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Língua e Cultura Inglesa

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Academic year: 2021

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Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-2992-1

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Orlando Vian Junior

Língua e Cultura Inglesa

IESDE Brasil S.A. Curitiba

2012 Edição revisada

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© 2008 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais.

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE

SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

__________________________________________________________________________________ V666L

Vian Junior, Orlando

Língua e cultura inglesa / Orlando Vian Jr. - 1.ed., rev. - Curitiba, PR : IESDE Brasil, 2012.

112p. : 28 cm Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-2992-1

1. Língua inglesa - Aspectos sociais. 2. Linguagem e cultura. I. Título. 12-5119. CDD: 306.44

CDU: 316.74:821.111(73)

19.07.12 01.08.12 037559

__________________________________________________________________________________

Capa: IESDE Brasil S.A. Imagem da capa: Shutterstock

IESDE Brasil S.A.

Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR

0800 708 88 88 – www.iesde.com.br Todos os direitos reservados.

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Sumário

Língua e cultura | 7

Língua, cultura e identidade | 8 Contexto | 10

Crenças e estereótipos | 12 Conclusão | 13

O inglês antigo e o inglês médio | 19

O inglês antigo | 20 O inglês médio | 23

O inglês moderno | 29

Primeira fase do inglês moderno | 29 O inglês moderno | 31

Conclusão | 32

O inglês como língua nativa | 37

Inglaterra e Estados Unidos | 37

O inglês na América, na África e na Oceania | 39 Conclusão | 42

O inglês como segunda língua | 47

Caribe | 48 África | 48 Ásia | 50

Pacífico Sul e Sudeste Asiático | 51 Conclusão | 52

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O inglês como língua global | 57

As influências do inglês | 57 Os “novos ingleses” | 59 Conclusão | 60

A língua inglesa e a internet | 65

Globalização e internet | 65 O inglês na internet | 68 Conclusão | 70

A língua inglesa no Brasil e os meios de comunicação | 75

A língua inglesa no Brasil | 76

O contato do inglês com o português e os meios de comunicação | 78 Conclusão | 80

A língua inglesa e o campo profissional e de ensino | 85

O inglês nos diversos campos profissionais | 85

O ensino de inglês no Brasil e a relação língua versus cultura | 87 Conclusão | 90

O inglês como língua global e o futuro | 97

Uma visão crítica do inglês como língua global | 97 O futuro do inglês | 99

Conclusão | 101

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Apresentação

O ponto de partida para os aspectos apresentados neste material é a relação entre língua, linguagem e cultura e como os elementos con-textuais e situacionais determinam o uso da linguagem e das escolhas linguís ticas realizadas pelos usuários da língua no dia a dia em detrimento do contexto em que está inserido.

O foco central da discussão é a língua inglesa: sua história, sua evo-lução, seu estado atual.

Serão abordados aspectos desde a origem do idioma, sua forma-ção, suas transformações e as fases pelas quais passou até configurar-se como o conhecemos hoje, bem como os aspectos sociais, históricos, políticos, geográficos, econômicos, culturais, entre outros, que alçaram o inglês à condição de língua global. Será discutido, ainda, o papel da in-ternet na disseminação do inglês, além dos reflexos e dos impactos no Brasil da utilização do inglês como língua global e seu papel no ensino de línguas estrangeiras.

O objetivo primordial deste trabalho é incitar o futuro profissional do campo de Letras a refletir criticamente sobre os aspectos do idioma e seus impactos no ensino do inglês como língua estrangeira no Brasil, le-vando-se em consideração que ensinar inglês não se restringe apenas aos elementos da gramática, da pronúncia ou do vocabulário da língua, mas que todos esses elementos são influenciados pela cultura, tanto do inglês, como língua-alvo, nos diversos países onde é falado, quanto do português como língua materna e as variáveis culturais e linguísticas intervenientes no processo de ensino e de aprendizagem do idioma.

Que a jornada pela história do inglês e pelos aspectos sociocultu-rais da língua seja proveitosa e que dela possam emergir aspectos que possam contribuir para a sua prática social, como cidadão em um mundo globalizado onde o inglês é a língua internacional para comunicação e, futuramente, para sua prática pedagógica e profissional!

Bom trabalho!

Orlando Vian Junior

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Língua e cultura

Orlando Vian Junior

*

A trilha que alçou o inglês à condição de língua global apresenta um percurso de ascensão verti-ginosa, que envolve questões geopolíticas, econômicas, culturais, sociais e diversas outras que devem ser consideradas para a compreensão da relação entre uma língua e sua cultura.

É significativo considerar o fato de que o inglês não existia há pouco mais de dois mil anos, quando Júlio César chegou à Bretanha. Em quinhentos anos já era falado por um grupo pequeno de pessoas e, ao final do século XVI, já era falado por sete milhões. O que se observou foi uma expansão acentuada a partir de 1600, quando o inglês começou a ser levado por todo o mundo.

Para compreender tal desenvolvimento, é necessário fazer um retrospecto. Essa viagem servirá aos seguintes propósitos:

compreender a relação entre língua, cultura e identidade e como a linguagem está relacionada

::::

ao contexto;

estabelecer as relações entre a língua inglesa e sua disseminação pelo mundo e os diferentes

::::

elementos que determinam seu uso como língua oficial, segunda língua ou como língua estrangeira em diferentes países;

empreender uma viagem panorâmica sobre a história da língua inglesa e como foi alçada à

::::

condição de língua global;

discutir aspectos relacionados ao inglês como língua global utilizada nos meios de

comunica-::::

ção, na internet, na economia, na política, entre outros;

transpor esses elementos sócio-históricos ao contexto da área de Letras para levantarmos

sub-::::

sídios para uma compreensão mais ampla do idioma a fim de que nos posicionemos política e criticamente em relação ao papel da língua inglesa no mundo, no Brasil e, principalmente, nos currículos escolares;

compreender os fatores socioculturais na relação língua-cultura que influenciam o ensino e a

::::

aprendizagem do inglês como língua estrangeira.

* Doutor em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem e Mestre em Linguística Aplicada ao Ensino de Línguas. Bacharel em Letras Português-

-Inglês pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Araçatuba-SP.

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8 | Língua e cultura

Língua, cultura e identidade

Aprender uma língua estrangeira não significa simplesmente aprender o vocabulário ou a gra-mática da língua. Existe um aspecto crucial envolvido no processo comunicativo, relacionando tanto aspectos individuais como aspectos transacionais. Trata-se do aprendizado de uma outra cultura, que emerge a partir do momento em que se engaja na tarefa de aprender o novo idioma, ou seja, aprender uma língua significa também assimilar aspectos do contexto cultural em que essa língua circula e a forma como é utilizada por seus falantes. Aprender inglês significa aprender a cultura dos países onde o inglês é falado.

No momento sócio-histórico-cultural atual, entretanto, o inglês passou a ser a língua utilizada pa ra a comunicação internacional e esse fato merece atenção, pois exige uma postura bastante ampla, uma vez que o inglês não é apenas a língua falada na Inglaterra, nos Estados Unidos, na África do Sul, na Austrália ou em outros países, mas também é a língua usada por cidadãos do mundo todo para comunicação nos mais diversos contextos culturais, econômicos, políticos, financeiros, administrati-vos, de mídia, de publicidade e de relações internacionais. Para uma compreensão mais ampla desse fato, é necessário entender quatro conceitos e a inter-relação entre eles: língua, linguagem, cultura e identidade.

Língua e linguagem

Os termos língua e linguagem em língua portuguesa muitas vezes são usados intercambiadamente, embora se refiram a elementos diferentes. Algumas línguas neolatinas possuem termos diferenciados para cada uma, como o espanhol (lengua/lenguaje), o italiano (lingua/linguaggio) e o francês (langue/

langage), ao passo que no inglês o vocábulo language refere-se tanto à língua como à linguagem.

Utiliza-se o termo língua para se referir ao sistema linguístico ou a uma língua em específico: a língua francesa, a língua japonesa, a língua russa, a língua portuguesa ou a língua inglesa, ou seja, o sis-tema linguístico estruturado e à disposição dos falantes daquela língua para sua comunicação diária.

O termo linguagem, por sua vez, é usado para fazer referência à capacidade humana de utilizar o sistema linguístico, indissociável do pensamento, diferentemente dos animais irracionais, que possuem uma linguagem, mas não uma linguagem verbal, articulada, usada para expressão de seu pensamento.

Um elemento determinante da linguagem é o contexto, o ambiente social em que ela é utilizada. Daí a importância de considerarmos outro conceito relacionado à língua e à linguagem: a cultura.

Cultura

O termo cultura pode ter várias acepções. Pode-se entendê-lo em seu sentido mais amplo: quan-do se diz que uma pessoa é culta, significa que ela possui cultura. Nesse sentiquan-do, cultura é sinônimo de conhecimento adquirido. No entanto, cultura também pode ser entendida como os hábitos e costumes de determinado povo, uma vez que diversos elementos influenciam o aspecto cultural que, embora diversos, conforme preceitua Robinson (1985), podem ser agrupados em três grandes áreas: produtos culturais (literatura, folclore, arte, música, artesanato etc.), ideias (crenças, valores, representações, insti-tuições etc.) e comportamentos (costumes, hábitos, alimentação, vestuário, lazer etc.).

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Língua e cultura

Todos esses elementos interferem, de forma direta ou indireta, na utilização do idioma estran-geiro que se aprende, pois é necessária a conscientização sobre a adequação do uso da linguagem ao contexto. O texto complementar trará outras informações sobre a origem da palavra cultura.

No campo dos estudos interculturais, Bennett (1993) caracteriza dois tipos de cultura: a objetiva e a subjetiva. A cultura objetiva consiste em todas as manifestações que são produzidas pela sociedade: literatura, música, ciência, arte, língua etc., ou seja, é o produto concreto criado pela sociedade, enquanto a cultura subjetiva está nas manifestações abstratas, tais como os valores, as crenças, as normas, o uso da língua, o que sugere, assim, uma competência intercultural que os indivíduos imersos em cada cul-tura possuem.

Linguagem e cultura, portanto, são indissociáveis. Uma cultura pode ser manifestada de várias formas e a linguagem é uma das mais comuns, pois é utilizada diariamente para interação social. A linguagem é, também, a maneira como se expressa a identidade social, a etnia, pois é através dos pro-cessos comunicativos que se estabelecem todas as interações verbais cotidianas. Pela cultura subjetiva manifestam-se valores e seguem-se determinadas normas estabelecidas tacitamente para o meio social em que se interage.

A cultura subjetiva está presente na utilização da língua estrangeira, pois, como aprendizes da-quela língua e de sua cultura, é necessário compreender as diferenças culturais em eventos sociais, comportamento, estilos e forma de ação.

Dessa maneira, aprender um novo idioma significa travar contato com uma variada gama de ele-mentos culturais que influenciam as escolhas linguísticas, pois essas escolhas são feitas com base no contexto sócio-histórico em que se interage.

Identidade

Quando se aprende uma língua estrangeira, certamente se cria uma nova realidade e, conse-quentemente, constrói-se uma nova identidade: a de usuário daquela língua estrangeira. Revuz (1998) afirma que aprender uma língua estrangeira é “fazer a experiência de seu próprio estranhamento no momento em que nos familiarizamos com o estranho da língua e da comunidade que a faz viver”. Dessa forma, esse estranhamento vai agregando elementos de forma a construir a identidade de aprendizes de uma língua estrangeira.

Pode-se dizer que a construção da identidade linguística do aprendiz de uma língua estrangeira ocorre nesse processo de identificação e de estranhamento com a língua estrangeira, pois haverá, jun-tamente com esse aprendizado, o desejo de vivenciar a língua que, necessariamente, é utilizada em uma outra cultura e esse mecanismo contribui para a formação da identidade linguística do aprendiz.

Todo sujeito que aprende uma língua estrangeira constrói representações e possui diferentes crenças sobre a língua estrangeira, assim como sobre sua língua materna, pois, no dizer de Grigoleto (2003, p. 232), “são a consequência de suas identidades com determinados saberes sobre as línguas”.

Pode-se depreender, portanto, que cada indivíduo constrói sua identidade na língua e por meio da língua, ou seja, não existe uma identidade fixa e fora da língua (RAJAGOPALAN, 1998, p. 41). O indi-víduo aprendendo uma língua estrangeira está, desse modo, construindo sua identidade por meio dos novos elementos linguísticos e culturais inerentes àquele idioma.

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10 | Língua e cultura

Contexto

A linguagem é manifestada por meio de textos. Isso significa que em toda interação verbal reali-zada diariamente são produzidos textos, tanto orais quanto escritos.

De acordo com a perspectiva de linguagem preceituada por Halliday (1989), o sucesso da comu-nicação na produção de textos pode ter sua explicação pela previsão inconsciente que cada usuário da linguagem faz a partir do contexto de uso.

A noção de contexto, dessa forma, é essencial para compreender a relação entre linguagem e cultura, uma vez que todas as escolhas linguísticas que cada falante ou escritor faz ao produzir um texto estão associadas aos contextos sociais em que os textos são produzidos.

O contexto seria um texto que perpassa outro texto: um con-texto. Isso equivale dizer que tudo que é dito ou escrito está associado ao contexto. Esse contexto de produção do texto nomeia-se contexto

de situação, ou seja, o ambiente em que o texto está sendo produzido e veiculado. No entanto, além

dos aspectos mais imediatos associados ao texto, estão presentes, ainda, outros elementos culturais, no âmbito mais amplo da cultura, isto é, um contexto de cultura.

As interações, dessa forma, serão determinadas tanto pelo contexto cultural mais amplo quanto pelo contexto situacional mais restrito, e as escolhas linguísticas que cada usuário fará estarão associa-das a esses contextos.

Para compreensão dos contextos em que os textos são produzidos, Halliday (1989) define três elementos do contexto que determinam as escolhas linguísticas:

Campo

:::: – O que está acontecendo? Para que a linguagem está sendo usada?

Relações

:::: – Quem são os participantes da interação? Que papéis eles exercem? Quais as rela-ções de poder entre eles?

Modo

:::: – Como esse texto é veiculado?

O estudo desses três elementos auxilia em uma compreensão mais ampla da relação entre lingua-gem e contexto e tem sido utilizado pelos estudos em linguística sistêmico-funcional, principalmente a partir do trabalho de Michael Halliday (1978, 1989) e de estudiosos como Martin (1984), Poynton (1984) e Eggins (1994), conforme veremos a seguir.

Campo

O campo pode ser entendido como o foco da atividade social em que os interactantes estão engajados. Ao considerar, por exemplo, um engenheiro explicando o mecanismo de um equipamento para um grupo de técnicos em uma fábrica ou fazendo uma palestra para seus pares em um congresso, ele utilizará um linguajar especializado típico de sua área. Se esse engenheiro for explicar a um familiar como o mesmo equipamento funciona, supostamente vai utilizar uma linguagem menos especializada e mais cotidiana. O campo do discurso, dessa forma, varia de acordo com o seguinte contínuo:

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Língua e cultura

Esse contínuo indica que a linguagem é adaptada em função da atividade social em que se está engajado: será utilizado um linguajar mais técnico ou uma linguagem mais simples e corriqueira depen-dendo da situação.

Relações

As relações entre os participantes da interação também variam de acordo com o poder entre eles, com a frequência de seus contatos e com o seu envolvimento afetivo: pessoas mais próximas mantêm contatos mais íntimos e mais informais, ao passo que pessoas em posições sociais ou hierárquicas dife-rentes usam um nível de formalidade maior.

Se as relações de poder entre as pessoas são desiguais, a linguagem provavelmente será mais formal, com elementos linguísticos que marquem esse distanciamento, ao passo que, em uma relação em que há igualdade de poder, a linguagem tenderá a ser menos formal, de acordo com o seguinte contínuo:

igual desigual

Em relação à frequência de contato entre os usuários, a linguagem também irá variar, afinal de contas com pessoas com quem mantemos relações cotidianas usamos uma linguagem mais informal e, com pessoas que não conhecemos ou com quem não temos contato frequente, tendemos a usar uma linguagem que marque esse distanciamento.

frequente ocasional

A linguagem utilizada nas interações sociais também é determinada pelo envolvimento afetivo existente entre os usuários da linguagem. Relações familiares são informais, enquanto relações profis-sionais com pessoas com quem se tem menor contato ou que são desconhecidas são mais formais, ou seja, a linguagem sofre alterações em seu uso em função do envolvimento afetivo, se este for alto ou baixo, de acordo com o seguinte contínuo:

alto baixo

Todas essas variações irão depender das relações estabelecidas entre os participantes a partir dos contextos em que interagem.

Modo

O modo do discurso auxilia a determinar, a partir do contexto e da experiência, como a interação ocorrerá. Age-se de modo diferenciado em cada situação comunicativa a partir de determinações so-ciais, culturais e linguísticas.

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12 | Língua e cultura

Em uma conversa corriqueira com um amigo, em uma conversa telefônica, ao escrever um e-mail, ao ouvir o rádio ou assistir à televisão ou ao ler um romance fica estabelecida uma distância social de maior ou menor proximidade entre os interactantes em cada situação. A partir desses exemplos, podem ser situados em um contínuo (EGGINS, 1994):

bate-papo telefone e-mail rádio TV romance

+ Informal + Contato visual + Reação – Formal – Contato visual – Retorno

Esses elementos revelam por que, em determinadas situações, são utilizadas determinadas formas de tratamento, ou usa-se um tratamento mais direto, mais distante, envia-se uma carta, vai-se pessoalmente ao local, ou seja, optam-se pelas escolhas mais adequadas para interação naquela situação a partir da experiência como atores sociais que é recorrente na cultura; isso quer dizer que a experiência social de cada indivíduo indica qual é o tipo de texto a ser utilizado em determinada interação, qual o papel a ser desempenhado e como organizar o texto.

Em suma, como falantes de um idioma, cada um tem a habilidade de predizer a linguagem que deve utilizar em determinados contextos e com determinadas pessoas, o que significa que o contexto influencia as escolhas linguísticas para a produção das interações diárias.

Crenças e estereótipos

Toda a comunicação intercultural possibilitada pelo inglês como uma língua global traz consigo alguns elementos que podem influenciar o aprendizado da língua estrangeira ou a forma como se vê a língua inglesa, principalmente pelas crenças e estereótipos.

Crenças são as imagens que se constroem sobre aquela língua específica ou sobre o que significa aprender aquele idioma. De acordo com a pesquisadora brasileira Barcelos, crença é

[...] uma forma de pensamento, como construções de realidade, maneiras de ver e perceber o mundo e seus fenôme-nos, coconstruídas em nossas experiências e resultantes de um processo interativo de interpretação e (re)significação. Como tal, crenças são sociais (mas também individuais), dinâmicas, contextuais e paradoxais. (BARCELOS, 2006, p. 18)

Todo aprendiz possui crenças sobre o que seja aprender inglês e que variam de acordo com o ambiente sócio-histórico em que os sujeitos estão inseridos e com diversos outros elementos, determi-nados pelas relações entre aquele ambiente e a língua estrangeira.

Os estereótipos, por seu turno, são as imagens e representações que se constroem em relação a determinado povo ou a determinada cultura.

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Língua e cultura

Ao pensar em determinado país, vários estereótipos emergem sobre as impressões que se tem sobre aquele povo, sua cultura, seu modo de vida, sua alimentação, vestuário e diversos outros aspec-tos dos artefaaspec-tos culturais que cada cultura produz. Quando se inicia o aprendizado de uma língua estrangeira, cada um é influenciado, mesmo que inconscientemente, pelas crenças e pelos estereótipos daquele povo ou daquela cultura. É comum dizer, por exemplo, que um idioma estrangeiro é difícil, que outro é sonoro, agressivo, romântico e assim por diante. São as crenças influenciando o aprendizado da língua ou a imagem que se tem daquela língua ou de determinado povo ou de sua cultura.

Consequentemente, é comum usar esses elementos como subterfúgios para as dificuldades ou para justificar determinados aspectos em relação ao aprendizado do idioma. Por isso é importante a consciência tanto da influência dos estereótipos quanto das crenças no aprendizado. Aprender um novo idioma exige, portanto, uma atitude de abertura perante a nova cultura da língua que se está prestes a aprender.

Conclusão

Foram abordados nesta unidade os seguintes itens para a determinação da relação entre língua inglesa e cultura inglesa:

Língua Linguagem Cultura Identidade

Crenças Estereótipos Contexto de cultura Contexto de situação Variáveis do contexto: campo, relações e modo

Posicionando os elementos do quadro acima conjuntamente, tem-se um rico caleidoscópio de elementos que se imiscuem ao tratar do ensino e da aprendizagem de uma língua estrangeira e da rela-ção dessa língua com sua cultura, pois dá a dimensão de que todo sujeito, inserido em um determinado contexto de cultura e, mais especificamente, em um dado contexto situacional e institucional, utiliza a linguagem constantemente para construir sua identidade.

Esse mesmo sujeito, ao expressar seus pensamentos, desejos, opiniões, crenças, posições, recorre a elementos da cultura em que está inserido e também em função das relações de poder, afetividade, laços familiares, hierárquicos, dentro dessa cultura.

Ao relacionar esses elementos ao aprendizado de um idioma estrangeiro, deve-se considerar que o aluno do idioma estrangeiro traz consigo suas crenças e estereótipos, que também contribuirão para a construção de sua identidade.

Ao abordar a inter-relação entre esses elementos, volta-se ao ponto apresentado no início deste capítulo: aprender uma língua estrangeira é também aprender a cultura dessa língua.

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14 | Língua e cultura

Texto complementar

Cultura e cidadania na formação do professor de línguas

(VIAN JR., 2006) As transformações na sociedade pós-moderna direcionaram a política a uma vinculação a me-canismos econômicos, o que nos levou, por conseguinte, a renomear a forma contemporânea do capitalismo como neoliberalismo.

Esse estado de coisas, permeado e perpassado ainda por questões hegemônicas e ideológicas, sugere a assunção de uma postura crítica frente ao mundo em que vivemos e com o qual interagi-mos. Torna-se necessária, da mesma forma, a adoção de uma postura crítica frente ao que nos impõe a hegemonia política, linguística, cultural e econômica. Para tanto, é preciso que reflitamos sobre nosso papel no mundo e, ao invés de formar os cidadãos que as empresas e os grupos econômicos esperam, devemos pensar em formar o cidadão que esteja apto a criticá-los. Estou argumentando, portanto, em favor de uma linguística crítica, através da qual, como bem propõe Rajagopalan (2003, p. 12), seja “possível mudar as coisas, ao invés de nos contentar em simplesmente descrevê-las e fazer teorias engenhosas a respeito delas”.

[...]

No ensino de inglês como língua estrangeira, o que temos observado é que a maior parte do que é ensinado em relação à cultura, principalmente pela grande quantidade de materiais didáticos publicados, está relacionado à cultura britânica ou à americana. Em alguns casos, não só pela menor quantidade de material publicado, mas também por questões hegemônicas, algumas referências são feitas a outras culturas de países que têm o inglês como língua oficial, como é o caso das cul-turas canadense, sul-africana, australiana, neozelandesa, entre outras. Embora, como assinalaram Tomalin e Stempleski (1993) na década de 1990, a transculturalidade fosse uma área em franco crescimento, o estudo sistemático da interação intercultural poderia ser novo para muitos professo-res. Dessa forma, uma vez que existem argumentos de que cultura e cidadania não se ensinam, mas se vivenciam, o que se pode fazer é incitar a reflexão sobre questões culturais e de cidadania, com vistas a uma formação crítica do futuro professor.

Duas são as concepções de cultura, conforme Santos (1983): uma relacionada aos aspectos da realidade social, caracterizando, dessa forma, a existência de um povo ou de uma nação. É nessa acepção que nos referimos, por exemplo, à cultura brasileira, japonesa, espanhola, alemã etc., ou seja, atribuímos a esse grupo referido um conjunto de costumes, vestuário, alimentação, arquite-tura, música, dança, arte, entre várias outras manifestações; a segunda acepção refere-se ao co-nhecimento, relacionando-se, assim, a apenas uma esfera da vida social de determinado grupo. É importante ressaltar, no entanto, que, mesmo nessa segunda acepção, a noção de um todo social maior está implícito.

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Língua e cultura

Laraia (1986), por sua vez, ao abordar o conceito do ponto de vista antropológico, após discutir o determinismo biológico e geográfico ligado ao conceito de cultura, discute seus antecedentes históricos, ensinando-nos que o termo de origem germânica kultur era usado no final do século XVIII para “simbolizar todos os aspectos espirituais de uma comunidade”, ao passo que o termo francês

civilization referia-se “às realizações materiais de um povo”. Tanto um termo quanto o outro foram

sintetizados na palavra inglesa culture, por Edward Tylor, abrangendo, assim, todo o espectro de aspectos espirituais e materiais de um povo, chegando à acepção que usamos correntemente.

Ao tratarmos do ensino de línguas, portanto, é necessário que se reflita sobre o porquê de uma preocupação com a cultura nesse contexto. É óbvio que língua e cultura são termos indissociáveis, numa relação dialética, já que um é a manifestação do outro, sendo que é através da linguagem – e de outros sistemas semióticos – que manifestamos a nossa cultura e somente num dado meio cul-tural que utilizamos a linguagem.

Nos PCNs, além de ética, saúde, meio ambiente e orientação sexual, complementa os temas transversais o item pluralidade cultural, cujo objetivo, segundo estabelecido na apresentação dos temas transversais, volume 8, página 32, está relacionado ao investimento na superação da discri-minação e reconhecimento da riqueza etnocultural do país, além do fato de considerar a escola um espaço para diálogo, onde se vivencia e expressa a cultura.

No caso de línguas estrangeiras, o tema transversal de pluralidade cultural deve receber um tratamento significativo, pois é inerente ao estudo da língua o estudo de sua cultura, seu processo de formação e demais fatores culturais e sociopolíticos relacionados à língua em questão.

É aqui, portanto, que reside a necessidade de se abordar a relevância de conscientizar o pro-fessor de línguas da importância de se discutir a pluralidade cultural na sala de aula, principalmente numa época em que a língua inglesa é utilizada hegemonicamente.

[...]

Em texto de Moita Lopes de 1996, que já havia sido publicado em 1982 na revista Educação e

Sociedade da Unicamp, encontramos o resultado de uma pesquisa em que o autor levanta a atitude

dos professores de inglês como língua estrangeira no Brasil em relação à cultura inglesa e também a ênfase que o ensino de cultura vinha recebendo nas aulas de língua naquela época. O que o autor constatou foi uma atitude de colonizado e colonizador, e, com base nos resultados, faz uma pro-posta de reformulação dos conteúdos programáticos das disciplinas na formação do professor de inglês, entre as quais sinaliza a necessidade de se ressaltar aspectos de cunho político, histórico e social. Posteriormente (LOPES, 2003), o autor retoma a questão, dessa vez, situando o professor de inglês na nova ordem mundial e estabelecendo relações com os PCNs, enfatizando, agora, a impor-tância do posicionamento do sujeito em seu meio sociopolítico.

A inserção da cultura no currículo dos cursos de formação de professores de línguas, como po-demos verificar, fornece subsídios para que o futuro professor possa ter consciência do contexto em que atua ou pretende atuar, reconhecendo o seu lugar e seu papel social e político, desempenhado através da linguagem.

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16 | Língua e cultura

Atividades

1. Estabeleça as diferenças e as relações entre língua e linguagem.

2. De que forma cultura e linguagem estão relacionadas?

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Língua e cultura

4. Como as crenças podem interferir no aprendizado de uma língua estrangeira?

5. Como são construídos os estereótipos?

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18 | Língua e cultura

Gabarito

1. A diferença entre língua e linguagem está no fato de que a língua compreende o sistema linguístico organizado utilizado para comunicação. A linguagem pode ser compreendida como uma capacidade humana. Língua e linguagem se relacionam pelo fato de a linguagem ser a língua posta em funcionamento por um usuário.

2. Cultura e linguagem relacionam-se porque a linguagem é utilizada para a manifestação da cultu-ra. Cada cultura tem a sua linguagem específica.

3. A cultura subjetiva está relacionada aos elementos produzidos pela sociedade, tais como lite-ratura, música e arte; já a cultura objetiva está relacionada aos elementos de valores abstratos, como crenças.

4. As crenças podem interferir na forma como concebemos a língua estrangeira, seu povo, sua cul-tura e a maneira como a língua deve ser aprendida, e isso, muitas vezes, pode criar obstáculos ao nosso aprendizado.

5. Os estereótipos são construídos geralmente a partir das imagens que uma cultura tem da outra, com base na observação de seus costumes, sua alimentação, suas vestimentas e todos os demais elementos que permitem fazer generalizações sobre aquele povo.

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O inglês antigo

e o inglês médio

A língua inglesa utilizada no mundo hoje, língua oficial de vários países e língua global utilizada para a comunicação internacional, passou por várias transformações históricas até atingir as caracterís-ticas que tem atualmente.

Olhar a língua pela perspectiva histórica permite compreender como essas mudanças ocorreram em uma viagem fascinante que remonta ao século V, além do fato de satisfazer a grande curiosidade que temos em relação à origem das línguas e de suas raízes.

Entre as diversas famílias em que são agrupadas as várias línguas existentes no mundo, o inglês pertence ao ramo das línguas anglo-germânicas, que compreende três ramos: as línguas nórdicas, que incluem o sueco, o dinamarquês, o islandês e o norueguês; o ramo oriental, que inclui o gótico; e o ramo ocidental, ao qual pertencem o inglês e línguas como o frísio, o flamengo, o holandês, o alemão e o iídiche, como ilustra-se a seguir:

Românicas Bálticas Gregas Anatólicas Indo-iranianas Armênias etc. Oriental Gótico Anglo-germânicas Islandês Norueguês Sueco Dinamarquês Nórdicas Flamengo Holandês Alemão Iídiche Frísio Inglês Ocidentais

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20 | O inglês antigo e o inglês médio

As transformações ocorridas no inglês, dessa forma, compreendem períodos distintos que impri-miram ao idioma características peculiares, de acordo com os contextos sócio-históricos de cada época, e que foram sofrendo alterações de acordo com os contatos entre o inglês e outras línguas usadas pelos povos que invadiram a Grã-Bretanha. Considerando essas mudanças, a história do inglês é geralmente organizada em três períodos: inglês antigo, inglês médio e inglês moderno.

O inglês antigo tem início na metade do século V, a partir das invasões anglo-saxônicas, e vai até o século XI, com a conquista normanda. A partir daí, inicia-se o inglês médio, que vai até 1500, quando tem início o período moderno, até os dias de hoje.

O termo inglês, que utilizamos para nomear a língua, tem sua origem nos textos em inglês antigo, sendo referido como Englisc e, mais tarde, em textos latinos do século VI, utilizava-se angli, para se referir aos anglos. No século VII, as palavras latinas angli e anglia eram usadas para se referir ao idioma. As re-ferências ao nome do país como Englaland, a terra dos anglos, do qual se originou England, não haviam aparecidos até o ano 1000, como informa David Crystal (2003) em sua enciclopédia da língua inglesa.

O inglês antigo

Anglo-saxão foi um termo utilizado por muito tempo para se fazer referência aos aspectos cultu-rais, linguísticos e históricos do que hoje chamamos inglês antigo (Old English).

As línguas faladas nas ilhas britânicas antes das invasões anglo-saxãs pertenciam à família das línguas celtas, disseminadas pelos povos que habitaram as ilhas por volta da metade do primeiro milê-nio antes de Cristo (CRYSTAL, 2003). Mais tarde, foram invadidos por povos vindos do norte da Europa, entre eles os saxões, os anglos e os jutos e, posteriormente, os latinos, os vikings e os normandos, que deixaram suas marcas na língua e na cultura.

A invasão latina

É grande a influência da língua latina na história do inglês, cujo início é marcado pela inserção do cristianismo entre os anglo-saxões a partir do ano 597.

É de Gregório, mais tarde papa, a iniciativa de enviar para a Bretanha, por volta do ano 50, Agosti-nho, monge beneditino, juntamente com outros monges com a intenção de converter as tribos conhe-cidas como selvagens da Bretanha. Aportam em Kent, onde já havia, segundo relatos históricos, uma pequena comunidade cristã, que os acolhem e que são recebidos pelo rei Aethelbert, conforme relato de Bedan, o Venerável, historiador e uma das fontes sobre os aspectos históricos desse período.

A partir daí, começa a conversão gradual ao cristianismo e essa relação através da religião deixará várias marcas da língua latina na língua inglesa, pois muitas palavras latinas ligadas ao cristianismo se-rão incorporadas ao inglês. Essa influência é ainda importante do ponto de vista cultural, uma vez que marca uma revolução cultural e um enriquecimento do inglês antigo com a inserção das palavras lati-nas, além do fato de ampliar os horizontes linguísticos para a expressão das ideias e conceitos abstratos trazidos pela religião introduzida por Agostinho.

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21

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O inglês antigo e o inglês médio

A conversão da Inglaterra ao cristianismo trará três formas de alterações na língua (MCCRUM; MACNEIL; CRAN, 1992):

a ampliação do vocabulário relativo a palavras religiosas;

::::

a introdução de palavras vindas de outros locais distantes, como China e Índia;

::::

o estímulo aos anglo-saxões para aplicar as palavras que já existiam em sua língua aos novos

::::

conceitos.

Dessa forma, os missionários cristãos trouxeram seu vocabulário eclesiástico, introduzindo um léxico significativo relativo à religião, mas também diversas outras palavras no vocabulário geral, como mostram os exemplos no quadro 1, com base em Crystal (2003):

Quadro 1 – Palavras latinas no inglês

Eclesiástico

Cotidiano

Latim

Inglês

Latim

Inglês

altar altar organum organ

apostolus apostle planta plant

missa mass rosa rose

A invasão viking

Após a forte influência latina na Inglaterra, ocorreram várias invasões de povos escandinavos en-tre os anos de 750 e 1050, principalmente da região em que hoje se localizam a Suécia, a Finlândia e a Dinamarca. Esses povos, conhecidos como vikings, invadiram diversas regiões da Europa, entre elas, a região em que hoje se situa a Grã-Bretanha.

Dos povos vikings, os dinamarqueses exerceram maior influência na Grã-Bretanha. Muitos são os nomes de cidades britânicas com essa origem e observam-se no inglês moderno várias palavras atribuídas à influência dos colonizadores desse país, entre as quais both, same, get, give. Mais de 600 localidades receberam nomes de origem escandinava, por palavras com sufixos que indicam cidade, vila, local, como mostra o quadro 2.

Quadro 2 – Topônimos ingleses de origem escandinava

-by = cidade

-thorp = vila

-thwaite = clareira

-toft = área

Derby Grimsby Rugby Naseby Althorp Astonthorpe Linthorpe Applethwaite Storthwaite Lowestoft Eastoft Sandtoft

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22 | O inglês antigo e o inglês médio

A invasão normanda

A terceira influência linguística marcante no inglês ocorreu em 1066, com a invasão de Hastings, ao sul da Inglaterra, pelos normandos, povo medieval estabelecido no norte da França.

Como a família real inglesa e toda a corte do rei Harold haviam sido destruídas na batalha, os normandos assumiram o controle de todo o território de modo rigoroso, construindo seus castelos uti-lizando mão de obra dos ingleses.

O conde William, vindo da Normandia, assumiu o poder e também bispos e abades normandos assumiram o controle das igrejas. William foi coroado rei na Abadia de Westminster em 1066. Conforme relatos históricos, a cerimônia de coroação foi celebrada em inglês e em latim e, embora William tives-se tentado aprender o inglês, não contives-seguiu mantê-lo em função de suas diversas tarefas (MCCRUM; MACNEIL; CRAN, 1992, p. 73).

Nesse período, outras línguas que não o inglês eram usadas na Inglaterra; as línguas utilizadas para a religião, a lei, a ciência e outras atividades eram o francês e o latim. O inglês sofria uma espécie de exclusão pelos dominadores, mas, sem dúvida, o idioma era usado em contextos familiares.

Um exemplo disso é o fato de que os reis normandos, que controlaram a Inglaterra nesse período, falavam francês, com exceção do rei Henry I, casado com uma inglesa. Entretanto, ainda nos círculos de nobreza, a língua falada era o inglês.

Essa situação perdura por um longo período e apenas a partir de 1356 o inglês volta a ser utili-zado de forma oficial em Londres. Em 1362, a sessão do parlamento foi aberta em inglês e, em 1381, Ricardo II dirige-se em discurso aos camponeses em inglês. Henrique IV assume o trono e o aceita em inglês, o que mostra a sobrevivência da língua que, embora sofrendo seguidas invasões, manteve-se em uso e se sobrepôs às invasões.

Esse contexto social efervescente enriquece o idioma com muitas palavras de origem francesa trazidas com o domínio normando. Confira alguns exemplos no quadro 3.

Quadro 3 – Palavras de origem francesa no inglês

Francês

Inglês

capun capon servian serve bacun bacon prisun prison castel castle cancelere chancellor

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23

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O inglês antigo e o inglês médio

O inglês médio

O termo “inglês médio” (Middle English) é usado por estudiosos para a descrição da língua inglesa aproximadamente entre os períodos de 1150 a 1500.

É impossível datar com precisão a passagem do inglês antigo para o inglês médio, mas o ano de 1066 é tido por alguns como o marco de uma nova era social e linguística para as transformações ocor-ridas no idioma. Além disso, alguns estudiosos consideram essa divisão artificial e simplificadora, pois é baseada somente nos registros escritos existentes sobre a linguagem dessa época, uma vez que pouco se sabe sobre o uso oral da língua.

Para ilustrar a transição do inglês antigo para o inglês médio, McCrum, MacNeil e Cran (1992, p. 79) apresentam a história da letra y. Segundo os autores, no inglês antigo o y representava o som com o qual os escribas escreviam a letra u no francês, uma vogal curta. Dessa forma, a palavra mycel do inglês antigo transformou-se em muchel no inglês médio e, mais tarde, em much no inglês moderno. Em casos em que o y correspondia a uma vogal longa, era escrito como ui: fyr no inglês antigo transformou-se em

fuir no inglês médio e em fire no inglês moderno.

Outro fato que marca essa transição está relacionado a documentos históricos sobre o século XII que sugerem que as crianças da nobreza da época falavam inglês como língua materna e aprendiam o francês na escola. Segundo Crystal (2003), o francês continuou a ser usado no parlamento, nas cortes e em eventos públicos, mas as traduções para o inglês aumentaram com bastante frequência no final do século XII.

A partir de 1204, inicia-se o conflito entre o rei John da Inglaterra e o rei Philip da França e instala-se um crescente antagonismo entre as duas nações que vai culminar com a Guerra dos Cem Anos (1337- -1453), uma série de conflitos armados de forma contínua entre a Inglaterra e a França, nos séculos XIV e XV, que ultrapassou as questões feudais e perdurou, sendo marcada pelo poderio dos ingleses e pela resis-tência dos franceses, assim como pelos países que apoiaram a Inglaterra ou a França. Essa guerra causou profundas modificações na Europa.

Dessa época, são marcantes as influências linguísticas, tanto do francês quanto do latim. A corres-pondência de itens lexicais presentes em ambos os idiomas para um mesmo item é bastante comum. O quadro 4 ilustra as palavras francesas com seus correspondentes no inglês:

Quadro 4 – Correspondência entre itens lexicais ingleses e franceses

Inglês

Francês

begin commence child infant freedom liberty help aid wedding marriage wish desire

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24 | O inglês antigo e o inglês médio

Algumas das mais representativas produções dessa época são as imagens descritas por Geoffrey Chaucer sobre a vida da Londres medieval. Sua obra mais conhecida, The Canterbury Tales (Os Contos da

Cantuária), fornece subsídios muito importantes para a compreensão da linguagem utilizada na época,

a partir dos personagens criados pelo autor.

É também a partir do século XV que começam a se configurar as origens do que hoje conhece-mos como inglês padrão (Standard English), resultante das diferentes influências sofridas pelo idioma e da época em que o centro político do país é transferido de Winchester para Londres e a cidade passa a se desenvolver como o centro social, político e comercial do país.

Conclusão

Nesta unidade, abordamos a história da língua inglesa em duas de suas fases: o inglês antigo (Old

English) e o inglês médio (Middle English).

A região habitada pelos celtas sofre invasões e os povos invasores impõem sua língua, o que resulta na convivência de idiomas distintos em diferentes épocas, marcadamente o latim, o alemão e o francês. Da convivência desses idiomas em diferentes áreas, surgem novos vocábulos e a língua é constantemente alterada, convergindo, ao final do século XV, para o início de um inglês que se tornará padrão, que também marca o fim do inglês médio e da entrada em uma nova fase do idioma: o inglês moderno.

Podemos estabelecer como principais etapas do desenvolvimento desses dois períodos os fatos do quadro 5 (STÖRIG, 1993):

Quadro 5 – Etapas do desenvolvimento do inglês antigo e médio

Século

Etapa

V e VI Conquista e colonização pelos anglos, saxões e jutos.

VII Cristianização influenciada pelo latim.

IX Invasões e colonização dos vikings.

XI Domínio normando.

XIV O inglês se torna a língua dos tribunais.

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O inglês antigo e o inglês médio

Texto complementar

O inglês, nova língua universal

(STÖRIG, 1990, p. 164-165) Antes da chegada dos anglos e dos saxões, a ilha hoje chamada de “Grã-Bretanha” foi habitada por mais de um milênio por tribos celtas, que emigraram da Europa continental no século VIII a.C. Essas tribos se espalharam por toda a ilha até a Irlanda, mas nunca formaram um Estado único. O nome atual da ilha deriva do nome do agrupamento celta dos “bretões”.

Os povos mediterrâneos da Antiguidade conheciam a ilha e faziam negócios com ela, prin-cipalmente os fenícios. No ano de 55 a.C., com a intenção de assegurar a total conquista da Gália, Júlio César atravessou o canal da Mancha; em uma segunda expedição de conquista ele chegou até o Tamisa, impondo ali o reconhecimento da soberania romana.

A partir de 43 a.C. a Britannia tornou-se, com esse nome, província romana. Os romanos esten-deram seu domínio até Firth of Forth, atingindo a ponta extrema setentrional da ilha por volta de 210 a.C. Fundaram inúmeras cidades e propriedades senhoriais. Entretanto, quando seu domínio terminou, depois de 450 anos, os romanos deixaram poucos traços na língua da população local – de modo bem diverso do que ocorreu na Gália. Assim, as tribos germânicas que aportaram na Bretanha encontraram uma população de língua celta.

Os anglos, os saxões e os jutos vieram principalmente do que é hoje o Schleswig-Holstein e da Jutlândia. Segundo a tradição, seus chefes Hengist e Horsa devem ter aportado em Ebbsfleet no ano de 449 d.C., na região chamada de ilha de Thanet, uma faixa de terra que avança no mar do Norte (hoje Ramsgate e Margate). Na verdade, essa informação advém da Historia Ecclesiastica Gentis

An-glorum, do monge Beda, o Venerável, composta em latim em 730, ou seja, quase três séculos depois

do evento. Os jutos se estabeleceram na parte meridional da Inglaterra, expandindo-se sempre para o norte. A população de língua celta foi sendo impelida gradativamente em direção à Escócia seten-trional e ocidental e à Inglaterra ocidental, em direção a Gales e à Cornualha – regiões onde até hoje se mantiveram as língua celtas (com exceção da Cornualha).

Dessa divisão que acabamos de relatar, resultaram os dialetos do antigo inglês. Em 596 o papa Gregório I enviou o monge beneditino Agostinho (não confundir com o grande padre da Igreja, que viveu de 354 a 430) como missionário para a Inglaterra. Ele aportou ali com quarenta confrades e tornou-se bispo e primaz com sede em Canterbury. Esses monges e seus sucessores transformaram a Inglaterra em um país cristão e ao mesmo tempo fizeram da região setentrional da colonização dos anglos (que ficava ao norte do rio Humber, e por esse motivo foi chamada de Northumbria) a região cultural condutora de toda a Inglaterra, um centro de onde se irradiavam os efeitos benéficos até o continente. E nessa região trabalhou Benedito Biscop, fundador de um mosteiro; discípulo dele foi o já citado Beda, o Venerável, mestre de Ecgbeorth de York, mestre de Alcuíno de Tours, mestre de Hrabanus Maurus, abade do mosteiro de fulda, Praeceptor Germaniae, o “mestre da Alemanha”, por sua vez mestre de Strabo, abade do mosteiro de Reichenau, no lago de Constança.

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26 | O inglês antigo e o inglês médio

As invasões dos vikings escandinavos, que saquearam Lindisfarne em 793, ao sul de Edim-burgo, na costa do mar do Norte, centro de formação dessa doutrina, deram um fim a essa época de florescimento. A partir do século IX o polo cultural se transferiu para o sul, para Winchester, em Wessex, que o rei Alfredo, o Grande (871-899), transformou em capital. O dialeto Wessex tornou-se, aos poucos, a língua culta do período do inglês antigo.

Desse período se conservaram testemunhos escritos não apenas em latim, mas também em inglês antigo. Quem conhece o inglês atual e dá uma olhada nesses venerandos documentos cons-tata com surpresa que a língua sofreu fortes transformações no decorrer de um milênio e o quanto o inglês da época se encontra mais próximo do alemão (mesmo do atual) que do inglês falado hoje em dia.

[...]

Os já citados vikings, que vieram primeiramente da Dinamarca e depois da Noruega – ou tam-bém da Irlanda, das Hébridas, da ilha de Man (onde eles já haviam fundado colônias) –, aqueles vikings que abalaram o mundo de então com expedições conquistadoras que os conduziram para o sul até o Mediterrâneo, para o leste até Constantinopla, para o oeste até a América, não entraram na Inglaterra apenas como guerreiros e piratas, mas aí se estabeleceram, fundaram inúmeras cidades e povoados, dos quais os topônimos terminados em – by (“povoado”) – Derby – ou – toft – Lowestoft – são testemunhos, e contribuíram com um grande número de palavras para o desenvolvimento da língua inglesa. Nos topônimos podem-se reconhecer também raízes celtas.

Atividades

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O inglês antigo e o inglês médio

2. Qual o impacto da invasão latina na Inglaterra?

3. Quais dos povos vikings exerceram maior influência no inglês?

4. Como se caracteriza a influência dos normandos?

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28 | O inglês antigo e o inglês médio

5. Quais eram as línguas faladas na Inglaterra no século XV?

Gabarito

1. O nome Inglaterra, England, em inglês, tem origem na palavra latina Englaland, ou terra dos anglos.

2. O impacto mais significativo da invasão latina na Inglaterra está na implantação do cristianismo e na grande influência no idioma com as palavras ligadas à religião.

3. A Inglaterra sofreu várias invasões pelos vikings, mas as mais significativas que causaram mudan-ças no país e na língua são as invasões pelos vikings dinamarqueses, que deixaram sua influência em muitos nomes de cidades inglesas.

4. A influência dos normandos deixou marcas significativas na língua e na aristocracia, impondo o francês como a língua da nobreza. Muitas palavras do inglês atual têm origem nessa influência normanda durante o inglês médio.

5. No século XV havia uma confluência das três línguas que mais exerceram influência sobre o in-glês: o latim, o alemão e o francês. Além das línguas celtas que já eram faladas pelos habitantes das Ilhas Britânicas. A confluência desses idiomas dá origem ao inglês moderno, que possui pala-vras de cada uma dessas línguas.

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O inglês moderno

O que se convencionou chamar de inglês moderno (Modern English) estende-se desde o século XVI até a atualidade.

Em sua enciclopédia sobre a língua inglesa, David Crystal (2003) argumenta que as transforma-ções ocorridas na língua entre a fase do inglês médio e a fase do inglês moderno, grosso modo entre 1400 e 1800, estariam incompletas se não houvesse uma fase de transição, inserida entre os dois perío-dos, a qual chamaremos de primeira fase do inglês moderno.

Essa primeira fase é marcada por uma transformação complexa da fonologia do idioma: ao passo que o inglês médio tinha por característica uma quantidade diversificada de dialetos, o inglês moderno representa um período em que a língua torna-se unificada e padronizada, sem haver, no entanto, uma pronúncia que fosse única ou uniforme para os diversos locais em que era falada e para os diferentes grupos sociais. Outro ponto significativo é o uso da acentuação com o advento da imprensa com influ-ência direta do latim e grego.

Não há um consenso entre os estudiosos do idioma em relação a uma data precisa para o início desse período, embora o período entre 1400 e 1450 seja sugerido, logo após Chaucer, autor da impor-tante obra Contos da Cantuária (The Canterbury Tales), seguindo-se as grandes transformações de pro-núncia pelas quais a língua passa.

A justificativa para essa fase inicial do inglês moderno também está no fato de, segundo Crystal, haver uma diferença significativa entre a leitura de um texto de Jane Austen (1775-1817), que não exige grandes esforços, e a leitura de Shakespeare (1564-1616), ou seja, embora ambos os autores estejam temporalmente localizados no inglês moderno, há uma diferença no uso da linguagem que deve ser considerada. Daí o fato de tratarmos do inglês moderno em duas fases distintas, uma primeira fase de padronização e assimilação, denominada por Crystal (2003) de Early Modern English, que será referida aqui como a primeira fase do inglês moderno.

Primeira fase do inglês moderno

A primeira fase do inglês moderno, embora controversa quanto à data em que foi iniciada, começa a partir das primeiras impressões em língua inglesa. O primeiro livro impresso em inglês é The Recuyel of

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30 | O inglês moderno

the Historyes of Troy, impresso por Caxton entre 1473 e 1474, um mercador que traduziu diversos textos

para a língua inglesa e também os imprimia.

Diversos são os textos que ilustram a fase transitória do inglês médio para a primeira fase do inglês moderno. Entre eles estão livros traduzidos, peças de teatro e outros manuscritos do século XV – como o romance Morte Darthur, traduzido por Sir Thomas Malory e publicado por Caxton, em 1485 – e a ativa produção de peças de mistério.

A maior influência dessa fase, no entanto, é a publicação, em 1611, da tradução da famosa versão autorizada da bíblia para o inglês, que ficou conhecida como a bíblia do rei James.

O período que vai das primeiras impressões realizadas por Caxton até por volta de 1650 ficou sendo conhecido como Renascença, época em que grandes transformações ocorreram no mundo, como as desco-bertas de Copérnico e a exploração das Américas e da África pelos europeus, como indica Crystal (2003).

O que marca a língua inglesa dessa época é que, pela falta de palavras na língua que pudessem expressar todas as transformações ocorridas naquele período, foi necessário buscar em outros idiomas palavras que pudessem traduzi-las, utilizando-as no inglês. Esse período, assim, é marcado pela presença de um léxico bastante diversificado, com palavras de várias línguas, como ilustra o quadro 1, com exem-plos retirados da Encyclopedia of the English Language, de David Crystal (2003, p. 60).

Quadro 1 – Empréstimos de outras línguas durante a Renascença

Latim e grego

Francês

Italiano

e português

Espanhol

Outras línguas

adapt anatomy carnival armada bamboo (malaio)

anonymous bizarre concerto banana bazaar (persa)

autograph chocolate giraffe mosquito coffee (turco)

habitual grotesque macaroni negro guru (hindi)

lexicon tomato soprano sombrero yacht (holandês)

vírus vase volcano tobacco yoghurt (turco)

Como se pode observar pelo quadro, o inglês incorpora palavras de diversos idiomas, mas, em ter-mos quantitativos, na língua como um todo, a maior parte dos empréstiter-mos vem do grego e do latim.

Outra influência marcante dessa época, juntamente com a bíblia do rei James, são as produções de Shakespeare. Até hoje, diversas frases presentes nas peças de Shakespeare são utilizadas em nosso dia a dia, como a famosa “To be or not to be” (Ser ou não ser), embora o grande impacto de sua obra na língua inglesa seja no léxico, por meio de expressões idiomáticas, utilizadas pelos personagens nas peças, além da utilização de palavras compostas; sem mencionar os aspectos sociais e os relacionados à pronúncia da língua da época que as obras suscitam.

Essa primeira fase do inglês moderno é bastante significativa no que diz respeito a questões rela-cionadas não só ao léxico, mas também à pontuação e à gramática da língua, quando começam a tomar as formas mais próximas do inglês que conhecemos hoje.

Em 1755, o léxico recebe um tratamento sério, com a produção do primeiro dicionário escrito por Samuel Johnson: A Dictionary of the English Language. Johnson trabalhou durante um período de sete anos para escrever a definição de aproximadamente 40 000 palavras.

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O inglês moderno

A necessidade de uma estabilidade para o idioma, para que houvesse um acordo entre as varia-das diferenças existentes no uso varia-das palavras, culmina na preocupação da produção de uma aborda-gem científica para o tratamento da língua. Assim, em 1660, um comitê é formado para dar à língua um caráter científico, proposto pela Royal Society for the Promotion of Natural Knowledge.

Essa primeira fase, portanto, tem como principal característica o interesse em estabelecer um padrão para a língua, tanto em relação ao seu vocabulário quanto à sua gramática e pronúncia.

O inglês moderno

Durante a primeira fase do inglês moderno, a língua passa por diversas transformações e, ao final do século XVIII, vai assumindo características bastante semelhantes àquelas que a língua possui hoje.

Se considerarmos um romance dessa época, como aqueles escritos por Jane Austen (1775-1817), percebemos a semelhança, embora possamos parar em vários pontos em que encontramos diferenças linguísticas significativas.

As transformações sofridas no idioma podem ser percebidas, como nos informa Crystal (2003), na preocupação de Jane Austen com a gramática ao corrigir trechos de suas obras em edições posteriores, fazendo as alterações pelas quais o idioma havia passado.

Comparemos dois exemplos, entre diversos outros apresentados por Crystal, que apresentam di-ferenças se comparados ao inglês moderno. No texto de Austen, percebemos a ausência dos auxiliares, em frases como:

What say you to the day? She doubted not...

Se esses dois exemplos fossem escritos em inglês moderno, teríamos a inclusão dos auxiliares na interrogativa e na negativa, da seguinte maneira:

What do you say to the day? She didn’t doubt...

Esses exemplos apresentam características bem distintas entre o inglês da primeira fase e o inglês moderno, no início do século XIX, se comparado ao inglês atual, no qual os auxiliares do presente (do) e do passado (did) são utilizados.

A preocupação com o estabelecimento de uma gramática normativa para o idioma é outro as-pecto marcante nessa época. Embora tenham sido publicadas outras gramáticas em séculos anteriores, como a de Ben Johnson, publicada postumamente em 1640, ou a de John Wallis, publicada em 1653, autores como Robert Lowth e Lindley Murray preocupam-se com questões controversas do idioma.

É nesse período que Robert Lowth escreve a sua A Short Introduction to English Grammar, em que aponta fatos que julga corromper a gramática. Os exemplos utilizados pelo autor são retirados de autores consagrados, como Shakespeare, Milton e Pope. O procedimento adotado por Lowth, como indica Crystal (2003), foi imitado por mais de 200 anos e consistia em estabelecer regras e ilustrá-las com exemplos. Os mesmos procedimentos são adotados por Murray, que também aponta fatos lin-guísticos que “corrompem” o idioma, como o uso de negativas duplas, fato, inclusive, até hoje abor-dado em muitas gramáticas.

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32 | O inglês moderno

A preocupação dos escritores ingleses com questões linguísticas na primeira metade do século XVIII foi foco da investigação de estudiosos nos Estados Unidos na segunda metade do século. Assim, anos após a publicação do dicionário de Johnson ou da gramática de Lowth na Inglaterra, surge nos Estados Unidos a preocupação de Noah Webster, autor das Dissertations on the English Language, em 1789, em estabelecer uma língua padrão.

Podemos afirmar, a partir desse panorama, que a mais importante característica da língua inglesa do período moderno é a preocupação com o aumento da consciência linguística sobre a natureza da língua, ao passo que, na primeira fase, a preocupação foi com a compilação de dicionários, gramáticas, manuais de pronúncia e de ortografia. Nesse período, portanto, a língua assume características muito próximas daquelas que conhecemos hoje, com mudanças que são típicas a todo e qualquer idioma à medida que a sociedade se transforma, já que a linguagem acompanha as mudanças sociais, culturais, tecnológicas e científicas.

A linguagem das ciências é um fato deveras significativo, pois o século XIX é um período de di-versas descobertas científicas, tais como a teoria da evolução de Charles Darwin. Ao final do século XIX, como consequência disso, temos a vasta inclusão da nomenclatura científica ao vocabulário do inglês.

É significativo, nessa fase, o impacto exercido pela experiência colonial inglesa nos Estados Uni-dos. Mais de 200 anos após o estabelecimento das colônias de peregrinos nos Estados Unidos, houve um grande desenvolvimento da linguagem, pois muitas são as novas experiências no novo mundo e grande o desenvolvimento científico. Para ilustrar essa realidade, McCrum, Macneil e Cran (1992, p. 123) apresentam a citação de Thomas Jefferson, sinalizando que “novas circunstâncias exigem novas pala-vras, novas frases e a transferência de velhas palavras para novos objetos”.

Esse panorama indica, assim, o percurso pelo qual passa a língua inglesa até adquirir os aspectos que hoje apresenta.

Conclusão

Foi abordado nesta unidade o período da evolução da língua inglesa conhecido como inglês moderno (Modern English).

A língua falada pelos celtas que habitavam a região que sofre invasões e os povos invasores im-põem sua língua, o que resulta na convivência de idiomas distintos em diferentes épocas, marcada-mente o latim, o alemão e o francês. Da convivência desses idiomas em diferentes áreas surgem novos vocábulos e a língua é constantemente alterada, convergindo, ao final do século XV, para o início de um inglês que se tornará padrão, o inglês moderno, e marcando também o fim do inglês médio.

Os principais fatos que marcam essa fase compreendem as transformações principalmente no léxico da língua, rico em empréstimos. É também nessa fase que ocorrem as maiores transformações na pronúncia, na pontuação e na gramática, imprimindo à língua algumas características que até hoje permanecem.

Como há diferenças significativas, costuma-se dividir o inglês moderno em duas fases. A primeira fase é rica em transformações e há uma preocupação bastante significativa com a produção de dicioná-rios e de gramáticas para o estabelecimento de um inglês considerado padrão.

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O inglês moderno

Dois fatos principais marcam a primeira fase do inglês moderno: a tradução da bíblia para o in-glês, conhecida como a bíblia do rei James, e as obras de William Shakespeare.

É na segunda fase que se estabelecem padrões para a língua em seus diversos aspectos: léxico, sin-taxe, pronúncia e ortografia e, a partir disso, inicia-se a preocupação com o papel da língua na sociedade.

Texto complementar

Peculiaridades do inglês atual: formação de palavras

(STÖRIG, 1990. p. 171-173) O rápido crescimento do léxico inglês é facilitado pelas várias maneiras de formação de neolo-gismos. De modo semelhante ao grego, ao latim e ao alemão, podem ser formados compostos de termos pertencentes a várias categorias gramaticais: gentleman, aircraft, shipbuilding bastam como exemplos. Há um grande sortimento de sufixos e afixos à disposição. Na linguagem técnica são utilizados atualmente – tal como em outros idiomas – prefixos gregos como poly-, macro-, para-, ao lado de prefixos latinos como maxi-, mini-; os sufixos tradicionais frequentemente não têm função inequívoca. Assim, a desinência -er na palavra worker designa o homem que trabalha, em diner o vagão-restaurante, em fiver o montante de uma nota de dinheiro (cinco libras esterlinas).

Características da formação de palavras em inglês são:

a) Aglutinação, como em brunch, formado de breakfast + lunch, e smog, de smoke + fog. b) Regressões, isto é, derivações impróprias, como no caso de fisher, derivado de to fish.

Have-ria, portanto, um verbo to bulldoze antes de surgir a palavra bulldozer? Não, mas to bulldoze foi formado pelo uso, como to televise, de television.

c) Justaposições de duas palavras: de cable telegram vem cablegram; de biology (ou biological)

eletronics vem bionics.

d) Abreviações: de advertisement (“anúncio”) vem ad, de examination, exam. Também em ale-mão ocorrem abreviações desse gênero, principalmente entre os estudantes – Wir haben

Mathe (= Mathematik) – “Temos aula de matemática”.

e) São frequentes palavras formadas de iniciais (acrossemia), como NASA, de National

Aeronau-tics and Space Administration.

[...]

O inglês falado sofreu transformações decisivas (mutações consonânticas) durante sua evo-lução. [...] A ortografia ora vigente remonta basicamente ao século XV e as mudanças na pronúncia que ocorreram posteriormente não foram adaptadas a ela. Este é o motivo pelo qual sound (“som”, “pronúncia”) e spelling (“escrita da palavra”, “soletração”) divergem tanto atualmente.

[...]

(36)

34 | O inglês moderno

É digno de reflexão, e até mesmo de espanto, o fato de que uma língua com uma ortografia tão complicada e arcaica tenha atingido a posição de idioma universal.

Na Inglaterra e na Escócia há uma multiplicidade de dialetos bastante diferentes entre si. Por esse motivo, a pronúncia inglesa “correta” é considerada tradicionalmente como sendo a British

Received Pronunciation (RP), ou seja, a fundamentada nos hábitos linguísticos da classe culta de

Londres e do Sudoeste da Inglaterra.

Também nos EUA existem diferenças dialetais. O inglês americano mais semelhante ao euro-peu (e portanto à RP) é o da Nova Inglaterra, com centro em Boston. No Sul, mesmo que se fale um bom inglês aprendido em escolas, ele é por vezes unintelligible.

No Canadá, o inglês é (ao lado do francês) língua oficial; na Austrália e Nova Zelândia não há concorrentes. Na Índia e no Paquistão ele é largamente usado como língua veicular. Na África do Sul é língua oficial ao lado do africâner. Uma língua falada por tantos seres humanos em tantos países (entre os quais várias ilhas do Caribe) pode conservar a própria unidade?

Até agora, as diferenças entre o inglês britânico e o americano têm sido poucas na escrita, mas, atualmente, a Received Pronunciation é considerada, menos ainda que no passado, como a pronúncia ideal pela América independente. Sob a influência dos meios de comunicação de massa e da alta mobilidade da população, seguramente surgirá uma norma americana própria. Desse modo, a futura evolução do inglês tem algo de duvidoso. Parece certo que a importância do inglês no mundo atual tende a aumentar e que o léxico dessa língua, já atualmente incomensurável, imenso, não cessará de ampliar-se. Para isso concorrerão não só a rápida evolução tecnocientífica, como também o gosto americano pelos neologismos; os lexicógrafos esforçam-se por coletar e classificar o ininterrupto surgimento de novas palavras, neologismos que, ano após ano, juntam volumes com-plementares novos aos já gigantescos dicionários ingleses.

Atividades

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O inglês moderno

2. O que caracteriza a primeira fase do inglês moderno?

3. Qual o papel de Samuel Johnson na língua inglesa?

4. Quais obras marcam a primeira fase do inglês moderno?

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5. Qual a característica mais importante do inglês moderno?

Gabarito

1. A divisão do inglês moderno em duas fases está associada ao fato de que, na primeira fase, a lín-gua ainda passa por transformações remanescentes do inglês médio e começa a assumir algumas das características presentes até hoje, embora haja diferenças significativas. É no início da fase do inglês moderno que surge a preocupação em estabelecer uma língua padrão, o que ocorre, principalmente, pela publicação de dicionários e de gramáticas, tanto na Inglaterra quanto nos Estados Unidos.

2. A primeira fase do inglês moderno é caracterizada pelas grandes transformações no idioma, prin-cipalmente no vocabulário e na pronúncia. Ao passo que no inglês médio a língua era caracteri-zada por diferentes dialetos, essa primeira fase é marcada por uma preocupação em uniformizar o idioma.

3. Samuel Johnson foi o responsável pelo primeiro dicionário da língua inglesa, para o qual escre-veu em torno de 40 000 verbetes. O chamado A Dictionary of the English Language foi publicado em 1755.

4. As principais obras que marcam a primeira fase do inglês moderno são: a tradução da bíblia para o inglês, conhecida como bíblia do rei James, e as obras de William Shakespeare.

5. A fase conhecida como inglês moderno desenvolveu-se a partir dos dicionários, gramáticas e manuais de ortografia e pronúncia surgidos na primeira fase. O que marca a segunda fase, no entanto, é a preocupação com uma consciência sobre a língua e seu papel na sociedade.

Referências

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