ajudando os adultos a fazê-las. Nesta época, a passagem da criança pela família e pela sociedade, destaca o autor, era muito breve e muito insignificante para que tivesse tempo ou razão de forçar a memória e tocar a sensibilidade afetiva. Para Ariès (1981, p. 32), um sentimento superficial, a "paparicação" era reservada à criancinha, porém apenas em seus primeiros anos de vida. Isto é, enquanto ainda era uma "coisinha engraçadinha", as pessoas se divertiam com elas como se.

(21) 19. fossem um "animalzinho, um macaquinho impudico". Se ela morresse então, como muitas vezes acontecia, alguns podiam ficar desolados, mas a regra geral era não se fazer muito caso, pois outra criança logo a substituiria. A criança não chegava a sair de uma espécie de anonimato. No entanto, ao dar conta de superar os primeiros perigos e sobreviver ao período da "paparicação", era comum que a criança passasse a viver em outra casa que não a de sua família de origem, tendo em vista que esta última daria prioridade a continuar sendo composta pelo casal e os filhos menores, ou seja, os bebês que ainda se encontravam na chamada fase de "paparicação" (Ariès, 1981, p. 36). Contudo, a partir do fim do século XVII uma mudança considerável alterou o estado de coisas até aqui apresentadas. Tais modificações, conforme Ariès (1981, p. 166), encontram se relacionadas a dois fenômenos. De um lado a escola, que veio a substituir a aprendizagem direta, por meio das práticas cotidianas, como meio de educação. Em outras palavras, para além da aprendizagem obtida pelo convívio direto com os adultos, a criança passou a contar com outras fontes de aprendizagem. Assim, a família tornou-se o lugar de uma afeição necessária não apenas entre os cônjuges, mas também entre pais e filhos, algo que até então não se manifestava de tal modo. Ariès (1981, p. 174), explica que tal afeição se exprimiu, sobretudo por meio da importância que se passou a atribuir a educação. Deste modo, não se tratava mais apenas do estabelecimento de uma relação com os filhos construída em função dos bens e da honra. Tratava-se de um sentimento inteiramente novo, segundo o qual os pais devem passar a se interessar pelos estudos de seus filhos e acompanhá-los com uma solicitude que vai se constituindo como habitual nos séculos XIX e XX, mas outrora desconhecida. O autor ainda mostra que a família passa então a se organizar em torno da criança, atribuindo-lhe importância capaz de fazê-la sair de seu antigo anonimato. A ideia de perdê-la ou substituí-la passa a ser acompanhada de enorme dor. Ela, a criança, não pode mais ser reproduzida muitas vezes. Limitar o número de filhos passa a ser prática social incorporada e relacionada ao melhor cuidado (Ariès, 1981, p. 169). Entre os séculos XVII e XIX, com o desenvolvimento do capitalismo e a ascensão da burguesia industrial, instaura-se a divisão entre esferas públicas e privadas. Cabe ao Estado, nesse contexto, administrar as relações de produção; à família reservam-se as condições de reprodução e sobrevivência de seus integrantes. Deste modo, a criança, até então criada em comunidade, passa a ser responsabilidade dos pais. Ao mesmo tempo, consolida-se a diferenciação de papeis sociais: ao homem caberia o sustento da casa, enquanto à mulher, os cuidados para com a família (Scavone, 2002)..

(22) 20. Esse cuidado da mulher com os filhos não se restringiria apenas ao atendimento das necessidades básicas do bebê, mas também a uma disponibilidade psíquica, a qual passa a ser denominada “maternagem” (Winnicott, 1945/2000). Nesse período tem início uma alteração na imagem da mulher como mãe. A maternagem passa a ser extremamente valorizada e os cuidados relativos a essa atividade passam a ser exclusivos da mãe. Ela é quem deve cuidar e amamentar os filhos (Correia, 1998). O desenvolvimento da nova função culmina na rápida associação entre mulheres e maternidade. Ao mesmo tempo, iniciam-se por volta de 1760 as publicações médicas definindo como deveria ser esse cuidado e estabelecendo a amamentação como um dever das mães. Neste caso, "boas mães" seriam aquelas que nutrissem um amor incondicional pelos filhos. É nessa época que se fortalece o mito do “instinto materno”, segundo o qual a maternidade era uma tendência feminina inata, assim como a maternagem, pois se somente as mulheres poderiam gestar, eram elas as pessoas mais apropriadas para criar os bebês (Badinter, 1985). O início do século XIX, em meio à consolidação do sistema capitalista, evidencia-se cada vez mais a exaltação social da maternidade e da maternagem. A mulher adquire valorização social maior, mas específica: passa a ter o papel de responsável pelo lar e pela criação dos novos cidadãos (Moura & Araújo, 2004). Com a incorporação das novas atividades, as mulheres passam a receber adjetivos como mulher-mãe, rainha do lar, que na época agregavam uma dada noção de respeito, associada ao papel assumido no âmbito privado, em confronto com o reconhecimento e identidade social que as mulheres realmente buscavam. No entanto, por ainda não haver um lugar específico para estas, acabavam vinculadas a atributos supostamente positivos, associados às novas mulheres modernas (Freire, 2008). Neste contexto, quanto mais responsabilidades a mulher assumia dentro do lar, como mãe e educadora, maior era o status adquirido na sociedade, que valorizava o devotamento e sacrifício em benefício dos filhos e da família (Moura & Araújo, 2004). A valorização da vida familiar contribuiu para que também se tivesse início o desenvolvimento da noção de vida privada. As casas passaram a ser divididas por cômodos, possibilitando assim uma maior proximidade entre os membros da família. Os vínculos tornaram-se mais afetivos e os casamentos arranjados perderam espaço (Ariès, 1981, p.174). As crianças nesta época passaram a ser consideradas como promessas de realização dos adultos, merecendo todo cuidado e atenção da mãe. Além do cuidado materno, o Estado passa.

(23) 21. a ter interesse na educação dos futuros cidadãos. Isso ocorre porque a moralidade da família passa a ser essencial à consolidação do sistema capitalista. No século XX, a valorização da maternidade na Europa, fortemente atingida pela mortandade causada pela primeira guerra mundial, segundo Ariès (1981, p. 158), também respondia aos interesses pró-natalistas do Estado capitalista. Para esse sistema, o aumento da população favoreceria o enriquecimento da nação. Respondendo aos objetivos da configuração assumida pelo capitalismo na primeira metade do século XX, a ideologia maternalista na Europa, além de incentivar o aumento das taxas de fecundidade, transformou a maternidade em um dever patriótico. Às mães caberia o futuro da nação, pois, seriam elas as responsáveis pelos filhos saudáveis que se tornariam cidadãos úteis à pátria. Dentro desse contexto, evidencia-se uma pressão social para que as mulheres se tornem mães, desencadeando nas mulheres que não tinham o desejo da maternidade a sensação de inadequação social (Correia, 1998) ou culpa por não terem condições de dedicarem-se única e exclusivamente à maternagem devido à chamada jornada dupla de trabalho (no lar e fora do lar) (Moura & Araújo, 2004). Em resposta à pressão social para a maternidade e às suas contradições, emergem, entre o século XIX e a primeira metade do XX, paralelamente, duas vertentes de movimentos feministas: uma mais radical, que associava a maternidade à submissão ao homem (Szapiro & Carneiro, 2008), e outra, maternalista, que defendia a maternidade e a maternagem como principais papeis sociais femininos, reivindicando o reconhecimento dessas funções como um trabalho que deveria ser remunerado (Bock, 1991). A vertente radical compreendia a maternidade e a maternagem como responsáveis por tornarem as mulheres dependentes dos homens, uma vez que a dependência do filho à mãe por um longo período de tempo a impossibilitava de realizar outras atividades. Segundo essa perspectiva, a solução para as mulheres se encontrava no controle da reprodução (Scavone, 2001). Assim, a procriação não deveria mais ser considerada como destino inevitável da mulher, mas sim como uma opção (Szapiro & Carneiro, 2008). Por outro lado, a perspectiva maternalista considerava a maternagem como uma das atividades essenciais à vida feminina. Tão essencial e importante que deveria ser remunerada pelo Estado como um trabalho, já que era também uma atividade social. O objetivo desse movimento era, portanto, a remuneração. dos trabalhos. domésticos. Não havia. questionamentos quanto à limitação da mulher ao trabalho doméstico, conforme defendia a vertente radical..

(24) 22. As reivindicações das feministas radicais, como a luta pelo direito à contracepção livre e gratuita e a liberação do aborto, no início do século XX, tinham como premissa fundamental a livre escolha pela maternidade (Scavone, 2001). Tais reivindicações progressivamente abriram espaços para questionamentos a respeito da imposição social às mulheres para a maternidade, assim como da atividade exclusiva da maternagem às mães, contrariando os preceitos do instinto materno. A partir dos anos 90 do século XX, com o avanço da medicina reprodutiva possibilitando novas formas de procriação, vem à tona a questão do parentesco sanguíneo na maternidade e paternidade (Pozzi, 2009). As tecnologias reprodutivas separam a reprodução da sexualidade, rompendo com o determinismo biológico. Quebra-se também a certeza universal de que mãe seria a mulher que pariu a criança (Freire, 2008). Com isso, há o surgimento de uma nova forma de ser família, com sujeitos que se distinguem entre mãe biológica (mãe que “empresta” o útero ou doa os óvulos), exercendo a maternidade substitutiva (Freire, 2008), e o pai biológico (pai que doa os espermatozóides) cumprindo a paternidade genética (Scavone, 2001). Do mesmo modo, se estabelecem a mãe e o pai sociais, aos quais cabe exercer a atividade de maternagem junto ao bebê. As mudanças na maneira como as sociedades ocidentais lidam com as questões relativas à procriação e ao cuidado com os filhos, segundo Gradvohl e outras (2014), aparecem como resultado da interação entre as condições materiais da existência e as transformações do pensamento e do imaginário social. Isto faz com que os significados atribuídos aos relacionamentos e aos papeis sociais se modifiquem e passem a demandar novas adaptações nos diversos contextos sociais. Sendo assim, a reflexão sobre a construção social da maternidade e da maternagem ao longo do tempo pode favorecer a discussão sobre as demandas das novas configurações familiares frente a uma realidade que muitas vezes só atende aos tradicionais modelos familiares.. 2.2 A construção social do feminino Até aqui se discutiu questões relativas às noções de criança, maternidade e maternagem e seus enraizamentos histórico-social. Buscou-se analisar criticamente o lugar que a maternidade ocupa na vida das mulheres, em particular sob a ótica do capitalismo, e os conflitos que essas construções engendram nos espaços da vida privada e na inserção dessas mulheres no mercado de trabalho. Neste momento serão analisados conteúdos tangíveis da construção social do feminino..

(25) 23. Uma vez que o referencial teórico adotado para este trabalho busca superar o pensamento reducionista que estabelece uma associação direta entre gênero e sexo, muitas vezes equivocadamente colocando-os como sinônimos, pretende-se compreender que a mulher de modo geral em sua trajetória passa por diversos olhares acerca de sua existência, bem como de sua identidade. Em uma conhecida passagem de “O Segundo Sexo”, Simone de Beauvoir (1980, p. 14) afirma que “não se nasce mulher, torna-se mulher”. Com esta frase dotada de sentido e provocações, Beauvoir nos convida a pensar acerca da construção social do feminino. Sua análise é profunda. Aponta tanto a opressão que pesa sobre as mulheres, para as suas dificuldades em se desvencilharem dos laços que as prendem a tal servidão, quanto ao fazerse que se realiza na vida vivenciada social e historicamente, objetiva e subjetivamente. Neste sentido, torna-se relevante analisar criticamente como se deu a construção social do feminino. Uma vez que, desde o período gestacional até a chegada de uma criança ao mundo, as pessoas envolvidas neste contexto passam a vivenciar acentuada expectativa, principalmente quanto ao sexo do bebê. Em outras palavras, passam a conjecturar inúmeras hipóteses não só acerca do novo membro que irá integrar a família, mas principalmente em relação às características que supostamente devem abarcar cada gênero. Se menino perpetuará o nome da família, sobretudo do pai, diferenciando-se em relação à menina, pelas roupas e pelo modo como será educado. As distinções não param por aí, tendo em vista que desde pequena, a menina é ensinada tanto pela família, quanto por outras pessoas, que ela deve fechar as pernas ao sentar-se e andar sempre vestida, ter bons modos, o que não é necessariamente exigido dos meninos. O ambiente privado é reservado a ela como refúgio contra qualquer violação, pois a rua é o perigo. Mas será que meninos também não podem correr riscos? Beauvoir (1980) entende que a mulher assumiu, ao longo dos tempos, o lugar do outro, ou seja, da pura alteridade com valoração negativa, cuja identidade é determinada pelo homem. Também entende que a dimensão humana é sempre paradoxal, já que o homem que constitui a mulher como outro também encontrara nela profundas cumplicidades. Sua reflexão questiona a biologização do social, indo na contramão das crenças que imputam ao biológico a prevalência sobre o social, reduzindo o corpo à sua conformação biológica e anatômica. Isso porque suas ideias são acompanhadas da explicação de que “nenhum destino biológico, psíquico ou econômico define a forma que a mulher assume no seio da sociedade” (Beauvoir, 1980, p. 9). Sendo assim compreendemos o conjunto articulado.

(26) 24. da civilização como elemento fundante na elaboração do que se qualifica e de forma ainda pejorativa como o feminino é construído na cultura. Ao discorrer sobre a construção social dos corpos, Bourdieu (2012, p. 16) analisa que a construção da sexualidade se realiza na sua erotização, deixando de perceber a cosmologia sexualizada “que se enraíza em uma topologia social do corpo socializado, de seus movimentos e deslocamentos imediatamente revestidos de significação social”. Em outras palavras, associa-se ao homem a virilidade e superioridade no ato sexual. A divisão sexual das coisas e das atividades como oposição entre o masculino e o feminino assume, nesse sentido, funções objetivas e subjetivas. Nas palavras de Bourdieu (2012, p. 17), a divisão entre os sexos parece estar ‘na ordem das coisas’, como se diz por vezes para falar do que é ‘normal’, ‘natural’, a ponto de ser inevitável: encontra-se presente, ao mesmo tempo, em estado objetivado nas coisas (na casa, por exemplo, cujas partes são todas ‘sexuadas’), em todo o mundo social e, em estado incorporado, nos corpos e nos hábitos dos agentes, funcionando como sistemas de esquemas de percepção, de pensamento e de ação.. Estas ideias vêm ao encontro do proposto por Tedeschi (2008), que também analisou dois discursos fundamentais para nossa compreensão das primeiras representações sociais construídas na história sobre o feminino: o discurso de matriz filosófica grega e o discurso da moral cristã no mundo medieval. Ao referir-se ao discurso de matriz filosófica grega, Tedeschi (2008, p. 9) destaca o olhar masculino que pensava as mulheres como um objeto, ou seja, "criaturas irracionais, sem pensar próprio", que deveriam viver sob o controle dos homens. O autor acredita ser possível perceber tais representações no pensamento filosófico de Platão, Aristóteles e Hipócrates que, por meio de um discurso masculino sobre o corpo feminino, construíram mitos que justificavam a inferioridade e a fragilidade feminina. Quanto às representações femininas presentes no discurso da moral católica, Tedeschi (2008) ressalta que o modelo judaíco-cristão exerceu influência significativa na definição do lugar ocupado pela mulher na Igreja, na sociedade e na cultura ocidental, não restando dúvidas de que esse discurso foi fundamental para reforçar as desigualdades de gênero. Ao buscar os modelos do feminino veiculados e defendidos pela Igreja Católica, Tedeschi (2008) identifica dois paradigmas do feminino que procuram enquadrar a percepção social das mulheres para a criação de seus modelos de autorrepresentação. Tais paradigmas são.

(27) 25. ilustrados por duas mulheres centrais na tradição cristã, Eva, a pecadora, e Maria, a virtuosa, que, devido às suas características antagônicas, são utilizadas pelo cristianismo para representar todo o universo feminino. Esses discursos recorrentes, segundo Tedeschi (2008), exerceram, e ainda exercem influência decisiva na elaboração de códigos, leis e normas de conduta, justificando a situação de inferioridade em que a mulher foi historicamente colocada. A este modo compreende-se porque a desigualdade de gênero passa a ter um caráter universal, construído e reconstruído numa teia de significados produzidos por vários discursos, como na filosofia, na religião, na educação, no direito e em inúmeros outros campos do conhecimento, de maneira a reproduzir e perpetuar estas crenças por meio da história, e legitimando-se sob seu tempo. Como parte do processo de juntar os fios do discurso sobre o feminino, torna-se também relevante analisar como a ciência moderna auxiliou (e continua fazendo-o) a tecer a noção sobre a mulher e o feminino. Impõe-se, nesse contexto, observar como termos que expressam atributos, fenômenos e experiências distintas são utilizados, muitas vezes, como sinônimos. De modo frequente, as pessoas fazem confusão quanto aos termos mulheres, gênero, fêmea, feminino e feminista. Esses termos, no entanto, conforme afirma Schiebinger (2002), têm significados distintos e precisam ser analisados/compreendidos criteriosamente e individualmente. Segundo Schiebinger (2002), feminismo, gênero, sexo, mulheres, homens, macho, fêmea e ciência possuem significados muito diferentes para diferentes pessoas. As muitas variantes de feminismo se agrupam ao longo de um espectro de perspectivas filosóficas e políticas. A autora salienta que o feminismo define uma perspectiva, não um sexo. Ressalta que o termo gênero foi introduzido na década de 1970 como uma das formas de refrear perspectivas marcantemente perpassadas pelo determinismo biológico. Gênero, explica Schiebinger (2002), é um conceito que busca estabelecer distinções entre formas culturalmente específicas de masculinidade e feminilidade e o sexo biológico, construído como cromossomos, fisiologia e anatomia. A autora destaca que os deterministas biológicos, na época, como agora, fundamentavam certas características masculinas como relações especiais agudas na anatomia do macho. A popularidade do termo gênero resultou em sua expropriação. O termo gênero é com frequência usado, impropriamente, como uma palavra.

(28) 26. de código para sexo, mulher ou feminista. Entretanto, conforme a autora, encontra utilização mais apropriada quando utilizado para referir um sistema de signos e símbolos denotando relações de poder e hierarquia entre os sexos, podendo também referir-se a relações de poder e modos de expressão no interior de relações do mesmo sexo (Schiebinger, 2002). Dessa forma, identidade de gênero denota como um homem ou mulher individual apropria aspectos de ideologias de gênero como parte de seu senso de eu. A autora destaca ainda que, as identidades dos indivíduos podem mudar de acordo com o contexto, ambiente e época em que estão inseridos. Uma mulher pode agir de modo feminino numa sala de diretoria, digamos, mas não entre suas amigas próximas. Finalmente, a atribuição de gênero refere comportamentos esperados de um indivíduo em virtude de se ser homem ou mulher (Schiebinger, 2002). Gênero,. conforme. Schiebinger. (2002). consiste. em. entendimentos. multidimensionais e mutáveis do que significa ser um homem ou uma mulher no interior de. um. determinado. ambiente. social.. Ele. é. historicamente. contingente. e. constantemente renegociado em relação a divisões culturais tais como, status, classe e etnia. Embora qualquer homem ou mulher possa rejeitar um conjunto particular de atributos de gênero, ele ou ela, para a autora, não obstante, se sujeita às regras e regulamentos mutáveis de gênero. Sexo, em contraste, ao já discutido, funciona dentro dos estudos de gênero para designar aspectos menos maleáveis da biologia. Nesse contexto, a cultura, afirma a autora, não delineia a realidade, mas funciona,. [...] concentrando nossa atenção de maneiras específicas, aumentando conceitualmente um conjunto de similaridades e diferenças, ao mesmo tempo em que diminui e embaça outros, orientando a construção de instrumentos que trazem certos tipos de objetos à visão, enquanto eclipsam outros (Schiebinger, 2002, p. 37).. Questões como as colocadas pela autora levantam o quanto o discurso da Ciência, e seu papel nas construções sobre o que é legítimo e não legítimo, vem contribuindo de forma significativa para as noções de sexo, gênero, feminino, masculino, entre outras. Não estando as práticas científicas e a ciência deslocadas do contexto histórico e social, estando estas também submetidas às relações políticas e de poder amplas, faz-se necessário considerar o quanto o lugar social atribuído às mulheres sob o capitalismo é reforçado e legitimado pelo discurso científico e, nesse contexto, médico, que reproduzem uma dada noção sobre a mulher.

(29) 27. e o feminino, assim como, o papel que estas devem desempenhar na sociedade. Desta forma, a maternidade, entre outros papeis, insere-se nesse contexto. Autoras como Wolff e Possas (2005) nos lembram que ao longo de muito tempo as mulheres não foram consideradas sujeitos da história e, portanto, estiveram excluídas, por exemplo, das narrativas dos historiadores. Em outras palavras, o que ela é ou faz é definido pelo que o homem entende do que é ser mulher e qual o papel que ela deve desempenhar na sociedade. Pode-se dizer, dessa forma, que a ordem social atua como uma máquina simbólica que tende a ratificar a dominação masculina sobre as mulheres (Bourdieu, 2012, p. 18). Esta, por sua vez, encontra-se alicerçada em uma divisão social e sexual do trabalho que estabelece, de forma bastante estrita as atividades atribuídas a cada um dos dois sexos, de seu local, seu momento, seus instrumentos. Tal divisão se expressa na maneira como os espaços e tempos são estruturados. O lugar da assembléia ou do mercado, reservados aos homens, a casa, reservada às mulheres. No seu interior o salão converte-se em espaço masculino, enquanto o estábulo, a água e os vegetais, em femininos. Ao voltarmos o olhar para a estrutura do tempo, a jornada, o ano agrário, ou o ciclo de vida, com momentos de ruptura masculinos, e longos períodos de gestação, femininos. Schiebinger (2002) indica que parte dos problemas experimentados pelas mulheres no campo da atividade científica depende de valores interdependentes como o prestígio das instituições científicas, acasos de guerra e paz, clima político, economia, estrutura familiar e muitos têm raízes históricas profundas como os conflitos entre responsabilidades domésticas versus profissionais, configurando como relógio que confronta carreira acadêmica e tempo biológico humano. Acrescenta que a inserção das mulheres nas atividades profissionais científicas, marcada pelo papel das divisões tradicionais entre público e privado, emprego e lar, doméstico e profissional são grandes obstáculos ao ingresso de mulheres nas profissões em geral. Se essas assumem formas particularizadas no campo das ciências, tal situação refere-se às singularidades desse campo de atuação. Entretanto, como se poderá observar ao longo dessa dissertação, há um fio que alinhava de forma importante o que Schiebinger (2002) chama de “mal-estar” ao referir-se ao sentimento presente entre as profissionais do mundo da ciência institucional, mas também identificável entre outras mulheres que necessitam conciliar demandas profissionais e demandas de trabalho relacionadas à família: o permanente conflito entre profissão e vida doméstica..

(30) 28. 2.3 A divisão social e sexual do trabalho Se antes o centro da reivindicação das mulheres esteve no direito de escolher quando a maternidade deveria ocorrer, porque elas desejavam realizar outras atividades, ao ocorrer com maior proporção o ingresso destas no mercado de trabalho, por volta de 1960, a demanda passou a acentuar-se sobre a divisão das tarefas domésticas e da maternagem com os homens (Freitas, Coelho, & Silva, 2007). Isso porque a participação dos homens nessas novas demandas não ocorre de modo igual. A presença masculina ocorre de forma mais efetiva no que se refere aos cuidados com os filhos, se comparada à participação nas atividades domésticas (Araújo & Scalon, 2005). Válido ressaltar, entretanto, que essa proximidade masculina no cuidado com o filho é mais frequente na criança em idade escolar, quando já deixaram de ser alimentados exclusivamente pelo leite materno (Demo, 1992). Já a menor participação dos homens nas tarefas domésticas é atribuída ao fato de que estas atividades ainda são consideradas essencialmente femininas, permanecendo a segregação por gênero (Jablonski, 2010). Embora ainda incipiente, nota-se que a maior participação dos homens nos cuidados ao filho tem possibilitado a desintegração de antigos estereótipos paternos e maternos, favorecendo a paternidade participativa. Neste novo modelo de paternidade, espera-se do homem não apenas o sustento financeiro da família, como na família patriarcal, mas uma paternidade que se expresse também nos cuidados educacionais e afetivos com os filhos (Freitas et al., 2007). É a partir da paternidade participativa que tem início o conceito de parentalidade por volta dos anos 1960. O termo parentalidade surgiu na França e se refere à dimensão do processo e construção do relacionamento entre pais e filhos (Zornig, 2010). Nesse conceito, o cuidado com os filhos é exercido tanto pelo pai quanto pela mãe. Assim, a maternagem começa a ser concebida como uma tarefa a ser exercida independente do gênero (Scavone, 2001). Entretanto, Amazonas, Vieira e Pinto (2011) apontam que apesar de as mulheres sentirem-se sobrecarregadas e esperarem a divisão das atividades domésticas e do cuidado dos filhos com o parceiro, as mesmas tendem a se sentir culpadas quando isso ocorre, acreditando que só as mães têm a capacidade de cuidar deles. Compreendendo que o ideal materno choca-se violentamente com as obrigações cada vez mais exigentes do mundo do trabalho, Badinter (2011) acredita que se faz necessário.

(31) 29. promover uma redefinição na identidade feminina, que parece gritar a partir da surda resistência contra a maternidade empreendida por algumas mulheres. Isso porque se mantém em curso, nos dias atuais, uma suave tirania dos deveres maternos, composta por discursos (principalmente o maternalista) que continua fazendo eco entre as mulheres. O processo de inserção da mulher no mercado de trabalho significou a articulação de responsabilidades, conjugando o ser mãe e o ser profissional (Jerusalinsky, 2009). Porém, não se pode pensar vida pessoal e profissional de maneira dicotômica. Isso porque para a mulher inserir-se no mercado de trabalho, os objetivos da vida pessoal e profissional devem, em tese, poder ser pensados e planejados em consonância. Sob o capitalismo, o progressivo ingresso da mulher no mercado de trabalho tende a desconstruir a visão social que vincula o feminino quase que exclusivamente à maternidade. Scavone (2002), em sua análise a respeito das mudanças mais marcantes nos padrões da maternidade contemporânea, alega que a maternidade é ainda um elemento cultural muito forte ligado à identidade feminina. A divisão sexual do trabalho foi objeto de pesquisa em diversos países, mas foi na França, no início dos anos 1970, que as bases teóricas desse conceito se consolidaram, sob o impulso do movimento feminista. O paradigma da divisão sexual do trabalho fortaleceu o debate sobre o trabalho da mulher nos espaços público e privado (Castro, 1992), tirando da invisibilidade a reprodução social executada gratuitamente pelas mulheres. Para Hirata e Kergoat (2007), a relação social recorrente entre o grupo dos homens e o das mulheres é considerada relações sociais de sexo. Segundo as autoras, a divisão sexual do trabalho é fruto da divisão social estabelecida nas relações sociais entre os sexos, divisão essa modulada histórica e socialmente, e instrumento da sobrevivência da relação social entre os sexos. Sendo assim, compreende-se que a divisão do trabalho proveniente das relações sociais de sexo reservou às mulheres a esfera reprodutiva e aos homens, a esfera produtiva, estabelecendo uma relação assimétrica entre os sexos que cria e reproduz concomitantemente as desigualdades de papeis e funções na sociedade. As relações sociais entre os sexos se apresentam desiguais, hierarquizadas, marcadas pela exploração e opressão de um sexo em contraponto à supremacia do outro. Mediante esses pressupostos, cabe lembrar, conforme destaca D’Alonso (2008), que enquanto as feministas dos anos 1970 buscavam identificar as raízes da invisibilidade do trabalho doméstico não remunerado, indicando sua contribuição para a desigualdade sexo/gênero e a subalternidade feminina, no contexto dos anos 1990 e na primeira década do.

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