• Nenhum resultado encontrado

Mana vol.8 número1

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2018

Share "Mana vol.8 número1"

Copied!
21
0
0

Texto

(1)

A d ive rsid a d e d e e xp e riê n cia s h istórica s n a te n ta tiva d e a d oçã o d o m od e -lo ocid e n ta l d e Esta d o-n a çã o p e -lo m u n d o n ã o-e u rop e u torn ou -se te m a re corre n te n o ca m p o d a s ciê n cia s socia is. O q u e n e m se m p re te m re ce b i-d o a i-d e vii-d a a te n çã o é a com p le xii-d a i-d e i-d os e fe itos i-d e sse p roce sso i-d e con s-tru çã o n a cion a l n o d om ín io lin g ü ístico. Ain d a q u e a lín g u a te n h a sid o con sid e ra d a u m d os p rin cip a is a trib u tos d e d e fin içã o d a n a çã o, p ou co se te m d iscu tid o sob re su a con d içã o e n q u a n to p rod u to d e u m p roce sso p olí-tico q u e im p lica e scolh a s e re e la b ora çõe s d ive rsa s d e g ra n d e im p a cto sociocu ltu ra l. O d ile m a lin g ü ístico vive n cia d o re ce n te m e n te e m C a b o Ve rd e , os d iscu rsos sob re e le e la b ora d os e a s p rop osta s q u e os a com p a -n h a m , b e m com o su a re p e rcu ssã o -n a socie d a d e ca b o-ve rd ia -n a , co-n for-m a for-m o ob je to d e ste a rtig o. A a n á lise d e ssa s q u e stõe s, a lé for-m d e la n ça r u for-m n ovo olh a r sob re o p roce sso d e con stru çã o n a cion a l e m C a b o Ve rd e , b u s-ca con trib u ir p a ra a d iscu ssã o m a is a m p la sob re a in te ra çã o d os d om ín ios d a lín g u a e d o p od e r.

Cabo Verde ent re o port uguês e o crioulo

An te s d e su a d e scob e rta e a g re g a çã o com o p a rte d o Im p é rio C olon ia l Portu g u ê s, o a rq u ip é la g o d e C a b o Ve rd e p a re ce te r se m a n tid o com o u m te rritório d e sa b ita d o. A ch e g a d a d os p ortu g u e se s, n a se g u n d a m e ta d e d o sé cu lo XV, p rop orcion ou a ocu p a çã o d a s ilh a s, com u m con tin g e n te p op u la cion a l e n g rossa d o p e los a frica n os tra zid os d o con tin e n te com o e scra vos. J u n ta m e n te com os colon iza d ore s p ortu g u e se s, a lca n ça va o a rq u ip é -la g o ta m b é m a lín g u a p ortu g u e sa , q u e viria a d e se m p e n h a r u m p a p e l d e d e sta q u e n a con stitu içã o d e ssa socie d a d e n a sce n te .

O p ortu g u ê s, p oré m , log o te ve q u e d isp u ta r e sp a ço com ou tra lín -g u a q u e cre scia e m im p ortâ n cia n o con te xto sin -g u la r d e form a çã o d a

LÍN GUA E PODER: TRAN SCREVEN DO

A QUESTÃO N ACION AL*

(2)

socie d a d e ca b ove rd ia n a . Em u m a situ a çã o d e con ta to e stre ito e p rolon -g a d o e n tre p op u la çõe s d e ori-g e n s d ive rsa s, com lín -g u a s in in te li-g íve is e n tre si, te ve in ício e m C a b o Ve rd e u m p roce sso d e criou liza çã o lin g ü ís-tica . C om o n ã o e xistia m lín g u a s n a tiva s n o a rq u ip é la g o, o criou lo ca b o-ve rd ia n o te ria su rg id o a p a rtir d o p ortu g u ê s, q u e lh e forn e ce ria a b a se le xica l, e d a s lín g u a s d os a frica n os q u e e n tra ra m e m con ta to com os colo-n iza d ore s. É im p ossíve l forcolo-n e ce r h oje u m a e xp lica çã o p re cisa sob re a g ê n e se d o criou lo ca b ove rd ia n o, b e m com o d e tod os os criou los con h e -cid os, cu ja orig e m te m sid o a lvo d e in fin d á ve is d e b a te s. Se g u n d o o ca b o-ve rd ia n o An tón io C a rre ira (1972:344), a lín g u a criou la te ria su rg id o n o p róp rio a rq u ip é la g o n o sé cu lo XVI, m e n os d e cin q ü e n ta a n os a p ós o in í-cio d e se u p ovoa m e n to. Esta h ip óte se te m sid o con te sta d a p or ou tros p e sq u isa d ore s, os q u a is a cre d ita m te r o criou lo n a scid o a in d a n o con ti-n e ti-n te a frica ti-n o, só e ti-n tã o se g u iti-n d o p a ra C a b o Ve rd e ti-n a rota d o trá fico n e g ro (cf. Rou g é 1986). O fa to é q u e , u m a ve z a li con solid a d o, e n con -trou u m im p orta n te e sp a ço d e d e se n volvim e n to, m e sm o q u e su foca d o p or u m a lu ta d e sig u a l com a lín g u a p ortu g u e sa , forta le cid a p e lo p od e r colon ia l.

Ain d a h oje , 26 a n os a p ós a lca n ça r a in d e p e n d ê n cia e m re la çã o a Portu g a l, a p op u la çã o ca b o-ve rd ia n a con tin u a vive n cia n d o n o se u coti-d ia n o e ssa in te ra çã o, p or ve ze s con flitu osa , e n tre a s lín g u a s criou la e p or-tu g u e sa . C om o p u d e con sta ta r d ive rsa s ve ze s d u ra n te m in h a p e sq u isa d e ca m p o e m C a b o Ve rd e , e n tre 1998 e 1999, a u tiliza çã o d e ssa s d u a s lín g u a s e stá fre q ü e n te m e n te p e rm e a d a p or q u e stõe s d e a u torid a d e e re sistê n cia , id e n tid a d e e d istâ n cia socia l. Ap e sa r d a p re se n ça con sta n te d o criou lo n a s a tivid a d e s q u e se d e se n rola m n o d ia a d ia d e ssa p op u la -çã o, o p ortu g u ê s p e rm a n e ce ocu p a n d o lu g a r d e d e sta q u e com o lín g u a oficia l d a Re p ú b lica d e C a b o Ve rd e . O e ve n to a b a ixo, n a rra d o e m criou lo p or T. V. d a Silva , re ve la a lg u n s tra ços d a te n sã o q u e m a rca a in te ra çã o d e ssa s d u a s lín g u a s.

“ Du ra n ti a p re sia son d i a ta d i u n d i k e s se son p a sa d u , u n d ip u ta d u (k i é on

rozu ise son n a u rozu siste m á tik u d i lín g u a n a sion a l la n a Ase n b le ia ) fla m a tra

d u son p a p u rta g e s d i si in te rve n son s fa se k i, e l p róp i, e k a é ra k a p a s d i n te n

-d e si p róp is in te rve n son . An ton , e p u rg u n ta p a m ó-d i k i k a ta tra n sk re b e -d u

p a a ta si in te rve n son s, se n tra d u zi-s p a p u rtu g e s.

Prizid e n ti d i Ase n b le ia ra sp on d e l k u e s in filisid a d i (p a N ’k a fla b a rb a

-rid a d i): ‘Lín g u a ofisia l é p u rtu g e s. N a k u sa s ofisia l [k i, li, d e b e sig in ifik a : n a

(3)

“ Du ra n te a a p re cia çã o d a a ta d e u m a d a q u e la s se ssõe s p a ssa d a s, u m d e p u

-ta d o (q u e é h on rosa e xce çã o n o u so siste m á tico d a lín g u a n acion al lá n a

Asse m b lé ia ) fa lou q u e a tra d u çã o p a ra o p ortu g u ê s d e su a s in te rve n çõe s fe z

com q u e e le p róp rio n ã o fosse ca p a z d e e n te n d e r su a s p róp ria s in te rve n çõe s.

En tã o, e le p e rg u n tou p or q u e n ã o se tra n scre ve p a ra a a ta su a s in te rve n çõe s

se m tra d u zi-la s p a ra o p ortu g u ê s.

O p re sid e n te d a Asse m b lé ia re sp on d e u -lh e com e ssa in fe licid a d e (p a ra

e u n ã o d ize r b a rb a rid a d e ): ‘A lín g u a oficia l é o p ortu g u ê s. N a s coisa s oficia is

[q u e , a q u i, d e ve sig n ifica r: n os d ocu m e n tos oficia is] u sa -se a lín g u a oficial’”

(ê n fa se s m in h a s).

A situ a çã o d e scrita in d ica a con stitu içã o d e d ois ca m p os e m con flito: o d a lín g u a n acion al (isto é , o criou lo) e o d a lín g u a oficial (o p ortu g u ê s). A d e m a n d a d o d e p u ta d o e m q u e stã o p a ra q u e su a s in te rve n çõe s fosse m tra n scrita s p a ra a a ta e m criou lo colocou e m e vid ê n cia a te n sã o p re se n te n a d e lim ita çã o d e sse s d ois ca m p os. Em b ora fosse u m a p rá tica u m ta n to in com u m , com o re ssa lta T. V. d a Silva , o d e p u ta d o a in d a e n con tra va e sp a -ço p a ra u tiliza r o criou lo e m su a s in te rve n çõe s n a Asse m b lé ia N a cion a l. M e sm o q u e se tra ta sse d e u m a a tivid a d e “ oficia l” , a p re d om in â n cia d a ora lid a d e n e ssa s se ssõe s p e rm itia -lh e fa ze r ta l u so. C on tu d o, a o p a ssa r p a ra o p la n o d o d ocu m e n to e scrito — a a ta , im p orta n te sím b olo d e sse u n ive rso oficia l —, n ã o h a via m a is lu g a r p a ra o criou lo. A “ lín g u a n a cio-n a l” p a ssa va , e cio-n tã o, a se r id e cio-n tifica d a com u m ou tro u cio-n ive rso, cocio-n stru íd o e m op osiçã o a o m u n d o d a s “ coisa s oficia is” .

É e m torn o d e sse d ile m a le va n ta d o p e la q u e stã o lin g ü ística e m C a b o Ve rd e q u e se d e se n volve o p re se n te e n sa io. A d iscu ssã o p a rte d a a n á lise d e u m con ju n to d e a rtig os e scritos p or in te le ctu a is ca b o-ve rd ia n os (e n tre os q u a is e stá o d e T. V. d a Silva , d e on d e foi re tira d a a n a rra tiva su p ra ci-ta d a ) e q u e in te g ra m u m a se çã o d a re visci-ta Cu ltu ra (no2, ju lh o d e 1998), in titu la d a “ Dossie r: O Bilin g ü ism o” . Tra ta -se d e cin co a rtig os volta d os, d e m a n e ira g e ra l, p a ra u m a d iscu ssã o a re sp e ito d a situ a çã o lin g ü ística vive n cia d a p e los ca b o-ve rd ia n os e , m a is p re cisa m e n te , p a ra o d e b a te e m torn o d o p roje to d e oficia liza çã o d a lín g u a criou la . Ap e n a s o ú ltim o d os cin co a rtig os, e scrito p or Wla d im ir Brito (1998), e stá d ire cion a d o e xclu si-va m e n te p a ra a q u e stã o d a lu sofon ia , se m a b ord a r a situ a çã o d o criou lo n o a rq u ip é la g o.

(4)

-p ortâ n cia cru cia l, sã o con tin u a m e n te sile n cia d os, o q u e fa vore ce u m a vi-sã o p a rcia l d a s con se q ü ê n cia s d e ta l p olítica lin g ü ística . Por m e io d e ssa a b ord a g e m , p rocu ro d e m on stra r com o u m d iscu rso q u e se a p re se n ta e m con form id a d e com os in te re sse s d a n a çã o ca b o-ve rd ia n a com o u m tod o e stá , d e fa to, e stre ita m e n te re la cion a d o a os in te re sse s d e g ru p os e sp e cí-ficos n o in te rior d e ssa socie d a d e .

O d e b a te sob re a p a d ron iza çã o e a oficia liza çã o d o criou lo a q u i a b or-d a or-d o or-d e m oor-d o a lg u m p oor-d e se r tom a or-d o com o n e u tro e im p a rcia l. A lín g u a é u m locu s p rivile g ia d o d o p roce sso p olítico, d e ta l form a q u e a d iscu ssã o e m torn o d o criou lo e n volve com p le xa s re la çõe s d e p od e r e jog os d e in te re sse , e sp e cia lm e n te q u a n d o se u s in te rlocu tore s sã o e le s p róp rios fa la n -te s d o criou lo. Pa ra in -te g ra r n a a n á lise a q u i e m p re e n d id a os ca m p os d a p olítica e d a lín g u a , p rocu ro u tiliza r com o fe rra m e n ta a n a lítica o con ce ito d e “ id e olog ia s d a lín g u a ” , con form e e la b ora d o n a cole tâ n e a org a n iza d a p or Krosk rity (2000a ). Este con ce ito se fu n d a m e n ta e m q u a tro id é ia s ce n -tra is. Prim e iro, a s id e olog ia s d a lín g u a re p re se n ta m u m a p e rce p çã o sob re a lín g u a e o d iscu rso q u e é con stru íd a con form e os in te re sse s d e u m g ru -p o sociocu ltu ra l e s-p e cífico (Krosk rity 2000b :8). Se g u n d o, a s id e olog ia s d a lín g u a sã o m ú ltip la s, u m a ve z q u e sã o m ú ltip la s a s d ivisõe s socia is sig n i-fica tiva s e a s p e rsp e ctiva s a ssocia d a s a ca d a g ru p o (Krosk rity 2000b :12). É p re ciso u m a a te n çã o e sp e cia l a o con flito e m p ote n cia l e n tre e ssa s d ive rsa s id e olog ia s d a lín g u a . Te rce iro, os m e m b ros d e d e te rm in a d a socie d a -d e -d e tê m -d ife re n te s g ra u s -d e con sciê n cia sob re a s i-d e olog ia s loca is -d a lín g u a (Krosk rity 2000b :18). Por fim , a s id e olog ia s d a lín g u a sã o m e d ia -d ora s e n tre a s e stru tu ra s socia is e os tip os -d e fa la , ou se ja , e la s in -d ica m a lig a çã o e n tre a m u ltip licid a d e d e form a s lin g ü ística s e d iscu rsiva s e a s d ive rsa s e xp e riê n cia s sociocu ltu ra is (Krosk rity 2000b :21). É a p a rtir d e sse con ce ito e se u s d e sd ob ra m e n tos q u e p re te n d o a b ord a r o d iscu rso sob re o b ilin g ü ism o ca b o-ve rd ia n o e la b ora d o p or M a n u e l Ve ig a , M á rio Fon se ca , Tom é V. d a Silva , J osé Lu ís H . Alm a d a e Wla d im ir Brito.

A const rução da nação e a of icialização do crioulo

(5)

ce n á rio m u n d ia l, a p on to d e se torn a r a ca te g oria ce n tra l d e re fe rê n cia p a ra o e xe rcício p le n o d a sob e ra n ia . Dos p a íse s p e rifé ricos, a situ a çã o d e m a n d a va u m a rá p id a a d e q u a çã o a o n ovo m od e lo. C on tu d o, a im p orta -çã o d e ta l m od e lo, e m u m con te xto b a sta n te d ive rso d a q u e le vive n cia d o n a Eu rop a O cid e n ta l, te m e xig id o a a d oçã o d e e stra té g ia s e n e g ocia çõe s sin g u la re s n o p roce sso d e con stru çã o n a cion a l. Em b ora o p roje to ocid e n -ta l d e Es-ta d o-n a çã o se im p on h a com força a e ssa s socie d a d e s, n ã o se ob se rva n e sse p roce sso u m a a p rop ria çã o p a ssiva d a id e olog ia e u rop é ia . H á se m p re u m a re le itu ra d e sse s p roje tos, u m a a rticu la çã o orig in a l d e in te re sse s, a d a p ta d a a ca d a con te xto p a rticu la r.

De n tre os p rob le m a s e n fre n ta d os n o cu rso d e a d oçã o d o m od e lo d e Esta d o-n a çã o g a n h a d e sta q u e a q u e stã o lin g ü ística . A h om og e n e id a d e lin g ü ística n ã o é , com o fa ze m cre r a s id e olog ia s n a cion a is, u m a ca ra cte rís-tica n a tu ra l d a s n a çõe s q u e re m e te a te m p os im e m oria is. A u n id a d e sob u m a só lín g u a é con stru íd a a tra vé s d e u m com p le xo p roce sso. E a ssim co-m o a s p róp ria s n a çõe s d a Eu rop a O cid e n ta l p re cisa ra co-m p a ssa r p or e sse p ro-ce sso d e cria çã o e n a tu ra liza çã o d a h om og e n e id a d e lin g ü ística , ta m b é m os p a íse s q u e im p orta m e sse m od e lo p re cisa m re solve r se u s d ile m a s lin -g ü ísticos in te rn os. Q u e lín -g u a u tiliza r n a e d u ca çã o e n a a d m in istra çã o? C o-m o cria r, p or o-m e io d a lín g u a , a io-m a g e o-m d e u o-m Esta d o ú n ico e in d ivisíve l? N a con stru çã o d a u n id a d e lin g ü ística , é p re ciso a in d a q u e o Esta d o-n a çã o e m form a çã o d e sfru te d e u m a lío-n g u a e scrita d e vid a m e o-n te p a d ron iza d a . Se ria ce rta m e ron te u m a fa lá cia a firm a rm os q u e a e scrita é e sse ron -cia l p a ra o d e se n volvim e n to d e u m a form a d e g ove rn o re la tiva m e n te com p le xa . C on tu d o, p a ra u m tip o p a rticu la r d e Esta d o, o Esta d o b u rocrá -tico, e la se m ostra d e im p ortâ n cia cru cia l. O siste m a b u rocrá tico m od e rn o é a lta m e n te d e p e n d e n te d a e scrita p a ra a re a liza çã o d a s a tivid a d e s a d m i-n istra tiva s, se ja p a ra com u i-n ica r-se à d istâ i-n cia , a rq u iva r ii-n form a çõe s ou m e sm o p a ra d e sp e rson a liza r in te ra çõe s (cf. G ood y 1996:89-92).

(6)

C om isso, a con stru çã o d e C a b o Ve rd e com o n a çã o in d e p e n d e n te te m le -va d o, n o d e corre r d e su a h istória , a d ive rsos m ovim e n tos e te n ta ti-va s d e p a d ron iza çã o d a e scrita d o criou lo d e form a a p ossib ilita r su a a d oçã o com o lín g u a oficia l d o p a ís.

O s p rim e iros p a ssos n a te n ta tiva d e e scre ve r e m criou lo, se g u n d o T. V. d a Silva (1998:117), d ã o-se a in d a n a se g u n d a m e ta d e d o sé cu lo XIX, se n d o a p rim e ira p rop osta d e a lfa b e to p a ra a e scrita d o criou lo d a ta d a d e 1888. De sd e e n tã o, su rg ira m a lg u m a s ou tra s, e m b ora n e n h u m a d e la s te n h a se im p osto d e fin itiva m e n te . É som e n te e m 1994 q u e su rg e , com o p a rte d e u m a p olítica oficia l, o Alfa b e to Un ifica d o p a ra a Escrita d o C a b o-Ve rd ia n o (ALUPEC). Este a lfa b e to é p rop osto p or u m a com issã o cria d a e xclu siva m e n te p a ra e ste fim p e lo De p a rta m e n to d e Lin g ü ística d e C a b o Ve rd e , a ch a m a d a “ C om issã o d e Pa d ron iza çã o”1.

O s a u tore s a q u i a n a lisa d os (à e xce çã o d e Wla d im ir Brito q u e , com o já foi re ssa lta d o, n ã o a b ord a a q u e stã o d o criou lo) se m ostra m d e p le n o a cord o com a im p le m e n ta çã o d o ALUPECe se u s a rtig os con form a m , e m la rg a m e d id a , m a n ife stos e m p rol d a a d oçã o d o m e sm o. Esta se ria u m a e ta p a fu n d a m e n ta l d e u m lon g o p roce sso q u e cu lm in a ria , p or fim , n a ofi-cia liza çã o d o criou lo. Pa ra fra se a n d o T. V. d a Silva (1998:116), só a ssim o p rín cip e se rá coroa d o re i.

Da diglossia ao bilingüismo

O s te xtos q u e com p õe m a se çã o “ Dossie r: O Bilin g ü ism o” re ve la m d e m a n e ira con tu n d e n te a lg u m a s p e rce p çõe s sob re o statu s d o criou lo e d o p ortu g u ê s n o a rq u ip é la g o e a p re se n ta m a lg u m a s su g e stõe s p a ra a solu -çã o d os con flitos q u e su rg e m d a in te ra -çã o d a s d u a s lín g u a s. Um a d a s p rin cip a is id é ia s e xp osta s n os a rtig os — e q u e se re p e te e n tre os d ive rsos a u tore s — é ju sta m e n te a d e scriçã o d a situ a çã o lin g ü ística e m C a b o Ve r-d e com o u m a situ a çã o r-d e coe xistê n cia r-d e r-d ois ca m p os lin g ü ísticos e m op osiçã o. C on form e foi ob se rva d o n o d e b a te q u e te ve lu g a r n a Asse m b lé ia N a cion a l d e C a b o Ve rd e , h á a con form a çã o d e d ois ca m p os d istin -tos e con flitu osos: o d a “ lín g u a oficia l” (o p ortu g u ê s) e o d a “ lín g u a n a cio-n a l” (o criou lo). Am b a s a s ca te g oria s re ssu rg e m cocio-n ticio-n u a m e cio-n te cio-n os d is-cu rsos a q u i a n a lisa d os, d a n d o orig e m a u m a d icotom ia q u e va i p rog re ssi-va m e n te se torn a n d o m a is com p le xa com a a d içã o d e n ovos te rm os n a ca ra cte riza çã o d e sse s d ois ca m p os.

(7)

“ A situ a çã o lin g ü ística e m C a b o Ve rd e ca ra cte riza -se p e la e xistê n cia d e d u a s

lín g u a s com e sta tu tos e fu n çõe s d ife re n cia d os: o p ortu g u ê s é lín g u a oficial e

in te rn acion al e o criou lo é lín g u a n acion al e m ate rn a. Ao p rim e iro e stã o re

se rva d a s a s fu n çõe s d e com u n icação form al: a d m in istra çã o, e n sin o, lite ra tu

ra , ju stiça , m a ssm é d ia . Ao se g u n d o, p e lo se u la d o, e stã o re se rva d a s a s fu n

-çõe s d e com u n icação in form al, p a rticu la rm e n te o d om ín io d a oralid ad e ”

(Ve ig a 1998:95, ê n fa se s m in h a s).

Se o p ortu g u ê s g a n h a força n o d om ín io d a s “ coisa s oficia is” , a tu a n -d o com o ca n a l p rivile g ia -d o n a com u n ica çã o form a l, -d e n tro e fora -d o p a ís, o criou lo e n con tra se u e sp a ço d e d e se n volvim e n to n o d om ín io d a com u n ica çã o in form a l. Associa d a à s a tivid a d e s q u e se d e se n rola m n o d ia a -d ia -d e sse p ovo, a lín g u a criou la se forta le ce com o sím b olo -d a n a çã o ca b o-ve rd ia n a .

A a ssocia çã o e n tre o criou lo e o e sp írito n a cion a l e m C a b o Ve rd e é a in d a m a is in cisiva n o d iscu rso d e T. V. d a Silva . Pa ra o a u tor, a lín g u a criou la e stá in tim a m e n te re la cion a d a à form a çã o d a n a çã o ca b ove rd ia -n a : “ Kau b e rd ia-n u , i-n k u a-n tu lí-n g u a p ap iad u , e ta iz isti d é sd i k i -n a tx o-n d i

n os ilh as tom a k orp u n ason k au b e rd ian u ”2(Silva 1998:116). É p re ciso n ota r q u e a “ n a çã o” a q u i é p e n sa d a n ã o com o u m n ovo Esta d o-n a çã o q u e ve m se n d o p rog re ssiva m e n te con stru íd o a p ós a in d e p e n d ê n cia d e C a b o Ve rd e , m a s com o u m a u n id a d e cu ltu ra l sin g u la r fu n d a m e n ta d a n o u so com u m d a lín g u a criou la . Pe rce b e m os a q u i a força d o criou lo e n q u a n to ju stifica tiva p a ra a id é ia d a e xistê n cia d e u m a n a çã o m u ito a n tig a e m u i-to a n te rior a q u a lq u e r p roje i-to d e con stru çã o d e u m Esta d o m od e rn o. O criou lo su rg e n ã o só com o u m a ca ra cte rística a trib u íd a à n a çã o ca b o-ve r-d ia n a , m a s com o o fa tor ca p a z r-d e su ste n ta r a ir-d é ia r-d a e xistê n cia r-d e ssa n a çã o. J á o p ortu g u ê s a p a re ce n o d iscu rso d e T. V. d a Silva com o u m e le -m e n to e xóg e n o a e ssa n a çã o. Se g u n d o o a u tor, p a ra g ra n d e p a rce la d a p op u la çã o ca b o-ve rd ia n a o p ortu g u ê s é se n tid o e a p re n d id o com o u m a lín g u a e stra n g e ira (Silva 1998:120). E e n q u a n to o p ortu g u ê s va i se n d o con stru íd o com o u m sím b olo d a d om in a çã o cu ltu ra l e stra n g e ira , o criou lo con solid a -se com o u m im p orta n te fa tor d e re sistê n cia cu ltu ra l.

(8)

-ra m m u ita se m e lh a n ça e n tre e la s. Ta l “ h ip óte se m on og e n é tica ” su g e re q u e tod os os criou los form a d os n o con te xto d a e xp a n sã o colon ia l e u ro-p é ia d e riva ria m , d ire ta ou in d ire ta m e n te , d e u m a lín g u a d e con ta to d e b a se p ortu g u e sa . Este p rotop íd g in p ortu g u ê s te ria sid o fru to d o p ion e iris-m o d e Portu g a l n a d e scob e rta e e xp lora çã o d a África , Ásia e Airis-m é rica . Ain d a , os p ortu g u e se s fora m ta m b é m os m a iore s forn e ce d ore s d e e scra -vos p a ra a s colôn ia s d a s ou tra s p otê n cia s e u rop é ia s, o q u e te ria con tri-b u íd o p a ra a d isse m in a çã o d e u m a e sp é cie d e lín g u a fra n ca p ortu g u e sa p e lo m u n d o, torn a n d o-se o m od e lo p a ra tod os os criou los con h e cid os. O u tra cu riosa te n ta tiva d e e xp lica r a s se m e lh a n ça s e n tre os criou los re m e te à e xistê n cia d e u m ja rg ã o n á u tico u sa d o n os n a vios p a ra a com u n ica çã o e n tre m a rin h e iros d e d ife re n te s n a cion a lid a d e s (in g le se s, fra n ce -se s, p ortu g u e -se s, e sp a n h óis e h ola n d e -se s). C om o q u a -se tod os os criou los con h e cid os su rg ira m n o con te xto d a s G ra n d e s N a ve g a çõe s, e sse ja rg ã o n á u tico te ria sid o a b a se sob re a q u a l se form a ra m a s lín g u a s criou la s e p íd g in s3. Pe rce b e m os com isso q u ã o q u e stion á ve l p od e se r a a firm a çã o d o p ote n cia l d o criou lo com o ra iz d e u m p roton a cion a lism o ca b ove rd ia -n o, b e m com o tod a s a s ou tra s te -n ta tiva s, e m co-n te xtos d ive rsos, d e -n a cio-n a liza r a s lício-n g u a s criou la s. Pa rticio-n d o e xclu siva m e cio-n te d a s e vid ê cio-n cia s h istó-rica s com p a ra tiva s, o criou lo se ria m a is u m “ m e io d e a p roxim a çã o” d o q u e u m a “ e vid ê n cia d e se p a ra çã o” . Por ou tro la d o, e sta ob se rva çã o re ve la a força d a a ssocia çã o e n tre o criou lo e o e sp írito n a cion a l ca b ove rd ia n o com o u m a rg u m e n to p u ra m e n te id e ológ ico, se m a n e ce ssid a d e d e fu n d a m e n ta çã o e m e vid ê n cia s h istórica s — com o, a liá s, te m sid o o tra ta m e n -to d a q u e stã o lin g ü ística e m -tod os os con te x-tos d e con stru çã o n a cion a l.

J osé Lu ís H . Alm a d a , ou tro p a rticip a n te d o d e b a te e m q u e stã o, e xp õe d e m a n e ira e xp lícita os e le m e n tos d a d icotom ia q u e , se g u n d o e le , con form a a situ a çã o lin g ü ística n o a rq u ip é la g o. O a u tor su g e re q u e , e m C a b o Ve rd e , h á d ois e sp a ços lite rá rios d istin tos: o p rim e iro é o d a lite ra -tu ra e scrita , tra n sm itid a e m p or-tu g u ê s; o se g u n d o é o d a lite ra -tu ra ora l, tra n sm itid a e m criou lo e p ra tica d a e n tre a m a ioria d a p op u la çã o (Alm a d a 1998:127). Porta n to, o p ortu g u ê s e o criou lo n ã o só re p re se n ta m o con -fron to e n tre a e scrita e a ora lid a d e , m a s ta m b é m e n tre a e lite e u m a m a s-sa p op u la cion a l e n g ross-sa d a p or u m g ra n d e n ú m e ro d e a n a lfa b e tos e se m i-a n a lfa b e tos. E a e ssa d icotom ia se a cre sce n ta a in d a a op osiçã o e n tre a m od e rn id a d e , re p re se n ta d a p e la e scrita d o p ortu g u ê s, e a tra d içã o, sim -b oliza d a p e la lín g u a n a cion a l ca -b o-ve rd ia n a .

(9)

Líng ua Po rtug ue sa Líng ua Crio ula

oficia l m a te rn a

in te rn a cion a l (ou “ e stra n g e ira ” ) n a cion a l

form a l in form a l

e scrita ora lid a d e

o Esta d o (a b u rocra cia ) a n a çã o

d om in a çã o cu ltu ra l re sistê n cia cu ltu ra l

e lite m a ssa s ca b o-ve rd ia n a s

m od e rn id a d e tra d içã o

É p re ciso n ota r q u e a d e lim ita çã o d e sse s d ois ca m p os rig id a m e n te con stru íd os e e m op osiçã o é p a rte d a id e olog ia d a lín g u a q u e in form a os a rtig os a q u i a n a lisa d os. Se ob se rva d a p e la óp tica d a lin g ü ística , a re la -çã o e n tre o criou lo e o p ortu g u ê s e m C a b o Ve rd e con form a u m q u a d ro b e m d istin to. Em p rim e iro lu g a r, o criou lo ca b ove rd ia n o e xib e u m a g ra n -d e va ria çã o g e og rá fica , o q u e p rob le m a tiza o tra ta m e n to a e le con fe ri-d o p e los a u tore s cita d os, q u e o a p re se n ta m com o u m ca m p o e stá tico, cu ja s va ria çõe s in te rn a s sã o p ra tica m e n te a n u la d a s p or u m a a p a re n te u n ifor-m id a d e . Eifor-m se g u n d o lu g a r, a p róp ria id é ia d e op osiçã o e n tre o criou lo e o p ortu g u ê s vê -se con fron ta d a p or u m a re la çã o d e con tin u id a d e e n tre a s d u a s lín g u a s. A situ a çã o lin g ü ística e m C a b o Ve rd e p od e se r d e scrita p or m e io d e u m con tin u u m q u e va i d o criou lo b a sile ta l, a va rie d a d e lin g ü ísti-ca m a is d ista n te d a lín g u a p ortu g u e sa , a té o criou lo a crole ta l, já m u ito se m e lh a n te a o p ortu g u ê s (C ou to 1996:73). Dia n te d e sse q u a d ro, n ã o p od e ría m os tra ta r com p rop rie d a d e d e u m a op osiçã o e n tre o criou lo e o p ortu g u ê s. Q u e ro d e ixa r cla ro, n o e n ta n to, q u e n ã o p re te n d o a q u i fa ze r u m e xe rcício d e a n á lise lin g ü ística , m a s sim su g e rir u m a a b ord a g e m n ã o-lin g ü ística d e fe n ôm e n os n o â m b ito d a lín g u a . É sob re a s p e rce p çõe s con stru íd a s a ce rca d a situ a çã o lin g ü ística e m C a b o Ve rd e e a s q u e stõe s socia is, p olítica s e id e n titá ria s a í e n volvid a s q u e re ca i n osso e n foq u e .

(10)

“ A n orm a liza çã o lin g ü ística , n e ste p a ís, p a ssa p e la liq u id a çã o a p ra zo d a

a ctu a l situ a çã o d e d ig lossia , p e la u tiliza çã o g ra d u a l d o C riou lo n o e n sin o,

p e la su a im e d ia ta u tiliza çã o n os m e ios d e com u n ica çã o e scritos e a u d

iovisu a is, p or u m a p rog re ssiva in te rioriza çã o d a Lín g u a Portu g u e sa (q u e ta m

-b é m fa z p a rte d a n ossa h e ra n ça cu ltu ra l, a o fim e a o ca -b o) p e la s m a ssa s

C a b ove rd ia n a s, o q u e só a con te ce rá , crê m os n ós, q u a n d o o C riou lo ocu p a r o

lu g a r q u e é o se u n a n ossa socie d a d e , e p e la e fe ctiva çã o d e u m b ilin g u ism o

e / ou d e u m m u ltilin g u ism o sã os p orq u e d e scom p le xa d os [...]” (Fon se ca

1998:101-102).

A a d oçã o d o “ b ilin g ü ism o” , con form e e xp osto a cim a , im p lica a a n u -la çã o d a ríg id a d icotom ia con stru íd a e n tre os ca m p os d o p ortu g u ê s e d o criou lo. Em ve z d e u m a re la çã o d e op osiçã o e h ie ra rq u ia , te ría m os d u a s lín g u a s coe xistin d o e m ig u a ld a d e n os m a is d ive rsos d om ín ios d a socie d a d e ca b ove rd ia n a . A a m b a s a s lín g u a s se ria m e ste n d id os n ovos ca m p os d e a tu a çã o. E p a ra a tin g ir ta l situ a çã o, torn a se im p re scin d íve l a p a -d ron iza çã o -d a e scrita -d o criou lo e su a oficia liza çã o, -d e ta l form a q u e o criou lo a lca n ce , e n fim , p rivilé g ios a té e n tã o re stritos a o p ortu g u ê s. A p a r-tir d e ssa re con fig u ra çã o d o con te xto lin g ü ístico te ria orig e m u m n ovo criou lo, e scrito, m od e rn o e a tu a n te (Alm a d a 1998:130).

Por trá s d e ssa p rop osta , p e rce b e se u m a id e olog ia q u e su g e re a re la -çã o d e ig u a ld a d e e n tre o criou lo e o p ortu g u ê s com o sím b olo, p or fim , d a ca b o-ve rd ia n id a d e . A p re se rva çã o d e a m b a s a s lín g u a s é vista com o a p re se rva çã o d a h istória n a cion a l ca b o-ve rd ia n a .

“ Foi ce rta m e n te p re ciso, p a ra q u a n tos d e n ós, q u e ce d o tive m os u m con ta

cto a ssíd u o e ín tim o com a lín g u a p ortu g u e sa , a lg u m e sforço e a lg u m a re fle

-xã o, p a ra , a ssu m in d o p le n a m e n te a s d ive rsa s coord e n a d a s d a n ossa p e

rson a lid a d e e d o rson osso d e vir cole tivos, ch e g a rm os h oje à s corson clu sõe s a q u i a va rson

ça d a s [...] q u e e m a n a m d e u m q u e re r a ssu m ir, d e u m a ve z p or tod a s, a tota

lid a d e d a n ossa h e ra n ça , lib e rta n d on os d o p re con ce ito m a n iq u e ista g e ra

-d or -d o fa lso -d ile m a : g u a r-d a r o criou lo e p e r-d e r o p ortu g u ê s ou g u a r-d a r o p

or-tu g u ê s e a ssa ssin a r o criou lo, con tra ria n d o o le n to e lon g o ca m in h a r d a ca b

o-ve rd ia n id a d e ” (Fon se ca 1998:99).

(11)

a u tore s p e rte n ce n te s à e lite ca b o-ve rd ia n a e , p orta n to, já e m re la çã o e s-tre ita com o p ortu g u ê s, é m u ito m a ior a ê n fa se n a oficia liza çã o d o criou lo. Pa ra u m g ru p o q u e já te m o p ortu g u ê s b a sta n te p re se n te n o se u d ia a -d ia , e m su a s a tivi-d a -d e s p rofission a is e p or ve ze s a té m e sm o n o coti-d ia n o d om é stico, a lu ta p e la con stru çã o d a sin g u la rid a d e ca b o-ve rd ia n a g a n h a m a is im p a cto a tra vé s d a p rop osta d e a ssu m ir e org u lh a r-se d a “ lín g u a n a cion a l” . Ta l tom a d a d e p osiçã o fica a in d a m a is cla ra n a e scolh a d e d ois d os a u tore s — Silva e Alm a d a — p e la e scrita d os se u s a rtig os e m criou lo, re força n d o su a lu ta n e ssa d ire çã o. Ap e n a s Wla d im ir Brito (1998), n o ú ltim o a rtig o d a se çã o, ve ltim re força r a n e ce ssid a d e d e e xte n sã o d o p ortu -g u ê s a tod os os cid a d ã os ca b o-ve rd ia n os. Assim , e le s p od e rã o p a rticip a r d a com u n id a d e lu sófon a , ou tra im p orta n te tota lid a d e q u e é e sp e lh o d e u m p a ssa d o e n g ra n d e cid o, o Im p é rio C u ltu ra l Portu g u ê s. O b ilin g ü ism o é a ú n i-ca m a n e ira d e o p ovo i-ca b o-ve rd ia n o a tin g ir e sse d u p lo p e rte n cim e n to.

A op osiçã o e n tre o criou lo e o p ortu g u ê s, se g u id a p e la b u sca d e d issolu çã o d e ssa d icotom ia , p od e ta m b é m se r in te rp re ta d a com o u m p rod u -to d a s d ificu ld a d e s e n con tra d a s n o p roce sso d e con stru çã o d o Esta d o-n a çã o ca b o-ve rd ia o-n o, coo-n form e o m od e lo e la b ora d o o-n o oe ste e u rop e u . A ru p tu ra con stru íd a e n tre a lín g u a oficia l e a lín g u a n a cion a l, e n tre o u n i-ve rso d a s “ coisa s oficia is” e o u n ii-ve rso n a cion a l ca b o-i-ve rd ia n o, re i-ve la u m cu rioso d ista n cia m e n to e n tre o Esta d o b u rocrá tico e a n a çã o. A op siçã o e n tre o p ortu g u ê s e o criou lo sim b oliza , e m ú ltim a in stâ n cia , a op o-siçã o e n tre o Esta d o e a n a çã o, q u e se a p re se n ta com o u m a e sp é cie d e a b e rra çã o e m fa ce d o m od e lo im p orta d o d o m u n d o ocid e n ta l. Se g u n d o o m od e lo d e org a n iza çã o socia l, p olítica , e con ôm ica e cu ltu ra l d os p a íse s d a Eu rop a O cid e n ta l, o Esta d o e a n a çã o d e ve m n e ce ssa ria m e n te a n d a r ju n tos. O p roce sso d e con stru çã o n a cion a l é a e ta p a fin a l d e u m lon g o p roce sso d e con stitu içã o d o Esta d o (cf. Elia s 1972:C ), n o q u a l, Esta d o e n a çã o d e ve m com p or u m a e sp é cie d e sim b iose , tra ço d istin tivo d a com u -n id a d e p olítica m od e r-n a . M a s e m C a b o Ve rd e , e m lu g a r d e u m Esta d o-n a çã o, os d iscu rsos a q u i a o-n a lisa d os p a re ce m re ve la r a coo-n stitu içã o d e u m

Estad o x n ação. A p rop osta d e u m a p olítica d e oficia liza çã o d o criou lo

(12)

Em busca de um crioulo-padrão

A su g e stã o a p re se n ta d a n o “ Dossie r: O Bilin g u ism o” p a ra a re con fig u ra çã o d a situ a çã o lin g ü ística e m C a b o Ve rd e te m com o con d içã o fu n d a -m e n ta l p a ra a su a e fe tiva çã o a p a d ron iza çã o d o a lfa b e to e d a e scrita d a lín g u a criou la , ob je tivo e ste a se r a lca n ça d o com a im p le m e n ta çã o d o

ALUPEC. O id e a l d e u m a lín g u a ca b o-ve rd ia n a p a d rã o, q u e p e rp a ssa a e la b ora çã o d e ta l p olítica lin g ü ística , im p lica , p orta n to, d u a s tra n sform a -çõe s e sse n cia is n a lín g u a criou la . Prim e iro, e la d e ve d e ixa r d e se r u m a lín g u a e xclu siva m e n te ora l, p a ssa n d o a a tu a r ta m b é m n o d om ín io d a e scrita . Se g u n d o, e sse n ovo criou lo-p a d rã o d e ve rá se sob re p or à m u ltip licid a d e d e va ria n te s d a lín g u a h oje e n con tra d a s ltip or tod o o a rq u iltip é la g o, con stitu in d ose com o u m n ovo sím b olo d e u n id a d e n o p a ís. E n ã o a p e n a s a u n ifica çã o e a ca p a cid a d e d e e scrita e sta ria m con te m p la d a s n a lín g u a p a d rã o; va lore s com o a e ficiê n cia , a fu n cion a lid a d e e a ra cion a lid a -d e ta m b é m se ria m crité rios cu i-d a -d osa m e n te ob se rva -d os n a cria çã o -d o n ovo criou lo (Ve ig a 1998:96).

A ê n fa se e m u m p roje to q u e p rioriza a p a d ron iza çã o, a h om og e n e i-za çã o e a siste m a ticid a d e n a e scrita d o criou lo é ju stifica d a p e los a u tore s a tra vé s d e u m a sé rie d e a rg u m e n tos. Fon se ca (1998:106107), p or e xe m -p lo, d e sta ca vá rios -p la n os e m q u e se m a n ife sta a n e ce ssid a d e d e -p a d ro-n iza çã o d o criou lo: 1) ro-n o p la ro-n o p rá tico, a líro-n g u a -p a d rã o e vita ria u m a situ a çã o e xtre m a m e n te com p lica d a e on e rosa q u e se ria cria d a ca so se op ta sse p e la a d oçã o d e u m a lfa b e to p a ra ca d a va ria n te d o criou lo; 2) n o p la -n o p olítico, a p a d ro-n iza çã o se ria u m im p orta -n te fa tor -n a p re se rva çã o d a u n id a d e n a cion a l; 3) n os p la n os fin a n ce iro, té cn ico, p e d a g óg ico e org a n iza cion a l, a a d oçã o d e u m lín g u a ú n ica im p lica ria cu stos sig n ifica tiva m e n -te m e n ore s. Ta is a rg u m e n tos n ã o e sg ota m , p oré m , a e xp lica çã o p a ra a a d oçã o d e u m a p olítica lin g ü ística d e p a d ron iza çã o d o criou lo. É p ossíve l ob se rva r p or trá s d e ssa d iscu ssã o ou tra s im p orta n te s q u e stõe s q u e con -form a m , e m ú ltim a in stâ n cia , a s id e olog ia s d a lín g u a q u e fu n d a m e n ta m os d iscu rsos e m p rol d e u m criou lo e scrito e d e vid a m e n te p a d ron iza d o.

(13)

O u tra im p orta n te q u e stã o a se r con sid e ra d a é q u e , e m b ora o d iscu rso e la b ora d o p e los a u tore s a q u i a n a lisa d os p re con ize a re d u çã o d a h e te -rog e n e id a d e lin g ü ística e socia l, p re se rva n d o a u n id a d e n a cion a l, e le a ca b a p or p rod u zir e re p rod u zir im p orta n te s fa tore s d e d e sig u a ld a d e socia l. A p rim a zia con ce d id a à e scrita p a d ron iza d a e a tod os os va lore s a e la a ssocia d os te m con se q ü ê n cia s sig n ifica tiva s p a ra a con fig u ra çã o d a s re la çõe s d e p od e r n o in te rior d a socie d a d e ca b o-ve rd ia n a .

Se n os a tive rm os à s p rop osiçõe s d a se m iótica d e C . S. Pe irce , p od e m os a tin g ir u m n ovo olh a r sob re o con tra ste e sta b e le cid o e n tre a ora lid a -d e e a e scrita e sob re a s con se q ü ê n cia s -d e u m a va loriza çã o -d e sta ú ltim a e m re la çã o à p rim e ira . A te rm in olog ia se m iótica d e Pe irce d istin g u e trê s ca te g oria s fe n om e n ológ ica s. De m a n e ira u m ta n to su cin ta , o a rg u m e n to d o a u tor é q u e q u a lq u e r coisa q u e se ja ca p a z d e se a p re se n ta r à con te m -p la çã o te m trê s a s-p e ctos: a “ Prim e irid a d e ” (Firstn e ss), a “ Se cu n d id a d e ” (S e con d n e ss) e a “ Te rce irid a d e ” (Th ird n e ss) (cf. Da n ie l 1996:81). A Pri-m e irid a d e é a ssocia d a à p ote n cia lid a d e , a Se cu n d id a d e é a ssocia d a à e xistê n cia re a l e a Te rce irid a d e à g e n e ra lid a d e . C on ce n tre m o-n os a q u i n os d ois ú ltim os. O s “ Se g u n d os” fe n om e n ológ icos sã o ca ra cte riza d os p e la re a lid a d e , o a q u i e a g ora e o con te xto. J á os “ Te rce iros” fe n om e n o-lóg icos sã o ca ra cte riza d os p e la ra cion a lid a d e , a con ve n çã o, a p re cisã o, a u n ive rsa lid a d e , a p a d ron iza çã o, a a u torid a d e e a e ficiê n cia . Pa ssa n d o a g ora p a ra a q u e stã o lin g ü ística , p od e m os ob se rva r q u e a e scrita te n d e a se r u m Te rce iro fe n om e n ológ ico, e n q u a n to a ora lid a d e te n d e a se r u m Se g u n d o fe n om e n ológ ico. É ce rto q u e ta is d istin çõe s só p od e m se r p e n -sa d a s e m te rm os d e d ife re n te s ê n fa se s. N ã o h á p ossib ilid a d e a lg u m a d e e xistê n cia d e u m a lín g u a ora l se m q u e h a ja con ve n çã o e p a d ron iza çã o; d a m e sm a form a , n ã o h á u m a lín g u a e scrita q u e n ã o p a rtilh e d e a lg u m a m a n e ira d e u m a re la çã o com o con te xto, o a q u i e a g ora . Poré m , o ca rá te r con ve n cion a l, com su a con stâ n cia , in va ria b ilid a d e , e sta b ilid a d e , fixid e z e re g u la rid a d e , é m u ito m a is e n fa tiza d o n a e scrita d o q u e n a ora lid a d e ; d a m e sm a form a , a flu id e z, a va ria b ilid a d e , a fle xib ilid a d e e a con tin g ê n cia q u e ca ra cte riza m a Se cu n d id a d e m ostra m -se m a is p re se n te s n o d om ín io d a ora lid a d e .

(14)

-d e , a u n ive rsa li-d a -d e , a ig u a l-d a -d e e a ju stiça . Sã o va lore s q u e re m e te m d ire ta m e n te à h e g e m on ia d o m od e lo ocid e n ta l d e org a n iza çã o socia l e q u e , p orta n to, se m ostra m com e sp e cia l im p ortâ n cia e m u m d iscu rso q u e p rom ove a a d oçã o d o p roje to ocid e n ta l d e Esta d o-n a çã o. Da m e sm a for-m a , a ê n fa se n a Te rce irid a d e p od e se r vista cofor-m o a re tofor-m a d a d a força h e g e m ôn ica d o p róp rio g ru p o a o q u a l p e rte n ce m os a u tore s, ou se ja , o g ru p o q u e d e té m o con trole sob re a e scrita e q u e e stá a ssocia d o a os va lo-re s d e ra cion a lid a d e , p lo-re cisã o, e ficiê n cia e u n ive rsa lid a d e .

A p a ssa g e m d o criou lo p a ra o d om ín io d a e scrita é u m a tra n sform a -çã o d e g ra n d e in flu ê n cia n a p e rp e tu a -çã o d o p od e r e xe rcid o p e la e lite ca b o-ve rd ia n a . A e scrita n ã o é u m a te cn olog ia n e u tra ; e la é u m fa tor e sse n cia l n a cria çã o d e h ie ra rq u ia s. O con trole d a te cn olog ia d e e scrita p or a -p e n a s u m a -p a rce la d a -p o-p u la çã o in flu i se n sive lm e n te n a d istrib u içã o d o p od e r e n tre os vá rios e le m e n tos d e u m a socie d a d e p a rticu la r, p rivile g ia n -d o os g ru p os q u e tê m a ce sso a e ssa te cn olog ia e m -d e trim e n to -d os -d e m a is. O b se rva -se , a ssim , q u e a cria çã o d e u m criou lo-p a d rã o, a o in vé s d e fa vore ce r a h om og e n e id a d e , a n e u tra lid a d e e a d e m ocra tiza çã o d a lín -g u a n a cion a l, p e rp e tu a a n ti-g a s d e si-g u a ld a d e s socia is4. O d om ín io q u e a e lite ca b ove rd ia n a já e xe rce sob re a lín g u a p ortu g u e sa p a ssa a se e ste n -d e r ta m b é m à lín g u a criou la e scrita . A p róp ria i-d é ia -d e form a r u m a “ C om issã o d e Pa d ron iza çã o” , com o ob je tivo d e cria r u m a lfa b e to u n ifi-ca d o p a ra a e scrita d o criou lo, é fu n d a m e n ta l n e sse p roce sso. A lín g u a criou la , q u e já é u m a re a lid a d e e m sé cu los d e h istória d o p ovo ca b o-ve r-d ia n o, é e n tã o re con stru ír-d a e re orr-d e n a r-d a se g u n r-d o os crité rios r-d e ssa com issã o. C ocom su a fixa çã o n a e scrita , o n ovo criou lo, re cria d o p or u com a p a -ra to e sta ta l, p a ssa a se r u m criou lo “ d om e stica d o” . At-ra vé s d e ssa re a p ro-p ria çã o d a lín g u a criou la ro-p e lo Esta d o, e fe tu a -se u m a ro-p rofu n d a m u d a n ça : o criou lo, a n te s a ssocia d o à s “ m a ssa s ca b ove rd ia n a s” , é a g ora a ssim ila -d o e su b or-d in a -d o p e la s in stitu içõe s -d o Esta -d o e p e la s i-d e olog ia s -d a e lite ca b ove rd ia n a . O m on op ólio d a e lite sob re o sím b olo d o Esta d o (o p ortu -g u ê s) ve m som a r-se a o m on op ólio sob re o sím b olo d a n a çã o (o criou lo).

Igual, mas separado

(15)

“ Pa ra m u itos n a cion a is q u e , n o fu n d o, se con te n ta ria m d e u m e sta tu to d e

va ssa la g e m p olítica p a ra C a b o Ve rd e , u m a lfa b e to d o C riou lo q u e n ã o se ja

u m a cóp ia d e ca lcóm a n a d o a lfa b e to p ortu g u ê s é u m a p u ra a b e rra çã o te cn

o-crá tica e u m a ru p tu ra com a ‘n ossa ’ tra d içã o. O ra , é sa b id o q u e n a re la çã o

C riou lo/ Portu g u ê s é o p rim e iro q u e se d e ve (d a d o o p a re n te sco) d e fe n d e r

p a ra n ã o p e re ce r. Isso sig n ifica q u e o a lfa b e to a se r a d op ta d o d e ve p e rm itir

u m a DIFEREN C IAÇ ÃO VISUALim e d ia ta , n ã o p od e n d o p ois p or e ssa ra zã o e

p or d ive rsa s ou tra s q u e tê m a ve r com a e stru tu ra p rofu n d a d o C riou lo, se r

u m a cóp ia d o a lfa b e to d a Lín g u a Portu g u e sa [...]” (Fon se ca 1998:102).

O cu id a d o com a e scolh a d a lóg ica ortog rá fica q u e orie n ta rá a p a d ron iza çã o d a e scrita d o criou lo e ron volve m u ito m a is d o q u e u m a p re ocu p a -çã o com a p re se rva -çã o d a lín g u a criou la e com a su a oficia liza -çã o, e m p é d e ig u a ld a d e com o p ortu g u ê s. O d e b a te e m torn o d a q u e stã o lin g ü ística e n volve d ire ta m e n te q u e stõe s re la cion a d a s à id e n tid a d e socia l. Se a con s-tru çã o d a id e n tid a d e ca b o-ve rd ia n a se d á p or u m p roce sso d e op osiçã o a u m O u tro — se ja e le o p ortu g u ê s, o a frica n o ou a m b os —, o m e sm o se d á com a con stru çã o d a lín g u a criou la . N os te rm os d e Fon se ca , é p re ciso e sta b e le ce r u m a “ d ife re n cia çã o visu a l im e d ia sta ” e n tre o p ortu g u ê s e o criou lo, d e form a a coloca r e m e vid ê n cia a fron te ira e n tre a s d u a s lín g u a s e , p a ra -le la m e n te , e n tre a s d u a s com u n id a d e s p olítica s — Portu g a l e C a b o Ve rd e . A su g e stã o d os a u tore s p a ra a lca n ça r e ssa d ife re n cia çã o im e d ia ta é a a d oçã o d e u m a ortog ra fia d e b a se fon ológ ica n a p a d ron iza çã o d a e scrita d o criou lo. C on form e e sse m od e lo, a ca d a fon e m a se a ssocia u m g ra fe -m a e vice -ve rsa . O crité rio fu n d a -m e n ta l n a d e te r-m in a çã o d e u -m a le tra n ã o é su a b a se e tim ológ ica , m a s sob re tu d o su a fu n çã o lin g ü ística . Ta l m od e lo ortog rá fico n ã o se ria a p e n a s m a is “ fu n cion a l” e “ e con ôm ico” , com o a rg u m e n ta Ve ig a (1998:97), se ria ta m b é m d e im p ortâ n cia cru cia l p a ra sin g u la riza r a lín g u a criou la , u m a ve z q u e p rom ove u m a ru p tu ra com su a s ra íze s n a lín g u a p ortu g u e sa . É a tra vé s d e sse d ista n cia m e n to e m re la çã o a o p ortu g u ê s q u e o criou lo p od e rá se con solid a r e n q u a n to lín -g u a ori-g in a l. E com o p od e m os ob se rva r n o d iscu rso d e Fon se ca cita d o a cim a , n ã o a p e n a s a lín g u a criou la e stá e m jog o n e sse p roce sso, m a s a p róp ria a firm a çã o d a sob e ra n ia d o Esta d o-n a çã o ca b o-ve rd ia n o.

Onde os discursos const roem o silêncio

(16)

p rim e iro lu g a r, n e n h u m a re fle xã o é d e se n volvid a a re sp e ito d a s q u e stõe s p olítica s e n volvid a s n a e scolh a d e u m m od e lo ú n ico d e criou lo. C on form e a su g e stã o d os a u tore s, a n ova lín g u a p a d rã o d e ve se r ca p a z d e re p re -se n ta r tod a s a s va ria n te s d o criou lo q u e -se e n con tra m d isp e rsa s p e lo a rq u ip é la g o, con trib u in d o a ssim n ã o a p e n a s p a ra a u n ifica çã o d e ssa s va ria n te s, m a s ta m b é m p a ra a u n ifica çã o n a cion a l. Essa id e olog ia d a u n i-fica çã o, fu n d a m e n ta d a n a h om og e n e id a d e lin g ü ística , ve m d e e n con tro a u m a re a lid a d e ca ra cte ristica m e n te m a rca d a p e la p lu ra lid a d e , com o é o ca so d o con te xto ca b o-ve rd ia n o. E a lé m d e fa vore ce r o a n iq u ila m e n to d e ssa p lu ra lid a d e , a a d oçã o d e u m a lín g u a ú n ica , p a d ron iza d a , im p lica a in d a a e scolh a d e u m m od e lo q u e d e ve rá se sob re p or a tod os os ou tros, p rom ove n d o a h ie ra rq u iza çã o d a s va rie d a d e s lin g ü ística s.

Um a sé rie d e q u e stõe s log o se coloca d ia n te d e ssa situ a çã o: q u a l va ria n te d o criou lo tom a r com o b a se n a con stru çã o d a lín g u a -p a d rã o? q u a l va ria n te se ria m a is re p re se n ta tiva ? q u a is crité rios u tiliza r n a e scolh a d e sse m od e lo lin g ü ístico? N e n h u m a d a s p ossíve is re sp osta s a e sta s q u e s-tõe s é tota lm e n te n e u tra . A e le içã o d e q u a lq u e r d a s a lte rn a tiva s e sta rá ce rta m e n te fu n d a m e n ta d a e m u m jog o d e in te re sse s e re su lta rá se m p re e m u m a re con fig u ra çã o d a s re la çõe s d e p od e r. A op çã o p or d e te rm in a d o m od e lo im p lica a va loriza çã o d e u m a va ria n te lin g ü ística e m d e trim e n to d a s ou tra s, e o p a d rã o h e g e m ôn ico a p oia d o p e lo Esta d o se m p re b e n e fi-cia rá a lg u m g ru p o sofi-cia l e m p a rticu la r. O g ru p o com m a ior p roxim id a d e e m re la çã o à va ria n te d o criou lo e le ita com o m od e lo te rá se g u ra m e n te m a iore s p rivilé g ios. Pa ra o re sta n te d a p op u la çã o, a lín g u a -p a d rã o se d is-ta n cia rá d e su a lín g u a n a tiva , o q u e p od e se torn a r u m a d e sva n is-ta g e m sig n ifica tiva , e sp e cia lm e n te n a e d u ca çã o e scola r.

(17)

h ip óte se cu id a d osa m e n te con sid e ra d a n a im p le m e n ta çã o d e ta l p olítica lin g ü ística .

A p a ssa g e m d a ora lid a d e p a ra a e scrita im p lica a in d a ou tro d ile m a , ta m b é m sile n cia d o p e los a u tore s. Tra ta -se d a q u e stã o d a a u torid a d e . A im p le m e n ta çã o d a e scrita d o criou lo p od e re su lta r n a im p osiçã o d e u m m od e lo “ u n ivoca l” e m u m con te xto orig in a lm e n te “ p lu rivoca l” n o q u e se re fe re à s n a rra tiva s sob re a h istória e a id e n tid a d e ca b ove rd ia n a s. A va -ria b ilid a d e e a d in â m ica ca ra cte rística s d a s cu ltu ra s ora is p ossib ilita m a p re se rva çã o d e u m con te xto rico e m su a d ive rsid a d e . A ora lid a d e te n d e a fa vore ce r a coe xistê n cia d e u m a m u ltip licid a d e d e n a rra tiva s n a con stru -çã o d a m e m ória , d a id e n tid a d e e d a p róp ria n a -çã o. A a d o-çã o d a e scrita ve m m od ifica r p rofu n d a m e n te e ste q u a d ro. C om e la , é in trod u zid o ta m -b é m u m n ovo crité rio d e a u torid a d e e in stitu íd a u m a visã o ú n ica , m on olí-tica , e xclu sivista . O p od e r d e con trola r a ve rd a d e torn a -se e stre ita m e n te a ssocia d o a o a ce sso à te cn olog ia d a e scrita . O d ocu m e n to e scrito su b stitu i a m e m ória e tra n sform a -se e m fon te d e e vid ê n cia e le g itim id a d e . Tu d o o q u e se d e svia d o te xto e scrito te n d e a se r visto com o n ã o a u tê n tico e , p or-ta n to, a se r sile n cia d o. De ssa form a , o te xto e scrito re d e fin e a h istória , a id e n tid a d e e a ve rd a d e (cf. Tra ja n o Filh o 1993; Trou illot 1995).

N ã o p od e m os e sq u e ce r q u e a p op u la çã o ca b o-ve rd ia n a já vive n cia u m a re a lid a d e se m e lh a n te n o q u e d iz re sp e ito a o u so d a lín g u a p ortu -g u e sa . Pre va le ce n d o n o d om ín io d a e scrita o p ortu -g u ê s, os -g ru p os com a ce sso a e ssa lín g u a já e xe rce m u m con trole sig n ifica tivo n o q u e se re fe -re à p rod u çã o d e n a rra tiva s h istórica s. A h istória d a “ n a çã o criou la ” é con ta d a , e m la rg a m e d id a , e m lín g u a p ortu g u e sa . M a s a coe xistê n cia d o criou lo e n q u a n to lín g u a ora l p ossib ilita a form a çã o d e u m ou tro ca m p o, p a ra le lo, on d e a a u torid a d e se vê su je ita a q u e stion a m e n tos, a b rin d o e sp a ço p a ra u m a m a ior d in â m ica n a d iscu ssã o sob re a form a çã o d a m e -m ória , d a id e n tid a d e e , e -m ú lti-m a in stâ n cia , d a n a çã o ca b o-ve rd ia n a . C om a e fe tiva çã o d o p roje to d e fixa çã o d o criou lo n a e scrita , p ossib ilita -se , p or u m la d o, a e xistê n cia d e u m a h istória ca b o-ve rd ia n a p rod u zid a e re g istra d a e m criou lo; p or ou tro, te n d e a h a ve r ta m b é m u m a d issolu çã o d e sse ca m p o a lte rn a tivo e d in â m ico d a ora lid a d e e a con solid a çã o d e u m m od e lo u n ivoca l n a con stru çã o d a ca b o-ve rd ia n id a d e .

(18)

De ve m os ob se rva r, p oré m , q u e os a rtig os a n a lisa d os se fu n d a m e n ta m , e m ú ltim a in stâ n cia , e m u m d iscu rso d e con stru çã o d a n a çã o ca b o-ve rd ia n a . N e sse se n tird o, a s rd e sva n ta g e n s rd o criou lo rd e ve m se r cu ird a rd osa m e n te e n cob e rta s, re ssa lta n d ose a p e n a s su a g ra n d iosid a d e e im p ortâ n -cia p a ra a form a çã o d o Esta d o-n a çã o ca b o-ve rd ia n o.

Considerações f inais

As q u e stõe s a b ord a d a s n e ste e n sa io n ã o se p re te n d e m , d e m a n e ira a lg u -m a , a fir-m a çõe s fe ch a d a s. Tra ta -se a p e n a s d e re fle xõe s q u e , p a rtin d o d a a n á lise d e a rtig os p rod u zid os p or a u tore s ca b o-ve rd ia n os, a p on ta m p a ra u m a sé rie d e p ossib ilid a d e s e m re la çã o à situ a çã o lin g ü ística vive n cia d a e m C a b o Ve rd e .

C on tu d o, d ois p on tos d e im p ortâ n cia m a is g e ra l m e re ce m se r d e sta -ca d os. Em p rim e iro lu g a r, a s d iscu ssõe s q u e con stitu e m o p re se n te a rtig o re força m a n e ce ssid a d e d e se d e se n volve r u m n ovo olh a r sob re a q u e s-tã o lin g ü ística , d e form a a con fron ta r os ca m p os d a lín g u a , d a p olítica e d a id e n tid a d e . A re la çã o p rofu n d a e n tre e sse s trê s d om ín ios, com o p ôd e se r ob se rva d o n a a n á lise d o ca so ca b o-ve rd ia n o, e xig e u m a a b ord a g e m tota liza n te , se m a e xclu sã o d e q u a lq u e r d e sse s ca m p os.

Por fim , a s d iscu ssõe s ta m b é m a p on ta m p a ra a n e ce ssid a d e d e a b or-d a r os p roce ssos or-d e con stru çã o n a cion a l com o p roor-d u tos or-d e com p le xa s or-d is-p u ta s d e in te re sse s. É is-p re ciso re ssa lta r q u e a a is-p rois-p ria çã o d o m od e lo oci-d e n ta l oci-d e Esta oci-d o-n a çã o n ã o se fa z oci-d e form a p a ssiva , e xig in oci-d o a m p la s n e g ocia çõe s e a d a p ta çõe s a ca d a con te xto p a rticu la r. E e sse s con te xtos n ã o p od e m se r vistos com o b locos re la tiva m e n te h om og ê n e os, a g in d o e m p rol d e u m ob je tivo com u m . De ve m , sim , se r e n ca ra d os com o con fig u ra -çõe s sin g u la re s d e te n sõe s in te rn a s, orig in a d a s n a in te ra çã o e n tre u m a d ive rsid a d e d e g ru p os, com in te re sse s d ive rg e n te s e con corre n te s. É som e n te a tra vé s d a d isp u ta e n tre e sse s d ife re n te s g ru p os e d a re con fig u -ra çã o d a s re la çõe s d e p od e r q u e o p roje to ocid e n ta l d e Esta d o-n a çã o va i se n d o a p rop ria d o. O Esta d o-n a çã o n ã o se e rg u e sob re u m a tota lid a d e h om og ê n e a , m a s é con stru íd o sob re h ie ra rq u ia s e sta b e le cid a s a o lon g o d e u m com p le xo p roce sso d e form a çã o n a cion a l.

Re ce b id o e m 1od e ju n h o d e 2001

(19)

Not as

* Ag ra d e ço à p rofe ssora M a riza Pe ira n o e a os p a re ce rista s a n ôn im os d e

M an a p e la s le itu ra s e su g e stõe s a e ste a rtig o.

1 Até o m om e n to d e p u b lica çã o d os a rtig os a n a lisa d os n e ste e n sa io, o ALUPEC

a in d a n ã o h a via sid o in stitu cion a liza d o. In fe lizm e n te , n ã o d isp on h o d e d a d os sob re a situ a çã o a tu a l.

2 “ O ca b o-ve rd ia n o, e n q u a n to lín g u a fa la d a , e xiste d e sd e q u e n o ch ã o d e

n ossa s ilh a s tom ou corp o a n a çã o ca b o-ve rd ia n a .”

3 Pa ra m a iore s in form a çõe s a re sp e ito d e sta s e a in d a ou tra s h ip óte se s sob re

a g ê n e se d os p íd g in s e criou los, ve r C ou to (1996).

4 A a n á lise d e Errin g ton (2000) sob re a cria çã o d a lín g u a in d on é sia p a d rã o

ta m b é m re ve la u m p roce sso e m q u e o d e se n volvim e n to d e u m a n ova lín g u a re p ro-d u z ve lh os m a rca ro-d ore s ro-d e ro-d istâ n cia socia l.

(20)

Ref erências bibliográf icas

ALM ADA, J osé Lu ís H . 1998. “ N h a Bib -in h a Ka b ra l – Bid a y O b ra ” . Cu ltu ra, 2: 122-131.

BRITO, Wla d im ir. 1998. “ Psico-Sociolo-g ia M ítica d a Lu sofon ia ” . Cu ltu ra, 2: 132-139.

C ARREIRA, An tón io. 1972. Cab o Ve rd e : Form ação e Ex tin ção d e u m a S oci-e d ad oci-e Escrav ocrata (1460-1878). Lis-b oa : C e n tro d e Estu d os d a G u in é Portu g u e sa .

C O UTO, H ild o H . d o. 1996. In trod u ção ao Estudo das Línguas Crioulas e Pid -g in s. Bra sília : Ed itora Un ive rsid a d e d e Bra sília .

DAN IEL, Va le n tin e E. 1996. Ch arre d Lu l-lab ie s: Ch ap te rs in an A n th rop og rap h y of Viole n ce . Prin ce ton : Prin ce -ton Un ive rsity Pre ss.

ELIAS, N orb e rt. 1972. “ Proce sse s of Sta te Form a tion a n d N a tion Bu ild in g ” . Tran saction s of th e S e v e n th W orld Congress of Sociology (vol. III). Gene-b ra : In te rn a tion a l Sociolog ica l Asso-cia tion .

ERRIN G TO N, J ose p h . 2000. “ In d on e

si-a n (’s) Au th ority” . In : P. V. Krosk rity (org .), Re g im e s of Lan g u ag e : Id e olo-g ie s, Politie s, an d Id e n titie s. Sa n ta Fe : Sch ool of Am e rica n Re se a rch Pre ss. p p . 205-227.

FO N SEC A, M á rio. 1998. “ Pa d ron iza çã o d o Alfa b e to: Su a Im p ortâ n cia (De fe -sa d a Lín g u a C a b ove rd ia n a , d o Bi-lin g ü ism o e d o M u ltiBi-lin g ü ism o)” . Cu ltu ra, 2:98-107.

G O O DY, J a ck . 1996. Th e Log ic of W rit-in g an d th e O rg an iz ation of S ocie ty . C a m b rid g e : C a m b rid g e Un ive rsity Pre ss.

___ . 2000. The Power of the W ritten Trad ition . Wa sh in g ton : Sm ith son ia n In -stitu tion Pre ss.

KRO SKRITY, Pa u l V. (org .). 2000a . Re g i-m e s of Lan g u ag e : Id e olog ie s, Poli-tie s, an d Id e n tiPoli-tie s. Sa n ta Fe : Sch ool of Am e rica n Re se a rch Pre ss. ___ . 2000b . “ Re g im e n tin g La n g u a g e s:

La n g u a g e Id e olog ica l Pe rsp e ctive s” . In : P. V. Krosk rity (org .), Re g im e s of Lan g u ag e : Id e olog ie s, Politie s, an d Id e n titie s. Sa n ta Fe : Sch ool of Am e r-ica n Re se a rch Pre ss. p p . 1-34.

RO UG É, J e a n L. 1986. “ Um a H ip óte se

sob re a Form a çã o d o C riou lo d a G u in é -Bissa u e d a C a sa m a n sa ” . S oron d a: Re v ista d e Estu d os G u in e -e n s-e s, 2:28-49.

SILVA, Tom é V. d a . 1998. “ Kiriolu : Sp e d -ju d i n os Alm a ” . Cu ltu ra, 2:108-121.

TRAJ AN O FILH O, Wilson . 1993. “ Escrita e O ra lid a d e : Um a Te n sã o n a H e g e -m on ia C olon ia l” . S é rie A n trop olo-g ia, 154. Bra sília : De p a rta m e n to d e An trop olog ia / Un B.

TRO UILLO T, M ich e l-Rolp h . 1995. S

i-le n cin g th e Past: Pow e r an d th e Pro-d u ction of H istory . Boston : Be a con Pre ss.

VEIG A, M a n u e l. 1998. “ Im p le m e n ta çã o

(21)

Resumo

O ob je to d e a n á lise d e ste a rtig o é o d e b a te n o se io d e u m g ru p o d e in te le ctu a is ca b ove rd ia n os e m torn o d a situ a çã o lin g ü ística e m C a b o Ve rd e . Su scita -d o p e lo p rob le m a -d a cria çã o -d a im a g e m d e u m Esta d o ú n ico e in d ivisíve l e m u m con te xto m a rca d o p e la p lu ra lid a d e lin -g u ística , e sse d e b a te re ve la com o a q u e stã o d a lín g u a p od e con stitu ir u m ob stá cu lo à a d e q u a çã o d os p a íse s p e -rifé ricos a o m od e lo d e org a n iza çã o socia l, p olítica , e con ôm ica e cu ltu ra l re -p re se n ta d o -p e lo Esta d o-n a çã o. As -p ro-p osta s d e ro-p a d ron iza çã o e oficia liza çã o d a lín g u a criou la sã o a b ord a d a s a fim d e re ve la r os in te re sse s d e g ru p o q u e orie n ta m ta l p e rsp e ctiva e a s p ossíve is con se q ü ê n cia s d e sta p olítica lin g ü ística q u e , a p e sa r d e se u im p a cto n a socie d a d e ca b ove rd ia n a , p e rm a n e ce m sile n -cia d a s n os d iscu rsos a n a lisa d os.

Palavras-chave C a b o Ve rd e , Esta d oN a

-çã o, Lín g u a , Pod e r, C riou lo, C a b o-Ve r-d ia n o.

Abst ract

Th is a rticle a im s to a n a lyze th e d e b a te ta k in g p la ce a m on g a g rou p of C a p e Ve rd e a n in te lle ctu a ls con ce rn in g th e lin g u istic situ a tion in C a p e Ve rd e . M o-tiva te d b y th e p rob le m of cre a tin g th e im a g e of a sin g le a n d in d ivisib le Sta te in a con te xt m a rk e d b y lin g u istic p lu -ra lity, th is d e b a te re ve a ls h ow th e q u e s-tion of la n g u a g e ca n a ct a s a n ob sta cle for d e ve lop in g cou n trie s in te rm s of a t-ta in in g th e socia l, p olitica l, e con om ic a n d cu ltu ra l org a n iza tion re p re se n te d b y th e N a tion -Sta te . Prop osa ls to m a k e C re ole a sta n d a rd a n d officia l la n g u a g e a re e xa m in e d in ord e r to e xp ose th e in -te re sts of th e g rou p p rom otin g th is sta n d p oin t, a s w e ll a s th e p ossib le con -se q u e n ce s of th is k in d of lin g u istic p oli-tics, w h ich d e sp ite its im p a ct on C a p e Ve rd e a n socie ty, re m a in sile n ce d in th e a n a lyze d d iscou rse s.

Key w ords C a p e Ve rd e , N a tion -Sta te ,

Referências

Documentos relacionados

Princeton: Princeton University

Abre-se aqui o estudo das modalidades das transações como fenômeno ao mesmo tempo cultural, social e econômico: a questão desemboca em uma etnografia das práticas comerciais,

Against Race — Imagining Political Culture beyond the Color Line.. Cambridge: Harvard University

A comparação com o Brasil, nesse caso, impõe-se pela dife- rença: afora um interesse acadêmico passageiro no “freudo-marxismo” contemporâneo ao fenômeno homólogo na

O consumo produtivo de Fausto to- ma vida a partir da noção de predação, elaborada por Viveiros de Castro, con- cernente à forma abstrata da relação de alteridade entre

Este texto foi apresentado no simpósio “Anthropology in Print, the Transformation of Scholarly Publications” realizado na 100 a Reunião da American Anthropological Asso-

Como se sabe, roupas, trabalho, lín- gua e escrita são símbolos privilegiados dos juízos de discriminação cultural, e os Piro – sendo pessoas que trabalham na extração de

de Pós-Graduação em Ant ropologia Social do M useu Nacional e dos projet os de pesquisa pioneiros ali desenvolvidos na década de 60, a saber, o Projet o Áreas de Fricção Int