• Nenhum resultado encontrado

Imigração brasileira pós-45: início da imigração qualificada no Brasil

PARTE II PANORAMA HISTÓRICO DA IMIGRAÇÃO NO BRASIL

2. Imigração brasileira pós-45: início da imigração qualificada no Brasil

De 1945 a 1958, O Brasil recebeu 622.584 imigrantes (DIÉGUES, 1964), o que prova um verdadeiro declínio no fluxo imigratório brasileiro que predominou até meados do século XXI. Os portugueses representaram o maior contingente nesse volume (41,1%), seguidos

pelos italianos (16,6%), espanhóis (14,4%), japoneses (4,4%), alemães (3,4%), norte- americanos e libaneses (2,4%), gregos (1,5%), húngaros (0,8%) e sírios (0,5%).

A heterogeneidade de etnias na imigração brasileira permaneceu assim como o predomínio dos imigrantes portugueses e italianos como os maiores imigrantes da história da imigração do Brasil.

O fato relevante no período pós-guerra é o crescimento ainda que modesto da vinda de operários qualificados e técnicos para o Brasil, em face das novas necessidades nacionais. Nesse momento o país que era predominantemente agrícola começa a se transformar em um país urbano e industrial. Ainda que a classe de empregados domésticos preponderasse entre os imigrantes (37,6%), seguida pela de agricultores (24,1%), o grupo de operários qualificados e técnicos chegava a 17,6%, o maior em toda história da imigração brasileira. (DIÉGUES, 1964)

No grupo de operários qualificados a contribuição mais volumosa foi a de nacionais de Portugal, traduziu-se por 31.010 imigrantes, ou 31,7% dos operários qualificados em todo o período...o segundo grupo nacional a aparecer é o espanhol, com 26.802 pessoas, seguindo- se o italiano com 20.686; em números relativos, traduzem-se o espanhol por 27,4% e o italiano por 21,2%. Outro grupo que apresentou quota alta - alta em relação ao total de sua imigração- foi o libanês, com 2.492 imigrantes como operários qualificados. Este número representa, dentro de todo o período, 16,6% da imigração libanesa. Não muito distante é a posição do grupo alemã; encontramos 2.162 imigrantes desse país como operários qualificados, representando 10,2% do seu volume de entradas entre 1945-1958. (DIÉGUES, 1964, p.309).

Destaca-se, no entanto a presença de operários qualificados vindos da Grécia, representando 39,2% do total de imigrantes gregos durante todo o período estudado (1945-1958). Ou seja, mais de um terço dos imigrantes gregos era de operários qualificados. Já o grupo de técnicos se traduziu a 7.245, sendo o maior grupo de italianos (20,2%). Seguidos pelos norte- americanos (11,8%) e alemães (11,2%). O grupo de comércio começa a aparecer nas estatísticas em 1953 a 1958, totalizando 27.745 pessoas. Sendo a contribuição portuguesa neste grupo de 78,6%. (DIÉGUES, 1964)

Deste modo, podemos observar como o ambiente urbano que vem tomando forma nas grandes capitais do Brasil, principalmente Rio de Janeiro e São Paulo provoca a necessidade de imigrantes para preencher a lacuna da falta de mão de obra qualificada do país. As cidades, berço do desenvolvimento industrial tornavam-se focos de atração do imigrante. Agora a agricultura não era mais a responsável, o efeito pull para o imigrante, mas sim a cidade com seu desenvolvimento urbano-industrial com novas atividades técnicas mudou o perfil do fluxo imigratório brasileiro: Um volume menor de imigrantes, mas com maior variedade de profissões devido às novas exigências que a vida urbano-industrial proporcionava. Uma tendência que já havia surgido na segunda década do século XX, mas que se fortaleceu, sobretudo a partir de 1947. O imigrante qualificado passa a preencher a falta de mão de obra qualificada no Brasil neste período.

No período de 1946 a 1951, o total de operários entrados cada ano em São Paulo, distribuía- se em quatro grupos principais. (excluídos os de atividades domésticas e outros)

Quadro 9 – Grupos de imigrantes em São Paulo por ano

Fonte: DIÉGUES (1964)

O benefício da imigração estrangeira à mão de obra paulista foi indicado em um estudo divulgado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio Econômicos, que apontou que, durante o período (1946-1951), em diversos ramos de indústria, foram aproveitados operários qualificados. Sem, dúvida São Paulo foi o estado que mais se beneficiou da entrada de mão de obra estrangeira. Dentre de várias ocupações industriais, destacaram-se: 638 mecânicos, 211 eletricistas, 105 desenhistas, 97 técnicos diversos, 61 técnicos eletricistas, 4 técnicos mecânicos, 42 técnicos construtores e vários outros profissionais. (DIÉGUES, 1964)

Durante o período de 1966 a 1970, se intensifica o número de entrada de engenheiros italianos no estado de São Paulo, chegando a 102. Desse total, a maior parte era formada por italianos com a seguinte titulação: Graduados pelas seguintes Universidades: Universidades de Milão (24), Nápoles (17), Roma (13), Turim (9), Gênova (7), Bolonha (7), Pádua (6), Pisa (5), Bari (3), Palermo(2), Florença (2) e Trieste (2) e também destaque-se cursos realizados nos institutos (351) ou escolas (34) técnicas industriais dos estados. (SALLES et Al, 2013)

Muito desses engenheiros enfrentaram problemas para exercer a profissão devido ao penoso processo burocrático de validação do diploma, do mesmo modo que atualmente os engenheiros estrangeiros enfrentam no país, como será mostrado mais adiante neste trabalho.

Há que se registrar as dificuldades de atuação profissional decorrente da necessidade de legitimação da qualificação profissional e/ou validação do diploma de nível superior, em virtude do controle que o Estado e as instituições profissionais já detinham sobre determinados campos, como por exemplo, na arquitetura. Para o imigrante significava ingressar em uma especificação técnica para, num segundo momento, requerer a equiparação profissional de nível superior, de acordo com a legislação vigente no Brasil. Salienta-se a ausência de profissionais da área de arquitetura no banco de dados, ao que se infere a criação tardia de faculdades de arquitetura autônomas no país, o que só ocorre em 1945, ou seja, após a promulgação do Decreto, bem como a necessidade de registro para a atuação profissional, pelo Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Crea), o que exigia documentação que comprovasse a formação e o pagamento de taxas.(SALLES et Al, 2013, p.148)

Anos Agricultores Operários qualificados Operários não qualificados Comércio e Indústria 1946 569 417 101 632 1947 1.280 696 156 1.069 1948 1.519 1.117 291 1.546 1949 2.490 2.217 486 1.841 1950 3.168 3.715 571 2.690 1951 6.628 7.606 755 1.687

Não era apenas São Paulo o foco da atração urbano-industrial para o imigrante. O Rio de Janeiro também proporcionava novas oportunidades para o trabalhador estrangeiro. Suas indústrias fabris, não de indústrias de maior envergadura como em São Paulo, mas têxtil, já se marcava com a presença de imigrantes. Os serviços urbanos no Rio de janeiro também atraía a vinda de imigrantes. Em 1958 os portugueses representavam, com seus 1.344 elementos, 93,9% do total de estrangeiros empregados em carris urbanos. O segundo grupo era formado por italianos com 2% seguidos pelos espanhóis com 1,9% de participação neste setor. No ramo de serviços telefônicos, os portugueses formam o maior grupo de trabalhadores com 57,6% de participação, seguidos pelos ingleses com 9,1% e espanhóis 7,6% respectivamente. (DIÉGUES, 1964)

É importante ressaltar a presença dos imigrantes como sócios e proprietários de empresas durante o período pós-guerra. Segundo o autor Diégues (1964), em 1950, o censo industrial do Brasil assinalava que 2.563 empresas estabeleceram-se no país, sendo 1.192 com proprietários e sócios estrangeiros, ou seja, 46,5% do total. Essas empresas se encontravam na área de transformação, nela se encontravam a indústria de alimentação com 289 empresas, de calçados e vestuários com 236 e mobiliário com 139. O autor prossegue dizendo que existia um número maior de proprietários e sócios estrangeiros no quadro das firmas individuais, com forte predomínio de portugueses com 1.170 pessoas, representando 68,2% do total. Os portugueses se estabeleceram na indústria alimentícia e mobiliária principalmente. Em seguida, temos o grupo de italianos, representando 5,5% do total e de espanhóis com 5,1%. O ramo principal dos italianos era a indústria do vestuário enquanto os espanhóis, a alimentícia. A Figura nº 1 na página 62 mostra como estavam distribuídas as atividades industriais do país e a participação dos estrangeiros como sócios ou proprietários das empresas por setor.

Conforme já afirmado, a retomada da estabilidade econômica na Europa e a superação da crise financeira internacional ocorrida pela quebra da Bolsa de Valores nos Estados Unidos em 1929 somadas ao advento da Segunda Guerra Mundial fizeram com que o fluxo imigratório brasileiro declinasse consideravelmente.

O Brasil passou a receber, durante os anos 1970, um expressivo número de sul-americanos, principalmente paraguaios, argentinos, bolivianos, uruguaios e chilenos. Somam-se a este contigente sul amecano imigrantes vindos da África e Ásia. Eram pessoas que deixavam seus países por perseguições políticas provocadas pela ditadura militar na América do Sul, guerra fria no leste Europeu e baixo desenvolvimento econômico nos países africanos. Estes imigrantes eram atraídos a trabalhar no Brasil devido a gigantescas obras construídas durante o regime militar brasileiro como usinas hidrelétricas, rodovias e pólos petroquímicos. Contudo, estes imigrantes, porém, não tivram o impacto demográfico que tiveram as outras imigrações mais antigas no Brasil, estudadas neste capítulo.

Durante a década de 80 o Brasil passa a enfrentar uma de suas piores crises financeiras fazendo com que o país de imigrantes passa a ser conhecido mundialmente como o país de emigrantes. Milhares de brasileiros com e sem qualificação profissional deixaram seus lares em busca de melhores oportunidades de trabalho como veremos no capítulo posterior.

Entre os anos de 1986 e 1991, a entrada de imigrantes internacionais no Brasil totalizou apenas aproximadamente 66 mil, dos quais uma parcela equivalente a 47% era representada por brasileiros vivendo no exterior que retornavam para o país. Entre 1995 e 2000, o ingresso de imigrantes internacionais totalizou 144 mil, dentre os quais 61% eram brasileiros retornados. Entre os retornados, aqueles advindos dos Estados Unidos possuíam, em média, formação educacional por um período de 11 a 16 anos de estudo (MTE, 2012).

Dentre os estrangeiros ingressados no país, 48,7% eram originários de países da América Latina, 22,5% da Europa e 7,7% dos Estados Unidos. No que se refere aos anos de estudo e à qualificação dos imigrantes estrangeiros no Brasil, consta que, entre 1986 e 1991, 57,2% deles possuía 12 anos de estudo ou mais. Entre os anos de 1995 e 2000, este percentual subiu para 58,1%. Tal situação significou um aumento de 53% no montante da mão de obra qualificada entre os dois quinquênios. (IBGE, 2012)

Figura 1 – Profissões exercidas por profissionais qualificados (1950-1960)