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Os “novos ingleses”

No documento Língua e Cultura Inglesa (páginas 61-63)

O contato do inglês com os diferentes idiomas em todos os continentes do globo levou ao sur- gimento do que David Crystal (2004) chama de “novos ingleses”, fazendo aparecer diversas influências do inglês nas mais diversas línguas e a influência dessas línguas no inglês, como mostram os diversos exemplos apontados por McCrum, MacNeil e Cran (1992).

A partir desse contato entre línguas, é comum observarmos as mudanças de códigos linguísticos de uma língua para o inglês e vice-versa. O conceito de mudança de código (code switching) está as- sociado ao fato de que, quando os usuários de uma língua dispõem simultaneamente de outra para a comunicação, alteram o código linguístico, utilizando palavras de uma língua quando falam a outra.

São comuns, também, os empréstimos linguísticos (borrowings), pois, em muitos casos, deter- minada língua não possui uma palavra para designar um conceito ou objeto e utiliza para isso a língua estrangeira de origem, como é o caso, por exemplo, das palavras em italiano utilizadas na ópera, como

tenor, contralto, soprano, mezzo-soprano, utilizadas em várias línguas em sua forma original.

No caso do contato linguístico do inglês com outras línguas, em todos os países em que o inglês é aprendido como segunda língua, as pessoas passam a utilizar palavras inglesas em diferentes contextos e, em algumas áreas, mais técnicas, utilizam-se palavras do idioma para especificar determinados con- ceitos ou nomes próprios que não existem na língua materna.

Esse contato do inglês com as diversas línguas do mundo faz surgir o que Crystal (2004) chama de línguas “mistas”, entre elas, o autor apresenta:

Taglês tagalo (língua falada nas Filipinas) e inglês Texmex espanhol mexicano e inglês do Texas Japlês japonês e inglês

Chinglês chinês e inglês Espanglês espanhol e inglês Franglês francês e inglês

Denglish alemão (Deustch, em alemão original) e inglês

É comum, em casos de bilinguismo, o uso de palavras inglesas ao se falar português, como os exemplos abaixo em português, retirados de Kato (1994):

Vou para casa comer porque estou starving. A cafeteria é horrível e a comida disgusting.

Nesses casos, as palavras starving e disgusting estão sendo usadas como empréstimo, para servir como ‘mot juste’ (do francês: palavra precisa, exata) por serem mais econômicas, ou mais precisas.

Os exemplos em espanhol a seguir, retirados do dicionário de espanglês (CASAÑAS, 2007), mos- tram o caso do contato do espanhol com o inglês:

Maria tiene que babysit a su hermanita en la noche.

Estoy muy canzado de trabajar, hay que tomar un break ¿no? Maria recientemente tuvo un baby y ¡está bien cute! Mi boss me pagó con cash por haber trabajado overtime.

60 | O inglês como língua global

O contato do inglês com o português do Brasil é bastante significativo. Existem várias palavras utilizadas em nosso vocabulário que são inglesas, mas foram criadas pelos brasileiros. A palavra outdoor, por exemplo, não é utilizada no Brasil com o mesmo sentido em que é utilizado nos Estados Unidos ou na Inglaterra. Outdoor é um adjetivo para se referir a algo externo. O painel utilizado nas ruas para pro- paganda, em inglês, chama-se billboard.

Também é comum usarmos a palavra shopping, em frases do tipo “Vamos ao shopping” ou “Moro perto do shopping”, ou seja, a palavra foi deslocada de seu sentido original e é usada como substantivo, sendo que no inglês, originalmente, ela tem a função de adjetivo: shopping center, ou shopping mall.

Existem diversas palavras em inglês para as quais não temos uma palavra em português, como

marketing ou software. Há aquelas palavras que foram adaptadas do inglês, para as quais utilizamos o

verbo originalmente em inglês e a ele acrescentamos o sufixo do infinitivo em português, como deletar, ao qual foi acrescentado ao verbo inglês (to delete) a terminação do infinitivo (-ar) em português.

Existem, por fim, palavras que fazem parte do nosso dia a dia, embora sejam usadas comumente em determinadas áreas em substituição a palavras em português, como coffee break, em lugar de inter- valo, ou hot dog em lugar de cachorro-quente, ou aquelas em que simplesmente usamos a palavra em inglês, como happy hour, self-service, check-in, milk shake, workshop.

Em algumas áreas, como na Economia, é comum vermos em jornais brasileiros ou em revistas especializadas o uso de palavras em inglês para fazer referências a operações financeiras. E, na área tecnológica, são inúmeras as palavras em inglês utilizadas pelos usuários, como aquelas utilizadas na área da informática ou utilizadas na internet como e-mail, download, blog, webcam, site, mouse, entre várias outras.

Conclusão

Nesta unidade, foi discutida a questão do inglês como língua global e como a língua espalhou-se pelo mundo e passou a ter contato com várias outras, fazendo surgir diversas palavras do contato entre as línguas.

Em muitos casos, as palavras são utilizadas originalmente em inglês, sendo muito comum a prá- tica da mudança de código em casos em que não existe palavra correspondente na língua materna ou quando já se tornou uso corrente a palavra em inglês.

Torna-se algo corriqueiro, dessa forma, o fato de encontrarmos palavras inglesas em diversas lín- guas, assim como palavras de outras línguas no inglês, pois o contato entre as línguas promove o surgi- mento de uma nova realidade linguística.

Isso equivale dizer que, por questões de poder e aspectos relacionados à política, à economia, à imprensa, à propaganda, à radiodifusão, ao cinema, à música popular, a viagens internacionais, à segurança, à educação e a comunicações, o inglês tornou-se a língua global utilizada para a comuni- cação internacional.

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O inglês como língua global

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