• Nenhum resultado encontrado

Vista da Feira 16 de Julho

Fonte: Acervo da autora (2007)

Apesar de vender produtos comercialmente, Yampara (2007) afirma na Feira 16 de Julho se explicitam princípios de organização indígena comunitários, tais como a reciprocidade, redistribuição e mink´a (solidariedade). Por reciprocidade define o fluxo recíproco de bens mediante o qual há um abastecimento mútuo63 nas mesmas condições.

63

“Reciprocidad: coorespondencia mutua. Servicio en la necesidad de outro con retribución en la misma condición y situación” (YAMAPARA, 2007, pág.45). Segundo este autor, a prática de reciprocidade

Esta prática acontece em diferentes associações e também entre os membros dentro de cada associação. A redistribuição é a prática do modelo social mediante o qual várias formas de reciprocidades confluem num núcleo que reparte ou (re)distribui entre as partes novamente. Finalmente, a Mink´a ou solidariedade expressa a prática de manter serviços juntos e numa dinâmica de alternância com a finalidade da construção do espaço comunal. Assim, ao se referir à dinâmica sócio-econômica da Feira, Yampara (2007) afirma que a forma de se fazer economia tem particularidades antagônicas à economia capitalista, uma vez que nela se explicitam:

el ayni y la reciprocidad, fundamental para el próprio dinamismo de las ventas, ya que quien no tiene dinero en un momento recibe la ayuda de otro que le devolverá el gesto, de tal manera que la venta de carne no se detiene. En las actividades se produce también la ritualidad de otras formas de ayni. Esto se da a través de las fiestas patronales, como la del Carmen, mediante sus pasantes; son fiestas donde se redistribuyen las ganancias en la comida, la banda y la bebida, incluso en la contribución solidaria (YAMPARA, 2007, p.87- 88).

Em entrevista Yampara afirmou que a competitividade e a eficácia, próprias do mercado capitalista são contraditórias à lógica social da Feira. Nela, o que se busca é que todos possam vender, ainda que seja ‘un poquito’, e que a natureza da totalidade dos produtos se complemente: “aquí son solidarios, aquí uno vende un fierrito viejo, otro lanita, otro papita64. Tratamos de complementarnos, esa es la lógica con que se mueve el qhathu”.

Apesar da existência de uma lógica coletiva muito presente na feira, as esferas privadas também têm importância, tal como na hora da transação dos postos de venda. Há espaços que podem chegar a custar até oito mil dólares, porém, a associação à qual pertence o vendedor do posto precisa aprovar o acordo, que é assinado em documentos legítimos para as associações, porém não legais para o Estado:

Hay puestos bien preferenciados, espacios en que el negocio ya corre bien y cuestan desde tres mil hasta ocho mil dólares. Un puesto de 2 ó 3 metros cuadrados. Hay agrupaciones ya organizadas, no te permiten que tú te sientes ahí a vender si eres un desconocido. Si llegas con plata, tampoco es sólo comprar, hay ciertas normas que tienes que cumplir que son colectivas. Para la venta tienen documentos, un termo entre tú y yo, con el cual le puedes exigir algo de la asociación. La transacción es individual pero la asociación

difere do intercâmbio ou troca comercial, uma vez que o princípio econômico do intercâmbio rompe os vínculos sociais no produto final, ao passo que que a reciprocidade suscita a criação de vínculos comunitários. Explica também que a noção de reciprocidade é a força elementar da economia indígena através da qual acontece a complementariedade entre os produtos de diferentes áreas geográficas.

64

tiene que consentirlo (ENTREVISTA COM SIMÓN YAMPARA PELA AUTORA, 15 de agosto de 2007).

Outra particularidade da cidade de El Alto relacionada à feira expressa a organização coletiva e popular, proveniente da cultura andina. As práticas culturais de celebrar coletivamente - em forma de confraternizações - após o período de trabalho tomam conta dos espaços públicos. Falamos de carnavais de rua, bailes, danças que acontecem todos os finais de semana na cidade de El Alto65.

Yampara (2007) relata que existe uma tríade produção-feira-festa, que também faz parte da redistribuição e reciprocidade, uma vez que os padrinhos da celebração, ou seja as famílias que patrocinam e organizam a festa66, se definem segundo o lucro na Feira. Então a festa se apresenta como um mecanismo de cobrança coletiva para que aconteça redistribuição social das ganâncias67.

As festas são na verdade celebrações coletivas que fazem parte da concepção andina, também chamadas de entradas. As oficinas de produção estão ligadas à feira e à celebração. Nesta última também se ativam negócios de diferentes naturezas, ligados aos carnavais de rua diretamente - como as oficinas de costura, os produtores de máscaras, sapatos, produtores de cerveja e carnes – ou indiretamente – como os vendedores ambulantes que aproveitam a aglomeração para oferecer guloseimas e sorvetes.

La triade entre los talleres de producción ligados a la feria y a la celebración es una trilogía inseparable producción-feria-celebración. Y ahí se hace economía. Estás en el taller, produces cosas, sacas al qhathu pero también después celebras. Y esas son las entradas, como por ejemplo, la entrada 16 de Julio, para eso ensayas. Y ahí hay prácticas redistributivas también. Porque a las personas que les va bien en la feria son los prestes, o sea, los que organizan eso, pero eso también va por turnos. Si has bailado por mí, yo tengo que bailar por tí, te tengo que devolver (...). Ahí se hace economía, se mueven los sastres, los mascaristas, el mundo de la cerveza, de la sombrería, de la zapatería.Todo ese mundo en redes se mueven y por cantidades. A veces hay hasta 600 bailarines. Y además están los que venden ambulatoriamente durante la fiesta al lado de los bailadores, o sea helados o hasta comida. Los prestes son definidos por las personas que ganan bien en la Feria 16 de Julio, que son los padrinos de la fiesta, pero también se hace por turnos de familias. Y aquí en el Alto no hay un fin de semana sin fiesta. En una zona si es aniversario o están ensayando para ir a su comunidad. Ahí también se ve que la ciudad no está desconectada del área rural, hay una interacción entre el área rural y la ciudad. (ENTREVISTA COM SIMÓN YAMPARA PELA AUTORA, 15 de agosto de 2007).

65

Também há festas que não estão relacionadas só a Feira 16 de Julho, como por exemplo celebrações do aniversário de bairro, de alguma divindade coletiva ou por ocasião de datas importantes da comunidade de origem.

66

As famílias patrocinadoras das festas se chamam prestes, os quais dançam na frente das comparsas.

67 Não só da Feira 16 de Julho, mas também de outras atividades econômicas, no entanto, como nela se

movimenta maior quantidade de dinheiro, na maioria dos casos este tipo de celebrações está ligada preferencialmente a esta feira.

As festividades também evidenciam a estreita relação entre o meio rural e a cidade de El Alto. As festividades (religiosas ou não) se realizam em todos os bairros, recriando a cultura popular originária e facilitando a incorporação social à vida na cidade, influenciando inclusive no consumo coletivo.

En las festividades que se realizan en casi todas las villas de El Alto, se producen complejos procesos de organización y recriación popular, convirtiéndose en espacios de consolidación simbólica de nuevos grupos dominantes que influyen directamente en la dirección del consumo colectivo urbano. Pero a su vez, las fiestas sirven a los residentes aymaras para apropiarse de la realidad urbana (...) (SANDOVAL E SASTRES, 1989, pág.58).

Os bailarinos se apropriam das ruas e avenidas, do espaço público em geral, através das animadas comparsas, como pode ser observado nas fotos 22 e 23.