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Gilda Amaral Carvalho Momo ESTRANGEIROS QUALIFICADOS: A NOVA FACE DA IMIGRAÇÃO NO BRASIL

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Academic year: 2019

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Gilda Amaral Carvalho Momo

ESTRANGEIROS QUALIFICADOS:

A NOVA FACE DA IMIGRAÇÃO NO BRASIL

MESTRADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Gilda Amaral Carvalho Momo

ESTRANGEIROS QUALIFICADOS:

A NOVA FACE DA IMIGRAÇÃO NO BRASIL

MESTRADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em Ciências Sociais sob a orientação da Profa. Dra. Lúcia Maria Machado Bógus.

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Banca Examinadora:

____________________________ ____________________________ ____________________________

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BCE = Banco Central Europeu

CNIg = Conselho Nacional de Imigração CGIg = Coordenação Geral de Imigração CSD = Credit Swap Default

Fed = Banco Central Americano

iFHC = Instituto Fernando Henrique Cardoso MTE = Ministério do Trabalho e Emprego

OCDE = Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico OIM = Organização Internacional para as Migrações

OMC = Organização Mundial de Comércio ONU = Organização das Nações Unidas PIB = Produto Interno Bruto

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AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer, em primeiro lugar, a todos os profissionais estrangeiros que vivem no Brasil, que de alguma forma, contribuem para o desenvolvimento do nosso país.

Agradeço à Profa. Dra. Lúcia Maria Machado Bógus pela sua orientação e estímulo durante todo o processo de estudo para a realização deste trabalho.

Aos funcionários das bibliotecas da Universidade de São Paulo, do Núcleo de Estudos Populacionais (NEPO) da Unicamp e em especial aos da PUC-SP onde sempre me atenderam com carinho e paciência.

Ao Núcleo de Estudos Migratórios da Universidade Federal do Rio de Janeiro (NIEM), pelas suas inúmeras informações sobre movimentos migratórios no mundo contemporâneo.

Não poderia deixar de declarar a importante contribuição que recebi em todos os congressos que tive a oportunidade de participar, em especial na Finlândia e na Inglaterra, onde foram levantadas questões referentes à imigração qualificada através de debates e discussões calorosas. Posso assegurar que os eventos internacionais deram um maior contorno ao meu trabalho e por esse motivo agradeço de coração aos meus pais pelo apoio financeiro para a realização dessas viagens.

Um especial agradecimento para a CAPES por ter me concedido uma bolsa de estudos na fase final do curso, o que fez com que eu me sentisse ainda mais motivada e orgulhosa em realizar este trabalho.

À minha irmã Renata, ao meu cunhado Paulo e aos meus sobrinhos, pelo incentivo e carinho de sempre.

Ao meu querido amigo Aleck, que sempre me ajudou muito na compreensão meticulosa da língua inglesa e pela forma carinhosa que sempre me recebe toda vez que visito seu lindo país, a Inglaterra.

Ao meu irmão de coração, John, por sua infinita torcida para que este trabalho não me proporcionasse somente realização profissional, mas também pessoal, o que certamente já aconteceu.

E finalmente, não poderia esquecer, de dar meu especial agradecimento, a todos os estrangeiros que entrevistei ao longo da minha pesquisa. Todos me receberam em suas casas e escritórios com simpatia e solicitude. Foi um prazer enorme em conhecê-los e dividir suas experiências profissionais que foram essenciais para a conclusão deste trabalho.

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RESUMO

O Brasil vem presenciando nos últimos anos um aumento frequente de profissionais estrangeiros que buscam trabalho qualificado no país. Como resultado da resiliência brasileira perante a crise financeira internacional iniciada em 2008, o país se tornou um destino cada vez mais atraente para os imigrantes, o que constitui uma oportunidade única para atrair talentos no mercado internacional que possam contribuir de uma maneira efetiva para o desenvolvimento do país.

O objetivo do trabalho é discutir e analisar a imigração qualificada para o Brasil no século XXI. De acordo com dados fornecidos pelo Ministério do Trabalho e Emprego do Brasil, mais de 73.000 imigrantes chegaram ao Brasil no ano de 2012, o que equivale a um aumento de mais de 50% em relação a 2009. Grande parte deste contingente é constituída por profissionais com ensino superior completo e com alta especialização técnica. São profissionais altamente qualificados que os fazem serem requisitados por qualquer empresa transnacional no mundo, mas principalmente no Brasil que ainda não os dispõe em número suficiente para satisfazer as necessidades de crescimento do país. Pretendemos analisar a imigração qualificada no Brasil, identificando estes imigrantes, a partir de critérios como nacionalidade, escolaridade, atividade profissional, em que setores atuam no Brasil, estado civil, gênero. Daremos início a uma pesquisa de campo através de entrevistas com os imigrantes para saber sobre suas trajetórias, os motivos que os trouxeram para o Brasil e suas experiências em trabalhar num país tão distante e multiétnico. Trata-se, portanto, de uma pesquisa empírica, de caráter exploratório e que incorpora levantamento de natureza bibliográfica e documental, a partir do qual se produziram informações quantitativas e qualitativas.

O trabalho levanta as hipóteses de que a crise econômica internacional e as redes sociais foram fatores importantes na decisão de imigrar para o Brasil. Hipóteses que se confirmarão com o resultado da pesquisa. Embora o fenômeno da imigração qualificada não seja recente, é pouco estudado e o presente trabalho inovará ao apresentar essa nova face da imigração brasileira e internacional que se inicia no século XXI, onde a exigência de alta qualificação profissional determina a mobilidade humana no cenário mundial.

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ABSTRACT

In recent years, Brazil has been experiencing frequent influx of foreign professionals seeking work in the country. As a result of Brazil's resilience to the global financial crisis started in 2008, the country has become an increasingly attractive destination for immigrants, constituting a unique opportunity to attract talent in the international market and thus promote the development of the country more effectively.

The objective of this dissertation is to study the high-skilled immigration in Brazil in the 21st century. Through survey data obtained from the Ministry of Labour of Brazil (2012) more than 73,000 immigrants arrived in Brazil in the year 2012, which represents an increase of over 50% compared to 2009. Much of this contingent is made up of professionals with higher education and with high technical expertise. They are highly qualified which made them wanted by any transnational company in a globalized world where knowledge is the key requirement to develop a country like Brazil. We intend to analyze these immigrants, their countries of origin, professional activity, in which areas they work in Brazil, gender and level of education. We will start a field research through interviews with immigrants to know about their trajectories, the reasons that brought them to Brazil and their experiences in working in a country so distant and multiethnic. It is therefore an empirical research, exploratory and incorporates bibliographies and surveys of a documentary nature, from which yielded quantitative and qualitative information.

The work raises chances that the international economic crisis and social networking were important factors in the decision to migrate to Brazil. Hypotheses that will be confirmed by the search result. Although the phenomenon of skilled immigration is not recent, it is little studied and the dissertation will enrich that study by presenting a single fact in the history of Brazilian immigration with a wealth of amazing data about this new international migratory flow which begins in the 21st century, where high professional qualification requirement determines human mobility on the world stage.

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SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS RESUMO

ABSTRACT INTRODUÇÃO

1. O Fenômeno da Imigração Qualificada no Mundo Contemporâneo ... 10

2. Procedimentos Metodológicos ... 15

PARTE I - TEORIA SOBRE AS MIGRAÇÕES E IMIGRAÇÃO QUALIFICADA 1. Modelo Microeconômico e Clássico da Migração ... 20

2. Modelo Macroeconômico e Histórico Estrutural da Migração ... 22

3. Imigração Qualificada ... 27

3.1. Globalização, circulação de cérebros e desenvolvimento econômico...29

3.2. Benefícios da imigração qualificada nos Estados Unidos...34

4. Como as redes sociais afetam o movimento migratório...39

4.1. Redes sociais na internet...43

PARTE II - PANORAMA HISTÓRICO DA IMIGRAÇÃO NO BRASIL 1. Imigração Brasileira entre 1860-1940...47

1.1. A Presença do Imigrante na Urbanização e Industrialização do Brasil...52

1.1.1. O papel do imigrante na urbanização e industrialização do estado de São Paulo...54

2. Imigração brasileira pós-45: início da imigração qualificada no Brasil ... 57

3. Uma breve contextualização sobre a Emigração no Brasil: Inversão de Tendências...63

3.1. Little Brazil...65

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PARTE III - FIM DO MILÊNIO: ESTABILIDADE ECONÔMICA DO BRASIL, CRISE FINANCEIRA INTERNACIONAL, CRISE POLÍTICA NA EUROPA

1. Nova Era na Economia Brasileira: O Plano Real.. ... 69

2. Crise Das Bolhas do Mercado Norte-Americano ... 73

2.1. As Bolhas de Greenspan...74

2.2. Crise Econômica de 2008: A Explosão da Bolha Imobiliária...76

2.3. Lições da Crise de 2008...80

3. Crise Econômica na Europa: A Bolha Imobiliária na Zona do Euro ... 81

3.1. Crise Fiscal na Europa...86

3.2. Consequências da Crise Internacional no Continente Europeu...87

PARTE IV - IMIGRAÇÃO QUALIFICADA NO BRASIL NO INÍCIO DO SÉCULO XXI 1. Perfil dos novos imigrantes brasileiros ... 94

1.1. Imigrantes com visto de trabalho temporário no Brasil...96

1.1.1. Trabalhadores estrangeiros com contrato de trabalho de até 2 anos...101

1.2. Imigrantes com Visto de Trabalho Permanente no Brasil...103

2. Trajetória dos novos imigrantes brasileiros: depoimentos de profissionais estrangeiros sobre sua vinda ao Brasil ... 108

2.1. Motivos que levaram os profissionais estrangeiros a migrar para o Brasil...110

2.1.1. Trajetória de Gonçalo F...112

2.12. Trajetória de João...113

2.13. Trajetória de Nuno...114

2.1.4. Trajetória de Frédric...115

2.2. Conhecimento sobre o Brasil...116

2.3. As vantagens e desvantagens de trabalhar e viver no Brasil...119

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 131

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INTRODUÇÃO

1. O fenômeno da imigração qualificada no mundo contemporâneo

A importância da imigração no cenário internacional atual é grande não apenas pelo expressivo volume imigratório, mas também pelo forte impacto sócio econômico e cultural que causa nas sociedades envolvidas. E, apesar de ser realizada em milênios, pelos mais diferentes grupos de indivíduos, ela apresenta nas últimas décadas a influência da aceleração do processo de globalização, que vem construindo um novo panorama nas relações internacionais, resultante, principalmente, da expansão do comércio internacional.

Segundo Petras (1981), um dos traços principais do atual sistema-mundo – o capitalismo moderno – é, de fato, a criação de um mercado de trabalho global. A “mundialização das economias” e a internacionalização crescente de trocas estiveram na origem de um sistema mundial que se tem tornado cada vez mais complexo. A implantação de empresas liberta-se das fronteiras políticas. O planeta sem fronteiras, no sentido do movimento global de capital e de mercadorias, está relacionado com importantes fluxos de trabalho que constituem as migrações internacionais. Com efeito, o cruzamento das relações de “dependência” com relações de “denominação” entre a “perifericidade” (subdesenvolvimento) com a “centralidade” (desenvolvimento) levou à criação de excedentes de mão de obra nas periferias do sistema mundial, acompanhados de uma situação de baixos salários e uma necessidade de recursos humanos versus os altos salários dos países desenvolvidos, per se apelativos e “transportadores” dos migrantes.

Como afirma Baeninger (2013):

Desse modo, considero que, para a análise das migrações internacionais, a própria construção do fenômeno social em sua articulação escalar transnacional redefine conceitos e perspectivas teóricas explicativas. A complexidade e a diversidade do processo de redistribuição da população em âmbito mundial têm apontado para a necessidade de se recuperar e incorporar, aos estudos sobre migração internacional, o debate atual acerca: 1) dos processos de reestruturação produtiva e sua reestruturação urbana, 2) do Estado-nação e as migrações internacionais, e, 3) da relação migração e desenvolvimento. Esses três pontos se interconectam e se sobrepõem na busca de ampliação do entendimento das migrações internacionais contemporâneas. (BAENINGER, 2013, p.10)

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Segundo Sassen (1994), estes grandes centros de poder internacional atraem mão de obra (migrações) dualizada: trabalhadores desqualificados, muitas vezes inseridos em zonas de economia informal, e profissionais de topo. A soberania e o poder regulador do Estado-nação têm sido enfraquecidos pelo transnacionalismo na forma de movimentos de pessoas, bens e capital (SASSEN, 1996).

É nesse sentido, que Baeninger (2013), descreve os novos espaços globais como sendo o resultado de um conjunto de transformações econômicas, políticas e sociais inerentes ao processo de globalização. Modificação nos processos urbanos até então vigentes nas grandes cidades, velocidade da inovação tecnológica e o dinamismo dos modos de produção nas pequenas e médias cidades levam a uma mudança na direção e no sentido dos fluxos migratórios nacionais e internacionais. Na medida em que o processo de globalização se intensifica, há um grande aumento na velocidade da mobilidade de capital no mundo com a consequente redefinição do papel da imigração no desenvolvimento e na constituição do mercado de trabalho no país; que possivelmente levará a uma demanda por profissionais mais qualificados que resultará em um aumento no fluxo migratório qualificado na contemporaneidade.

Devido a esses fatores, a migração internacional de trabalhadores altamente qualificados está em ascensão e emergiu como uma questão de maior relevância, não só para as instituições governamentais, mas também para as organizações empresariais e academia. De fato, a globalização e a presença de empresas transnacionais em diversos países, principalmente em países periféricos, levaram a um forte aumento na demanda por profissionais em relação ao trabalho qualificado, especialmente no setor de tecnologia de informação, biotecnologia, pesquisadores, cientistas. (OCDE, 2002)

Segundo o estudo anual da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) de 2011, observa-se um aumento da vulnerabilidade dos imigrantes, assim como a crescente hostilidade por parte da população dos países receptores, com foco em imigrantes com baixa qualificação e pertencentes a culturas ou etnias diferentes daquelas que predominam nos países de destino. O aumento da mobilidade humana não parece ser um processo livre de contradições ou conflitos, e a contínua intensificação dos fluxos migratórios internacionais faz-se pela intensificação no estabelecimento de barreiras físicas (muros e cercas) e pela criação de políticas seletivas por parte dos países que recebem grandes fluxos de imigrantes.

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chamado mundo desenvolvido, existem políticas públicas especificamente voltadas para a regulação dos fluxos migratórios e, mais propriamente, para atração de imigrantes com determinados perfis de qualificação. O estabelecimento de categorias específicas de autorizações de ingresso tem por objetivo favorecer a entrada de imigrantes com certos perfis intelectuais, técnicos e/ou profissionais, de acordo com a estratégia de desenvolvimento dos países e as carências de seus respectivos mercados de trabalho.

O sistema econômico contemporâneo é caracterizado por uma crescente interdependência entre os mercados dos diferentes países. De fato, não há, no mundo de hoje, países que tenham sido capazes de alçar níveis de desenvolvimento socioeconômico desejáveis sem, de alguma forma, entreter um sem número de trocas combinadas com outras nações.

De acordo com o relatório de 2009 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), existiam 195 milhões de migrantes no mundo no ano 2005, perfazendo cerca de 3% da população mundial. Em 2010, este montante chegou a 214 milhões, entre os quais 128 milhões teriam como países receptores os chamados países desenvolvidos. Ao mesmo tempo melhorou o nível educacional desses imigrantes, fazendo com que a maior porcentagem de imigrantes seja de imigrantes qualificados nos países desenvolvidos. Somado a isso, os imigrantes qualificados representam um peso significativo no total de profissionais qualificados nos Estados Unidos, Canadá e Europa.

Gráfico 1 – Porcentagem dos imigrantes qualificados entre os países da OCDE

Fonte:Dumont (2013) consulta em OECD International Migration Outlook (2012) 0 10 20 30 40 50 60 It ál ia Es lov ên ci a G ré ci a Áu stri a Po rtu gal Al em an h a Tu rq u ia Re p ú b lic a Tch eca Re p ú b lic a d a Es lov áq u ia Es p an h a Fran ça Fi nl ân d ia H o lan d a Bé lgi ca m èd ia d a OCDE Hu n gri a Po lôn ia Di n amarca Sué ci a Su íça Jap ão N oru ega Mé xi co Es ta d o s U n id o s N ov a Ze lân d ia Es tô n ia Au strá lia Lu xe m b u rgo Irl an d a Re in o U n id o Can ad á

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Gráfico 2 – Incremento que os novos imigrantes fornecem ao trabalho qualificado em 2012

Fonte: Dumont (2013) consulta em OECD International Migration Outlook (2012)

Em especial, é preciso compreender as vinculações e impactos mútuos, entre os ciclos de crises econômicas e os fluxos migratórios. Segundo relatório da OIM:

A crise econômica nos anos de 2008-2009, assim como os episódios anteriores de recessão, chamou a atenção para os múltiplos impactos sobre os migrantes, países de origem e países de destino, incluindo o seu retorno aos países de origem, a transferências de remessas, o desemprego entre os trabalhadores migrantes e as atitudes públicas para com os migrantes. Enquanto os trabalhadores migrantes, em certos setores mais cíclicos da economia, foram aqueles atingidos com mais força, há evidências de setores que se mantiveram relativamente incólumes, ou mesmo floresceram durante a crise. Os períodos de ‘altos e baixos’ continuarão a pontuar a atividade econômica em âmbito nacional e global, e os formuladores de políticas públicas estão se debatendo com a questão de ‘se’ e ‘como’ a questão dos fluxos migratórios pode ser gerenciada em relação a tais ciclos. Alguns dos principais desafios dizem respeito às incertezas quanto às projeções de curto e médio prazo sobre o mercado de trabalho, ao retorno dos imigrantes aos países de origem durante os tempos de dificuldade econômica, bem como sobre o tempo tomado entre a recessão ou recuperação econômica e qualquer modificação do comportamento dos fluxos migratórios. (OIM, 2012)

A crise econômica mundial deflagrada no ano de 2008 teve impacto direto sobre as taxas de desemprego dos países centrais, principalmente nos EUA, Japão e países da Europa Ocidental. Deve-se apontar que os EUA tinham taxa de desemprego de 4,4% em 2006 e, com a crise, esse número passou para cerca de 9% em 2012. Os países do Sul da Europa, os mais afetados pela crise estão enfrentando crescimento econômico negativo causando níveis elevados de desemprego como por volta de 25% na Espanha e Portugal. (CASTELLS, 2013)

-20% 0% 20% 40% 60% 80% 100%

Europa EUA Canadá

Trabalhadores jovens

Trabalhadores entre 25-45 anos

Trabalhadores com mais de 45 anos

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No Brasil, os efeitos da crise foram, comparativamente, reduzidos e passageiros, tendo a taxa de desemprego recuado de 8,4% para 4,7% em 2011 e 5,6% em 2012. A reconfiguração do contexto político-econômico global, associada à carência de mão de obra observada em diversos segmentos da indústria nacional, explica o novo fluxo de estrangeiros interessados em trabalhar no país. Segundo dados do Ministério do Trabalho no ano de 2012, o Brasil concedeu 73.022 autorizações de vistos de trabalho a estrangeiros em 2012. Desse total, 64.682 foram vistos temporários e 8.340 permanentes. A maior parte deste contingente de imigrantes é formada por profissionais com nível superior e trabalhadores com alto grau de especialização técnica.

O objetivo principal do trabalho é traçar um perfil da imigração qualificada no Brasil no início do século XXI. Pretendemos diagnosticar as causas da migração a fim de caracterizar este movimento imigratório, como ele é formado, por quais profissionais, de onde vieram, em que empresas e onde trabalham no Brasil, cargos que ocupam e nível educacional. Também trataremos de discutir as experiências e problemas enfrentados pelos trabalhadores estrangeiros num pais tão complexo e “exótico” como o Brasil. Os entraves burocráticos para a retirada do visto de trabalho foram um dos problemas de maior relevância apontados pelos estrangeiros, levantando para questão da necessidade de uma política migratória que vá de acordo com as necessidades de crescimento econômico que o nosso país possui.

O movimento imigratório que o Brasil está assistindo no momento, consiste numa corrente de estrangeiros oriundos de países desenvolvidos com excelente qualificação profissional que chegam ao país para trabalhar em empresas nacionais e multinacionais que carecem de trabalhadores especializados em setores que o país ainda não dispõe em quantidade suficiente para suprir as demandas do mercado brasileiro. Alguns também desembarcam no Brasil com o intuito de abrir um negócio inovador no país como é o caso de várias “start-ups”, micro empresas de Tecnologia da Informação dirigidas por jovens profissionais no ramo da internet que estão se instalando em São Paulo. (AGUILHAR, 2012)

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estes laços podem ter facilitado a vinda de milhares de imigrantes ao Brasil e sua adaptação em morar e trabalhar no país.

Dados preliminares do Ministério do Trabalho e Emprego (2013), revelam que nos últimos três anos houve um aumento de até 137% do número de autorizações para trabalho temporário com vínculo empregatício de até 2 anos. São vistos para profissionais que atuam nas áreas de gestão e supervisão de empresas, exercem cargos de liderança o que faz com que sejam profissionais muito requisitados pelas empresas do mundo inteiro. Iremos mostrar quais são países que mais obtém este tipo de visto e por quais motivos.

A imigração é um tema que diz respeito a própria natureza de uma sociedade. O trabalho trata da imigração qualificada como um processo para influenciar o processo produtivo. No mundo contemporâneo vivemos na Sociedade do Conhecimento, onde os países não medem esforços para promover um ambiente de negócios favorável a meritocracia, ao empreendedorismo e a inovação, visando ganhos de produtividade e competitividade por meio de uma política migratória capaz de atrair os melhores profissionais do mercado. Nós mostraremos como a imigração qualificada incrementou a qualidade da produção nos Estados Unidos e na Europa. Embora o fluxo imigratório no Brasil atualmente esteja em ascensão, dados da ONU (2013), mostram que o país contém apenas 0,3% de sua população formada por imigrantes enquanto Cingapura apresenta 42,9%, Suíça 28,9%, Austrália 27,7%, Canadá 20,7% e Estados Unidos com 14,5%. (ONU, 2013)

O trabalho inovará ao promover uma reflexão sobre a importância da imigração qualificada para o desenvolvimento do país. Infelizmente um tema pouco debatido na sociedade brasileira. Precisamos que este debate seja estendido para que as pessoas possam compreender melhor a dimensão disso. Existe uma competição internacional por talentos e é preciso que os brasileiros incorporem a imigração qualificada não somente pelo lado econômico mas também como meio de promoção da diversidade étnica e cultural na qual a meritocracia seja um princípio de uma sociedade aberta e hospedeira.

2. Procedimentos metodológicos

Com o objetivo de descrever o novo fluxo imigratório que o Brasil está passando atualmente e explicar suas causas, realizou-se uma pesquisa de caráter exploratório utilizando métodos quantitativos e qualitativos.

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Através de levantamento de dados divulgados pelo Ministério do Trabalho e Emprego, conseguimos caracterizar o fluxo imigratório brasileiro com precisão, enriquecido por detalhes que desenham a evolução do movimento imigratório no Brasil nos últimos anos e suas características. Conseguimos diagnosticar dentro deste movimento, o contingente de profissionais qualificados a partir de critérios de escolaridade, profissão, gênero, estado civil, em que setores trabalham.

O trabalho de campo foi realizado através de entrevistas com 10 profissionais estrangeiros que foram escolhidos através de dois critérios:

I. Ano de chegada no Brasil. Pelo menos que estivesse chegado ao país no máximo nos últimos 10 anos.

II. Nível educacional. O imigrante em questão teria que possuir no mínimo diploma universitário.

As perguntas foram formuladas com intuito de cumprir com o objetivo do nosso trabalho de caracterizar este novo imigrante e os motivos que o levaram a imigrar para o Brasil. As perguntas foram feitas de uma forma direta e objetiva e os entrevistados não tiveram em momento algum constrangimento em respondê-las. Resolvemos manter o sobrenome dos entrevistados em sigilo assim como o nome das empresas em que atuam.

As respostas dos entrevistados às perguntas qualitativas gravadas variavam entre aproximadamente 1 hora a até 1h30 minutos. As entrevistas foram realizadas em local escolhido pelo entrevistado e em duas delas, houve contribuição de suas esposas. Do total das entrevistas, três delas foram feitas através do skype, pois não houve disponibilidade de nos encontrarmos pessoalmente por motivos particulares dos entrevistados. Uma entrevista foi feita na casa da autora do trabalho, duas na casa do entrevistado e outras quatro na empresa onde trabalham. As perguntas foram elaboradas da seguinte forma:

1) Nome, nacionalidade, idade e estado civil do entrevistado. 2) Ano que chegou ao Brasil e em que cidade.

3) Nível de escolaridade e profissão.

4) Empresa em que trabalha e cargo que ocupa.

5) Qual o tipo de visto que possui e processo para retirada deste. 6) Porque decidiu imigrar para o Brasil e se pretende continuar no país. 7) Possui amigos no Brasil ou já tinha estado no país antes de imigrar.

8) Como está sendo a adaptação no Brasil. Não apenas no trabalho, mas no dia a dia. 9) As principais vantagens e desvantagens em viver e trabalhar no Brasil. Fazer uma

comparação com seu país de origem.

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ordem burocrática e condições sociais e econômicas do país, como o excesso de burocracia para tirar o visto de trabalho, alta taxa de criminalidade no país e o alto custo de vida nas grandes cidades como São Paulo e Rio de Janeiro. Problemas vivenciados pelos imigrantes que proporcionam a uma reflexão aos nossos governantes se o Brasil está preparado para receber tantos profissionais vindos do exterior no momento atual.

Além da pesquisa de campo, o trabalho também utilizou reportagens e dados retirados de jornais e revistas entre os anos de 2011, 2012 e 2013, como Veja, Isto É Dinheiro, Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo que relatam a experiência de vários profissionais estrangeiros que chegaram ao Brasil após 2008 em busca de melhores oportunidades de trabalho, e que aborda algumas das mesmas questões levantadas pelas entrevistas.

Decidimos dividir o trabalho em 5 partes.

A parte 1 descreve as principais teorias das migrações, sejam elas nacionais ou internacionais. Segundo as fontes pesquisadas os fatores econômicos são os grandes responsáveis pelos movimentos migratórios e por isso resolvemos estudar estes fatores sob duas abordagens fundamentais; Microeconômica, que explica a imigração sob a ótica do indivíduo e a macroeconômica que explica a imigração sob a ótica do processo histórico mundial. A partir destas duas abordagens entraremos na imigração qualificada, que é o tema central do trabalho. O fenômeno da imigração qualificada é explicado como o resultado da globalização de mercados e vem sendo um dos fatores essenciais para promover a produtividade e inovação do país que acolhe os profissionais estrangeiros. O trabalho mostra dados divulgados pela OCDE de como os países são beneficiados pela imigração qualificada. Este capítulo, por apresentar um forte conteúdo teórico, utilizou-se de uma extensa pesquisa bibliográfica sobre migrações internacionais com referências de grandes autores sobre este tema como Paul Singer, Michael Piore, Saskia Sassen, Portes, Chewisk e Massey.

A parte 2 analisa a história da imigração brasileira passando pelo período da imigração em massa que corresponde ao fim do século XIX e início do XX quando o Brasil recebeu mais de cinco milhões de imigrantes. Dando continuidade ao movimento imigratório, analisaremos o declínio do volume da entrada de imigrantes no Brasil, mas ao mesmo tempo não deixando de observar que o movimento imigratório para o Brasil continuou, mesmo em menor número mas a partir da Segunda Guerra já se observava a vinda de imigrantes qualificados no país. Isto mostra que a imigração qualificada não é recente no país, mas sim, o volume de imigrantes qualificados chegando ao Brasil atualmente é o de maior expressão da história da imigração brasileira. A mais importante referência bibliográfica que utilizamos neste capítulo foi a de Manuel Diégues com seu livro Imigração, Urbanização e Industrialização. Também a inversão do fluxo migratório brasileiro. Um país que era considerado de imigrantes passa a ser de emigrantes: Um número extraordinário de brasileiros migram para outros países em busca de uma vida melhor. Utilizamos o livro Little Brazil de Margolis onde a autora analisa a vida de milhares de brasileiros que migraram para os Estados Unidos por causa da recessão econômica em que o Brasil se encontrava neste período.

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desemprego nestes países. A importância de explicar a crise de 2008 é de mostrar que ela pode ter sido uma das causas da vinda de milhares de profissionais estrangeiros qualificados provenientes de países desenvolvidos para o Brasil. Utilizamos autores de importância relevante na literatura internacional como Paul Krugman, ganhador do premio Nobel de Economia em 2008. Em seu livro, A Crise de 2008 e a Economia da Depressão, ele explica as causas e feitos da crise financeira de 2008. Também utilizamos de anotações da palestra de Manuel Castells no iFHC em meados de 2013, onde ele discursou sobre as consequências da crise de 2008 para a Europa. Para finalizarmos o capítulo, apresentamos gráficos e tabelas que mostram os efeitos da crise de 2008 nos países desenvolvidos. São dados retirados de publicações da OMC e OCDE.

A parte 4 é a análise da imigração qualificada no Brasil atualmente, que é justamente o foco do trabalho. Após explicarmos como se dá o processo migratório internacional com ênfase na imigração qualificada, na parte 1 e mostrar a história da imigração brasileira e a crise financeira internacional nos capítulos anteriores, conseguimos desenhar um panorama sobre a atual imigração brasileira. Ficou provado que a atual imigração brasileira é qualificada, formada por profissionais com nível superior provenientes de países desenvolvidos. Mostraremos tabelas, gráficos fornecidos pelo Ministério do Trabalho e Emprego que mostram o perfil dos imigrantes qualificados no Brasil. Somado a pesquisa quantitativa, mostraremos o resultado da análise da pesquisa qualitativa realizada através de entrevistas com profissionais estrangeiros que relatam os motivos que o levaram a migrar para o Brasil e as vantagens e desvantagens em viver e trabalhar no país.

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PARTE I - TEORIA SOBRE AS MIGRAÇÕES E IMIGRAÇÃO QUALIFICADA

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1. Modelo microeconômico e clássico da migração

Sob a influência da teoria econômica clássica sendo os maiores representantes, Adam Smith e David Ricardo, o modelo atração e expulsão, relaciona-se com as teorias do mercado de trabalho, baseando-se esta na perspectiva de equilíbrio e equacionam a mobilidade geográfica dos trabalhadores, em resposta ao desequilíbrio na distribuição de terra, capital e recursos humanos. A mobilidade populacional verifica-se dos locais onde há abundância de oferta de mão de obra, baixas remunerações e escassez de capital, para locais onde a oferta de mão de obra é escassa e os salários e o capital são mais elevados. (ROCHA-TRINDADE, 1995) Segundo os neoclássicos, uma das determinantes principais das migrações tem raiz econômica, caracterizada pela disparidade nos níveis de rendimento, emprego e bem estar social entre diferentes países. (CASTLES, 2000). Esta teoria se baseia na perspectiva de equilíbrio do mercado de trabalho. Portanto, este movimento de pessoas atenua, no país de origem, o excedente de trabalhadores e contribui para que, no país de acolhimento, seja suprida a escassez de trabalhadores. Assim, não existindo nos dois países, nem excesso nem déficit de mão de obra, os salários seriam progressivamente ajustados a nível internacional até a uma situação de equilíbrio.

O modelo de custo/benefício descrito por Massey (1990) baseia-se numa equação que comporta os custos da emigração com os ganhos esperados no país de destino. Sempre que o retorno esperado seja positivo, o indivíduo irá optar pela migração, já que os benefícios esperados no local de destino serão maiores do que na região de origem.

Sob a ótica do indivíduo, o peso dado aos custos e benefícios assume um elevado grau de subjetividade na decisão do indivíduo. Nos custos considera-se o preço do transporte, o local de destino, as perdas psíquicas resultantes da perda dos familiares ou dos amigos, o aumento do custo de vida e o aumento de oportunidades envolvidas no processo de mudança etc... Por outro lado, nos benefícios enquadram-se a satisfação pessoal do trabalho, o ganho em atividades não relacionadas com o mercado, o aumento nos ganhos futuros, a melhoria na qualidade de vida etc.

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pessoas, passando, portanto, de uma decisão independente para outra, interdependente. A partir de seu modelo, o autor consegue explicar porque os solteiros são mais passíveis de migrar do que os casados. Defende também que numa situação em que ambos os membros do cônjuge trabalhem, a decisão de emigrar tende a ser mais complicada do que quando apenas um dos membros é o responsável pelo sustento da família. No primeiro caso, a mobilidade do casal tende a ser menor do que no segundo porque a relação de dependência, pelo menos monetária, não é tão forte quanto a que ocorre quando apenas um dos membros familiares trabalha.

Alguns autores argumentam que a interação entre o casal geraria um impacto positivo para ambos; a divisão de custos e tarefas e o apoio emocional, entre outros, seriam considerados ganhos, ajudando o cônjuge a adaptar-se ao local de destino.

Bohning (1991) estudou também os efeitos das migrações nas regiões de origem e de destino, argumentando que os ganhos revertem a favor da nação importadora. Os efeitos econômicos para o país emissor podem ser mais negativos do que positivos, revelando, assim, um distanciamento em relação aos pressupostos da economia clássica, introduzindo algumas ideias ligadas a perspectiva histórico-estrutural.

A teoria do capital humano1 é também enquadrada num mapa de custos e benefícios sob a ótica da abordagem microeconômica, pois a migração pode ser tratada como um investimento que aumenta a produtividade dos recursos humanos, investimento esse que possui custos, mas também envolverá retornos.

Um dos argumentos dos teóricos do capital humano é de que os imigrantes ilegais nos Estados Unidos. Eles possuem acesso aos bens e serviços assistenciais do “welfare americano”, que penaliza os orçamentos de alguns dos seus estados. No âmbito do mercado de trabalho, estes imigrantes, de baixas qualificações, são acusados de tirar os empregos aos nativos e contribuir para a diminuição salarial. Estes teóricos defendem que uma política imigratória deve dar prioridade à entrada/permanência de imigrantes com melhores qualificações a fim de se proporcionar um sistema econômico mais produtivo.

Segundo Chiswick (1978), os migrantes chegam ao país de destino sem possuírem muito das condições sociais e econômicas básicas (língua, conhecimento acerca da oportunidade de emprego, entre outras). No entanto, o efeito do “tempo decorrido” após a imigração leva a que os imigrantes, face aos seus baixos salários, adquiram incentivos relativamente maiores que os nativos para investir em capital humano, produzindo rendimentos médios superiores aos dos trabalhadores nativos.

Mas outros economistas neoclássicos não comungam da mesma opinião; tais desacordos ocorrem sempre num contexto teórico em que privilegiam as qualificações dos migrantes, considerando estas fundamentais na seleção dos trabalhadores assim como na capacidade de

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adaptação econômica dos mesmos ao país de destino. Borjas (2000) analisa a possível seletividade dos migrantes pondo ênfase no tipo de regiões que atrairiam pessoas mais qualificadas e naquelas que atrairiam migrantes com baixa escolaridade. Conclui que as áreas onde a taxa de retorno de capital humano é superior tendem a atrair pessoas mais qualificadas, enquanto que regiões onde a taxa de retorno é menor atraem pessoas menos escolarizadas. Deste modo se justifica que os movimentos populacionais se verifiquem dos países de baixo rendimento para os mais desenvolvidos e sejam tanto mais acentuados quanto maior o diferencial de rendimento entre as economias.

Chiswick (1978) refere que o investimento em capital humano confere aos migrantes uma maior capacidade de integração e de intervenção na sociedade de acolhimento.

Num contexto micro, os investimentos em educação e formação são vistos como investimentos em capital humano e visam essencialmente a ascensão social e a melhoria das condições de vida do migrante.

2. Modelo macroeconômico e histórico estrutural da migração

De acordo com a abordagem histórico-estrutural proposta pelo modelo macro, a migração é uma consequência da desigualdade econômica entre as regiões. Segundo esta perspectiva, os países mais prósperos (escassez de mão de obra e salários mais elevados) tenderiam a atrair os imigrantes das regiões onde houvesse recessão econômica e abundasse o fator mão de obra. Dentre os autores de maior destaque dentro desta abordagem macro estão Paul Singer e Michael Piore.

Segundo Singer (1973) em seu livro Economia Política da Urbanização, é de fundamental importância salientar que o fluxo migratório internacional (também o nacional) apresenta na sua base morfológica o processo de industrialização que não consiste apenas numa mudança de técnicas de produção e numa diversificação maior de produtos, mas também numa profunda divisão social do trabalho. Com o advento da industrialização com suas primeiras tecelagens iniciou-se o processo de urbanização que nada mais foi que a aglomeração espacial da atividade industrial especializada. As indústrias demandaram um crescente investimento em infraestrutura como transporte, água, luz etc... o que levou ao surgimento da cidade industrial. Na medida em que as cidades se desenvolvem é natural que ocorra um processo migratório do campo para as cidades decorrentes do fator expulsão – com a introdução da produção capitalista com o incremento de máquinas nas zonas rurais acarretando a expropriação de camponeses, a expulsão de agregados, parceiros e outros agricultores não agregados, tendo como objetivo o aumento da produtividade do trabalho e por consequência a diminuição do nível de emprego nessas áreas.

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não apenas geradas pelas forças industriais, mas também a que resulta da expansão dos serviços, tanto das empresas capitalistas como aqueles que são prestados por repartições governamentais.

De uma forma geral, interpreta-se esta demanda por força de trabalho como proporcionado “oportunidades econômicas”, que constituem um fator de atração na medida em que oferecem uma remuneração mais elevada que a que o migrante poderia perceber na área de onde provém. (SINGER, 1973, p.41).

Assim sendo para Singer (1973), a experiência histórica da industrialização capitalista até a 2º Guerra Mundial mostrou que as tendências espontâneas do sistema governadas pelos mecanismos de mercado e pelos estímulos institucionais, levaram a uma subutilização sistemática dos recursos humanos disponíveis, cuja gravidade variava de acordo com a fase do ciclo de conjuntura em que se encontrava a economia. Nos períodos de industrialização mais intensa, na Europa, que se acentuava a penetração do capitalismo nas áreas rurais, o volume de desemprego criado foi considerável, o que provocou fortes fluxos migratórios para as Américas, Austrália e África na segunda metade do século XIX e nas primeiras décadas do século XX. O Brasil foi um dos países que mais recebeu imigrantes vindos da Europa, principalmente da Itália, Alemanha, Espanha e Portugal. A maior parte dos imigrantes era constituída por trabalhadores rurais que vieram preencher a lacuna da falta de mão obra escrava nas lavouras de café no estado de São Paulo. Podemos dizer que este foi o primeiro grande fluxo imigratório na história do Brasil como veremos no capítulo seguinte.

Ao contrário do modelo microeconômico, a abordagem macro histórico-estrutural torna complexa a sua sistematização, dada a diversidade de modelos migratórios que incorpora. A abordagem histórico estruturalista estuda a migração no contexto da economia global, e das relações centro-periferia, à nível de desenvolvimento. A periferia tem sido historicamente exportadora de matérias primas, dada a insuficiência de capital para desenvolver as infraestruturas industriais, reforçando a dependência desta em relação aos países industrializados do centro. Tal fato leva a que a mão de obra dos países periféricos seja indiferenciada e sujeita a salários baixos, constituindo o que Marx denominou de “exércitos de mão de obra”. Dentro desta perspectiva, conceitos como a divisão internacional do trabalho ou a internacionalização do proletariado têm emergido para definir as desigualdades entre a exportação de trabalho nos países de salário baixo e a importação do mesmo nos países de salários elevados.

A unidade de análise neste corpo de teoria não é o migrante individual, mas o mercado global e a forma como a economia nacional/internacional e os planos de ação política, e em particular o desenvolvimento do capitalismo, têm deslocado populações.

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brasileiras. No capítulo seguinte discutiremos a maior onda imigratória ocorrida no Brasil neste período.

Outro autor de grande destaque na abordagem macro histórico estruturalista é Michael Piore que em seu livro Birds of Passage analisa o mercado de trabalho dualista.

Piore (1979), argumenta sobre a complementaridade entre o imigrante e o nativo, quanto à locação do mercado de trabalho. Estes dois grupos de trabalhadores responderiam a diferentes oportunidades de emprego de um mercado de trabalho que é segmentado a dois níveis: o mercado de trabalho primário e o mercado de trabalho secundário. O mercado primário é mais favorável, e caracteriza-se por requerer elevadas qualificações, melhores salários e possibilidades de ascensão hierárquica. O segmento secundário, posto à disposição de mão de obra importada, caracteriza-se por empregos associados à baixa remuneração, geralmente mais desqualificados, de alta rotatividade (desemprego fácil), menos propícios à mobilidade profissional e com estatuto jurídico precário. Consequentemente, este setor é rejeitado pelos trabalhadores nacionais do setor primário do mercado de trabalho. Uma vez ocupados por imigrantes, tornam-se socialmente “etiquetados”, de tal forma que os nativos (independentemente das características dos empregos e do respectivo rendimento) jamais queiram aceitar esses empregos.

Segundo a abordagem de Piore (1979), a imigração não é necessariamente um problema de renda nos países subdesenvolvidos, mas sim, da falta de mão de obra no mercado de trabalho secundário nos países desenvolvidos que impulsiona a vinda de imigrantes que chegam aos países de destino para ocupar posições de baixo nível hierárquico deixadas pelos trabalhadores nativos. A principal função do imigrante é de realizar trabalhos que o nativo não aceita. Por quê não aceita? Porque os trabalhadores nativos precisam ocupar posições de alto valor hierárquico na indústria para se sentirem motivados e evitar problemas na organização. É preciso que a população do país seja educada para ocupar posições de liderança e de grande responsabilidade para que a nação se desenvolva e a sociedade se sinta valorizada. Enquanto o imigrante por ser um trabalhador temporário e que não possui raízes no país não requer esta motivação porque ele em algum momento deixará o país e voltará para o seu lugar de origem. O trabalhador imigrante apresenta como principal função a de manter o trabalhador nativo motivado a trabalhar e produzir.

In conventional theory, the existence of such a hierarchy is critical to the motivation of the labor force, that is, that is basically the accumulation and maintenance of social status, and not income, that induces people to work. People work, in other words, either to advance up the hierarchy of jobs (and, hence, of social status) or to maintain the position they have already achieved.2 (PIORE, 1979, p.33)

Outra característica marcante do mercado de trabalho secundário preenchida basicamente pelo trabalhador imigrante é a alta taxa de desemprego desta categoria de trabalhadores laborais. Piore (1979) cita duas causas principais para o elevado nível de desemprego no mercado

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secundário de trabalho nos países desenvolvidos: Primeiro, porque os trabalhadores imigrantes são temporários, eles tendem a não se fixar em um determinado emprego porque existe um rodízio alto de trabalhadores laborais no mercado de trabalho. Eles trabalham para uma determinada indústria porque são necessitados para aquela função naquele exato momento, assim que não há mais necessidade de seu trabalho, eles são demitidos e neste espaço de tempo entre sair de seu atual emprego e conseguir um outro, que necessite de suas funções, eles se tornam desempregados. Isto quer dizer que o trabalhador temporário é somente útil ao empregador por um determinado período. Não existe um plano de carreira para este empregado. Não há alguma possibilidade de ascensão hierárquica para o trabalhador imigrante no mercado secundário. Segundo Piore (1979), um trabalhador no mercado secundário possui pouquíssimas chances, para dizer nenhuma de mudar para o mercado primário de trabalho nos países desenvolvidos a fim de não causar problemas na sociedade do país como já explicado pelo próprio autor. Estas más condições de trabalho do imigrante é a principal explicação da segunda causa do alto nível de desemprego entre os imigrantes no mercado de trabalho. Eles trabalhadores se ressentem de não possuírem os mesmos direitos trabalhistas que profissionais nativos e que ocupam melhores posições hierárquicas, por isso se envolvem em conflitos trabalhistas com sindicatos dentro das organizações em que trabalham e acabam sendo despedidos pelos empregadores.

Estes problemas enfrentados pela população imigrante nos países desenvolvidos podem ser explicados pelo fenômeno histórico da industrialização nos países em desenvolvimento. O modelo macroeconômico explica que a industrialização acarreta uma migração do trabalhador rural para a cidade. Por sua vez, a indústria não supri toda a mão de obra rural disponível. Primeiro porque muitos trabalhadores do campo não conseguem adquirir habilidades técnicas necessárias para lidar com as máquinas nas indústrias e, ao mesmo tempo, a mecanização da lavoura com a introdução de equipamentos mais sofisticados aumentam a produção utilizando um menor número de trabalhadores. Isto causa um excedente de mão de obra nos países em desenvolvimento que decidem imigrar para países desenvolvidos que já passaram por esta transição. Isto explica muito o grande movimento migratório de mexicanos para os Estados Unidos no século XX, assim como de portugueses para a Alemanha, um fenômeno ocasionado pela industrialização tardia desses países de origem, onde ainda sofrem os efeitos da transição de uma sociedade rural para uma sociedade mais industrializada e urbana. No entanto, aqueles países ainda em estágios primários de desenvolvimento, onde a industrialização ainda não se iniciou especificamente, como os países africanos, não há um contingente tão numeroso de imigrantes em países desenvolvidos. Este tipo de imigração é causada por guerras civis, conflitos religiosos e desastres naturais e não por questões de ordem econômica que acabam afetando o mercado de trabalho internacional que por sua vez é o grande responsável pelos movimentos migratórios que observamos no mundo contemporâneo com o advento do capitalismo.

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direcionado para o Brasil onde ainda havia a necessidade de trabalhadores rurais para satisfazerem a necessidade de mão de obra nas lavouras de café no estado de São Paulo. Foi o maior fenômeno imigratório brasileiro que ocasionou uma mudança estrutural econômica e social no país que será estudado no próximo capítulo.

Dando continuidade aos estudos de Piore (1979) sobre as causas das migrações internacionais e suas principais características, o autor ressalta que não apenas os países de destino se beneficiam deste tipo de imigração que se concentra basicamente no mercado secundário de trabalho mas também os países de origem desses trabalhadores, que são na maior parte países em desenvolvimento que se beneficiam através deste movimento de duas maneiras distintas: As remessas internacionais enviadas pelos imigrantes para seus países de origem proporcionam um incremento na economia dos mesmos onde o imigrante ao retornar para seu país de origem possui condições financeiras para abrir uma empresa e se transformar em empreendedor. Os imigrantes são os grandes responsáveis pela abertura de pequenas e médias empresas em países em desenvolvimento nos setores de agricultura e de serviços, como por exemplo, oficinas mecânicas, armazéns que fornecem ferramentas agrícolas e as “outlets” de cosméticos na região do Caribe, por exemplo, que foram construídas pelas mãos de imigrantes ao retornarem para seus países. Parece segundo o autor que os imigrantes almejam realizar seus sonhos em se tornarem microempreendedores em seus países de origem. Embora a maior parte dos imigrantes exerçam profissões que não exijam habilidades técnicas mais aprimoradas, alguns poucos conseguem se tornar grandes empresários como foi o caso do imigrante mexicano Juan que após retornar dos Estados Unidos, conseguiu se tornar um empresário bem sucedido no México ao utilizar suas economias na construção de uma fábrica de tecidos similar daquela em que trabalha no país americano. Seu conhecimento adquirido na fábrica americana foi essencial para seu sucesso como grande empresário na pequena cidade de Jalisco no México.

A segunda maneira é que a imigração funciona como uma “válvula de escape” para o trabalhador imigrante. Ele imigra, esperando encontrar as oportunidades de trabalho em que não são oferecidas em seu país natal. Neste caso, o país desenvolvido é visto como o lugar para suprir as expectativas e anseios do imigrante. Ao mesmo tempo, o trabalhador imigrante ao se deparar com padrões de vida internacionais de melhor qualidade, pode levá-lo a pressionar o governo de seu país a implantar políticas públicas mais favoráveis a classe trabalhadora ao retornar ao seu país de origem. O que quase sempre acaba acarretando em reivindicações mais politizadas e organizadas por parte da população dos países em desenvolvimento.

It could be that the migration is indeed acting as a safety valve to meet aspirations that would otherwise be pressed more vigorously through the political process at home. But it is also possible that the migration, by exposing the population to foreign standards of living and patterns of work, is actually generating the aspirations that public policy makers feel pressed to meet.3 (PIORE, 1979, p.128)

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No entanto, algumas críticas são levantadas por este modelo de imigração que acabam se tornando nocivo à sociedade. Segundo Portes (1999), os modos de incorporação da população imigrante no mercado de trabalho são, contudo diversificados. A migração internacional, em particular a dirigida dos países menos para mais desenvolvidos, tem o seu enfoque na proliferação de economias informais e clandestinas, (uns como forma de sobrevivência, outros como veículo de rápida ascensão econômica), na medida em que os imigrantes estão representados nessas atividades não regulamentadas, levando a uma transformação no modo de controle do trabalho e do emprego (SASSEN, 1998).

Por outro lado, nem todos os imigrantes se orientam para o segmento secundário do mercado de trabalho. Desde a promulgação da Lei de Imigração de 1965, nos Estados Unidos, milhares de profissionais de elevadas qualificações, técnicos e operários qualificados entraram neste país, aproveitando as categorias integradas na lei, incorporando-se no segmento primário do mercado de trabalho. Este tipo de afluxo, chamado de “brain drain” nos países de origem, engloba, hoje em dia, consideráveis contingentes imigratórios provenientes de países como a Índia, a Coreia do Sul, as Filipinas e Taiwan, representando cada um deles uma importante contribuição para a imigração nos Estados Unidos da América (PORTES, 1999).

3. Imigração Qualificada

A argumentação teórica referente à imigração qualificada é geralmente apresentada em termos de capital humano dos indivíduos. As pessoas são motivadas a migrar para regiões onde o mercado de trabalho se encaixa a sua educação e experiência de trabalho, de onde, é esperado receber o devido retorno (“pay-off”) dos investimentos feitos na formação educacional e profissional, em outras palavras, na construção de seu capital humano. (KÕU et Al, 1999). Outros estudos também apontam outras causas da imigração qualificada além do econômico como crescimento pessoal, criação de seu próprio networking profissional, ganho de experiência internacional e melhores oportunidades e condições de trabalho do que em seu país de origem. Este último fator sendo mais importante do que ganhos salariais.

De acordo com a Secretaria de Imigração e Naturalização da Holanda, os imigrantes qualificados são profissionais que combinam alto nível educacional ou/com experiência profissional em categorias que exigem grande expertise em setores de importância econômica e social do país. Por essas qualificações, consideradas diferenciadas e escassas no cenário internacional, fazem com que esses imigrantes sejam muito bem remunerados e requisitados em qualquer região de destino. (KÕU et Al, 1999).

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O fenômeno da imigração qualificada aponta que estes imigrantes possuem um alto valor de capital humano para os países receptores, e por consequência, eles não são somente muito bem remunerados, mas também possuem inúmeros benefícios que provocam uma rápida ascensão social no lugar em que estão vivendo ou para aquele que estão se dirigindo. Dizemos isso porque, geralmente estes profissionais possuem trabalhos temporários e não permanentes, pois eles são transferidos para regiões onde há a necessidade de trabalho especializado. Por isso, dizemos que o fluxo imigratório qualificado é circular e não unilateral. (KÕU et Al.,2009)

Segundo reportagem publicada pela revista Veja (2012), os imigrantes qualificados que se dirigem para o Brasil, atualmente, estão em busca não somente de melhores salários, mas de fazer um “upgrade” no currículo profissional, que faz com que a experiência em trabalhar em um país com um mercado tão complexo e diverso como o brasileiro seja essencial para atingir este objetivo. "Esses expatriados veem a oportunidade de liderar uma operação estrangeira como um trampolim na carreira", diz a Veja, o advogado responsável em contratar profissionais estrangeiros para as empresas, Renê Ramos. Ele prossegue...”Uma experiência bem-sucedida no Brasil pode ser o caminho mais rápido para uma posição de destaque na firma caso o profissional decida um dia voltar para a matriz".

Esta circulação de cérebros no mundo traz benefícios tanto para os países de origem dos imigrantes qualificados quanto para os receptores destes profissionais.

Os países que recebem os imigrantes qualificados se beneficiam pela concentração de alto valor de capital humano que gera um aumento de produtividade e de inovação em suas economias. Por outro lado os países que “exportam” estes profissionais se beneficiam pela entrada de remessas que proporcionam uma alta taxa de investimento nestes países. De acordo com o Banco Mundial (2006), o volume de dinheiro que entra nestes países é duas vezes maior que a quantidade de dinheiro recebido por programas de ajuda social. (KÕU et Al.,2009)

Concordamos que a imigração qualificada não é um fato recente, mas o que nos chama atenção é o volume do movimento de profissionais qualificados no mundo no século XXI.

A migração para outros países de pessoas com educação de alto nível, originárias de nações de média alta de renda aumentou 44% entre 2000 e 2006, segundo um estudo publicado recentemente pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Nos países de baixa renda, os movimentos entre fronteiras também aumentaram significativamente, em 28%. (GLOBO, 2011).

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É importante salientar que os estudantes também geram um incremento no fluxo imigratório qualificado. De acordo com o jornal Epochtimes (2011), atualmente nos Estados Unidos existem mais de 160 mil estudantes chineses nas universidades americanas em cursos de graduação e pós-graduação. São chineses provenientes de famílias ricas da China que imigram para os Estados Unidos a fim de aperfeiçoar seus conhecimentos profissionais. Somando despesas acadêmicas e custos de vida, eles gastam 4 bilhões de dólares anuais no país o que representa um forte impacto econômico no país americano que atravessa por uma crise financeira forte.

Em entrevista a revista Veja (2012), o professor da Fundação Getúlio Vargas, Oliver Stuenkel, relatou que entre 2006 a 2012 o número de estudantes estrangeiros matriculados na Universidade de São Paulo mais que dobrou no período, passando de 399 alunos para 977. Enquanto nos cursos de pós-graduação na universidade houve um aumento de 785 para 1150 no mesmo período. “Há um número crescente de pessoas que chegam aqui e tentam se integrar ao mercado através de um MBA ou pós-graduação. Elas usam a especialização para entrar em contato com empresas", completa o professor.

Este é o caso da engenheira italiana Silvia Bordoni. Em entrevista a revista Isto É Dinheiro (2012), ela disse que pediu demissão da companhia aérea Alitalia onde trabalhava em 2006 para vir para São Paulo e fazer um MBA na FIA Business School, onde aulas são ministradas em inglês. Em 2010, ela arrumou emprego no departamento de compras na Eismann do Brasil, uma empresa alemã especializada em pinturas automotivas.

A Itália estava com a economia estagnada e as perspectivas que eu tinha lá eram mínimas(...) Hoje minha condição é muito mais confortável do que a de meus colegas da faculdade que atuam no mercado italiano(...) Além de ganhar mais, tenho boas perspectivas de crescimento

(Silvia à revista Isto É Dinheiro, 2012, p.71-72)

3.1. Globalização, circulação de cérebros e desenvolvimento econômico

A migração de pessoas através das fronteiras nacionais é parte integrante do processo de globalização. A migração internacional de pessoas altamente qualificadas vem se intensificando nas últimas décadas e se tornando o principal contingente migratório no século XXI. De fato, durante a recente expansão econômica um forte aumento na demanda para qualificados em relação ao trabalho laboral, especialmente no setor de tecnologia de informação; somado com uma aparente escassez desses trabalhadores em um número de países da OCDE – levaram vários governos a implementar políticas para facilitar a entrada de trabalhadores estrangeiros qualificados. (OCDE, 2002)

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ii) para aumentar o estoque de capital humano; iii) estimular a circulação dos conhecimentos incorporados em trabalhadores altamente qualificados e promover a inovação. Em relação aos dois primeiros objetivos, políticas de migração nos países de acolhimento, visam cada vez mais focar o desenvolvimento de programas de migração temporária, com base em qualificações e critérios de competência combinado com maior seletividade na criação da política migratória geral. Este é o caso nos países de imigração tradicionais tais como os Estados Unidos, Canadá e Austrália que desenvolveram políticas específicas para promover a residência permanente dos indivíduos altamente qualificados e a migração temporária de especialistas e o pessoal de negócios. A maioria dos países europeus, por sua vez, orienta-se para promover a residência temporária de trabalhadores qualificados e estudantes. Em outros países da OCDE, assim como em algumas economias dinâmicas da Ásia como Singapura, medidas foram recentemente adotadas especificamente no setor de informações e comunicações para sanear a falta de profissionais qualificados. A este respeito, uma questão fundamental a ser considerado é um equilíbrio entre os interesses dos principais parceiros em causa, ou seja, governo, empregadores, os trabalhadores nacionais e estrangeiros e países de origem destes trabalhadores. (OCDE, 2002)

Como em outras categorias de imigrantes, estudadas neste capítulo, imigrantes qualificados se movem, principalmente em resposta a oportunidades econômicas no exterior que são melhores do que os disponíveis em seus países de origem, bem como em resposta às políticas de migração nos países de destino. Outros fatores, no entanto, também desempenham um papel na decisão do profissional altamente qualificado para imigrar e na escolha do país de destino que incluem trabalho em atividades intelectuais, educacionais, de investigação ou de formação linguística. No caso de pesquisadores e acadêmicos, as condições no país de destino em matéria de apoio para produção científica e formação de pesquisadores e professores acadêmicos podem ser um importante determinante na decisão de imigrar país de destino. Por outro lado, para aqueles imigrantes qualificados que buscam abrir empresas no exterior a decisão de imigrar é feita para aquele país que possui um ambiente favorável ao empreendedorismo. (OCDE, 2002)

Quadro 1 – Número de expatriados entre as empresas de países membros da OCDE

1995 1996 1997 1998 1999

CANADÁ¹ - - 2,1 2,8 2,9

FRANÇA 0,8 0,8 1,0 1,1 1,8

JAPÃO 3,1 2,8 3,4 3,5 3,8

HOLANDA - 1,6 2,3 2,7 2,5

REINO UNIDO

14,0 13,0 18,0 22,0 15,0

E.U.A. (visto L1)

112,1 140,5 - 203,3 -

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Outro fator de mobilidade está associado com o crescimento e a disseminação das multinacionais. Por exemplo, na década de 90, o número de pedidos de transferência de funcionários entre as empresas transnacionais correspondeu a 10% do número total de migrações de trabalhadores qualificados entre os Estados Unidos e Canadá. Políticas de integração econômica em certas regiões do planeta como União Europeia, países nórdicos, Nova Zelândia e Austrália possibilitaram que trabalhadores estrangeiros tivessem acesso livre ao mercado de trabalho dentro da região onde foram proclamados os tratados internacionais, afetando diretamente o fluxo de imigrantes qualificados entre essas regiões. (OCDE, 2002)

Gráfico 3 – Participação de imigrantes qualificados no mercado de trabalho na Europa (1998)

Fonte: OECD (2001). Science, Technology and Industry Scoreboard.

Análises econômicas conduzidas pela OCDE, bem como em países membros da OCDE e países não membros, tornaram possível avaliar o impacto econômico da migração dos trabalhadores qualificados e altamente qualificados no envio e recebimento de países. Em geral, a pesquisa mostra que há vários efeitos positivos líquidos para os países de acolhimento principal, nomeadamente a estimulação da capacidade de inovação, um aumento do estoque de capital humano disponível e a disseminação internacional do conhecimento. A contribuição dos cientistas nascidos no exterior, para o incremento da produção científica nacional, pode ser analisada, pelo número de prêmios Nobel aos pesquisadores norte-americanos de origem europeia ou asiática. Por exemplo, 32% dos vencedores do Prêmio Nobel dos Estados Unidos em química entre 1985 e 1999 foram nascidos no exterior. Migrantes qualificados são também uma fonte de empreendedorismo de alta tecnologia. Estima-se que um quarto das empresas do Vale do Silício em 1998 era liderada por imigrantes da China e da Índia, coletivamente, gerando quase 17 bilhões de dólares em vendas e 52000 empregos diretos. (OCDE, 2002)

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0% 1% 2% 3% 4% 5% 6% 7% 8% 9% 10%

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Conforme pesquisa levantada pela OCDE (2002), para os países de origem ou de “envio” desses imigrantes, a perda de capital humano pode ser pelo menos parcialmente compensada pelo retorno desses profissionais e também pelo desenvolvimento de redes, facilitando a circulação de trabalhadores qualificados entre países de destino e de seu país de origem. A mobilidade de trabalhadores qualificados pode também promover o investimento na formação de sua população, assim ao emigrar, esses profissionais irão aumentar o fluxo e a quantidade de remessas em moeda estrangeira aos seus países de origem. Além disso, alguns países oferecem poucas oportunidades de trabalho para seus trabalhadores altamente qualificados, e neste caso a emigração pode não ser percebida como um fator limitante para o desenvolvimento de suas indústrias, pelo menos no curto prazo. O quadro se torna totalmente diferente quando a emigração afeta a prestação de serviços sócio econômicos básicos (educação e saúde). Muitos dos benefícios gerados para os países de origem dos imigrantes somente podem ser percebidos a longo prazo; pois necessita que esses países também tenham investido em programas de desenvolvimento de infra estrutura e tecnologia de ponta para gerar oportunidades de trabalho, pesquisa e ensino para esses imigrantes que estão de volta ao seus países possam ser aproveitados adequadamente. Exemplos de casos como China, Coreia do Sul e Irlanda mostraram que os imigrantes qualificados desses países ao retornaram para casa conseguiram dar uma grande contribuição a expansão industrial de seus países devido a boas condições de trabalho que encontraram.

Imagem

Gráfico 1  –  Porcentagem dos imigrantes qualificados entre os países da OCDE
Gráfico 2 – Incremento que os novos imigrantes fornecem ao trabalho qualificado em 2012
Gráfico 4  –  Imigração Sul-Norte e Crescimento do PIB Mundial
Gráfico  5  –   Predominância  dos  trabalhadores  estrangeiros  segundo  o  grau  de  instrução  nos  Estados Unidos
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Referências

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