UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA CENTRO DE ARTES – CEART
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARTES VISUAIS
FRANCIELLY ROCHA DOSSIN
REFLEXÕES SOBRE O MONUMENTO HORIZONTAL: O CORPO NEGRO ALÉM DO RACISMO E DA NEGRITUDE
FRANCIELLY ROCHA DOSSIN
REFLEXÕES SOBRE O MONUMENTO HORIZONTAL: O CORPO NEGRO ALÉM DO RACISMO E DA NEGRITUDE
Dissertação de Mestrado elaborada junto ao Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais do CEART/UDESC, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Artes Visuais.
Orientador: Prof.ª Dr.ª Célia M. Antonacci Ramos
FRANCIELLY ROCHA DOSSIN
REFLEXÕES SOBRE O MONUMENTO HORIZONTAL: O CORPO NEGRO ALÉM DO RACISMO E DA NEGRITUDE
Dissertação de Mestrado elaborada junto ao Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais do CEART/ UDESC, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Artes Visuais, na linha de pesquisa Processos Artísticos Contemporâneos.
Banca examinadora
Orientador: _________________________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Célia Maria Antonacci Ramos
CEART/UDESC
Membro: __________________________________________________________________ Prof. Dr. Paulino de Jesus Francisco Cardoso
FAED/UDESC
Membro: __________________________________________________________________ Prof. Dr. Nicolau Sevcenko
USP
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeço imensamente àqueles que sempre me apoiaram e tornaram minha caminhada possível: minha família: Paizinho, Herenia, Manas, Mãe e Vó. Obrigada por tudo!
A Felipe Côrte Real de Camargo, meu companheiro há mais de cinco anos e principal responsável por meu interesse na vida acadêmica. Obrigada por estar na minha vida!
Aos professores que tive o prazer de encontrar durante o curso de mestrado deste programa: Sérgio Basbaum, Regina Melin, Malu, Neli, Maria Cristina da Rosa, Rosângela Cherem e Antônio Vargas. Em especial ao Prof. José Kinceler com quem pude refletir junto em diversos momentos, por ter proporcionado em sua disciplina as descobertas de tantas possibilidades – artistas e textos – e também por ter participado da banca de qualificação com importantes sugestões e considerações que foram incorporadas a este texto. À Prof. Tereza Franzoni, apesar de não a ter “importunado” durante o mestrado, tenho ainda em mente
muitos dos seus ensinamentos. Ao artista e Prof. Luiz Carlos Canabarro, a quem sempre pude buscar apoio, além de ter me apresentado ao universo dos Orixás.
À Célia Maria Antonacci pela orientação nesta pesquisa, companhia e apoio inestimável não só durante as viagens à Vitória e Buenos Aires, mas durante todo esses dois anos.
Ao Professor Paulino Cardoso que foi como um co-orientador desta pesquisa. O descobri nas aulas de História da África, levando-me a me apaixonar por essa historiografia por mim desconhecida. Proporcionou-me também descobertas no campo dos Estudos Culturais e Pós-Coloniais. Essas aulas foram importantes para esta monografia. Um professor cujos ensinamentos também carregarei sempre comigo.
Ao professor Nicolau Sevcenko, que tão gentilmente aceitou o convite de participar da banca desta dissertação, o que me deixa bastante honrada por poder contar com as contribuições de um intelectual cujas obras conheci durante a graduação ainda incompleta em história e que tenho por inspiração.
À Grabriela Sorel por sua grande amizade e incansáveis vezes que atendeu aos meus pedidos de tradução.
À Matí Lice Brancher, companheira de reflexões e “lamentações” desde a graduação.
À Sandra Lima, embora agradecimentos à “Sandrinha” figurem em todos os trabalhos, não poderia deixar de registrar também o meu agradecimento, engrossando o coro de homenagens mais que merecidas por todo esforço, competência, carinho, compreensão e dedicação.
A todos os colegas, sempre atenciosos, do grupo de estudos “Poéticas do Urbano” do CEART e do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros, NEAB, da FAED.
Às pessoas que me hospedaram em São Paulo quando precisei viajar à pesquisa, Steven, Patrícia e Juliana.
Aos funcionários da UDESC que compartilharam grandes e pequenos momentos desde meu ingresso em 2003 na graduação em Artes Plásticas, especialmente aos funcionários, da UDESC ou terceirizados, locados no CEART, no CEAD e na biblioteca. Homenageio a todos na figura ímpar que é a carinhosa Dona Lourdes: obrigada pelo refúgio na cozinha e pelos inúmeros cafezinhos!
E finalmente à Frente 3 de Fevereiro, que foram tão atenciosos cedendo-me entrevistas e materiais, mas principalmente por seu trabalho encorajador e provocante. Agradeço em especial a atenção de Cibele Lucena, Maurinete Lima, Sato, Daniel Lima, Eugênio Lima, Pedro Guimarães, João Nascimento, Will Robson e Marina Novaes.
Ao manejar tanto com a memória de Flávio Sant’Ana, vejo-me obrigada a dedicar esta pesquisa especialmente a sua memória, mas também a tantos outros jovens que tiveram suas histórias acabadas antes do final.
“As lutas de representações têm tanta importância como as lutas econômicas.”
Roger Chartier
“A raça, o racismo, são – em uma sociedade de normalidade (ou normalização) – a condição para a aceitação do homicídio. Onde houver uma sociedade de normalidade, onde houver um poder que em primeira instância e em primeira linha, pelo menos na totalidade de sua superfície, for um biopoder, o racismo se mostra indispensável para poder condenar alguém à morte, para fazer alguém morrer. Desde o momento em que o Estado funcione sobre as bases do biopoder, a função homicida do Estado só pode ser garantida pelo racismo.”
RESUMO
DOSSIN, Francielly Rocha. Reflexões sobre o monumento horizontal: o corpo negro além do racismo e da negritude. 2009. 143 f. Dissertação (Mestrado em Artes Visuais) –
Universidade do Estado de Santa Catarina. Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais, Florianópolis, 2009.
A presente pesquisa pretendeu realizar uma leitura da ação Monumento Horizontal, primeira
realização da Frente 3 de Fevereiro, um coletivo artístico de São Paulo. O Monumento Horizontal nos emite diversas questões, dentre elas, as que instigaram a realização desta
pesquisa: Primeiro, Por que um monumento horizontal, se a lógica do monumento é a verticalidade? Segundo, a que se refere a horizontalidade da obra? Terceiro, com quem essa ação dialoga tanto no contexto artístico quanto político? Quarto, que corpo é esse representado no monumento? Ou seja, quais são as políticas representacionais que estão aqui em jogo? Essas indagações configuraram o ponto de partida desta pesquisa e orientaram o desenvolvimento deste texto. A partir de Monumento Horizontal foram analisadas a condição
de discriminação e exclusão da população afrobrasileira e a relação e contribuição dos estudos culturais e Pós-Coloniais, principalmente através dos pensadores Stuart Hall, Paul Gilroy e Homi Bhabha, à teoria e crítica da arte, em especial, sua contribuição para o debate acerca das políticas de reconhecimento.
ABSTRACT
DOSSIN, Francielly Rocha. Reflections on the Monumento Horizontal: the blackbody beyond racism and négritude: 2009. 143 f. Thesis (master's degree in Visual Arts) –
University of State of Santa Catarina. Post-graduate program in Visual Arts, Florianópolis, 2009.
The present research attempted to analyze Monumento Horizontal (horizontal monument), the
first action of Frente 3 de Fevereiro artistic group in Sao Paulo. Monumento Horizontal
transmits several questions, including those that motivated this research: First, Why a horizontal monument, if the monument logic is the verticality? Second, What is horizontality of this work about? Third, Whom this action is talking to, at artistic and political contexts? Fourth, What body is represented in this monument? It is, Which representational policies are playing here? These questions were the starting point for this research and guided the development of this text. From Monumento Horizontal we analyzed the discrimination and
exclusion conditions of Afro-Brazilian people and the relation of cultural and post-colonial studies, mainly by thinkers Stuart Hall, Paul Gilroy and Homi Bhabha, including their contribution to art theory and critics, specially their contribution to debate about recognition policies.
KEYWORDS: Monumento horizontal. Urban Art. Frente 3 de Fevereiro. Antirracism.
LISTAS DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1: Monumento Horizontal, 2004 – Frente 3 de Fevereiro ... 15
Figura 2: Comuna de Paris na Praça Vendôme ... 26
Figura 3: Desfile do enredo Ratos e Urubus, Larguem Minha Fantasia em 1989 ... 28
Figura 4: Monumento a Roca ... 29
Figura 5:Monumento a Roca na Av. Pueblos Originarios... 29
Figura 6:África. Escultura de Daniel Chester French ... 31
Figura 7: América. Escultura de Daniel Chester French ... 32
Figura 8: Memorial aos Veteranos do Vietnã ... 33
Figura 9:Memorial contra o fascismo de Harburg em três momentos ... 35
Figura 10: Memorial contra o fascismo soterrado ... 35
Figura 11: Placa à militante desaparecida em 1978, Maria Felisa Tirinanzi ... 37
Figura 12: Placa à militante desaparecida em San Telmo, Buenos Aires ... 37
Figura 13: The Tijuana Projection, Krzysztof Wodiczko ... 39
Figura 14: Poster/Ação – Guerrilla Girls – 1985 ... 44
Figura 15: Poster/Ação – Guerrilla Girls – 1990 ... 44
Figura 16: Poster/Ação – Guerrilla Girls – 1995 ... 45
Figura 17: Inevitable Associations, 1976 - Suzanne Lacy... 47
Figura 18: Mourning and In Rage, 1977 -Suzanne Lacy e Leslie Labowic ... 47
Figura 19: Monumento à Catraca Invisível, coletico Contra Filé ... 56
Figura 20: Movimento do Passe Livre ... 58
Figura 21: Bastidores, 1997 - Rosana Paulino ... 62
Figura 22: Outros Navios, 2005 – Eustáquio Neves ... 63
Figura 23: Hot-em-tot, 1994 – Renee Cox ... 68
Figura 24: Da Série Boa Aparência de Eustáquio Neves ... 69
Figura 25:Da Série Objetização do Corpo de Eustáquio Neves ... 70
Figura 26: Da Série Máscara da Punição de Eustáquio Neves ... 70
Figura 27: Frente 3 de Fevereiro. Racismo policial: Quem policia a Polícia? ... 81
Figura 28: Estatísticas colhidas pela Frente 3 de Fevereiro sobre relações raciais ... 82
Figura 29:Intervenção em Notas de Real ... 84
Figura 31: Banana jogada em ato de hostilidade a Grafite, no Pacaembu ... 86
Figura 32: Ações com bandeiras em partidas de Futebol - Frente 3 de Fevereiro ... 87
Figura 33:Bandeira “Zumbi somos nós” – Edifício Prestes Maia (SP), 2006 ... 89
Figura 34: Planejamento para ocupação com a faixa no Edifício Prestes Maia ... 90
Figura 35: Fotografias da apresentação áudio-visual Futebol, 2006 I ... 92
Figura 36: Fotografias da apresentação áudio-visual Futebol, 2006 II ... 92
Figura 37: Transmissão ao vivo da FanParty com a inserção Know Go Area ... 95
Figura 38:Placa Know Go Area em Berlim ... 96
Figura 39:Entrada na festa de abertura da Copa do Mundo FanParty ... 96
Figura 40: Fotografia da ação com terra da tríplice fronteira em Johanesburgo ... 97
Figura 41: Apresentação Esquina de Mundos I ... 98
Figura 42:Apresentação Esquina de Mundos II ... 98
Figura 43: Apresentação Esquina de Mundos III ... 99
Figura 44: Fotografia da rua onde onde o Monumento Horizontal foi realizado ... 107
Figura 45: Monumento Horizontal– 2004 – Frente 3 de Fevereiro ... 110
Figura 46:Ação depois da morte de Flávio Sant’Ana... 111
Figura 47: Homenagem a Cara de Cavalo, Hélio Oiticica, 1966 ... 115
Figura 48: O Massacre dos Inocentes - Max Ernst - 1920 ... 117
Figura 49: Policiais em frente ás silhuetas dos desaparecidos ... 119
Figura 50: Manifestantes realizando silhuetas... 119
Figura 51:Manifestantes realizando silhuetas... 121
Figura 52:Silhueta a Dalmiro Flores ... 122
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ... 12
2 DO MONUMENTO À ARTE COMO PROCESSO SOCIAL ... 24
2.1 PRÁTICAS ARTÍSTICAS EM COLETIVOS ... 48
2.2 O LUGAR DA ARTE NA LUTA ANTIRRACISTA ... 59
3 FRENTE 3 DE FEVEREIRO: PESQUISAS E AÇÕES ... 74
4 O MONUMENTO HORIZONTAL ENTRE A AÇÃO POLÍTICA E O GESTO RITUAL ... 106
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS: O CORPO NEGRO ALÉM DO RACISMO E DA NEGRITUDE ... 128
REFERÊNCIAS ... 133
ANEXO ... 141