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As características da geopolítica do inglês

No documento Língua e Cultura Inglesa (páginas 63-67)

(LE BRETON, 2005, p. 16-17) A primeira característica do inglês é a sua difusão planetária. Diferentemente do russo, por exemplo, restrito ao antigo império de Stalin, o inglês está um pouco presente em todos os lugares do mundo. Os principais núcleos estão na Europa (Reino Unido), na América do Norte (Estados Uni- dos e Canadá), na Austrália, na Nova Zelândia, na África do Sul. Esses núcleos agrupam populações para as quais o inglês é a língua materna. Para outros – ex-colônias em sua grande maioria –, o in- glês não é a língua materna; seguramente não a língua materna da grande maioria da população. Em compensação, ele é, de facto, a língua do poder – nas instituições políticas, mas também nos negócios, no comércio, na indústria e na cultura. Esse é o caso de grandes Estados como Paquis- tão, Bangladesh e, especialmente, a Índia – nos quais o inglês desempenha um papel tanto mais importante à medida que serve de elemento unificador. É nessa mesma categoria que se encaixam outros grandes países da África que, no momento de sua independência, mantiveram uma herança do período colonial, inclusive naturalmente a língua inglesa. Seu uso não cessou de se expandir notavelmente. As estruturas governamentais, judiciárias, universitárias permanecem marcadas pelo inglês, particularmente nos países que não possuem uma língua nacional: é o que se passa na África, pelas mesmas razões que na Índia. E mais: a influência da língua inglesa não para de avançar. Uma terceira categoria é constituída por países que não foram expressamente colonizados pela Inglater- ra, mas que entraram em sua órbita de influência. É o caso da China, que tende a escolher o inglês como língua internacional. Podemos citar inúmeros países que sentiram algum tipo de influência da língua inglesa, como o Egito, os Emirados do Golfo Pérsico e outros, quase sempre, na prática, protetorados da Grã-Bretanha. Por fim, uma quarta categoria é constituída por Estados completa- mente independentes, ao menos na acepção formal do termo, e que, por terem uma língua pouco difundida, escolheram o inglês para suas relações com o exterior. Um bom exemplo dessa categoria de Estados que recorrem ao inglês pode ser visto nos países escandinavos e nos Países Baixos. As línguas escandinavas e o holandês são línguas vigorosas, em nada ameaçadas de extinção, mas cuja difusão não atingiu o volume que poderia fazer delas línguas internacionais. Essa categoria está em plena expansão. Pense-se, por exemplo, no pré-guerra, período durante o qual a relação com o exterior podia ser feita em outra língua ou até mesmo em várias. Podiam-se utilizar o francês ou o alemão, tanto quanto o inglês. Se ainda restam posições importantes para o francês e para o ale- mão, devemos constatar que se trata de resquícios que dependem de gerações mais idosas. Essas posições – na Europa do leste em particular – estão ameaçadas.

E mais: há outros povos que possuem uma língua de grande difusão – podemos pensar no ára- be, mas também no português, no espanhol. Até bem pouco tempo, eles escolhiam o francês como segunda língua, ao menos para a pesquisa e para a expressão literária. Hoje, cada vez mais, eles se

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voltam para o inglês. Essa evolução leva-nos a duvidar da perenidade das posições linguísticas do francês nesses países. No dia em que for necessário, a opção pelo inglês ameaça impor-se. Essa ex- pansão, perceptível de alguns anos para cá, é tanto mais grave porque afeta, nos países em questão, categorias sociais em risco. Podemos ousar dizer que, definitivamente, não há nenhuma categoria da população de um Estado que não se sinta atraída pelo inglês. Para alguns, o fenômeno se explica pelo fato de ser uma língua materna: para outros, pela perenidade da influência colonial e mais fre- quentemente ainda pelo peso político do mundo de língua inglesa e por seu sucesso insolente em todos os âmbitos da vida científica, econômica e industrial, que a torna atraente, qualquer que seja o peso das tradições com as quais ela se enfrente.

Não há nenhuma categoria humana que não se veja afetada pela universalidade da difusão da língua inglesa, nem mesmo as organizações terroristas. Nesse caso, a instalação de redes é facilitada pela difusão do inglês. Não há como permanecer insensível ao inglês, exceto em países subdesen- volvidos. Falar de língua inglesa a homens e mulheres que não têm nenhuma relação com a econo- mia de mercado não tem, claramente, sentido algum. Por isso destacamos que a Albânia pré-1990, por exemplo, reagia com uma total alergia à difusão do inglês. Para além dessa margem limitada do extremo subdesenvolvimento ou do fechamento ideológico, devemos constatar que o universalis- mo da língua inglesa é justamente a sua primeira característica.

O sucesso do inglês pode ser parcialmente atribuído, durante os séculos em que a língua foi fixada, a seu não conformismo. Essa é a sua segunda característica. Não há dúvida de que a evolução “liberal” encontrou um terreno particularmente fértil nas instituições representativas que faziam oposição ao rei. O fim da dinastia dos Stuarts corresponde a um novo equilíbrio de forças em favor dos representantes eleitos pela nação.

Atividades

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O inglês como língua global

2. Quais fatores levaram o inglês a se tornar uma língua global?

3. O que são línguas “mistas”? Dê exemplos.

4. O que significa mudança de código?

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5. O que são empréstimos linguísticos?

Gabarito

1. O fator determinante de elevação de uma língua à condição de língua global é o poder. No caso do inglês, está associado ao poder militar, político, econômico, tecnológico e cultural da Inglaterra e dos Estados Unidos no mundo.

2. O inglês se tornou uma língua global pelo fato de ser a língua utilizada nos mais diferentes campos na divulgação da política, da economia, da imprensa, da propaganda, da radiodifu- são, do cinema, da música popular, das viagens internacionais, da segurança, da educação e das comunicações.

3. O conceito de línguas mistas está associado ao fato de o inglês ser usado como língua estrangeira em vários países e, desse contato, surgir uma nova realidade linguística, com empréstimos em ambos os sentidos: tanto do inglês para as línguas estrangeiras como das línguas estrangeiras para o inglês. Podemos citar como exemplos: japlês, mistura de inglês e japonês; espanglês, mis- tura de inglês e espanhol; franglês, mistura de francês e inglês.

4. Mudança de código é o mecanismo utilizado pelo falante de mais de uma língua que, quando não possui palavra correspondente na língua materna, utiliza a palavra da segunda língua.

5. Empréstimo linguístico é o mecanismo de uso, na língua materna, de palavras estrangeiras ou vice-versa, quando não possuímos uma palavra correspondente.

A língua inglesa

No documento Língua e Cultura Inglesa (páginas 63-67)