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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO DIRETORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA Programa de Pós-Graduação em Educação. ROSELI APARECIDA DE OLIVEIRA. Plano para a Vida e Missão da Igreja Metodista (PVMI) e Diretrizes para a Educação na Igreja Metodista (DEIM): contexto e contribuições para a educação confessional universitária. SÃO BERNARDO DO CAMPO - SP 2019.

(2) ROSELI APARECIDA DE OLIVEIRA. Plano para a Vida e Missão da Igreja Metodista (PVMI) e Diretrizes para a Educação na Igreja Metodista (DEIM): contexto e contribuições para a educação confessional universitária. Dissertação apresentada no Programa de PósGraduação, à Universidade Metodista de São Paulo, Diretoria de Pós-Graduação e Pesquisa, para obtenção do título de Mestre em Educação. Curso de Educação para conclusão do curso de Educação.. Orientação: Prof. Dr. Sergio Marcus Nogueira Tavares.. SÃO BERNARDO DO CAMPO - SP 2019.

(3) FICHA CATALOGRÁFICA Ol4p. Oliveira, Roseli Aparecida de Plano para a Vida e Missão da Igreja Metodista (PVMI) e Diretrizes para a Educação na Igreja Metodista (DEIM): contexto e contribuições para a educação confessional universitária / Roseli Aparecida de Oliveira. 2019. 122 p. Dissertação (Mestrado em Educação) --Diretoria de Pós-Graduação e Pesquisa da Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, 2019. Orientação de: Sergio Marcus Nogueira Tavares. 1. Igreja Metodista – Educação 2. Igreja Metodista – Missão 3. Ensino superior – Igreja Metodista – Brasil I. Título. CDD 378.

(4) A dissertação de mestrado intitulada: "Plano para a Vida e Missão da Igreja Metodista (PVMI) e Diretrizes para a Educação na Igreja Metodista (DEIM): contexto e contribuições para a educação confessional universitária", elaborada por ROSELI APARECIDA DE OLIVEIRA, foi apresentada e aprovada em 08 de abril de 2019, perante banca examinadora composta por Prof. Dr. Sergio Marcus Nogueira Tavares (Presidente/UMESP), Prof. Dr. Marcelo Furlin (Titular/UMESP) e Prof. Dr. Helmut Renders (Titular/UMESP).. _________________________________________________________ Profº. Dr. Sergio Marcus Nogueira Tavares Orientador e Presidente da Banca Examinadora. _________________________________________________________ Profº. Dr. Marcelo Furlin Coordenador do Programa de Pós-Graduação. Programa: Pós-Graduação em Educação Área de concentração: Educação Linha de pesquisa: Políticas e Gestão Educacionais.

(5) Dedicatória. Dedico esta dissertação aos amigos e amigas de caminhada que acreditam no poder transformador e libertador da educação..

(6) Agradecimentos. Aos amigos de todas as horas, por todo suporte oferecido durante meu processo de pesquisa, em especial às amigas Suely Xavier dos Santos, pelo acolhimento semanal, Andreia Fernandes de Oliveira e Mauren Julião, por me apoiarem nesta importante conquista.. À Igreja Metodista, por me permitir ter acesso à Pós-Graduação, através da bolsa de estudo oferecida. Agradecimento especial à Revda. Joana D'Arc Meireles e ao bispo Adonias Pereira do Lago, por todo apoio, bem como à Angela Maria de Souza, secretária da Igreja Metodista na Sede Nacional e responsável pelo setor de bolsas, pela ajuda e paciência.. Agradeço ao meu orientador, professor Dr. Sergio Marcus Nogueira Tavares, pelos momentos de partilha de seus profundos conhecimentos no tema pesquisado. Pela paciência, incentivo e confiança.. Agradeço ainda ao professor Dr. Marcelo Furlin, que de igual modo foi um grande incentivador.. E a Deus, que me sustenta e a cada dia me oferece a possibilidade de novas transformações; certamente esta pesquisa promoveu boas mudanças..

(7) RESUMO. Esta pesquisa tem por objetivo investigar as ações voltadas à educação confessional e comunitária nas Instituições educacionais metodistas, em especial a UMESP e UNIMEP, tendo como base para o diálogo, dois importantes documentos da Igreja Metodista aprovados em 1982: o Plano para Vida e Missão da Igreja Metodista, PVMI e Diretrizes para a Educação na Igreja Metodista, DEIM. O PVMI (ou PVM) é um instrumento de orientações gerais para o povo chamado Metodista e apresenta diretrizes para a ação missionária da Igreja Metodista no Brasil. DEIM é um documento extraído do PVMI que traz orientações específicas sobre a ação educativa da Igreja. Assim, esta pesquisa busca investigar qual é a proposta de educação que estes documentos apresentam e se os mesmos foram determinantes ou não na caminhada da Igreja e de suas instituições confessionais no que se refere à educação; e, ainda, qual a relevância em rediscutir o papel da educação na Igreja Metodista naquele momento e se é possível, hoje, identificar sinais dessas Diretrizes nas universidades confessionais metodistas.. Palavras-chave: Igreja Metodista _ Educação _ Missão _ Diretrizes..

(8) ABSTRACT. The purpose of this research is to investigate the actions of confessional and community education in Methodist educational institutions, especially UMESP and UNIMEP, based on the dialogue, two important documents of the Methodist Church approved in 1982: the Plan for Life and Mission of Methodist Church, PVMI and Guidelines for Education in the Methodist Church, DEIM. The PVMI (or PVM) is an instrument of general guidance for the people called Methodist and presents guidelines for the missionary action of the Methodist Church in Brazil. DEIM is a document drawn from the PVMI that provides specific guidance on the educational action of the Church. Thus, this research seeks to investigate what is the education proposal that these documents present and whether they were determinant or not in the walk of the Church and its denominational institutions with regard to education; and how important it is to rediscuss the role of education in the Methodist Church at that time and whether it is now possible to identify signs of these Guidelines in Methodist confessional universities.. Palabras clave: Iglesia Metodista _ Educación _ Misión _ Directrices..

(9) Abreviaturas e Siglas AI: Ato Institucional Arena: Aliança Renovada Nacional ASFAP: Associação dos Favelados de Piracicaba CEBs: Comunidades Eclesiais de Base Celam: Conferência Episcopal Latino-Americana CENIMAR: Centro de Informação da Marinha CIE: Centro de Informação do Exército CISA: Centro de Informação Social da Aeronáutica CNBB: Conferência Nacional dos Bispos do Brasil COGEAM: Coordenação Geral de Ação Missionária COGEIME: Conselho Geral das Instituições Metodistas de Educação CONAPEU: Coordenação Nacional das Pastorais Escolares e Universitárias CONEC: Coordenação Nacional de Educação Cristã CONET: Coordenação Nacional de Educação Teológica CONSAD: Conselho Superior de Administração Cr$: Cruzeiro CSC: Central de Serviços Compartilhados DEIM: Diretrizes para a Educação na Igreja Metodista EAD: Educação à Distância FONEP: Fórum Nacional de Educação Popular IE: Instituto Educacional IGP: Índice Geral de Preços IMB: Igreja Metodista do Brasil IME: Instituições Metodistas de Educação IMS: Instituto Metodista de Ensino Superior IPA: Instituto Porto Alegre da Igreja Metodista IPE: Instituto Piracicabano de Educação MDB: Movimento Democrático Brasileiro PAIC: Pronto Atendimento Integrado à Comunidade PIB: Produto Interno Bruto PVMI: Plano para a Vida e Missão da Igreja.

(10) PVM: Plano Vida e Missão RME: Rede Metodista de Educação SAB: Sociedade amigos de bairros SNI: Serviço Nacional de Informações UEE: União Estadual dos Estudantes de São Paulo UNE: União Nacional dos Estudantes.

(11) Sumário INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 12 1 A TRAJETÓRIA DA EDUCAÇÃO METODISTA NO BRASIL A PARTIR DA DÉCADA DE 1970 ................................................................................................................. 17 1.1 Antecedentes ao PVMI e DEIM: contexto da Educação ....................................................... 17 1.2 A educação metodista e sua herança norte-americana ....................................................... 22 1.3 Conjuntura político-social do Brasil na década de 1960 e 1970 ............................................ 24 1.4 O papel das igrejas no contexto da ditadura militar ............................................................ 29 1.5 A Igreja Metodista sob a influência de pressões internas .................................................... 31 1.5.1 Antecedentes ao PVMI e DEIM: Os Planos Quadrienais.................................................... 32. 2 PVMI E DEIM: PROCESSO DE ELABORAÇÃO ......................................................... 35 2.1 Buscando novos caminhos ................................................................................................. 36 2.2 DEIM: a denúncia e o anúncio ............................................................................................ 42 2.3 DEIM: uma proposta libertadora ........................................................................................ 44. 3 IMPLANTAÇÃO DAS DIRETRIZES PARA A EDUCAÇÃO NAS INSTITUIÇÕES DA IGREJA METODISTA ................................................................................................... 50 3.1 Momento novo ................................................................................................................. 54 3.2 Expressões da ação pedagógica das DEIM na UMESP .......................................................... 60 3.3 Expressões da ação pedagógica das DEIM na UNIMEP ........................................................ 67. 4 REDE METODISTA DE EDUCAÇÃO: A BUSCA POR UMA SOLUÇÃO ............... 71 4.1 A Rede Metodista de Educação em avaliação ..................................................................... 78. REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 100 ANEXOS ............................................................................................................................... 110 Anexo 1 _ Documentos: Plano para Vida e Missão Igreja Metodista e Diretrizes para a Educação na Igreja Metodista ............................................................................................................... 110 Anexo 2 _ Canção: Momento novo...................................................................................... 120.

(12) 12. INTRODUÇÃO. O interesse por esta pesquisa se deu mediante minha atuação como clériga da Igreja Metodista do Brasil (IMB), função que me colocou em contato com os documentos Plano para a Vida e Missão da Igreja Metodista (PVMI) e Diretrizes para a Educação na Igreja Metodista (DEIM). Quando iniciei meus estudos teológicos em 2008, pude me apropriar com maior consciência do quanto tais documentos eram norteadores na vida da Igreja e de sua membresia e, a partir de então, passei a refletir sobre a importância e significado desses na trajetória eclesiástica. Formada em Teologia pela Universidade Metodista de São Paulo - UMESP (2011), iniciei o exercício pastoral junto à Igreja Metodista em 2012. Ambas as funções – estudante e pastora – me propiciaram um conhecimento mais detalhado dos documentos que inspiraram este projeto. Mesmo sendo membro da Igreja Metodista há 31 anos, só consegui me aperceber do valor desses documentos durante a formação superior. A educação sempre esteve presente na pauta das prioridades do metodismo, desde o século XVIII, quando ele surgiu na Inglaterra. Quando o movimento começou a crescer, seu fundador, John Wesley, comprou uma antiga fábrica de canhões que estava em ruínas e, nela, destinou espaços para a realização de cultos, como também um específico para servir de escola. Anos depois, em 1748, assumiu a direção da primeira Escola em Kingswood, criada por Whitefield, e que fora construída próxima às minas de carvão e destinada às crianças, onde as mesmas aprenderiam leitura, escrita, aritmética, francês, latim, grego, música e etc.. Tal escola funciona até hoje, e depois desta, vieram muitas outras. O jornalista metodista Robert Raikes, quando formou a primeira Escola Dominical Metodista para os meninos de rua, em 1780, passou a ensinar-lhes não somente a Bíblia, mas também aritmética e inglês, ação que o manteve conhecido entre os metodistas como o “pai” da educação popular (DORNELLAS, 2015, p. 37). Os metodistas americanos também acreditaram no valor do conhecimento e, de igual forma, investiram em grandes escolas que posteriormente tornaram-se centros universitários de grande valor. Esse olhar atento à educação também alcançou o metodismo brasileiro, que desde o século XVIII investiu na criação de colégios. Entre os mais antigos, destacam-se o Colégio Piracicabano, primeira instituição Metodista de ensino no Brasil, fundada em 1881 pela missionária Martha Watts, e que mais tarde se transformaria na UNIMEP - Universidade.

(13) 13. Metodista de Piracicaba, SP (BOAVENTURA, 1978, p. 16), e o Instituto Granbery, de Juiz de Fora, MG, fundado em 1890 (DORNELLAS, 2015, p. 27-28). Atualmente a Igreja Metodista brasileira conta com duas universidades, a UNIMEP (Universidade Metodista de Piracicaba), localizada em Piracicaba, SP, e a UMESP (Universidade Metodista de São Paulo), localizada em São Bernardo do Campo, SP, além de dois Centros Universitários, o IPA (Instituto Porto Alegre), em Porto Alegre, RS e o Izabela Hendrix em Belo Horizonte, MG. Possui ainda várias escolas que vão desde o maternal até o ensino superior. Em sua trajetória no Brasil a educação confessional e comunitária continua na pauta da Igreja Metodista, o que ela reconhece como parte da sua missão, mas, ao longo dos anos, algumas situações surgiram e fizeram com que a Igreja reexaminasse esse tema. Durante as décadas de 1960 e 1970, principalmente, a Igreja Metodista do Brasil passou por conflitos que a fizeram repensar e reafirmar a sua forma de ser igreja, o que a levou a assumir uma nova postura frente aos desafios que ela enfrentava, presentes na sociedade brasileira daquela época, dentre os quais o seu papel na educação. Diante disso, após um debate intenso, a Igreja aprovou, em 1982, dois documentos que se tornariam marcos importantes para a mesma: o Plano para a vida e Missão da Igreja (PVMI) e as Diretrizes para a Educação na Igreja Metodista (DEIM). O primeiro é um documento que reafirma a identidade da Igreja Metodista e, com isso, busca orientar o seu povo no que diz respeito à missão da Igreja. Ele destaca, entre outras, a necessidade e importância da Igreja lançar um novo olhar para a educação; já o segundo, traz orientações concernentes às formas da Igreja fazer e promover a educação. O PVMI afirma que “Educação como parte da missão é um processo que visa a oferecer, à pessoa e a comunidade, uma compreensão da vida e da sociedade, comprometida com uma prática libertadora... e questionando os sistemas de dominação e morte...” (PVMI, 2001, p. 26). As Diretrizes para a Educação da Igreja Metodista (DEIM), documento construído a partir do PVMI, traz orientações específicas sobre as formas de exercer essa tarefa educativa. Assim, a justificativa para estudar esses documentos se dá diante da trajetória percorrida pela Igreja Metodista na educação até então e pela releitura dos seus objetivos e espaços de atuação e identidade, à luz dos desafios desse tempo. Ao apresentar os documentos PVMI e DEIM, busca-se investigar a proposta de educação confessional e comunitária que estes apresentam, e como a Igreja se posicionou diante dela..

(14) 14. O Plano Vida e Missão apresenta orientações de como a Igreja Metodista pode cumprir sua missão, sugerindo algumas áreas de atuação, como Área de Ação Social, de Comunicação Cristã, de Educação, de Ministério Cristão, de Evangelização, de Patrimônio e Finanças, de Promoção da Unidade Cristã. Dentre os planos específicos para cada área de ação missionária que o PVMI aponta, delimitamos o tema da educação como objeto desta pesquisa. No âmbito da educação, a Igreja Metodista valoriza tanto a educação cristã e teológica quanto comunitária, e ao longo de sua existência buscou investir e atuar na promoção das mesmas, não apenas utilizando seus espaços físicos ou o púlpito, mas também investindo em materiais didáticos e criando cursos específicos, bem como escolas e universidades. Nesta pesquisa examinaremos com atenção, especificamente, as ações voltadas à educação confessional e comunitária, analisando com maior profundidade o documento Diretrizes para a Educação. Como veremos, o PVMI e DEIM foram aprovados num período em que o país passava por muitas mudanças e estas exigiram que as igrejas assumissem uma nova postura. A proposta do Plano foi apresentar ao povo metodista um direcionamento, ou seja, indicar como a Igreja deveria agir nesse tempo. Assim, uma pergunta norteadora para essa pesquisa é que espera-se que a partir destas direções a Igreja tenha de fato trabalhado a educação com novos olhares, buscando um maior engajamento por meio das Diretrizes propostas. A pesquisa será realizada de forma descritiva, por meio de uma abordagem qualitativa, e as técnicas de coleta de dados serão por meio de levantamento bibliográfico e análise documental. Segundo Gil (2002, p. 44), “[...] a pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos”, e sua abordagem permite ao pesquisador e pesquisadora o acesso à uma quantidade muito maior de informações e fenômenos, do que se viesse investigar diretamente (PIANA, 2009, p. 120). Assim, a pesquisa foi desenvolvida observando, primeiramente, os principais autores que dialogam sobre o tema, bem como as considerações feitas por aqueles que participaram diretamente do processo de elaboração do PVMI e DEIM, permanecendo como testemunhas oculares de tais fatos, além de documentos da Igreja Metodista. Os primeiros diálogos que levariam à elaboração do PVMI e DEIM foram iniciados na década de 70, auge da ditadura militar no Brasil. As consequências deste Regime trouxeram graves reflexos também para as Igrejas, dentre elas, a Metodista..

(15) 15. A década de 60 foi marcada pelo golpe civil e militar que depôs, em março de 64, o presidente João Goulart (Governo Jango), elevando ao poder o Marechal Castelo Branco. O Brasil daquela época vivia uma grave crise econômica, e muitos movimentos estudantis, operários e camponeses, se organizavam contrários às chamadas "reformas de base", defendidas pelo governo Jango, que eram reformas políticas e institucionais de cunho nacionalista. É neste contexto que a Igreja é chamada a se posicionar e ter atitudes concretas diante da realidade política do país, e, diante dessas inquietações, na década de 70, as primeiras discussões para a elaboração do PVMI são iniciadas. Sendo assim, a proposta dessa pesquisa é investigar: _ Qual era a relevância em se aplicar o PVMI e DEIM na trajetória educacional Metodista a partir daquele momento e, se os mesmos foram determinantes ou não na caminhada da Igreja no que se refere à educação comunitária; _ Qual a contribuição gerada à educação Metodista a partir desses documentos; _ E, se o Plano Vida e Missão e Diretrizes para a Educação continuam influenciando a Educação a partir da Igreja Metodista nos dias atuais? Para responder a estas questões, vamos analisar a conjuntura e elaboração dos documentos PVMI e DEIM, e, sobretudo, suas relações com o ambiente da educação metodista, quais as discussões que permearam a elaboração do PVMI e DEIM e como se chegou aos documentos finais. A pesquisa está estruturada em quatro capítulos. No primeiro capítulo apresentamos os antecedentes da elaboração do PVMI e DEIM: os primórdios do metodismo na Inglaterra, se estendendo para o território norte-americano e posteriormente chegando ao Brasil; a conjuntura educacional e a trajetória da educação Metodista até os anos antecedentes à elaboração do PVMI e DEIM; a conjuntura política, social e econômica do Brasil nas décadas de 1960 e 1970; a situação da Igreja Metodista e do país neste período e nos anteriores a ele; as políticas públicas vigentes e suas influências na educação secular do país; como se deu o processo de instalação das principais escolas, Faculdades e Universidades Metodistas em terras brasileiras; e, os Planos Quadrienais e sua influência na elaboração do PVMI e DEIM. No segundo capítulo apresentamos a conjuntura da elaboração do PVMI e DEIM até a sua aprovação, destacando a estrutura desses documentos: quais os objetivos, propostas e diretrizes que eles apresentam, especificamente no que se refere ao exercício da educação secular e o que levou a Igreja Metodista à sua elaboração e aprovação, propondo novos caminhos. Analisaremos a fase preparatória das discussões, diálogos, consultas e concílios.

(16) 16. que levaram a elaboração do PVMI e DEIM; veremos quem eram as pessoas que participaram diretamente do processo de elaboração destes documentos; discorreremos sobre a criação dos mesmos, observando desde as discussões preliminares até sua publicação. Estabeleceremos um diálogo com a obra de Paulo Freire, em especial “A pedagogia do oprimido” (FREIRE, 2010, p. 213), buscando observar quais perspectivas de sua obra dialogam com os documentos aqui analisados, sempre sob a ótica da educação comunitária e confessional.. No terceiro capítulo apresentamos um diálogo, a partir da opinião de autoridades educacionais e eclesiásticas, pessoas que vivenciaram pessoalmente todo esse processo de elaboração do PVMI e das DEIM, e posteriormente sua implantação, buscando verificar o que mudou na Igreja Metodista e em suas instituições de ensino a partir da elaboração desses documentos e diretrizes. Analisaremos, em especial, o contexto da Universidade Metodista de São Paulo - UMESP, e da Universidade Metodista de Piracicaba - UNIMEP no período posterior à implantação das DEIM, buscando uma aproximação de ações educacionais com as Diretrizes propostas pelas DEIM. O último capítulo apresenta algumas dificuldades enfrentadas pelas instituições educacionais metodistas e analisa o papel da Rede Metodista de Educação como uma proposta de solução, e as marcas da confessionalidade das instituições metodistas. Apresenta ainda, um diálogo baseado na opinião de educadores e autoridades eclesiais favoráveis ou contrárias ao documento DEIM, observando como analisam a caminhada da IM e de suas instituições educacionais, e o que sugerem como propostas para que a educação metodista alcance novos rumos..

(17) 17. 1 A TRAJETÓRIA DA EDUCAÇÃO METODISTA NO BRASIL A PARTIR DA DÉCADA DE 1970. Este capítulo apresenta alguns aspectos da conjuntura política, social, econômica e religiosa do Brasil nos anos que antecederam a elaboração do PVMI e das DEIM pela Igreja Metodista, documentos analisados nesta pesquisa. Traremos à memória o contexto político das décadas de 1960 e 1970, com o golpe civil e militar brasileiro, bem como suas decorrências, tais como a Ditadura Militar, dentre outras. Veremos como esta conjuntura interferiu e pressionou as igrejas a manifestarem um posicionamento comprometido com a sociedade, especialmente a população empobrecida, e como a Igreja Metodista reagiu, ao propor a elaboração do PVMI e DEIM. Trataremos do contexto da missão e educação no metodismo, desde a sua origem no século XVIII, até o início dos anos 1980, quando da elaboração do PVMI e DEIM.. 1.1 Antecedentes ao PVMI e DEIM: contexto da Educação A educação como parte da missão metodista sempre esteve em evidência e é uma herança deixada por John Wesley, o organizador do movimento metodista, que nasceu na Inglaterra, em 1703. Sua família era de origem muito pobre, como a maioria dos lares daquela época, mas com um grande diferencial; a educação e a leitura eram prioridades na vida de cada criança, desde a tenra infância. A educação na Inglaterra, nessa época, era reservada somente às crianças cujos pais pudessem pagar; com dez filhos e filhas os pais dos Wesley não tinham esta condição (REILY, 1991, p. 17). Assim, a mãe, Suzana Wesley, assumiu a responsabilidade de, ela mesma, ensinar seus filhos e filhas a lerem. Ela tinha por hábito ensinar o alfabeto um dia após cada um completar cinco anos de idade. Susana dedicava "o dia seguinte inteiro à alfabetização da criança. Ela conseguia ensinar, no espaço de um só dia, todas as letras maiúsculas e minúsculas... No dia seguinte, a criança já recebia sua primeira cartilha: a Bíblia, lendo a partir de Gn 1.1" (Ibid, p. 17). Suzana acreditava que a educação poderia ser uma ação transformadora, gerando, inclusive, reflexos na sociedade. Assim, todos, meninos e meninas, recebiam a mesma atenção quanto à importância aos estudos. Certamente que essa disciplina contribuiu para que,.

(18) 18. em idade adulta, John Wesley sonhasse com uma sociedade que investisse na educação de todas as pessoas. Em 1720 Wesley ingressou na Universidade Christ Church College, em Oxford, seis anos antes de seu irmão Charles Wesley, um grande colaborador que sempre esteve presente em sua caminhada ministerial e que, junto com John, tornou-se responsável pelo surgimento do metodismo. Nessa escola, ambos se formaram e foram ordenados pastores. John Wesley, porém, com os graus de bacharel e mestre, tornou-se um fellow, um professor universitário (op. cit, p. 24). Após ter se formado nessa famosa Universidade de Oxford, a custa de bolsas de estudo e favores (REILY, 1991, p. 19) e, já pastor, passou a ter a mesma visão de sua mãe, e engajou-se na criação de escolas. Foi o responsável pela fundação de uma escolinha para crianças pobres, em Oxford, e pela direção da famosa Escola Kingswood, em Bristol, entre outras, além, de dedicar-se à educação teológica de seus próprios pregadores leigos, e de promover a abertura de várias Escolas Dominicais, em que a pauta primordial de ensino era a alfabetização para crianças pobres (Ibid, p. 18). Foi nessa escola em Oxford que um pequeno grupo de estudantes, membros da Igreja da Inglaterra, começou a se reunir na universidade, sob a direção de seu principal líder, John Wesley (embora tenha sido o irmão Charles o responsável por organizar o grupo), para momentos de estudo bíblico e oração. Porém, além da vida de piedade que levavam juntos, o grupo propôs a prática de algumas atividades externas, tais como visitas semanais à cadeia e aos enfermos das paróquias, e uma atenção especial aos meninos e meninas de rua, crianças que vagavam sem cuidados ou escola. A preocupação com essas crianças levou o grupo a contratar professoras, que eram pagas com suas próprias economias (Ibid, p. 25-27). Já na Kingswood, o espaço era destinado tanto para templo como para promoção do ensino, sendo esse ensino destinado aos filhos dos mineiros, filhos dos pregadores metodistas e aos "amigos do metodismo" (MESQUIDA, 1993, p. 32). Quem podia, pagava pelo ensino; quem não podia pagar o recebia da mesma forma. Foi nessa escola que Wesley conquistou algo inovador para a época: a educação destinada aos adultos. Em seus registros, ele escreveu:. Aqui há uma sala grande e quatro salinhas para alojar os professores; e como é agradável a Deus, hospedar as crianças pobres. Durante o dia, as crianças mais pobres da cidade aprendem a ler, escrever e contar [...]. Os alunos mais idosos ("que têm cabelos brancos"), que não devem estudar na mesma hora que os jovens, pois há estudantes de todas as idades, mesmo alguns de cabelos grisalhos, aprendem na.

(19) 19. mesma sala, mas de manhã, bem cedo ou à noite, para que seus estudos não atrapalhem seu trabalho (MESQUIDA, 1993, p. 32).. A junção de templo e escola nos tempos de Wesley era vista como uma relação umbilical. Não havia conflitos, pois, como afirma Oliveira, ambos, templo e escola, representavam, para Wesley, aspectos complementares na obra da salvação. Salvação que era compreendida como "o caminho da libertação da ignorância e da conquista de uma vida abundante" (OLIVEIRA, 2003, p. 19). Cardoso (2016) destaca um fato relevante que mostra o valor dessa relação do metodismo com a educação e que acentua ainda mais o seu “caráter pedagógico e educativo”: os registros, feitos em ata, da pauta da primeira Conferência Metodista, realizada em 1744, onde se lê que uma das propostas apresentadas ao grupo era dialogar sobre: “1. O que ensinar; 2. Como ensinar; e, 3. O que fazer...”. Perguntas que refletem, como diz Cardoso, uma “preocupação com o rigor do método e com os resultados concretos na prática” (CARDOSO, 2016, p. 112-113). Nos registros dessa ata consta a seguinte citação: "Reunimo-nos, Carlos e João Wesley, mais quatro leigos, para examinar: primeiro, a doutrina que seria ensinada; segundo, o método apropriado para ensinar essa doutrina; terceiro, como conduzir a nossa prática". Para o educador metodista Peri Mesquida, que acompanhou a elaboração do PMVI e das DEIM, o movimento metodista é "[...] fundamentalmente um movimento educativo [...]", e esses registros da primeira Conferência Metodista atestam o quanto o metodismo possui uma teologia e princípios doutrinários muito bem estabelecidos, sendo que os mesmos corroboraram para a prática do movimento metodista, reafirmando assim que "o metodismo wesleyano é um movimento que une teoria e prática" (MESQUIDA, 1993, p. 31). Apresentando o movimento metodista como reformador e educativo, Novais (2003, p. 114) faz suas considerações, ao fazer referência a um texto não publicado de Peri Mesquida (1990, p. 2), apresentado num Curso de Formação Teológica no Seminário Teológico João Ramos Júnior na Igreja Metodista: Em suma, o Metodismo wesleyano teve, antes de qualquer outra coisa, a pretensão de ser um movimento que se fortaleceu no sentido de ser uma opção reformadora. Essa reforma teve como veículo de propagação a educação, que buscou formar uma nova cultura (NOVAIS, 2003, p. 114). “O movimento wesleyano não foi uma ‘reação’ nem mesmo uma ‘Revolução’. Foi, antes de tudo, um movimento reformador e educativo preocupado em transmitir uma nova visão de mundo e formar um novo senso comum". (MESQUIDA, 1990, p. 2, apud NOVAIS, 2003, p. 114)..

(20) 20. Em sua atuação nos Estados Unidos o Metodismo desenvolveu-se adquirindo uma particularidade própria. John Wesley se dedicou imensamente em promover o avanço missionários em todo norte da América e, como estratégia, enviou seus melhores pregadores para aquela nação. Exercendo forte influência na sociedade norte-americana, os metodistas chegaram, tempos mais tarde, a receber até elogios de Abraham Lincoln, o 16° presidente dos Estados Unidos, (1861-1865). Novais (2003) relata esse acontecimento relembrando Mesquida (1994).. A Igreja Metodista [...] pelo seu número de membros, é a mais importante denominação americana [...] Não chega a surpreender o fato de ter a Igreja Metodista enviado mais soldados ao campo de batalha, mais enfermeiras aos hospitais e mais orações aos céus do que qualquer outra. Deus bendiga a Igreja Metodista. [Homenagem Presidencial de A. Lincoln à Igreja Metodista, em 18 de maio de 1864]. (MESQUIDA, 1994, p. 102, apud NOVAES, 2003, p. 104).. Citando Josgrilberg (2003), Cardoso (2016) ainda relembra alguns fatos que enfatizam o quanto Wesley se interessava pela educação:. 1. foi pioneiro da educação popular, com as escolas dominicais, salas de leitura para o povo, livros populares. Uma antiga edição da Enciclopédia Britânica registrou que ninguém fez mais pela educação do povo britânico, durante o século XVIII, do que John Wesley; 2. foi pioneiro na saúde popular através da publicação de livros populares para cuidados da saúde do povo, pioneiro na eletroterapia (conforme anais da medicina do século XVIII) e pioneiro com o primeiro ambulatório gratuito de Londres; 3. escreveu um número surpreendente de obras educativas (gramáticas de diversas línguas, inclusive grego e hebraico, dicionários, livros da história da Inglaterra, livro de lógica, etc.) e se interessou por obras da época sobre educação (Comenius, Locke, Rousseau); 4. insistiu em que os pregadores deveriam estudar, não só obras de religião, por cinco horas diárias – o conhecimento geral era para ele essencial para bem compreender e ensinar a religião; 5. insistiu que os pregadores deveriam ser também educadores – em certa ocasião chegou mesmo a enfatizar, diante da conferência, que aquele que não pudesse realizar obra educativa junto ao povo não poderia ser pregador metodista; 6. publicou, incansavelmente, livros traduzidos e adaptados para uso do povo, além das já mencionadas salas de leitura populares; 7. estabeleceu escolas primárias, secundárias e de nível universitário em várias partes da Inglaterra (JOSGRILBERG, 2003, apud CARDOSO, 2016).. É impossível relatar a história da Igreja Metodista sem enfatizar o tema da educação, que para Wesley, era muito mais do que criar espaços físicos para a transmissão do ensino, mas, aplicar o ensino para a transformação da vida humana. A IM possui um importante legado que precisa ser constantemente revisitado, a fim de que tudo o que já foi construído seja seguido e, conforme as necessidades, ampliado. Como disse Josgrilberg (2003): John Wesley via a Igreja fundamentalmente em sua dimensão pública e, essencialmente, como "educadora". Para ele, a interpretação entre missão e educação era a coisa mais natural do mundo. A dimensão pública da Igreja vinha junto com a.

(21) 21. dimensão pessoal. [...] Wesley preocupo-se intensamente em proporcionar educação e difundir o hábito da leitura de bons livros. Segundo a Enciclopédia Britânica, ninguém fez mais no século XVIII para difundir esse hábito do que Wesley. Ele nunca admitiu que a santidade deveria ser ignorante. Reconhecia, em muitos casos, as limitações de pessoas incultas que frequentavam as reuniões metodistas, mas fez o possível para lhes dar crescimento para a educação em várias modalidades. Estabeleceu salões de leitura. Criou pontos de distribuição de livros. Criou pequenas bibliotecas. Pediu aos seus seguidores que fossem "mordomos de livros". Criou a Christian Lybrary, com 50 volumes que escolheu entre livros clássicos (que traduzia do latim e do grego e condensava para facilitar a leitura), livros de mística (racional), livros devocionais e livros de Teologia. Escreveu cerca de uma dezena de livros didáticos. [...] Publicou livros a preços populares para atender os pobres. [...] Exigia de seus pregadores o seguinte: "Pregai expressamente em favor da educação". Se alguém dissesse "eu não tenho dom para isso", Wesley respondia: "tendo o dom ou não você tem de fazê-lo" [...]. (JOSGRILBERG, 2003, p. 66-68).. Desde suas origens na Inglaterra do século XVIII, o metodismo sempre se empenhou em buscar meios de oferecer educação a todas as pessoas, principalmente as empobrecidas. Desde então, o binômio “templo-escola, pregação-ensino, evangelização-educação” permaneceram juntos, como afirma Oliveira (OLIVEIRA, 2003, p. 19). Wesley tinha na fé uma fonte de motivação para educar pessoas para a Igreja, para o Estado, para a nação, para a humanidade... Educar era visto como um misto de formação intelectual e capacitação para a vida (não apenas a mente, mas o individuo todo, incluindo sua relação com Deus). Toda a educação, mesmo o ensinar a ler ou o aprender um ofício, era para Wesley um modo de educação cristã. Missão e educação são dois lados da mesma moeda em Wesley (e assim ele interpretou o ministério de Cristo). (JOSGRILBERG, 2003, p. 69).. A origem educacional da Igreja Metodista é muito mais do que uma história bonita para ser recordada, mas, para além disso, é um legado a ser seguido. Cunha (2003), ao propor uma reflexão pelos 20 anos dos documentos Vida e Missão e do Diretrizes para Educação, destacou que esse exercício de memória pode ser desenvolvido a partir de duas vertentes: "como nostalgia ou como utopia". A memória pode servir como nostalgia de um tempo bom que se foi, que não se pode ter mais _ o paraíso perdido. A nostalgia é a saudade que entristece, pois relembra algo que se tornou distante, impossível de ser retomado. A memória nostálgica nos prende ao passado, que tem o presente como oposição. É a negação do tempo, como algo que deteriora e extingue [...] A memória como utopia [...] é a positivação do tempo. É o olhar para o passado como algo que alimenta o presente e o futuro. Aqui a memória edifica as pontes que ligam o presente ao passado, e torna o presente não uma oposição ao passado [...] O Vida e Missão e o Diretrizes para a Educação são a memória viva e a perspectiva presente de que é possível ser Igreja de um jeito diferente. E o olhar para trás [...] tem que servir para alimentar um processo de construção contextualizado com a realidade brasileira, coerente com os princípios da tradição metodista que é a herança inegociável [...]. (CUNHA, 2003, p. 47-48).. O Plano para a Vida e Missão da Igreja e as Diretrizes para a Educação na Igreja, que surgiram como uma tentativa de revitalização da Igreja, inclusive de sua área educacional, trouxeram, dentre outras iniciativas, uma proposta de um maior engajamento social em vários.

(22) 22. âmbitos da sociedade, dentre eles, na educação social, como tentativa de reelaborar a proposta educacional da Igreja Metodista para esta conjuntura. 1.2 A educação metodista e sua herança norte-americana O metodismo que chegou à América do Norte ainda no século XVIII, continuou propagando o caráter educativo do movimento originado na Inglaterra. Com a formação da Igreja Metodista Episcopal, em 1784, logo vieram a criação de escolas e universidades, como o Cokesbury College (1787), em Maryland, e a Wesleyan College (1836), na Geórgia, primeira faculdade a aceitar mulheres como estudantes (CARDOSO, p. 116). Por volta de 1860, mais de duzentas escolas metodistas já haviam sido criadas, sendo que 34 eram de formação superior. Esse número levou a Igreja Metodista a tornar-se, nessa época, a denominação com maior número de instituições de ensino (MESQUIDA, 1993, p. 36). Apesar de a Igreja norte-americana ter continuado sua vocação e compromisso com a educação herdados da Igreja da Inglaterra (CARDOSO, p. 117), a proposta educacional do metodismo inglês não agradou à Igreja dos Estados Unidos, que definiu para si uma educação com outras características, na qual “templo e escola caminham para uma convivência afim, mas separada, iniciando um processo dicotômico, que se vai acentuar, gradativamente, no correr da história” (OLIVEIRA, 2003, p. 19). Assim, o metodismo que chegou ao Brasil, herdado da matriz norte-americana, apresentava uma teologia mais voltada para uma "eclesiologia mais definida", que entendia que era “tarefa necessária da Igreja e da escola levar as pessoas a buscarem status social na educação, bem como segurança econômica; capacitação de liderança e cidadania” (Ibid, 2003). Em termos educacionais, a Igreja Metodista brasileira herdou a instrução da Igreja da Inglaterra, com um modelo de universidade liberal ou do espírito. Uma educação voltada para a formação integral da pessoa, visando o aperfeiçoamento do caráter humano, com vistas no saber revelado (BOAVENTURA, 2010, p. 40). Em termos administrativos, predominou a influência do poder econômico e capitalista vigente nos Estados Unidos, e que chegou ao Brasil por meio dos missionários metodistas americanos no final do século XIX (BOAVENTURA, 1978, p. 87). Foram esses missionários que investiram na proposta de uma universidade confessional, que seria o meio pelo qual a.

(23) 23. Igreja ficaria conhecida (BOAVENTURA, 2010, p. 39-40), ou seja, por meio de uma instituição educacional. No Brasil, a educação metodista se torna um trabalho propagado quase todo pelas mulheres. A primeira instituição educacional metodista brasileira foi o Colégio Piracicabano, criado pela missionária americana Martha Hite Watts em 1881. O Piracicabano deixou marcas indeléveis na sociedade da época, como o fato de ter sido o primeiro colégio a oferecer “educação mista, quando o país ainda era marcado pela aliança do Império exclusivamente com a Igreja Católica, cuja educação tinha outros pressupostos pedagógicos de cunho conservador” (CARDOSO, p. 117). O Colégio foi importante para promover uma educação diferenciada, bem como foi a força propulsora que promoveu a implantação da missão Metodista no interior de São Paulo (Ibid, p. 118). A educação escolar formal, como parte da obra missionária metodista no país, desde o início foi desenvolvida com determinação incansável. Para os pioneiros metodistas no Brasil, a obra educacional era parte integral da missão metodista e fundamental para o estabelecimento da futura Igreja, pois pregai e ensinai eram os dois lados da mesma moeda. O projeto missionário para promover a libertação do Brasil das trevas da ignorância e sua modernização incluía a disseminação do Evangelho através da pregação e da educação segundo os padrões norte-americanos (MATTOS, 2000, p. 61).. Como vimos, a história da Igreja Metodista sempre esteve vinculada à educação. Em todas as suas frentes missionárias uma escola nascia juntamente com o templo, confirmando assim que toda ação na Igreja Metodista é, de fato, pedagógica. A Igreja entendeu que essa era sua missão e que educar as pessoas para a vida, além de gerar instrução e conhecimento, promove capacitação, libertação, transformação e também as aproximava do Reino de Deus. Muito mais ainda poderia ter sido feito como contribuição metodista no âmbito educacional, mas é certo que o PVMI abriu as portas para a Igreja pensar sua ação educativa tanto com relação ao passado quanto ao futuro e o que ainda poderia contribuir. Atualmente a rede educacional da Igreja Metodista, denominada Rede Metodista de Educação, possui mais de 50 mil estudantes, distribuídos em duas universidades, dois centros universitários, três faculdades, vinte e nove colégios, além de algumas escolas de educação especializada e instituições de ensino teológico superior (CARDOSO, 2016, p. 121). Em 2019, um novo campus universitário será inaugurado na cidade de Ribeirão Preto, SP, e o campus Venda Nova, do Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix, de Belo Horizonte, MG, será reativado. Haverá também a reabertura do ensino médio no Instituto Educacional Metodista de Passo Fundo, Rio Grande do Sul, e, projetos para que o Instituto.

(24) 24. Noroeste de Birigui, SP, volte a oferecer o ensino superior estão sendo analisados (MAGALHÃES, nov. 2018, p. 7). 1.3 Conjuntura político-social do Brasil na década de 1960 e 1970 A década de 60 foi marcada pelo golpe civil e militar que depôs, em 31 de março de 1964, o Presidente João Goulart – Jango, que assumiu o governo após a renúncia do então Presidente Jânio Quadros. O golpe elevou ao poder o Marechal Castelo Branco1, que concluiu o mandato que seria de Jânio Quadros. Castelo Branco deveria ficar no poder até 31 de janeiro de 1966, mas as eleições presidenciais foram suspensas e seu mandato foi prorrogado até 15 de março de 1967, quando foi substituído pelo general Costa e Silva, eleito pelo Congresso Nacional, em 3 de outubro de 1966. Esse foi um período de muitas transformações, no Brasil e no mundo, período de grande agitação e efervescência: a União Soviética enviou o primeiro homem ao espaço; o presidente americano John Kennedy, dos EUA, foi assassinado; a Alemanha construiu o Muro de Berlim; Martin Luther King e Nelson Mandela foram presos. No Brasil, o presidente Jânio Quadros proibiu o uso de biquínis nas praias; Brasília foi inaugurada; o Golpe Civil e Militar foi efetivado, a censura foi institucionalizada, greves proibidas, surgiram movimentos de resistência ao projeto de ditadura – como o movimento estudantil e o movimento operário – e grupos e partidos foram criados. Uma forte repressão política se estendeu sobre todas as manifestações que se opunham ao regime militar, principalmente sobre os movimentos operário, estudantil, camponês e organizações de esquerda, o que resultou em centenas de prisões e mortes. A Igreja Metodista, assim como outras igrejas, ficou dividida: parte do seu povo e do corpo pastoral apoiava a ditadura e o regime militar, enquanto uma outra ala, menos conservadora, resistia. Muitas pessoas foram denunciadas, presas e assassinadas; dentre elas, várias metodistas. Jânio Quadros renunciou ao seu governo em 21 de abril de 1960, após permanecer no poder por apenas 7 meses, e saiu alegando sofrer pressão "de forças terríveis". Embora seu governo tenha sido consideravelmente curto, Jânio teve tempo de tomar decisões que contribuiriam para a história que iria se desenrolar no país nos anos seguintes. Na política interna, tentou promover uma reforma do Código Penal e Civil, bem como do Imposto de 1. Após a destituição de Jango, Ranieri Mazilli assumiu interinamente a presidência do país, no dia 2 de abril de 1964. Em 09 de abril daquele ano, foi editado um decreto militar, o AL-1 (Ato Institucional número 1), que autorizava que Jango fosse deposto e permitia outras cassações políticas. No mesmo mês, o marechal Castelo Branco assumiu definitivamente a presidência, até 24 de janeiro de 1967 (BIGELI, 2014)..

(25) 25. Renda. Na política externa procurou ampliar a relação do Brasil com todos os países do mundo. Enviou João Goulart, o então vice-presidente, a uma missão oficial para a China, um país aberto ao socialismo; fez críticas à política dos Estados Unidos com relação a Cuba; deu a Che Guevara a condecoração da Ordem do Cruzeiro do Sul, o que provocou a indignação de grupos conservadores do setor civil e militar (FGV: CPDOC). O Brasil daquela época vivia uma crise econômica e muitos movimentos estudantis, operários e camponeses se organizavam contrários às chamadas "reformas de base", defendidas pelo governo Jango, que eram reformas políticas e institucionais de cunho nacionalista. Os militares alegavam que o golpe era necessário para preservar a ordem e as instituições de reações comunistas. Contudo, seus interesses estavam voltados para a grande burguesia nacional e internacional, sendo, inclusive, apoiados pelo governo norte americano. O golpe Militar instituído no Brasil foi seguido também por países da América Latina (HABERT, 1992, p. 9). No Brasil o centro de todo conflito era, na verdade, o reaparecimento da luta de classes. Habert diz:. O golpe foi uma reação das classes dominantes ao crescimento dos movimentos sociais, mesmo tendo estes um caráter predominantemente nacional-reformista. Foi também resultado do impasse entre o esgotamento da política nacional-populista que orientara o desenvolvimento e a industrialização do país no pós-guerra e os imperativos de novos moldes de expansão capitalista, nos quais a burguesia brasileira era compelida a uma integração e associação mais estreita com o capital monopolista internacional. (Ibid, p. 8-9).. As bases do regime militar brasileiro visavam garantir a expansão do grande capital nacional e internacional, por isso, o regime impôs "a derrubada das barreiras econômicas e políticas à sua expansão, o esmagamento dos movimentos sociais contestatórios e a implantação de ditaduras militares que garantissem condições favoráveis à nova fase de acumulação capitalista". Assim, desde a sua implantação, o regime fez alianças com a burguesia nacional e internacional (Ibid, p. 9). O Marechal Castelo Branco criou medidas que desassossegaram o povo brasileiro, tais como: [...] intervenção nos sindicatos e nas entidades estudantis, proibição das greves, instauração da censura, criação da SNI (Serviço Nacional de Informação), cassação de mandatos e suspensão por dez anos dos direitos políticos de parlamentares e oposicionistas. Paralelamente, implementou o arrocho salarial, garantiu a livre entrada de capitais estrangeiros e a remessa de lucros, e criou instituições e mecanismos financeiros que favoreceram as grandes empresas nacionais e internacionais (Ibid, p. 9)..

(26) 26. Além disso, as eleições diretas para governadores e presidente da República foram suspensas e os partidos políticos existentes fechados. Ao mesmo tempo foi criado, por meio de decreto, o bipartidarismo Arena (Aliança Renovada Nacional) e o MDB (Movimento Democrático Brasileiro). Uma forte repressão política se estendeu sobre todas as manifestações que se opunham ao regime militar, principalmente sobre os movimentos operário, estudantil, camponês e organizações de esquerda, o que resultou em centenas de prisões e mortes. Entretanto, tal coibição não foi capaz de deter as pessoas que se opunham ao projeto da ditadura (HABERT, 1992, p. 9-10). O ano de 1968 – ano de contestações sociais, políticas e culturais em várias partes do mundo – assistiu à eclosão de um amplo movimento social de protesto e de oposição à ditadura, com destaque para o movimento estudantil e para a retomada do movimento operário com as greves metalúrgicas de Osasco e Contagem. O governo do general Costa e Silva (1967-69) reagiu desfechando o AI-5 (Ato Institucional nº5) que, entre os poderes ilimitados que outorgou ao Executivo dali em diante, permitiu-lhe fechar o Congresso por tempo indeterminado, continuar a cassar mandatos, suspender por dez anos os direitos políticos de qualquer cidadão, demitir ou aposentar qualquer funcionário público civil ou militar, estender a censura prévia à imprensa e aos meios de comunicação (Ibid, p. 10).. O Congresso Nacional só foi reaberto dez meses depois, com 94 parlamentares a menos, todos cassados pelo regime militar. Diante das manifestações de protestos, o general Costa e Silva reagiu ainda com o decreto 477 de repressão aos estudantes, o que culminou em mais violência, prisões, torturas e mortes. Com a doença e morte de Costa e Silva em 1969, a Junta Militar assumiu o comando do país, fazendo a transição entre o governo anterior e o seguinte. Embora assumisse o comando do Brasil por um período curto, a Junta Militar escolheu previamente quem deveria ser o próximo general e ainda baixou "uma fileira de novos atos institucionais que decretaram a pena de morte, a prisão perpétua e o banimento político..." dos insurgentes (Ibid, p. 10). Garrastazu Médici, conhecido como general "linha dura", assumiu a Presidência da República de 1969 a 1974, e herdou "as condições econômicas e políticas que permitiram o período do chamado "milagre econômico" (Ibid, p. 10), um período de desenvolvimento econômico internacional. Dentre os economistas que atuaram durante o período do "milagre econômico" destacamos Delfim Netto, que atuou como ministro da Fazenda dos governos militares de Arthur Costa e Silva (1967-1969) e Emílio Garrastazu Médici (1969-1973). Netto também foi ministro da Agricultura do governo de João Figueiredo (1979-1984), gestão em que também desempenhou a função de secretário do Planejamento, cargo que o colocou à frente do Conselho Monetário Nacional e do Banco Central. Como membro do Conselho Consultivo de.

(27) 27. Planejamento do governo Castelo Branco (1964-1967), foi um dos responsáveis pela elaboração do Ato Institucional Nº 5, de dezembro de 1968, medida que endureceu o regime militar (Delfim Netto. http://memoriasdaditadura.org.br). Como ministro do governo de Arthur da Costa e Silva e no comando da economia do regime, Delfim Netto "adotou a política de aumento de gastos públicos e incentivou empresas estrangeiras a investir. Reduziu juros e ampliou o crédito. As medidas e uma ajuda da conjuntura mundial resultaram no "milagre econômico" (STRUCK, 2018). Delfim foi tanto o executor do "milagre econômico", responsável por gerar nos anos 60 e 70, altas taxas de crescimento quanto o protagonista do caos econômico que se abateu sobre o Brasil nos anos 80. Nos anos de 1968 a 1973, quando ocorreu o "milagre" econômico brasileiro, o Produto Interno Bruto brasileiro -PIB, cresceu a uma taxa de cerca de 11,1% ao ano, enquanto no período anterior à isso, de 64 a 67, o crescimento havia sido de 4,2% ao ano (VELOSO; VILLELA; GIAMBIAGI, 2008). Ao mesmo tempo em que havia um elevado crescimento econômico, as taxas de inflação declinavam, alcançando números relativamente baixos para os padrões brasileiros; "enquanto a taxa de crescimento do PIB acelerou-se ao longo do tempo, elevando-se de 9,8% a.a. em 1968 para 14% a.a em 1973, a inflação, medida pelo Índice Geral de Preços (IGP), declinou de 25,5% para 15,6% durante o período" (Ibid). Por outro lado, houve aumento da desigualdade social e os indicadores sociais não refletiam mudanças. Nos últimos anos da ditadura as condições econômicas no Brasil já não eram tão favoráveis e o período foi marcado pelo declínio da economia brasileira e pela explosão da dívida externa, que triplicou com a volta da inflação e interferiu na distribuição de renda, prejudicando ainda mais a população empobrecida. Com o aumento do petróleo e a retração do crédito, o período conhecido como "milagre econômico" chegou ao seu fim. Delfim Netto, agora sob o governo de general Figueiredo (1979-1985), deixou de ser o "o czar do milagre", para tornar-se "o comandante da bancarrota", ao propor medidas que desvalorizaram a moeda nacional em 30%, a fim de incentivar exportações e alterar padrões de correção monetária e variação cambial (STRUCK, 2018). Um destaque dessa década foi a crise do capitalismo mundial, decorrente da crise do petróleo que teve seu preço de venda triplicado. Foi nesse período que a dívida externa do Brasil saltou de "12,5 bilhões de dólares em 1974 para 43 bilhões em 1978 e já estava em torno de 60 bilhões em 1980. A maior do mundo." (HABERT, 1992, p. 40-42)..

(28) 28. No inicio da década de 1970, uma aparente estabilização econômica sugeria que tudo ia muito bem no país, isso pelo menos para grandes empresários. No entanto, esse aparente progresso logo revelou sua face oculta, pois mais da metade dos trabalhadores assalariados recebiam menos de um salário mínimo, o que só piorou nos anos seguintes. Além disso, eram altíssimos os números de subnutrição (67% da população), mortalidade infantil (114 para cada 1000 nascidos vivos) e acidentes de trabalho (op. cit, p. 12). A instabilidade do país atingiu também as famílias que, para conseguir sobreviver, precisaram se adequar, o que levou muitas mulheres e menores de idade a entraram para o mercado de trabalho. Muitas pessoas tiveram que fazer mais horas extras, passando mais tempo fora de casa. Além disso, a demanda de menores em busca de trabalho promoveu um grande abandono escolar (HABERT, 1992, p. 18). Essa inconstância gerada pelo “milagre econômico” levou muitos trabalhadores a migrarem para as grandes cidades em busca de trabalho. Com a abertura da Avenida Brasil, no Rio de Janeiro, em 1964, muitos empregos foram gerados, principalmente para quem já trabalhava na construção. Um grande desenvolvimento ocorreu ao longo dessa avenida, ao mesmo tempo em que um crescimento paralelo ocorria nas inúmeras favelas que surgiam por conta dessa nova população migrante (OSBORN, 2013). Sem conseguir pagar os altíssimos aluguéis, a classe operária passou a morar, de forma sub-humana, em cortiços ou "favelas", com privação de todo tipo de infraestrutura: água, luz, esgoto, creches, escolas, posto de saúde (HABERT, 1992, p. 18-19) e com o passar dos anos, isso só piorou. Disso remonta a formação de grandes complexos de comunidades 2 no Rio de Janeiro, o que se repetiu nos maiores centros urbanos. No Rio de Janeiro, por exemplo, entre os anos 1960 e 1970, houve um grande desenvolvimento de favelas e a política adotada era apoiar ou remover (OSBORN, 2013). Conjuntos habitacionais foram construídos em locais periféricos, bem longe dos grandes centros, a fim de esvaziar as favelas e, posteriormente, destruí-las. Contudo, a proposta não foi aceita por seus moradores, que decidiram ficar e resistir. Essa ação chamou a atenção de alguns arquitetos, que decidiram apoiá-los.. 2. Embora um grande crescimento de favelas tenha acontecido nesse período, o surgimento desse tipo de habitação remonta ao fim do século XVIII, quando vários cortiços foram destruídos com o objetivo de eliminar a proliferação de doenças e impedir a desvalorização territorial. Sem ter onde morar, a solução foi construir barracos nos morros. Em 1920, a multiplicação de favelas tornou-se incontrolável e, em 1937, o número populacional de moradores de favelas era de 250 mil (MELO, 2002)..

(29) 29. O sociólogo José Arthur Rios, que na década de 60 exercia o cargo de coordenador do governo de Carlos Lacerda para o serviço social, implantou no Rio a "operação mutirão", um projeto de urbanização e desenvolvimento de comunidades. [...] O governo forneceu assistência na área de engenharia, e sobra de materiais de outras construções. Também, em 1968, o governador Negrão de Lima reuniu um grupo de arquitetos, economistas e urbanistas para formar a Companhia de Desenvolvimento das Comunidades (CODESCO) que fornecia suporte técnico a moradores e empréstimos de longo prazo com juros baixos para a compra de materiais de construção por moradores. A CODESCO organizou um processo de votação onde moradores votavam onde e como as novas ruas seriam projetadas, e reassentou de forma que garantisse que famílias ficariam juntas na mudança das pessoas de um lado da comunidade para o outro (OSBORN, 2013).. Um ano e meio depois, Lacerda "apoiado por interesses imobiliários que queriam “limpar” a Zona Sul de suas favelas", desistiu do projeto, e com o apoio da Coordenação de Habitação de Interesse Social da Área Metropolitana do Rio de Janeiro, a CHISAM, removeu cerca de 100.000 pessoas de suas casas entre 1968 e 1975, realocando-as em conjuntos habitacionais construídos na periferia da cidade. Muitas dessas pessoas não conseguiam pagar pelo aluguel e serviços básicos das novas habitações, não podendo permanecer nessas moradias. Em 1980 a inflação do país alcançou o índice de 110% e o valor do salário mínimo ficou em Cr$ 5.788,80, o menor valor dos 20 anos anteriores (Tabela de Valores de Salário Mínimo de 1940 a 2018). Demissões e desempregos nessa época eram constantes. "A crise, que se configurou mais fortemente a partir de 1976, veio a atingir o seu auge na recessão de 1981-83" (HABERT, 1992, p. 43). Todo esse contexto político, social e econômico certamente gerou reflexos no contexto eclesial de muitas igrejas, bem como da Igreja Metodista e deixou marcas que não poderiam ser negligenciadas. Seu contexto dizia que a Igreja precisaria definir sua posição social. 1.4 O papel das igrejas no contexto da ditadura militar A ditadura militar, que durou 21 anos, marcou o Brasil da década de 1970. O SNI (Serviço Nacional de Informações), criado pelo Marechal Castelo Branco, e empregado por instituições como as Forças Armadas, o CISA (Centro de Informação Social da Aeronáutica), o CENIMAR (Centro de Informação da Marinha) e o CIE (Centro de Informação do Exército), a Polícia Federal e as polícias civis e militares estaduais, eram, na verdade, uma "máquina de repressão" que tinha como objetivo "impedir e desarticular qualquer.

(30) 30. manifestação de oposição ao regime, tendo como alvo principal as organizações de esquerda" (Ibid, p. 27). O País que nos restou estava no ranking mundial entre os cinco mais em relação às desgraças sociais (mortalidade infantil, subnutrição, doenças, fome, violência, analfabetismo, acidentes de trabalho etc.). Mas, no final da década (70) seguramente não era o mesmo: tínhamos evidentes mostras de profundas mudanças ocorridas nos últimos anos da estrutura da produção e da sociedade, nos comportamentos políticos, nas manifestações culturais (op.cit, p. 70).. Nesse período, as igrejas também precisaram se manifestar; seu discurso de amor ao próximo e misericórdia carecia ser revisto na prática. A Igreja Católica do Brasil foi uma das que se posicionou a favor da população perseguida. Vários setores comprometidos com causas populares e vinculados a essa Igreja, tais como as CEBs (Comunidades Eclesiais de Base), Clube de Mães e SABs (Sociedade amigos de bairros), cederam seus espaços para que a população discutisse seus problemas (HABERT, 1992, p. 36). O resultado dessas articulações encontrou respaldo "nas novas orientações definidas pela II Celam (Conferência Episcopal Latino-Americana), realizada em 1968 na cidade de Medelín, Colômbia", que redefiniram que a Igreja deveria posicionar-se contrária a todo tipo de opressão social e estar mais comprometida com as pessoas empobrecidas. A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), representada por D. Paulo Evaristo Arns, D. Pedro Casaldáliga, D. Tomás Balduíno, D. Mauro Morelli, D. Helder Câmara, entre outros, passou a denunciar publicamente as injustiças sociais e a posicionar-se totalmente contrária ao governo militar, condição que colocou a Igreja Católica em situação de perigo, ocasionando ameaças a vários padres e bispos, alguns deles, inclusive, sofrendo processos, atentados, sequestros e assassinatos (Ibid, p. 37). Dentre esses destacamos Frei Tito, Frei Beto (Memórias da Ditadura), Dom Adriano Hypólito (BENEVIDES; REMÍGIO, 2014), Padre Antonio Henrique Pereira Neto, Padre João Bosco Penido Burnier, Padre Jorge Oscar Adur (Dossiê dos mortos e desaparecidos políticos a partir de 1964, 1995). Essa conjuntura social e o clamor do povo exigiam, cada vez mais, um posicionamento das Igrejas, e com a Igreja Metodista não foi diferente. Muitas igrejas locais começaram a se unir no propósito de fazer emergir uma igreja mais participativa e, assim, no início dos anos 80, muitas pessoas ansiavam por mudanças, inclusive nas igrejas, o que forçou as igrejas históricas, e a Igreja Metodista em particular, a tomarem uma posição diante da estagnação presente naquele período (CUNHA. Et.al. CASTRO e CUNHA, 2001, p. 56)..

(31) 31. 1.5 A Igreja Metodista sob a influência de pressões internas Como toda organização, as igrejas também necessitam, de tempos em tempos, reavaliar a sua caminhada, e foi assim que, em meados de 1970, diante de um cenário caótico em que se encontrava o Brasil já há alguns anos, a Igreja Metodista percebeu a necessidade de uma nova postura e dinâmica de atuação. Essa nova postura e dinâmica tinha a ver com o cumprimento da missão da Igreja, que conforme o que se entendeu estava fragilizado naquele momento. Além dos clamores externos promovidos pela sociedade, muitos metodistas começaram a se posicionar trazendo esses conflitos sociais para junto do ambiente eclesial, manifestando seu desejo por mudanças que surgissem, também, a partir da Igreja. Assim, a Igreja viveu momentos de intensas contradições. Como bem explicou o bispo honorário da Igreja Metodista, Stanley da Silva Moraes, esse foi um período em que a Igreja... [...] concentra o poder nas mãos de alguns poucos e, por outro lado, ela busca ser uma igreja-comunidade. Por um lado, ela mais se submete às normas e orientações da "Igreja Metodista" (dos Estados Unidos da América) e, por outro, ela busca ser uma Igreja que assume sua identidade nacional, não mais submissa mas parceira. O ambiente na Igreja é de enormes tensões, com posições fortes numa e noutra direção. No contexto da "resistência", as origens inglesas do Metodismo são buscadas, e se estabelecem novas tensões quanto às raízes do Metodismo (MORAES, 2003, p. 4647).. Tal tensão foi, também, a responsável pelo fechamento da Faculdade de Teologia da Igreja Metodista, em 19683, fato que gerou ainda mais desgastes na Igreja, pois, percebia-se nessa proposta, que fora apresentada e aprovada no Concílio Geral extraordinário da Igreja realizado no mesmo ano, que o grupo de pessoas favoráveis ao fechamento da Faculdade buscava, na verdade, opor-se aos propósitos da igreja-comunidade, aquela que buscava definir sua própria identidade nacional (Ibid, p. 47). O Jornal oficial da Igreja Metodista, o "Expositor Cristão", apresentou em algumas de suas edições, debates envolvendo alguns problemas da sociedade. Entre os anos de 1980 a 1982 vários temas importantes foram destacados, chamando assim a atenção do povo metodista para uma realidade social que lhe dizia respeito. Em um desses artigos, intitulado "Atitudes de Wesley ante os problemas sociais", o professor de Teologia e pastor metodista Odilon Massolar Chaves, discorreu sobre alguns problemas presentes no início dos anos 80, 3. A Faculdade de Teologia foi reaberta em 1970, com 9 alunos. Após proposta feita pela própria Faculdade, o Concílio Geral da Igreja, realizado naquele mesmo ano, aprovou que a Faculdade de Teologia se tornasse o Instituto Metodista de Ensino Superior (IMS), e, no ano seguinte, com a autorização do Conselho Federal de Educação, iniciou suas atividades com 325 alunos e alunas aprovados no vestibular (ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO DA REDE METODISTA DE EDUCAÇÃO, apud MAGALHÃES, 2018)..

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