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Gazeta de Lisboa (1715-1716 e 1815): contextualização, estudo informático-linguístico e edição

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I

Edição semidiplomática

A Gazeta de Lisboa foi precisamente o periódico escolhido para a constituição do nosso corpus de trabalho, que se localiza temporalmente nos séculos XVIII (1715-1716) e XIX (1815).

Critérios de fixação textual

Quando levamos a cabo uma edição de texto que será depois trabalhado com a ajuda de um programa informático, torna-se essencial proceder a uma certa uniformização ortográfica do corpus, não modificando drasticamente a ortografia original. Neste sentido, a execução desta tarefa conduziu-nos à pesquisa dos critérios adotados por alguns autores que trabalham com edição de textos, dos quais destacamos apenas alguns: Luís F. Lindley Cintra na sua edição Foros de Castelo Rodrigo (1984), Maria Olinda Santana na edição do Liuro dos Foraes Nouos da Comarqua de Trallos

Montes (1999) e do Tombo da Vila e Termo de Vila Pouca de Aguiar (2001), José

Barbosa Machado com a edição do Tratado de Confissom (2002), Carlos Assunção, na edição de A Arte da Grammatica da Lingua Portugueza (2000) e, juntamente com Amadeu Torres, na edição da Gramática da Língua Portuguesa de Fernão de Oliveira (2000).

Em seguida, passamos a expor os critérios que adotámos na transcrição e edição do texto:

1. Mantivemos a ortografia do texto original.

2. Unimos as palavras que estavam separadas e separámos as que estavam indevidamente juntas.

Comecemos por este último grupo: na primeira parte do corpus, separámos

partiade > partia de, amesma > a mesma, embusca > em busca. Na segunda parte, no

segundo volume, fizemos o mesmo com porcima > por cima, união esta que não se regista no primeiro volume nem no século XVIII. No primeiro volume de 1815, é de assinalar a separação de algumdia, porsi, ati, deferro através de notas de rodapé.

Por outro lado, o fenómeno inverso também se verificou. Decidimos juntar algumas palavras com o objetivo de uniformizar estas expressões que tanto se apresentam numa forma única como separada e para facilitar a nossa análise lexical.

(2)

II a) com nosco > comnosco

b) com vosco >comvosco c) com sigo > comsigo d) a pezar > apezar e) a penas > apenas f) á lerta > alerta g) com tudo > comtudo h) a travez > atravez i) a final > afinal

j) tal vez ou tal-vez > talvez

3. Corrigimos os casos que julgámos tratar-se de gralhas, fazendo referência às mesmas em nota de rodapé, das quais destacamos, na primeira parte do corpus, referente aos anos de 1715-1716, paaa > para, contiuàraõ > continuàraõ, acccrescentar >

accrescentar, Martni > Martini; na segunda parte do corpus, no primeiro volume de

1815, Bonadarte > Bonaparte, prnicipiou > principiou, no segundo volume

dessfallecida > desfallecida, refróma > refórma, sebre > sobre.

A primeira parte do corpus apresenta um total de 31 notas de rodapé. Na segunda parte, este número aumenta para 57 notas no primeiro volume e 70 no segundo volume.

4. Uniformizámos o <S> longo ou alto no grafema <s>, fenómeno que acontece apenas no texto do século XVIII (1715-16).

5. Mantivemos as maiúsculas e minúsculas, à exceção de alguns casos que registámos em nota de rodapé, como foi o caso de certaõ que nós alterámos para Certaõ, por ser um topónimo (exemplo retirado do texto de 1715-16).

6. Desdobrámos as abreviaturas, colocando em itálico as letras desenvolvidas: q > que; porq > porque.

7. No início de cada gazeta mantivemos as letras capitulares do original, referente ao primeiro bloco de textos, de 1715-1716.

(3)

I

Dedicatória:

À minha filha, Carlota; Aos meus pais.

(4)
(5)

III

Agradecimentos

Gostaria de exprimir o meu reconhecimento a todos aqueles que, de alguma forma, contribuíram para que pudesse levar a cabo este projeto.

Em primeiro lugar, os agradecimentos vão para o Professor Doutor Carlos da Costa Assunção, meu orientador científico, que já havia sido meu professor durante a licenciatura, orientador de estágio e depois orientador de mestrado, por quem sinto o maior respeito e admiração. Agradeço-lhe pelo incentivo dado na escolha do tema, pelo apoio moral e científico que sempre prestou e pela confiança depositada em mim e no meu trabalho.

Ao Professor Doutor Gonçalo Fernandes, enquanto diretor do Departamento de Letras e Artes e Comunicação, agradeço pelo interesse sempre manifestado para que eu levasse a bom termo este projeto.

Ao Rolf, agradeço pela disponibilidade e auxílios sempre prontos.

Aos meus colegas já de outras lutas, Isabel e Zé Paulo, agradeço pelo espírito de companheirismo, entreajuda e amizade que se fortaleceu, ainda mais, entre nós, merecendo especial destaque o Zé Paulo pela ajuda prestada na resolução de alguns problemas com o NooJ e pela revisão ortográfica do texto.

À minha grande amiga Sónia, por ter sido uma companheira desta caminhada, agradeço pela disponibilidade, pelas sugestões e, principalmente, pelo apoio e carinho demontrados em alturas de maior desânimo que um trabalho deste tipo proporciona. Com a sua ajuda e amizade, este percurso foi muito menos solitário e penoso.

Não poderia deixar de mencionar os meus pais e irmão pelo acompanhamento e palavras de incentivo diárias, ajudando-me a acreditar nas minhas capacidades para aceitar este desafio. De um modo especial, agradeço ao meu irmão pela ajuda na resolução de problemas informáticos, revelando muita paciência e amizade.

Um agradecimento especial ao Paulo, meu marido, pelo apoio e pelas palavras de encorajamento constantes durante todo este percurso de desenvolvimento intelectual.

A última palavra vai para a minha filha. A ela pedimos desculpa pela falta de tempo e disponibilidade e agradeço pelo seu sorriso constante que dá cor à minha vida.

Muitas outras pessoas permitiram que este trabalho fosse concluído e a todas agradeço, mesmo sem citar o seu nome.

(6)
(7)

V

Resumo

O trabalho de investigação que apresentamos ambiciona constituir-se como mais um importante contributo para os estudos históricos da Língua Portuguesa, utilizando como corpus de trabalho o jornal mais duradouro da nossa história, a Gazeta de Lisboa, do qual selecionámos dois blocos de texto (1715-16 e 1815), representativos de dois séculos diferentes.

Este trabalho é constituído por três partes: a edição semidiplomática da Gazeta de

Lisboa (1715-16 e 1815), um estudo sobre o contexto jornalístico e a história deste

jornal, e, por último, uma análise linguística comparativo-contrastiva destes dois períodos através de um programa de análise automática de texto, NooJ.

Abstract

This present research work aims to establish itself as another important contribution to the historical studies of the Portuguese language, using the longest newspaper in our history, Gazeta de Lisboa, as a corpus, where we selected two blocks of text (1715-16 and 1815) that represent two different centuries.

This work consists of three parts: a semidiplomatic edition of Gazeta de Lisboa (1715-16 e 1815), a study on the journalistic context and the history of this newspaper, and, finally, a comparative-contrastive linguistic analysis of these two periods of time

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VII

Índice de Volumes

Volume I: Contextualização e estudo informático-linguístico

Volume II: Edição da Gazeta de Lisboa (1715-1716)

Volume III: Edição da Gazeta de Lisboa (1815)

(10)
(11)

IX

Índice do Volume I

Introdução ... 1

Capítulo I: Contexto jornalístico e suas condicionantes históricas ... 5

1. Introdução ... 5

2. Contexto histórico/jornalístico na Europa e nos EUA: do século XVII ao século XIX . 10 2.1 O século XVII ... 10

2.1.1 Expansão de um novo modelo informativo: as gazetas ... 13

2.1.2 O caso inglês ... 18

2.1.3 O caso francês ... 24

2.1.4 O caso espanhol ... 29

2.2 O século XVIII ... 32

2.2.1 Principais características do jornalismo setecentista ... 36

2.2.2 O caso inglês ... 38

2.2.3 O caso francês ... 43

2.2.4 O caso espanhol ... 48

2.2.5 O caso americano... 54

2.3 O século XIX ... 57

2.3.1 Principais características do jornalismo oitocentista ... 59

2.3.2 O caso americano... 65

2.3.3 O caso inglês ... 71

2.3.4 O caso francês ... 74

2.3.5 O caso espanhol ... 78

3. Contexto histórico/jornalístico em Portugal: do século XVII ao século XIX .... 82

3.3 O século XVII ... 82

3.1.1 O nascimento do jornalismo periódico em Portugal ... 86

3.2 O século XVIII ... 93

3.2.1 O jornalismo português setecentista ... 100

3.3 O século XIX ... 106

3.3.1 O jornalismo português oitocentista ... 113

4 Gazeta de Lisboa ... 134

4.1 Percurso histórico ... 134

4.2 Formato e estrutura ... 136

4.3 Os anúncios e a Gazeta ... 139

4.4 Notícias ... 142

4.5 Critérios de seleção de notícias: o valor histórico dos acontecimentos ... 146

4.6 Fontes da Gazeta de Lisboa ... 148

4.7 Impressão da Gazeta de Lisboa: locais e privilégio ... 151

4.8 Redatores ... 154

Capítulo II: Linguística de Corpus e Softwares de análise linguística ... 161

1. Linguística de corpus ... 161

1.1 Corpus ... 161

1.1.1 Definição ... 161

1.1.2 Tipologia de corpora ... 163

1.2 Definição e história da linguística de corpus ... 165

(12)

X

1.3.1 Corpora de língua inglesa ... 168

1.3.2 Corpora de língua portuguesa ... 171

2. Softwares de análise lexical ... 172

2.1 NooJ: o programa escolhido ... 174

2.1.1 Dicionários NooJ ... 175

2.1.2 Gramáticas NooJ... 177

Capítulo III: Estudo informático-linguístico da Gazeta de Lisboa (1715-1716 e 1815) ... 181

1. Método de trabalho ... 181

2. Considerações sobre a grafia na Gazeta de Lisboa (1715-1716 e 1815)... 186

2.1 Vocalismo: ditongos orais ... 190

2.1.1 Ditongos <ai, ay, ae> ... 191

2.1.2 Ditongos <ei, ey> ... 195

2.1.3 Ditongos <oi, oy, oe, óe> ... 198

2.1.4 Ditongos <oy/oi> vs. <ou> ... 200

2.1.5 Ditongos <ui, uy> ... 202

2.1.6 Ditongos <au, ao> ... 203

2.1.7 Ditongos <eu, eo> ... 204

2.1.8 Ditongo <ia> ... 207

2.1.9 Ditongo <ie> ... 208

2.1.10 Ditongo <io> ... 208

2.1.11 Ditongo <ua> ... 210

2.2 Vocalismo: ditongos nasais ... 211

2.2.1 Ditongo <ãa> ... 213

2.2.2 Ditongos <ãe, aẽ> ... 213

2.2.3 Ditongo <ãy> ... 214

2.2.4 Ditongos <ão, aõ> ... 215

2.2.5 Ditongos <õe,oẽ> ... 221

2.3 A utilização do <y> ... 224

2.4 Consonantismo ... 226

2.4.1 Grafemas <ca>, <co> e <cu> com valor de [k], <ce><ci>,<ça><ço><çu>,<s>com valor de <s>, <s> e <z> com valor de [z] ... 227

2.4.2 grafemas <qua, quo> <ca, co> com valor de [k] ... 231

2.4.3 A utilização do <h> ... 232

2.4.4 Nexos consonânticos: <bd,cç,ct,gd,gm,gn,mn,mpt,pç,ps,pt> ... 238

2.4.4.1 Grafia nunesiana mais etimologizante: <s+consoante> sem o <e> protético. ………...239 2.4.5 Letras dobradas ... 241 2.4.6 Confusão entre <b> e <v> ... 251 2.5 A utilização do til ... 253 2.6 O hífen ... 256 2.7 Instabilidade ortográfica ... 257 2.8 Considerações finais ... 269

3. Adaptação do NooJ à Gazeta de Lisboa (1715-1716 e 1815) ... 272

3.1 Criação de novos recursos linguísticos eletrónicos ... 272

3.1.1 Gramáticas lexicais (ou morfológicas) ... 272

(13)

XI

3.2 Aplicação dos novos recursos... 277

4. Análise linguística da Gazeta de Lisboa (1715-1716 e 1815) ... 279

4.1 Riqueza vocabular ... 279

4.2 Tokens mais frequentes ... 280

4.3 Classes de palavras ... 284 4.3.1 Artigos ... 293 4.3.2 Pronomes ... 295 4.3.3 Preposições ... 295 4.3.4 Conjunções ... 296 4.3.5 Numerais ... 297 4.3.6 Interjeições... 297 4.3.7 Palavras estrangeiras... 298 4.3.8 Nomes ... 299

4.3.8.1 Riqueza vocabular nos nomes ... 299

4.3.8.2 Variação do nome em género, número e grau ... 300

4.3.8.2.1 O género dos nomes ... 301

4.3.8.2.2 O número dos nomes ... 307

4.3.8.2.3 O grau dos nomes ... 314

4.3.8.3 Nomes comuns mais frequentes ... 315

4.3.8.4 Nomes próprios ... 317

4.3.9 Adjetivos ... 321

4.3.9.1 Riqueza vocabular nos adjetivos ... 321

4.3.9.2 Adjetivos mais frequentes ... 322

4.3.9.3 Flexão do adjetivo em género, número e grau... 324

4.3.9.3.1 O género dos adjetivos ... 324

4.3.9.3.2 O número dos adjetivos ... 331

4.3.9.3.3 O grau dos adjetivos ... 331

4.3.9.4 Funções do adjetivo ... 336

4.3.9.5 Posição do adjetivo ... 337

4.3.9.6 Particípio passado com função de adjetivo... 347

4.3.10 Advérbios ... 350

4.3.10.1 Riqueza vocabular nos advérbios ... 350

4.3.10.2 Advérbios mais frequentes ... 351

4.3.10.3 Definição de advérbio ... 356

4.3.10.4 Subclasses de advérbios na GL-Setecentista e GL-Oitocentista .. 359

4.3.10.5 Outras considerações acerca do advérbio ... 362

4.3.10.6 Advérbios em -mente... 364

4.3.10.7 Advérbios em –mente na GL-Setecentista e na GL-Oitocentista: análise dos advérbios de frase ... 368

4.3.10.8 Posição do advérbio em –mente na GL-Setecentista e na GL-Oitocentista ... 380

4.3.10.9 Análise de alguns casos ... 387

4.3.11 Verbos ... 395

4.3.11.1 Riqueza vocabular nos verbos ... 395

4.3.11.2 Formas verbais mais frequentes ... 396

4.3.11.3 Modos, tempos e formas nominais ... 399

4.3.11.4 Terminações verbais ... 405

4.3.11.4.1 Modo indicativo ... 405

4.3.11.4.1.1 Presente ... 405

(14)

XII 4.3.11.4.1.3 Pretérito imperfeito ... 409 4.3.11.4.1.4 Futuro ... 410 4.3.11.4.2 Modo conjuntivo ... 412 4.3.11.4.2.1 Presente ... 412 4.3.11.4.2.2 Pretérito imperfeito ... 413 4.3.11.4.2.3 Futuro ... 414 4.3.11.4.3 Condicional ... 415 4.3.11.4.4 Imperativo ... 416 4.3.11.4.5 Infinitivo impessoal ... 417 4.3.11.4.6 Infinitivo pessoal ... 418 4.3.11.4.7 Gerúndio ... 419

4.3.11.4.7.1 Uso do gerúndio em locuções verbais ... 420

4.3.11.4.8 Particípio passado ... 421

4.3.11.5 Estruturas com os verbos ter e haver na Setecentista e GL-Oitocentista ... 433

4.4 Campos temáticos ... 448

Conclusão ... 459

Referências bibliográficas ... 468

(15)

XIII

Índice de Tabelas

Tabela 1: Dados gerais da GL-Setecentista e da GL-Oitocentista obtidos com os

recursos do LabEL ... 182 Tabela 2: Listagem de palavras com o ditongo <ai> na GL-Setecentista e

GL-Oitocentista ... 191

Tabela 3: Listagem de palavras com o ditongo <ay> na GL-Setecentista e

GL-Oitocentista ... 192

Tabela 4: Listagem de palavras com o ditongo <ae> na GL-Setecentista e

GL-Oitocentista ... 193

Tabela 5: Listagem de palavras com o ditongo <ei> na GL-Setecentista e

GL-Oitocentista ... 197

Tabela 6: Listagem de palavras com o ditongo <ey> na GL-Setecentista e

GL-Oitocentista ... 197

Tabela 7: Listagem de palavras com o ditongo <oi> na GL-Setecentista e

GL-Oitocentista ... 198

Tabela 8: Listagem de palavras com o ditongo <oy> na GL-Setecentista e

GL-Oitocentista ... 198

Tabela 9: Listagem de palavras com o ditongo <óe> na GL-Setecentista e

GL-Oitocentista ... 198

Tabela 10: Listagem de palavras com o ditongo <oe> na GL-Setecentista e

GL-Oitocentista ... 199

Tabela 11: Listagem de palavras com o ditongo <ou> na GL-Setecentista e

GL-Oitocentista ... 201

Tabela 12: Listagem de palavras com o ditongo <uy> na GL-Setecentista e

GL-Oitocentista ... 202

Tabela 13: Listagem de palavras com o ditongo <ui> na GL-Setecentista e

GL-Oitocentista ... 203

Tabela 14: Listagem de palavras com o ditongo <au> na GL-Setecentista e

GL-Oitocentista ... 204

Tabela 15: Listagem de palavras com o ditongo <ao> na GL-Setecentista e

GL-Oitocentista ... 204

Tabela 16: Listagem de palavras com o ditongo <eo> na GL-Setecentista e

GL-Oitocentista ... 205

Tabela 17: Listagem de palavras com o ditongo <eu> na GL-Setecentista e

GL-Oitocentista ... 205

Tabela 18: Listagem de palavras com o ditongo <ia> na GL-Setecentista e

GL-Oitocentista ... 207

Tabela 19: Listagem de palavras com o ditongo <ie> na GL-Setecentista e

GL-Oitocentista ... 208

Tabela 20: Listagem de palavras com o ditongo <io> na GL-Setecentista e

GL-Oitocentista ... 209

Tabela 21: Listagem de palavras com o ditongo <ua> na GL-Setecentista e

GL-Oitocentista ... 210

Tabela 22: Listagem de palavras com o ditongo <ãa> na GL-Setecentista e

GL-Oitocentista ... 213

Tabela 23: Listagem de palavras com o ditongo <ãe> na GL-Setecentista e

(16)

XIV Tabela 24: Listagem de palavras com o ditongo <aẽ> na GL-Setecentista e

GL-Oitocentista ... 214

Tabela 25: Listagem de palavras com o ditongo <ãy> na GL-Setecentista e

GL-Oitocentista ... 214

Tabela 26: Listagem de palavras com o ditongo <ão> na GL-Setecentista e

GL-Oitocentista ... 216

Tabela 27: Listagem de palavras com o ditongo <aõ> na GL-Setecentista e

GL-Oitocentista ... 219

Tabela 28: Listagem das formas verbais com a desinência <am> na GL-Setecentista e

GL-Oitocentista ... 219

Tabela 29: Listagem de palavras com o ditongo <õe> na GL-Setecentista e

GL-Oitocentista ... 223

Tabela 30: Listagem de palavras com o ditongo <oẽ> na GL-Setecentista e

GL-Oitocentista ... 223

Tabela 31: Listagem de palavras com <y> na GL-Setecentista e GL-Oitocentista ... 225 Tabela 32: Listagem de palavras com <ca>, <co> e <cu> com valor de [k] na

GL-Setecentista e GL-Oitocentista ... 227

Tabela 33: Listagem de palavras com <ça>, <ço>, <çu>, <ce>, <ci> e <s> com valor de [s] na GL-Setecentista e GL-Oitocentista... 227 Tabela 34: Listagem de palavras com <-s-> e <z> com valor de [z] na GL-Setecentista e

GL-Oitocentista ... 227

Tabela 35: Listagem de palavras com <qua-> e <quo-> na Setecentista e

GL-Oitocentista ... 231

Tabela 36: Listagem de palavras que contêm o dígrafo <ch> com valor de [k] na

GL-Setecentista e GL-Oitocentista ... 233

Tabela 37: Listagem de palavras com <ph> na GL-Setecentista e GL-Oitocentista .... 234 Tabela 38: Listagem de palavras com <th> na GL-Setecentista e GL-Oitocentista ... 235 Tabela 39: Listagem de palavras com <sc-> na GL-Setecentista e GL-Oitocentista ... 239 Tabela 40: Listagem de palavras com <st-> na GL-Setecentista e GL-Oitocentista ... 239 Tabela 41: Listagem de palavras com <bb> na GL-Setecentista e GL-Oitocentista .... 241 Tabela 42: Listagem de palavras com <dd> na GL-Setecentista e GL-Oitocentista .... 241 Tabela 43: Listagem de palavras com <ff> na GL-Setecentista e GL-Oitocentista ... 243 Tabela 44: Listagem de palavras com <gg> na GL-Setecentista e GL-Oitocentista .... 243 Tabela 45: Listagem de palavras com <cc> na GL-Setecentista e GL-Oitocentista .... 244 Tabela 46: Listagem de palavras com <ll> na GL-Setecentista e GL-Oitocentista ... 246 Tabela 47: Listagem de palavras com <mm> na GL-Setecentista e GL-Oitocentista . 247 Tabela 48: Listagem de palavras com <nn> na GL-Setecentista e GL-Oitocentista .... 248 Tabela 49: Listagem de palavras com <pp> na GL-Setecentista e GL-Oitocentista .... 249 Tabela 50: Listagem de palavras com <tt> na GL-Setecentista e GL-Oitocentista ... 250 Tabela 51: Palavras que se apresentam com uma forma única ou separada ... 260 Tabela 52: Palavras que se apresentam com formas diferentes... 265 Tabela 53: Dados gerais da GL-Setecentista e da GL-Oitocentista obtidos com os

recursos do LabEL e os novos recursos linguísticos ... 278 Tabela 54: Riqueza vocabular presente na GL-Setecentista e na GL-Oitocentista ... 279 Tabela 55: Lista dos 50 tokens mais frequentes ... 281 Tabela 56: As classes de palavras e sua distribuição percentual na GL-Setecentista e

GL-Oitocentista ... 285

Tabela 57: Dados gerais da GL-Setecentista e da GL-Oitocentista obtidos com os

(17)

XV Tabela 58: As classes de palavras e sua distribuição percentual na GL-Setecentista e na

GL-Oitocentista depois de alterados os recursos criados ... 291

Tabela 59: A frequência e distribuição percentual dos artigos na GL-Setecentista e GL-Oitocentista ... 294

Tabela 60: A frequência e distribuição percentual dos pronomes na GL-Setecentista e GL-Oitocentista ... 295

Tabela 61: A frequência e distribuição percentual das preposições na GL-Setecentista e GL-Oitocentista ... 296

Tabela 62: A frequência e distribuição percentual das conjunções na GL-Setecentista e GL-Oitocentista ... 296

Tabela 63: A frequência e distribuição percentual dos numerais na GL-Setecentista e GL-Oitocentista ... 297

Tabela 64: A frequência e distribuição percentual das interjeições na GL-Setecentista e GL-Oitocentista ... 297

Tabela 65: A frequência e distribuição percentual das palavras estrangeiras na GL-Setecentista e GL-Oitocentista... 298

Tabela 66: A frequência e distribuição percentual dos nomes comuns na GL-Setecentista e GL-Oitocentista... 299

Tabela 67: Riqueza vocabular presente nos nomes comuns... 300

Tabela 68: Nomes que no masculino terminam em –o fazem o feminino em –a ... 302

Tabela 69: Nomes que no masculino terminam em –or formam normalmente o feminino acrescentando -a ... 303

Tabela 70: Nomes terminados em –z formam o feminino com o acréscimo de –a ... 304

Tabela 71: Nomes terminados em –ão fazem o feminino em –ãa/-ã... 304

Tabela 72: Nomes que formam o feminino através dos sufixos derivacionais -eza, -esa, -essa, -triz ... 306

Tabela 73: Nomes que formam o feminino através de palavras diferentes ... 306

Tabela 74: Nomes que terminam em vogal ou ditongo oral formam o plural através do acréscimo do morfema –s ... 308

Tabela 75: Nomes que terminam em vogal nasal formam o plural através do acréscimo do morfema –s ... 308

Tabela 76: Nomes que terminam em –r no singular formam o plural acrescentando –es ... 309

Tabela 77: Nomes que terminam em –z no singular formam o plural acrescentando –es ... 309

Tabela 78: Nomes que terminam em ditongo nasal no singular fazem o plural em -ões,-oẽs,-oens ... 311

Tabela 79: Nomes que terminam em ditongo nasal no singular fazem o plural em -ãos, -aõs, -aons ... 312

Tabela 80: Nomes terminados em –al no singular mudam para -aes no plural ... 313

Tabela 81: Nomes terminados em –el no singular mudam para -eis no plural ... 313

Tabela 82: Nomes terminados em –il no singular mudam para -is no plural ... 313

Tabela 83: Nomes terminados em –ol no singular mudam para -oes no plural ... 313

Tabela 84: Nomes terminados em -ul no singular mudam para -uis no plural ... 313

Tabela 85: 40 Nomes comuns mais frequentes na GL-Setecentista e na GL-Oitocentista ... 316

Tabela 87: A frequência e distribuição percentual dos nomes próprios na GL-Setecentista e GL-Oitocentista... 317

Tabela 88: 100 Topónimos mais frequentes do corpus ... 318

(18)

XVI Tabela 90: A frequência e distribuição percentual dos adjetivos na GL-Setecentista e

GL-Oitocentista ... 321

Tabela 91: Riqueza vocabular presente nos adjetivos ... 322

Tabela 92: 40 Adjetivos mais frequentes na GL-Setecentista e na GL-Oitocentista.... 323

Tabela 94: Adjetivos uniformes terminados em –a ... 324

Tabela 95: Adjetivos uniformes terminados em –e ... 325

Tabela 96: Adjetivos uniformes terminados em –al ... 326

Tabela 97: Adjetivos uniformes terminados em –el ... 326

Tabela 98: Adjetivos uniformes terminados em –il ... 327

Tabela 99: Adjetivos uniformes terminados em –ul ... 327

Tabela 100: Adjetivos uniformes terminados em –z ... 327

Tabela 101: Adjetivos uniformes terminados em –m ... 328

Tabela 102: Adjetivos biformes que mudam o –o para –a ... 329

Tabela 103: Adjetivos biformes que mudam o –or para –ora ... 330

Tabela 104: Adjetivos biformes que mudam o –ol para –ola ... 330

Tabela 105: Adjetivos biformes que mudam o –u para –ua ... 330

Tabela 106: A frequência e distribuição percentual dos graus dos adjetivos na GL-Setecentista e GL-Oitocentista... 332

Tabela 107: Digrams mais frequentes constituídos por um nome e pelo adjetivo grande... 342

Tabela 108: Sequências de particípios com função de adjetivo+nome ... 348

Tabela 109: A frequência e distribuição percentual dos advérbios na GL-Setecentista e GL-Oitocentista ... 350

Tabela 110: Riqueza vocabular presente nos advérbios ... 350

Tabela 111: 20 Advérbios mais frequentes na GL-Setecentista e na GL-Oitocentista 351 Tabela 112: Formas diferentes dos advérbios terminados em –mente ... 355

Tabela 113: Advérbios de afirmação ... 359

Tabela 114: Advérbios de dúvida ... 359

Tabela 115: Advérbios de intensidade/quantificação ... 359

Tabela 116: Advérbios de lugar... 360

Tabela 117: Advérbios de modo ... 360

Tabela 118: Advérbios de negação ... 360

Tabela 119: Advérbios de tempo ... 361

Tabela 120: Advérbios de exclusão ... 361

Tabela 121: Advérbios de inclusão ... 361

Tabela 122: Advérbios de ordem... 361

Tabela 123: Advérbios de designação ... 361

Tabela 124: Distribuição dos advérbios de frase no corpus tendo por base a classificação de Malaca Casteleiro (1982) ... 373

Tabela 125: Distribuição das posições dos advérbios de frase na GL-Setecentista e GL-Oitocentista ... 383

Tabela 126: Distribuição das posições dos advérbios de modo na GL-Setecentista e GL-Oitocentista ... 384

Tabela 127: A frequência e distribuição percentual dos verbos na GL-Setecentista e GL-Oitocentista ... 395

Tabela 128: Riqueza vocabular presente nos verbos ... 395

Tabela 129: 40 formas verbais mais frequentes na GL-Setecentista ... 396

Tabela 130: 40 formas verbais mais frequentes na GL-Oitocentista... 397

Tabela 131: Modos, tempos e formas nominais na GL-Setecentista e GL-Oitocentista ... 400

(19)

XVII Tabela 132: Terminações do presente do indicativo na GL-Setecentista e

GL-Oitocentista ... 406

Tabela 133: Terminações do pretérito perfeito do indicativo na GL-Setecentista e GL-Oitocentista ... 407

Tabela 134: Terminações do pretérito imperfeito do indicativo na GL-Setecentista e GL-Oitocentista ... 410

Tabela 135: Terminações do futuro imperfeito do indicativo na GL-Setecentista e GL-Oitocentista ... 411

Tabela 136: Terminações do modo indicativo na GL-Setecentista e GL-Oitocentista 411 Tabela 137: Terminações do presente do conjuntivo na GL-Setecentista e GL-Oitocentista ... 412

Tabela 138: Terminações do pretérito imperfeito do conjuntivo na GL-Setecentista e GL-Oitocentista ... 413

Tabela 139: Terminações do futuro do conjuntivo na GL-Setecentista e GL-Oitocentista ... 414

Tabela 140: Terminações do modo conjuntivo ... 415

Tabela 141: Terminações do condicional na GL-Setecentista e GL-Oitocentista ... 415

Tabela 142: Particípios irregulares e verbos auxiliares na GL-Setecentista ... 426

Tabela 143: Particípios irregulares e verbos auxiliares na GL-Oitocentista ... 430

Tabela 144: Verbos ter e haver na GL-Setecentista e GL-Oitocentista ... 434

Tabela 145: ter/haver+de+infinitivo na GL-Setecentista e GL-Oitocentista ... 439

Tabela 146: 70 tokens mais frequentes das palavras plenas (nomes, adjetivos, verbos e advérbios) ... 451

Tabela 147: Palavras-chave na GL-Setecentista e na GL-Oitocentista tendo em conta a listagem das 70 formas mais frequentes ... 451

Tabela 148: Palavras-tema na GL-Setecentista e na GL-Oitocentista tendo em conta a listagem das 70 formas mais frequentes ... 456

(20)

XVIII

Índice de Gráficos

Gráfico 1: Classes de palavras na GL-Setecentista e GL-Oitocentista: ocorrências .... 291 Gráfico 2: Classes de palavras na GL-Setecentista e GL-Oitocentista:

formas diferentes ... 291 Gráfico 3: Nomes comuns na GL-Setecentista e na GL-Oitocentista: ocorrências e

formas diferentes ... 299 Gráfico 4: Distribuição dos advérbios de modo em -mente pelas diferentes posições na

GL-Setecentista e GL-Oitocentista... 384

Gráfico 5: Distribuição dos advérbios de frase pelas diferentes posições na

GL-Setecentista e GL-Oitocentista... 384

Gráfico 6: Frequência dos tempos, modos e formas nominais ... 400 Gráfico 7: Formas diferentes dos tempos, modos e formas nominais ... 401 Gráfico 8: Verbos ter e haver + particípio passado na GL-Setecentista e

GL-Oitocentista ... 434

Gráfico 9: Ocorrências de <ter>+de+infinitivo e <haver>+de+infinitivo na

GL-Setecentista e GL-Oitocentista... 440

Gráfico 10: Formas diferentes de <ter>+de+infinitivo e <haver>+de+infinitivo na

(21)

XIX

Índice de Ilustrações

Ilustração 1: FST de identificação de variantes ortográficas ... 179

Ilustração 2: FST heurístico de etiquetagem de nomes próprios ... 179

Ilustração 3: FST de identificação de contração ... 180

Ilustração 4: Anotação da palavra contraída ―cannot‖ ... 180

Ilustração 5: Dicionário das formas desconhecidas da GL-Setecentista ... 183

Ilustração 6: Dicionário das formas desconhecidas da GL-Oitocentista ... 183

Ilustração 7: FST de reconhecimento de formas com consoante dupla interior ... 272

Ilustração 8: FST de alteração de terminação nasal ... 273

Ilustração 9: FST heurístico de etiquetagem de nomes próprios ... 273

Ilustração 10: FST de reconhecimento de formas grafadas com vogal sem acento correspondentes a vogal acentuada ... 274

Ilustração 11: FST de identificação de complex tokenization ... 274

Ilustração 12: FST de identificação de complex tokenization (três palavras) ... 274

Ilustração 13: Dicionário da GL-Setecentista (parte 1) ... 287

Ilustração 14: Dicionário da GL-Setecentista (parte 2) ... 287

Ilustração 15: Dicionário da GL-Oitocentista ... 288

(22)
(23)

1

Introdução

A língua constitui-se como fator de identidade de um povo e como instrumento do pensamento humano. Neste sentido, percebe-se que a Língua Portuguesa tenha sido alvo de inúmeros estudos linguísticos que se intensificaram no século XVIII e que captaram a atenção dos investigadores, procurando reconstituir o ideário gramatical nacional ao longo dos tempos. Este período foi uma época muito profícua em termos de produções gramaticais e são vários os estudos dedicados a gramáticas deste século.1 No entanto, verificámos que, e seguindo uma tendência inversa, são poucos os trabalhos sobre o estado da língua na centúria setecentista e oitocentista. Neste sentido, concordamos com Machado (2009: 91) quando afirma que ―O investigador que se debruce sobre o Português Moderno enfrenta uma floresta densa e desconhecida‖.

O facto de esta ser uma época pouco estudada despertou-nos interesse. Assim sendo, decidimos levar a cabo um estudo linguístico para o qual escolhemos como corpus de trabalho um texto jornalístico, a fim de obtermos mais informações acerca dos usos da língua naquele período.

A Gazeta de Lisboa foi o texto selecionado para a constituição do nosso corpus, por ser um dos periódicos mais importantes e duradouros da nossa história. Neste sentido, optámos por analisar os seus dois primeiros anos de vida (1715-1716) e o ano de 1815. Na primeira parte do corpus, os dois anos explicam-se pelo facto de a Gazeta ter surgido apenas em agosto e pelo próprio volume surgir organizado desta forma, de agosto de 1715 a dezembro de 1716; relativamente à segunda parte, considerámos que teria também interesse perceber quais as principais alterações operadas no jornal passado um século, num período marcado por um contexto político conturbado, com consequências evidentes em todos os planos da vida nacional.

Neste trabalho, estabelecemos cinco objetivos fundamentais: Fazer uma edição semidiplomática do texto;

Analisar o contexto jornalístico e suas condicionantes históricas desde o século XVII ao século XIX;

Destacar a Gazeta de Lisboa no panorama jornalístico nacional;

1

Destacamos aqui apenas alguns exemplos: Assunção (1997), Fontes (2006), Moura (2008), Coelho (2009).

(24)

2 Apresentar as noções fundamentais relacionadas com a linguística de

corpus e com os recursos linguísticos eletrónicos; Proceder a um estudo informático-linguístico do corpus.

O nosso estudo é apresentado em quatro volumes, sendo que três correspondem à edição da Gazeta (um volume para o ano de 1715-1716 e dois volumes para o ano de 1815, tal como surgem compilados em formato de livro) e um quarto volume, dedicado a um estudo histórico-informático-linguístico, que se encontra dividido em três capítulos que, apesar de diferentes, estão estreitamente interligados.

No primeiro capítulo, pretendemos reconstruir a história do jornalismo português desde a sua génese até ao século XIX, estabelecendo sempre uma base de comparação com o panorama europeu e americano, não descurando as circunstâncias histórico-culturais que condicionaram este percurso. Desta forma, dividimos este capítulo em dois momentos: inicialmente analisamos o contexto histórico/jornalístico na Europa e EUA, desde o século XVII, por ser a centúria que antecede o surgimento da Gazeta de Lisboa, ao século XIX, que corresponde à segunda parte do nosso corpus. Neste contexto, para além dos Estados Unidos da América, que se assumem enquanto ―newspaper-reading animals‖ (Schudson 2008: 187), escolhemos os países que dão vida aos dois modelos de jornalismo que se imposeram, Inglaterra e França, bem como a nossa vizinha Espanha. A segunda parte deste capítulo é dedicada ao contexto histórico/jornalístico português que condicionou as nossas publicações desde o século XVII ao século XIX. Por fim, apresentamos alguns dados que nos permitem conhecer melhor a Gazeta de Lisboa, periódico que se destaca na nossa história e cuja projeção tem sido largamente subestimada.

No segundo capítulo, tratamos de questões relacionadas com a linguística de corpus, enumeramos alguns softwares de análise lexical bem como as suas características e terminamos com a apresentação do programa escolhido para o nosso estudo linguístico e com a análise de algumas das suas potencialidades.

A Gazeta de Lisboa será, pela primeira vez, analisada sob uma perspetiva linguística e tendo por base um programa informático, o NooJ, o que permitirá uma série de análises contrastivas mais objetivas e rigorosas, reveladoras de uma aproximação cada vez mais evidente entre a linguística e a informática.

O último capítulo constitui o cerne da nossa investigação, uma vez que se trata de um estudo informático-linguístico do nosso periódico, no qual procuramos ultrapassar as tradicionais contagens automáticas de formas. Deste modo, nesta análise

(25)

3 distinguimos três momentos. Começamos com algumas considerações acerca da grafia na Gazeta para perceber quais foram as principais alterações ocorridas neste espaçamento temporal e de que forma as opções dos redatores são condicionadas pelas teorias dos ortógrafos da época. De seguida, analisamos, com pormenor e numa base comparativa, as classes de palavras plenas, procurando aferir a sua frequência, a sua riqueza vocabular e o percurso trilhado até à atualidade. No caso específico do adjetivo e do advérbio, atentamos também na sua colocação na frase e no modo como podem deixar transparecer as marcas dos redatores. Por fim, procuramos identificar os principais campos temáticos presentes no texto.

Pretendemos mostrar, através desta ligação profícua entre a linguística e a informática, como se pode estudar a língua tendo como corpus o texto jornalístico que denuncia muito mais claramente, em relação aos textos gramaticais, as características e a evolução que se opera na nossa língua.

Por último, terminamos com as conclusões, seguidas das referências bibliográficas e anexos.

(26)
(27)

5

Capítulo I: Contexto jornalístico e suas condicionantes históricas

1. Introdução

A elaboração de uma história da imprensa pressupõe o estabelecimento de constantes confrontos com outros domínios da história geral, isto é, referências a movimentos sociais, literários, económicos, políticos e religiosos que condicionam profundamente a evolução das sociedades em geral. A imprensa é, sem dúvida, um reflexo daquilo que se passa num país e numa determinada época, exercendo, também ela, influência sobre qualquer período da história. Como referem Albert e Terrou (1990: 2): ―[…] os jornais são a fonte mais completa e, em sua diversidade, mais objetiva da história geral.‖ No entanto, não podemos acreditar na falácia de que o jornalismo é um puro reflexo da realidade, pois o que efetivamente acontece é uma representação dos acontecimentos, depois de cuidadosamente selecionados e tratados,2 de acordo com um sistema de interesses, de obrigações e de convenções.

A linguagem peculiar de cada época é condicionada pelos níveis culturais, sociais e políticos daquele período, que o investigador pode e deve ter em conta através do estudo e análise das fontes manuscritas e impressas de cada momento histórico. Estes materiais, ainda que possuidores de uma forte riqueza a diferentes níveis: no domínio histórico, como já foi referido, e também linguístico, enquanto reveladores das principais características da língua naquele momento, podem também ser caracterizados pela sua difícil utilização, facto para o qual já alertaram Albert e Terrou (1990: 2), quando referem: ―Testemunhas e atores da vida nacional e internacional são documentos de uma riqueza considerável, mas difíceis de utilizar.‖

Os jornais terão nascido muito antes do surgimento da tipografia, motivados pela necessidade de comunicação e troca de informação, remetendo à época clássica, que nós assinalamos como o momento em que surgiram as primeiras formas de jornalismo. Os grandes impérios construíram um sistema eficaz de comunicação baseado na constituição de redes de difusão de informação, que chegava ao público de diferentes formas, nomeadamente através do pregoeiro ou do cartaz-edital.

2 Traquina considera que os jornalistas não são simples observadores passivos mas, pelo contrário, serão participantes ativos no processo de construção da realidade. (cf. Traquina 1999: 135).

(28)

6 A correspondência privada, usada pela classe dirigente, pelos homens de negócios e de cultura, foi sempre caracterizada como uma excelente forma de comunicação, que, ultrapassando o domínio pessoal ou profissional, se constitui como valiosa fonte periódica de notícias. Ademais, encontramos na nossa história exemplos claros, mutatis

mutandis, de autênticas reportagens camufladas, com a preocupação de narrar grandes

acontecimentos ou descrever locais desconhecidos (desde Homero aos cronistas da Idade Média, de Heródoto a Marco Pólo).

O primeiro problema que o historiador da comunicação enfrenta diz respeito à origem do fenómeno jornalístico, tema que não tem sido consensual entre os teóricos. Contudo, antes de refletirmos sobre a génese do jornalismo, temos de perceber melhor em que consiste esta atividade tão antiga. A este propósito, Timoteo Álvarez (2004:26) aduz: ―[…] por periodismo se ha entendido aquella actividad consistente en recabar informaciones, seleccionarlas, procesarlas, recogerlas en un soporte y ofrecerlas […] a un postor o comprador o público.‖ Esta definição remete-nos para a importância da informação no processo jornalístico, encarada como uma espécie de sistema complexo, constituído por diferentes operações, que vão desde a recolha da informação à sua receção por parte do público. Evidentemente que este processo terá repercussões a diferentes níveis, sejam eles o político, o social e o económico.

A incursão histórica que se pretende fazer obriga a um exercício de análise prévio, através do qual podemos refletir sobre as características principais que o jornalismo mantém, de forma geral, até aos dias de hoje:

1. Opera con informaciones y comentarios (interpretación) a las mismas. 2. Debe tener rasgos llamativos, incluso escandalosos, para suscitar el interés del público, de compradores y de patrocinadores.

3. Afecta a la vida pública, al poder, a sus juegos y su reparto, y tiene la capacidad de entrometerse en esos intereses y aprovecharse de ellos.

4. Se elabora proporcionalmente en forma de productos concretos y en soportes tecnológicamente viables.

5. Se vende de modo regular y periódico a compradores y a patrocinadores. 6. Tiene la capacidad de promocionar ideas, personas, servicios o bienes. (Timoteo Álvarez 2004: 26).

Uma análise destas características permitir-nos-á chegar a conclusões mais claras no que se refere à localização espácio-temporal da génese do jornalismo. Antes de manifestarmos a nossa opinião, interessa perceber quais são as principais posições dos teóricos a este nível. Segundo Alejandro Pizarroso Quintero (cf. 1996a: 8-11), podemos considerar três grandes grupos:

(29)

7 1) O primeiro situa a génese do fenómeno jornalístico na Antiguidade, uma vez que o homem precisava de comunicar e, por isso, cria uma rede organizada e regular de troca de informações úteis para o seu quotidiano. O homem é, indubitavelmente, um ser social e a condição dessa sociabilidade implica um intercâmbio de ideias, experiências e informações entre os homens.

2) O segundo grupo faz coincidir a origem do jornalismo com o nascimento e desenvolvimento da impressão na Europa, ligada também à noção emergente de periodicidade, cujo antecedente fundamental serão as notícias manuscritas da Baixa Idade Média, que acabaram por coexistir com as notícias impressas até ao século XVIII. 3) O terceiro grupo situa a origem do jornalismo no século XIX, que corresponde ao momento da revolução industrial e à sua aplicação à indústria jornalística. Só nesta altura se verificam nos jornais ―[…] as características técnicas que hoje definem a função jornalística.‖ (Benito in Pizarroso Quintero 1996a

: 10). A evolução material da imprensa ficou marcada pelas várias invenções, como a rotativa e o linótipo, provenientes dos Estados Unidos, que tornam possível o crescimento considerável da tiragem dos jornais. O telégrafo foi outro instrumento técnico muito eficaz na prática jornalística, uma vez que facilitava a transmissão da informação à distância. Todos estes dispositivos contribuiram para o surgimento da chamada ―imprensa barata‖ e para uma massificação do fenómeno jornalístico.

Os defensores do nascimento do fenómeno jornalístico neste século sobrepõem à componente sociocultural do facto jornalístico, presente nos dois primeiros grupos, uma conceção exclusivamente técnica.

Depois de analisadas as teorias e perspetivas acerca da génese do fenómeno jornalístico, consideramos que a primeira opção é a mais adequada, pois na antiguidade clássica encontramos já características do jornalismo atual nos tratados históricos, nas grandes obras de referência literária e nas Acta Diurna que alimentam a curiosidade dos romanos. Os conteúdos que figuram nestes últimos não são muito diferentes dos que surgem atualmente na nossa imprensa, mostrando que houve pouca variação em relação aos critérios de noticiabilidade, apontando para a natureza intemporal dos valores--notícia. O estilo é também semelhante ao atual, como o relembra Ugo Bellocchi (1974: 46) ―[…] periodi estremamente semplici e concisi, privi di qualsiasi amplificazione

(30)

8 retorica […]‖, apontando para a linha da escrita jornalística dos nossos dias.3 Neste sentido, consideramos que as Acta Diurna foram os antepassados mais longínquos dos jornais atuais.

A difusão de notícias foi sempre uma necessidade do género humano, por isso em todos os momentos da nossa história foram escolhidas formas diferentes para o fazer: desde crónicas4 a cartas. Temos também o caso das lettere d’avvisi ou broglietti, mecanismos de difusão de notícias que eram já usados pelos grandes comerciantes venezianos desde o século XIII. Para além dos avvisi, que se tornavam públicos, existiam também as ―cartas-diário‖, que diferiam dos anteriores principalmente pela sua difusão mais limitada. Esta era uma prática muito usada por grandes comerciantes e senhores, que periodicamente recebiam informações dos seus correspondentes.

Se os avvisi à mão e as cartas de notícias tinham um certo caráter privado, ainda que algumas se vendessem ao público, os impressos ―ocasionais‖ (nome que se explica por não apresentarem uma periodicidade regular) dirigiam-se ao público em geral, sendo sujeitos à censura, o que explica a permanência do comércio privado das notícias manuscritas que se afirmavam como formas de comunicação livres do controlo censório. Estas publicações apresentaram várias denominações nos diferentes países europeus: relação, notícia, carta, manifesto e cópia (Portugal), avvisi, relazione,

gazzeta, broglieti e fogli a mano (Itália), price-currents (Inglaterra), cartas nuevas

(Espanha), zeitungen (Alemanha), occasionnel (França), etc. (cf. Sousa et al. 2007: 48). Com a invenção de Gutenberg revolucionou-se totalmente a indústria jornalística, criando-se outras potencialidades e formatos até então desconhecidos.

Os primeiros impressos que apresentam já uma noção de periodicidade são os almanaques,5 que derivam dos primeiros calendários impressos6 em Mainz desde 1448.7

3

Neste sentido, também Hernando Cuadrado (cf. 2007: 115) alude à atualidade destes textos que apresentavam já preocupações com a concisão, correção e clareza na redação, para além da sua estrutura e características linguísticas, o que lhe permite compará-los com o texto jornalístico espanhol atual.

4 Como conclui Sousa (2008a: 25): ―Há muitos excertos de crónicas medievais portuguesas que se podem considerar bons exemplos de matérias pré-jornalísticas, de protoreportagens.‖

5

―O primeiro com esse título de que temos notícia no nosso país é o Almanach Perpetuum, que Abraão Zacuto escreveu em hebraico e foi traduzido para latim pelo seu discípulo José Vizinho e editado em Leiria, em 1496, na tipografia da família hebraica dos Ortas.‖ (Tengarrinha 1989: 31).

6

O calendário mais antigo que se conserva impresso tem a data de 1455. (cf. Pizarroso Quintero 1996b: 47).

7 ―Outros vestígios iniciais, datados de 1448, são umas folhas soltas descobertas em Mainz com conselhos sobre como encontrar a máxima protecção das estrelas para a saúde e o êxito em todos os meses do ano.‖ (Scheneider 1996: 114).

(31)

9 Apesar de se poder considerar que o nascimento dos periódicos impressos ditava o fim das notícias manuscritas e não periódicas, isto não aconteceu. A relação que se estabeleceu entre estes dois formatos informativos foi de complementaridade, até finais do século XVIII, o que possibilitou a constituição de redes de informação de grande importância política. O papel desempenhado por todas estas formas de comunicação foi determinante, como constataram Albert e Terrou (1990: 6):

No tocante às folhas volantes, pasquins, cartazes e estampas, aos almanaques, às brochuras religiosas, e às múltiplas publicações de tendências ocultistas, elas alimentaram, pelo menos até meados dos séculos XIX, uma ―literatura ambulante‖ popular que, apesar de mal conhecida, não deixou de exercer uma influência muitas vezes mais determinante que a da imprensa.

Tecidas estas considerações iniciais, importa-nos agora analisar os diferentes contextos que condicionaram a produção jornalística nos principais centros europeus e nos Estados Unidos da América desde o século XVII8 ao século XIX. Num segundo momento, impõe-se a análise do caso português e perceber de que forma os modelos anteriormente estudados imprimiram as suas marcas no jornalismo português.

Assim sendo, é imperioso atender aos contextos em que o homem se move, de forma a possibilitar um melhor entendimento das múltiplas variantes que o jornalismo assumiu ao longo do tempo. Neste sentido, percebemos que a história do jornalismo só poderá surgir enquadrada numa referência mais abrangente aos vários acontecimentos que marcaram as diferentes épocas ao nível social, cultural e político porque ―[…] toda a comunicação social está influenciada por um conjunto de condicionantes económicos, políticos, culturais e ideológicos.‖ (Crato 1986: 89).

8

Segundo Sousa, o século XVII é caracterizado como o momento em que nasce o jornalismo moderno (cf. Sousa 2008a: 33).

(32)

10

2. Contexto histórico/jornalístico na Europa e nos EUA: do século XVII ao século XIX

2.1 O século XVII

O Velho Continente presenciou várias alterações no século XVII que condicionaram a vida e mentalidade dos europeus. A Europa viu também nascer, neste período, um conjunto de pensadores que prepararam terreno para a renovação cultural e científica operada pelas Luzes.

As guerras e conflitos, de que é exemplo a Guerra dos Trinta Anos, influenciaram, devido à sua frequência, os comportamentos demográficos desta época, que se pode caracterizar como um período de contração demográfica, devido às mortes em combate e às consequências que deste acontecimento advinham: destruição dos campos e cidades, subida dos impostos, carestia de vida e aumento da possibilidade de ocorrência de crises epidémicas.

O avanço da economia comercial e capitalista permite a ascensão gradual da burguesia, que assentou as suas sedes nas cidades, dinamizando-as. Por sua vez, nos meios rurais, as dificuldades sentidas pelo povo, principalmente provocadas pelo aumento de impostos, conduzem às várias revoltas populares que marcam também esta centúria.

No domínio político, apesar de não haver total uniformidade na Europa, o regime dominante era o absolutismo régio, que tem na figura do rei Luís XIV, de França, o seu melhor exemplo. Longe deste cenário governativo, temos a Inglaterra e a Holanda (organizada como uma república), que recusaram o absolutismo e a tradicional sociedade de ordens, permitindo a mobilidade social e a ascensão mais rápida da burguesia.

Antes de Luís XIV, a França foi governada por Luís XIII, que cedo se apercebe das dificuldades que teria para governar sozinho. Desta forma, aconselhado pela sua mãe, Maria de Médicis, nomeia, para ministro do reino, Richelieu, em 1624, que acaba por se tornar a figura principal desta governação. Numa política contrária a alguns poderes instituídos, modernizou o país e encetou um conjunto de medidas económicas que permitiram transformar a França numa das principais potências europeias do século XVII.

(33)

11 A Espanha, por sua vez, viu o seu poder diminuído neste século, resultado das constantes guerras em que se envolve e que empobrecem o Estado, da quebra das remessas de prata das colónias, da diminuição da produção agrícola e industrial e das várias revoltas que começam a surgir pelo império espanhol, inclusivamente em Portugal. Todas estas circunstâncias, internas e externas, determinam o declínio do império espanhol, que se encontra agora mais fragilizado.

Os holandeses (e também os ingleses), defensores da liberdade de navegação e do comércio nos mares, construíram um importante império com domínios na Ásia, África e América e, neste sentido, criaram duas poderosas companhias comerciais marítimas: a Companhia das Índias Ocidentais (1601) e a Companhia das Índias Orientais (1602), afirmando-se, no início do século, como a primeira força comercial e financeira da Europa. Ao nível interno, verificou-se um extraordinário desenvolvimento económico e social, graças ao trabalho da burguesia, que se afirmava principalmente nas cidades, entre as quais se destacam Amesterdão e Roterdão. O espírito de liberdade e tolerância que se respirava nestes locais transformou-os em destinos escolhidos por muitos indivíduos perseguidos noutros países europeus e estes assumem-se como os principais centros da imprensa europeia, onde se publicam jornais proibidos em outros países.

Em Inglaterra, este foi um período de grande instabilidade política e de divisão religiosa (a maioria dos protestantes provinha da igreja anglicana, opondo-se a uma minoria católica).

No domínio político, é de realçar a oscilação entre o absolutismo e o parlamentarismo, sendo este último que sai vitorioso. Jaime I, que sucede à rainha Isabel I, era também rei da Escócia, e mais tarde consegue a submissão da Irlanda, num controlo conjunto da Grã-Bretanha. Este monarca aderira aos ideais absolutistas, o que terá desagradado aos ingleses que, desde a Magna Carta, no século XIII, não aceitavam que o rei governasse sem convocar o Parlamento. O seu filho, Carlos I, tornou-se também um adepto deste regime, o que lhe agudizou as antipatias. Por outro lado, jura a Petição dos Direitos, criada com o objetivo de garantir a soberania do Parlamento em termos de impostos, e não a cumpre. Acaba por ser derrotado no resultado da guerra civil e morre executado. Segue-se-lhe Oliver Cromwell, que proclama a república, que se constitui como um regime ditatorial. Apesar disso, agrada aos ingleses pela forma como lida com os problemas e pela eficácia das suas medidas, que se repercutem num desenvolvimento desta potência, ao nível comercial e marítimo. No momento da sua morte, o seu filho abdica do governo, tendo como consequência a restauração da

(34)

12 monarquia através da subida de Carlos II ao poder. A política deste em relação à França e Holanda não agradou ao Parlamento, tendo-se constituído nesta época dois partidos que iriam marcar a política parlamentar inglesa: os Tories (defensores da família real) e os Whigs (adeptos do Parlamento).

Sucede-lhe o seu irmão, Jaime II, que através das suas medidas acaba por dividir ainda mais a nação. Os descontentes com a sua governação revoltam-se, em 1688 (Revolução Gloriosa), e pedem a intervenção de Guilherme de Orange, governante da Holanda, casado com a princesa Maria, filha de Jaime II. O sucesso da sua invasão leva o Parlamento a entregar-lhe a coroa e a atribuir-lhe o título de Guilherme III. Precavendo-se contra futuras tentativas absolutistas, obriga-o a jurar e a assinar a Declaração dos Direitos (1689), colocando, desta forma, o Parlamento de novo no centro como a base da política inglesa.

No setor económico, é de realçar a posição que Londres adquire na Europa, como a grande praça financeira, onde se destaca a atividade mercantil e o desenvolvimento da indústria têxtil.

A segunda metade do século XVII ficou também marcada, na história das civilizações, pelo legado que nos deixou, correspondente às teorias de vários pensadores que revolucionaram algumas áreas, dos quais destacamos Francis Bacon (1561-1626),9 Bento Espinosa (1632-1677),10 René Descartes (1596-1650),11 John Locke (1632-1704),12 Leibniz (1646-1716),13 Voltaire (1694-1778) e Montesquieu (1689-1755).14

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As teorias filosóficas de Francis Bacon radicam na importância de um novo método científico assente nos princípios do método indutivo e experimental. Este teórico insurge-se contra o método do silogismo que, apoiando-se em princípios admitidos sem verificação, prejudicava a ciência e a filosofia da Idade Média. Considera que é necessário restaurar as ciências, usando como instrumento dessa restauração o Novum Organum, em que se preconiza o método experimental. Para descobrir as causas dos fenómenos, o homem deve recorrer à observação, à experiência e reflexão. A ciência, assim desenvolvida, podia ser um precioso instrumento no sentido do aperfeiçoamento ao nível ético e até político.

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O holandês Espinosa foi defensor do racionalismo, renunciando ao dogmatismo que marcava a tradição escolástica. Na sua obra, destacam-se os dois tratados políticos que representam metade da sua produção: Tractatus theologico-politicus (1670), em que perspassa a censura à crença em milagres, bem como à interpretação desviante da Bíblia, que impossibilitavam o homem de atingir o verdadeiro conhecimento, e o Tractatus politicus (1677), em que defende a liberdade absoluta de pensar e de se exprimir. Paralelamente, aponta como regime ideal a democracia, considerando-o o mais natural e racional dos regimes.

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Descartes pretendeu encontrar um método que se pudesse aplicar em qualquer investigação científica. O raciocínio dedutivo seria o caminho a seguir, de forma a que, partindo de uma afirmação verdadeira, pudéssemos alcançar a verdade final, adotando sempre uma postura assente na dúvida sistemática durante todo este percurso. Como certezas, tem apenas a da sua própria existência: ―Cogito, ergo sum.‖

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John Locke, filósofo inglês, escreve em inglês corrente e não em latim, como era norma, An Essay concerning human understanding e Treatises on civil Government (1690) e outras obras que irão servir de base para a transmissão do pensamento do século das Luzes. A leitura da primeira obra permite-nos

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13 Todos estes pensadores, céticos e críticos em relação às bases tradicionais da nossa sociedade, tiveram um papel fundamental na reformulação dessas estruturas, que orientavam o Antigo Regime, lançando as bases para a corrente que iria revolucionar a Europa de Setecentos, o Iluminismo.

2.1.1 Expansão de um novo modelo informativo: as gazetas

Neste século, condicionado pelas lutas políticas que agitavam o continente europeu, é visível o aumento da curiosidade pública, a necessidade de informação e o interesse pelas notícias, o que conduziu a publicações regulares, com intervalos mais curtos. Neste ambiente, terá surgido, em 1597,15 a primeira publicação noticiosa mensal, editada por Samuel Dilbaumn e Leonhard Straub em Rorschach e intitulada de

RorschacherMonatsschrift (cf. Sousa 2008a: 33).

A próxima fase em termos de história do jornalismo e que se aproxima já da noção atual do fenómeno jornalístico é o surgimento das gazetas.16 Estas aparecem em França, sendo Marcellin Allard e Pierre Chevalier os responsáveis pelo lançamento de

La Gazette Française, em 1604, cujo formato se espalha por toda a Europa. No entanto,

o modelo seguido pela maior parte dos países europeus foi criado pelo tipógrafo Abraham Verhoeve, que publicou, em 1605, em Antuérpia, um periódico bimensal,

Nieuwe Antwerschen Tijdinghen, notícias de Antuérpia, redigidas em flamengo e

facilmente perceber que, embora acredite nos dogmas cristãos, limita a validade do conhecimento humano. Na segunda obra, estamos perante a conhecida teoria do ―pacto social‖.

13

Von Leibniz foi um dos raros pensadores da humanidade que conseguiu dominar todos os conhecimentos da época. Além das suas atividades intelectuais, que iam desde as ciências físicas e matemáticas à lógica, jurisprudência e história, foi também um político ativo.

14 Voltaire e Montesquieu são dos franceses que maior influência tiveram no Século das Luzes francês. Ambos estiveram em Inglaterra, tornando-se adeptos do sistema político britânico. Voltaire, nas suas Cartas Filosóficas (1734), denuncia o despotismo e enaltece a tolerância inglesa. Nelas, reclama-se a igualdade de todos os súbditos perante o rei aliada à liberdade religiosa, política e intelectual. Montesquieu foi um dos principais teóricos do liberalismo. Na sua obra mais importante - Do Espírito das Leis (1748) - desenvolve a teoria de separação dos poderes, que ele considera existir em Inglaterra, cujo sistema político adota como modelo. As suas ideias influenciaram os líderes da independência norte--americana e parte dos líderes da Revolução Francesa, daí que algumas das suas teses se encontrem nas constituições de muitas nações atuais.

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O século XVI marca o início das publicações regulares ou periódicas: ―[…] el quinientos es el gran siglo de las noticias, y la aparición de las publicaciones periódicas será la consecuencia de la expansión de su demanda.‖ (Guillamet 2004: 53-54).

16 A gazeta (moeda veneziana) era a quantia que se pagava para ouvir as notícias das folhas volantes e das gazetas, periódicos que acabaram por adquirir o nome proveniente da própria moeda.

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14 francês, que ―[…] carecem inicialmente de regularidade, mas em 1617 já se publicavam semanalmente de maneira estável, chegando algumas vezes a atingir três edições semanais em 1620, data em que o privilégio é confirmado e transferido para o impressor Verdussen.‖ (Pizarroso Quintero 1996b

: 50).

Surge, nesta época, o sistema do privilégio, usado pelo Estado como forma de controlo das produções escritas, o que denota uma crescente preocupação por parte do sistema político em relação à influência que estas publicações possam exercer. Este sistema dos privilégios era usado pelas monarquias absolutas como uma espécie de muralha que os protegia e impedia a circulação de informação que não lhes interessava.

No dealbar deste século, inicia-se o longo processo de criação de gazetas por várias cidades europeias, das quais destacamos algumas: em Basileia (1610), Frankfurt (1617 e 1621), Hamburgo (1618), Estugarda e Praga (1619), Colónia (1620), Berlim (1621), Zurique (1623), Paris (1631), Leipzig (1632), Florença (1636), Génova (1639), Roma (1640), Lisboa (1641), Madrid e Sevilla (1661), Oxford e Londres (1665-1666).

Apesar de a Inglaterra não ter sido pioneira na criação deste novo modelo informativo, a necessidade de notícias, acirrada pelo ambiente da Guerra dos Trinta Anos (1618), tinha sido responsável pelo aumento da demanda incessante de informação. Em 1620, circulam já na capital inglesa Current out of Italy, Germany,

Bohemia, the Palatinate, France and the Low Countries, publicado por George Veseler,

em Amesterdão, o que motivou os impressores ingleses a promover os seus produtos, como foi o caso do primeiro periódico inglês, Weekely Newes from Italy, Germany,

Hungaria, Bohemia, the Palatine, France and the Low countries, mais conhecido como A Current of General Newes, editado por Nathaniel Butter, Nicholas Bourne e Thomas

Archer, em 1622.

No caso italiano, a sua produção jornalística dos séculos XVII e XVIII não conseguiu acompanhar a grandiosidade que alcançara nos séculos anteriores, quando se afirmava como a pioneira na divulgação da informação. As primeiras gazetas periódicas foram publicadas em Florença17 em 1636, em Génova em 1639 e em Roma em 1640.

Em território espanhol, a primeira publicação semanal foi a Gaceta de Madrid, que teve origem na Gazeta Nueva, de 1661.

17 ―Alguns autores mencionam como a mais antiga publicação semanal um boletim que Carlo Gigli imprimiu em Florença desde 1597, com privilégio do Grande Duque. Na realidade, tratava-se mais de um boletim de informação comercial, análogo aos Price currents ingleses manuscritos e impressos, que de um jornal de informação geral ou política.‖ (Pizarroso Quintero 1996b: 49).

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15 Em Portugal, o primeiro periódico português impresso em Lisboa é a Gazeta, em

que se relatam as novas todas, que ouve nesta Corte, e que vieram de varias partes no mes de Novembro de 1641, no ano de 1641.

Estes primeiros jornais, que se denominavam gazetas, ―[…] correspondem a uma evolução do conceito de livro noticioso para uma publicação mais frequente, periódica, muito menos volumosa, de menor custo e com notícias mais actuais.‖ (Sousa et al. 2007: 51), ainda que os livros noticiosos não tivessem desaparecido.

Sendo estas publicações muito importantes para o nosso estudo, julgamos pertinente sintetizar as principais características das gazetas.18

Comecemos pela noção de periodicidade, por ser uma marca tão importante para o jornalismo. Estas publicações surgem num formato semanal, que depois se altera para bi e trissemanal até chegar a diário. Ademais, os seus textos sobre diferentes assuntos e locais, muitas vezes agrupados sem uma lógica específica, são obtidos através da tradução de gazetas estrangeiras, ainda que haja, minoritariamente, referências ao contexto nacional. A sua preocupação informativa é percetível através de uma narração cronológica, sendo os textos, com um estilo simples, inseridos num contexto espácio--temporal determinado. Por outro lado, é perentório o interesse pela informação de acontecimentos mais recentes, começando a surgir notícias do dia anterior (noção de atualidade). A primeira página desta publicação apresenta o seu título, data, local de impressão e o nome do redator, o que revela já o trabalho de alguns profissionais dedicados em exclusivo a algumas atividades jornalísticas, como é o caso da redação e impressão. Por último, podemos mencionar o contributo da publicidade na redução do preço de cada exemplar, o que se repercute num periódico mais acessível (cf. Sousa 2008a: 34-35).

Esta estrutura apresenta claramente algumas vantagens em relação ao livro, uma vez que atinge um público mais vasto, que, ao longo dos tempos, ultrapassa os limites das classes privilegiadas, dos homens de letras e alcança outras franjas sociais entusiasmadas pela sua atualização constante, possível graças aos jornais e revistas que começaram a surgir de uma forma crescente.

Para o aparecimento do periodismo na sua forma atual foram necessárias várias condições, a saber: ―a) os progressos na arte de impressão; b) o desenvolvimento dos

18

Esta caracterização é genérica, sendo que nem todas as dimensões a seguir consideradas se aplicam aos modelos existentes das várias gazetas que surgiram nos diferentes países.

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