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Sumário. Tribunal da Relação de Évora Processo nº 941/03.3TAFAR.E1. Relator: SÉRGIO CORVACHO Sessão: 24 Novembro 2020 Votação: UNANIMIDADE

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Tribunal da Relação de Évora Processo nº 941/03.3TAFAR.E1 Relator: SÉRGIO CORVACHO Sessão: 24 Novembro 2020 Votação: UNANIMIDADE

FALTA DE GRAVAÇÃO DA PROVA

JULGAMENTO NA AUSÊNCIA DO ARGUIDO

Sumário

O formalismo de «julgamento na ausência» tem como pressuposto validade que o arguido, a nível pessoal, tenha sido regularmente notificado para comparecer, o que, conforme já se verificou, não sucedeu em relação às

sessões da audiência de julgamento realizadas nos dias 27/2/2008, 25/3/2008 e 21/4/2008.

Mesmo que pudesse entender-se que a falta de comparência do arguido à sessão de julgamento, em que foi feita a leitura do acórdão, ficou suprida pela notificação pessoal, que posteriormente lhe foi feita desse acto decisório, tal juízo não poderá ser formulado em relação às duas sessões anteriores, durante as quais o arguido sempre poderia ter feito uso de qualquer das prerrogativas que lhe assistem, mormente, a de prestar declarações.

A falta de notificação pessoal do arguido para as sessões da audiência de julgamento, efectuadas nos dias 27/2/2008, 25/3/2008 e 21/4/2008, integra a nulidade processual insanável cominada pelo art. 119º al. c) do CPP,

reconhecendo-se razão ao recorrente.

No presente processo, a notícia da falta da gravação da prova pessoal

produzida em audiência só chegou aos autos, depois de estes terem subido em recurso a este Tribunal da Relação, tendo sido nessa sequência que o arguido veio invocar a nulidade correspondente.

Ora, a partir do momento em que profira despacho de recebimento do recurso interposto da decisão final (sentença ou acórdão), o Juiz da primeira instância deixa de ser, de alguma forma, o «dominus» do processo, incumbindo-lhe apenas tramitar o recurso e fazê-lo subir ao Tribunal Superior.

Nesta perspectiva, não nos repugna que, pelo menos a partir da subida do recurso ao Tribunal «ad quem», a competência para conhecer de questões,

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que se prendam com a validade do processado, incumbe ao Juiz desse órgão judicial.

De resto, não teria sentido que a continuidade da instância recursiva, que seria necessariamente posta em causa com a eventual declaração de nulidade da audiência de julgamento, ficasse dependente da decisão de um Tribunal de categoria hierarquicamente inferior.

Texto Integral

ACORDAM, EM AUDIÊNCIA, NA SECÇÃO CRIMINAL DO TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE ÉVORA

I. Relatório

No Processo Comum nº 941/03.3TAFAR, que corre termos no Juízo Central Criminal de Faro do Tribunal Judicial da Comarca de Faro, por acórdão do Tribunal Colectivo proferido em 21/4/2008 foi decidido:

- condenar o arguido C… pela prática de dez crimes de emissão de cheque sem provisão, p. e p. pelo art.º 11.º n.º 1 al. a) do DL 454/91, de 28/12, na redacção do DL 316/97, de 19/11, e da Lei 48/2005, de 29.08, nas seguintes penas:

i. 12 (doze) meses de prisão (cheque 1 destes autos);

ii. 6 (seis) meses de prisão (cheque 2 destes autos);

iii. 16 (dezasseis) meses de prisão (cheque 3 destes autos);

iv. 7 (sete) meses de prisão (cheque 4 destes autos);

v. 18 (dezoito) meses de prisão (cheque 5 destes autos):

vi. 22 (vinte e dois) meses de prisão (cheque 6 destes autos);

vii. 7 (sete) meses de prisão [apenso A);

viii. 4 (quatro) meses de prisão (apenso B);

ix. 4 (quatro) meses de prisão (apenso CJ;

x. 6 [seis) meses de prisão (apenso D):

- condenar, em cúmulo jurídico das penas singulares oro aplicadas, o arguido C… na pena conjunta de 4 (quatro) anos e 3 (três) meses de prisão, suspensa

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na sua execução pelo período de 5 (cinco) anos, suspensão esta subordinada à obrigação de o arguido depositar à ordem destes autos, em cinco prestações anuais iguais, a quantia de 126.722,69 (cento e vinte e seis mil setecentos e vinte e dois euros e sessenta e nove cents) euros, vencendo-se a primeira destas prestações no termo de um ano a contar da data do trânsito em julgado desta decisão;

- condenar o demandado C… a pagar:

a) à demandante M…a quantia de 117.288,80 euros (cento e dezassete mil duzentos e oitenta e oito euros e oitenta cents), a que acrescem os juros de mora, vencidos e vincendos, à taxa legal referida:

b) à demandante W… a quantia de 3.118,89 euros (três mil cento e dezoito euros e oitenta e nove cents), a que acrescem os juros de mora, vencidos e vincendos, à taxa legal referida;

c) à demandante M… a quantia de 3.440 (três mil quatrocentos e quarenta) euros, a que acrescem os juros de mora, vencidos e vincendos, à taxa legal referida;

- julgar improcedentes os pedidos de indemnização formulados na parte restante, absolvendo o demandado desta parte dos pedidos contra si formulados;

- considerar o arguido C… responsável pelo pagamento dos honorários da sua ilustre defensora, por força do disposto no art.º 39.º n.º 2 e 3.º da Lei 34/2004 (aplicável aos autos), adiantando-se o pagamento dos honorários tabelados;

- condenar o arguido C… no pagamento das custas criminais, fixando-se a taxa de justiça criminal devida em 5 (cinco) UC (a que acresce 1% nos termos e para os efeitos do art.º 13.º n.º 3 do DL 423/91) e a procuradoria no mínimo (cfr. arts. 74.º, 82.º, 85.º n.º 1 al. a), 89.º e 95.º do CCJ, 513.º e 514.º do CPP):

- condenar as demandantes e o demandado no pagamento das custas cíveis, na medida dos seus decaimentos [cfr. arts. 523.º do CPP e 446.º do CPC):

Com base nos seguintes factos, que então se deram como provados:

Processo principal:

1) No dia 16 de Julho de 2003, o arguido C… assinou e entregou o cheque número…, no valor de 14.592,731 euros.

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2) Os restantes dizeres do cheque - data, valor, nome do beneficiário - foram preenchidos por meios mecanográficos no momento de entrega e assinatura, 3) Apresentado a pagamento, foi o cheque devolvido em 22.07.2003 com a menção de falta de provisão.

4) No dia 17 de Julho de 2003, o arguido C… assinou e entregou o cheque número …, no valor de 2.996,13 euros.

5) Os restantes dizeres do cheque - valor, data, nome do beneficiário - foram preenchidos por meios mecanográficos no momento da entrega e assinatura.

6) Apresentado a pagamento, foi o cheque devolvido em 23.07.2003 com a menção de falta de provisão.

7) No dia 18 de Julho de 2003, o arguido C… preencheu, subscreveu e emitiu o cheque número …, no valor de 23.073,11 euros.

8) Apresentado a pagamento, foi o mesmo devolvido em 24.07.2003 com a menção de falta de provisão.

9) No dia 20 de Julho de 2003, o arguido C… assinou e entregou o cheque número…, no valor de 3.377,90 euros.

10) Os restantes dizeres do cheque - data, valor, nome do beneficiário - foram preenchidos por meios mecanográficos no momento da entrega e assinatura.

11) Apresentado a pagamento foi o cheque devolvido em 24.07.2003 com a menção de falta de provisão.

12) No dia 21 de Julho de 2003, o arguido C… preencheu, subscreveu e emitiu o cheque número …, no valor de 30.967,61 euros.

13) Apresentado a pagamento, foi o cheque devolvido em 25.07.2003 com a menção de falta de provisão.

14) No dia 23 de Julho de 2003, o arguido C… preencheu, subscreveu e emitiu o cheque número …, no valor de 42.281,32 euros.

15) Apresentado a pagamento, foi o mesmo devolvido em 01.08.2003, com a menção de falta de provisão.

16) Os cheques referidos foram todos sacados sobre o Banco … e emitidos a favor de M…, e apresentados a pagamento aos balcões de … do Banco ….

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17) Os cheques referidos destinavam-se a pagar géneros, tais como carnes, bebidas alcoólicas e não alcoólicas, cigarros, etc. comprados pelo arguido no referido estabelecimento.

18) O arguido agiu deliberada e conscientemente, sabendo que as suas condutas lhe eram proibidas e que não possuía no banco sacado fundos suficientes para proceder ao pagamento dos chegues.

Apenso A

19) No dia 12 de Agosto de 2003, C… preencheu e assinou o cheque n.º …, sacado sobre a conta n.º …do Banco …, no valor de 3.440 euros, e entregou-o a L…, na qualidade de gerente comercial da sociedade M…

20) O chegue destinou-se ao pagamento de um fio de ouro e de um relógio que C… adquiriu na ourivesaria de que L… é gerente, sita na Rua …, em ….

21) A data aposta no cheque foi igual à da emissão, ou seja, 12.08.2003.

22) Apresentado a pagamento no dia 12 de Agosto de 2003 na sucursal n.º … do Banco …, em …, o mesmo foi devolvido na compensação do Banco de Portugal em 25.08.2008, por falta de provisão.

23) O arguido sabia que não lhe era permitido fazer a entrega do cheque, pondo-o em circulação, sem que estivesse assegurado o seu pagamento pela entidade sacada, mediante o depósito de quantia suficiente para tal, desde a data da sua entrega até ao termo do prazo de 8 dias.

24) O arguido quis emitir o referido cheque, agindo livre, voluntária e conscientemente, bem sabendo da censurabilidade da sua conduta e que dessa forma prejudicava a sociedade que explorava a ourivesaria onde adquiriu os produtos supra mencionados.

Apenso B

25) No dia 3 de Novembro de 2003, C… assinou e entregou o cheque n.º …, sacado sobre a conta n.º … do Banco …, agência de …, no valor de 1.758,99 euros, a um funcionário da W…, para pagamento de um computador e de uma mala para portátil.

26) O cheque foi preenchido mecanicamente na caixa registadora do

estabelecimento comercial W…, sito na …, em …, no local onde o cheque foi entregue.

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27) Apresentado a pagamento no Banco …, agência de …, o cheque foi

devolvido na compensação do Banco de Portugal em 07.11.2003, por falta de provisão, uma vez que q conta respectiva não possuía fundos suficientes para o seu pagamento,

28) O arguido ao entregar e assinar o chegue, tinha conhecimento de que a quantia existente em depósito na entidade sacada não era suficiente para o pagamento integral do mesmo, e sabia perfeitamente que não lhe era

permitido fazer a entrega, pondo em circulação um cheque, sem que estivesse assegurado o seu pagamento pela entidade sacada, mediante o depósito de quantia suficiente para tal, desde a data da sua entrega até ao termo do prazo de 8 dias.

29) No entanto, o arguido quis emitir o referido cheque, agindo livre, voluntária e conscientemente, bem sabendo da censurabilidade da sua conduta e que dessa forma prejudicava a sociedade referida.

Apenso C

30) No dia 3 de Novembro de 2003, o arguido C… assinou e entregou a …, para pagamento de equipamento electrónico que comprou na loja daquela, em

…, o cheque n.º …, do montante de 1.359,90 euros, sacado sobre a conta n.º … da agência de … do Banco …, o qual foi preenchido pela máquina registadora, com conhecimento e autorização do arguido.

31) Apresentado a pagamento na agência de … do …, foi o referido cheque devolvido por falta de provisão, verificada em 07.11.2003.

32) Com a recusa do pagamento do cheque ficou a W… sem ver satisfeito o seu crédito.

33) Ao emitir e abrir mão do cheque, sabia o arguido que na conta sacada não possuía fundos que permitissem o pagamento da quantia nele inscrita.

34) Agiu o arguido de forma voluntária, livre, conscientemente, bem sabendo que tal conduta era proibida por lei penal.

Apenso D

35) No dia 27 de Dezembro de 2003, C… preencheu, assinou e entregou o cheque n.º …, sacado sobre a conta n.º … do Banco …, agência de …, no valor de 2.875 euros, no estabelecimento …, sito em …, …, para pagamento de parte

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do preço de uma televisão com ecrã de plasma da marca Samsung e de uma câmara de vídeo digital da mesma marca, cujo valor global era de 5.750 euros.

36) Apresentado a pagamento na …, agência de …, o cheque foi devolvido na compensação do Banco de Portugal em 31.12.2003, por falta/insuficiência de provisão, uma vez que a conta respectiva não possuía fundos suficientes para o seu pagamento.

37) O arguido, ao preencher, assinar e entregar o cheque, tinha conhecimento de que a quantia existente em depósito na entidade sacada não era suficiente para o pagamento integral do cheque, e sabia que não lhe era permitido fazer a entrega, pondo em circulação um cheque, sem que estivesse assegurado o seu pagamento pela entidade sacada, mediante o depósito de quantia

suficiente para tal, desde a data da sua entrega até ao termo do prazo de 8 dias.

38) O arguido quis emitir o referido cheque, agindo livre, voluntária e conscientemente, bem sabendo da censurabilidade da sua conduta e que dessa forma prejudicava a sociedade referida.

39) O arguido foi condenado:

• por decisão de 22.11.2006, transitada em 07.12.2006 [proc. 451/03 do Tribunal de Portimão], na pena conjunta de 15 meses de prisão, suspensa na sua execução por 3 anos, pela prática em 24.09.2003 de três crimes de

emissão de cheque sem provisão, p. pelo art. 11.º n.º] al. a) do DL 454/91, de 28.12.

• por decisão de 23.04.2007, transitada em 23.05.2007 (proc. 189/04 do Tribunal da Marinha Grande], na pena de 80 dias de multa à taxa diária de 6 euros, pela prática em 14.02.2004 de um crime de emissão de cheque sem provisão, p. pelo art. 11.º n.º 1, al. a) do DL 454/91], de 28.12.

O mesmo acórdão julgou os seguintes factos não provados:

a) a demandante M… suportou o pagamento de 93,54 euros em virtude da devolução bancária dos cheques em causa;

b) a demandante W… suportou o pagamento de 14,96 euros por cada cheque em virtude da devolução bancária dos cheques em causa

Do acórdão proferido o arguido C… interpôs recurso com a devida motivação, terminando com as seguintes conclusões:

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1. O arguido pretende suscitar em sede de recurso as seguintes questões:

a. Nulidade da audiência de julgamento realizada na ausência do arguido.

b. Impugnação da matéria de facto nos termos do artigo 412.º, n.º 3 do CPP.

c. A nulidade da decisão recorrida por falta de exame crítico das provas

d. Da desproporcionalidade da condição estabelecida ao abrigo do disposto no artigo 51.º, n.º 1 do Código Penal

2. Na audiência de dia 21/02/2008 o Tribunal a quo considerou o arguido como regularmente notificado e, sem qualquer fundamentação, declarou não indispensável a sua presença (Cfr. artigo 333.º, n.º 1 e 2 do CPP).

3. A audiência foi entretanto interrompida, tendo sido designados os dias 27/02/2008 e 25/03/2008 para a respetiva continuação.

4. O Tribunal a quo ordenou a emissão de mandados de detenção para assegurar a presença do arguido na sessão de julgamento designada para o dia 25/03/2008, porém, dos autos não resulta que o arguido tenha sido notificado para comparecer na audiência do dia 27/02/2008.

5. Não obstante não ter sido notificado, a audiência do dia 27/02/2008 foi realizada na ausência do arguido.

6. Para a leitura do Acórdão foi designado o dia 21/04/2008, sendo certo que mais uma vez não resulta dos autos que o arguido tenha sido notificado para comparecer.

7. Em suma, não foram realizadas as notificações que se impunham, muito menos as diligências legalmente possíveis e admissíveis para garantir a comparência do arguido, quer nas audiências dos dias 27/02/2008 e 25/03/2008, quer para leitura do Acórdão.

8. O Tribunal a quo tinha o dever de notificar o arguido da realização das sessões de julgamento suplementares, não previstas inicialmente,

designadamente da leitura do Acórdão, o que não se verificou.

9. A ausência do arguido nos casos em que a lei exigir a respetiva

comparência consubstancia uma nulidade insanável (Cfr. artigo 119.º, alínea c) do CPP), que desde já se invoca.

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10. A audiência de julgamento efetuada sem que o Tribunal a quo tenha procedido à notificação do arguido para as restantes sessões de audiência, nomeadamente para a leitura do Acórdão é nula, o que implica a invalidade das sessões de audiência de julgamento e do Acórdão condenatório proferido, devendo o mesmo Tribunal proceder à respetiva repetição (cfr. Artigo 122.º, n.º 1 e 2, do CPP), o que se invoca para os devidos efeitos legais.

11. Caso assim não seja entendido, o arguido considera que os pontos 1, 2, 4, 5, 7, 9, 10, 12, 14, 18, 25, 26, 28, 29, 30, 33, 34, 35, 37 e 38 do Acórdão

(dados como provados) foram incorretamente julgados.

12. O Douto Tribunal a quo não fez uma incorreta valoração dos documentos de fls. 9, 10 (processo principal); fls. 4 (apenso A); fls. 4 e 5 (apenso B); fls. 4 (apenso C) e fls. 7 (apenso D), os quais necessariamente impunham decisão diversa.

13. Da prova produzida não resultou que o arguido tenha assinado e procedido à entrega dos cheques de fls. 9 nos dias 16.07.2003, 17.07.2003 e 18.06.2003 (datas de emissão que figuram nos cheques).

14. O arguido assinou os cheques mas outra pessoa, seja de forma mecânica ou manográfica, terá preenchido os restantes elementos.

15. É do conhecimento comum que no giro comercial são por vezes emitidos cheques pré-datados como garantia do pagamento, em especial quando se trata de vendas a crédito.

16. Também é do conhecimento comum que nestes casos o titular do cheque assina e o beneficiário preenche os restantes elementos do cheque,

designadamente a data de emissão.

17. Da prova produzida em audiência não resultou igualmente que o arguido tenha assinado e procedido à entrega dos cheques de fls. 10 nos dias

20.07.2003, 21.07.2003 e 23.07.2003 (datas de emissão que figuram nos

cheques), bem como do cheque de fls. 4 (apenso A) no dia 12.08.2003 (data de emissão que figura no cheque).

18. Mais uma vez se torna evidente que o arguido apenas assinou os cheques e que outras pessoas, seja de forma mecânica ou manográfica, terão

preenchido os restantes elementos, designadamente a data de emissão.

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19. No que respeita ao cheque n.º … (fls. 4 apenso B) e cheque n.º ….. (fls. 4 apenso C), estão ambos assinados pelo arguido e por outra pessoa, sendo que os restantes elementos, designadamente data, valor e nome do beneficiário preenchidos de forma mecanográfia.

20. O cheque n.º … (fls. 7 (apenso D) está assinado pelo arguido mas mais uma vez se percebe que a letra usada para preencher o nome do beneficiário e a quantia por extenso é diferente uma da outra, tal como se percebe que os números referentes à data e à quantia em euros também é diferente.

21. No seguimento do supra exposto, entende a defesa que o Tribunal a quo não podia ter concluído, sem a certeza exigida, que o arguido assinou e

entregou os cheques em apreço nas respetivas datas de emissão, pelo que os pontos 1, 2, 4, 5, 7, 9, 10, 12, 14, 18, 25, 26, 28, 29, 30, 33, 34, 35, 37 e 38 do Acórdão recorrido devem ser dados como não provados.

22. Resultou claro da prova produzida que o arguido não preencheu os

elementos dos cheque, designadamente o valor, o local e data de emissão, daí que, para além de estarmos perante um erro grave na apreciação da prova e no julgamento da matéria de facto, a fundamentação apresentada na douta decisão recorrida não preenche o disposto no artigo 374.º, n.º 2 do CPP.

23. O Tribunal a quo devia, nos termos da lei, ter ponderado toda a prova produzida, tê-la analisado e examinado criticamente, o que lamentavelmente não se verificou.

24. Considerar os depoimentos credíveis e concluir, sem mais, que o arguido assinou, emitiu e entregou os referidos cheques na data de emissão, quando sem qualquer sombra de dúvida não foi o arguido que preencheu estes

elementos, não consubstancia um exame crítico, consubstancia um erro grave na apreciação e no julgamento da matéria de facto.

25. O Tribunal a quo não efetuou o necessário exame crítico das provas, a fundamentação contida na sentença é insuficiente, o que consubstancia uma nulidade prevista no artigo 379.º, n.º 1, alínea a) do CPP, por referência ao n.º 2 do artigo 374.º do mesmo diploma.

26. Como condição da suspensão da pena de prisão aplicada o Tribunal a quo decidiu impor ao arguido o dever de depositar à ordem destes autos, em cinco prestações anuais iguais, a quantia de € 126.722,69 (cento e vinte e seis mil, setecentos e vinte e dois euros e sessenta e nove cêntimos) e, em simultâneo, condenou o arguido a pagar € 123.847,78 (cento e vinte e três mil, oitocentos

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e quarenta e sete euros e setenta e oito cêntimos) às três demandantes, a título de indemnização civil.

27. Ora, a obrigação componente da suspensão da execução da pena de prisão não se pode cumular com o dever de indemnizar constante da decisão sobre o pedido civil, nem podemos admitir que a suspensão seja subordinada a um pagamento superior à própria indemnização civil

28. O dever de depositar a quantia de € 126.722,69 à ordem dos presentes autos configuara uma obrigações por demais excessiva, cujo cumprimento não é razoavelmente exigível, pelo que deverão V. Exas. Venerandos

desembargadores ordenar a substituição por imposição equilibrada, que não constitua uma verdadeira indemnização aos demandantes.

NESTES TERMOS, DEVE SER DADO O PROVIMENTO AO PRESENTE RECURSO E, EM CONSEQUÊNCIA:

A. DEVE SER DECLARADA NULAS AS SESSÕES DE JULGAMENTO, EFETUADAS SEM QUE O TRIBUNAL A QUO TENHA PROCEDIDO À NOTIFICAÇÃO DO ARGUIDO, NOMEADAMENTE PARA A LEITURA DO ACÓRDÃO, O QUE IMPLICA A INVALIDADE DAS AUDIÊNCIAS DE

JULGAMENTO E DOS ATOS QUE DELA DEPENDEM (DESIGNADAMENTE O ACÓRDÃO CONDENATÓRIO PROFERIDO), DEVENDO O MESMO TRIBUNAL PROCEDER À RESPETIVA REPETIÇÃO (CFR. ARTIGO 122.º, N.º 1 E 2, DO CPP).

B. CASO ASSIM NÃO SEJA ENTENDIDO, DEVE SER ALTERADA A MATÉRIA DE FACTO, DANDO-SE POR NÃO PROVADOS OS PONTOS 1, 2, 4, 5, 7, 9, 10, 12, 14, 18, 25, 26, 28, 29, 30, 33, 34, 35, 37 e 38 DO ACÓRDÃO RECORRIDO.

C. ATENDENDO A QUE FUNDAMENTAÇÃO CONTIDA NA SENTENÇA É INSUFICIENTE, DEVE ESTA SER CONSIDERADA NULA NOS TERMOS DO ARTIGO 379.º, N.º 1, ALÍNEA A) DO CPP, POR REFERÊNCIA AO N.º 2 DO ARTIGO 374.º DO MESMO DIPLOMA.

D. CASO ASSIM NÃO SEJA ENTENDIDO, DEVE A OBRIGAÇÃO

COMPONENTE DA SUSPENSÃO DA EXECUÇÃO DA PENA DE PRISÃO SER SUBSTITUIDA POR IMPOSIÇÃO EQUILIBRADA, QUE NÃO CONSTITUA UMA VERDADEIRA INDEMNIZAÇÃO AOS DEMANDANTES.

FAZENDO ASSIM V. EXCELÊNCIAS, VENERANDOS DESEMBARGADORES, A HABITUAL JUSTIÇA!

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O recurso interposto foi admitido com subida imediata, nos próprios autos, e efeito suspensivo.

O MP respondeu à motivação do recorrente, tendo formulado as seguintes conclusões:

1 – Por Acórdão de 21/04/2008, proferido a fls. 669 a 686 dos autos à margem supra referenciados, foi decidido pelo Tribunal Colectivo condenar o arguido C…, pela prática de dez crimes de emissão de cheque sem provisão, p. e p.

pelo artigo 11º, n.º 1 al. a) do Decreto-Lei n.º 454/91, de 28/12 – na redacção do DL n.º 316/97, de 19/11 e da Lei n.º 48/2005, de 29.08 – na pena única de 4 anos e 3 meses de prisão, suspensa na sua execução pelo período de 5 anos, suspensão essa subordinada à obrigação do arguido depositar à ordem dos autos, em cinco prestações anuais iguais, a quantia de € 126 722,69.

2 – O arguido foi regularmente notificado na morada do TIR, por via postal simples com prova de depósito, das sessões da audiência de discussão e julgamento realizadas nos dias 21/02/2008 e 27/02/2008 – onde não esteve presente – tendo a partir de tais datas, nomeadamente na sessão do dia

21/04/2008, sido sempre representado no mesmo julgamento pelo seu Ilustre Mandatário, de harmonia com o disposto nos artigos 196º, n.º 3 al. d), 333º, n.º 1 e 2 e 334º, n.º 4, todos do C.P.P.

3 – Pelo que, não se verifica in casu a nulidade processual da audiência de julgamento invocada pelo recorrente, não devendo assim a mesma ser atendida.

4 – O douto Acórdão ora objecto de recurso contêm todas as menções a que o n.º 2 do artigo 374º do C.P.P. alude, designadamente a enumeração de todos os factos dados como provados e não provados e a exposição dos motivos de facto e de direito que fundamentam a decisão, com a indicação exaustiva e o exame crítico de todas as provas que serviram para formar a convicção do tribunal.

5 – Sendo que relativamente à factualidade dada como provada, afirma-se explicitamente no Acórdão qual o tipo de prova que a sustentou: testemunhal ou de outro tipo, nomeadamente a documentação bancária junta ao

processado, os cheques (e das assinaturas neles apostas), as facturas, bem como outros documentos juntos aos autos.

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6 – Pelo que é manifesto que não se verifica in casu a arguida nulidade do Acórdão (a prevista no artigo 379º, n.º 1 al. a), conjugado com o n.º 2 do artigo 374º, ambos do CPP).

7 – O Tribunal Coletivo valorou ainda corretamente todos os elementos de prova constantes dos autos e produzidos em audiência de julgamento, nomeadamente as declarações do Assistente A…, o depoimento das

testemunhas M…, S…, L…, L… e M…, bem como a diversa prova documental constante dos autos, nomeadamente a documentação bancária junta ao

processado (mormente extractos de conta e fichas de assinaturas/de clientes), os cheques, as facturas, bem como os outros documentos juntos aos autos.

8 – Motivo pelo qual o douto Acórdão objeto do presente recurso não merece qualquer censura na apreciação que fez dos supra mencionados elementos de prova, tendo o Tribunal apreciado a prova segundo a sua livre convicção, sem extravasar os limites consagrados no artigo 127º do C.P.P.

9 – Não se verificando, pois, qualquer erro na apreciação e valoração da prova por parte do Tribunal a quo.

10 – Pelo que o douto Acórdão objeto do presente recurso não merece qualquer censura no tocante à fixação da matéria de facto constante dos

pontos n.º 1, 2, 4, 5, 7, 9, 10, 12, 14, 18, 25, 26, 28, 29, 30, 33, 34, 35, 37 e 38, feita com base na correta apreciação que fez dos elementos de prova

constantes dos autos.

11 – E, tendo em vista o reforçar a necessidade de interiorização do ilícito praticado – levando desde logo em conta o significado e alcance dos factos praticados pelo arguido – a decisão do Tribunal Colectivo de condicionar a suspensão da execução da pena de prisão imposta ao arguido ao pagamento da quantia de € 126 212,01 – no prazo alargado de 5 anos (correspondente ao período da suspensão da execução da pena) – mostra-se absolutamente

razoável.

Nestes termos deverá ser negado provimento ao recurso interposto pela arguido C…, confirmando-se o douto Acórdão recorrido nos seus precisos termos.

*

*

(14)

V.Exªs farão, como sempre, JUSTIÇA!

O Digno Magistrado do MP em funções junto desta Relação emitiu parecer sobre o recurso interposto, tendo defendido a sua improcedência.

Entretanto, foi junta aos autos informação proveniente do Tribunal recorrido, no sentido que a gravação da prova não existe, quer em suporte físico.

Tal informação foi dada a conhecer aos sujeitos processuais, tendo arguido recorrente feito juntar aos autos um requerimento do seguinte teor:

«Exmo. Sr. Dr. Juiz de Direito junto do Tribunal Judicial da Comarca de Faro C…, arguido nos autos à margem referenciados e aí melhor identificado, vem, mui respeitosamente, expor e requerer a V, Exa. o seguinte:

1. O arguido teve hoje conhecimento, através de notificação do Tribunal da Relação de Évora, que não existe suporte com a gravação da prova, quer no sistema informático, quer em suporte físico.

2. Ora, muito embora o arguido não tenha impugnado a decisão sobre matéria de facto, a verdade é que a prova produzida em audiência não está

documentada.

3. O artigo 363.º do Código Processo Penal estatui que "as declarações produzidas oralmente na audiência são sempre documentadas na acta, sob pena de nulidade".

4. Face ao exposto, sendo esta uma nulidade relativa, dependente de arguição (Cfr. artigo 120.° do CPP), desde Já se invoca a mesma para todos os efeitos legais,

5, Mais se requer a V. Exa. que neste seguimento se digne determinar a

invalidade do Acórdão proferido em 21 de abril de 2008 pelo Tribunal Judicial da Comarca de Faro, declarando sem efeito o recurso interposto pelo arguido e ordenando a repetição de todo o julgamento.

P,D.»

O parecer emitido pelo Digno Magistrado do MP, sobre o mérito do recurso, foi notificado aos sujeitos processuais, a fim de se pronunciarem, tendo o arguido respondido, em termos de peticionar a baixa dos autos à primeira instância, a

(15)

fim de conhecer da arguição da nulidade decorrente da falta de registo da prova.

Foram colhidos os vistos legais e procedeu-se à conferência.

II. Fundamentação

Nos recursos penais, o «thema decidendum» é delimitado pelas conclusões formuladas pelo recorrente, as quais deixámos enunciadas supra.

A sindicância do acórdão recorrido, que emerge das conclusões do recorrente, é multiforme e desdobra-se nas seguintes questões:

- Arguição da nulidade da audiência de julgamento;

- Arguição da nulidade do acórdão

- Impugnação da decisão sobre a matéria de facto;

- Impugnação do condicionamento da suspensão da execução da pena de prisão.

a) Questão Prévia

Antes de entrarmos no conhecimento da pretensão recursiva, importa tomar posição sobre uma questão prévia, qual seja o requerimento apresentado pelo arguido recorrente, dirigido ao Exº Juiz do Tribunal recorrido, em que arguiu a nulidade da audiência de julgamento, por falta de registo da prova nela produzida.

Desde logo, cumpre ajuizar a quem incumbe, no actual estado do processo, a competência para conhecer da referida arguição de nulidade, se ao Tribunal de primeira instância, que praticou a eventual nulidade e a quem foi dirigido o pedido de invalidação do processado, ou se a este Tribunal da Relação,

enquanto órgão competente para julgar o recurso interposto da decisão proferida no termo da audiência de julgamento (acórdão).

A sede legal da nulidade invocada é o art. 363º do CPP:

As declarações prestadas oralmente na audiência são sempre documentadas na acta, sob pena de nulidade.

O Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça nº 13/2014, publicado em DR, I Série de 23-09-2014, fixou jurisprudência no seguinte sentido:

(16)

«A nulidade prevista no artigo 363.º do Código de Processo Penal deve ser arguida perante o tribunal da 1.ª instância, em requerimento autónomo, no prazo geral de 10 dias, a contar da data da sessão da audiência em que tiver ocorrido a omissão da documentação ou a deficiente documentação das declarações orais, acrescido do período de tempo que mediar entre o requerimento da cópia da gravação, acompanhado do necessário suporte técnico, e a efectiva satisfação desse pedido pelo funcionário, nos termos do n.º 3 do artigo 101.º do mesmo diploma, sob pena de dever considerar-se sanada».

A redacção do nº 3 do art. 101º do CPP, a que se refere o Aresto Uniformizador citado, é a introduzida pela Lei nº 48/2007 de 29/8:

Sempre que for realizada gravação, o funcionário entrega no prazo de

quarenta e oito horas uma cópia a qualquer sujeito processual que a requeira e forneça ao tribunal o suporte técnico necessário.

Na actual redacção do mesmo artigo, aprovada pela Lei nº 20/2013 de 21/2, o preceito correspondente é o do nº 4:

Sempre que for utilizado registo áudio ou audiovisual não há lugar a

transcrição e o funcionário, sem prejuízo do disposto relativamente ao segredo de justiça, entrega, no prazo máximo de 48 horas, uma cópia a qualquer

sujeito processual que a requeira, bem como, em caso de recurso, procede ao envio de cópia ao tribunal superior.

A orientação interpretativa consagrada no Acórdão nº 13/2014 vai

indubitavelmente no sentido de atribuir ao Tribunal da primeira instância a competência para conhecer da arguição da nulidade da audiência de

julgamento, provocada pela falta de documentação sonora ou audiovisual daa prova pessoal produzida nesse acto processual.

Contudo, tal Aresto encontra-se seguramente pensado em função da situação processual típica, que é a questão ser suscitada quando os autos ainda se acham na primeira instância, no período que medeia entre o encerramento da audiência e a interposição recurso da decisão final.

No presente processo, a notícia da falta da gravação da prova pessoal

produzida em audiência só chegou aos autos, depois de estes terem subido em recurso a este Tribunal da Relação, tendo sido nessa sequência que o arguido veio invocar a nulidade correspondente.

(17)

Ora, a partir do momento em que profira despacho de recebimento do recurso interposto da decisão final (sentença ou acórdão), o Juiz da primeira instância deixa de ser, de alguma forma, o «dominus» do processo, incumbindo-lhe apenas tramitar o recurso e fazê-lo subir ao Tribunal Superior.

Nesta perspectiva, não nos repugna que, pelo menos a partir da subida do recurso ao Tribunal «ad quem», a competência para conhecer de questões, que se prendam com a validade do processado, incumbe ao Juiz desse órgão judicial.

De resto, não teria sentido que a continuidade da instância recursiva, que seria necessariamente posta em causa com a eventual declaração de nulidade da audiência de julgamento, ficasse dependente da decisão de um Tribunal de categoria hierarquicamente inferior.

Consequentemente, teremos de concluir é que a este Tribunal da Relação que cabe a competência para conhecer, no actual estado dos autos, da arguição de nulidade da audiência de julgamento, suscitada pelo arguido em requerimento autónomo.

Ainda assim, entendemos que a posição agora assumida é compatível coma orientação jurisprudencial consagrada no Acórdão, nº 13/2014, pelo que não estamos divergir dela.

A tese interpretativa perfilhada no Aresto Uniformizador, a que nos vimos reportando, impõe a todos os sujeitos processuais, e não apenas ao arguido, o ónus de requerer a entrega cópia da gravação dos meios de prova e de se assegurar da sua audibilidade.

A satisfação de tal ónus pode, por ser vezes, mostrar-se difícil, mas não

ofende, em medida essencial, o direito ao recurso, consagrado no nº 1 do art.

32º da CRP, sempre com ressalva do funcionamento de figuras processuais como o justo impedimento, prevista no art. 107º nº 2 do CPP.

Confrontado o processado dos autos, constata-se que o arguido não requereu a entrega de cópia da gravação dos meios de prova pessoal.

Assim sendo, o prazo para o arguido vir invocar a nulidade decorrente da falta da gravação findou, o mais tardar, 10 dias depois do encerramento da

audiência de julgamento, sem prejuízo do período de três dias úteis em que o acto pode ser praticado fora de prazo, mediante pagamento de multa, nos termos do art. 107º-A do CPP

(18)

Como tal, o requerimento, em que arguiu nulidade da audiência, por falta de gravação dos meios de prova pessoal nela produzidos, foi apresentado

extemporaneamente, daí resultando a sanação da invocada nulidade, conforme disposto no art. 121º do CPP.

Uma vez resolvida a questão prévia, passaremos a conhecer das questões em que se desdobra a pretensão recursiva, pela ordem em que as enunciámos, que se nos afigura ser a da prioridade lógica da sua apreciação.

Quanto à arguição da nulidade da audiência de julgamento, alega o recorrente que não foi notificado pessoalmente para comparecer nas sessões desse acto processual efectuadas em 27/2/2008, 25/3/2008 e a da leitura do acórdão, o que, não tendo o arguido estado fisicamente presente nessas sessões, integra a nulidade insanável prevista no art. 119º al. c) do CP, que estatui:

Constituem nulidades insanáveis, que devem ser oficiosamente declaradas em qualquer fase do procedimento, além das que como tal forem cominadas em outras disposições legais:

(…)

c) A ausência do arguido ou do seu defensor, nos casos em que a lei exigir a respectiva comparência;

(…)

Compulsados os autos, verifica-se que foram realizadas sessões da audiência de julgamento nos dias 21/2/2008, 27/2/2008, 25/3/2008 e 21/4/2008, sendo a última a da leitura do acórdão, todas sem a comparência pessoal do arguido.

Só na primeira das sessões efectuadas houve lugar à produção da prova pessoal.

Para notificar o arguido para comparência na sessão realizada no dia

27/2/2008, foi-lhe expedida, para a morada por ele declarada em sede de TIR, carta simples com prova depósito, em 21/2/2008 (fls. 615), a qual foi

depositada, na morada de destino em 26/2/2008 (fls. 653).

Em matéria de notificações por via postal simples, dispõe o nº 3 do art. 113º do CPP:

Quando efectuadas por via postal simples, o funcionário judicial lavra uma cota no processo com a indicação da data da expedição da carta e do domicílio

(19)

para a qual foi enviada e o distribuidor do serviço postal deposita a carta na caixa de correio do notificando, lavra uma declaração indicando a data e

confirmando o local exacto do depósito, e envia-a de imediato ao serviço ou ao tribunal remetente, considerando-se a notificação efectuada no 5.º dia

posterior à data indicada na declaração lavrada pelo distribuidor do serviço postal, cominação esta que deverá constar do acto de notificação.

Atenta a data em que foi depositada, a carta simples remetida ao arguido, para o notificar pessoalmente da data e hora designadas para realização da sessão da audiência de julgamento agendada para 27/2/2008, só pode

presumir-se recebida no quinto dia posterior, ou seja, em 2/3/2008.

Como tal, na data em que realizou o acto processual, para que o arguido foi convocado, o mesmo não podia ainda considerar-se devidamente notificado, em face da lei processual aplicável

Por fim, dos autos não consta qualquer expediente relativo à notificação pessoal do arguido, para comparecer às sessões da audiência realizadas em 25/3/2008 e 21/4/2008.

Em todas as sessões da audiência de julgamento, foi o arguido representado pela ilustre advogada, que então assumia o patrocínio da sua defesa.

Contudo, esse formalismo de «julgamento na ausência» tem como pressuposto validade que o arguido, a nível pessoal, tenha sido regularmente notificado para comparecer, o que, conforme já se verificou, não sucedeu em relação às sessões da audiência de julgamento realizadas nos dias 27/2/2008, 25/3/2008 e 21/4/2008.

Mesmo que pudesse entender-se que a falta de comparência do arguido à sessão de julgamento, em que foi feita a leitura do acórdão, ficou suprida pela notificação pessoal, que posteriormente lhe foi feita desse acto decisório, tal juízo não poderá ser formulado em relação às duas sessões anteriores, durante as quais o arguido sempre poderia ter feito uso de qualquer das prerrogativas que lhe assistem, mormente, a de prestar declarações.

A falta de notificação pessoal do arguido para as sessões da audiência de julgamento, efectuadas nos dias 27/2/2008, 25/3/2008 e 21/4/2008, integra a nulidade processual insanável cominada pelo art. 119º al. c) do CPP,

reconhecendo-se razão ao recorrente.

Sobre os efeitos da declaração de nulidade dispõe o art. 122º do CPP:

(20)

1- As nulidades tornam inválido o acto em que se verificarem, bem como os que dele dependerem e aquelas puderem afectar.

2 - A declaração de nulidade determina quais os actos que passam a considerar-se inválidos e ordena, sempre que necessário e possível a sua repetição, pondo as despesas respectivas a cargo do arguido, do assistente ou das partes civis que tenham dado causa, culposamente, à nulidade.

3- Ao declarar uma nulidade o juiz aproveita todos os actos que ainda puderem ser salvos do efeito daquela.

A nulidade agora detectada afecta necessariamente a validade das sessões da audiência de julgamento em que foi praticada, o acórdão proferido e o recurso dele interposto, com excepção da constituição de mandatários pelos sujeitos processuais.

Com vista ao suprimento da nulidade verificada, importa que a primeira

instância proceda às sessões invalidadas, com notificação pessoal do arguido Nesta conformidade, terá o recurso de proceder, ficando prejudicada a

apreciação das restantes questões suscitadas pelo recorrente.

III. Decisão

Pelo exposto, acordam os Juízes da Secção Criminal do Tribunal da Relação de Évora em:

a) Conceder provimento ao recurso e revogar a decisão recorrida, nos termos das alíneas seguintes;

b) Declarar a nulidade das sessões da audiência julgamento realizadas em 27/2/2008, 25/3/2008 e 21/4/2008 e o processado delas dependente;

c) Após trânsito em julgado, determinar a descida dos autos à primeira instância, a fim de se proceder ao suprimento da nulidade declarada.

Sem custas.

Notifique.

Évora 24/11/20 (processado e revisto pelo relator (Sérgio Bruno Póvoas Corvacho)

(21)

(João Manuel Monteiro Amaro)

Referências

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