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Globalização e internet

No documento Língua e Cultura Inglesa (páginas 67-70)

No dizer de Castells (2000), a rede mundial de computadores, também conhecida como internet, ou simplesmente net, é utilizada como a espinha dorsal da comunicação global mediada por computa-

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dores (CMC) dos anos 1990. A história da internet vem desde 1969, quando a Defense Advanced Research

Projects Agency (Agência de Projetos de Pesquisa Avançados de Defesa) tentou implementar a primeira

rede de computadores, que mais tarde foi aberta a outros centros de pesquisa que cooperavam com o Departamento de Defesa dos Estados Unidos.

A ideia de uma rede para se trocar ideias e informações tornou-se um meio comum entre cientis- tas e pesquisadores e, em 1984, a National Science Foundation iniciou a rede NSFNET, conectando cinco centros com supercomputadores e, dessa forma, as universidades iniciaram a conexão a essa rede por meio do acesso a um dos cinco centros (SPERLING, 1997) e, conforme o número de computadores que se interconectavam à rede NSFNET aumentava, ela ficou conhecida como Inter-Net-Network, forma depois abreviada para internet.

Estudiosos como Castells (1990) e Friedman (2005a) discutem o papel da globalização e da so- ciedade em rede, mas sem uma preocupação específica com a língua inglesa, ficando, no entanto, im- plícito nas obras desses autores, ao tratarem das transformações no mundo globalizado, que a língua inglesa contribui para esse fenômeno.

Não há estatísticas precisas sobre a utilização da linguagem na internet, tampouco números exa- tos sobre a quantidade de usuários conectados à rede, principalmente pelo crescimento ininterrupto e de novas tecnologias emergentes surgidas com uma frequência acentuada. Com base nesse contexto, Castells (2000, p. 369-370) afirma:

Em meados de 1990, a internet conectava 44 mil redes de computadores e cerca de 3,2 milhões de computadores principais em todo o mundo, com mais ou menos 2,5 milhões de usuários, e estava se expandindo de forma acelerada. De acordo com uma pesquisa dos Estados Unidos conduzida em agosto de 1995 pela empresa especializada Nielsen Media Research, 24 milhões de pessoas eram usuárias da internet, e 36 milhões tinham acesso a ela. Contudo, um levantamento diferente conduzido pelo Emerging Technologies Research Group em novembro-dezembro de 1995 avaliou o total de americanos que usavam a internet regularmente em 9,5 milhões, dois terços dos quais entravam no sistema uma vez por semana. Mas as projeções indicam que o número de usuários dobraria em um ano.

Deve-se considerar que os dados apresentados por Castells são defasados, pois sua pesquisa foi divulgada no final do século XX e, atualmente, os dados disponíveis sobre esses mesmos aspectos au- mentaram significativamente, mas as informações relatadas pelo autor permitem-nos perceber a am- plitude com que a internet espalhou-se pelo mundo. E esses números crescem ano a ano. Em 2003, por exemplo, a Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (United Nations

Conference on Trade and Development – UNCTAD1) divulgou que o número de internautas nos Estados

Unidos era de 155 milhões.

A partir de uma perspectiva diferente, Friedman (2005a) apresenta as dez forças que fizeram com que o mundo ficasse plano; os elementos levantados pelo autor estão diretamente ligados ao papel da língua inglesa e de empresas de comunicação dos Estados Unidos espalhadas pelo globo. Ao ser entrevistado pela revista Veja, em 14 de dezembro de 2005, e questionado sobre o que é “mundo plano”, o autor responde:

É uma nova fase da globalização, iniciada por volta de 2000, em que não apenas as empresas mas também os indi- víduos podem atuar em âmbito mundial. Isso se tornou possível graças a algumas tecnologias revolucionárias – a internet, a telefonia celular a rede de fibra óptica mundial. Elas criaram uma plataforma que permite múltiplas formas de comunicação, colaboração e inovação. Toda a economia mundial se apoia nessa plataforma, que está achatando e transformando todos nós em vizinhos.

A internet, como se vê, é citada como uma das tecnologias revolucionárias que colaboraram para que o mundo se tornasse “plano”, no sentido de que todo o globo esteja conectado pela rede de 1 <www.unctad.org>.

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computadores, ou seja, como uma nova fase da globalização. Os fatores que, para o autor (FRIEDMAN, 2005a, p. 62-200), tornaram o mundo plano, denominados “dez forças que achataram o mundo”, compreendem:

Força n.º 1: A queda do muro de Berlim Força n.º 2: Navegador comercial/Netscape Força n.º 3: Softwares de fluxo de trabalho Força n.º 4: Código Aberto

Força n.º 5: Terceirização Força n.º 6: Offshoring

Força n.º 7: Cadeia de fornecimento Força n.º 8: Internalização

Força n.º 9: Informação Força n.º 10: Esteroides

Se observarmos o que o autor chama de “forças”, perceberemos tanto aspectos históricos, como a força 1, mas, principalmente, aspectos relacionados à tecnologia, à informática, e à comunicação, nas forças 2, 3, 4 e 9; ao comércio internacional, tratando de empresas, principalmente dos Estados Unidos, que se instalaram em diversas partes do mundo, trazendo, como consequência, as forças 5, 6 e 7. A força 8 trata do aspecto de que pequenas empresas puderam começar a pensar no mercado externo a partir do fortalecimento de sua estrutura, adquirindo uma visão global para seu negócio. A força 9 está rela- cionada à “possibilidade de construir e estruturar a sua cadeia de fornecimento pessoal, de informação, conhecimento e entretenimento” (FRIEDMAN, 2005, p. 179). Finalmente, a força 10, embora seja um item relacionado à bioquímica, é utilizada pelo autor como metáfora para o crescente desenvolvimento tecnológico, que faz com que as peças componentes de equipamentos eletrônicos como computado- res e telefones celulares possam armazenar cada vez mais dados, possibilitando, ainda, o uso de novas tecnologias, como o VoIP (Voice over Internet Protocol), que permite a transmissão de voz por protocolo de internet, entre muitas outras possibilidades.

Os estudos de Castells e de Friedman tratam da questão da globalização a partir de diferentes perspectivas. O trabalho de Castells (2000) fornece elementos para que se compreenda a dinâmica social e econômica na chamada era da informação, para a qual o autor busca a formulação de uma teoria que explique aspectos dos efeitos das tecnologias da informação no mundo contemporâneo. O trabalho desenvolvido por Friedman (2005a), a partir de uma perspectiva relacionada à economia e à política, procura fornecer elementos para que se compreenda como se deu o que o autor chama de o “achatamento” do mundo.

Dessa forma, é essencial podermos olhar esse cenário a partir de uma perspectiva linguística e, assim, levantar a seguinte questão: o que aconteceu com a linguagem nesse cenário globalizado, nesse mundo achatado, em que as tecnologias da informação são utilizadas como meios de troca e em que o inglês é usado como língua global? Mais especificamente: o que aconteceu com o inglês nesse cenário?

Estudos como os de Androutsopoulos (2000), Jaffe (2000), Crystal (2001) e Thurlow e Brown (2003), entre outros, tentam fornecer pistas para que se compreenda, pelo menos em parte, a extensão da linguagem utilizada na internet, o que se convencionou chamar netspeak, ou, em português, inter- netês2 e seu impacto na prática. Sabe-se, a partir desses estudos, por exemplo, que há perda de vogais,

substituições de letras por símbolos, ou de uma letra por outra, perda ou substituição de consoantes, entre várias outras características e recursos utilizados em textos veiculados na rede (ver o item a seguir e o texto da leitura complementar para alguns exemplos em inglês).

2 É corrente em português o uso do termo “internetês” em estudos e discussões sobre a linguagem utilizada na internet. Confira, por exemplo,

Marconato (2006).

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