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UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA CENTRO DE ARTES - CEART PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARTES VISUAIS

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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARTES VISUAIS

MELISSA HAAG RODRIGUES

IMAGENS LIDAS & PALAVRAS VISTAS:

O PAPEL MEDIADOR DO LIVRO DIDÁTICO PARA A CRIANÇA

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MELISSA HAAG RODRIGUES

IMAGENS LIDAS & PALAVRAS VISTAS:

O PAPEL MEDIADOR DO LIVRO DIDÁTICO PARA A CRIANÇA

Dissertação apresentada como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre no Programa de Pós-graduação em Artes Visuais do Centro de Artes da Universidade do Estado de Santa Catarina.

Orientadora: Profª. Drª. Neli Klix Freitas

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R696i

Rodrigues, Melissa Haag, 1977

Imagens lidas & palavras vistas : o papel mediador do livro didático para a criança / Melissa Haag Rodrigues ; orientadora Neli Klix Freitas. 2009.

115 p. : il. ; 30 cm

Dissertação (mestrado) – Universidade do Estado de Santa Catarina, Centro de Artes, Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais, Florianópolis, 2009.

1. Livros didáticos. 2. Mediação. Imagens - interpretação. 3. Ensino fundamental – Brusque (SC) I. Freitas, Neli Klix. II. Universidade do Estado de Santa Catarina. Mestrado em Artes Visuais. III. Título.

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MELISSA HAAG RODRIGUES

IMAGENS LIDAS & PALAVRAS VISTAS:

O PAPEL MEDIADOR DO LIVRO DIDÁTICO PARA A CRIANÇA

Dissertação aprovada como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre, no Programa de Pós-graduação em Artes Visuais do Centro de Artes da Universidade do Estado de Santa Catarina.

Banca Examinadora:

Orientadora: ________________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Neli Klix Freitas

CEART - UDESC

Avaliadora externa: ________________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Eliane Santana Dias Debus

PPGCL - UNISUL

Avaliadora: ________________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Sandra Regina Ramalho e Oliveira

CEART - UDESC

Suplente externo: ________________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Gisela Eggert Steindel

FAED - UDESC

Suplente: ________________________________________________________ Prof.ª Dr.ª Maria Lúcia Batezat Duarte

CEART - UDESC

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Para Clara,

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AGRADECIMENTOS

À Universidade do Estado de Santa Catarina pelo ensino público e de qualidade. Ao Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais - Mestrado do Centro de Artes, pela oportunidade concedida.

À Professora Neli Klix Freitas, minha orientadora, pelo acolhimento, incentivo, estímulo, liberdade e, principalmente, pela confiança.

À Professora Eliane Debus e à Professora Sandra Ramalho por aceitarem participar da banca de qualificação e defesa, pelas contribuições e orientações valiosas.

Aos meus pais, Oscar e Marli, por me oferecerem a possibilidade de trilhar todos os caminhos que escolhi. Obrigada pelo incentivo, pela ajuda, pela compreensão e pelo amor incondicional.

Ao Oli por toda a paciência, carinho, compreensão e, sobretudo, amor.

À Clara, minha filha querida, que me faz sorrir todos os dias e me mostrou um outro sentido para a palavra amor.

Ao Marcelo, meu irmão e amigo, companheiro de tantas jornadas rodoviárias, emocionais e musicais.

À toda a minha família, sogra, cunhados, sobrinhas, primos e primas, pessoas com as quais pude contar nesta caminhada.

Aos meus amigos pelos momentos de descontração, tão importantes neste processo.

Aos demais professores e colegas do programa de Mestrado, pelo incentivo e conhecimentos compartilhados. Em especial à Márcia Cardeal, companheira desta jornada maluca que, graças ao mestrado, tive o prazer de conhecer.

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Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino.

Esses que-fazeres se encontram um no corpo do outro.

Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando.

Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago.

Pesquiso para constatar, constatando,

intervenho,

intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e

comunicar ou anunciar a novidade.

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RESUMO

A proposta da pesquisa da dissertação de mestrado foi a de identificar e analisar o papel mediador do livro didático para a criança, tendo como foco associações entre imagens, palavras e aprendizagens. Pelo relacionamento da criança com seu livro didático buscou-se identificar a relação entre a qualidade visual do mesmo, o buscou-seu conteúdo e a possibilidade de mediar o processo de construção de conhecimentos. A partir do histórico do livro didático no Brasil pôde-se observar as modificações pelas quais este passou no decorrer do tempo, bem como a construção do conceito de infância e as interações da criança com o livro no ambiente escolar. Por meio do estudo de importantes conceitos da teoria de Vygotsky como desenvolvimento, aprendizagem, mediação, níveis e zonas de desenvolvimento, interações sociais e cultura percebeu-se que o livro didático, através de associações entre imagens e palavras, atua como um sistema de estímulo externo auxiliar, exercendo um papel verdadeiramente mediador para a criança. Juntamente com a pesquisa teórica foi efetuada uma pesquisa de campo em uma Escola Pública Estadual no município de Brusque/SC: foram entrevistadas duas professoras da 4º. série do ensino fundamental, sendo uma a professora da classe e a outra de artes, e realizado um grupo focal com oito alunos desta mesma classe. A partir da análise e interpretação dos dados coletados foi possível perceber questões importantes, como interações entre imagens, palavras e aprendizagens; a comunicação visual que o livro didático contém, aspectos importantes implícitos na complexa trama que integra percepção, comunicação visual, imagens, palavras e aprendizagens na criança. Ressalta-se nesta dinâmica a importância da qualidade visual e gráfica do livro. Estas questões contribuem para uma relação de reciprocidade entre o livro e a criança, concluindo-se que o livro didático é um importante elemento mediador no processo de construção de conhecimentos. Se a comunicação visual do livro didático se apresentar adequada, se os assuntos forem abordados com base nestas associações entre imagens e palavras, a criança pode adquirir, de maneira mais eficiente, satisfatória e, principalmente, prazerosa os conhecimentos escolares.

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ABSTRACT

The propose of the Master's degree dissertation research was to identify and analyze the mediator role of the didactic book for the child, having as aim associations among images, words and learning. Through the relationship of the child with his/her didactic book we try to identify the relation among its visual quality, its content and the possibility of mediate the process of building knowledge. Up to the description of the didactic book in Brazil, it was possible to observe the modifications through which it has gone through the time, as well as the building of the childhood concept and the interactions of the child with the book in the school. Studying the important conceptions of Vygotsky theory as development, learning, mediation, levels and areas of development, social interactions and culture it was observed that the didactic book through associations between images and words, acts as a helpful external stimulation system, so acting as a real mediator for the child. Together with the theoretical research was performed a field work at a State School in the city of Brusque/SC: were interviewed two 4th grade teachers of the secondary school, one being the class teacher and the other the art teacher, and also held a focus group with eight students of that same class. Up to the analysis and interpretation of the data collected, it was possible to observe important topics, as interactions among images, words and learning; the visual communication that the didactic book contains, implicit important aspects in the complex scheme that integrates perception, visual communication, images, words and learning in the child. It is highly important in that dynamic the importance of visual quality and the graphic of the book. These questions contribute for a reciprocity relation between the book and the child, so the conclusion is that the didactic book is an important mediator element in the building of knowledge. If the visual communication of the didactic book is suitable, if the subjects are seen based on such associations between images and words, the child is able to get it in a more satisfactory, and mainly in a pleasant way the school knowledge.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Abrelivros – Associação Brasileira de Editores de Livros ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas

CAPs – Centro de Apoio Pedagógico para Atendimento às Pessoas com Deficiência Visual CNLD – Comissão Nacional do Livro Didático

COLTED – Comissão do Livro Técnico e Livro Didático ECT – Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos FAE – Fundação de Assistência ao Estudante FENAME – Fundação Nacional do Material Escolar

FNDE – Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação IBC – Instituto Benjamim Constant

INL – Instituto Nacional do Livro LD – Livro didático

MEC – Ministério da Educação

PLIDEF – Programa do Livro Didático para o Ensino Fundamental PNLD – Programa Nacional do Livro Didático

PNLA – Programa Nacional do Livro Didático para a Alfabetização de Jovens e Adultos PNLEM – Programa Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio

SEESP – Secretaria de Educação Especial

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LISTA DE FIGURAS

Fig. 1 - Capas dos volumes que compõem o Guia do Livro Didático 2007 ... 22

Fig. 2 - Como funciona a escolha dos livros didáticos no Brasil ... 23

Fig. 3 - Capa e página de rosto do livro Através do Brasil... 29

Fig. 4 - Capa do livro didático Conjuncções: notas elucidativas e exercícios práticos... 31

Fig. 5 - Capa do livro Casa de Maribondos... 31

Fig. 6 - Capa do livro didático História do Brasil ... 32

Fig. 7 - Capa do livro didático Estudos Sociais... 32

Fig. 8 - Capa da cartilha No Reino da Alegria... 33

Fig. 9 - Quadro O Reverendo Randall Burroughs e seu filho Ellis, 1769... 41

Fig. 10 - Capa e página do livro Orbis Sensualium Pictus... 52

Fig. 11 - Detalhe da página do livro Orbis Sensualium Pictus... 52

Fig. 12 - Capa do livro Zang Tumb Tumb... 67

Fig. 13 - Poema Desabar... 67

Fig. 14 - Capas dos livros didáticos do Projeto Pitanguá da Editora Moderna... 69

Fig. 15 - Capa do livro didático Matemática do cotidiano & suas conexões... 87

Fig. 16 - Páginas 8 e 9, início da 1ª. unidade do livro de Matemática ... 88

Fig. 17 - Páginas 16 e 17 da 1ª. unidade do livro de Matemática... 89

Fig. 18 - Páginas 24 e 25 da 1ª. unidade do livro de Matemática... 90

Fig. 19 - Páginas 18 e 19 da 1ª. unidade do livro de Matemática... 91

Fig. 20 - Capa do livro didático Projeto Pitanguá: Português... 92

Fig. 21 - Páginas 14 e 15 da 1ª. unidade do livro de Português... 93

Fig. 22 - Páginas 12 e 13 da 1ª. unidade do livro de Português... 94

Fig. 23 - Páginas 6 e 7, início da 1ª. unidade do livro de Português... 96

Fig. 24 - Páginas 20 e 21 da 1ª. unidade do livro de Português... 97

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LISTA DE TABELAS

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...13

Capítulo 1 - O LIVRO DIDÁTICO ...16

1.1 Histórico e política do livro didático no Brasil ...16

1.2 Transformações do aspecto visual do livro didático...27

1.3 Os livros didáticos no cotidiano escolar ...35

Capítulo 2 - O LIVRO DIDÁTICO E A CRIANÇA ...39

2.1 A construção da infância ...39

2.2 Desenvolvimento e aprendizagem infantil: tramas conceituais e processos de mediação...45

2.3 A criança, o livro e a leitura: relações e afetividade ...50

Capítulo 3 - O LIVRO DIDÁTICO E A COMUNICAÇÃO VISUAL...57

3.1 A criança e a comunicação visual do livro didático...57

3.2 O livro didático e a cultura visual ...63

3.3 A comunicação visual do livro didático: entre palavras & imagens...66

Capítulo 4 - METODOLOGIA...73

4.1 Percurso metodológico...73

4.2 Procedimentos de coleta dos dados...76

4.3 Procedimentos de análise dos dados ...77

Capítulo 5 - ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS ...81

5.1 Análise dos dados coletados...81

5.2 Análise dos aspectos visuais dos livros didáticos...87

5.2.1 Análise do livro didático: Matemática do cotidiano & suas conexões...87

5.2.2 Análise do livro didático: Projeto Pitanguá: Português...92

5.3 Interpretação dos dados...98

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 102

REFERÊNCIAS ... 106

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Falar de livros didáticos é relembrar um pouco da infância. Afinal, quem passou pela escola, conviveu com eles. Ele ainda ocupa um lugar importante na escola, pois além de ser um instrumento de comunicação capaz de organizar e transmitir idéias e emoções, também tem a capacidade de orientar o uso de outros recursos, de guiar a observação e investigação, auxiliar o processo de raciocínio, análise e reflexão, bem como instigar a curiosidade e a imaginação do estudante, provocar a iniciativa para o estudo e seus processos criativos.

A escolha do livro didático como objeto de estudo para a pesquisa desta dissertação de mestrado deve-se a vários motivos. Para citar alguns pode-se dizer que é um livro acessível a todos os alunos em todas as etapas da escolarização, além de possuir uma comunicação visual característica; tem uma grande importância na formação do aluno pelo fato de ser, muitas vezes, o único livro com o qual a criança entrará em contato; e ainda é um dos instrumentos de aprendizagem mais utilizados e, em muitos casos, o único utilizado em sala de aula no ensino fundamental, quando infelizmente, não há o contato dos alunos com outros materiais e informações de outras fontes.

O tema do livro didático pode ser analisado por vários ângulos. Tem-se consciência de todas as questões políticas e ideológicas que envolvem a sua discussão, porém não é o objetivo deste trabalho tratar destes aspectos.

A proposta da pesquisa foi a de identificar e analisar o papel mediador do livro didático para a criança, tendo como foco associações entre imagens, palavras e aprendizagens. Pelo relacionamento da criança com seu livro didático buscou-se identificar a relação entre a qualidade visual do mesmo, o seu conteúdo e a possibilidade de mediar o processo de construção de conhecimentos. Buscou-se apoio na concepção de Vygotsky (2005, 2007) sobre mediação e outros pressupostos teóricos do autor, além de concepções de outros autores como Ariès e Sarmento sobre infância, Hernández sobre cultura visual, dentre outros tópicos e autores abordados.

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identificação das políticas que regem sua compra e distribuição. Aborda-se também as transformações de seu aspecto visual e sua utilização no cotidiano escolar.

O segundo capítulo concentra-se no estudo da construção do conceito de infância a fim de se entender suas transformações até os dias atuais, o desenvolvimento e a aprendizagem infantil de acordo com as idéias de Vygotsky, bem como questões que envolvem a criança, o livro e a leitura.

O terceiro capítulo levanta questões sobre o papel mediador do livro didático, a influência de seu aspecto visual e de sua materialidade sobre a percepção e a aprendizagem infantil. Aborda também o livro didático como artefato da cultura visual, e algumas situações que envolvem sua produção gráfica e editorial.

O quarto capítulo apresenta a descrição da metodologia utilizada neste trabalho. A pesquisa foi do tipo exploratória e optou-se por uma abordagem qualitativa na metodologia de pesquisa por entender que esta permite a elucidação da pergunta-problema a partir do aprofundamento qualitativo de todos os dados e da análise integrada dos mesmos. Além da pesquisa bibliográfica, utilizada para o levantamento e elaboração do embasamento teórico, foi realizada uma pesquisa com coleta de dados instrumentalizada por meio de entrevistas com duas professoras e um grupo focal com oito estudantes de uma mesma classe. Posteriormente estes dados foram analisados utilizando o método de Análise de Conteúdo, com exceção da entrevista com a professora de artes, pois foi constatado que não utiliza o livro didático. Foi realizada também uma análise particular dos aspectos visuais de dois livros didáticos. São apresentadas a caracterização dos participantes, instrumentos, procedimentos de coleta de dados, procedimentos de análise dos dados e categorização.

No quinto capítulo é feita a análise e a interpretação dos dados coletados, estabelecendo-se relações entre as informações prestadas pelos participantes e os conteúdos teóricos levantados nos capítulos anteriores envolvendo o livro didático, seus aspectos visuais e a criança.

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Capítulo 1 - O LIVRO DIDÁTICO

1.1 Histórico e política do livro didático no Brasil

O livro didático é ainda um dos recursos mais utilizados nas escolas de muitos países e há muito tempo discute-se sua importância nos processos de ensino e aprendizagem, implícitos na construção do conhecimento. Pode-se entender atualmente por livro didático os que contém o conteúdo básico de uma determinada disciplina e que são publicados para fins educativos, mas sua definição pode se tornar bem mais complexa devido à sua natureza. De acordo com Bittencourt (1998, p.71) o livro didático é antes de mais nada uma “mercadoria”, que sofre diversas interferências em seu processo de produção e comercialização; é um “depositário dos conteúdos escolares”, sistematizador dos currículos, onde ocorre o deslocamento e adaptação do saber acadêmico para o escolar; é também um “instrumento pedagógico” que mostra como os conteúdos devem ser trabalhados; e por último é um “veículo portador de um sistema de valores, de uma ideologia, de uma cultura”. Pode ser definido também como um produto cultural composto, híbrido, que se encontra no “cruzamento da cultura, da pedagogia, da produção editorial e da sociedade” (STRAY, 1993, p. 77-78).

Em outra perspectiva, Lajolo e Zilberman (2003, p. 120-121) contribuem dizendo:

[...] o livro didático é o primo-pobre da literatura, texto para ler e botar fora, descartável porque anacrônico [...] Por outro lado, ele é o primo-rico das editoras: as primeiras e as mais antigas já o incluíam em seus catálogos, e as atuais e mais modernas sonham com dispor de um ou mais títulos [...] A vendabilidade do didático é certa, conta com o apoio do sistema de ensino e o abrigo do Estado, é aceita por pais e educadores.

No universo escolar atual o livro didático coexiste com diversos outros instrumentos como quadros, mapas, enciclopédias, audiovisuais, softwares didáticos, CD-Rom, Internet, mas ainda assim continua ocupando um papel central.

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[...] tem-se tentado chegar à definição da literatura infantil através de considerações e critérios exteriores ao texto: a soleira de entrada tem sido o público a que se destina e, até certo ponto, as intenções do autor. O que faz das crianças um grupo privilegiado a ponto de impor a necessidade de uma compartimentação de sua literatura? Talvez sua absoluta dependência no que respeita à seleção e consumo de material impresso. É essa mesma dependência que explica a proximidade das fronteiras entre livro didático e literatura infantil. (LAJOLO, 1982, p. 121).

Para Zilberman, a literatura infantil surgiu no século XVIII, com a ascensão da ideologia burguesa, quando começou a ser dada uma atenção especial à infância. Nesse sentido seria um “gênero incompreensível sem a presença de seu destinatário, a literatura infantil não poderia surgir antes da infância” (2003, p.13).

Já a origem do livro didático está na cultura escolar, mesmo antes da invenção da imprensa no final do século XV. Na época em que os livros eram raros, os próprios estudantes universitários europeus produziam seus cadernos de textos. Com a imprensa, os livros tornaram-se os primeiros produtos feitos em série e, ao longo do tempo a concepção do livro como “fiel depositário das verdades científicas universais” foi se solidificando (GATTI JÚNIOR, 2004, p.36).

Comenius1 em sua obra Didática Magna publicada em 1657 já orientava que “cada classe terá seus livros didáticos, que conterão e desenvolverão todo o material necessário àquela classe [...] esses livros deverão, infalivelmente, servir de orientação até a meta desejada, sem necessidade de nenhum outro.” (COMENIUS, 1997, p.337).

Em terras brasileiras foram os jesuítas que, em 1549, com o objetivo de catequizar os índios, iniciaram o ensino da escrita e da leitura da língua portuguesa. Para esta tarefa, utilizaram além dos livros vindos de Portugal, as chamadas cartinhas ou cartilhas. Estas cartilhas eram pequenas obras resumidas, que continham o alfabeto, um breve silabário e um catecismo simples com algumas orações cotidianas. Eram publicadas em grandes tiragens, geralmente sem autoria e data, provavelmente por iniciativa dos próprios impressores, dado seu potencial comercial (VERDELHO, 2001).

Os primeiros autores nacionais de livros escolares iniciaram sua produção a partir da chegada da família real portuguesa ao Brasil e da posterior instalação da Imprensa Régia. Estes autores caracterizavam-se por serem homens pertencentes à elite intelectual e política do país, além de possuírem estreitas ligações com o poder institucional

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responsável pela política educacional do Estado. A produção nacional da época estabeleceu-se junto ao poder e tinha como propósito consolidá-lo por meio dos colégios destinados à formação das elites.

Com o fim do monopólio da Impressão Régia em 1822, o setor privado foi beneficiado, porém a Tipografia Nacional prosseguiu publicando um pequeno número de obras didáticas. Entraram em cena os editores estrangeiros que começaram a se dedicar à produção nacional, porém mantendo um vínculo com seus países de origem. As editoras francesas foram as que mais se firmaram no país devido a nossa dependência das técnicas de produção e das políticas de importação. As editoras e gráficas brasileiras tinham problemas com a impressão, com o preço do papel e das tintas, sendo que a opção pela impressão de obras na Europa satisfazia aos editores locais (BITTENCOURT, 2004b).

Deste modo, até a década de 1920, a maioria dos livros didáticos, assim como a maioria dos livros brasileiros, foram escritos, editados e impressos em países como França e Portugal. O número de escolas e de alunos era pequeno e a produção nacional de livros se tornava economicamente inviável. Só a partir de 1930 estas publicações começaram a ter mais autores brasileiros. A produção de livros didáticos veio a ter um crescimento significativo somente a partir da segunda metade do século XX, quando a importação tornou-se inviável, o que incentivou a produção nacional.

Um aspecto que pode ser observado ainda hoje no meio acadêmico e editorial é o preconceito em relação aos intelectuais que se dedicam à produção didática, pois há uma idéia de que o livro escolar é uma obra menor, onde não há produção de conhecimento científico. No período inicial dessa produção, entre o século XIX e início do século XX, a situação não era muito diferente. Escrever um livro didático sempre foi um desafio, pois seu discurso complexo e de difícil denominação, varia entre um discurso científico e um discurso literário. Para este trabalho específico, aos poucos, os editores passaram a considerar a experiência pedagógica do escritor importante. Entretanto, como salienta Bittencourt “a qualidade principal exigida do autor de livro didático para a escola elementar, era sua capacidade de ‘bom escritor’, ou seja, possuir qualidades literárias para atingir a especificidade de um público infantil e juvenil” (2004b, p.484).

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A trajetória para que os livros didáticos, dicionários, obras literárias e livros em Braille chegassem até as escolas brasileiras teve início em 1937, com a criação do Instituto Nacional do Livro (INL) por meio do Decreto-lei nº 93 de 21/12/19372 logo após o golpe de estado que iniciou o período chamado Estado Novo do presidente Getúlio Vargas. Estavam previstas como suas atribuições a edição de obras literárias julgadas de interesse para a formação cultural da população, a publicação de uma enciclopédia e um dicionário nacionais e a expansão, por todo o território nacional, do número de bibliotecas públicas. Também era seu objetivo promover as medidas necessárias para aumentar, melhorar e baratear a edição de livros no país, bem como para facilitar a importação de livros estrangeiros contribuindo, desta forma, para a legitimação do livro didático nacional e, conseqüentemente, para o aumento de sua produção.

Um ano mais tarde foi instituída, por meio do Decreto-lei nº 1.006 de 30/12/19383, a Comissão Nacional do Livro Didático (CNLD) que estabeleceu a primeira política de legislação para tratar da produção, do controle e da circulação dessas obras. Esta comissão possuía mais uma função de controle político-ideológico do que propriamente uma função didática (FREITAG et al., 1989), já que os livros tornaram-se um importante instrumento para a permanência do poder, com conteúdos controlados ideológica e politicamente pelo governo.

Após questionamentos sobre a legitimidade desta comissão e após a deposição de Getúlio Vargas em outubro 1945, o governo consolidou a legislação sobre as condições de produção, importação e utilização do livro didático, delegando ao professor a escolha do livro a ser utilizado pelos alunos, conforme definido no art. 5º do Decreto-lei nº 8.460, de 26/12/19454.

Em 1966, durante o governo de Castelo Branco, primeiro presidente do regime militar instaurado pelo golpe de 1964, foi realizado um acordo entre o Ministério da Educação (MEC) e a Agência Norte-americana para o Desenvolvimento Internacional (USAID) que permitiu a criação da Comissão do Livro Técnico e Livro Didático (COLTED).

2 Decreto-lei nº 93 de 21/12/1937, determinado pelo Presidente da República Getúlio Vargas, por iniciativa do ministro da educação Gustavo Capanema. Fonte: <http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes. action?id=103227>.

3 O Decreto-lei nº 1.006 de 30/12/1938, determinado pelo Presidente da República Getúlio Vargas, estabeleceu também as condições de produção, importação e utilização do livro didático. Fonte: <http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaPublicacoes.action?id=34467>.

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Esta comissão tinha como objetivo coordenar as ações referentes à produção, edição e distribuição do livro didático e pretendia distribuir gratuitamente 51 milhões de livros no período de três anos. Em relação a este acordo houve diversas críticas por parte de educadores brasileiros. Segundo Romanelli (1978, p.213 apud FREITAG et al., 1989, p. 15):

Ao MEC e ao SNEL (Sindicato Nacional de Editores de Livros) caberiam apenas responsabilidades de execução, mas aos órgãos técnicos da USAID todo o controle, desde os detalhes técnicos da fabricação do livro até os detalhes de maior importância como: elaboração, ilustração, editoração e distribuição de livros, além da orientação das editoras brasileiras no processo de compra de direitos autorais de editores não brasileiros, vale dizer, americanos.

Em 1971 com a extinção da COLTED e o término do convênio MEC/USAID, o INL passou a desenvolver o Programa do Livro Didático para o Ensino Fundamental (PLIDEF), assumindo as atribuições administrativas e de gerenciamento dos recursos financeiros.

Cinco anos depois, em 1976, o INL foi extinto e a Fundação Nacional do Material Escolar (FENAME) tornou-se responsável pela execução do PLIDEF. Por meio do decreto nº 77.107, de 4/2/19765 o governo iniciou a compra dos livros com recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e com as contribuições dos Estados. Porém os recursos não foram suficientes para atender todos os alunos do ensino fundamental da rede pública e a solução encontrada foi excluir do programa a grande maioria das escolas municipais.

As mudanças continuaram e em 1983, em substituição à FENAME, foi criada a Fundação de Assistência ao Estudante (FAE), que incorporou vários programas de assistência do governo, incluindo o PLIDEF. Houve críticas a essa centralização da política assistencialista do governo e conforme Freitag (et al., 1989) dentre as denúncias estavam a não distribuição dos livros didáticos nos prazos estabelecidos, a pressão política das editoras e o autoritarismo na escolha dos livros. Mais tarde, com a abertura do regime militar, propôs-se a participação dos professores na escolha dos livros e a ampliação do programa, com a inclusão das demais séries do ensino fundamental. Na época alguns Estados já ofereciam aos seus professores a possibilidade de escolha de seus livros didáticos.

5 O Decreto nº 77.107, de 4/2/1976, determinado pelo Presidente da República Ernesto Geisel,

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É interessante salientar que, principalmente durante o governo militar, a política educacional brasileira foi caracterizada pelo assistencialismo, ligando a produção dos livros didáticos às crianças carentes de recurso, fato que não ocorreu em outros países. De acordo com Freitag (et al., 1989) essa postura governamental dá a entender que o mesmo é responsável apenas pelas camadas mais carentes, porém sua responsabilidade se estende a todas. A conseqüência desta postura é a negligência da função educadora da escola, que acaba assumindo uma função assistencialista.

O atual Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) veio substituir o PLIDEF em 1985 com a edição do decreto nº 91.542 de 19/8/19856. Ele instituiu alterações significativas, especialmente nos seguintes pontos (FNDE, 2008; CASSIANO, 2004):

garantia do critério de escolha do livro pelos professores;

reutilização do livro por outros alunos em anos posteriores, tendo como conseqüência a eliminação do livro descartável;

aperfeiçoamento das especificações técnicas para sua produção, visando maior durabilidade e possibilitando a implantação de bancos de livros didáticos;

extensão da oferta aos alunos de todas as séries do ensino fundamental das escolas públicas e comunitárias;

aquisição com recursos do Governo Federal, com o fim da participação financeira dos Estados, com distribuição gratuita às escolas públicas.

Alguns fatos que marcaram o PNLD foram a redução da distribuição dos livros até a 4ª série do ensino fundamental devido à limitações orçamentárias em 1992 e a posterior resolução de 1993 que veio estabelecer um fluxo regular de verbas para a aquisição e distribuição do livro didático. De forma gradual a distribuição dos livros foi normalizada a todo o ensino fundamental público.

Para que o livro didático chegasse às escolas foram feitas inúmeras tentativas, porém só com a extinção em 1997 da FAE e com a transferência integral da política de execução do PNLD para o FNDE é que se iniciou uma produção e distribuição contínua e massiva de livros didáticos.

6 O decreto nº 91.542 de 19/8/1985, determinado pelo Presidente da República José Sarney, instituiu o

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O PNLD tem como foco o ensino fundamental público, incluindo as classes de alfabetização infantil, e assegura a gratuidade dos livros. De acordo com o programa cada aluno tem direito a um exemplar das disciplinas de língua portuguesa, matemática, ciências, história e geografia, que serão estudadas durante o ano letivo. Aos estudantes do primeiro ano é destinada também uma cartilha de alfabetização.

O processo de avaliação pedagógica dos livros inscritos para o PNLD, como é aplicado hoje, foi iniciado em 1996 e passou por vários aperfeiçoamentos. Atualmente a síntese da avaliação pedagógica pela qual passam os livros e as coleções distribuídas pelo Ministério da Educação é apresentada no Guia do Livro Didático, distribuído às escolas e também disponível on-line. No guia entram somente livros que não apresentam erros conceituais, indução a erros, desatualização, preconceito ou discriminação de qualquer tipo. É organizado em seis volumes de resenhas, que correspondem a disciplinas ou componentes curriculares: Língua Portuguesa, Alfabetização, Matemática, História, Geografia e Ciências. As resenhas7 descrevem as coleções, livros de alfabetização e livros regionais, do ponto de vista dos pressupostos teórico-metodológicos assumidos, de sua organização particular, dos conteúdos selecionados, do tratamento didático dado a esses conteúdos; avaliam e exprimem seu desempenho e qualidade, do ponto de vista dos princípios e critérios específicos da área em questão e informam a respeito de implicações mais diretas dessas obras para a organização do trabalho em sala de aula (BRASIL, 2006a).

Fig. 1 - Capas dos volumes que compõem o Guia do Livro Didático 20078

7 Estas resenhas são elaboradas por especialistas, de universidades públicas, selecionados pela Secretaria de

Educação Básica (SEB/MEC), responsável pela avaliação pedagógica, que analisam as obras, conforme critérios divulgados em edital.

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A escolha dos livros é feita pelos professores das escolas públicas de todo o país, por meio do Guia do Livro Didático. Eles têm a oportunidade de escolher os livros de sua preferência para serem trabalhados pelo período de três anos, sendo que o livro escolhido só poderá ser substituído por outro título no próximo PNLD. São escolhidas duas opções de títulos por disciplina e, se a primeira não conseguir ser negociada com os detentores dos direitos autorais e editores, a segunda passará a valer. Os professores de uma mesma disciplina precisam chegar a um consenso sobre a escolha do livro pois a mesma obra valerá para toda a escola.

De acordo com o FNDE (2008) não há repasse de recursos para a aquisição dos livros, pois é realizada de forma centralizada, uma vez que o próprio fundo executa diretamente os programas. Depois de efetuada a compra, eles são enviados aos estados, municípios, entidades comunitárias e filantrópicas e entidades parceiras do Brasil Alfabetizado9.

Além do PNLD, o governo federal executa outros dois programas relacionados ao livro didático para prover as escolas das redes federal, estadual e municipal e as entidades parceiras do programa Brasil Alfabetizado: o Programa Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio (PNLEM) criado em 2004 e o Programa Nacional do Livro Didático para a Alfabetização de Jovens e Adultos (PNLA).

Fig. 2 - Como funciona a escolha dos livros didáticos no Brasil10

9 Programa criado pelo MEC em 2003 que capacita alfabetizadores e alfabetiza cidadãos com 15 anos ou

mais, que não tiveram oportunidade, ou foram excluídos da escola, antes de aprenderem a ler e a escrever.

10 Fontes: Ministério da Educação, Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação e Associação Brasileira

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Após todo o processo de escolha dos livros didáticos é realizado o Encontro Nacional do Livro Didático, que no ano de 2007 teve sua 11ª. edição. Neste encontro acontecem palestras e debates que reúnem secretários municipais de educação, presidentes da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação nos estados, coordenadores estaduais do livro do ensino médio e do ensino fundamental, dirigentes da educação, além de representantes do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo, da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, da Fundação Dorina Nowill para Cegos11, do Instituto Benjamin Constant12, da Controladoria Geral da União e das secretarias do Ministério da Educação. Todos os envolvidos no processo discutem eventuais problemas, orientações e melhorias no programa (FNDE, 2008).

Os investimentos realizados pelas políticas públicas nos últimos anos transformaram o PNLD no maior programa de livros didáticos do mundo (BITTENCOURT, 2004a), transformando os escritores brasileiros desta categoria de livros, nos campeões de vendagens. Segundo levantamento da Câmara Brasileira do Livro e do Sindicato Nacional dos Editores de Livros13 dos 310 milhões de livros vendidos em 2006, 53% eram livros didáticos, sendo que o segmento corresponde a mais da metade do faturamento do mercado editorial brasileiro.

A distribuição dos livros didáticos é realizada pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) desde 1995 por meio de uma parceria com o FNDE e contempla o PNLD e o PNLEM. O prazo para entrega dos livros é de 30 dias a partir da data da postagem. Os Correios entregam os livros didáticos diretamente às escolas públicas urbanas e os destinados às escolas rurais são entregues nas secretarias municipais de Educação ou nas prefeituras que, por sua vez, devem entregá-los aos estabelecimentos de ensino antes do início do ano letivo. Se acaso houver falta ou sobra de livros, as escolas podem recorrer ao Siscort14 ou às secretarias estaduais ou municipais de educação. O acervo de emergência, ou reserva técnica, cumpre a função de socorrer escolas que, por algum motivo, precisam

11 A Fundação Dorina Nowill para Cegos, situada em São Paulo, oferece programas de tratamento aos

deficientes visuais, além de proporcionar o acesso à cultura e informação através dos serviços que presta gratuitamente como a produção de livros em Braille que são distribuídos também para centenas de escolas, bibliotecas e organizações de todo o país. Fonte: <http://www.fundacaodorina.org.br>.

12 O Instituto Benjamin Constant, situado no Rio de Janeiro, foi criado pelo Imperador D.Pedro II em 1854.

Atualmente é um centro de referência para questões da deficiência visual: possui uma escola, capacita profissionais, assessora escolas e instituições, realiza consultas oftalmológicas à população, reabilita, produz material especializado, impressos em Braille e publicações científicas. Fonte: <http://www.ibc.gov.br>.

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de algum livro específico, devido ao atraso do título, quantidade insuficiente ou mesmo transferência de alunos.

Segundo informações da Associação Brasileira de Editores de Livros (Abrelivros) para o ano letivo de 2008 os Correios distribuíram mais de 128 milhões de livros, um número recorde, para 145 mil escolas públicas de ensino fundamental e médio em todo o Brasil. Esse volume equivale a aproximadamente 55% da produção de livros didáticos do país e torna os Correios a empresa operadora da logística do maior programa de distribuição de livros didáticos do mundo, feito que no ano de 2002 rendeu um prêmio da World Mail Awards na Holanda, onde correios considerados avançados, como o espanhol, o

italiano e o norte-americano, também concorreram.

Uma operação como esta dura aproximadamente 5 meses e envolve 5 mil caminhões que levam 15,5 milhões de encomendas para as 91 centralizadoras dos Correios espalhadas em todo o território nacional. Inicia com a postagem das encomendas pelas editoras contratadas pelo FNDE e, posteriormente, a carga é encaminhada para as centralizadoras dos Correios que efetuam a entrega às escolas da área urbana.

Em relação aos portadores de necessidades especiais há o Programa Nacional do Livro Didático em Braille, onde os estudantes cegos ou com deficiência visual do ensino fundamental das escolas públicas e escolas especializadas sem fins lucrativos são beneficiados com exemplares em Braille.

Este atendimento teve início em 1999, quando o FNDE, por intermédio da Secretaria de Educação Especial (SEESP), firmou convênio com o Instituto Benjamin Constant e, de forma experimental, transcreveu para Braille vinte títulos de livros didáticos. Este material em CD foi enviado aos CAPs (Centros de Apoio Pedagógico para Atendimento às Pessoas com Deficiência Visual) para serem impressos e distribuídos aos alunos.

De acordo com o FNDE (2008) esta primeira experiência demonstrou que havia muitos desafios a serem superados, sendo que o primeiro deles era a existência de diferentes formas de utilização do sistema no Braille no país. O primeiro passo para a solução deste problema foi dado com a publicação pela SEESP do documento Grafia Braille

14 O Sistema de Controle de Remanejamento e Reserva Técnica (Siscort), criado em 2003, tem por finalidade

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para a Língua Portuguesa instituído pela portaria nº 2.678, de 24/09/200215 com as diretrizes e normas para o uso, o ensino e a produção do sistema Braille. Outro passo consistiu em planejar o atendimento, identificar a localização e a condição visual dos alunos (cegos ou com baixa visão) a serem atendidos. Depois de levantados esses dados, eles foram incluídos no censo escolar de 2004.

Em 2003, mediante novo convênio com o Instituto Benjamin Constant, foram avaliados, adaptados, transcritos e impressos 96 títulos, para distribuição de 2000 livros didáticos de português, história, geografia e ciências de 1ª a 4ª série e de 1500 livros de 5ª a 8ª série. Os livros atenderam 500 alunos de 1ª a 4ª série e 500 de 5ª a 8ª séries do ensino fundamental. Além disso, foram editorados 150 CDs com títulos de livros didáticos de 1ª a 8ª série e 150 CDs com títulos de diversos livros escolares, distribuídos a 150 unidades de apoio ao deficiente visual, incluindo os CAPs (FNDE, 2008).

No ano de 2005 foi firmado, com a Fundação Dorina Nowill para Cegos, um convênio que previa o atendimento a todos os 3.443 alunos cegos16, de todas as 1.244 escolas públicas do Brasil e escolas especializadas sem fins lucrativos, todas do ensino fundamental, por meio da distribuição de mais de 40.000 livros em Braille, de 128 títulos diferentes das 5 disciplinas, até o ano letivo de 2006. Os alunos de 1ª a 4ª série foram atendidos, por este convênio, com livros até o ano letivo de 2006, quando o PNLD passou a oferecer ao aluno cego o mesmo título adotado na escola. Da mesma forma, os alunos de 5ª a 8ª série foram atendidos por este convênio até o ano letivo de 2007. A partir do PNLD 2008 os alunos com deficiência visual ganharam o direito de usar o mesmo livro do restante da escola.

Aos alunos com surdez das escolas de ensino fundamental e médio foi realizada a compra e distribuição, no ano de 2007, de dicionários trilíngües (português, inglês e libras). Além disso, aos alunos com surdez de 1ª a 4ª série, foram destinados cartilha e livro de língua portuguesa em libras e em CD-rom (FNDE, 2008).

Em relação à memória e à história do livro didático, vem sendo organizado desde 2003 um acervo de livros didáticos pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo com a preocupação de registrar e preservar a produção escolar. Chamado de Banco

15 A portaria nº 2.678 de 24/09/2002 aprovou o projeto da Grafia Braille para a Língua Portuguesa e

recomendou o seu uso em todo o território nacional, a partir de 1° de janeiro de 2003. Fonte: <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/txt/grafiaport.txt>.

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de Dados LIVRES, este projeto tem a finalidade de recensear os livros didáticos brasileiros produzidos desde 1810 e disponibilizar as informações pela Internet17. O LIVRES é ampliado constantemente por meio de pesquisas que analisam o livro didático em seus diferentes aspectos, desde os conteúdos das diversas disciplinas, o processo de produção e história das editoras, a memória e usos dos livros em salas de aula. Este projeto de pesquisa conta também com intercâmbio com outros centros de pesquisa do Brasil e do mundo.

1.2 Transformações do aspecto visual do livro didático

A idéia do que é um livro, como entendemos hoje, tem proporcionado discussões nos últimos tempos por parte de teóricos, editores e demais interessados no tema. Discute-se a possibilidade de ser ampliado o conceito de livro para além do texto impresso, passando a se considerar livro todo e qualquer registro de idéias, independente de seu suporte, seja papel, CD, DVD ou outro (WALTY et al., 2001). Este fato serve para ilustrar como a forma do objeto livro muda ao longo do tempo, variando conforme a tecnologia, uso e público de cada época.

Há a necessidade aqui de se especificar sobre o tipo de livro didático que será tratado neste trabalho. Isto se deve à existência atualmente, de diversos modelos e suportes para livros didáticos, que se constituem em material didático, pois não adotam a forma de livro: são cartazes, álbuns, lâminas avulsas ou fichas. No caso desta pesquisa, quando fala-se em livro didático refere-se o modelo tradicional, de formato 205mmx275mm, com capa em papel cartão plastificado, miolo em papel offset branco e acabamento com lombada quadrada.

O livro didático, desde seu início, trouxe uma ambigüidade em relação ao seu público. A figura central era a do professor, porém a partir da segunda metade do século XIX passou a se tornar mais claro que o livro didático não era um material de uso exclusivo deste, para transcrever ou ditar. Observou-se que o livro precisava ir diretamente para as mãos dos alunos. Esta mudança de perspectiva - passar a ver o aluno como consumidor direto do livro - sinalizou, tanto para autores, quanto editores, que era necessário modificar o produto para atender a novas exigências, transformando e aperfeiçoando sua

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linguagem. Neste sentido, as ilustrações começaram a se tornar uma necessidade, assim como surgiram novos gêneros didáticos, como os livros de leitura e os livros de lições. (BITTENCOURT, 2004b).

De acordo com um artigo18 do pesquisador francês Alain Choppin, no qual faz um balanço das pesquisas sobre a história do livro didático, as análises sobre estes ficam tradicionalmente restritas ao texto, mesmo considerando que, desde o final do século passado, a parte do livro destinada à iconografia tenha evoluído bastante. Apenas no fim dos anos 1980 o livro didático deixou de ser considerado como um texto onde as ilustrações serviam como acessórios e enfeites, e começou a ser levada em conta a articulação semântica que une o texto e a imagem. Além disso, há também a necessidade de se pesquisar as características da forma dos livros didáticos. Sobre isto o pesquisador afirma que

A organização interna dos livros e sua divisão em partes, capítulos, parágrafos, as diferenciações tipográficas (fonte, corpo de texto, grifos, tipo de papel, bordas, cores, etc.) e suas variações, a distribuição e a disposição espacial dos diversos elementos textuais ou icônicos no interior de uma página (ou de uma página dupla) ou de um livro só foram objeto, segundo uma perspectiva histórica, de bem poucos estudos, apesar dessas configurações serem bastante específicas do livro didático. Com efeito, a tipografia e a paginação fazem parte do discurso didático de um livro usado em sala de aula tanto quanto o texto ou as ilustrações (CHOPPIN, 2004, p. 559).

Um exemplo sobre o aspecto visual do material didático do início do século XX é o livro escolar Através do Brasil, de Olavo Bilac e Manoel Bomfim, que “era um livro barato, sem luxo e, sobretudo, de leitura fácil e envolvente”, publicado em 1910 pelo português Francisco Alves (FEIJÓ, 2005, p.457). Ele foi o primeiro livreiro-editor no Brasil a apostar no comércio dos livros escolares, fazendo disto sua principal fonte de renda. Só Através do Brasil teve 66 edições, e foi adotado nas escolas por mais de seis décadas. Somente em

1965 o livro deixou de ser editado.

18 CHOPPIN, 2004. O artigo História dos livros e das edições didáticas: sobre o estado da arte se originou da

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Fig. 3 - Capa e página de rosto do livro Através do Brasil19

Autores: Olavo Bilac e Manuel Bomfim.

Livro de Leitura para o curso Médio das Escolas Primarias. Prática da Língua Portuguesa. 7 ed. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1921 (a 1ª. edição é de 1910).

Em relação ao seu aspecto visual, conforme Santos e Oliva (2004), o livro era organizado e sóbrio, não se distanciando muito do padrão da época. Na introdução os autores afirmavam que as ilustrações deviam servir como pretexto para mostrar a realidade e, nesse sentido, procuraram construir uma coerência entre a imagem e o texto. A primeira edição do livro apresentava um grande e diversificado conteúdo iconográfico ao longo de seus 82 capítulos, com 68 ilustrações, divididas entre fotografias, cartões postais e desenhos.

O livro escolar Através do Brasil assim como tantos outros na época, os considerados “bons”, eram impressos, na maioria das vezes, em Paris, devido à falta de máquinas adequadas para impressão no país. Muitos editores adaptavam máquinas de imprimir jornais para imprimir livros, o que comprometia a qualidade do produto. As gráficas se ocupavam da produção de livros apenas no tempo ocioso, pois o foco principal era a impressão de jornais, revistas e almanaques. A questão do preço e da qualidade favorecia o envio de material para impressão no exterior.

O responsável por uma verdadeira revolução no setor gráfico brasileiro foi Monteiro Lobato - escritor, editor e adaptador - que mudou o perfil da indústria editorial em apenas sete anos (FEIJÓ, 2005). O contexto em que ele se encontrava era o de um mundo abalado com o início da Primeira Guerra Mundial que causou impacto na indústria nacional, uma vez que as importações vindas da Europa foram comprometidas. Este fato ocasionou um

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fortalecimento das indústrias locais, principalmente as ligadas à produção de livros. Outro ponto positivo foi a imigração de profissionais europeus, principalmente para São Paulo, que contribuíram com uma mão-de-obra qualificada para o setor gráfico. Lobato se revelou um dos editores mais ousados que o país já conheceu no momento em que montou a primeira empresa com equipamentos adequados à produção de livros (PAIXÃO, 1996 apud FEIJÓ, 2005). Ele profissionalizou o processo de produção do livro.

Lobato possuía um inegável tino comercial e a noção da importância da publicidade para seu negócio. Preocupava-se com os diversos aspectos que poderiam influenciar a venda do livro, desde a divulgação dos lançamentos pela imprensa, o título, bem como o aspecto visual e material. Importou para sua editora máquinas modernas e apropriadas a fim de poder explorar todas as novas técnicas de impressão para conseguir uma qualidade gráfica superior.

Cuidava pessoalmente, e com carinho, da apresentação dos livros, exigia capas coloridas e ilustrações grandes e bem-feitas. Além disso, os tipos (letras) que importou para suas máquinas tipográficas permitiam melhores soluções visuais, com diagramação mais ousada (FEIJÓ, 2005, p.461).

A importância do aspecto visual dos livros lançados pela sua editora era tamanha que chegou a culpar uma capa pelo fracasso das vendas. Para ele, que tinha um pensamento diferente do vigente na época, o livro era uma mercadoria como qualquer outra e, como tal deveria atrair a atenção do leitor/consumidor. A apresentação gráfica dos seus livros, com capas ilustradas e coloridas, fugia do padrão dos demais, que apresentavam capas amarelas e tipográficas. Para ele “planejamento industrial, criação artística e comércio com objetivo de lucro não eram atividades estanques, não estavam separadas por barreiras intransponíveis” (FEIJÓ, 2005, p.463).

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Fig. 4 - Capa do livro didático Conjuncções: notas elucidativas e exercícios práticos20

Autor: Leonardo Pinto, Ed. Monteiro Lobato, 1922

Fig. 5 - Capa do livro Casa de Maribondos21

Autor: João do Norte, Ed. Monteiro Lobato, 1921

Lobato observou também que o livro escolar tinha um retorno garantido sobre o investimento realizado e iniciou a produção desta mercadoria. Antes disso já havia inaugurado um procedimento, que se tornou comum às editoras, e que possibilitava uma grande divulgação e aproximação com as escolas: enviava gratuitamente livros para as instituições. Foi com Lobato que o livro de leitura para a escola finalmente se nacionalizou: “livros escritos por um brasileiro, para crianças brasileiras, editados e impressos no Brasil, distribuídos de forma massificada (para os padrões da época) e fartamente consumidos pelo público escolar” (FEIJÓ, 2005, p.462).

Um aspecto que influenciou fortemente a mudança no modo de produção do livro infantil foi o aumento do número de estudantes. Aos poucos ocorreu uma profissionalização em relação aos escritores e em todo o restante da produção, e foi constatada a importância do projeto gráfico no gênero infantil (LAJOLO, 2001). O livro tornou-se um produto rentável para todos os envolvidos no processo.

Já o manual escolar iniciou sua transformação em livro didático justamente a partir da década de 1960, quando as características do livro foram se adaptando à nova realidade escolar, com a democratização do ensino. Até este período estes livros sofreram poucas alterações e permaneceram muito tempo no mercado, sem uma linguagem de acordo com as faixas etárias às quais se destinavam. Alguns sinais mais visíveis da transformação do livro didático foram:

20 Fonte: <http://paje.fe.usp.br/estrutura/livres/>.

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a mudança de formato, pois grande parte dos livros possuía 14x18cm e passaram a ter 21x28cm;

o aspecto visual das capas que, de austeras e rígidas, passaram a oferecer um visual mais direcionado ao público escolar, com ilustrações e imagens;

a encadernação passou a ser feita mecanicamente; a capa teve como acabamento a plastificação;

e a qualidade do papel sofreu uma melhoria significativa, bem como a qualidade de impressão.

Fig. 6 - Capa do livro didático História do Brasil22

Autor: Rocha Pombo Editora Melhoramentos, 1ª. ed., 1918

Formato: 14x18cm

Fig. 7 - Capa do livro didático Estudos Sociais23

Autores: Ricardo de Moura Faria, Antônio Marum, Gleuso D. Duarte, Tânia M. Guimarães

Editora Lê, 4ª. ed., 1979 Formato: 21x28cm

Belmiro (2000) relata que, no fim da década de 1960, o livro didático começou a apresentar um pouco mais de cor em seu interior, além do preto-e-branco, e tons de terra, meio amarronzados, meio alaranjados ou avermelhados eram utilizados em algumas imagens. Também surgiu a cor nas letras dos subtítulos, no sublinhado das palavras, das frases e em boxes de textos para destacar definições ou conceitos.

Outro aspecto que foi bastante explorado a partir desta época foi a ilustração - inicialmente impressa na cor marrom. Belmiro (Ibid.) explica que, no decorrer das décadas seguintes, houve uma melhora significativa na qualidade das imagens em livros de literatura, diferentemente das ilustrações dos livros didáticos, muitas delas “imaturas e

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inconsistentes” e cita como exemplo um livro didático de Português do ensino fundamental do início da década de 1970.

Se o assunto é uma menina estudiosa, a ilustração é uma menina sentada à mesa de estudos; se é um passeio de trem, imagem de pessoas descontraídas sentadas dentro do trem. É redundante em relação ao título do texto, uma vez que não acrescenta ou renova diferentes leituras, e não tem a preocupação de dialogar com o texto. (Ibid., p.18).

Porém, ao longo da década de 1970, cores, ilustrações, fotografias e histórias em quadrinhos influenciaram a produção do conhecimento lingüístico e dos livros didáticos, principalmente os de Língua Portuguesa. Belmiro (Ibid., p. 19) diz que “é como se as cores e as formas rompessem o espaço em branco da folha para anunciar a existência de outros códigos de comunicação e novas formas de sociabilidade no interior da escola.”

Fig. 8 - Capa da cartilha No Reino da Alegria24

Autora: Doracy de Almeida.

Publicada pelo IBEP (Instituto Brasileiro de Edições Pedagógicas) em 1974.

Um ponto importante para a questão da mudança da qualidade do livro foi a substituição do livro descartável para o durável, introduzido pelo PNLD em 1985. O livro descartável era produzido para ser usado pelo período letivo de um ano e, por este motivo, utilizava-se papel de baixa qualidade a fim de reduzir custos e aumentar as tiragens, o que prejudicava todo o projeto gráfico. Este tipo de livro caracterizava-se por apresentar o conteúdo curricular seguido de exercícios e de atividades que deviam ser realizadas pelo estudante diretamente nas páginas do livro, como desenhos, pinturas e colagens. Este

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modelo, opção do governo militar, foi utilizado por quinze anos, sendo que sua concepção pedagógica tinha como base o behaviorismo25, que foi criticado por não permitir o desenvolvimento do raciocínio, da criatividade e da reflexão crítica por parte dos alunos.

Diante do papel que o livro didático ocupava no processo escolar no fim da década de 1990, o governo brasileiro, na posição de maior comprador deste tipo de livro, iniciou um processo de avaliação que ocasionou diversas melhorias nas coleções didáticas de todas as áreas disciplinares, incluindo o apuro da qualidade gráfica, de impressão e da linguagem e conteúdo utilizados pelos autores. Segundo Gatti Júnior (2004) os livros didáticos destinados ao ensino fundamental começaram a ser impressos a quatro cores somente neste período, porém os destinados ao ensino médio, salvo exceções, ainda eram impressos em duas cores. Hoje as editoras brasileiras já possuem a experiência de que um trabalho gráfico de má qualidade pode comprometer o sucesso de uma coleção.

Como visto no histórico, foram criadas em diversas épocas comissões ou comitês com a finalidade de avaliar a qualidade dos livros didáticos produzidos pelas editoras. De acordo com Freitag (et al., 1989) no início, a intenção era apenas autorizar ou não o uso do livro na rede pública, e somente mais tarde estas comissões passaram a avaliá-lo e selecioná-lo.

Os esforços realizados na elaboração de esquemas formais de avaliação fracassaram pela dificuldade de encontrar um denominador comum que permitisse dar conta de vários aspectos simultâneos, desde a apresentação física do livro (cores, capa, papel, tipo de letra, desenhos), até os aspectos de conteúdo: fundamentação psicopedagógica da matéria apresentada, atualidade dos dados em relação ao avanço do conhecimento em uma área específica e os elementos ideológicos explícitos ou implícitos no material apresentado etc. (FREITAG et al.,1989, p.41).

De acordo com o FNDE (2008), em se tratando de livros didáticos, a qualidade física e visual do livro é analisada em dois momentos durante a seleção das obras pelo PNLD. O primeiro ocorre logo após a inscrição das obras pelas editoras onde é realizada uma triagem/avaliação pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT), a fim de verificar se as obras apresentadas se enquadram nas exigências técnicas e físicas do edital. Elas devem ser produzidas conforme especificações técnicas mínimas para produção dos livros definidas pelo MEC e FNDE. Entre os itens que devem obedecer aos

25 Na abordagem behaviorista, surgida no começo do século XX, o ensino pode ser um processo programado,

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padrões estabelecidos estão o formato, o papel da capa e do miolo e o acabamento. Depois de disponibilizado o Guia do Livro Didático, feita a escolha pelos professores e enviado o pedido ao governo, o mesmo inicia a negociação com as editoras até o fechamento do contrato. Finda a negociação são informadas as quantidades e as localidades de entrega para as editoras, que dão início à produção dos livros, com supervisão dos técnicos do FNDE. Este é o segundo momento em que o IPT coleta amostras e analisa as características físicas dos livros, de acordo com especificações da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), normas ISO e manuais de procedimentos de ensaio pré-elaborados.

1.3 Os livros didáticos no cotidiano escolar

A categoria de livros didáticos possui uma característica peculiar: depois de serem utilizados como material em sala de aula, só em casos muito específicos, são guardados, revisitados ou reencontrados com o passar do tempo. Poucas pessoas guardam seus livros didáticos por sentimentalismo, como lembrança de seu tempo de escola. De modo geral, o livro didático é desvalorizado depois de seu uso imediato por cumprir uma função específica na vida dos indivíduos, ou seja, por ser intrínseco ao contexto escolar, tornando-se descartável e tornando-sem valor fora de tornando-seu contexto original. Em sua pesquisa sobre a memória de usuários de livros didáticos, Fernandes (2004) relata que as entrevistas realizadas com ex-alunos possibilitam, de modo geral, reflexões sobre a história da produção didática no Brasil.

A partir delas é possível dizer, por exemplo, que, apesar de fragmentadas as memórias, o livro esteve presente efetivamente no cotidiano da escola e há indicações de como era utilizado por professores e alunos. Além disso, nas recordações há relatos que identificam o que tem marcado o imaginário dos indivíduos sobre o tema, quais livros ficaram na memória de gerações, a relação entre livros e currículos (o que era estudado), a disciplina imposta no ato de ler, a presença de livros com história regional e local, os formatos e modelos de livros didáticos (capa dura, pequenos, com gravuras...), seus aspectos físicos (cor, grossura, capa...), ilustrações, mapas, quadros e atividades marcantes, etc. (FERNANDES, 2004, p. 540).

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começa a se construir um relacionamento com a palavra escrita e com os livros, que pode se concretizar em uma relação de afeto ou desafeto. Felizmente, em muitos casos, a leitura torna-se fonte de lazer e prazer, que se estende para além do período estudantil.

Os materiais didáticos entraram no ambiente escolar brasileiro logo após a Independência, quando as autoridades viram a necessidade deste apoio pedagógico e começaram a sua produção. Com o advento da República, a preocupação com o alcance dos livros e da leitura começou a ir além dos limites escolares.

Entretanto, na primeira metade do século XX, a presença dos livros ainda não era um fato constante na vida dos brasileiros, tanto dentro, quanto fora da escola. A nacionalização do livro escolar estava começando, a indústria editorial estava em desenvolvimento, e os editores ainda não eram brasileiros. Naquela época os livros eram, como ainda continuam sendo, mercadoria cara. Somava-se a este fato a pouca intimidade e interesse do povo pelos livros e pela atividade da leitura. A explicação para isto talvez se baseie na chegada tardia da imprensa ao Brasil, em 1808, enquanto que na Europa a imprensa já era uma conquista bem antiga – a Bíblia de Gutenberg data de 1445. Além disto a introdução da imprensa foi um ato isolado, já que não houve a criação de instituições e instrumentos necessários à difusão dos produtos impressos como escolas, bibliotecas, livrarias, jornais e editoras na época do Brasil Colônia (LAJOLO; ZILBERMAN, 2002).

Foi a partir da década de 1930, durante o governo Vargas, quando houve uma ampla reforma do ensino, que a base escolar se expandiu e afetou de modo positivo o mercado de livros didáticos. Pela primeira vez, graças às políticas públicas e ao câmbio desfavorável às importações, o livro escolar produzido no Brasil chegou a custar bem mais barato do que o concorrente estrangeiro. Os livros didáticos portugueses, por fatores de mercado e decisão do próprio Estado, saíram das escolas brasileiras, dando total espaço aos livros nacionais (FEIJÓ, 2005).

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alterações de seqüências, atividades complementares, aspectos diversos da realidade local, entre outros (BRASIL, 2006a).

Atualmente o livro didático é um material básico, de referência, um organizador de conteúdos e atividades tanto para o aluno, quanto para o professor. Entretanto nem sempre foi assim. De acordo com Gatti Júnior (2004) o livro didático sempre teve um papel importante na escola brasileira, porém na primeira metade do século XX os professores eram mais capacitados e utilizavam o livro como suporte, e não como um elemento central da prática pedagógica como acontece atualmente. Criou-se uma dependência em relação ao livro didático.

[...] o livro didático não deve ser tomado como vilão, mas sim como parte da solução, [...], pois o livro didático durante as décadas de 1970 a 1990, foi utilizado como paliativo para problemas de boa parte do professorado, que consistiam, em síntese, na falta de qualificação e de tempo para preparação de suas aulas. Aparentemente sempre foi cômodo, barato e seguro para o governo, do ponto de vista político, distribuir livros, pois agindo dessa forma o governo não precisava investir diretamente nas escolas; agradava aos setores industriais e evitava ter que agir junto aos cursos deficientes de licenciatura oferecidos por boa parte das faculdades que se espalhavam pelo país à época. (GATTI JÚNIOR, 2004, p.200).

Constata-se portanto, que os livros didáticos acabam sendo a principal fonte de informação impressa, a principal referência utilizada por uma parte significativa de professores e alunos, fato que ocorre mais freqüentemente quanto menor o acesso a bens econômicos e culturais (BATISTA, 1999). Em um país em que a produção didática corresponde a mais da metade do faturamento do mercado editorial, pode-se imaginar o porquê do livro didático reinar praticamente sozinho na escola. Obviamente isto se deve também a outros aspectos, como a carência do hábito da leitura, a pouca familiarização com o objeto livro (literário), o alto valor dos mesmos, a baixa remuneração da população em geral, além da falta de bibliotecas, museus e espaços culturais na maioria das cidades brasileiras.

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Neste sentido, as escolas e bibliotecas são lugares privilegiados para a promoção da leitura. Principalmente a escola, por ser mais acessível a todos, deve tornar a leitura uma atividade prioritária. A principal questão é reverter a imagem negativa que os estudantes tem dessa atividade, através de práticas adequadas. Perrotti (1990) cita que o autoritarismo e outras práticas opressivas, existentes ainda em muitas escolas, tem grande parcela de responsabilidade no desinteresse de crianças e jovens pela leitura, associando-a a estímulos negativos, criando uma imagem ruim e o afastamento, às vezes para sempre, do livro. Acaba-se criando relações e experiências, ainda na infância, que prejudicam o desenvolvimento do gosto pela leitura no aluno.

Resulta daí a necessidade de buscar novas práticas, novos arranjos que possibilitem a construção de outra imagem da leitura – prazerosa, descompromissada, divertida, atrativa, a ponto de ser capaz de vencer toda e qualquer resistência, a ponto de criar uma nova imagem da leitura. (PERROTTI, 1990, p.72).

Imagem

Fig. 1 - Capas dos volumes que compõem o Guia do Livro Didático 2007 8
Fig. 2 - Como funciona a escolha dos livros didáticos no Brasil 10
Fig. 3 - Capa e página de rosto do livro Através do Brasil 19 Autores: Olavo Bilac e Manuel Bomfim
Fig. 4 - Capa do livro didático Conjuncções: notas  elucidativas e exercícios práticos 20
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