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A ausência de nacionalidade como fator de risco à condição do cidadão estrangeiro: a questão jurídico-social dos apátridas como uma nova construção do pensamento jurídico internacional

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GUILHERME VIEIRA BARBOSA

A AUSÊNCIA DE NACIONALIDADE COMO FATOR DE RISCO À CONDIÇÃO DO

CIDADÃO ESTRANGEIRO: A QUESTÃO JURÍDICO-SOCIAL DOS APÁTRIDAS

COMO UMA NOVA CONSTRUÇÃO DO PENSAMENTO JURÍDICO

INTERNACIONAL

(2)

GUILHERME VIEIRA BARBOSA

A AUSÊNCIA DE NACIONALIDADE COMO FATOR DE RISCO À CONDIÇÃO DO

CIDADÃO ESTRANGEIRO: A QUESTÃO JURÍDICO-SOCIAL DOS APÁTRIDAS

COMO UMA NOVA CONSTRUÇÃO DO PENSAMENTO JURÍDICO

INTERNACIONAL

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-graduação em Direito, da Faculdade de Ciências

Humanas e Sociais, Universidade Estadual

Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, como

requisito para obtenção do Título de Mestre em

Direito. Área de concentração: Sistemas

Normativos e Fundamentos da Cidadania.

Orientador: Prof. Dr. Carlos Eduardo de Abreu

Boucault

(3)

Barbosa, Guilherme Vieira.

A ausência de nacionalidade como fator de risco à condição do

cidadão estrangeiro : a questão jurídico-social dos apátridas como

uma nova construção do pensamento jurídico internacional / Gui-

lherme Vieira Barbosa. – Franca : [s.n.], 2015.

385 f.

Dissertação (Mestrado em Direito). Universidade Estadual

Paulista. Faculdade de Ciências Humanas e Sociais.

Orientador: Carlos Eduardo de Abreu Boucault

1. Cidadania (Direito internacional privado). 2. Politicas publicas.

3. Direitos sociais.I. Título.

(4)

A AUSÊNCIA DE NACIONALIDADE COMO FATOR DE RISCO À CONDIÇÃO DO

CIDADÃO ESTRANGEIRO: A QUESTÃO JURÍDICO-SOCIAL DOS APÁTRIDAS

COMO UMA NOVA CONSTRUÇÃO DO PENSAMENTO JURÍDICO

INTERNACIONAL

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Direito, da Faculdade de

Ciências Humanas e Sociais, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”,

como requisito para obtenção do Título de Mestre em Direito. Área de concentração:

Sistemas Normativos e Fundamentos da Cidadania.

BANCA EXAMINADORA

Presidente:_________________________________________________________________

Prof. Dr. Carlos Eduardo de Abreu Boucault

1º Examinador(a):___________________________________________________________

2º Examinador(a):___________________________________________________________

(5)
(6)

Primeiramente, é meu dever (e principalmente imenso prazer) agradecer a Deus! Sou

grato ao Senhor por toda capacidade, toda sabedoria e todo conhecimento derramado sobre minha vida

durante esses anos de mestrado. Em alguns momentos pude sentir Seu cuidado especial, Sua

assistência certeira, Sua estratégia perfeita, e Sua longaminidade e paciência transbordantes enchendo

minha vida. Jesus é fiel! A Ele toda honra, glória e louvor! Pois sem Ele jamais estaria fazendo

Direito, sem Ele jamais estaria fazendo Mestrado, sem Ele jamais estaria na UNESP! Receba este

trabalho e todo esforço aqui investido ao longo de todo este tempo como glorificação do Seu Nome

Senhor, pois tudo vem de Ti, tudo é por Ti e tudo é para Ti!

Impossível não olhar para mim, minha formação, minhas conquistas e minha vida

profissional sem brilhar o reflexo da luz dos meus pais! Pai e mãe, Marco e Sandra, acredito que nem

em meus sonhos e melhores perspectivas e idealizações eu poderia ter imaginado pais mais

sensacionais e extraordinários que vocês! Vocês são simplesmente incríveis! Fantásticos! Os

melhores! Não, não é jargão! Pois eu sei que muitos ao meu redor gostariam de ter vocês como pais!

Vocês são Os melhores! Que cada palavra que foi escrita aqui, que cada página dessa dissertação, que

cada pensamento aqui desenvolvido seja uma forma de exaltação por todo esforço, sacrifício, tempo,

choro, orações, apoios, propósitos, conversas e recursos gastos comigo! Não consigo e acho que

jamais conseguirei retribuir tudo que vocês fazem e já fizeram por mim! Não tem preço! Ainda que

vocês muitas vezes não me deixem ver, perceber ou saber, eu sei que o esforço para formar um filho

na UNESP e agora torná-lo mestre foi grandiosooo! Foram muitos planos pessoais deixados de lado,

muitos projetos que ficaram de escanteio para que eu pudesse estar aqui, agora, escrevendo o quão sou

grato por me tornar mestre! Vocês sabem o quanto de suor, sangue e lágrimas escreveu esta

dissertação! Esse sonho só foi possível graças a vocês! Essa conquista é principalmente de vocês! Essa

vitória é sobretudo de vocês! Não duvidem de que Jesus tem uma porção especial e dobrada por todo

investimento e amor que vocês me dão! Vocês são minha base, meu alicerce, meu porto seguro, meus

melhores amigos! Hoje o investimento de vocês alcança novos patamares, e em momento algum

duvidem, pois tudo que sou e consegui é fruto de vocês e do incansável e imensurável amor de vocês!

Pois sem vocês talvez já teria desistido, talvez não teria alcaçado...mas com vocês formamos uma

equipe imbatível, vitoriosa e que só obtém o sucesso! Amo vocês de uma forma que seria impossível

colocar no papel, pois necessário seria outra dissertação desse tamanho apenas para começar a

introdução do tamanho deste amor! Vocês me inspiram, espero um dia ser 10% do que vocês já são!

Se alcançar isso, já ficarei feliz! Homem e mulher exemplos! Vocês são minha vida, minha essência,

meu tudo e com maior sinceridade e gratidão do universo eu digo: Muito Obrigado!!! O melhor ainda

está por vir! Eu creio e viveremos isso pai e mãe! Amo vocês!

(7)

participação considerável de vocês! Sabe, sei que não foi fácil durante alguns momentos, mas agora

alegrem-se pois vocês podem dizer com orgulho que essa vitória também é de vocês! Espero um dia

conseguir retribuir à altura do que vocês merecem, e olha, é muitoooo! Que Jesus derrame sobre cada

um de vocês toda sorte de bênçãos humanas e espirituais de forma especial! Mas não tenham dúvida

de que de igual forma, o maior tesouro de vocês está nos céus! Muito obrigado! Amo vocês!

Agradeço ainda todos os meus amigos por todo apoio, palavra de estímulo, de animo e de

força que me deram ao longo desse tempo! Seria injusto citar nomes sob o risco de esquecer alguém,

mas saibam que cada um está gravado de forma especial me meu coração, e peço a Deus para que

possamos ter amizades longas e assim uma dia retribuí-los da forma devida! Vocês me ajudam, me

inspiram e me blindam! Muito obrigadoooo! Amo vocês! É de muita importância agradecer de forma

especial também à minha igreja, a Primeira Igreja Batista de Araçatuba, em destaque aos meus

pastores, líderes, supervisores, ao meu discipulador, e aos meus amigos! Vocês são tops! Os melhores!

Não podia ter pedido irmãos mais feras do que vocês! Aprendo e me constranjo dia após dia pelo amor

de Cristo em vocês! São verdadeiros referenciais de como andar no caminho da verdade! Que Deus

abençoe ricamente cada um de forma especial! Chegaram para abalar minhas estruturas e impactar

minha vida! Que cada oração, apoio, estímulo, risos, incentivos e sustento seja para glorificar a Deus,

mas jamais esquecerei, e espero da mesma maneira ser capaz de retribuir aqui o que vocês fizeram e

fazem por mim! Deus fará grandes coisas em nosso meio! Eu creio! Amo vocês! Vocês são os

melhores! Um só time, uma só família, um só corpo! Somos um! E isso é só o começo!

E por fim, mas tãooo fundamental e essencial, e por isso merece destaque gostaria de

agradecer ao meu orientador, professor Carlos Eduardo de Abreu Boucault, mais conhecido

carinhosamente como Prof. Boucault, por simplesmente ser O melhor! Professor, não consigo descrever

como é ter a oportunidade de caminhar contigo, o privilégio de aprender com o senhor e a honra de ser

orientado por ti! É sensacional! Creio ao longo de tantos anos de orientação, fomos nos conhecendo,

amadurecendo e enfim hoje posso dizer que meu orientador é um amigo! Obrigado por acreditar em

mim, por me escolher! E principalmente obrigado toda compreensão, por todo ensinamento, por cada

palavra e diretriz, pois sei que o senhor transcendeu e muito o seu dever funcional! O senhor agiu na

excelência! O que chega a ser quase redundante, pois dizer Prof. Boucault e excelência na mesma frase é

quase dizer isso duas vezes repetidamente! Todo ensinamento estará para sempre em minha vida! Muito

obrigado professor! Não consigo descrever meu respeito, admiração e gratidão pelo senhor! Espero o

senhor ainda para um tradicional churrasco araçatubense! E não há escapatória, o senhor será meu juiz de

paz no meu casamento! kkkk! Muito obrigado professor, de verdade e de coração!

(8)

“Pregue o evangelho a todo tempo,

se necessário use palavras”

(Francisco de Assis)

“O homem pode perder todos os chamados

Direitos do Homem sem perder sua qualidade

essencial de homem, sua dignidade humana.

Só a perda da própria comunidade é que

(9)

Direito) - Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Estadual Paulista "Júlio de

Mesquita Filho", Franca, 2015.

RESUMO

A pesquisa tem por objetivo examinar a problemática e a questão dos apátridas, partindo da

afirmação da nacionalidade como bem jurídico fundamental e universal a todos os indivíduos

ao redor do mundo, abordando os casos incidentes de sua perda e os reflexos sobre as grandes

dificuldades em se proteger tais indivíduos. Visa analisar, sob um panorama e um contexto

jurídico-social, além de sob a óptica dos Direitos Humanos e dos princípios fundamentais ao

homem, as soluções e medidas propostas pelos vários institutos do Direito Internacional já

existentes em relação à situação dessas pessoas, visando afirmar e resguardar jurídica, social,

política e diplomaticamente o direito a uma identidade, a uma cidadania e a uma

nacionalidade reconhecida perante todos os Estados, colocando em xeque e flexibilizando

preceitos e ideais até então absolutos, como a soberania dos Estados. Assim, aborda a

situação, os institutos, as particularidades, os tipos e demais matérias envolvendo a definição

e contextualização da apatridia ao redor do mundo, afirmando a necessidade de renovação e

reestruturação dos mais variados institutos, ferramentas, instrumentos e pensamentos

jurídicos, como por exemplo a própria noção de cidadania e nacionalidade, que incidem sob

questões sociais e culturais, como a dos apátridas. Expõe daí, sob a ótica nacional e

internacional, a evolução e formação de um novo pensamento e ideal jurídico internacional a

partir da revisão, ampliação, relativização e flexibilização, a partir da construção histórica do

saber jurídico, de muitos institutos, preceitos, bens e valores do Direito em si, sobretudo do

Direito Internacional, em prol da melhoria da situação dos apátridas; do fim prático dos

limbos legais de ausência de nacionalidade e cidadania; da maior humanização no tratamento,

respeito, tolerância e acolhimento ao ser humano, principalmente o estrangeiro; e da

efetividade e tutela dos direitos fundamentais do homem, e plenamente aplicáveis aos

apátridas.

(10)

Humanities and Social Sciences, São Paulo State University "Júlio de Mesquita Filho",

Franca, 2015.

ABSTRACT

The research aims to examine the issue of the stateless persons; it based on the affirmation of

nationality as a fundamental and a universal legal right to all individuals around the world,

addressing the incident cases of nationality loss and the reflections of the great difficulties in

protecting such individuals. Aims to analyze, in a social and legal context, as well as from the

perspective of the Human Rights and the fundamental principles of men, the solutions and

measures proposed by the various international law institutes in order to assert and safeguard

by the legal way, by the social way, by the political way and by the diplomacy way, the right

to a identity, a citizenship and a recognized before all states, easing precepts and ideals

hitherto absolute, as the sovereignty of national States. It addresses the situation, the

institutes, the features, the types and other matters involving the definition and the context of

statelessness around the world, furthermore it affirms the need to renewal and to restructure of

various institutes, tools, instruments and legal thoughts, such as example the notion of

citizenship and nationality, which focus on social and cultural issues, such as stateless

persons. It exposes under the national and the international perspective, the evolution and the

formation of a new international legal thought from the revision, the expansion, the relativity

and the flexibility, of the historical construction of legal knowledge, of the many institutes

and precepts, of the international law goods and values, in order to improve the situation of

stateless persons. It aims to flexible and to improve the end of the legal limbo of nationality

and citizenship absences. It also approaches a better humanization of treatment, of respect, of

tolerance and of acceptance to humans, especially foreign people. Lastly it objectifies the

need to effective and protect the fundamental human rights, especially the rights applicable to

stateless persons.

(11)

ACNUR

Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados

AG

Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas

AI

Anistia Internacional

CF

Constituição Federal do Brasil

CIJ

Corte Internacional de Justiça

CONARE

Comitê Nacional para Refugiados

Convenção de 1951 Convenção Referente ao Estatuto dos Refugiados de 1951

Convenção de 1954 Convenção sobre o Estatuto dos Apátridas de 1954

Convenção de 1961 Convenção para a Redução dos Casos de Apatridia de 1961

CPF

Cadastro de Pessoas Físicas

CS

Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas

CTPS

Carteira de Trabalho e Previdência Social

Declaração de 1948 Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948

ECOSOC

Conselho Econômico e Social das Nações Unidas

ER

Estatuto de Roma

EUA

Estados Unidos da América

FAO

Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura

Frontex

Agência Europeia de Gestão da Cooperação Operacional nas Fronteiras

Externas

IDP

Deslocados Internos (

Internally Displaced Person

)

LN

Liga das Nações

MJ

Ministério da Justiça do Brasil

MSF

Médico Sem Fronteiras

OIM

Organização Internacional para as Migrações

OIR

Organização Internacional para os Refugiados

OIT

Organização Internacional do Trabalho

OMS

Organização Mundial de Saúde

ONU

Organização das Nações Unidas

PACs

Projetos Alternativos Comunitários

PAM

Programa Alimentar Mundial

PF

Polícia Federal do Brasil

(12)

PNUMA

Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente

Protocolo de 1967 Protocolo Referente ao Estatuto dos Refugiados de 1967

SESC

Serviço Social do Comércio

SPM

Serviço Pastoral dos Migrantes

TPI

Tribunal Penal Internacional

TN

Tribunal de Nuremberg

UE

União Europeia

UN

United Nations

UNCHR

Comissão das Nações Unidas para os Direitos Humanos (

United

Nations Commission on Human Rights

)

UNESCO

Organização para a Educação, a Ciência e a Cultura

UNHRC

Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas (

United Nations

Human Rights Council

)

(13)

INTRODUÇÃO ... 14

CAPÍTULO 1 A NACIONALIDADE COMO DIREITO UNIVERSAL

DO SER HUMANO ... 18

1.1 O princípio da dignidade da pessoa humana e nacionalidade ... 18

1.1.1 A intolerância, o desrespeito, a xenofobia e o preconceito ao estrangeiro como fator de

risco à dignidade humana e ao princípio da igualdade entre os povos ... 26

1.2 A nacionalidade como bem jurídico fundamental ... 37

1.2.1 Nacionalidade e cidadania: conceito, princípios e pressupostos ... 42

1.2.2 A asseguração e previsão como direito na Declaração Universal dos Direitos

Humanos de 1948 ... 55

1.2.3 Os principais critérios de aquisição de nacionalidade: uma análise dos principais

propulsores e receptores de apátridas no mundo... 62

1.3 Soberania dos Estados versus direito internacional dos apátridas à nacionalidade .. 71

1.3.1 A construção da soberania do Estado no cenário internacional ... 71

1.3.2 A flexibilização dos ideais do Estado a partir da implementação dos princípios de direito

internacional e do direito de nacionalidade ... 88

1.3.3 O fortalecimento do direito internacional e a nova postura intervencionista das

organizações internacionais e interestatais... 105

CAPÍTULO 2 PRECEITOS E FUNDAMENTOS DA APATRIDIA NO DIREITO

INTERNACIONAL ... 118

2.1 Conceito, tipos e pressupostos da apatridia ... 118

2.1.1 O conceito de apátridas... 118

2.1.2 Os pressupostos e as causas da apatridia ... 131

2.1.3 Classificação dos tipos reconhecidos de apátridas ... 141

2.2 Apatridia e refúgio ... 150

2.2.1 Identificação e aproximação do apátrida com o refugiado ... 150

2.2.2 A questão do refugiados ambientais ... 161

(14)

2.3.2 A Convenção sobre o Estatuto dos Apátridas de 1954 e a Convenção para

a Redução dos Casos de Apatridia de 1961 ... 183

2.3.3 O papel desempenhado pela Organização das Nações Unidas (ONU) ... 195

2.3.4 Os esforços do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) .... 203

2.3.5 As principais normas nacionais e internacionais subsidiárias de proteção

e amparo aos apátridas ... 212

CAPÍTULO 3 A NECESSÁRIA MUDANÇA DO PENSAMENTO

JURÍDICO-DIPLOMÁTICO INTERNACIONAL DE PROTEÇÃO AO

ESTRANGEIRO E A TUTELA JURÍDICO-SOCIAL DA

APATRIDIA NO ÂMBITO GLOBAL E BRASILEIRO ... 226

3.1 A adequação dos institutos jurídico-sociais à realidade dos migrantes

sem documentos ... 226

3.1.1 O uso do refúgio como instituto subsidiário e capaz para todos os casos de

apatridia, e não apenas quando constatada perseguições, diante da ausência,

omissão ou passividade dos Estados ... 226

3.1.2 A aproximação da apatridia com a noção de cidadania nacional e sua construção

social no regime internacional através da proposta de uma cidadania liberal ... 230

3.2 A efetivação das normas de Direitos Humanos para os apátridas ... 237

3.2.1 A diminuição do limbo legal da nacionalidade pelos países ao redor do mundo: a

alteridade e a hospitalidade como ponto de partida para um direito de igualdade,

identidade e respeito entre os povos... 237

3.2.2 Grupos vulneráveis e Direitos Humanos: a tutela jurídico-social das minorias ... 247

3.2.3 Soberania dos Estados versus Direitos Humanos: a afirmação das normas

internacionais de direitos fundamentais ... 255

3.3 Os direitos e deveres dos apátridas no plano internacional e a necessidade de

mudança da postura global conjunta frente à questão ... 263

3.3.1 A apatridia nos países desenvolvidos: os desafios, propostas e a necessidade

de maior participação jurídica e legislativa na proteção do estrangeiro

(15)

principais tribunais internacionais competentes sobre a matéria... 281

3.4 A realidade e as garantias efetivadas no Brasil ... 295

3.4.1 A obtenção de nacionalidade e cidadania no Brasil ... 303

3.4.1.1 Dos princípios presentes na Constituição Federal de 1988 aplicados

à nacionalidade ... 303

3.4.1.2 A aquisição de nacionalidade originária e derivada ... 310

3.4.1.3 A cidadania no Brasil ... 323

3.4.2 A perda da nacionalidade brasileira... 329

3.4.3 Brasileiros apátridas: um panorama sobre a questão da apatridia no Brasil ... 335

3.4.4 Os esforços governamentais para a erradicação de pessoas no limbo legal

da nacionalidade ... 341

CONCLUSÃO ... 349

(16)

INTRODUÇÃO

Com o aprimoramento da comunidade internacional e o intenso desenvolvimento

da sociedade de Estados que a compõe, novos rumos começam a ser traçados, novos

benefícios e conquistas são almejados e alcançados, mas também novos desafios e questões

surgem para serem lidados sob uma óptica cada vez mais humanista, justa, coletiva e

igualitária, e dentre os vários, um dos que mais se destaca é a proteção dos grupos vulneráveis

de pessoas, que estão a mercê de qualquer amparo jurídico-social e político e as vezes,

possuem até seus bens jurídicos fundamentais e direitos inerentes ameaçados ou já lesados

pela opressão avassaladora do homem sobre o próprio homem. É sob esse prisma que se

insere o estudo dos apátridas, um dos grandes desafios para a humanidade do século atual, já

que demanda um esforço para sistematizar as normas de proteção internacional,

principalmente as aplicadas às diferentes situações de migração, recepção, tolerância e

acolhimento ao estrangeiro desamparado, visto que um dos árduos compromissos da

comunidade internacional é o de aprimorar e efetivar a proteção dos direitos humanos

basilares já assegurados a todas as pessoas em movimento e que estão sem qualquer tutela e

amparo nacional ou internacional devido a fatores estruturais e básicos, como por exemplo, a

falta de nacionalidade na questão dos apátridas, que atinge diretamente um direito

fundamental do ser humano.

Ora, é basilar a noção de que os direitos do homem, por mais fundamentais,

essenciais e mínimos que sejam, são direitos históricos, ou seja, são resultados do desenrolar e

soma de determinadas circunstâncias ao longo do tempo, marcadas por intensas e árduas lutas

em defesa de novas liberdades contra velhos poderes, mas de igual forma, nascidos de modo

gradual, nunca todos de uma única vez, mas principalmente nem de uma vez por todas. E em

foco, destaca-se aqui o direito fundamental da nacionalidade, tão relevado por alguns e tão

sonhado por outros, como os apátridas.

(17)

isso não possuem relação de direitos e obrigações com nenhum Estado. Em relação aos

apátridas, nacionalidade não é um conceito meramente jurídico, mas sim uma realidade

inconveniente e uma barreira que dificulta a aplicação do Direito em seu viés humanista,

valorizando o próprio ser humano, o que o caracteriza como Ciência Social Aplicada e por

isso deve servir e corresponder à sociedade que o criou, sob risco de caos total e a exploração

do homem tornar-se comum e a principal saída diante das dificuldades e omissões estatais e

internacionais.

Como será oportunamente melhor estudado, os apátridas são indivíduos, que

devido a causas circunstanciais ou pré-estabelecidas pelo Estado origem, não possuem

nacionalidade, e por isso não possuem relação de direitos e obrigações com nenhum Estado.

Em um quadro triste, em suma, são pessoas que viram seu estado pessoal em intensa

degradação, já que chegam a estar convencidos, como minorias que são, de que a perda de

direitos nacionais é praticamente idêntica à perda dos direitos humanos, e de fatotal

pensamento não se afasta do que realmente é na realidade, já que a primeira perda leva na

prática à segunda.

(18)

novos ideais do pensamento jurídico internacional a partir da renovação e o surgimento de

institutos capazes de tutelar, amparar e proteger a questão, como é o caso da criação do

instituto do refugio, por sua vez. Daí, o principal propulsor jurídico prático nessa questão se

situa no âmbito dos refugiados ambientais, sobretudo os casos incidentes das ilhas oceânicas

do Pacífico e do índico, como as Maldivas, Kiribati e Tuvalu, já que tais arquipélagos estão

sumindo e submergindo com si todo um país e um povo, localizando-se, desse jeito, dentro

também nos liames da identidade social e da nacionalidade.

Isso demonstra a importância da temática, pois a nacionalidade não é

simplesmente parte integrante e resultante da situação dos apátridas, mas sim se situa na base

de sua fundação de outros institutos e instrumentos do próprio Direito, como o refúgio, e hoje

tem encontrado novos horizontes com as mudanças climáticas. Apesar dos esforços no

desenvolvimento e projeção dessa matéria, ela já se situa regulamentada na Declaração

Universal de Direitos do Homem, em seu art. 10, no art. 15 da Declaração Universal dos

Direitos Humanos de 1948 e na própria Constituição Federal brasileira em seu art. 12, está

enfatizando a igualdade de direitos entre os cidadãos natos e naturalizados. Portanto, essa é

mais uma dificuldade encontrada pela coletividade mundial como um todo, pois nenhum país

suporta ou tem condições de arcar com o ‘encargo’ de receber e acolher números vantajosos

de pessoas apátridas, já que conforme o seus discursos desestabilizaria toda a sua estrutura

social, jurídica, política e econômica; contudo vital é a mudança e reconstrução do

pensamento jurídico internacional incidente na questão, afastando toda discriminação e

preconceito ao estrangeiro, pois com a união dos Estados nesse projeto, os efeitos e as

consequências seriam mínimas, somente simbolizados nos direitos e garantias concedidos a

esses povos sem pátria, que somente querem e precisam viver, mas que atualmente almejam

apenas sobreviver.

(19)

Direitos Humanos incorporados nos indivíduos que se veem perante a ausência de um

pressuposto básico de existência: a nacionalidade.

(20)

CAPÍTULO 1 A NACIONALIDADE COMO DIREITO UNIVERSAL DO SER HUMANO

1.1 O princípio da dignidade da pessoa humana e nacionalidade

O conceito “dignidade da pessoa humana” pode ser considerado muito abrangente

e até vago demais quando trazido à realidade jurídico-social de cada país, e sobretudo, no

plano internacional. O termo surgiu com Tomaz de Aquino, responsável por utilizar

primeiramente a expressão

dignitas humana

, termo este que foi seguido e adotado aos poucos

por um número indeterminado de autores ao longo dos anos, até se consolidar de forma

efetivada como o é nos dias atuais.

A ideia de dignidade da pessoa humana surge da necessidade de uma consistente

reafirmação expressa e indiscutível do valor da pessoa humana em si como fundamento e

elemento basilar de uma ordem jurídica justa e de uma sociedade equânime e igualitária. A

dignidade da pessoa humana de forma especial sintetiza e conglomera harmonicamente todos os

direitos humanos fundamentais já assegurados e reconhecidos no plano interno e

internacionalmente num só direito, único e absoluto princípio chave, um alicerce central de todas

as relações humanas; assim, a dignidade humana veste a roupagem da percepção que o próprio ser

humano tem de sua capacidade física e psíquica, além de autodeterminação consciente, de suas

necessidades, de seus valores inerentes e de sua garantia moral e jurídica frente a coletividade.

1

[...] seja no âmbito internacional, seja no âmbito interno, [...] a dignidade da pessoa humana é princípio que unifica e centraliza todo o sistema normativo, assumindo especial prioridade. A dignidade da pessoa humana simboliza, deste modo, verdadeiro superprincípio constitucional, a norma maior a orientar o constitucionalismo contemporâneo, nas esferas local e global, dotando-lhe de especial racionalidade, unidade e sentido.2

O princípio de dignidade da pessoa humana, esse direito imensurável, pode (e

deveria, de forma incontestável) ser considerado como um superprincípio, que conferiria norte

a todos os outros direitos fundamentais, e por isso, seria utilizado como base para o direito

interno de cada um dos Estados, e principalmente para o direito internacional, atuando neste

como um verdadeiro amálgama das diferenças, visto que apesar de línguas, culturas, políticas,

direitos, raças e religiões diferentes, somos todos seres humanos que no seu âmago visam uma

vida justa e digna, ou seja, almejam com intensidade a inserção do princípio da dignidade da

1 Cf. GARCIA, Maria. Limites da ciência: a dignidade da pessoa humana – a ética da responsabilidade. São

Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2004. p. 211-215

2 PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos, o princípio da dignidade humana e a Constituição brasileira de 1988.

(21)

pessoa humana em todas as áreas de sua vida de forma rotineira e cotidiana

3

. Assim, como

garantia de que todos desejam viver e não apenas precariamente sobreviver, faz-se vital a

proteção dos direitos humanos fundamentais a partir do cerne basilar da dignidade da pessoa

humana, pois como não há distinção e nem espécie de seres humanos sob tal óptica da

dignidade, esse direito se apresenta com amplitude universal e incisivo a todos e a todo

momento, visto que “O ser humano é, ele mesmo, um mundo humano, e ferir a dignidade de

alguém significa ferir o mundo inteiro.”

4

Nesse sentido:

O homem – na sua condição humana - é um ser universal. Os direitos humanos decorrem da condição humana; são, portanto, de caráter universal, aplicando-se ao ser humano, onde se encontre, bem como a tudo que detiver a qualidade humana. Essa qualidade de universal dos direitos humanos, da dignidade da pessoa humana faz com que permaneçam situados acima da própria soberania do Estado – motivo pelo qual, neste particular aspecto dos direitos humanos, o seu reconhecimento e efetividade, em termos internacionais, independem de que o Estado, no exercício da sua soberania, reconheça essa universalidade imperando, nesse caso, a ordem internacional.5

A partir deste pensamento, tem-se que a dignidade da pessoa humana, por ser um

princípio acima de todos, e que concede caráter humano a todos os outros, e por consequência que

alicerça o próprio valor de ser um humano, não depende e nem carece de qualquer Estado, em

seus mais variados modos de estruturação e organização, para assegurar internacionalmente ou

efetivar tal preceito, sobretudo, no cerne moral de cada um. No entanto, faz-se necessário a

presença estatal para assegurar e efetivar no plano jurídico interno o direito à dignidade, atuando

assim em prol e com maiores conformidades da realidade social e cultural de cada povo; contudo,

tais povos continuam sendo formados por seres humanos, e estes são humanos acima de qualquer

título ou reconhecimento Estatal, como o caso da nacionalidade. Portanto a dignidade da pessoa

humana é o valor supremo dos homens, o que justamente os diferencia dos outros animais, e que

por sua vez atribui a concessão de direitos e deveres para que possam preservar a vida digna dos

homens e favorecer uma relação social, quer seja individual com sonhos próprios ou coletiva com

a ideia do bem maior e do interesse comum.

6

Assim, a dignidade da pessoa humana se faz

3 Art. 2º, da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, in verbis: " Todos os seres humanos podem

invocar os direitos e as liberdades proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou outra, origem nacional ou social, fortuna, nascimento ou outro estatuto. Além disso, não será feita nenhuma distinção fundada no estatuto político, jurídico ou internacional do país ou do território da naturalidade da pessoa, seja esse país ou território independente, sob tutela, autónomo ou sujeito a alguma limitação de soberania." ONU. Declaração Universal dos Direitos Humanos. Nova Iorque, 1948. Disponível em: <http://www.mp.go.gov.br/portalweb/hp/7/docs/declaracao _universal_dos_direitos_do_homem.pdf>. Acesso em: 2 mar. 2015.

4 SOUZA, Ricardo Timm de. A dignidade da pessoa humana: uma visão contemporânea. Revista Filofazer,

Porto Alegre, v. 14, n. 27, p. 11, 2005.

5 GARCIA, Maria. Maria. Limites da ciência: a dignidade da pessoa humana – a ética da responsabilidade. São

Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 2004. p. 63.

(22)

protegida diretamente pela comunidade internacional, e pelos valores humanos pacificados

internacionalmente, o que concede ao plano global, através de suas instituições apropriadas, como

a Organização das Nações Unidas, por direito próprio impor sanções aos Estados transgressores e

violadores dos bens jurídicos inerentes à dignidade.

Ao contrário do que se pode pensar, a dignidade humana deve ser entendida como um construído histórico, em constante reconstrução e aperfeiçoamento, pautada na evolução da ideia do que vem a ser o ser humano e na compreensão dos valores e necessidades a ele inerentes. Sua complexidade se deve à própria complexidade do indivíduo e à forma pela qual externa a qualidade humana, desenvolvendo sua personalidade. Na medida em que assim considerada, a dignidade é fator irrenunciável e inalienável, devendo ser reconhecida como elemento próprio da condição humana, a ser respeitada, protegida e promovida.7

Desse modo, o máxima da dignidade humana "[...] representa o valor absoluto de

cada ser humano, que, não sendo indispensável, é insubstituível.”

8

Daí, se faz a relação com a

nacionalidade, pois está apresenta-se como uma das mais variadas formas de efetivação e

concretização no plano interno de cada país e no âmbito de representatividade na comunidade

internacional dos direitos, deveres e obrigações inerentes à própria dignidade humana. A defesa e

asseguração de direitos fundamentais em âmbito geral, como a dignidade humana, além dos bens

jurídicos essenciais da pessoa humana, no que cerne aos princípios inerentes e fundamentais do

homem, ou também reconhecidos e afirmados como os direitos humanos, é claro resguardada e

observada apropriadamente a concepção cultural e social de cada período, teve suas origens em

tempos bem remotos, podendo citar como um dos propulsores de temas envolvendo a questão, o

Código de Hamurábi

9

, em cerca de 1.690 a. C., que é exatamente quando se tem os primeiros

relatos da preocupação do homem em pensar em direitos e regras para proteção do próprio ser

humano, a partir de normas comuns a todos, ainda que rigorosas, mas eficazes no seu tempo.

Destaca-se, posteriormente, o papel importante de evolução do trabalhar da questão pelas

civilizações clássicas, em ênfase, os gregos e romanos. Os gregos foram responsáveis por

introduzir ao contexto de bens fundamentais do homem a noção inicial de cidadania, e com ela a

participação política dos cidadãos na polis, o que mais uma vez demonstra a relação entre o

direito à nacionalidade e a dignidade humana no próprio processo de evolução e construção dos

direitos fundamentais; além disso, foram os gregos os precursores do pensamento jusnaturalista.

7 SERRAGLIO, Priscila Zilli; BORTOLOTI, José Carlos Kraemer. A nacionalidade como direito humano

fundamental. In: MOSTRA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E EXTENSÃO COMUNITÁRIA, 7.; MOSTRA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO IMED, 6., 2013, Passo Fundo. Anais .... Passo Fundo: IMED, 2013. p. 11.

8 SARLET, Ingo Wolfgang. As dimensões da dignidade da pessoa humana: construindo uma compreensão

jurídico-constitucional necessária e possível. In: ______. (Org.). Dimensões da dignidade: ensaios de filosofia do direito e direito constitucional. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005. p. 19.

9 Cf. MORAES, Alexandre de. Direitos humanos fundamentais: comentários aos arts. 1 ao 5 da Constituição

(23)

Já os romanos, deixaram legados de maior influência jurídica e social, inclusive devido a própria

evolução de seu Direito e das ciências jurídico-sociais, e que até hoje contribuem para o

desenvolvimento da noção de direitos inerentes a todo individuo, sobretudo, por serem os

primeiros a elaboraram um complexo mecanismo de proteção aos direitos individuais.

Na Idade Média, não houve muita evolução e nem grande desenvolvimento na proteção

e afirmação dos bens fundamentais de todo homem, até, de certo modo, houve uma degradação de

sua tutela, pois devido à inexistência do Estado como figura garantidora dos direitos humanos no

âmbito nacional, reinou as relações de subordinação de um homem a outro, sem qualquer

observância rigorosa à sua dignidade e valores essenciais, historicamente reconhecidas como

relação de vassalagem (suseranos e vassalos). No entanto, importante destacar o período do fim da

Idade Média, quando já era introduzida a figura de um líder forte e competente baseado no rei,

sobretudo, em 1215 na Inglaterra, quando foi instituída e outorgada a Magna Carta pelo rei João

Sem-Terra, que se mostrou como um dos marcos da defesa dos direitos humanos, pois nela, dentre

vários outros direitos, assegurava a todos como direitos essenciais: o devido processo legal, a

liberdade de locomoção e a liberdade religiosa, abatimentos tributários (que significavam na época

uma diminuição e limitação do poder e atuação do próprio Estado), dentre outros. Destaca-se ainda,

nesse período, como documentos propulsores da defesa e afirmação dos bens fundamentais do

homem e dos direitos humanos, o

Habeas Corpus Act

de 1679, e a

Bill of Rights

de 1698.

(24)

assegurar os princípios fundamentais com a instituição da Declaração Universal dos Direitos

Humanos, em 1948, que sobretudo, em no início de seu preâmbulo

10

, além dos artigos 1º

11

, 13

12

,

14

13

e artigo 15

14

, por sua vez influenciou de maneira direta a maior proteção à pessoa humana no

âmbito nacional, e também internacional, afirmando a relação da dignidade humana com a

nacionalidade, não podendo esta ser barreira ou obstrução àquela, pois o Estado nada mais é do

que a maior figura garantidora dos bens jurídico-sociais fundamentais.

O conjunto institucionalizado de direitos e garantias do ser humano que tem por finalidade básica o respeito a sua dignidade, por meio de sua proteção contra o arbítrio do poder estatal, e o estabelecimento de condições mínimas de vida e desenvolvimento da personalidade humana pode ser definido como direitos humanos fundamentais.15

E a partir deste pensamento:

Os direitos pessoais, alçados ao plano internacional pela Declaração Universal de 1948 se estenderam efetivamente a quase todas as Constituições nacionais (não raro a termos equiparáveis ao da Declaração Universal), sendo ao mesmo tempo invocados no âmbito do direito interno.16

Nesse sentido, os direitos humanos fundamentais elencados nas suas variadas

gerações, colocam-se como uma das metas jurídicas absolutamente necessárias e essenciais a

todas as Constituições nacionais, no sentido de consagrar o respeito à dignidade humano a

priori, e assim garantir a limitação de poder arbitrário, o fim de violações e transgressões

17

, e

visar o pleno desenvolvimento da personalidade humana sem qualquer distinção de

nacionalidades. Ainda, expõe Daniele Martins, sobre a importância do Estado moderno na

defesa e afirmação dos direitos humanos a todo e qualquer ser humano:

10 Preâmbulo, da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, in verbis: "Considerando que o

reconhecimento da dignidade inerente e dos direitos iguais e inalienáveis de todos os membros da família humana é o fundamento da liberdade, justiça e paz no mundo [...]."

11 Art. 1º, da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, in verbis: "Todos os seres humanos nascem

livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade."

12 Art. 13, da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, in verbis: "1. Toda a pessoa tem o direito de

livremente circular e escolher a sua residência no interior de um Estado. 2. Toda a pessoa tem o direito de abandonar o país em que se encontra, incluindo o seu, e o direito de regressar ao seu país."

13 Art. 14, da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, in verbis: "1. Toda a pessoa sujeita a

perseguição tem o direito de procurar e de beneficiar de asilo em outros países. 2. Este direito não pode, porém, ser invocado no caso de processo realmente existente por crime de direito comum ou por atividades contrárias aos fins e aos princípios das Nações Unidas."

14 Art. 15, da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, in verbis: "1. Todo o indivíduo tem direito a

ter uma nacionalidade. 2. Ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua nacionalidade nem do direito de mudar de nacionalidade."

15 MORAES, Alexandre de. Direitos humanos fundamentais. São Paulo: Atlas, 2007. p. 20

16 TRINDADE, Antônio Augusto Cançado. Tratado de direito internacional e direitos humanos. Porto

Alegre: Sergio Antonio Fabris, 1997. p. 19-20.

17 Cf. SCHNEIDER, Jeferson. Direitos humanos e a reforma do Poder Judiciário. 2011. Disponível em:

(25)

A concepção atual de direitos humanos é produto de uma formação histórica, através da junção de conceitos filosóficos elaborados desde a antiguidade, passando pelas ideias trazidas pelo Cristianismo durante a Idade Média e vindo desembocar na concepção moderna de direitos humanos, sob a égide da filosofia jusnaturalista. Foi, portanto, o Estado moderno que consagrou a noção de direitos e, a partir dessa elaboração, inúmeras foram as mudanças havidas dentre desses direitos, até mesmo em sua positivação e eficácia. Assim, percebemos que a noção de direitos fundamentais é bem mais antiga que o processo de positivação, que só veio a ocorrer na modernidade a partir do estabelecimento da ordem burguesa, quando foi consagrada a necessidade de se estabelecer um rol mínimo de normas para a garantia da liberdade e da igualdade em um documento, limitando a atuação do Estado e restringindo a atuação do "Príncipe", despótico e arbitrário na condução de seus súditos, como aconteceu durante o Regime Absolutista.18

Deve-se atentar que para a questão em xeque envolvendo a relação de

dependência entre nacionalidade com o princípio da dignidade humana, a própria instituição

no âmbito internacional dos direitos fundamentais, com a Declaração de 1948

19

, e por

consequência as constitucionalizações no âmbito interno de cada Estado para uma maior

efetividade e aplicação prática sensível às realidades sociais e culturais locais e nacionais, não

significou apenas um mera enunciação formal de princípios, mas a plena positivação de

direitos, principalmente a asseguração no plano internacional e interno dos valores do próprio

homem, a partir dos quais qualquer indivíduo poderá exigir sua tutela nos padrões da

dignidade independente de nacionalidade. Daí o surgimento do Direito Internacional dos

Direitos Humanos, disciplina específica guardiã dos direitos fundamentais no cerne global e

que visa a garantir o exercício dos direitos criados pelo homem, para homem com a dignidade

que toda pessoa humana faz jus, independente de qual a sua nacionalidade.

[...] a nacionalidade é um direito fundamental ao estabelecer um vínculo jurídico político que conecta os indivíduos nacionais a um determinado Estado, conferindo-lhes direitos e obrigações; ao ser um pressuposto para a cidadania e para o exercício dos direitos civis e políticos; ao permitir a identificação e a determinação da origem dos nacionais, ao possibilitar a permanência no território nacional e, em regra, ao ser pressuposto para a obtenção de visto de imigração para outros Estados; ao impedir a deportação de indivíduos; ao permitir aos nacionais o reconhecimento de um local físico que os acolha no mundo; ao impedir que os indivíduos sejam expatriados ou proscritos de seu território de origem; e ao dificultar o desenvolvimento da sensação de isolamento do ser humano.20

Desse modo, nesse panorama de Estado Moderno é que os bens jurídicos

fundamentais, sob a roupagem jurídica dos direitos humanos, se desenvolveu e foi afirmado

de forma gradual e ascendente, conforme as necessidades e âmagos da época, e de acordo

18 MARTINS, Daniele Comin. Direitos humanos: historicidade e contemporaneidade. In: BOUCAULT, Carlos

Eduardo de Abreu; ARAÚJO, Nádia de. (Org.). Os direitos humanos e o direito internacional. Rio de Janeiro: Renovar, 1999. p. 253.

19 Cf. SOARES, Mário Lúcio Quintão. Direitos fundamentais e direito comunitário: por uma metódica de

direitos fundamentais aplicada às normas comunitárias. Belo Horizonte: Del Rey, 2000. p. 24-25.

20 BAPTISTA, Olívia Cerdoura. Direito de nacionalidade em face das restrições coletivas e arbitrárias.

(26)

com os diferentes resultados obtidos pelos mais variados movimentos sociais, políticos e

jurídicos ao longo dos tempos, e que foram frutos da efetivação plena da noção de cidadania,

primeiramente no âmbito interno, e depois transcendendo os limites do Estado, e alcançando o

plano internacional. Tais resultados obtidos reforçam a ideia de que a nacionalidade não pode

ser fator de limitação aos valores, bens e direitos inerentes do princípio da dignidade humana,

pois como já exposto, se este se apresenta sobre aquela, dando validade aos fins almejados por

pela noção de cidadania, e concedendo verdadeiro caráter humano ao ideal de nacionalidade

no âmbito global ou interno dos Estados. Não há direito humano que se sustente sem a

justificativa de defesa da dignidade do homem, e se a nacionalidade se apresenta como um

direito natural e essencial do ser humano e por ventura, um desdobramento do próprio direito

a uma vida digna

21

, deve ela também atentar-se para o homem em si e seus bens jurídicos

fundamentais e invioláveis, resguardados por um preceito digno e justo. Assim

Deve-se reestruturar este fundamento para que se possa voltar a falar em dignidade de forma digna, ou seja, uma dignidade humana, ou uma visão humanista ancorada na ideia de paz. [...] Uma dignidade que comporte o não-ser, o nada, o impuro, o sem pátria... o diferente - e um humanismo que tenha como ponto de partida a alteridade; antes mesmo da dignidade.22

Ainda, nesse sentido:

Não obstante, por manifestar-se para além do indivíduo, pressupõe o dever básico de respeito de uma pessoa em relação à dignidade humana das demais, sem que, com isso, precise privar-se da sua. A intersubjetividade, ou também denominada dimensão social da dignidade, apesar de gerar deveres, também cria direitos correlativos, e a sua promoção implica em uma maior proteção e efetivação das garantias fundamentais hoje existentes. Dita alteridade, base do Estado contemporâneo e da sociedade num todo, demanda o estabelecimento e a delimitação constantes de um corpo normativo em que estejam incluídos não só os direitos individuais e sociais, mas também os pressupostos a ocasionarem ações negativas (defensivas) e afirmativas (prestacionais) por parte do poder estatal, permitindo a concretude da dignidade da pessoa humana. Resulta evidente, então, que, em que pese a dignidade humana dar sentido e justificação ao exercício do poder pelo Estado, também freia, limita e equilibra a força de sua atuação, já que, em retomada aos ideais kantianos, o homem consiste na sua finalidade principal, e não mero meio para a atividade estatal. Afigura-se, portanto, que a dignidade humana é intrínseca ao indivíduo e define sua personalidade na medida em que este se comunica com o meio; porém, depende da ação do Estado para que se viabilize nas sociedades. Nesse encalce, a nacionalidade, traduzida no vínculo jurídico-político básico entre sujeito e Estado e, por conseguinte, formadora da personalidade, deve ser concebida como desdobramento da dignidade humana e ser assegurada pelos Estados, em qualquer lugar que o indivíduo se encontre.23

21 Cf. MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 24. ed. São Paulo: Atlas, 2009. p. 64.

22 PEREIRA, Gustavo Oliveira de Lima. Direitos humanos e transnacionalização: a questão dos apátridas pelo

olhar da alteridade. In: REUNIÃO DO GRUPO DE ESTUDOS SOBRE INTERNACIONALIZAÇÃO DO DIREITO E JUSTIÇA DE TRANSIÇÃO, 2., 2010, São Paulo. Anais.... São Paulo: IDEJUST, 2010. p. 12.

23 SERRAGLIO, Priscila Zilli; BORTOLOTI, José Carlos Kraemer. A nacionalidade como direito humano

(27)

Portanto, seguindo o raciocínio até então adotado, a dignidade humana deve

ser efetivada e considerada independentemente das circunstâncias concretas e particulares

que diferenciam ou associam cada indivíduo, como a nacionalidade, visto que todos os

homens são detentores de direitos para com os outros homens, já que são dotados de

consciência e razão, estas as grandes responsáveis pela básica diferenciação entre

humanos e coisas ou animais

24

, além de que todos são iguais em dignidade, preceito este

já alicerçado e fundamentado quando sequer havia a noção de nacionalidade em termos

absolutos e robustos como hoje e muito menos se tinha a noção de Estados organizados

como os atuais. Outrossim, a questão da dignidade é referencial porque integra e formata a

própria existência humana em si, visto que mantém uma íntima e cúmplice relação

conectiva com a o princípio da liberdade e o direito de autodeterminação pessoal

desprovida de qualquer limitação burocrática ou estrutural como a ideia de nacionalidade.

Contudo, nacionalidade e dignidade não são valores ou direitos antagônicos, mas pelo

contrário, como já afirmado, aquela se faz necessária para a afirmação desta, contudo em

hipótese alguma pode ser objeto de restrição ou obstrução da efetividade da dignidade

humana na óptica internacional ou nacional. Assim, cabe salientar que basicamente

consiste no fato de que enquanto o ser humano existir, deve ser respeitado o seu direito de

ser livre

25

e de ter uma vida digna, esta pautada na maneira que melhor representar os

anseios pessoais e os âmagos coletivos em que os indivíduos se inserem

26

, não sendo

barrados por qualquer eventual pressuposto estatal ou burocrático, como a ideia de

nacionalidade, na sua busca e conquista pela dignidade, visto ser a própria nacionalidade

meio e escala para se alcançar a digna justiça aos casos práticos e concretos, como o dos

apátridas, através da atuação efetiva do Estado, já que se apresenta assegurada na

comunidade internacional.

É à luz da ansiedade por justiça que a dignidade humana deve ser pensada e concebida, hoje. É essa dimensão ansiosa, incompleta, que descola a questão da dignidade humana do essencialismo em que irremediavelmente recai, quando abandonada a um seu conceito fora do mundo de sentido humano que a constitui.27

24 Cf. HEIDEGGER, Martin. Carta sobre o humanismo. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1967. p. 37-38. 25 Cf. SPAEMANN, Robert. Personas: acerca de la distinción entre “algo” e “alguien”. Navarra: Eunsa, 2000. p. 89. 26 Cf. LEVINAS, Emmanuel. Totalidad y infinito: ensayo sobre la exterioridad. Salamanca: Sígueme, 1999. p. 123. 27 SOUZA, Ricardo Timm de. Justiça em seus termos: dignidade humana, dignidade do mundo. Rio de Janeiro:

(28)

1.1.1 A intolerância, o desrespeito, a xenofobia e o preconceito ao estrangeiro como fator de

risco à dignidade humana e ao princípio da igualdade entre os povos

Em um mundo conectado onde as pessoas se comunicam, transitam e se relacionam

de forma rápida e quase instantânea, a inserção social, cultural e jurídica em uma coletividade se

faz mais do que básica, se faz necessária com vitalidade. Em um contexto global quando as

fronteiras ao mesmo tempo que se aproximam, tendem também a se enrijecer, estar inserido em

uma comunidade local, seja um sujeito nacional ou estrangeiro, se apresenta de maneira essencial

para o usufruto dos benefícios e direitos a que cada um detém. No entanto,se muitas vezes se

observa dentre de um próprio país o intenso preconceito, racismo

28

e discriminação por parcelas

de seus nacionais que detém características ou atributos que não são dominantes, como a raça, a

religião, a língua e até a cultura, imagina o mesmo impacto moral, jurídico, social e cultural de

tais atos de intolerância na figura da pessoa estrangeira

29

; cria-se verdadeiro e perfeito

enquadramento de uma forte xenofobia

30

. Porém, se levarmos em consideração a máxima de que

nada está tão ruim que não possa ficar pior, vislumbre este mesmo quadro com o estrangeiro em

território alheio que não detém qualquer vínculo com seu Estado de origem, pelos mais variados

motivos, ou seja, não possui sequer a nacionalidade e os direitos inerentes a esta; em suma, esta é

a situação dos apátridas em território estrangeiro.

O migrante de outro país quando adentra novo Estado, buscando melhores condições

dignas de vida ou mesmo até fugindo de situações insuportáveis de seu país de origem enfrenta

várias e incontáveis dificuldades, sejam elas no cerne político, jurídico, burocrático, cultural e

social. A opressão nestes dois últimos, quando não escancarados e sem qualquer pudor, se faz de

maneira tão implícita e crônica que mesmo quando apontado como discriminação e intolerância

inaceitáveis e que necessitam de imediata resolução, não são sequer admitidos socialmente. Ou

28 Sobre a relação de preconceito e racismo ao estrangeiro ou nacional: "Estreitamente ligados entre si são dois capítulos

que dedico à natureza do preconceito e ao racismo. A raiz do racismo não é apenas o preconceito, mas o preconceito reforça o racismo. É difícil pensar num indivíduo que esteja animado por uma forte aversão aos indivíduos de outra raça e que não procure justificar essa aversão recorrendo a juízos não sustentados por alguma prova de fato." BOBBIO, Norberto. Elogio da serenidade e outros escritos morais. São Paulo: Ed. UNESP, 2002. p. 16.

29 O termo nacional deve ser entendido no sentido de todo aquele que tem qualquer vínculo jurídico-político e

institucional com um determinado território constituído pela ideia de Estado atual. Já por estrangeiro, seria todo indivíduo que não deteria esse vínculo citado em nenhuma espécie ou desdobramento, ou que teria, mas que adentra território de outro Estado, por isso estranho ao país cujos direitos lhe são garantidos; a pessoa estrangeiro, daí, pode manter tal vínculo jurídico-político e institucional com um ou mais Estados, e se for dois ou mais, ter-se-ia caracterizada um indivíduo polipátrida; já um estrangeiro pode não ter qualquer vínculo com nenhum Estado, o que restaria caracterizada, em linhas gerais, um apátrida.

30 O termo xenofobia surge com o nascimento da ideia de Estado moderno e é formado pelo prefixo "xen", cujo

(29)

seja, em vários Estados, o discurso é de recepção e plena alteridade, contudo na prática a realidade

se apresenta totalmente o oposto, e pior, de forma acentuada; porém, mesmo diante de

divulgações e amplo apelo internacional ou de parcelas de nacionais por mudança em prol dos

estrangeiros, o discurso ainda predomina sobre a realidade, e infelizmente, em muitos desses

países, nem se reconhece ou se admite que a prática está falha, que o discurso não é real e que é

essencial uma mudança de postura na recepção de migrantes estrangeiros.

Assim, este é o contexto, de forma breve, que cerca e se baseia a realidade de

intolerância, inadmissão, discriminação e desrespeito para com o estrangeiro migrante que adentra

novo país em busca de uma vida digna e melhor. Em suma, tais estrangeiros, diga-se com ênfase

nos apátridas

31

, são considerados e taxados como verdadeiras válvulas de escape e bodes expiatórios

para todos os problemas sociais, culturais, políticos e estruturais enfrentados pelo país

32

, e que na

verdade, em suma, são reflexos mesmo é de uma desequilibrada e péssima gerência dos recursos e

do próprio país pelos seus nacionais, quase que unicamente. Deste modo, podemos conceituar por

válvula de escape toda alternativa ou opção viável e plenamente praticável na teoria e prática que

visa aliviar determinada situação a partir do uso de uma outra situação ou um certo panorama

proposto. Tal termo e "solução" quando aplicado no sentido de camuflar algo que não corresponde à

essência da verdade e à realidade propriamente dita aproxima-se muito do termo "bode expiatório".

Por bode expiatório entende-se no uso e escolha arbitrária de algo ou alguém que para

responsabilizar-se por determinada situação e assim levar sozinho a culpa, mesmo que seja inocente

ou que haja outros envolvidos, por qualquer evento, geralmente negativo, e que pelo qual real e

verdadeiramente não seja o responsável. É sob esse quadro e do contexto de relevante e extrema

onda de medo ao estrangeiro frente à soberania e os interesses estatais e sociais que se insere a

discussão da rejeição ao apátrida e demais estrangeiros em território forasteiro; usado como

perfeitos modelos exemplificativos das definições pejorativas e negativas de válvula de escape e

bode expiatório como forma de fundamentar o intenso e presente medo

33

ao estrangeiro.

31 É vedada toda forma de discriminação dos Estados realizada contra os apátridas conforme o próprio Estatuto

dos Apátridas de 1954. Artigo 3º, da Convenção sobre o Estatuto dos Apátridas de 1954, in verbis: "Proibição da discriminação. Os Estados Membros aplicarão as disposições desta Convenção aos apátridas, sem discriminação por motivos de raça, religião ou país de origem.". Além disso, o proprio Preâmbulo do Estatuto esboça inicialmente já, in verbis: "Considerando que a Carta das Nações Unidas e a Declaração Universal de Direitos Humanos,aprovada a 10 de dezembro de 1948 pela Assembléia Geral das Nações Unidas, afirmaram o princípio de que os seres humanos, sem nenhuma discriminação, devem gozar dos direitos fundamentais.Considerando que as Nações Unidas manifestaram em diversas ocasiões seu profundo interesse pelos apátridas e esforçaram-se para lhes assegurar o amplo exercício dos direitos e liberdades fundamentais." ONU. Convenção sobre o Estatuto dos Apátridas de 1954. Nova Iorque, 1954. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/D4246.htm>. Acesso em: 5 mar. 2015.

32 Cf. GUMBRECHT, Hans Ulrich. Xenofobia colateral. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 9 jan. 2011. p. J3. 33 FAUSTO, Nina Quiroga. Fronteiras abertas para a intolerência. O Globo, Rio de Janeiro. 17 out. 2009. Prosa

(30)

Na maior conferência realizada sobre o tema, alto comissário António Guterres afirma que “muitos se aproveitam para explorar sentimentos de medo e usam estrangeiros como bode expiatório”. O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados, Acnur, está realizando uma conferência para discutir como melhor proteger dezenas de milhões de refugiados e apátridas no mundo. [...] Ao abrir o encontro, nesta quarta-feira, o alto comissário para Refugiados, António Guterres, disse que as crises econômicas e políticas estão ameaçando milhões de refugiados. Guterres também criticou o que chamou de “políticos populistas e irresponsáveis” que fazem dos estrangeiros bodes expiatórios em momentos de crise. Segundo ele, muitos se aproveitam desses momentos para promover a xenofobia e o racismo.34

Daí, afirmar-se que os apátridas e demais migrantes que não possuem qualquer

amparo legal ou institucional mínimos em sua defesa são literalmente usados como válvulas de

escape para justificar os problemas nacionais e globais envolvendo direitos, garantias e

cidadanias, tais como saúde, emprego, moradia, educação, alimentação, etc., já que não há voz

forte estatal e muito menos um poderio nacional que exerça influencia ao seu favor e em sua

defesa, o que acentua ainda mais a situação, pois na maioria das vezes, como já delineado, os reais

fatores das consequências negativas nessas áreas são o descaso dos governantes e líderes internos

e internacionais; a grande demagogia política; as bases estruturais dessas áreas construídas de

forma precária e indiferente; a falta de investimentos públicos; a corrupção constante e crescente;

a sobreposição de interesses particulares sobre os coletivos e públicos; a vaidade administrativa; a

xenofobia; o preconceito a outros povos, raças, religiões e culturas

35

, dentre muitos outros. Essa

junta de fatores demonstram que perseguição ao apátrida e ao estrangeiro em si atingiu níveis

graves e elevados, pois se faz ainda na esfera política e jurídico-administrativa

36

, visto que as

ameaças e lesões a direitos e bens jurídicos fundamentais do migrante internacional não se fazem

somente no seu país de origem e/ou residência, e que por sua vez o forçaram a migrar, resultando

34 GRAYLEY, Mônica Villela. Número de refugiados é o mais alto dos últimos 15 anos. Rivista Digitale Oriundi, [S.l.],

dez.2011. Disponível em: <http://oriundi.net/site/oriundi.php?menu=noticiasdet&id=19154>. Acesso em: 14 set. 2012.

35 O preconceito a outros indivíduos começa a ganhar traços de maior seriedade e gravidade a partir do momento que vira

um preconceito coletivo, o que infelizmente se observa no contexto migratório dos apátridas e demais estrangeiros em vários países. "A periculosidade dos preconceitos coletivos depende do fato de que muitos conflitos ente grupos, que podem até mesmo degenerar violência, derivam do modo distorcido com que um grupo social julga o outro, gerando incompreensão, rivalidade, inimizade, desprezo ou escárnio. Geralmente, este juízo distorcido é recíproco e em ambas as partes é tão forte quanto mais intensa é a identificação entre membros individuais do próprio grupo. A identificação com o próprio grupo faz que se perceba a outro como diverso, ou mesmo hostil." BOBBIO, Norberto. Elogio da serenidade e outros escritos morais. São Paulo: Ed. UNESP, 2002. p. 105. nota 198.

36 "Os imigrantes representam a parte mais duramente explorada da classe trabalhadora, são fáceis de ser conduzidos, e

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