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O espaço transitório na cidade de El Alto, Bolivia

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Academic year: 2021

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(1)FIORELLA MACCHIAVELLO. O ESPAÇO TRASITÓRIO A CIDADE DE EL ALTO, BOLÍVIA. Florianópolis 2008.

(2) 16 Universidade Federal de Santa Catarina Centro de Filosofia e Ciências Humanas Programa de Pós-graduação em Geografia. FIORELLA MACCHIAVELLO. O ESPAÇO TRASITÓRIO A CIDADE DE EL ALTO, BOLÍVIA. Orientador: Prof. Idaleto Malvezzi Aued. DISSERTAÇÃO DE MESTRADO. Área de concentração: Desenvolvimento Regional e Urbano. Florianópolis/SC, março de 2008.

(3) 17 O ESPAÇO TRASITÓRIO A CIDADE DE EL ALTO, BOLÍVIA. FIORELLA MACCHIAVELLO. Coordenador: Prof..Dr. Carlos José Espíndola Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de PósGraduação em Geografia, área de concentração Desenvolvimento Regional e Urbano, do Centro de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Santa Catarina, em cumprimento aos requisitos necessários à obtenção do grau acadêmico de Mestre em Geografia.. Presidente: Prof. Dr. Idaleto Malvezzi Aued (UFSC). Membro: Profa. Margareth Pimenta (UFSC). Membro: Profa. Marlene Grade (UFMG). Suplente: Prof .. Florianópolis, SC, 31 de março de 2008.

(4) 18. Pela construção da libertação plena e real..

(5) 19 AGRADECIMETOS À vida por se manifestar tão radiante em todos os cantos do mundo. Ao Idaleto por sua dedicada orientação e reflexões que me assistiram para além da Dissertação através de diálogos de inestimável valor. Ao Curso de Pós-graduação em Geografia por conceder o espaço necessário para a elaboração deste trabalho, a todos os professores do curso e à secretária Marli. À CAPES por ter concedido uma bolsa de mestrado no segundo ano do curso. Ao Instituto de Estudos Latino-americanos (IELA) da USFC, em especial ao Nildo e à Elaine, por apoiar a pesquisa de campo e pelos importantes diálogos sobre a difícil e, no entanto, maravilhosa realidade latino-americana. Ao Dante por contribuir de forma espontânea e alegre para minha chegada à Cidade de El Alto. Ao amigo Bruno que guiou meus passos desde Florianópolis até lá. Ao Mário, sem o qual teria ficado perdida na grandiosa cidade de El Alto. Aos entrevistados, por se disporem a participar deste trabalho através de suas experiências em forma tão plena, em especial a Luis Gómez, Juan Manuel Arbona, Pablo Mamani, Máximo Quisbert, Simón Yampara, Juan Carlos Ensinas, Felix Patzi e Abraham Delgado. À querida amiga Samya pela revisão do trabalho, pelos diálogos teóricos e por cima de tudo, pela bela amizade em momentos imprescindíveis. Ao Wolney, Juan, Nadia, Fran pelos bons momentos e pelo afeto. À Solange por seu auxílio nos cuidados da nossa pequena quando viajei. Ao Guilherme e Luara pelo amor, compreensão e alento..

(6) 20. Lo que nosotros tenemos que practicar hoy, es la solidaridad. o debemos acercarnos al pueblo a decir: ‘aquí estamos. Venimos a darte la caridad de nuestra presencia, a enseñarte con nuestra ciencia, a demostrarte tus errores, tu incultura, tu falta de conocimientos elementales´. Debemos ir con afán investigativo, y con espíritu humilde, a aprender en la gran fuente de sabiduría que es el pueblo (Ernesto “Che” Guevara)..

(7) 21 RESUMO O modo de produção capitalista engendra sua negação a partir do desenvolvimento das forças produtivas, eminentemente sociais e coletivizadas a partir da ampliação da escala de cooperação. Embora a reprodução do capital engendre as condições materiais e sociais para sua superação, contraditoriamente, as condições atuais mostram a dificuldade/ impossibilidade crescente de os homens reproduzirem sua existência, mesmo como seres biológicos. As opções para reproduzir a força de trabalho como mercadoria se esgotam e a repetição de formas históricas passadas é impossibilitada em função do desenvolvimento das forças produtivas. Para superar o problema de efetivar a vida no presente os homens utilizam nexos coletivos solidários e cooperativos, os quais evidenciam o esgotamento da potencialidade do modo de produção capitalista. Estudamos estes nexos na cidade de El Alto, Bolívia, em que as formas de organização social resgatam práticas indígenas do passado. Estas são o grande sustento da articulação social alteña, onde o espaço se constrói a partir da dinâmica das juntas de vizinhos. Desta forma, a organização social edifica espaços públicos, como escolas, praças, ruas, calçadas, redes de esgoto, sendo sua ação central na habitação do local. Observamos também a recuperação da lógica coletiva comunitária na articulação das manifestações e levantamentos sociais, na materialização de serviços públicos (luz, água) e da Universidade Pública de El Alto (UPEA), na Feira 16 de Julho, nas festividades e na gestão da segurança dos bairros. Esta luta pela efetivação material da vida presente indica que o problema da subsistência e da efetivação da vida é um problema comum. Assim, nosso estudo busca desvelar os elementos que apontam para uma sociedade superior à capitalista, nos experimentos dos homens reais. Nossa visão da geografia é a de uma geografia em movimento que aponta para a formação de espaços, que apresentam elementos de uma sociedade superior à capitalista, mas que ainda não são esta sociedade superior, conformando espaços transitórios. Nossa base teórica é a tese de pós-doutoramento do Professor Idaleto Aued Malvezzi, que, fundamentada em Karl Marx, formula a passagem do capitalismo para uma forma de produção superior, dinâmica em que se manifesta a geografia do espaço transitório. Palavras-Chave: Espaço de Transição – Trabalho Coletivo - El Alto, Bolívia.

(8) 22. LISTA DE MAPAS. Mapa 1: Divisão Política da Bolívia por Departamentos................................... 39 Mapa 2: Localização geográfica de El Alto....................................................... 75 Mapa 3: principais rotas com interseção em El Alto ..........................................80 Mapa 4: Concentração aymara- falante em Bolívia............................................81 Mapa 5: Evolução do Crescimento Urbano de El Alto.......................................84 Mapa 6: Fluxo de Produtos em direção à El Alto...............................................96.

(9) 23 LISTA DE FOTOS. Foto 1: Vista Panorâmica da Cidade de El Alto e Ladeiras da cidade La Paz................77 Foto 2: Avenida La Ceja na cidade de El Alto. Vista do nevado Chalcantaya..............78 Foto 3: Vista da Cidade de El Alto desde um setor da Feria 16 de Julho.......................78 Foto 4: Vista desde El Alto em direção à cidade La Paz.................................................79 Foto 5: Vista da urbanização Villa Dolores, Cidade de El Alto......................................85 Foto 6: Venda de eletrodomésticos.................................................................................87 Foto 7: Venda de laranjas................................................................................................87 Foto 8: Vizinhos em processo de autoconstrução...........................................................88 Foto 9: Processo de autoconstrução................................................................................89 Foto 10 : Posto ambulante na cidade de El Alto...........................................................90 Foto 11: Venda de frutas e legumes em bairro da Cidade de El Alto............................90 Foto 12: Vista Panorâmica da Extensão Feira 16 de Julho............................................93 Foto 13: Venda de auto-peças usadas.............................................................................94 Foto 14: Leitura da sorte.................................................................................................94 Foto 15: Venda de roupa usada......................................................................................95 Foto 16: Venda de Madeiras ..........................................................................................95 Foto 17: Venda e Fabricação de Móveis........................................................................95 Foto 18: Venda e Fabricação de Móveis........................................................................95 Foto 19: Comercialização de eletrodomésticos e eletrônicos ........................................95 Foto 20: Comercialização de animais.............................................................................95 Foto 21: Vista da Feira 16 de Julho................................................................................97 Foto 22: Festividades coletivas tomam conta das avenidas..........................................100 Foto 23: Festividade na avenida Juan Pablo II..............................................................100 Foto 24: A Cidade de El Alto (encima) e ladeiras de La Paz (embaixo).......................104 Foto 25: Ruas sendo preparadas para asfaltado.............................................................119 Foto 26: Obras para instalação de esgoto......................................................................120 Foto 27:.Ruas pavimentadas a partir de práticas comunais...........................................120 Foto 28: Praças auto-construídas...................................................................................120 Foto 29: Prédio da Federação de Juntas de Vizinhos (FEJUVE)..................................133 Foto 30: Uma das laterais da Universidade Pública de El Alto (UPEA)......................140 Foto 31: Marcha de outubro vermelho, aberta por Malkus e Jilaqatas.........................146 Foto 32: Vizinhos marcham com seus estandartes segundo sua Junta de Vizinhos......147 Foto 33: El Alto, marchas out. 2003..............................................................................149 Foto 34: El Alto, marchas out. 2003..............................................................................149 Foto 35: Militarização em El Alto, outubro de 2003.....................................................150 Foto 36: Ladeiras de La Paz, marchas de outubro de 2003...........................................152 Foto 37: Marchas descendo pelas ladeiras de La Paz, out.2003....................................152 Foto 38: Marchas organizadas segundo estandartes das juntas de vizinhos .................153 Foto 39: El Alto desce em la Paz: marchas FEJUVE e whipala indígena...................153 Foto 40: Mineiros participando das marchas: Praça San Francisco (La Paz)...............154 Foto 41: Bonecos pendurados alertam sobre práticas de vigilância comunal...............162.

(10) 24 LISTA DE FIGURAS. Figura 1: Macro-regiões Geográficas da Bolívia............................................................37 Figura 2: Imagem Satelital de El Alto................................................................ ............75 Figura 3: Divisão do Departamento de La Paz em províncias........................................76 Figura 4: Área Metropolitana El Alto e La Paz............................................................. 76 Figura 5 : Ciudad de El Alto, Macro-zonas dividas pelo aeroporto................................82 Figura 6: Divisão Distrital de El Alto..............................................................................83 Figura 7: Fluxo Migratório em direção a El Alto..........................................................106.

(11) 25 LISTA DE TABELAS. Tabela 1: Bolívia, aspectos étnicos (primeira metade dos anos 2000)............................36 Tabela 2: El Alto, População Ocupada por Atividade Econômica..................................86.

(12) 26. LISTA DE GRÁFICOS. Gráfico 1: População Pobre em El Alto (2001)...............................................................85.

(13) 27 LISTA DE SIGLAS. ALCA – Acordo de Livre Comércio entre as Américas CADA - Centro Andino de Desarrollo Agropecuario COB - Central dos Trabalhadores da Bolívia COMIBOL - Corporação Mineira de Bolívia CONALJUVE - Organização Nacional das Juntas de Vizinhos CONAMAQ - Consejo acional de Ayllus y Markas del Qullasuyu CONDEPA - Partido Conciencia de Patria COR – EL ALTO - Central Obrera Regional El Alto CSUTCB - Confederação Sindical Única dos Trabalhadores Camponeses da Bolívia FEJUVE - Federação de Juntas de Vizinhos FEJUVE- El Alto - Federação de Juntas de Vizinhos de El Alto FSTMB - Federação Sindical de Trabalhadores Mineiros de Bolívia IDH - Índice de Desenvolvimento Humano INE - Instituto Nacional de Estatísticas INRA - Lei de Reforma Agrária LPP - Lei de Participação Popular MAS - Movimiento al Socialismo MIP - Movimento Indígena Pachakuti MNR - Movimento Nacional Revolucionário MPC - Modo de Produção Capitalista MST - Movimento dos Sem Terra ONG – Organização não - governamental OTB - Organização Territorial de Base PEA - População economicamente ativa PIB – Produto Interno Bruto POA - presupuesto operativo anual UCS - Partido Unidad Cívica Solidária UMSA - Universidad Mayor de San Andres UPEA - Universidade Pública de El Alto USAID - United States Agency for International Development.

(14) 28 RELAÇÃO DE ETREVISTADOS Abraham Delgado: Líder indigenista e dirigente político do movimento juvenil 2003. Liderou o movimento pela ocupação da Universidade Pública de El Alto (UPEA). Felix Patzi: Professor de Sociologia da Universidade Maior de San Andres (UMSA). Ex-Ministro de Educação durante o primeiro ano de governo de Evo Morales (2006). Entre as obras mais importantes se encontram Sistema Comunal una propuesta alternativa al sistema Liberal (2004) e Insurgencia y Sumisión, movimientos sociales e indígenas (2007). Juan Carlos Ensinas: Secretário de Imprensa da FEJUVE-El Alto e Representante do Setor Norte da cidade de El Alto. Juan Manuel Arbona: Professor de Geografia na Universidade BRYN MAWR, Growth and Structure of Cities Program. Pesquisador sobre o movimento social em El Alto e a dinâmica da organização coletiva na construção da cidade. Luis Gómez : Jornalista independente, trabalha sobre questões indígenas. Escreveu o livro El Alto de Pie, que relata a movimentação de outubro segundo as informações dos moradores. Editor de livros como Movimento Indígena em América Latina. Mario Chuquimia: pesquisador independente e ativista político. Autor do site http://elaltobolivia.blogspot.com, assim como de diversos artigos sobre a dinâmica socioeconômica boliviana e alteña. Máximo Quisbert: Professor de Ciências Políticas da Universidade Pública de El Alto (UPEA). Morador alteño, vivenciou as jornadas de outubro de 2003. Investigador sobre atores políticos e a FEJUVE. Pablo Mamani: Diretor e Professor do Curso de Sociologia da Universidade Pública de El Alto (UPEA). Docente na Universidade Maior de San Andres (UMSA). Investigador aymara sobre comunidades e ayllus. Autor de livros como Geopolíticas Indígenas (2005) e Mircogobiernos barriales (2005). Pesquisadores do CEADL – Centro de Estudos Aplicados al Desarrollo Local. Diversos pesquisadores se dedicam ao estudo de temas relacionados à problemas sociais alteños e aplicam projetos junto à comunidade. Simón Yampara: Presidente da Assembléia Permanente dos Povos e Nações Originárias do Qullasuyu, pesquisador da Feira 16 de Julho. Sociólogo aymara, autor do livro La Cosmovisión y Lógica en la dinámica socioeconómica del Qhatu/Feria 16 de Julio..

(15) 29 SUMÁRIO ITRODUÇÃO..........................................................................................................................16 CAPÍTULO I ............................................................................................................................. 34 I.1 NOSSA LEITURA DO MÉTODO EM KARL MARX..................................................................................35 I.2 O ESPAÇO..........................................................................................................................................38 I.3 O ESPAÇO COMO TOTALIDADE E O TEMPO PRESENTE COMO UNIVERSALIDADE ...............................40 I.4 O ESPAÇO DO TEMPO PRESENTE: A APLICAÇÃO DO PROCESSO CIENTÍFICO E A LUTA PELA EXISTÊNCIA .......................................................................................................................................41 I.5 APREENSÃO DO ESPAÇO LATINO-AMERICANO: A UNIVERSALIDADE SE EXPRESSANDO NAS DIVERSAS SINGULARIDADES ..............................................................................................................42 I.6 O ESPAÇO URBANO ...........................................................................................................................45 I.7 PERIFERIAS METROPOLITANAS NO ESPAÇO URBANO LATINO-AMERICANO ......................................46 I.8 ESPAÇOS URBANOS DE RESISTÊNCIA E TRANSIÇÃO: A CIDADE DE EL ALTO, BOLÍVIA ......................48. CAPÍTULO II............................................................................................................................ 58 II.1 NOSSA PROPOSTA DE ANÁLISE ........................................................................................................58 II.2 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A QUESTÃO NACIONAL .............................................................58 II.3 A (RE)PRODUÇÃO DO MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA E SUA NEGAÇÃO: O RECINTO DA COMPOSIÇÃO DO ESPAÇO TRANSITÓRIO...........................................................................................62 II.4 O ESPAÇO TRANSITÓRIO ..................................................................................................................66 II.5 A UNIVERSALIZAÇÃO DA TRANSITORIEDADE: IMPLICÂNCIAS PARA SE APROPRIAR DO ESPAÇO .......77 II.6 A IMPORTÂNCIA DA COOPERAÇÃO NA CONSTITUIÇÃO DO ESPAÇO TRANSITÓRIO ...........................79 II.7 A CONDIÇÃO DE MISERABILIDADE DA CLASSE TRABALHADORA: NA DINÂMICA DA SUPERAÇÃO ......83. CAPÍTULO III: A CIDADE DE EL ALTO ........................................................................... 87 III.1 LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA ..........................................................................................................88 III.2 CONTEXTUALIZAÇÃO DA CIDADE DE EL ALTO ...............................................................................95 III.3 FEIRA 16 DE JULHO, A ECONOMIA INFORMAL E AS CELEBRAÇÕES FESTIVAS ...............................103 III.4 MOMENTOS HISTÓRICOS: A TRADIÇÃO DE LUTA E REIVINDICAÇÃO DE EL ALTO...........................115 III.5 ANTECEDENTES HISTÓRICOS E CONSTITUIÇÃO DA CIDADE DE EL ALTO ......................................116 III.6 CRESCIMENTO EM FUNÇÃO DO PROCESSO MIGRATÓRIO...............................................................117 III.7 FORMAS DE ORGANIZAÇÃO INDÍGENAS NO ALTIPLANO................................................................109 A) O Ayllu como unidade territorial ...............................................................................................123 B) A organização camponesa: A CSUTCB .....................................................................................126 C) Organzização mineira boliviana.................................................................................................115 III.8 PROCESSO DE AUTO-CONSTRUÇÃO E CONSTITUIÇÃO DAS JUNTAS DE VIZINHOS ...........................132 III.9 FEDERAÇÃO DE JUNTAS DE VIZINHOS (FEJUVE) – EL ALTO .......................................................143 III.10 UNIVERSIDADE PÚBLICA DE EL ALTO (UPEA) E A PARTICIPAÇÃO DE GERAÇÕES JOVENS NA PRÁXIS COLETIVA .................................................................................................................................151 III.11 MOMENTOS DE LUTA: A FORÇA DA ARTICULAÇÃO DE BAIRRO NAS REIVINDICAÇÕES SOCIAIS ....156 A) Os conflitos do ano 2000 e 2001................................................................................................156 B) Os conflitos no ano 2003 ...........................................................................................................159 C) Os conflitos no ano 2005 ...........................................................................................................168 III.12 ORGANIZAÇÃO COLETIVA NA SEGURANÇA PÚBLICA ...................................................................156. CAPÍTULO IV: COSIDERAÇÕES FIAIS...................................................................163 BIBLIOGRAFIA......................................................................................................................177.

(16) 30 ITRODUÇÃO No contexto mundial contemporâneo torna-se evidente que mesmo com o desenvolvimento da ciência e tecnologia, as contradições do modo de produção capitalista (MPC) se intensificam, tornando a subsistência diária um martírio doloroso para um número crescente de pessoas, enquanto que para alguns poucos proprietários privados capitalistas a riqueza se acumula desmedidamente. Esta contradição, que se materializa no ato produtivo, conforma o espaço recente. O crescimento das favelas e pueblos jóvenes, o aumento da pauperização de grande contingente de pessoas, do crime organizado, da violência generalizada, o aumento do tráfico de pessoas e crianças, evidenciam o esgotamento da potencialidade do MPC para dar conta da vida das pessoas como o fazia até então. Cabe então a pergunta: para onde caminha esta sociedade? Há um caminho de transformação em curso que indique a possibilidade de uma sociedade superior à burguesa ou as contradições do MPC levarão à barbárie? Neste trabalho de dissertação estudamos que a base produtiva do presente modo de produção engendra elementos que podem levar a compor uma sociedade nova, que emerge nela, porém que dela se diferencia. Assim, buscamos caracterizar as précondições materiais e sociais que compõem uma sociedade mais avançada do que a capitalista,. em. que. o. Homem. produza. conscientemente. sua. existência,. teleologicamente. Para tal, utilizaremos como base deste estudo a obra de Karl Marx, filósofo alemão do século XIX, e as Teses de Pós-doutorado do Professor Idaleto Malvezzi Aued, que apresentam a fundamentação teórica para o entendimento da Geografia do Espaço Transitório, entre o capitalismo e formas superiores de produção da existência. A humanidade se move dentro de experimentos reais. É justamente dentro desta práxis que a reprodução da vida pode organizar-se empiricamente de forma diferente à racionalidade capitalista. Estas práticas podem conter elementos novos que venham germinar uma sociedade superior. Deste modo, estudamos e analisamos um experimento real em que homens e mulheres se organizam para dar conta da (re)produção de sua existência frente à desvalorização de suas vidas. Nosso objetivo é estudar a organização social na cidade de El Alto, na Bolívia, país da América do Sul, e analisar se existem nela apontamentos que indiquem a conformação do Espaço Transitório nesta práxis. Esta cidade, que nasceu como área.

(17) 31 periférica da capital administrativa da Bolívia, La Paz, encontra sua expansão atrelada à busca de possibilidades para efetivar a vida por parte de homens e mulheres regurgitados pelo capital.. Um motivo central do crescimento inicial alteño foi a. proximidade geográfica à capital. Em El Alto confluem basicamente dois fluxos migratórios: os indígenas camponeses e os indígenas mineiros. Ambos conformam o espaço alteño a partir de articulações sociais cooperativas, uma vez que ao migrarem levaram consigo a tradição de organização coletiva histórica, em ambos os casos. Ainda, encontramos que a formação social indígena contém fundamentos coletivos de preciosa importância, com os quais se faz frente ao presente e constituem ferramentas para a efetivação da vida urbana neste local. Uma preocupação constante foi a de como apreender o espaço e entender as questões do local e do universal.. Neste trabalho apresentamos que a partir do. aprimoramento das forças produtivas cada vez mais as diferenças em cada local são expressões da mesma universalidade. Ao compreender o desenvolvimento histórico da base material, que é o esqueleto da história dos homens, segundo Marx, torna-se necessário apreender uma metodologia espacial que contemple nos lugares a universalização do trabalho coletivo. Nesse sentido, esperamos fazer uma contribuição no sentido de como abarcar experimentos. sociais. locais. no. século. XXI,. levando. em. consideração. o. desenvolvimento da base material. Da mesma forma, esperamos clarear a forma pela qual, práticas locais, de bagagem histórico-cultural bastante forte, como em El Alto, irradiam um Homem universal e ultrapassam os próprios limites da localidade. Como veremos, a união das lutas alteñas deve-se à universalização do MPC, cuja expressão no nosso tempo é o esgotamento de sua potencialidade para efetivar a vida de uma massa crescente de homens e mulheres. Logo, e de acordo com a nossa concepção, todos os conflitos da história têm a sua origem na contradição entre as forças produtivas e o modo de trocas. Não é, aliás, necessário que esta contradição seja levada a um extremo num determinado país para aí provocar conflitos. A concorrência com países cuja indústria se encontra mais desenvolvida, concorrência provocada pela expansão do comércio internacional, basta para dar origem a uma contradição deste tipo, mesmo nos países onde a indústria está menos desenvolvida (por exemplo, o aparecimento de um proletariado latente na Alemanha provocado pela concorrência da indústria inglesa) (MARX & ENGELS, 1976, p.76)..

(18) 32 Compreender a totalidade como espaço universal é resultado da materialização e operacionalização dos meios de produção e do intercâmbio entre os homens. Isso, para nós, não significa a extinção de especificidades culturais. Entendemos que o fio condutor da negação e superação do MPC é a cooperação. A destruição da individualidade do trabalho e a elevação da potência do trabalho social constituem o fundamento (pressuposto) que pode gerar uma transformação em direção à superação da sociedade capitalista. Aqui se situa o Espaço Transitório, em que o coletivo se coloca em detrimento do individual. A luta na cidade de El Alto expressa essa necessidade do caráter cooperativo como decorrência real do presente. A união solidária dos homens se apresenta como uma necessidade instituída pela ordem do capital, em sua fase degenerativa, e, ao mesmo tempo , pela natureza social do seu fundamento material, que só pode ser operacionalizado em comum. Portanto, buscaremos apresentar os diversos aspectos do coletivo que ganham força na cidade de El Alto como conseqüência do esgotamento das formas individuais de reproduzir a vida e do depauperamento também de certas funções do Estado. Assim sendo, discursaremos sobre nosso entendimento de Espaço no capítulo I. Iniciaremos o capítulo fazendo uma breve apresentação sobre nossa compreensão do método em Karl Marx, para depois situar o desenvolvimento das forças produtivas atuais, ou seja, a aplicação do processo científico à produção, e a aceleração do tempo em que o capital se reproduz. Assim, passaremos a discutir sobre o local e o universal, para poder apreender o espaço urbano latino-americano e situar a cidade de El Alto dentro de uma caracterização geral da Bolívia. No capítulo II apresentamos nossa proposta de análise. Após fazer algumas breves considerações sobre a questão nacional, passaremos à compreensão e explicitação do Espaço Transitório. Em seguida, apontamos as implicâncias para se apropriar do espaço que decorrem da universalização da transitoriedade e indicamos a importância da cooperação na constituição do Espaço Transitório. Finalmente, apresentamos a condição de miserabilidade da classe trabalhadora na dinâmica de superação e transição do modo de produção capitalista. Uma vez explicitado o fundamento analítico que servirá de base para a apreensão de nosso objeto de estudo, passamos a caracterizar e analisar a cidade de El Alto no capítulo III. Assim, começaremos situando geograficamente a cidade e contextualizando-a em relação à Bolívia. Em seguida, apresentamos as lutas históricas que se teceram neste local e que situam a cidade como um lugar de tradição de lutas.

(19) 33 reivindicativas. Logo, estudamos a constituição da cidade de El Alto em função do processo migratório e analisamos a organização histórica dos dois fluxos principais que conformam este espaço: a organização indígena matriz (o ayllu), os sindicatos camponeses e, a organização mineira. Com isto, podemos apresentar as Juntas de Vizinhos, que conformam a organização social central que organiza o espaço atual em El Alto. Em seguida, falaremos sobre a Federação de Juntas de Vizinhos El Alto (FEJUVE- El Alto) e a organização coletiva na consecução da Universidade Pública de El Alto (UPEA), nos momentos de reivindicações sociais, na organização da Feria 16 de Julho e na seguridade pública, considerando que estas esferas se apresentam como espaços em que os nexos coletivos e cooperativos se apresentam com maior clareza. Finalmente, faremos algumas considerações finais no capítulo IV, buscando responder ao nosso objetivo central de como a construção do espaço alteño revela o esgotamento das formas individuais de reprodução da vida no modo de produção capitalista e aponta para a formação do Espaço Transitório, como pressuposto para se ir além do modo de produção capitalista..

(20) 34 CAPÍTULO I David Harvey (2004) na obra Espaços de Esperança, afirma que no início da década de 1970 era difícil observar a relevância direta do Capital de Karl Marx nas questões da vida cotidiana que marcavam a época. Considerando as condições históricogeográficas, prossegue: em boa parte do mundo capitalista avançado, o movimento sindical ainda era forte, o desemprego estava sob razoável controle, em toda parte (com exceção dos Estados Unidos) a nacionalização e a propriedade pública ainda eram parte dos programas políticos e o Estado de bem-estar social chegara a tal ponto que era considerado inexpugnável, ainda que tivesse falhas. Noutros lugares do mundo, havia em ação movimentos que pareciam ameaçar a existência do capitalismo. Mao era um importante líder revolucionário na China, enquanto muitos outros revolucionários carismáticos, de Che Guevara e [Fidel] Castro no contexto latino-americano a [Amílcar] Cabral e [Julius] Nyerere na África, mantinham ativamente a possibilidade de uma alternativa socialista ou comunista (HARVEY, 2004, p.19).. A situação atual difere imensamente da década de 1970. Parece ser que o capital tomou conta do mundo, as cifras de desemprego aumentaram e o assalariamento de condições péssimas se espraiou, o trabalho infantil e escravo reapareceu, as organizações sindicais perderam força e, o Estado se tornou – definitivamente - o grande viabilizador de condições favoráveis para a valorização do capital mundial: A situação hoje é de todo diferente. O texto [de Karl Marx] se acha cheio de idéias sobre como explicar nosso atual Estado. Há o fetiche do mercado, toda a história selvagem da redução do porte das empresas à custa do desemprego, o escândalo do trabalho infantil, as estarrecedoras condições dos operários da Nike na Indonésia e no Vietnã. A imprensa está cheia de reclamações sobre como a mudança tecnológica está destruindo oportunidades de emprego, enfraquecendo as instituições dos trabalhadores organizados e aumentando em vez de reduzir a intensidade e a carga do trabalho (todos os temas centrais do capítulo de Marx sobre ‘O maquinário e a indústria moderna’). E há igualmente a questão de como o ‘exército industrial de reserva’ foi produzido, mantido e manipulado, em favor dos interesses da acumulação do capital, nas últimas décadas [...] Tudo isso torna bem fácil vincular o texto de Marx com a vida cotidiana (HARVEY, 2004, p. 20-21).. Nos valemos da Obra de Karl Marx para entender o espaço. Coincidimos com Harvey na tentativa de construir um materialismo-histórico-geográfico para se apropriar da realidade..

(21) 35 I.1. ossa leitura do Método em Karl Marx A concepção teórico-metodológica é o veículo fundamental para entender a. forma de apropriação da realidade e, especificamente, a maneira de abarcar o problema em questão. Nesse sentido, afirmamos que nossa apropriação do espaço boliviano da cidade de El Alto acontece a partir de uma leitura marxiana, porém não categórica da realidade social, que busca entender a possibilidade de superação do modo de produção capitalista através da práxis no presente. Para Marx, o método se baseia na observação dos homens reais no tempo presente, uma vez que é através da práxis presente que o trabalho passado se efetiva. A estrutura da história, segundo este autor, ocorre em função do desenvolvimento das forças produtivas. Esse arcabouço constitui o esqueleto material da história uma vez que guarda o registro histórico de como os homens produziram (e produzem) sua existência real em diferentes momentos. No entanto, é a partir das formas mais desenvolvidas que se deve fazer a leitura das formas passadas, uma vez que: A sociedade burguesa é a organização histórica da produção mais desenvolvida e mais variada que existe. Por este fato, as categorias que exprimem as relações desta sociedade e que permitem compreender a sua estrutura, permitem ao mesmo tempo perceber a estrutura e as relações de produção de todas as formas de sociedade desaparecidas, cujas ruínas e elementos ela se edificou, de que certos vestígios, parcialmente ainda não apagados, continuam a subsistir nela, e de que certos simples signos, desenvolvendo-se nela, se enriquecem de toda sua significação. A anatomia do homem é a chave da anatomia do macaco. Nas espécies animais inferiores só se podem compreender os signos denunciadores de uma forma superior, quando essa forma superior já é conhecida. Da mesma forma, a economia burguesa nos dá a chave da economia antiga, etc. [sublinhado nosso] (MARX, 1973, p. 234).. Portanto, o procedimento metodológico consiste em olhar o mundo real e responder a indagação: como é que os homens produzem sua existência? Afirmamos que o mundo atual aponta para a superação do modo de produção capitalista em função dos claros sinais degenerescentes na forma de reprodução do mesmo. A história é, pois, a história de como os homens produzem (e produziram) sua existência no cotidiano em cada momento dado. Não se trata, porém, de momentos sobrepostos nem mesmo de um desenvolvimento etapista (em que uma etapa hermética antecede a posterior e assim sucessivamente), uma vez que no processo de trabalho capitalista (em que o homem produz os meios para sua existência, se reproduz a si mesmo e, ao mesmo tempo, reproduz o modo de produção) o que acontece é a transubstanciação do trabalho. Em outras palavras, o que ocorre é uma verdadeira.

(22) 36 revolução na forma de produzir a existência e não só a passagem de uma etapa evolutiva do trabalho para outra. Dentro desta perspectiva, a geografia que estudaremos não é a geografia de um local determinado, embora estes existam concretamente, com suas particularidades específicas. Os lugares fazem parte de uma unidade que é a universalidade posta pelo modo de produção capitalista, em que o Homem é produto do próprio Homem, uma vez que o capital é uma relação social universal. Assim, mudam as formas, mas o conteúdo da relação social se mantém e se (re)cria no próprio ato de produção. Nesse sentido, a forma de produzir a existência hoje não é uma escolha. O modo de produção capitalista ainda continua a ser o mais eficiente porque reduz o tempo de trabalho para (re)produzir a existência de qualquer pessoa. Dada a produtividade do trabalho na relação entre duas classes sociais (capitalistas, donos dos meios de produção, e trabalhadores, não-prorietários dos meios de produção) podemos afirmar que o capital é mais produtivo em termos de eficiência social1. Desta forma, afirmamos que. o. trabalho. se. desenvolve. ilimitadamente. no. capital2. (inclusive. pelo. desenvolvimento da ciência e suas novas descobertas, como a nanotecnologia). Enquanto isso, e de maneira dialética, a condição de assalariamento sofre a agonia da precarização social. A condição de assalariamento se torna precária na medida em que o trabalho universal se desenvolve e se torna “mais humanizado”3 já que para tal, o processo de centralização de capital é imprescindível, o qual implica em menos trabalhadores necessários no processo de trabalho. Neste contexto, observamos a virtuosidade dos movimentos sociais (no Brasil, o Movimento dos Sem Terra ‘MST’, na Bolívia, o movimento indígena urbano e das organizações cocaleiras; no México, o movimento de. 1. A eficiência técnica também é fundamental, mas principalmente a social porque desta forma a mercadoria pode ser vendida abaixo do seu valor, como veremos adiante. 2 Ao afirmar que o trabalho se desenvolve ilimitadamente no capital não estamos afirmando que o capital gere mais empregos. Referimo-nos aos avances do trabalho universal e histórico, que têm sua expressão mais acabada na ciência e que se materializam na base material, cada vez mais especializada tecnologicamente. 3 No processo de trabalho as atividades desenvolvidas pelo homem vão se diferenciando historicamente das atividades mecânicas, que dependiam da força ou de movimentos que poderiam ser inclusive desenvolvidos por animais treinados para tal tarefa. Com o desenvolvimento do trabalho social, cabe ao homem o ato teleológico de idear, analisar, funções mentais ou intelectuais que diferenciam a natureza humana da animal..

(23) 37 Chiapas, dentre muitos outros4) que recriam o velho dentro de um marco em que a sociedade não permite mais sua própria reprodução nem existência imediata. Afirmamos também que na impossibilidade de voltar ao passado – pela coletivização dos meios de produção e generalização da propriedade privada -, as tentativas atuais de (re)produzir a vida fora do padrão capitalista são extremamente válidas. Embora em termos de um novo modo de produção estes movimentos não representem – ainda – a superação imediata do capital (em função da eficiência social) encontramos o germe da constituição de uma sociedade de novo tipo nos laços de união solidária e na coletivização da vida. A importância da cooperação no desenvolvimento da base material é fundamental para entender o estágio atual das forças produtivas. Uma vez que é de acordo com o desenvolvimento do trabalho passado (meios de produção) que se pode desenvolver o trabalho presente (força de trabalho viva) cabe estudar os estágios históricos do desenvolvimento da base material, levando em consideração que é através da cooperação e união coletiva dos homens que a base produtiva se revoluciona. Baseados em Marx, podemos diferenciar três grandes momentos históricos até se chegar ao desenvolvimento pleno do trabalho (no capitalismo): o ofício, a manufatura e a grande indústria. Na passagem do trabalho em ofícios para a manufatura aconteceu aglomeração de grande número de trabalhadores em uma única oficina. Por si só, este processo de concentração de pessoas desenvolvendo uma mesma atividade significou uma revolução social, uma vez que, pela cooperação, a força coletiva se converteu em nova força social da produção. A partir do desenvolvimento de tarefas singulares e especializadas por parte dos trabalhadores, aperfeiçoou-se o trabalho e elevou-se novamente a produtividade do trabalho social, o qual ao chegar à grande indústria moderna, especializou as funções dos trabalhadores em máquinas, as quais por sua vez se foram especializando cada vez mais, incrementando ainda mais a produtividade média do trabalho social. A elevação do trabalho social médio correspondente ao momento mais desenvolvido do trabalho definiu os outros momentos no sentido de mudar a natureza destes pelo movimento de transubstanciação de (e pelo) trabalho.. 4. Desta forma,. Para maiores referências sobre o movimento social latino-americano, consultar o livro de dois volumes de Gutierrez e Escárzaga (orgs.): Movimento Indígena en América Latina: resistencia y proyecto alternativo (2006)..

(24) 38 apareceu uma nova força, a força coletiva como elo do trabalho social, diferente da somatória das forças anteriores. Afirmamos, com base em Marx, que não se trata de processos de trabalho diferentes, mas de revoluções de (e no) trabalho. Desta forma, não é possível a convivência de diferentes modos de produção, justapostos ou combinados, uma vez que o trabalho que se transubstanciou é uma revolução no trabalho, que muda o sentido histórico dos modos de produção anteriores. Assim, nosso método consiste na observação no tempo real das forças dinâmicas que movem a sociedade, ou seja, das forças produtivas e relações sociais que constituem o modo através do qual os homens (re)produzem sua existência. Observe-se que embora o capital tenha três formas diferentes (comercial, produtiva e financeira) não são elas as que determinam a dinâmica da sociedade. Essas três formas têm diferentes configurações históricas, nesse sentido, a diversidade em cada lugar é expressão da singularidade através da qual se expressam estas formas. As revoluções do trabalho no modo de produção penetram em todas as esferas, uma vez que significam a elevação do trabalho social médio e sua mudança de forma e conteúdo. Isso é o que determina a dinâmica da sociedade e não suas formas (ou seja, capital comercial, capital financeiro, capital produtivo) pelas quais o capital se expressa.. I.2. O Espaço O homem transforma a natureza e se (auto)transforma através do processo de. produção com a finalidade de reproduzir sua existência. Esta ação (práxis) humana conforma o espaço, isto é, o próprio ato produtivo constitui o ato criador e se efetiva como espaço, que é sempre o momento presente. Compreendemos o espaço como conformado a partir de relações sociais em movimento que se materializam espacialmente, onde a produção se refere à produção da vida cotidiana das pessoas que vivem e atuam num determinado lugar. Portanto, as práxis cotidianas por meio das quais os homens reproduzem sua existência criam o espaço de tal forma que o ato de produzir é produzir o espaço. Nesse sentido, o espaço é resultado e pressuposto da produção social, síntese de múltiplas determinações do fazer das gerações presentes que tem uma lógica, uma dinâmica própria, engendrada pelo modo de produção em que a sociedade se encontra..

(25) 39 O espaço, conforme Milton Santos (1982), constitui a mais representativa das objetivações da sociedade, pois acumula, no decurso do tempo, marcas das práxis acumuladas. Entretanto, não são as ações acumuladas que dão vida ao presente, mas a práxis das gerações do tempo presente que certifica o trabalho passado, pois sem a ação presente as práxis humanas acumuladas na história5 nada seriam. Segundo a afirmação anterior se poderia concluir que as marcas no espaço das práxis acumuladas decorrem das transformações das forças produtivas efetivadas pelos homens ao longo da história. O espaço seria, segundo esta concepção, o produto histórico de diferentes gerações que desenvolvem determinado modo de produzir a vida e a consciência, segundo suas necessidades. Porém, faz-se necessário uma ressalva: uma vez que, por sua própria natureza, as forças produtivas se encontram em constante revolução e, posto que o desenvolvimento das mesmas é colocado como a capacidade de o homem presente transformar a natureza e se (auto)criar, é o trabalho presente que afirma o trabalho passado. Nesse sentido, afirmamos que a base material dos homens indica no espaço o movimento da transmutação do modo em que os homens reproduzem sua vida, sem entender as forças produtivas como condicionadoras do presente, mas entendendo a práxis presente como transformadora, criadora, certificadora do trabalho passado. O espaço é, portanto, síntese histórica do desenvolvimento das forças produtivas, porém corroborada pelo trabalho presente. Desse modo a nossa noção de espaço é a de um espaço dinâmico, que está em construção e embora o homem presente se defronte com condições dadas (herdadas da história), não são as ações passadas materializadas na base material que condicionam o presente, mas as ações do presente que legitimam o passado. Eis a possibilidade da construção de um novo espaço, do espaço transitório, a partir da ação criadora das gerações do presente. Com base em Marx, se afirma que as diferentes épocas econômicas se distinguem não por aquilo que é feito, mas pelo como se faz e com quais meios de trabalho se faz. O desenvolvimento dos meios de produção indica as condições sociais em que se realiza o trabalho. Nesse sentido, as mudanças na base material alteram as relações de produção e a consciência dos homens. Cabe, então, a pergunta: qual é o momento atual – século XXI - do desenvolvimento das forças produtivas (relações. 5. Essa história é, como se verá adiante, a história da cooperação entre os homens e, esta – a cooperação entre os homens - constitui ela mesma uma força produtiva (MARX, Ideologia Alemã)..

(26) 40 sociais) no espaço e quais os elementos que nascem das próprias contradições por ele postas que indicam a existência de um espaço transitório? Esta reflexão se faz sumamente pertinente no tempo presente uma vez que a atual forma de produção da vida (através do lucro e do salário) está esgotada. Nesse sentido se pretende uma geografia crítica que indique o movimento da transitoriedade dos sujeitos emancipatórios, construindo uma crítica para além do capital (MIGUEL MULLER, 2005). Entende-se que a reprodução da vida se efetiva degenerativamente dentro do marco da intensa concentração de capital e da extensão - e intensificação - da pobreza no século XXI. Portanto, só pela produção e apropriação coletiva e consciente da riqueza social é que se pode caminhar no sentido da transitoriedade. O espaço transitório é o espaço da totalidade e o tempo da universalidade no caminho da composição do ser social plenamente desenvolvido e da produção consciente para além do capital.. I.3. O Espaço como Totalidade e o Tempo Presente como Universalidade Santos (2006) afirma que, pelo prisma da totalidade, todas as coisas formam. uma unidade: “Cada coisa nada mais é que parte da unidade, do todo, mas a totalidade não é uma simples soma das partes. As partes que formam a Totalidade não bastam para explicá-la. Ao contrário, é a Totalidade que explica as partes” (p.115). Baseado em Karel Kosik (1967) certifica que a ordem buscada não é aquela com a qual o homem organiza as coisas no seu espírito, mas a ordem que as coisas têm, ou seja, a totalidade concreta. Para nós, a totalidade concreta nos remete ao trabalho. Sem a mediação do trabalho presente – criação e efetivação -, as condições dadas - herdadas das gerações passadas - não se constituiriam em acontecimentos, em dados históricos. A efetivação dessas condições é o nexo entre o tempo e o espaço, constituindo assim a totalidade e a universalidade sociais. Portanto, é o trabalho presente que deve ser estudado, uma vez que o que dá vida ao trabalho passado só é o trabalho vivo, sem ele o trabalho acumulado, fixado ao longo do tempo, desaparece, não é nada. Karl Marx estuda a história dos homens reais no tempo dele, se apropria do mundo num momento histórico dado, a partir do seu tempo. Ele observa como os homens produzem sua existência no dia-a-dia no tempo presente,.

(27) 41 embora o presente o remeta ao passado. Nesse sentido, é sempre o presente o ponto de partida e de chegada e não o passado. Assim sendo, a história é o engendrar das gerações passadas que a geração presente efetiva com sua autocriação, criando a base das gerações futuras, daí a unidade da diversidade, ou dito de outro modo, a história é a simultaneidade do tempo e do espaço no presente. [sublinhado nosso] (AUED, 2005, p.12). Com base em Marx, só se pode partir do tempo presente, só é possível conhecer o universo atual, uma vez que tanto nós quanto o mundo no qual estamos somos resultado de um processo histórico do qual só é possível se apropriar através do presente: é a fisiologia do homem que permite conhecer a fisiologia do macaco. É sempre a forma mais desenvolvida que permite conhecer às menos desenvolvidas, uma vez que só no explicitar pleno dos fenômenos este mostra o que verdadeiramente é.. I.4 O Espaço do Tempo Presente: A Aplicação do Processo Científico e a Luta pela Existência No século XXI a aplicação tecnológica da ciência explicita de forma plena as contradições do modo de produção capitalista6. Embora as novas descobertas do processo científico sejam socialmente mais produtivas, elas exacerbam as contradições do modo de produção capitalista, já que o número de trabalhadores necessários no processo de produção é reduzido e a magnitude do capital necessário à implantação do mesmo é cada vez maior. Concomitantemente em que na base produtiva ocorrem grandes transformações que engendram a emancipação do ser social - pela conscientização do homem humanizado, ato teleológico herdado pela base de produção burguesa que coloca o homem como produto consciente do próprio homem - no tempo imediato a vida dos homens, supérfluos no processo de produção, é posta em xeque. Em forma dialética, ao mesmo tempo em que o modo de produção capitalista afirma a possibilidade de se constituir o homem plenamente humanizado, nega-o e desumaniza uma massa crescente de excluídos que nem comer como animal consegue mais, tal desvalorização posta Pode-se afirmar a síntese do desenvolvimento das forças produtivas no modo de produção capitalista no século XXI vem sendo dado pelo sistema de laboratório (CAMPANA, 2006) e consiste na manipulação de partículas quânticas individuais. Esse acontecimento de moldar a matéria a partir de sua própria constituição se desenvolveu a partir de 1981, com o descobrimento do microscópio eletrônico de tunelamento por varredura que permitiu a obtenção de imagens individuais de átomos e moléculas. Esse microscópio revolucionou a ciência e possibilitou o desenvolvimento da nanotecnologia. 6.

(28) 42 atualmente (disputar comida com os urubus e ratos nos lixões ou minguar nos asilos de pobres) (AUED, 2005). Essa massa de homens e mulheres que não passa pela racionalidade capitalista (ou dialeticamente falando, que passa por essa racionalidade como fruto do explicitar mais desenvolvido do modo de produção capitalista), os não-proprietários, desprovidos dos meios de produção, têm duas opções para subsistir: ou retornam às formas antigas de produção da vida humanamente aceitáveis – camponeses, artesões -, ou constroem uma outra forma de produção de sua vida, cujo resultado seja diferente da condição de desumanização. Tanto pela institucionalização da propriedade privada como pela impossibilidade material de os homens produzirem sua vida individualmente, em função de a operacionalização dos meios de produção ser uma ação coletiva e universal, os homens não podem mais voltar ao passado. Resta então a segunda opção, que ainda pode engendrar indícios de relações que forjem a sociedade do novo tipo. Os homens e mulheres que não encontram na sociedade burguesa as condições mínimas para viver humanamente se aparelham para subsistir no dia-a-dia, produzindoo coletivamente. Os movimentos sociais aparecem como a resposta no tempo presente, da união de muitos homens e mulheres que lutam não por melhores salários (como outrora foram as organizações sindicais), mas pela reprodução de sua existência. Cabe, então, perguntar: estas organizações contêm indícios da transformação? Forjam relações para além do capital? A práxis desses movimentos sociais conduzem à emancipação do ser social?. I.5 Apreensão do Espaço Latino-americano: a Universalidade se Expressando nas diversas Singularidades Uma vez que o modo de produção burguês é resultado da (re)produção e negação de uma coletividade universal, a apreensão das particularidades não é mais suficiente no tempo presente para apreender como os homens produzem sua vida. Compreendendo-se o espaço como o produto das relações sociais de produção, é imanente entendê-lo em sua universalidade. O local não pode mais ser apreendido como ferramenta exclusiva, mas em estreita correlação com a universalidade do Modo.

(29) 43 de Produção Capitalista (MPC), entendendo que essas particularidades são expressões da universalidade em suas diversas formas. Em função da concorrência mundial, o modo de produção capitalista, coloca todos os espaços sob a racionalidade das forças produtivas mais desenvolvidas (cuja produtividade social é superior às outras) a qualquer momento. Conseqüentemente, o caráter local é uma forma singular da universalidade se expressar. Uma vez que no modo de produção capitalista o que existe é a relação proprietários e não-proprietários dos meios de produção e não mais a divisão (produtiva) por espaço-nação7, entende-se o espaço latino-americano como a expressão da universalidade do modo de produção capitalista num determinado grau de seu desenvolvimento, da totalidade se expressando através das diversas singularidades: “é o movimento da universalidade, um pedaço do espelho quebrado da totalidade, onde o tempo das forças produtivas se manifesta diferentemente, criando novas consciências e conflitos” (AUED, 2001, p.23). Assim, pois, o local é a manifestação do movimento e o universal é o conteúdo desse movimento. A totalidade está contida em cada pedaço quebrado, o que é diferente de afirmar que seja a soma das partes. A lógica do MPC no movimento da universalidade é a aceleração do tempo em que o capital se reproduz, em que passa de D a D´8, e isto só acontece quando o homem consegue chegar à origem das coisas através da decomposição para a posterior recomposição do novo a partir da possibilidade já apropriada pelo conhecimento de realizar as modificações desejadas e necessárias9. A racionalidade da aceleração do ritmo em que o dinheiro se transforma em mais dinheiro se espraia e se coloca como universalidade alcançada na esfera produtiva a partir do desenvolvimento da ciência. 7. Não estamos afirmando com isto que não existam as nações como tais. Afirmamos que o Estado-nação como tal é representação de um momento histórico do capital em que seu crescimento se ancorava no desenvolvimento da nação, segundo as especificidades locais. Na atualidade, ainda que existam as nações, estas não mais são imperiosas à acumulação do capital, como foram outrora, uma vez que o Homem controla cada vez mais as condições naturais. Na medida em que se universaliza a aplicação da ciência no processo produtivo, o capital emancipa-se do Estado. Este toma as formas que o capital necessita historicamente para sua valorização, pareceria ser que no presente a figura é a de um Estado que garante a ordem fundamentalmente jurídica. O capital financeiro, fetiche mais acabado do capital, impõe a racionalidade da valorização no tempo zero e para tal, as bandeiras mundiais são homogeneizadas. Da mesma forma, a elevação da produtividade do trabalho social universaliza as formas mais eficientes, as quais são efetivadas em quaisquer partes do mundo. 8 A forma D-D´ representa o que Marx chama de passagem de dinheiro para mais dinheiro, em que o dinheiro se autovaloriza. 9 Através da Genética e descoberta do DNA se chegou a esse nível de conhecimento. A partir desse momento, as modificações na constituição da matéria são plausíveis de seguir a racionalidade da aceleração em que o dinheiro se transforma em mais dinheiro. Nesse sentido, D-D’ impõe o ritmo e as aplicações do processo científico na produção (crescimento e maturação de frutas e vegetais, por exemplo) seguem essa racionalidade..

(30) 44 Desta forma, ao longo do século XX na prática material dos homens - na esfera produtiva -, segundo AUED & ALBUQUERQUE (2005): a apreensão da natureza do capital transcende amplamente os limites empíricos da fábrica, ao se consolidar por todos os domínios econômicos os elos sociais de produção em detrimento de qualquer empresa ou tarefa individual. Trata-se da formação de verdadeira mais-valia global (SANTOS, 1977a), cimento da articulação das forças produtivas fixadas territorialmente ao mercado mundial e ao sistema financeiro mundial (AUED&ALBUQUERQUE, 2005, p.46).. Na afirmação anterior percebe-se claramente que a natureza do capital determina novas mediações na esfera produtiva. Na medida em que a necessidade do capital é sua reprodução no tempo zero, o desenvolvimento da ciência e tecnologia se relaciona à vida dos homens proporcionando uma forma de produção a partir da decomposição e posterior reconstituição da matéria, visando à simultaneidade da compra, produção e venda. O elemento comum da forma como se produz objetiva essa simultaneidade, pois os diferentes capitais (cujas composições orgânicas de capital são diversas) concorrem para se apropriarem da mais-valia global, a qual determina uma taxa média de lucro mundial, que define qual produtor pode continuar produzindo com margens rentáveis. Esta é a nova mediação para a geografia no tempo atual. Deste modo, o encurtamento do tempo em que o dinheiro se transforma em mais dinheiro não significa a anulação do processo produtivo, pois a mais-valia só advém da apropriação do trabalho excedente. Porém, o capital financeiro (capital que tem o dinheiro por mercadoria, representado em D-D´) constitui a forma mais desenvolvida do capital (uma vez que é sua essência plenamente explicitada), em que o dinheiro se autovaloriza pela pressuposição de gerar mais-valia no processo produtivo. Embora o capital se autovalorize em suas formas financeiras, a necessidade do capital produtivo é evidente, uma vez que para se reproduzir precisa da valorização no processo produtivo, na medida em que qualquer forma mais complexa é expressão do capital industrial (produtor de mais-valia) que a pressupõe. Contudo, a capacidade de antecipação do capital, ou seja, sua forma D-D´, constitui a forma mais fetichizada10, em que o dinheiro se converte em mais dinheiro, pois historicamente, desaparece a mediação da esfera produtiva e, embora o dinheiro seja um resultado da atividade mercantil, agora se apresenta como pressuposto, imprimindo sua marca a todas as sociedades. Nas palavras de Marx (1986): 10. Entende-se uma categoria fetichizada quando os elos que ligam essência e aparência se encontram ocultos. Cabe a ciência buscar a (re)ligação dos nexos..

(31) 45 de todas essas formas [a terra como fonte de renda fundiária, o trabalho como fonte de salários, o capital como fonte de lucro], entretanto, o capital a juros constitui o fetiche mais completo. Encontramos aqui o primeiro ponto de partida do capital – o dinheiro – e a fórmula D-M-D, reduzida aos seus dois extremos D-D´. Dinheiro que cria mais dinheiro. [...]. No capital a juros (...) completa-se o fetiche. Este é o capital acabado – portanto, unidade do processo de produção e do processo de circulação – que, por isso, num determinado período de tempo traz um determinado lucro. Na forma do capital a juros permanece apenas essa determinação constitutiva, sem a mediação dos processos de produção e circulação. [...] No capital a juros se completa o fetiche automático, de um valor que se valoriza a si mesmo, de um dinheiro que se faz dinheiro (MARX, 1986, p.189-190).. O papel do crédito é fundamental no processo de acumulação do capital, já que constitui o mecanismo de aglomeração e direcionamento dos valores dispersos. Destarte, termina por acelerar o desenvolvimento das forças produtivas e a centralização do capital. No século XXI é um dos principais instrumentos do processo de acumulação capital, vinculado à lógica da valorização dos mercados financeiros, eminentemente especulativa e contida no maior fetiche do capital: a valorização da riqueza no tempo zero ou a conversão de capital em mais capital no tempo zero (D-D´) sem passar pela esfera produtiva. Por isso, para D. Harvey (2004) o tempo e espaço no modo de produção capitalista se comprimem.. I.6. O Espaço Urbano A aceleração da velocidade em que o capital se valoriza (D-D´) - e sua. efetivação através da reprodução ampliada do capital11 implantação das políticas neoliberais - intensifica a estratificação no espaço. Harvey (2004) afirma que o desenvolvimento do capitalismo desencadeou a aceleração da urbanização, a qual criou uma intensa transformação política, econômica, social e ecológica na organização espacial da população em escala mundial. Segundo este autor “a população que vive em cidades dobrou em trinta anos, criando concentrações espaciais de massas de pessoas numa escala até então considerada inconcebível” (HARVEY, 2004, p.70). Oliveira (1978) afirma que é no urbano onde começam a sintetizarem-se os problemas de expansão do capitalismo. 11. Segundo este autor, não há praticamente. A reprodução ampliada do capital foi ‘facilitada’ pela remoção dos obstáculos à sua livre valorização. Nesse sentido, no nosso entendimento, as reformas neoliberais – como agentes de tais remoções na América Latina - não aceleram a reprodução do capital, mas tiram os obstáculos para sua valorização. Elas são decorrência da necessidade do capital de gerar capitais adicionais em função da ampliação da relação de duas classes (assalariados e proprietários privados dos meios de produção), contradição central do modo de produção capitalista..

(32) 46 qualquer dimensão da vida que não se reflita de forma imediata num problema urbano: poluição, aumento da criminalidade, crescimento desordenado de barricadas e favelas, tráfico, etc. A cidade é o espaço mais visível da produção da natureza social do homem. Na verdade, a cidade é a expressão mais acabada do processo em que o homem humaniza a natureza. Historicamente é no espaço urbano onde o homem resolve o problema da água, da habitação, da luminosidade para milhões de pessoas, não sendo por acaso que o raio da cidade vai se expandindo mais do que o crescimento da população rural. O homem se liberta dos limites impostos pelo meio natural humanizando, como ato teleológico, o espaço para sua habitação: a cidade. Sobre esse aspecto, Milton Santos afirmará que, hoje, a cidade está a “caminho de se tornar muito rapidamente, no mundo inteiro, um produto técnico”. Enfatiza ainda que a cultura é nacional, enquanto que a técnica é universal (SANTOS, 2006, p.33). Portanto, o meio urbano expressa a natureza do ato social da produção humana, a saber: a) o homem se objetiva na natureza; b) o homem se encontra em relação com os outros homens; c) o trabalho individual se transmuta em trabalho social, cooperativo.. I.7. Periferias Metropolitanas no Espaço Urbano Latino-americano Como já foi mencionado anteriormente, ao mesmo tempo em que o modo de. produção capitalista afirma a constituição do homem plenamente humanizado, nega-o e desumaniza um elevado número de excluídos que nem comer como animal conseguem mais. Essa contradição se expressa fenomenologicamente na forma de urbanização da América Latina e nos problemas urbanos, tais como na intensificação do crime, do narcotráfico, a favelização generalizada nas grandes metrópoles. A América Latina e o Caribe constituem a região mais urbanizada do mundo subdesenvolvido. Da população total, 75% mora em áreas urbanas e embora o ritmo do crescimento urbano tenha decrescido (da média anual de 4% em 1970 para 2% na atualidade), a população urbana aumentou em termos absolutos nos últimos cinqüenta anos, passando de 69 milhões em 1950 para 391 milhões no ano 2000 (CEPAL, 2004)..

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