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Consumo cultural, produção de sentidos e mediações entre jovens sem terra

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REVISTA PASSAGENS - Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal do Ceará Volume 6. Número 1. Ano 2015. Páginas 48-71.

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CONSUMO CULTURAL, PRODUÇÃO DE SENTIDOS E MEDIAÇÕES

ENTRE JOVENS SEM TERRA

[CULTURAL CONSUMPTION, PRODUCTION OF SENSES AND

MEDIATIONS AMONG YOUNG PEOPLE WITHOUT LAND]

Sara Alves Feitosa Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Resumo: A mídia, especialmente a televisão, ocupa em nossa sociedade um lugar de constituição de sujeitos. Além disso, grande parte dos discursos produzidos na mídia atualmente são endereçados aos jovens. Assim, o presente artigo indaga sobre a relação de sujeitos jovens com os discursos televisivos e pergunta sobre as mediações, os processos de produção de sentidos e re-significação dos ditos da TV entre jovens assentados.

Palavras-chave: Mídia; Discursos; Juventude.

Abstract: The media, especially television, occupies in our society a place of constitution of subjects. In addition, most of the speeches made in the media are currently addressed to young people. Thus, this article inquires about the relation of young with the television speeches and question about the mediations, the production processes of senses and re-signification of the speeches of TV among young settlers. Keywords: Media; Speeches; Youth.

INTRODUÇÃO

A mídia, especialmente a televisão, ocupa em nossa sociedade um lugar de constituição de sujeitos. Além disso, grande parte dos discursos produzidos na mídia atualmente são endereçados aos jovens. Assim, o presente artigo indaga sobre a relação de sujeitos jovens com os discursos televisivos e pergunta sobre as mediações,

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os processos de produção de sentidos e re-significação dos ditos da TV entre jovens

assentados1.

Partindo dos conceitos de saber, relações de poder e modos de subjetivação do filósofo francês Michel Foucault e da teoria dos usos sociais dos meios de Jésus Martín-Barbero mapeamos as astúcias (Certeau, 2004) e modos de apropriação dos discuros midiáticos, sobre e para juventude que circulam na televisão, entre jovens ligados ao Movimento Sem Terra.

Embora os dados do censo 2010 aponte a tendência de mudança no perfil da população brasileira, o fato de o Brasil ser a quinta população juvenil do mundo – com 34 milhões de brasileiros na faixa etária de 15 a 242 anos – parece ser uma pista das motivações de uma série de estratégias voltadas exclusivamente para este público. Ações que vão desde o marketing publicitário, mídias, indústria de consumo, lazer e políticas públicas. A criação em 2005 da Secretaria Nacional de Juventude, ligada ao gabinete da Presidência da República; a instituição do Conselho Nacional de Juventude, no mesmo ano; o investimento em programas de qualificação profissional viabilizado pela expansão da rede de escolas técnicas federais; ampliação do acesso à universidade: a partir da implementação de linhas de créditos, instituicão de cotas, programa de bolsa de estudos (PROUNI) e a expansão da rede de universidade federais; são ações governamentais decorrentes de um entendimento que toma corpo no meio acadêmico, nas organizações do terceiro setor e na esfera governamental, ou seja, de que os jovens têm de ser considerados como sujeitos de direito. Assim, cresce a demanda por estudos que privilegiem os diferentes aspectos das realidades das juventudes no Brasil.

Aqui o olhar é direcionado a um setor ainda pouco investigado: jovens do meio rural. É relevante informar que há mais de uma década o Movimento Sem Terra tem consolidado um processo intenso de escolarização e profissionalização de jovens filhos

1

As análises aqui apresentadas são fruto da pesquisa de mestrado em educação, cujo título é “Televisão e juventudade Sem Terra: mediações e modos de subjetivação”, disponível em: http://hdl.handle.net/10183/8966

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Segundo dados do Instituto de Política e Economia Aplicada (IPEA), a população brasileira é compreendida por 51 milhões de jovens, na faixa etária de 15 a 29 anos.

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de assentados3. A juventude SemTerra tem ocupado cada vez mais espaço nas

discussões e pautas de reinvidicações do movimento, especialmente no que diz respeito à educação formal.

CONCEITO DE JUVENTUDE: MAIS PRECISAMENTE, “JUVENTUDES”

Já se disse que juventude é apenas uma palavra (Bourdieu, 1997). Ou, ao contrário, é mais que uma palavra (Margulis, 1998). Nos últimos anos, tem crescido o interesse investigativo por essa faixa da população que, para alguns, não passa de um ciclo, uma transição para a vida adulta, mas que toma novas conformações em nossa sociedade. Se, na década de 1920, o Brasil era uma paisagem de velhos, como relata Nelson Rodrigues (1993) em uma crônica sobre sua infância na Rua Alegre, a paisagem do País nos primeiros anos do século XXI é bem diferente. Se na infância do escritor, homens e mulheres eram mais valorizados ao ingressar na fase produtiva e reprodutiva, e sonhavam com o momento em que finalmente fossem admitidos no mundo dos adultos, hoje todos indiscutivelmente desejam ser jovens.

Juventude está presente nos discursos televisivos, mas também nas pautas políticas, embora ainda permaneça uma grande indeterminação a respeito do que, afinal de contas, o termo designa. Helena Wendel Abramo (2005, p. 37) alerta que “muito do que se escreve na academia sobre juventude é para alertar para os deslizes, os encobertamentos, as disparidades e mistificações que o conceito encerra”. Há diferentes ângulos de abordagem do tema, os recortes são diversos, sendo comum na bibliografia muitos autores optarem por falar de juventudes, especialmente se tomarmos um recorte de classe social.

A juventude é vivida como um processo definido a partir de uma inegável singularidade: é a fase da vida em que se inicia a busca dessa autonomia,

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Em 1997 através de um convênio entre Movimento Sem Terra, Ministérios do Desenolvimento Rural (MDA) e da Educação (MEC) instituiu-se o primeiro curso de pedagogia dirigido a jovens assentados ou acampados. Essa ação precurssora realizou-se na Universidade Regional de Ijuí (Unijuí), no Rio Grande do Sul. Depois dessa iniciativa vieram outros curso de graduação e formação técnica, como por exemplo, Técnico em agropecuária, com especialização em agroecologia, ministrado no Instituto Educar, uma extensão do Instituto Federal do Rio Grande do Sul campus Sertão; graduação em Veterinária (Universidade Federal de Pelotas), História no Instuto Josué de Castro, em Veranopolis/RS; Jornalismo (Universidade Estadual do Ceará) em Quixadá, dentre outras.

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marcada tanto pela construção de elementos da identidade – pessoal e coletiva – como por uma atitude de experimentação (GALLAND, 1996; SINALY, 2000, apud SPOSITO, 2005, p. 89).

A ideia de condição juvenil remete, em primeiro plano, a uma etapa do ciclo de vida, de ligação ou de transição como diz a noção clássica, entre a infância, época de dependência e necessidade de proteção, para a idade adulta, o ápice do desenvolvimento, que, em nossa sociedade, está relacionado a tornar-se capaz de exercer atividades produtivas, de reprodução e de participação social. Inúmeros autores (Abramo, 2005; Margulis, 1998; Ribeiro, 2004, dentre outros) alertam que os conteúdos, a duração e a significação social dos atributos das fases da vida são, cultural e historicamente constituídos, e que a juventude nem sempre apareceu como etapa singularmente demarcada.

A noção de juventude vigente no pensamento sociológico contemporâneo tem sua origem na sociedade moderna ocidental, na experiência dos jovens burgueses, que se impôs como padrão do que é ser jovem, em detrimento de outros modos de ser jovem, vivenciados em épocas anteriores4. A condição juvenil como a entendemos atualmente tem forte relação com a instituição da escola, como relata Schindler (1996, p. 269), citando Philippe Ariès: “na sociedade dos séculos XVI e XVII ainda não se traçava uma demarcação nítida entre infância e juventude e ainda não se tinha uma noção precisa daquilo que chamamos adolescência”. O autor afirma que, somente com a obrigatoriedade da frequência à escola, no início do século XIX, passou-se a adotar o corte dos catorze anos, que estabelece uma clara demarcação entre infância e juventude, no momento da conclusão dos estudos, início da aprendizagem e ingresso no mundo do trabalho. A condição juvenil passa, então, a estar relacionada à possibilidade de o jovem burguês livrar-se, mesmo que temporariamente, das obrigações do trabalho, por um lado, para retardar a inserção no mundo produtivo e, por outro, para dedicar-se ao estudo numa instituição escolar, como explica Abramo (2005, p. 41). Essa segunda etapa de socialização produz um deslocamento entre as

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Ver coletânea História dos Jovens, organizado por Giovanni Levi e Jean-Claude Schmitt, Companhia das Letras, 1996, especialmente os artigos: Ser jovem na Aldeia, de Daniel Fabre, V. 2, p.49-81; A imagem dos jovens na cidade grega, Alain Schnapp, V.1, p.19-57; Os tutores da desordem: rituais da cultura juvenil nos primórdios da Era Moderna, Norbert Schindler, V. 1, p. 265- 324.

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capacidades físicas de produção, reprodução, maturidade emocional e social para a

sua realização. A noção moderna de juventude acabou aparecendo como um período de transição, de ambiguidade, de tensão potencial, de moratória5.

Esse período de moratória, é bom que se lembre, é uma experiência restrita aos filhos de classes altas e médias. Nas camadas mais pobres, não era incomum, como relata Schindler (1996, p. 271), que crianças de dez ou doze anos trabalhassem. Os filhos dos camponeses e dos artesãos, desde cedo, eram iniciados no trabalho dos pais, assumindo tarefas de responsabilidade cada vez maiores. A constatação desse quadro diverso consolidou uma certa tensão entre vertentes do pensamento. Por um lado, análises que privilegiam a posição na estrutura socioeconômica e que afirmam ser a noção juvenil destituída de significação social. Por outro, as que focam o plano simbólico, com a ideia de uma condição juvenil referida a uma fase da vida, podendo chegar, no limite, a considerar a juventude como mero signo, uma construção cultural relativamente desvinculada das condições materiais e históricas.

Segundo Marília Sposito (2003), tal tensão pode ser pensada, pela distinção entre condição e situação juvenil. A autora, no livro “Os jovens no Brasil: desigualdades multiplicadas e novas demandas políticas”, explica que a condição refere-se ao modo como uma sociedade constitui e atribui significado a esse momento do ciclo de vida, que alcança uma abrangência social maior, referida a uma dimensão histórica geracional. Já situação revela o modo como tal condição é vivida nos diversos recortes referidos às diferenças sociais – classe, gênero, etnia, etc. Margulis (1998, p. 17) lembra que, embora a juventude, como categoria socialmente constituída, possua uma dimensão simbólica, tem que ser analisada em outras dimensões, ou seja, “aspectos fáticos, materiais, históricos e políticos, nas quais toda produção social se desenvolve”.

No século XX, principalmente após a II Guerra Mundial, como aponta Edgar Morin (1986), no rastro de mudanças socioeconômicas, no mundo do trabalho e no campo dos direitos, com a coibição do trabalho infantil, a extensão da escolarização e

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Termo cunhado por Erikson (1986), entendido como esse adiamento dos deveres e direitos dos indivíduos que deixaram de ser crianças mas ainda não estão plenamente inseridos na produção (trabalho), reprodução (ter a própria família) e participação política. A moratória seria um tempo para a dedicação exclusiva à formação para o exercício futuro dessas dimensões da cidadania.

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da cultura, a condição juvenil teve sua significação ampliada. É certo que, desde a

Revolução Francesa, como anuncia Renato Janine Ribeiro (2004), ser moço passa a ser algo positivo. Entretanto, é no pós-guerra que “ser jovem” confere um certo prestígio ao sujeito. É também desse movimento de ampliação do sentido dado à condição juvenil que os filhos das classes populares passam a figurar como atores integrantes da juventude.

Vários acontecimentos contribuem para uma ampliação do sentido dado à juventude, especialmente na segunda metade do século XX, dentre eles, mudança ou alargamento do período da vida identificado como juventude, dos poucos anos do início da industrialização, passando a durar dez, 15, ou como se aceita em alguns setores atualmente, 20 anos. A inclusão no sistema escolar e no universo simbólico de setores populares provocou uma abrangência do fenômeno para vários setores sociais, constituindo-a não apenas como uma experiência dos filhos da burguesia. Abramo (2005, p. 43) conclui que o desfecho desses acontecimentos é que a “vivência da experiência juvenil passou a adquirir sentido em si mesma e não mais somente como preparação para a vida adulta”. Essa ampliação de significado da noção juvenil justifica que se fale de juventudes, no plural, como forma de expressar a heterogeneidade, as desigualdades e as diferenças que atravessam esta condição, como sinaliza Abramo (2005).

Aqui, a juventude6 é a juventude Sem Terra7, entre 14 e 248 anos, filhos de

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Uso o termo juventude e não adolescente porque adolescência, segundo Sposito (1997:44), como descritor em investigações, em grande parte é caracterizado por abordagens mais próximas das orientações da psicologia, sendo as preocupações centrais investigar as transformações ligadas à biologia, mudanças hormonais e comportamentais, amadurecimento sexual. Aqui a investigação está mais associada a um referencial sociológico que psicológico, daí referir-se à juventude ou culturas juvenis.

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Grafar Sem Terra e não sem-terra tem o objetivo de distinção dos participantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra em relação a outras pessoas do meio rural que não possuem terra, mas não estão organizados no MST. Referir-se a Sem Terra, Sem Terrinha, está relacionado a um aspecto simbólico e de identidade social e não ao fato de ter ou não terra.

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Entre os jovens observados na investigação, estes, a partir de 12 anos, já se consideram jovens contrariando o parâmetro utilizado por organismos internacionais como o Unicef, que definem como jovem a faixa etária de 15 a 24 anos. É importante, contudo, esclarecer que tanto no plano nacional como internacional não há um consenso, entre os diversos atores, a partir de que idade um indivíduo seja considerado jovem. A legislação brasileira, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), assume como adolescente a pessoa que tem entre 12 e 18 anos incompletos. Para o Fundo de

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assentados ligados ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Essa

opção impõe incursões no âmbito da escola e da família, como também nas relações que os jovens tecem com o mundo do trabalho.

A família estabelece, pela história de vida e de militância, uma “pré-identidade” para estes jovens, ou seja, jovens Sem Terra, colonos ou filhos de colonos Sem Terra; o trabalho está desde cedo presente em suas vidas. No Assentamento Capela9, por exemplo, os filhos de assentados sócios da Cooperativa de Produção Agropecuária Nova Santa Rita (COOPAN) têm a possibilidade, a partir dos 10 anos, de integrarem algum setor de produção. As atividades desenvolvem-se em horário inverso ao da frequência escolar. Nas entrevistas realizadas para a pesquisa, ficou claro, pelos relatos, que os jovens optam por trabalhar como forma de garantir alguma remuneração. Entre os jovens filhos de assentados que optaram pelo modo de produção individual, as meninas envolvem-se com trabalhos domésticos, já os garotos ajudam o pai em algumas tarefas diárias, como tratar animais, carpir e comercializar produtos em feiras nas cidades de Canoas e Porto Alegre.

No caso dos jovens que frequentam escolas do MST10, esta instituição além da função de educação formal apresenta-se como lugar de disseminação dos discursos do Movimento, esse dado é importante pois a presença dos discursos do MST no cotidiano destes sujeitos dá-lhes um traço de distinção na forma como se relacionam com os discursos midiáticos, especialmente no que diz respeito à imagem do próprio MST na mídia.

No contexto de crise da agricultura familiar e dos processos econômicos recentes que fazem do meio rural um espaço cada vez mais heterogêneo, diversificado e não

Populações das Nações Unidas (UNPEA), a juventude é composta por cidadãos entre 15 e 24 anos de idade. Um critério mais expandido – o de “população jovem” – é aplicado à faixa dos 10 aos 24 anos.

9 A pesquisa empírica foi realizada no assentamento Capela, localizado no município de Nova Santa

Rita/RS, região metropolitana da Porto Alegre. O trabalho de campo (entrevistas, observação etnográfica na escola, trabalho e na assistência a programas de TV) ocorreu entre abril de 2005 e novembro de 2006. A amostra da pesquisa foi composta de 20 jovens, todos filhos de assentados ligado sao MST, moradores do Assentamento Capela.

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No mesmo município a Escola Estadual Nova Sociedade, com orientação pedagógica do MST, recebe a maioria dos filhos de assentados dos assentamentos Capela e Itapuí, onde se localiza a referida escola. Entre os entrevistados para a investigação alguns estudavam no Instituto Educar em regime de Casa/Escola, ou seja, um período na escola e outro em casa.

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exclusivamente agrícola (Carneiro, 1999), a juventude rural desponta como a faixa

demográfica que é afetada de modo mais intenso por essa dinâmica de borramento das fronteiras entre os espaços rurais e urbanos.

Nas observações de investigação realizadas, notamos que os jovens transitam nos universos rural e urbano. Enquanto trabalham a terra, cobrem o telhado de um galinheiro, ou distribuem aipim11 pelas residências de uma agrovila, escutam música, falam ao telefone celular, comentam o baile que acontece no próximo final de semana, combinam a visita a uma lan-house para experimentar o game novo que chegou12. O que a priori parecem ser atitudes de identidades contraditórias (rural e urbano), para estes indivíduos traduzem o cotidiano. O desafio é justamente captar a formação de identidades específicas através de toda uma rede de fluxos e migrações. Reestruturar o pensamento e a análise diante de identidades multilocalizadas e dispersas tem suas consequências: a primeira delas é a elevação da complexidade do trabalho do pesquisador, levando, segundo as autoras, à necessidade de experimentações metodológicas, que contemplem a pluralidade das identidades. Embora durante a pesquisa tenhamos nos deparados com o uso de variadas mídias nossa observação privilegiou a produção de sentidos a partir dos discursos televisivos, devido a abrangência e a centralidade desta em nossa cultura.

A CENTRALIDADE DA TV NA CULTURA BRASILEIRA

No prefácio do livro “Brasil em tempo de TV”, Eugênio Bucci (2000, p. 11) afirma que a televisão delimita o espaço público no País. “O que é invisível para as objetivas da TV não faz parte do espaço público brasileiro”. A partir dessa perspectiva, o autor vai tecendo argumentos que explicam e sustentam sua tese da centralidade da

11 O mesmo que “mandioca” ou “macaxeira” para outras partes do país. 12

No período da investigação, em 2006, verificava-se um processo de mudanças das sociabilidades provocadas pela inserção da internet no cotidiano destes jovens. Seis anos depois, a rede mundial de computador é parte do dia-a-dia dos jovens do Assentamento Capela, sendo um tema cadente para futuras investigações sobre as transformações nas relações sociais, modos de circulação e consumo midiático provocados pela disseminação das redes sociais. Para se ter uma ideia, no Assentamento Capela o computador conectado à internet é uma realidade presente em cerca de 70% das residências. Um dado relevante é o uso compartilhado do computador, o que difere do uso individualizado entre jovens urbanos de classe social diversa.

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televisão na vida e no espaço público do Brasil.

O contexto e o modelo de implantação da televisão no país explica, em parte, segundo Bucci, o sucesso exemplar da TV por aqui. Experiência tão bem sucedida, de modo que o autor chega a dizer que tem “a sensação de que se tirássemos a TV de dentro do Brasil, o Brasil desapareceria” (Bucci, 2004, p. 31). O modelo de rede, que interliga o país de norte a sul, leste a oeste, foi pensado e implantado durante o período da ditadura militar, o que justifica em certa medida, a desconfiança e rechaço que prolifera em torno deste meio. Maria Rita Kehl (1986), Mauro Salles (1988), Eugênio Bucci (2000; 2004), dentre outros autores, já falaram exaustivamente sobre o papel que o modelo das grandes redes de TV generalista no País teve na integração nacional e, consequentemente, na viabilização do projeto militar durante longos 21 anos.

Mesmo com o fim da ditadura e seu projeto autoritário, esse modelo permanece, e a ideia de grandes espetáculos que unam os brasileiros em torno da TV e de um acontecimento ainda funciona (Olimpíadas, Copa do Mundo, Carnaval) e garantem o fôlego do que Bucci (2000, p. 33) denomina de constante na TV brasileira, ou seja, a necessidade de eventos que tenham a pátria por objeto. “Tudo aquilo que clame pela confraternização, pelo congraçamento, pela união da pátria é vital na programação da TV” e aí, segue o autor, valem as tragédias, os eventos esportivos, as festas populares, como o carnaval e o São João, as datas religiosas, tudo que de alguma forma nos lembre que somos uma pátria. Do contrário, afirma Bucci, o veículo definha, pois é desse movimento de fazer a audiência vibrar unida que a TV se alimenta13.

A TV no Brasil se tornou o fórum por excelência para a tematização dos assuntos que constituem com seu fluxo o próprio imaginário nacional. No artigo Ainda sob o

signo da Globo, Eugênio Bucci (2004b, p. 221) defende que o espaço público nacional é

hegemonicamente mediado pela televisão e argumenta que a Rede Globo é um palco do espaço público que ela mesma delimita. “Ela [a Rede Globo] soube forjar uma

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Um exemplo recente é a mobilização da audiência produzida em torno do desfecho da telenovela

Avenida Brasil, de João Emanoel Carneiro, exibida no horário das 21h, que rendeu pautas não apenas

para programas de variedades como Ana Maria Braga, mas também para os telejornais da emissora (Bom Dia Brasil, Jornal Hoje, Jornal Nacional e Jornal da Globo) e para o semanário Globo Repórter exibido após o ultimo capítulo da referida trama.

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gramática universalizante através da combinação do melodrama (a novela) com o

telejornal, num repertório dinâmico em que a nacionalidade se reconhece e se reelabora” (idem). Segundo o autor, a Rede Globo impôs o modelo brasileiro de televisão: aquela que informa, entretém e procura pacificar onde há tensões e unir onde há desigualdades.

É interessante apontar ainda o que Bucci (2004b, p. 224) denomina o dueto entre fato e ficção na televisão brasileira. Para o autor, a telenovela é a responsável pelo estabelecimento do hábito do brasileiro ver TV. “Elas [as telenovelas] inventariaram, consolidaram e sistematizaram o repertório da vida privada brasileira” (idem). Mais que isso, a telenovela e o telejornalismo “pactuam entre si uma divisão de trabalho para a consolidação discursiva da realidade”. Eugênio Bucci nos chama a atenção para o sinal trocado entre fato e ficção na TV brasileira. Certas formulações do telejornalismo mais parecem peça de ficção e muitos dados da realidade bruta entraram para a pauta nacional através das telenovelas.

TELEVISÃO: DO DISPOSITIVO PEDAGÓGICO E PRODUÇÃO DO SUJEITO

A compreensão do processo comunicacional como um fluxo contínuo, em que não se separam as intenções do produtor de um programa televisivo dos sentidos dados pela recepção deste mesmo programa, norteia a análise aqui apresentada. Embora a investigação esteja focada na recepção, ou seja, nas relações estabelecidas entre jovens de um assentamento de reforma agrária com os discursos televisivos que nomeiam e produzem modos de ser jovens na contemporaneidade, entendemos não ser possível desconsiderar o campo da produção, os saberes e discursos construídos nessa esfera do processo de comunicação e que esses repercutem na recepção.

Os pressupostos que levamos em consideração na análise da recepção dos discursos sobre e para a juventude, entre jovens do Assentamento Capela, partem do entendimento de que os meios de comunicação, notadamente a televisão, são parte constitutiva do sujeito contemporâneo, desempenhando um papel pedagógico na formação do sujeito receptor. É o que Rosa Fischer (1999) denomina o “dispositivo

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pedagógico da mídia”. Para a autora (1997), “Os meios e os produtos de comunicação

e informação, ao sofrerem uma cuidadosa análise, afirmam o estatuto da mídia não só como veiculadora, mas também como produtora de saberes e formas especializadas de comunicar e de produzir sujeitos, assumindo nesse sentido uma função nitidamente pedagógica”.

Em suas análises do “dispositivo pedagógico da mídia”, a autora (1996) privilegia o campo da produção (um vídeo, um capítulo de novela, um filme, uma reportagem). Justificamos o uso dessas reflexões sobre o campo da produção em um estudo que tem como foco a recepção, devido à busca, nos estudos de comunicação, de paradigmas que deem conta do processo complexo que constitui o processo comunicacional. Como afirmam os estudos de recepção (Martín-Barbero, 2003; Orozco, 1991), a audiência não se constitui de sujeitos passivos, embotados pelos discursos e saberes do campo da produção; e, as telenovelas, por exemplo, não seriam apenas fontes de alienação, mas igualmente locus de constituição de identidades e de subjetividades. Por outro lado, também não podemos desconhecer a capacidade de o campo da produção interferir nesse processo de formação de subjetividades. Esse novo lugar da audiência, proposto pelos Estudos Culturais, descreve o sujeito-receptor como aquele que vai além de mero consumidor de discursos, imagens e sons, mas ator no espaço de produção cultural (SOUZA 1995). Ainda mais se pensarmos que com a crescente cultura da convergência (JENKINS, 2008) os lugares de emissores e receptores outrora tidos como pré-determinados, parecem cada vez mais móveis e indefinidos.

Assim, entendemos que não é mais possível falar de etapas estanques no processo comunicacional (emissor, meio, mensagem, receptor). Prova da possibilidade de um campo interferir em outro, possibilitado em certa medida pelas novas tecnologias, é que, não raro, nas telenovelas a audiência pode definir o destino de um personagem, abreviando a sua trajetória na trama ou dando-lhe sobrevida, fazendo crescer uma história que seria originalmente menor na peça ficcional. Por outro lado, o campo da produção interfere em maior ou menor medida nas nossas vidas, subjetivando-nos cotidianamente. No artigo Técnicas de si na TV: a mídia se faz

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pedagógica, Fischer (2000, p. 115) explicita o conceito de dispositivo pedagógico da

mídia, como sendo:

(...) um aparato discursivo e ao mesmo tempo não discursivo (toda a complexa prática de produzir, veicular e consumir TV, numa determinada sociedade e num certo cenário social e político) a partir do qual haveria uma incitação ao discurso sobre ‘si mesmo’, à revelação permanente de si, práticas que vêm acompanhadas de uma produção e veiculação de saberes sobre os próprios sujeitos e seus modos confessados e apreendidos de ser e estar na cultura em que vivem.

Em concordância com o que aponta Fischer (1996, p. 145) além da família, da escola, dos especialistas, “há em nossa sociedade um outro importante lugar de ensinar e aprender: a mídia”, especialmente a televisão pela possibilidade técnica de tornar crível (Orozco, 1991) os discursos que exibe. Embora os preceitos e regras apontadas nos textos televisivos estejam presentes nos discursos de outras instituições (escola, família, igreja), eles parecem ganhar estatuto de verdade se “bebidos” nesse meio de comunicação, a TV. É claro que há aí uma simbiose de discursos que se fortalecem mutuamente. O preceito de “não roubar”, por exemplo, está disseminado na sociedade; no entanto, um jovem, ao ser questionado sobre algo aprendido na TV, que ele considerasse importante para sua formação, respondeu:

- Roubar é uma coisa que a gente sabe que é errado... Mas vendo numa novela parece que dá pra ver as consequências e porque tu tem que evitar isso na tua vida. Na Novela das Sete (Cobras e Lagartos) o “Foguinho” roubou a herança do melhor amigo... Parecia que tudo ia dar certo, mas ele só sofre com o dinheiro que ele roubou. Parece que ele tá pagando pelo que fez de errado (Maurício14)

Nesta fala, observa-se que há uma mescla de discursos: por um lado, o informante reconhece que “não roubar” é uma coisa que ele aprendeu antes, na família e na igreja; ao mesmo tempo, identifica que ver em uma novela, por exemplo, lhe dá mais elementos para cumprir o preceito, experimenta hipoteticamente as consequências de praticar esse ato condenável na sociedade.

Zygmunt Bauman (2001, p. 78), no livro Modernidade líquida, nos fala de que uma das razões do sucesso de programas de entrevistas que estampam vidas de celebridades ou anônimos e de como o sucesso dos talk shows estaria relacionado com as “lições” exibidas neles. Segundo o autor, o êxito deste tipo de programação

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está na resposta que dá à necessidade do público de ver como o “outro” agiu diante de

desafios que podem ser os seus. Pensando no que diz Bauman, podemos seguir assinalando que a recepção se utiliza dos depoimentos e histórias de vida exibidos nos

talk shows, reelaborando-os e dando sentido a essas experiências em suas próprias

vidas. Também podemos dizer que o campo da produção, ao selecionar essa ou outra história, como exemplo de vida, interfere no campo da recepção, de modo que no mínimo dá acesso a determinadas experiências ou modelos e não a outras. É nesse sentido, de ser um lugar de seleção, produção e disseminação de discursos, saberes e modos de ser que Fischer (1997) aponta os aspectos que consolidam a televisão como um lugar de produção de sujeitos, o que lhe confere uma função pedagógica.

Concordamos com Thompson (1998), quando assinala que os estudos de recepção têm apontado que a apropriação dos bens culturais midiáticos é um processo complexo, que envolve uma atividade contínua de interpretação e assimilação do conteúdo, com base nas características de uma experiência socialmente estruturada de indivíduos e grupo particulares. Desse modo, há de se fazer uma engenhosa arquitetura teórica capaz de dar elementos para empreender uma análise junto a receptores, com aspectos tão peculiares como o fato de serem jovens, terem na sua formação a forte presença de um movimento social como o MST – cuja concepção em relação aos meios de comunicação é de um lugar de proliferação do “lixo” cultural (Ademar Bogo, 2000) – , mas que, ao mesmo tempo, estes sujeitos se utilizam dos discursos televisivos para a construção de modos de ser jovem e de se relacionar com o próprio movimento.

A partir das entrevistas e observação de campo identificamos como os jovens se utilizam no cotidiano de algumas “práticas de si”, propostas na TV; como se colocam a pensar sobre a própria imagem, de como agir com seus pares, como os diversos discursos para e sobre juventude da TV concorrem no processo de constituição desses sujeitos, nos modos de subjetivação de uma juventude Sem Terra. Mais, identificar o uso dessas sugestões televisivas: de como agir dentro do “politicamente correto”; de como e quando iniciar a vida sexual; ou coisas mais triviais de construção de imagem, identificações com estereótipos exibidos nas tramas televisivas, etc.

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Na análise das entrevistas com jovens do assentamento Capela identificamos

enunciados, falas, comportamentos dos sujeitos investigados e como estes tomam como seus, saberes e normas apresentados pelos discursos para e sobre juventude veiculados na televisão. Segundo Fischer (2000, p. 117) a televisão tem uma função formadora, subjetivadora e, tal como a escola, se vale de certas técnicas de produção de sujeitos e mais, um tipo específico de sujeito que “deve” olhar para si mesmo, se auto-avaliar, refletir sobre seus atos, expor suas sensações, suas dores, seus julgamentos. Procedimentos estes também presentes no cotidiano e filosofia do MST que entende que o sujeito deve construir-se, fazer-se e transformar-se a partir do que denominam de “novas relações” com ele mesmo, com os pares, com a natureza, com a comunidade.

DOS HÁBITOS E CONSUMO CULTURAIS

O que argumentamos a partir dos dados empíricos do trabalho etnográfico é que os sujeitos – no caso específico, os sujeitos jovens – valem-se na contemporaneidade dos discursos televisivos para compor ou cobrir de sentidos diversos aspectos da sua constituição.

Antes de nos determos nos aspectos da recepção e dos usos que os jovens fazem da TV e seus discursos na autoconstituição de si, retomamos, brevemente, o conceito de mediação, entendido como o “lugar dos quais provêm as construções que delimitam e configuram a materialidade social e a expressividade cultural da televisão” (Martín-Barbero, 2004, p. 304). Para o autor, a família é um dos espaços privilegiados de leitura e codificação da televisão. Embora o estudo realizado no Assentamento Capela não tenha focado na análise da recepção na unidade familiar, durante a coleta de dados acabamos interagindo com os sujeitos da investigação no ambiente familiar. Não raro, as mães interferiam com observações sobre os gostos televisivos dos filhos.

Martín-Barbero (2003), ao tratar as lógicas dos usos dos meios de comunicação,

re-situa a problemática no campo da cultura, ou seja, “dos conflitos articulados pela

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trabalha e as resistências que ela mobiliza (...) dos modos de apropriação e réplica das

classes subalternas” (idem, p. 321). Tendo como referência o que o autor denominou de “habitus de classe”, que se refere aos modos de ver televisão na organização do tempo e do espaço cotidiano, obtém-se a partir da observação e das falas dos entrevistados o que afinal eles buscam neste meio.

No caso dos integrantes da amostra, como de quase todo o assentamento, há apenas um aparelho de televisão por residência. O aparelho quase sempre está na sala de estar, lugar de receber as visitas e espaço de convívio familiar. Uma variante interessante é que nos meses de inverno a televisão é deslocada para a cozinha, lugar mais aquecido das moradias. Assim, em torno do fogão à lenha, as pessoas veem TV, se alimentam, tomam chimarrão.

Assistir TV junto com os jovens em suas casas possibilitou, tendo em mente as questões levantadas por Martín-Barbero (2003), desenhar o habitus televisivo destes sujeitos. O canal mais assistido é a Rede Globo, seguido do SBT e, alguns apontam a MTV como canal preferido, no entanto, essa escolha gera conflito, já que os demais moradores da casa não gostam do tipo de programação daquele canal. A preferência pela Rede Globo nos levou a questionar, nas entrevistas, sobre o conhecimento deles da decisão do MST/RS de não dar entrevistas aos veículos de comunicação da RBS, afiliada da Rede Globo no Estado. Com exceção de duas garotas, cujos pais são militantes e dirigentes do Movimento, nenhum dos entrevistados sabia de tal orientação. Um dos entrevistados chegou a declarar: “Isso não quer dizer nada pra mim. Eu gosto de ver a Globo e vou continuar vendo”.

A preferência pela Rede Globo é justificada por questões de gosto pela programação, pela qualidade da imagem e até pelo costume15. O ato de ver TV é parte do cotidiano destes jovens. Nos relatos sobre a vida no assentamento, assistir televisão juntamente com ir à escola, trabalhar e brincar, são as atividades mais apontadas. Embora tenham a TV como uma das atividades mais frequentes para

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Quando se formou o hábito de ver TV entre os adultos, estes moravam em localidades que só “pegava” o sinal da Rede Globo. O hábito de ver preferencialmente o canal que retransmite a programação da Rede Globo é transmitido para os filhos, especialmente dadas as condições de disponibilidade de apenas um aparelho de TV nas residências e as relações de poder estabelecidas na família.

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ocupar o tempo livre, poucos jovens apontaram o ato de ver TV como atividade de

lazer ou como divertimento. Quando pensam em lazer, referem-se a jogar bola, jogar sinuca, ir ao cinema, a bailes, ouvir música. Somente quando provocados a pensar se o ato de ver televisão não seria uma atividade de lazer, alguns chegam a reconsiderar e apontam que, de fato, ver filmes, novelas, desenhos animados, shows e clipes na TV também são atividades de lazer. O que se pode evidenciar desses relatos é que, embora de classe popular, os jovens identificam outras atividades como espaços de lazer16. Falo disso pelo fato de Martín-Barbero (2004) observar que as classes populares pedem tudo da televisão, ou seja, o lazer, a informação, a cultura e de certo modo até a educação têm a TV como lugar privilegiado, isso devido especialmente às limitações financeiras.

Além de assistir à televisão, nos finais de semana os jovens do Assentamento jogam bola, praticam outras modalidades de esportes (vôlei, sinuca, andar de bicicleta); frequentam lanhouse; jogam em computadores, em casa ou na casa de amigos. O acesso à internet no Assentamento modificou em alguns aspectos o cotidiano desses jovens; verificar os e-mails, jogar ou ficar de bate-papo nos chats e MSN é um hábito para alguns “que podem” ter computador em casa. Os que não têm computador em casa utilizam, com tempo limitado e durante os dias úteis, um computador no escritório da cooperativa17.

Alguns desses jovens nunca foram ao cinema, outros somente através de passeios escolares, há ainda aqueles que pelo menos duas vezes por ano vão ao cinema, especialmente nas férias e atraídos por filmes como Harry Potter ou filmes da

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Dado semelhante aparece na pesquisa “Perfil da juventude brasileira”, realizada pelo Instituto Cidadania com 3.501 entrevistados em 198 municípios, de 25 estados brasileiros e Distrito Federal, com idade entre 15 e 24 anos, revelou que, embora os jovens ocupem o tempo livre frequentemente diante da TV, quando questionados sobre o que gostavam de fazer nas horas de lazer as atividades mais citadas foram ir ao cinema, jogar bola/futebol, ir a shows, ir ao circo, encontrar os amigos, assistir futebol em estádios e namorar. Talvez as respostas dos jovens expressem mais o que desejam fazer de atividade de lazer, que propriamente o que eles fazem cotidianamente com o tempo livre.

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Como observado anteriormente neste artigo, o uso da internet no assentamento modificou-se radicalmente entre a realização da pesquisa, em 2006, e o momento que este artigo é escrito, 2012. Sendo um aspecto relevante para ser pesquisado junto a jovens de assentamentos de reforma agrária. Pois, tendências apontadas preliminarmente na pesquisa realizada em 2006, como as modificações e impactos nos processos de sociabilidade entre jovens assentados e o uso das redes sociais e a internet parecem ter se aprofundadas neste período.

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Xuxa. O acesso a filmes no dia-a-dia dá-se principalmente por meio da exibição na

televisão aberta ou por locação de fitas VHS e DVD’s. A preferência recai sobre filmes de ação, suspense e aventura, especialmente os norte-americanos, mas há também a audiência a filmes nacionais. Por iniciativa de alguns militantes do MST eventualmente realizam-se sessões de exibição na sede da Coopan: os filmes selecionados para estas ocasiões têm relação com a luta pela terra ou com os propósitos de transformação da sociedade pregados pelo MST, como Olga (Jaime Monjardim, 2004), Diário de

Motocicletas (Walter Salles, 2003) e documentários sobre a luta pela reforma agrária

no Brasil.

O DISCURSO DO MST COMO MEDIAÇÃO

Pensando sobre os posicionamentos críticos do MST em relação à mídia, com os quais esses jovens convivem tanto no ambiente familiar como na escola, e a maneira como se apropriam dos produtos midiáticos, nos apoiamos nas formulações de Jésus Martín-Barbero e Guillermo Orozco Gómez. A cotidianidade e a competência cultural são as categorias que orientam a análise.

Vale lembrar que, para o MST, os produtos da indústria cultural são vistos como “lixo cultural”, que “contaminam as pessoas com suas manipulações ideológicas”, conforme afirma Ademar Bogo (2000, p. 92). Para esse líder do MST, há “lixo” no comportamento, no jeito de ver as coisas, nos hábitos alimentares, na forma de vestir, e tudo isso toma parte da existência dos indivíduos, o que impede a construção da nova sociedade.

É em meio a discursos sobre os efeitos danosos dos produtos da indústria cultural que o MST aposta em projetos culturais alternativos com lançamento de CD’s, criação de rádios comunitárias, de publicação de jornais e revistas que, segundo Bogo (idem, p. 19), tem a função de desenvolver, em contraponto à cultura da existência, uma cultura de resistência, ou seja, a cultura de não se entregar “totalmente aos embalos do cantarolar do consumismo capitalista”. Nessa perspectiva, resistir aos produtos da indústria cultural é resistir à mídia, à TV, considerada a porta de entrada

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para todo o “lixo cultural”.

Esse discurso do MST desconsidera a capacidade do sujeito receptor discernir e selecionar os produtos e mensagens midiáticas; em suma, reputa um poder imensurável à TV e seus discursos. As falas de jovens que estudam em escolas do MST expressam esse pensamento do movimento, no entanto, é interessante observar que ao se referirem ao modo como a TV é vista dentro do MST, especialmente pelos dirigentes, os jovens se distanciam dessas formulações à medida que utilizam a terceira pessoa do plural, talvez denotando que essas formulações não são suas. Como por exemplo nas seguintes falas:

- Na escola eles não incentivam muito a ver novela, essas coisas. Eles falam que é sempre bom assistir as coisas com um olhar crítico, porque tudo que aparece na televisão é uma forma de manipular o pensamento, de fazer da gente pessoas dóceis, mansos, para não pensar e não se revoltar contra tudo que tá aí (Camilo);

Ou:

- A gente quase não vê TV quando tá na escola, só, às vezes, o noticiário, mesmo assim sempre tem alguma atividade para a gente pensar sobre o que viu no jornal, sobre as intenções deles quando mostram uma ou outra matéria. É mesmo para aprender a ser crítico. E não aceitar tudo do jeito que vem na TV. (Gustavo);

As observações dos jovens sobre a mediação do MST em relação aos discursos da TV também assinalam a tentativa do Movimento de “educar” para uma audiência crítica à TV. Alguns dos entrevistados fazem relações engenhosas e articuladas sobre o consumo e a televisão em nossa sociedade:

- Os jovens são o foco do capitalismo hoje em dia, eles [o capitalismo] precisam de consumidores. A maioria da juventude tem a cabeça fraca e daí a rebeldia que é própria do jovem é canalizada para o consumo. A mídia, a TV, é a vitrine dos produtos do capitalismo... Tu pode ver que tão sempre te dizendo para comprar isso, consumir aquilo, vestir marca tal, calçar tênis isso ou aquilo que é melhor... Até o ser humano está na prateleira, onde tu ocupa o outro pra satisfazer teus prazeres sem nenhum compromisso. (Camilo);

Mas esse modo de ver TV mediado pelo discurso crítico do MST contribui também na forma de olhar de jovens que não têm engajamento político, que não é militante e que sequer pensa em dar continuidade à luta dos pais. No entanto, por ser filho de assentado, morar em um assentamento e ter sua formação mediada pelas narrativas

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do Movimento lhes possibilita um olhar peculiar em relação à mídia, especialmente no

que se refere à cobertura dada ao MST, como exposto na seguinte fala:

Em relação aos jornais eu vejo assim que eles apresentam uma notícia e em seguida tem um comentarista que te dá uma opinião sobre aquele acontecimento, então eu sempre fico de olho nisso. Por que eles têm que dá uma opinião também sobre o assunto? Por que eles não dão só o fato e deixam para que as pessoas pensem sobre o que foi mostrado? Isso eu acho assim, até nem gosto muito desses comentaristas. Eu gosto mais de ver um jornal que te dá a notícia e pronto, sem “firulas” de comentários e opiniões. Eu até escuto o que eles dizem, mas eu também tenho opinião sobre as coisas, eu não vou ficar aceitando o que eles tão dizendo só porque é um cara lá da TV. O problema é que as pessoas em geral não param para pensar sobre o que vê na TV, eles só vêem um Lasier Martins18 falar e já começam a repetir o que ele fala, sem nem se quer pensar sobre o que ele falou, se serve pra ti, se serve pra tua realidade... Eu acho isso. (Renato);

O discurso do MST atua como mediação do discurso televisivo, de forma mais incisiva junto aos jovens militantes ou estudantes de cursos técnicos das escolas do Movimento, que falam de “aprender a ser críticos”, de ver “o que está por trás” do que aparece na TV, ou, de forma menos engajada, mas que leva o jovem a desconfiar dos ditos televisivos. Essa mediação estabelece, ainda, uma relação de culpa por gostarem e se servirem dos conteúdos midiáticos. Assim, há sempre uma ressalva quando se admite gostar de ver televisão, ou junto com o que é considerado “lixo cultural” sempre é citado um outro programa que pode ser considerado menos “ruim”, menos prejudicial à formação de bons cidadãos conscientes, na ótica do Movimento.

Um outro aspecto é o da negociação que esses jovens fazem em relação aos modos com que o MST aparece na TV e esse senso crítico que reivindicam para si no ato de ver televisão. Quando perguntados sobre como descreveriam a forma com que o MST aparece na televisão, os sujeitos da investigação apresentam uma leitura muito particular, embora reconheçam, por um lado, que o Movimento é sempre associado à violência quando aparece na mídia, o que não lhes é agradável; por outro, direcionam críticas às formas de luta empreendidas pelo MST. Como que numa visão contraditória, ao mesmo tempo em que apontam o quanto a mídia narra o MST somente de uma maneira – violenta –, esses mesmos jovens chegam a repetir os

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Comentarista político da RBSTV no Rio Grande do Sul e apresentador de programa de entrevistas na Rádio Gaúcha, do mesmo grupo. A referência a este articulista não é à toa, já que Lasier Martins é identificado pelo MST como amigos dos ruralistas e um dos maiores críticos do Movimento no estado.

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“ditos” consagrados na TV e criticados

- Sobre a imagem do MST na televisão, principalmente, de associarem o MST à violência não é uma coisa muito boa. Na televisão eles são vistos como baderneiros, sempre aparece o pior, não é uma imagem que seja muito boa. Mas, acho também que não é só isso que o MST é, tem um outro lado. A TV talvez não mostre. A maioria das vezes só mostra o lado ruim. Às vezes a violência que aparece, que é mostrada na televisão, não precisava ser assim, mas também tem aquele outro lado que se tu não faz nada, tu não existe, tu não aparece, tuas reclamações e tuas necessidades nunca são ouvidas. No caso, eles fazem as manifestações... Talvez não precisasse de toda aquela violência, mas se não é assim... Se eles ficam muito calmos ninguém dá ouvidos. Aí quando acontece alguma coisa assim como aconteceu na Aracruz19, aí dá uma polêmica. Na televisão eles até aumentam as coisas... Aí é o MST que é feito de baderneiros, arruaceiros... (Vanessa).

A fala acima evidenciam um processo de negociação entre os sentidos dados pelo discurso midiático, que condena o MST e, o discurso do próprio movimento, que justifica ações mais incisivas como modo de garantir a atenção dos órgãos públicos e da sociedade. É interessante observar que há ainda nas falas dos jovens uma instabilidade na identificação com o MST, há momentos em que os jovens se referem ao Movimento como “eles”, e em outras situações reivindicam o “nós”, integram-se a esta organização, se reconhecem parte dela. Senão vejamos:

- O MST é sempre visto como violento, pode até ser que seja... Às vezes eu até acho que eles são muito violentos mesmo.

(...) Eu me sinto parte do MST. Não vou mais pro Encontro dos Sem Terrinha, mas ainda me sinto do MST. Porque é um movimento justo que luta pelos direitos das pessoas, que luta pela preservação do meio ambiente, que luta pelo direito das pessoas do campo ter educação, escola... É por isso que eu sou do MST. (Mário)

O tipo de leitura desses jovens em relação à cobertura da TV sobre o MST se distancia da leitura identificada por Fábio Cruz (2006) entre militantes do MST assentados no município de Canguçu (RS), no Assentamento Pitangueiras. Cruz (2006) analisou a repercussão da cobertura do Abril Vermelho, pelo Jornal do Almoço (RBSTV), entre membros do MST naquela localidade. Uma das principais conclusões a que chega o autor é que os integrantes do MST não se identificam com a imagem do Movimento exibida no Jornal do Almoço. De modo geral, podemos afirma que os

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Em março de 2006 um grupo de mulheres ligadas ao MST e Via Campesina ocuparam e destruíram instalações da Aracruz Celulose, em Barra Ribeiro/RS.

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jovens do Assentamento Capela também não se identificam com a imagem do MST na

TV, no entanto, fazem uma leitura mais flexível, que não responsabiliza totalmente o meio. Já na investigação de Cruz os ditos dos assentados reafirmam o discurso hegemônico no Movimento, ou seja, que a TV é instrumento do capitalismo para fomentar o consumo, a alienação, o conformismo, dentre outras mazelas. Nas entrevistas realizadas por Cruz para sua tese os assentados nomeiam os meios de comunicação, especialmente o grupo RBS, como máfia, enganadores, mentirosos e manipuladores.

CONCLUSÃO

A ideia de que os jovens são “influenciados” em demasia pelos meios de comunicação, especialmente a televisão, e que seria necessário libertá-los dessa visão alienada e capacita-los para uma assistência televisiva crítica, está distante do verificado na investigação. O que observamos na realização da pesquisa empírica é que nossa sociedade, e aí os sujeitos jovens estão incluídos, é cheia de instituições normalizadoras e, que a TV devida às características técnicas tem a capacidade de prescrever modos de ser, expandida.

A TV é um bom exemplo do que Foucault (1997) chamou de biopoder, ou seja, trata-se de um certo número de tecnologias a fim de contingenciar a vida dos humanos em certos campos experimentais: o que se pode ou não fazer, o que se deve ou não fazer com a saúde, a vida, a família, a sexualidade, a educação dos filhos, a morte. As imagens, sons e mensagens televisivas nos ensinam modos de existência socialmente aceitos, aconselháveis. Assim, as investidas sobre o corpo, a saúde, as maneiras de se alimentar, vestir, namorar, divertir-se, enfim, uma série de espaços de existência, nos fazem acreditar que toda a prescrição veiculada diariamente – aí está a eficácia da biopolítica – é parte de uma verdade que simplesmente ativa um curso histórico natural. Mas, como nos ensinou Nietzsche, (1991) toda moral é terrena e historicamente constituída.

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e modos de ser jovem do discurso televisivo e experiências de negociação, produção

de sentido e resistência empreendida cotidianamente pelos jovens do Assentamento Capela em relação a esses mesmos discursos, que entendemos possa germinar modos de ser sujeito mais livre, menos assujeitados pelos discursos hegemônicos na sociedade.

Assim, a postura de pais e professores que lidam diariamente com jovens de assentamento poderiam ter em mente que, para além do bem e do mal, esses sujeitos são plurais e suscetíveis aos apelos de nosso tempo, mas que também são capazes de produzir sentidos próprios, em relação aos diversos discursos que os cercam, inclusive os da TV e do MST. Essa singularidade é relevante se levada em conta nas relações de poder estabelecidas na família, na escola e em outras tantas instituições, posto que não há mal em exercer-se o poder, de pais em relação aos filhos, de professores em relação aos seus alunos ou vice-versa, já que as relações de poder são móveis. Endereçar-se aos jovens observando essas peculiaridades pode contribuir decisivamente para sua formação, como cidadãos.

Uma lição que podemos aprender com os jovens do Assentamento Capela é em relação à alteridade. Em alguns depoimentos pode-se rastrear o “outro” como referência para a constituição de si mesmo; embora anunciado o desejo de ser um igual, os jovens assentados reivindicam o ser diferente. Na perspectiva foucaultiana, falar de alteridade, falar do outro, seja ele quem for, é sempre falar sobre o outro do mesmo – isto é, literalmente dependente dele, definido por ele, modelado, nomeado, identificado e circunscrito por ele. E talvez, o mais relevante ensinamento seja que a alteridade está aí, e é constituinte da diferença e o que podemos tentar construir, em educação e em comunicação, são práticas de convívio no dissenso, na diferença, em meio aos outros.

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SOBRE A AUTORA: Professora no curso de comunicação social da Universidade Federal do Pampa (Unipampa), campus São Borja/RS. É Doutora em Comunicação e Informação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Conceito 5), com estágio sanduíche no Centre DÉtude des Images et des Sons Médiatiques (CEISME), na Université Sorbonne Nouvelle - Paris 3. Mestre em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2007). É Graduada em Comunicação Social (Jornalismo) pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (2002).Email: sarafeitosa@unipampa.edu.br

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