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Uma breve contextualização sobre a Emigração no Brasil: Inversão de

PARTE II PANORAMA HISTÓRICO DA IMIGRAÇÃO NO BRASIL

3. Uma breve contextualização sobre a Emigração no Brasil: Inversão de

Para Sales (2004) a partir dos anos 80 surge um novo movimento migratório no Brasil. O de emigração. Devido a sucessivas crises econômicas ocorridas no país gerando inflação, desemprego e baixos salários, um grande contingente de brasileiros emigrou para diversas partes do globo, mas em especial para os Estados Unidos, onde diferentemente do Brasil viviam um grande momento econômico com muita oferta de emprego e bons salários. Os brasileiros estabeleceram comunidades próprias em várias regiões dos Estados Unidos, mas principalmente em Massachusetts, Florida e Nova Iorque.

Também foi a imprensa que divulgou as primeiras estimativas do contingente de brasileiros emigrantes que teriam deixado o país. Assim, o Caderno Especial da Folha de São Paulo de 18.7.91 refere-se à cifra de cerca de 1,25 milhão de brasileiros que teriam deixado o país sem retorno entre 1985 e 1987, o que significaria uma evasão de quase 1% da população brasileira. Estes dados, apontados originalmente em reportagem especial da revista Veja na edição de 16 de março de 1988, a partir de estatísticas da polícia federal (a reportagem refere-se a 1,2 milhão de brasileiros que teriam emigrado do país entre 1985 e 1988), são indicativos da dimensão numérica desse novo fenômeno da população brasileira. (SALES, 1999, p.15).

Existe um consenso entre os estudiosos das migrações ocorridas no país que o movimento emigratório brasileiro se iniciou na década de 80, a explicação mais plausível que aparece em seus estudos correlaciona esse início com período da crise econômica que atravessou nosso país, caracterizado como a “década perdida”.

Segundos os estudos de Tereza Sales (1999) em seu livro Brasileiros longe de casa, os principais motivos da profunda recessão que acometeu o Brasil na década de 80 foram os seguintes:

- A partir de 1979, a economia brasileira sofre o impacto da crise do petróleo e consequentemente das elevadas taxas de juros internacionais, ocasionando a maxidesvalorização da moeda nacional, gerando impacto na inflação brasileira que chega a 100% ao ano ao final de 1979. Isto levou o governo brasileiro a adotar uma política econômica ortodoxa, recessiva com restrições de créditos, aumento de juros, corte nos gastos públicos e alteração da política salarial. Para piorar a situação do país, o México declara moratória levando a paralisação de créditos internacionais e o Brasil se vê obrigado a recorrer ao FMI. Este quadro de crise perdura até 1983.

- A partir de 1984, inicia-se um movimento de recuperação puxado pelo setor exportador (exportações brasileiras crescem 23%), devido aos enormes déficits comerciais praticados pelos Estados Unidos. Mesmo assim, não houve recuperação de emprego no Brasil. Somente em 1985 há ganhos salariais e o PIB chega a crescer 8,5% mas a inflação chega a 225% ao ano.

- Em fevereiro de 1986, é decretado o Plano Cruzado, onde houve uma melhoria na distribuição de renda. A inflação foi reduzida a níveis baixos, os salários reais cresceram, o PIB elevou a 8,1%. Mas o plano não atacou o desequilíbrio externo e financeiro, o que

resultou em seu fracasso após um ano: as práticas de cobrança de ágio, o desabastecimento e a deterioração da balança comercial levaram o governo brasileiro a desvalorizar mais uma vez a moeda.

- Adoção do Plano Cruzado II como uma tentativa do governo de retomar sua capacidade de gasto por meio de um ajuste fiscal resultou na volta da inflação e a reversão dos ganhos iniciais do plano anterior. Em 1987, há uma queda brusca nas reservas cambiais, obrigando o governo a decretar moratória em fevereiro.

- Os dois últimos anos da década de 80 representaram os mais altos índices de inflação: 685% em 1988 e 1320 em 1989; superávit comercial recorde (U$ 35 bi), que sendo transferido ao exterior permitiu a redução da dívida externa em U$ 10 bi.

- Em 1989 é adotado o Plano Verão, o que resultou em forte redução dos salários reais. A inflação volta a taxas escaldantes, atingindo patamares de 5 dígitos ao final do ano. (SALES, p.30-32. 1999)

Sem descartar a hipótese levantada pelos estudiosos da época como o a crise econômica, sendo o principal fator de expulsão que impulsionou tais fluxos emigratórios do país de origem, Sales (1999) descarta outros fatores levantadas na sua pesquisa, tais como:

“a chamada década perdida foi na verdade muito mais do que uma época de recessão econômica. Nela a sociedade brasileira se mobilizou e criou esperanças. O país se redemocratizou, segmentos da sociedade se organizaram politicamente, partidos e movimentos sociais foram criados, o povo foi às ruas para exigir eleições diretas para presidente, voltamos a exercer o direito do voto para eleger o presidente do Brasil. A inflação, o desemprego e a recessão não vieram sozinhos, mas juntos com muitas perspectivas promissoras e até o vislumbre de saídas com o Plano Cruzado ou com as promessas políticas que se renovavam a cada eleição e a cada fator de mobilização popular. O fator político teve, portanto, um peso na balança dessas migrações internacionais brasileiras, se consideram as esperanças e frustrações dos primeiros anos de nossa redemocratização” (Sales, 1995:129 apud Sales, 1999:28)

Outro fator relevante foram as redes sociais. Em seu estudo sobre os imigrantes brasileiros oriundos de Governador Valadares (MG), que emigraram para Boston (EUA), Tereza Sales (1999), aponta como um dos principais fatores de atração para esse destino era as redes estabelecidas entre o local de origem e de destino; redes de parentesco, de amizade ou de simples conhecimento, que levaram a grande maioria de seus entrevistados a emigrar e ao apoio inicial para instalação e o primeiro emprego.

Pouco mais de 80% dos 49 imigrantes que entrevistei em Boston já tinham uma rede social quando migraram, seja a rede de amigos e conhecidos (41%), de parentes (37%) ou de pessoas da igreja (apenas dois casos, ou 4%). Dos nove casos (18%) de entrevistados que declararam não conhecer ninguém no local de destino, é importante ter presente que muitos deles foram em grupos de imigrantes em que, não ele próprio, mas alguém do grupo, tinha os contatos preestabelecidos. Dos 504 migrantes que constam no questionário aplicado em Governador Valadares (retornados e ausentes no exterior), a proporção dos que emigraram baseados em uma rede social também é grande – 75%, sendo que entre esses é maior a proporção de parentes (56%) do que de amigos e conhecidos (18%). (SALES, 1999, p.37).

Os movimentos emigratórios dos brasileiros aos Estados Unidos são explicados através de teorias neoclássicas onde a recessão econômica levou os brasileiros a procurarem melhores condições de trabalho com maior renda no país americano o que representa o fator de expulsão, mas também apresenta fatores histórico-estruturais, explicado pelo fator de atração no local de destino, onde o mercado secundário americano necessita de mão de obra devido à expansão da industrialização do país. Por sua vez, as redes sociais aparecem como pano de fundo para essas explicações com uma forte tendência de cunho estrutural sociológico.

Além da pesquisa sobre imigrantes brasileiros nos Estados Unidos, mais precisamente na região de Boston, outra escritora relevante sobre este tema é a antropóloga americana Margolis, que em seu livro Little Brazil relata a experiência de imigrar, viver e trabalhar de milhares de brasileiros na cidade de Nova Iorque.

3.1. Little Brazil

De acordo com Margolis (1993) em seu livro Little Brazil: an ethnography of Brazilian immigrants in New York City, diz que a cidade de Nova Iorque possui uma das maiores comunidades de brasileiros de todo mundo, que se concentra especialmente em uma área da cidade chamada Little Brazil. São brasileiros oriundos de vários estados brasileiros mas sobretudo de São Paulo e apresentam um razoável nível educacional. Muitos possuem formação superior e deixaram seu país por não terem conseguido emprego e se sujeitam a qualquer atividade em Nova Iorque, em geral atividades de baixíssima qualificação que incluem motoristas particulares, taxistas e empregadas domésticas.

Margolis (1993, p.128), cita alguns exemplos de trabalhos como: “for $550 a week, Alberto chauffeured a family around the city and to their country state every weekend and tended to their stretch limousine.”

Outro exemplo que ilustra bem, o nível de trabalho dos brasileiros, é segundo Margolis (1993, p.127) ,“one woman worked for such a family at a starting salary of $300 a week, which had reached $475 a week by the time she left three years later.”

3.2. Envio de remessas de dinheiro dos imigrantes brasileiros para suas famílias no Brasil

Um fator de extrema importância no fluxo migratório de brasileiros para os países desenvolvidos é a questão das remessas de dinheiro que os imigrantes brasileiros enviam para o Brasil.

De acordo com Fontana, R; Guedes, C (2004) a maior parte das remessas dos imigrantes brasileiros que vivem no exterior tem como países de origem os Estados Unidos (com mais de 51%) seguido pela Europa com 31% e Japão com 17% como mostra o gráfico nº 6:

Gráfico 6 – Países de onde são enviadas as remessas

Fonte:Benedixen&Associates/abril-maio de 2004

Segundo BID citado por Fontana, R; Guedes, C (2004, p.5) “as remessas causam um grande impacto na economia brasileira. Estima-se que as remessas atingiram o montante de U$5,4 bilhões em 2004.”

Assim segundo o jornal O GLOBO citado por Fontana, R; Guedes, C (2004, p.5), a contribuição dos emigrantes para o balanço de pagamentos começou a ter peso nas contas externas brasileiras a partir de 1990, sendo que em alguns anos como em 1993 o valor das remessas superaram as divisas de produtos exportados pelo Brasil de grande significância como o café e o açúcar.

É importante salientar a importância que esses imigrantes brasileiros possuem para suas famílias aqui no Brasil. Pois este dinheiro enviado por eles tem um significado todo especial, pois não só representa um gesto de caráter econômico a fim de ajudar nas despesas diárias de suas famílias, mas também mostra o lado generoso e afetivo de milhares de imigrantes brasileiros que por falta de oportunidades em seu próprio país decidiram emigrar para terras estrangeiras, mas com o principal objetivo de voltar para casa e ficar ao lado de suas famílias. Indubitavelmente, ao analisar o processo migratório brasileiro, a contribuição do imigrante para o desenvolvimento do Brasil é muito relevante. Podemos concluir que a imigração brasileira iniciada nos fins do século XIX foi um divisor de águas na história do país. O Brasil passou de um estado monocultor, basicamente o café, para um estado policultor, com uma produção agrícola mais diversificada, com o plantio da uva e produção de frutas no Sul do país pelos italianos e alemães e verduras e legumes pelos japoneses no interior do estado de São Paulo.

No processo de urbanização, assinala-se a contribuição do imigrante, ora com a transformação de antigos núcleos em cidades (São Leopoldo, Novo Hamburgo, Caxias, Itajaí, Brusque,

50% 31% 17% 2% Estados Unidos Países da Europa Japão Outros países

Joinville, etc.), ora com sua presença em atividades urbanas de comércio ou de serviços, com a venda ambulante, nas ruas, como se deu em São Paulo e no Rio de Janeiro.

Em todas as colônias, ressalta igualmente o papel desempenhado pelo imigrante como introdutor de técnicas e atividades que se difundiram em torno das colônias. Ao imigrante devem-se ainda outras contribuições em diferentes setores da atividade brasileira.

Uma das mais significativas apresenta-se no processo de industrialização dos estados da região Sul do país, onde o artesanato rural nas colônias cresceu até transformar-se em pequena ou média indústria até atingir uma produção mais sofisticada como a implantação das primeiras siderúrgicas do país. Em São Paulo e no Rio de Janeiro, imigrantes enriquecidos contribuíram com a aplicação de capitais nos setores produtivos. A contribuição dos portugueses e italianos merece destaque especial, pois sua presença constante assegurou a continuidade de valores que foram básicos na formação da cultura brasileira.

Por sua vez, os franceses influenciaram nas artes, literatura, educação e nos hábitos sociais, além dos jogos hoje incorporados à lúdica infantil. Especialmente em São Paulo, é grande a influência dos italianos na arquitetura e na implantação de várias indústrias, como a têxtil. A eles também se deve uma pronunciada influência na culinária e nos costumes, estes traduzidos por uma herança na área religiosa, musical e recreativa.

Contudo, a partir dos anos 80, o país começou a enfrentar inúmeras e severas crises econômicas que fizeram com que o Brasil deixasse de ser um país de imigração para se transformar em um país de emigração. Muitos brasileiros rumaram para os países mais industrializados, principalmente para os Estados Unidos e Europa em busca de melhores oportunidades de emprego.

PARTE III - FIM DO MILÊNIO: ESTABILIDADE ECONÔMICA DO BRASIL, CRISE FINANCEIRA INTERNACIONAL, CRISE POLÍTICA NA EUROPA

O propósito desta parte do trabalho é de discutir e debater os efeitos da crise financeira internacional de 2008 nos países desenvolvidos e de que forma ela está afetando o movimento imigratório no Brasil. Decidimos dar toda atenção nas causas e consequências da crise econômica e ao mesmo tempo colocar uma breve explicação sobre o desempenho da economia brasileira no início do século XXI.