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Academic year: 2021

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(1)135. está submetido às regras gerais do Arranjo. As células, portanto, são grupos que se organizam nas casas e seus membros subordinam-se por um lado, a uma agenda construída previamente pelo fundador e disseminada pelas lideranças e, por outro, às regras organizacionais da Fanuel. A inserção de novos membros realiza-se em cumprimento de algumas fases de “engajamento”: a) O neo-discípulo: após participar de três reuniões consecutivas na célula, efetiva sua participação no grupo dando início ao caminho do discipulado. b) discípulo a caminho: após ter passado pela formação inicial que inclui o chamado Encontro de vida plena em que o neófito se aliena do mundo durante um final de semana: Pra você participar, você nos visitou hoje, a semana que vem você vai novamente na próxima semana você vai, na quarta semana consecutiva, na quarta visita consecutiva você é considerado membro da célula, você é... Considerado membro da célula,... A partir disso, nós começamos a trabalhar você para o primeiro encontro da nossa comunidade, que chama encontro da vida plena. Fazemos em uma chácara em um local bem retirado, que você fique o tempo todo em oração, o tempo ali, pensando somente naquilo e desligue totalmente das coisas externas, nada de... celular... tudo, desliga de tudo (líder de célula, grifo nosso). No próximo estágio o discípulo torna-se c) efetivo, isto é, tendo concluído as etapas da formação inicial, assume um compromisso maior com a comunidade. O novo membro passará por um processo de assimilação do carisma da comunidade, sua história, desafios e aulas de formação do que é ser discípulo Fanuel. E por fim, d) discípulo de vida dedicada: o sujeito assume a lógica de atuação em células assumindo funções de liderança sendo apto para assumir uma célula. Abaixo um esquema apresentado pelo folder de divulgação dos chamados “católicos em células” que ilustra o que acabamos de relatar em que se nota um sistema de ascensão – também chamada de “escada de crescimento”- que vai desde “ganhar a massa”, instruí-la dentro dos moldes da comunidade e, uma vez “capacitada” enviá-la para “ganhar” novamente mais membros. E o processo do “plano de carreira” reinicia:.

(2) 136. Figura 26 – Processo de formação dos membros da Comunidade Fanuel. Fonte: Folder de divulgação da Fanuel. Os arranjos católicos são entidades com propósitos e suas ações são planejadas. Sua estrutura é o resultado de decisões conscientemente tomadas pelo fundador e demais lideranças. Existem algumas metas oficiais que atingem o público em geral e metas operativas, isto é, aquelas que moldam a estrutura interna do Arranjo. Elas diferem somente em graus de especificidade. Há linhas de comando internas dos arranjos cabíveis somente aqueles que a exercem. Mas, para que atinjam as metas-gerais, os objetivos dos arranjos devem ser úteis em determinar como o trabalho ou “força tarefa” deve ser dividido. Na Fanuel, algumas camadas operativas se preocupam, por exemplo, com a administração e controle das células (seu tamanho, seu tempo de existência, perfil identitário de cada uma, o quanto foi arrecadado mensalmente para a “obra”, encaminhamento dos objetivos pensados pelo fundador etc.) e que outras se dedicam à “formação religiosa” ou a “capacitação doutrinário-espiritual” dos seus membros. Entendemos que as metas gerais da Fanuel e dos demais arranjos analisados possuem acentuado determinismo. Elas precisam o serviço prestado ou o que se quer alcançar, por exemplo, a Fanuel tem por finalidade atingir os não católicos e os católicos afastados, propiciando-lhes um (re)encontro com os sacramentos católicos e sua inserção mais duradoura dentro da comunidade. Discorrendo ainda sobre as metas dos arranjos e, em particular, a Fanuel, a sua estrutura interna pode ter de ser reformado, sem afetar diretamente as metas mais gerais, mas acarretando uma mudança no ambiente das células. É o caso, por exemplo, dos encontros semanais das células aos sábados - e que duram no máximo duas horas - ocorrendo uma mudança no ritual ali vivido pelos membros. Ao invés de iniciar o encontro com um breve “lanche”, a liderança entendeu que.

(3) 137. era mais interessante e significativo iniciar com um “jantar” para dar um aspecto mais informal e “quebrar o gelo” inicial. A intenção do “jantar” é proporcionar um “clima de não superficialidade” e de construir um contato mais direto entre a membrezia. Com base em tais declarações, são tomadas algumas decisões, tais como as que aludem à divisão do trabalho. Há uma cadeia hierárquica bem definida na Fanuel. O organograma ou o “sistema de liderança” se apresenta da seguinte forma: Figura 27 – Organograma simplificado da Comunidade Fanuel DIRETOR FUNDADOR Moderador geral da comunidades. DIRETOR LOCAL Fanuel Santo André/SP. DIRETOR LOCAL Fanuel Campo Grande/MS. DIRETOR LOCAL Fanuel Botucatú/SP. Orientador espiritual Local. Secretaria. Supervisores Local até 15 células Líderes de rede Multiplicador -5 células Lideres de célula discipuladores dos leigos. O fundador do arranjo Fanuel, atualmente instalado na cidade de Botucatu, São Paulo, possui o controle geral das regras, toma as decisões e anuncia-as aos subordinados. As práticas das lideranças dentro deste arranjo tenderão a uma homogeneização no tocante às regras assimiladas e exercidas construindo assim o que se poderia chamar de estilo de liderança Fanuel. Embora exista uma variação marcada pelo estilo individual do líder (forma de condução e interpretação das regras) há uma uniformidade das práticas e da metodologia aplicada às células. A figura 27 demonstra, em forma esquemática as linhas de comando mais comuns neste arranjo e as lideranças ali expostas tem por objetivo satisfazer algumas necessidades, mormente aquelas das famílias efetivamente atuantes nas células, juntamente com as metas dos grupos. Em outras palavras, há três preocupações que estão na linha de frente da prática do líder: a) formar um grupo reduzido de doze pessoas porque a.

(4) 138. comunicação entre os membros não fica fragilizada; b) promover a integração e c) formar comunidade, multiplicando-a em outra célula. As lideranças que estão na base de atuação nas células têm a preocupação de satisfazer alguns requisitos de manutenção para que o grupo se mantenha em conjunto, coeso: promoção de um nível adequado de “harmonia”, apreciação mútua entre os membros: Outro aspecto precisa ter comunhão na célula, por exemplo, você vê que, por exemplo, as pessoas chegam nas células, querendo receber! Querendo receber! Mas com o tempo, ela vai percebendo algo mais, nossa!! esse povo tá sendo tão bom comigo, eu tenho de ser comunidade com eles. Tem algo diferente, e ali vai criando uma comunhão. (orientador espiritual). Observa-se no relato acima um esforço da liderança de fazer avançar a membrezia das células em direção às metas do Arranjo, seus planos, sua visão, missão e valores. Provavelmente, nas células, as lideranças se deparam com conflitos entre satisfazer as metas privadas dos sujeitos e os da organização em que fazem parte. Este líder desempenha duas funções, uma que aponta na direção do líder tarefa direcionando sua prática para a institucionalização (estabelecer uma padronização de deveres e comportamentos) da célula que está sob sua responsabilidade e, outro na de um especialista social-emocional construindo relações que permitam atingir os interesses particulares dos membros. A Fanuel estabelecendo normas espera um comportamento aceitável entre as suas lideranças. O processo de constrangimento ao cumprimento normativo consiste na, a) educação dos valores e metas religiosas, b) acompanhamento e fiscalização do comportamento moral dos membros do grupo, c) reeducação e apoio constante para que o indivíduo -, mormente aqueles(as) que estão na base das células – não modifique seus hábitos e não recue em gestos que o declinem moralmente: “A pessoa que entra na comunidade que assume a missão da comunidade, aí sim, o caminho é fazer o que? É regularizar sua vida sexual, a sua vida na igreja, a sua vida com a sociedade, enfim, é consertar o homem todo, né?”(mulher, solteira, auxiliar administrativa e supervisora de célula). A divisão do trabalho realizado na Fanuel pode ser entendida pelas diferentes operações ou tarefas que as pessoas desempenham. Por exemplo, as lideranças de células coordenam seus esforços para mantê-la dentro dos padrões normativos esperados e criar nestes espaços integração entre os membros. Conforme o organograma exposto existem duas direções que o trabalho da Fanuel pode ser dividido: horizontalmente, no sentido de separar as tarefas que as lideranças desempenham e, verticalmente, o trabalho é separado com base na finalidade do mesmo, que uma posição controla ou integra. Há uma diferenciação das tarefas.

(5) 139. necessárias para alcançar os objetivos deste Arranjo. O líder de célula tem por tarefa e quase somente de execução e um pequeno grau de decisão e só pode sê-lo após passar por um processo de formação da comunidade: Também chamado de “pastor” ou “discipulador”, o líder é responsável para manter sua “pequena comunidade” integrada e ser um “conselheiro espiritual” dos membros “mais avançados da célula”, também chamados de “núcleo da célula” – e não necessariamente orientar os “recém chegados”. Estes são auxiliados pelos chamados núcleo da célula que “discipulam” (orientam) os novos membros que se associam à sua célula. Como se pode notar há uma hierarquia também manifesta no interior da célula e aquele que a dirige aconselha a membrezia e os educa dentro da lógica normativa da Fanuel: [...] é alguém mais adiantado que já concluiu o processo de formação na comunidade, ou seja, uma pessoa que seja capacitada pra poder discipular outra poder mostrar o caminho pro outro. E aquela pessoa poder ajudar em todos os pontos. Então a outra compartilha, olha eu to passando na minha vida familiar isso. Que a gente procura o que? Dentro dos modos da igreja católica, o que a igreja nos ensina a gente mostra o caminho. (mulher, solteira, auxiliar administrativa e supervisora de célula). Acima do líder de célula (LC), vem o líder de rede (LR), que auxilia o supervisor local (SL), cuida das células objetivando sua multiplicação. A rede aqui é entendida geralmente como o resultado da conexão de várias células em conjunto, isto é, cada cinco células constituem uma rede facilitando as informações que aí circulam. A rede facilita a compreensão das interações recíprocas que ligam os componentes envolvidos. Dois dos entrevistados são líderes de rede e são os responsáveis em acompanhar as células em reuniões mensais. Acompanha-se o desenvolvimento e o crescimento de cada célula e o envolvimento e comprometimento não só das lideranças das células, mas de toda a membrezia: Até mês passado eu liderava uma célula ao sábado. Todo sábado eu estava lá. Agora, a partir desse mês, eu passei a ser supervisora de célula, então eu não fico mais numa célula só. Cada semana eu visito é... da minha área são são três células, né? (ídem).. As reuniões tem o intuito de serem laboratórios para diagnosticar propriamente os problemas apresentados pelos LC. Quando o LR identifica um problema, uma ocorrência torna-se consciente de uma necessidade não satisfeita. O LR defronta-se comumente com uma lista de fatos advindos das células do tipo adequação da membrezia às normas da Fanuel, problemas de relacionamento entre LC e seu núcleo. No caso da Fanuel observou-se que sua estrutura comporta objetivos a serem cumpridos, assim como um corpus normativo bem.

(6) 140. definido e a função dos LR é compatibilizar a estrutura existente com os anseios e desejos dos LC. Uma vez diagnosticado os problemas e caso necessite um acompanhamento mais próximo a orientação feita pelo LR pode ser feita de forma personalizada. O LR possui uma competência geográfica e opera de forma a manter coeso as células e intervindo oportunamente quando necessário orientando e cumprindo seu papel consultivo para o LC. Esta atividade de aconselhamento empreendido pelo LR soa mais como aquele que estabelece um “controle de qualidade” do grupo lembrando-os dos seus direitos e obrigações. O principio escalar ou hierárquico da Fanuel define a graduação de responsabilidades e o LR, embora sua função de subordinado seja definida, designada e especificada pelo organograma sua função se distingue das outras lideranças pela prestação de conselhos e supervisão. Identificamos que o LR informa ao SL sobre os problemas decorrentes nas células trazidas pelos LC. Não só informa, mas aconselha, sugere soluções, encontra argumentos, persuade – o mesmo também se verifica na postura do LC. E, por fim, o LR supervisiona em substituição do SL, por delegação do mesmo. O SL é aquele que possui uma visão panorâmica das células e é subsidiado pelos LR que o mantém informado sobre a condução dos núcleos celulares. Sua presença se faz esporadicamente e uma de suas funções é trazer estabilidade e solidez ao grupo. Geralmente é o que conduz as orações dominicais nos encontros de todas as células e os instrui com exortações, palavras de afeto etc. Entre as suas atribuições destacamos a verificação do andamento das atividades mantendo a moral elevada das demais lideranças. Membro antigo da comunidade, colaborador da Fanuel antes mesmo da aquisição da chácara, o atual SL atuava na paróquia Joana D’Arc em Santo André no final da década de noventa e especificamente acompanhava o “grupo de oração”, “escutava” as pregações do atual fundador da Fanuel em uma “casa de missão” próximo à paróquia. Foi neste período que o entrevistado ampliou seus laços de afinidade criando ciclos de amizade com pessoas ligadas ao fundador e desde então sua atuação, antiguidade e empenho acabaram por torná-lo o SL atual. Segundo o excerto, a sua autoridade é legitimada por todos pelo fato de “estar a serviço” de um projeto maior. A estrutura pautada em princípios, valores, característicos da Fanuel, têm prioridade sobre as células e o SL “precisa” apresentar-se como o “primeiro a servir”. Para o SL há uma linha de autoridade muito clara que deve ser conhecida e reconhecida por todos os membros. Embora não executando as tarefas em uma célula exerce sua influência para que o trabalho seja feito por todos. A fim de alcançar as metas da comunidade, o SL é reconhecido como figura-chave da comunidade Fanuel em Santo André, mas sem eclipsar a importância da figura do fundador. Com curso superior.

(7) 141. incompleto, o SL é atualmente gerente de marketing com especialização em marketing digital (elaboração de símbolos e criação de uma identidade digital). Trabalha exclusivamente com publicidade para a internet, veículos de venda e comunicação via internet: E aí, eu gostava de desenhar tudo, mas não era a minha praia. Apesar de ter algumas particularidades, algumas coisas similares, não é a minha praia. Eu comecei a exercer a profissão, aí parei, num é? Parei e já emendei, é... conheci a área de informática, comecei a trabalhar e já emendei alguns cursos que me levaram a isso, né? Hoje, eu... também continuo desenhando, mas de uma forma diferenciada que é pra publicidade pra internet, num é? Eu tenho formação técnica nessa área. Na verdade esse curso de formação técnica levarou seis anos (homem, 40, casado, SL). Trabalhando há doze anos com desenho publicitário e especialista em photoshop, a fireworks, a coreldraw atende vários segmentos religiosos – católicos e evangélicos - ou não. Presta serviços para os segmentos católicos criando páginas e sites de paróquias da região do grande ABC que, segundo o depoimento, totaliza “setenta paróquias católicas”. Como “prestador de serviços, a estratégia de marketing utilizada pelo entrevistado no mundo dos “seus negócios” é o fato de atender uma diversidade de públicos e garantir que seus esforços estejam concentrados nos elementos de marketing que são mais relevantes para o seu negócio. As informações do SL acima mencionadas nos remetem a duas conclusões: a) Os padrões de serviços oferecidos pelo entrevistado estão voltados para um cliente em “potencial” independente da sua confissão religiosa. Neste caso, o entrevistado cita que atende também “bandas evangélicas” 75; b) A cultura e o conhecimento técnico que possui possibilita-o, enquanto empresa privada, instalar serviços a fim de atender o público consumidor daquele serviço específico. Neste sentido, sua empresa é vista como aquela ligada às necessidades e aos desejos do seu recipiente, isto é, consumidor. Este contrata seus serviços de “competência digital” e o SL, com sua capacidade de pesquisar, interpretar os interesses e necessidades dos seus clientes elabora o produto desejado. Além disso, é dotado de uma cultura de adaptabilidade no sentido de ter capacidade de fazer conexões entre os desejos dos seus clientes e liberdade para criar seus desenhos digitais. Cada Arranjo é possuidor de uma identidade digital, um site, em que são veiculados sua missão, valores, objetivos 76 e também sua estrutura administrativa cujas “artes visuais” foram idealizadas pelo SL da Fanuel. Prestando assessoria na área de marketing digital 77 esta liderança criou os web sites dos 75. A referida banda gospel é a “oficina G3”. A análise dos “sítios” dos Arranjos será arrolada posteriormente. Citaremos alguns aspectos gerais que identificarão cada comunidade como tal. 77 Conferir site desta empresa: www.abstratodesign.com.br – Acesso 20/04/13. O site abriga imagens de logomarcas criadas para empresas, por exemplo, de produções e eventos G12 ofertando serviços do tipo iluminação, efeitos de luzes, gravação de DVD etc. Entre os seus principais da G12 duplas sertanejas, TVs 76.

(8) 142. arranjos Fanuel, Chagas de Amor, Árvore da Cruz e o fez gratuitamente, mas segundo ele, tudo começa com um diálogo prévio. A Logomarca de algumas paróquias do ABC paulista e os sites dos Arranjos supracitados foram elaborados por ele. Antes da elaboração da “arte visual” do cliente há um estudo que é realizado previamente – análise do histórico da comunidade, arquitetura, cores, sua inspiração, seu “carisma”, documentos etc. – somente depois que o conceito ou aquilo que identifica ou se aproxima do que o cliente deseja, emerge. A arte visual elaborada (web sites, blogs, logomarcas etc.), segundo o depoente é uma forma de ilustração cujo objetivo principal é uma representação visual de um design, de um totem digital 78 a ser utilizado pelo cliente em seus objetivos específicos. Embora expressando sua visão de mundo, sua maneira de interpretar os serviços que lhes são oferecidos através do seu trabalho, ele é um designer e não um artista. Isto quer dizer que responde principalmente a um comando e deve levar em conta – e é avaliado por isso – um usuário-alvo específico. Atualmente é solicitado por indicação de outros usuários e isso contribui para visualizar sua empresa, sua imagem ao público que atende: Segundo ele, o sucesso do seu empreendimento enquanto web designer não está relacionado aos seus serviços somente. A rede social que construiu nestes doze anos possibilitou certa consolidação, mormente à clientela católica, seja das chamadas “novas comunidades” ou de paróquias. A relação criada entre empresa-cliente, segundo sua abordagem, não foi assimétrica (controlada apenas por uma das partes) e nem transitória. A sua “carteira de clientes” construída nestes anos possibilitou-no uma fidelização daqueles: Já tenho uma carteira de clientes, então, o cliente A que é católico, faz um show com uma banda evangélica num congresso, e lá surge um comentário qualquer, a pessoa acaba me procurando, inevitavelmente. Então eu tenho a graça disso, né? Saí do meio católico, estou no meio Cristão, mas continuo... trabalhando ali exatamente na mesma coisa (homem, 40, casado, SL). Uma de suas estratégias de fidelização não foi o seu conhecimento técnico sobre “arte visual”, mas o fato de em primeiro lugar atentar às necessidades e desafios dos seus católicas (Cancã Nova e Aparecida, Século XXI, Rede Vida), TV Globo e igrejas evangélicas (Universal e Mundial). Há também web sites e blogs criados para bandas e cantores católicos (Alto Grau, Diante da Cruz, Testemunha, Ceremonya, Diante da Cruz, Cantores de Deus (apadrinhado pelo padre Zezinho), Suprema Redenção, o cantor Bruno Malaquias, a cantora paranaense Graciele, a campineira Luciana Antunes, do pregador e coordenador do ministério da intercessão da RCC de Santo André, Adriano Marin) e bandas evangélicas (Vínculo, oficina G3). Além disso, há também a criação de web sites, logomarcas de paróquias católicas e de empresas e comércio S/A. 78 A análise das simbologias utilizadas pelos Arranjos católicos será verificada no próximo capítulo. Os símbolos digitais que identificam cada Arranjo são frutos de convenções, de interpretações dos seus próprios fundadores e que foram relidos pelo “prestador de serviço”, SL da Fanuel e, posteriormente aceitos para serem divulgados..

(9) 143. clientes ou na linguagem do entrevistado é “conhecer a inspiração da obra”. Conhecer a realidade a ser atendida – e, num segundo momento – não menos importante – ingressar em um sistema permanente de relacionamento com o objetivo de atendê-los da melhor forma, isto é, criar seu próprio network. Uma das outras atividades que compõem a estrutura administrativa da Fanuel e que corresponde a divisão do trabalho interno deste arranjo referem-se ao secretariado e as finanças. Advinda de uma família católica não praticante, uma das LR iniciou sua formação religiosa em uma das paróquias de periferia urbana em Santo André, Nossa Senhora de Guadalupe. Neste ambiente participou ativamente nas atividades paroquiais entre 2002 e 2006. Mesmo não pensando em se tornar “freira” agostiniana sondou, dialogou com uma “madre” sobre quais as possibilidades de efetivar uma aproximação de uma congregação religiosa, mas decidiu-se por continuar “leiga”. Com ensino médio completo e com pretensões de galgar no ensino superior, a liderança pensou optar entre três graduações: arquitetura, relações públicas ou secretariado executivo. Independente da escolha e das condições financeiras reais, seu objetivo em ser uma graduada é o fato de se qualificar para melhor atender a comunidade Fanuel. Formou-se ainda em 2006 como auxiliar administrativa e desde então atua nesta posição na comunidade como voluntaria recebendo um salário mínimo, dinheiro recolhido das células e que provém do dízimo não obrigatório recolhido: É que assim, é mais complicado você aqui dentro da comunidade nova, você, você, você pede o dizimo, assim, que geralmente é dado na paróquia e tal, mas a gente sempre procura falar pro, pra quem participa da comunidade o que, que você deve dizimar aonde você tá recebendo a palavra de Deus. Se é na paróquia, então dizime na paróquia. (mulher, solteira, 22, LR). O tempo de trabalho é dedicado não somente em arquivar documentos ou atender chamadas telefônicas, mas organizar encontros da comunidade, secretariando-os, imprimir e entregar os “encontros bíblicos” elaborados pelo fundador, assim como seus comentários direcionando-os aos líderes de célula. Cada pessoa efetiva, cada “discipulador” possui uma pasta contendo os nomes, situações de vida da sua célula. Cabe a secretaria registrar semanalmente o cronograma de trabalho inclusive as presenças dos partícipes das células. Não há uma programação mensal já articulada ou um ciclo de trabalho já preestabelecido, mas uma programação semanal ainda a ser construída conforme a sequência de operações. Outra função é o que se restringe a coordenação das finanças da comunidade. Cabe a uma pessoa computar a quantia de doações mensais realizadas pelos membros da.

(10) 144. comunidade 79, pagamentos de salários dos LR etc. Caso aja alguma ampliação ou construção a ser realizada, neste caso, computa-se o preço dos materiais, estimativas de gastos e o crédito em caixa. A execução do trabalho na Fanuel ou as atividades específicas desempenhadas por alguns dos seus membros enquadra-se no sistema global deste Arranjo. Cada qual dentro do organograma possui um controle sobre a atividade que desempenha. É o caso, por exemplo, do atual LR e “formador da comunidade”. Ele mesmo expõe o cuidado por três células, “supervisionando” a atuação das lideranças, treinando-as: É o tratar desses três líderes, porque as pessoas que participam das células eu não tenho como atingir, né? Cada grupo tem 12 pessoas, né? Ai daria umas 36, 40 pessoas, né? Então, essa estrutura permite que eu trabalhe com esse grupo pequeno de pessoas que dá umas seis pessoas, é os três líderes e os líderes em treinamento. O líder por sua vez, ele vai trabalhar os seus 12 ali da célula. (homem, 27, líder de rede, formador da comunidade). A formação da identidade do entrevistado adveio da tradição religiosa católica consubstanciada em uma comunidade moral na qual ele foi reconhecido enquanto sujeito. O jovem entrevistado de vinte e sete anos apresentou-nos, em sua trajetória de vida até descobrir a Fanuel, dificuldades de entrosamento quando da sua participação na paróquia Santa Joana D’arc em Santo André particularmente dentro do grupo de jovens. A comunidade Fanuel, antes de ter seu própria autonomia religiosa, era ligada a paróquia supracitada enquanto grupo de oração chamado “leão de Judá”. Não conseguindo firmar uma amizade duradoura, além de não se identificar com o grupo de jovens, se sentido “isolado”, dispersando-o até o momento do seu engajamento tímido no grupo de oração. Firmando-se neste como o seu núcleo de referência básico percebeu neste ambiente uma possibilidade de identificação adotando-o enquanto grupo que lhe ajudou e o apoiou quando mais precisava: Eu não me identifiquei porque eu fiquei seis meses dentro do grupo de jovens e ninguém conversou comigo, num fiz uma amizade neste tempo e na comunidade (quer dizer Fanuel), a partir do momento que eu comecei a ir houve uma preocupação comigo, entendeu? E eu tava num ponto tão alto da minha depressão... (homem, 27, LR e formador da comunidade – grifo nosso). Manifestando um comportamento “suicida”, como ele mesmo apresentou, recebe suporte de um casal que lhe proporcionou gradativamente estabilidade emocional e, consequentemente, influenciou-o a ponto de manifestar sua adesão ao grupo, “consagrandose”. Formado em magistério e há doze anos na Fanuel recebe um reconhecimento do fundador 79. Não há nenhuma ajuda financeira advinda da ICAR local ou da diocese de Santo André e os arranjos desenvolvem seu próprio sistema de recursos financeiros administrando-os conforme a demanda..

(11) 145. promovendo-o como formador religioso de todas as células em Santo André. Com este capital simbólico atribuído e representado por ele como, uma “graça particular recebida”, cuida da educação religiosa dos membros das células. As pessoas que se iniciam no núcleo das células não possuem “experiência paroquial” prévia. No processo de formação religiosa, os neófitos são “educados na fé católica” a partir de premissas elementares ensinando-os as orações básicas: “ave-maria” e “padre-nosso”. Embora feita com adultos, esta pediatria espiritual aplica-se como primeiro passo – caso aja necessidade – na inserção dos iniciantes à lógica das células. O passo seguinte é ensinar como obter a “intimidade com Deus” ou um “conhecer-se a si mesmo diante de Deus”. Há também uma reciclagem, atualização ou “formação permanente” dos iniciados e veteranos. Nesta formação, mais doutrinária, refletese basicamente a doutrina da igreja, as encíclicas dos papas, o catecismo da igreja católica (CIC). A ênfase aos estudos e a reflexão racional parece não ter muita prioridade na prática da militância das lideranças. Ela é necessária, mas não fundamental. A afetividade, as emoções compõem as partes integrantes e fundamentais da vida das células na Fanuel. Não afirmamos que uma (as relações afetivas) é afirmada em detrimento da outra (estudo reflexivo das Escrituras cristãs e da doutrina religiosa). A doutrina religiosa não é abolida, mas há uma tendência, segundo o entrevistado, dos “católicos ficarem presos atrás da letra”. Pelo contrário, usam-na, afirmam-na e a relêem na ótica das emoções. Aquela se dilui a partir dos interesses e necessidades afetivas observadas nas células. Os problemas que acompanham os iniciados nas células e de que forma são administrados pelas lideranças são expostos no relato a seguir: Por exemplo, ó! Casam... coisa muito comum, casamentos que tão se acabando, né? Um dos problemas é... famílias que não tem uma estrutura assim, natalidade dos filhos, né? Que precisa de alguma orientação, nesse sentido, né? E ai a gente atua nesse sentido também, né? De trabalhar com essas pessoas a questão que o método da igreja ensina né? Tem pessoas... tem uns três casos na comunidade, de homens que se libertaram do vício do alcoolismo, assim, através dessa acolhida, através de se sentirem amado, né? Através dessa... autoestima, né? Que, se levanta ali... desse trabalho pessoal que a célula favorece isso! A gente sempre tem uma pessoa que tá caminhando do nosso lado, se a gente tropeçar, aquela pessoa levanta, assim. (idem). A Fanuel, mesmo possuindo uma estrutura de posições administrativas que lhe dá um aspecto minimamente burocrático, no entanto, reflete uma parte deste Arranjo. Poderíamos cair na armadilha de pensar que nestes locais, construídos por este tipo de catolicismo leigo são resultados de uma arena de uma luta épica entre racionalidade e emotividade. Enquanto agentes de transmissão religiosa, a Fanuel sustenta sua “fé católica”.

(12) 146. dentro de um espaço de reinterpretação simbólica que vai além da reprodução dos valores católicos rígidos, mas o fazem segundo critérios subjetivos tidos como relevantes para a “evangelização”, daí a utilização da afetividade e da emoção como dispositivos importantes de aproximação e coesão do grupo. A continuidade da tradição católica se dilui e é reformulada segundo as normas e valores deste Arranjo e de suas lideranças. Neste sentido, as escolhas e direções apresentadas por estas comunidades em células e cimentadas pelos interesses do fundador tende a ter precedência sobre a fidelidade à tradição recebida. A formação de atitudes e valores nos membros da Fanuel está por sob influência constante das normas, regras de vida deste Arranjo. Este regramento dá aos seus membros, mormente às lideranças, uma espécie de mapa ou uma guia que os orienta em seu comportamento no grupo. O antigo adágio cujus régio, ejus religio 80 pode ser mantido sem alteração do texto latino no ambiente da Fanuel e dos demais arranjos, por uma ligeira alteração de sentido: “tem-se a moral religiosa do grupo em que se vive”.. Os manuais de treinamento Para que o membro a adquira faz-se necessário que incorpore uma visão do significado do que é “ser uma igreja em células”. Neste sentido, institucionalizou-se na Fanuel dois manuais 81 de instrução ou subsídios que são veiculados, por um lado, aos membros do Arranjo e, por outro, aqueles que desejam ter suas práticas a partir da organização em células, sejam eles paróquias ou novos arranjos católicos. Neste último caso, a Fanuel oferece seus serviços de assessoria caso algum agente religioso católico necessite. Os dois manuais que agora apresentaremos sinteticamente foram forjados pelo fundador da Fanuel com coparticipação de outra liderança que atualmente é missionário leigo casado e líder geral da Fanuel em Campo Grande, MS. O primeiro subsidio 82 intitulado “Ano para a Transição” – designaremos aqui por (AT) - é confeccionado em quatro módulos – cada um deles terá por sigla (M) - com durabilidade de doze meses e cujo objetivo é fazer com que os partícipes mudem seu foco, sua visão de igreja e de mundo levando-os a adquirir um habitus e um modus operandi que 80. Tradução literal: “a religião é de quem é a região”. In Dicionário enciclopédico de teologia. Canoas: Ulbra, 2002. 81 Estes manuais circulam livremente no arranjo, sem com isso ter o aval oficial da autoridade do clero católico. 82 Este manual é de uso exclusivo da associação “católicos em células”, mas nos foi cedido gratuitamente pelas lideranças da Fanuel em Santo André e que será utilizado apenas como um dispositivo de interpretação deste Arranjo. O subsidio possui o titulo: “Ano para a Transição” e é dividido em módulo como segue: a) Módulo 1: “transicionar é preciso”; b) Módulo 2: “Lidando com a transição”; c) Módulo 3: “Mobilizando evangelizadores”; d) Módulo 4: “Iniciando células”. Lembrando ainda que este manual não possui editora e ano de publicação..

(13) 147. espelhem o propósito geral do Arranjo: “crescimento e multiplicação”. O primeiro módulo discorre sobre a necessidade de “mudança de paradigmas” (PERES & LIMA, ATM1, p.5). A questão colocada pelo texto intencionalmente é que a estrutura organizacional católica foi marcada e influenciada pelas mudanças históricas. Tal estrutura “envelheceu” insistindo-se no “conservadorismo romano” perdendo espaços simbólicos, tendendo à obsolescência comprometendo assim, a “evangelização dos povos”. O texto reconhece também que a sociedade contemporânea emancipou-se em termos científicos, mas o “homem passou a ignorar valores religiosos e manipulá-los”. A “postura” da “igreja” (entenda-se católica) indicada por alguns dos seus representantes - tanto clero quanto leigos - é criticada. “Existem batizados”, diz o texto, que “Nunca vão à Igreja (literalmente); Que só vão excepcionalmente (por acaso); Que só aparecem em grandes ocasiões (sacramentos); Que só assistem aos serviços religiosos (fregueses); Engajados doentis (clericalizados)”. Por parte dos sacerdotes se referem aos seguintes itens: “Que fazem tudo sozinhos; que não aceitam novidades e rejeitam as mudanças; Que não fazem nada e não deixam os outros fazerem”. (Idem, p. 6). A referência aos chamados “clericalizados” diz-se daqueles(as) que “obedecem por obedecer” ou “cumpridores de tarefas”, mas que “não vivem o evangelho”. Uma vez identificado o “problema”, o texto segue na direção de romper com paradigmas equivocados e “reencontrar padrões bíblicos” que sirvam de fonte de motivação e atuação deste grupo que “deseja ser célula”. Um evento histórico e uma personalidade são utilizados para justificar a necessidade de alterar os paradigmas: o concilio Vaticano II e a figura de João Paulo II. O concilio é lido como “uma nova primavera da igreja” possibilitando a “reorientação pastoral” atentando-se aos “desafios impostos pela modernidade”. E o papa global, João Paulo II, que anunciou uma “nova evangelização” tanto em seus métodos quanto em sua linguagem, é utilizado como pretexto para a mobilização de “novos grupos” co-participantes da “evangelização do mundo”. O texto alude também à diferença existente entre a “igreja com células” da “igreja em células”. Segundo a abordagem do texto as duas configurações são possíveis, mas a primeira é insuficiente senão deficitária em seu termos. As células, na primeira situação, tendem a um ajustamento dentro de uma estrutura de “pastoral” tornando-se “meros grupos pastorais” executando apenas serviços religiosos. De fundo, faz-se uma crítica às chamadas estruturas paróquias convencionais. A paróquia é uma área geográfica delimitada onde há um prédio paroquial com seus serviços religiosos correspondentes e que exerce ou não influencia neste espaço. Esta.

(14) 148. territorialidade 83 constituída e imaginária é uma das marcas da paróquia e comumente é estruturada em torno de um pároco e uma equipe de leigos a que são confiados os trabalhos (pastorais), mesmo que não haja entre eles afinidades espirituais ou teológicas específicas. A “Igreja em células”, por sua vez, é incentivada como modelo padrão porque se afina com o “modelo da igreja doméstica neotestamentária”. A “Igreja em células” assenta-se num tripé – lar, templo e serviços - criando um “equilíbrio conjugado e valorativo” se, comparado ao modelo anterior que, favorece um desequilíbrio hipertrofiando uma das partes do tripé, a “dimensão corporativa” (os rituais religiosos no templo). Delineado as chamadas estruturas tradicionais e convencionais a que incorre uma “Igreja com células”, o seu contraposto, o em, acentua a importância do seu protótipo: “na Igreja em Células está o equilíbrio: no templo a fé é celebrada, nos lares ela é vivida e nos serviços ela é compartilhada, fazendo com que o corpo cresça na qualidade como na quantidade, alcançando novos cristãos” (PERES & LIMA, ATM1, p. 14, grifo nosso). Reforçando esta premissa, nota-se ainda, e para além de um dado meramente descritivo, dois atores religiosos coletivos que se socializam a partir da configuração comunitária a qual se mantém vínculos. A estrutura paroquial convencional ou, na terminologia da Fanuel, Igreja de Padrão Convencional (IPC), que constrói um sujeito religioso “cumpridor de tarefas” e se limita à sua pastoral ou grupo específico. Já, nas células, o sujeito religioso que dali emerge preocupa-se com a “vida do corpo celular”, mas é regido também por valores que o identificam como tal. As células são vistas como “pequenos grupos” que favorecem tal proximidade construindo “vínculos mais duradouros”. Nas células, há um incentivo que os seus membros realizem-na no afeto, na emoção e no entusiasmo. Segundo a Fanuel, tais propósitos encontram seu equilíbrio na “Igreja em células” (IC) que unem “dons hierárquicos e carismáticos”. As questões que se referem ao magistério católico, ao “templo”, estão condensados nos “dons hierárquicos” entendidos também como “asa corporativa”; os dons carismáticos, por sua vez, sinalizam o “pequeno grupo familiar, a célula, entendida também como “asa comunitária”. As duas unidas proporcionam o equilíbrio supramencionado. Segundo a Fanuel, a vivência comunitária sob o influxo apenas da “asa hierárquica” não cria proximidades afetivas, apenas ratifica o 83. Esta territorialidade é geralmente considerada como uma forma de garantir a participação da diversidade social, profissional e geracional. Entre estes últimos destacamos as chamadas “catequeses” especificas a cada faixa etária. Este registro geográfico permite ainda elencar que a comunidade paroquial atende aqueles que vivem em seu território através dos serviços religiosos que são oferecidos: a missa dominical, a catequese, as pastorais, o atendimento personalizado do pároco (confissões individuais e comunitárias), bênçãos, casamentos, batizados, exéquias etc. Obviamente, o exercício destas atividades depende do sacerdote e a quem ele delega e que esteja sob sua supervisão..

(15) 149. investimento em prédios, em templos, amplia e reforça a distinção leigo-clero, “supervalorizando” o segundo sujeito da díade emergindo dai um “paradigma doente onde existem especialistas que ministram a fregueses”. (PERES & LIMA, ATM1, p.10). A Igreja das “duas asas” 84, como é referida pela Fanuel advém de uma concepção forjada pelo pastor luterano William Beckham (2007). O estabelecimento de uma relação amigável com o magistério católico inclusive com os seus “cultos dominicais” e regidos por “especialistas” é condição sine qua non para a sobrevivência deste Arranjo dentro do campo católico. Mas, a Fanuel não dispensa uma crítica do catolicismo convencional. Pelo contrário, o vê regido por princípios diretores impessoais e não passam segundo este Arranjo, de regras costumeiras e “incompletas” e, por causa do seu tamanho e de sua liderança burocrática, impedem uma flexibilidade no tocante aos locais de encontro, a organização de lideres, como o é neste Arranjo. A transição de uma IPC para uma IC requer tempo e a mudança de ordem estrutural é gradativa conforme o esquema abaixo:. Figura 28 – Esquema celular das comunidades. Valores Convencionais. Valores Convencionais. Valores Celulares. Estrutura convencional Estrutura convencional. Igreja Padrão Convencional (IPC). Igreja Padrão Convencional com Células – (IPCC). Estrutura Celular. Igreja em Células (IC). Fonte: Fanuel. 84. O termo surge da alegoria a “Igreja das duas asas” do pastor Beckham e que se tornou domínio público, mormente dentro do campo evangélico atual. Diz o texto: “um dia o Criador criou uma igreja com duas asas: uma asa era o grupo grande da celebração e a outra asa representava a comunidade do grupo pequeno. Usando as duas asas, a igreja podia voar alto para os céus, entrar na sua presença e fazer a sua vontade em toda a terra. Depois de alguns séculos, a igreja passa a questionar a necessidade da asa do grupo pequeno, e a serpente aplaude essa idéia. Assim, a asa do grupo pequeno se tornou fraca, e a igreja se tornou uma igreja de uma asa só. O Criador da igreja estava triste, e na sua compaixão, estendeu a mão e remodelou a igreja para que ela pudesse usar as duas asas. Assim o Criador possuía uma igreja que podia voar até a sua presença e planar bem alto sobre toda a terra, cumprindo seus propósitos e planos”. (BECKHAM, 2007, p.46).

(16) 150. Na fase de transição, o primeiro módulo sugere três quesitos para uma transição bem sucedida: a) “Adicionar o que ainda não existe na comunidade” b) “Adaptar o que existe e funciona para render ainda mais” e c) “Cortar serviços que não frutificam e concorrem com as células”. Este processo de desmonte de uma IPC corresponde, grosso modo, um rearranjo da suas estruturas, consideradas inadequadas ao o sistema de células sugerido, que exige das suas lideranças uma postura dirigida a um ponto de vista mais relacional. Outra característica desta transição para a IC deriva da adjunção provisória no intuito de desmantelamento de “grupos” ou “pastorais” que impedem, retardam ou até mesmo eclipsam esta transição. Por exemplo, um dos objetivos é conduzir o fiel católico, o não comprometido com pastorais e que busca na ICAR serviços religiosos, uma mudança de mentalidade: deixar de ser um consumidor, um membro da platéia, um mero observador para ser um produtor e um colaborador na efetivação de uma célula, um pequeno grupo e, consequentemente seu desdobramento. O subsídio, neste seu primeiro módulo, sugere que a paróquia deixou de ser realmente uma comunidade, para especializar-se nas funções de hospedagem de pastorais e movimentos católicos (Legião de Maria, Vicentinos, grupos de oração etc.) assimilando-os dentro de uma lógica apenas funcional. Da mesma forma, a paróquia, tornou-se um organismo centralizador e prestador de certo número de serviços religiosos que são oferecidos e distribuídos dentro das pastorais e movimentos constituídos neste ambiente. A organização em células exige para si a posse exclusiva de um espaço, a “casa” no intuito de tecer entre seus membros um laço de proximidade que se revela na maneira de agir e numa dada maneira de pensar – obviamente dentro de certos padrões valorativos estabelecidos pela Fanuel – com certo grau de liberdade diante da monotonia e homogeneidade impostas por um sistema IPC, mormente ao que se refere ao ritual católico da missa e a determinados tipos de “comportamentos” considerados inadequados à estrutura celular. A seguir trataremos brevemente do “segundo módulo” do subsídio “Ano para a Transição”. A mudança de valores dos neófitos e o exercício dos mesmos são imprescindíveis na configuração celular. Segundo o texto, há também uma necessidade de desconstrução de determinados valores que foram cristalizados e inculcados nos sujeitos habituados dentro de uma lógica comportamental evocada pela IPC. A integração de novos sujeitos ao modo de vida oferecido pela Fanuel consiste em aceitarem dentro de si as opiniões e sentimentos, desejos e simpatias do grupo em questão. Este Arranjo considera que os novos sujeitos estarão plenamente integrados em seu seio quando não somente possuírem um lugar definido que é o “seu” lugar (assumirem sua liderança interior), mas quando pensarem que aqueles, os pequenos grupos, são “exatamente” o seu lugar. O texto põe em contraste dois tipos de.

(17) 151. comportamentos morais verificáveis tanto na IPC quanto nas IC. Suas características são apresentadas a seguir:. Tabela 1 – Quadro sinótico IPC versus IC. IPC. IC. Comportamento Geral. Individualista. Cooperativista. Posicionamento em rituais. Atos de piedade e de culto de forma intimista. Comprometimento com aquilo que se acredita.. Relação com a crença e com o clero. Relação verticalizada. Relacionamentos afetivos. Comunidade. Cada um cuida de si mesmo e de sua pastoral. Gestão democrática. Convenções. Acordos de mera convivência institucional. Adesão livre e voluntária. Grau de interesse. Isolamento. Intercooperação. Fonte: Fanuel A Fanuel é simpática aos valores cooperativistas defendendo a união, o auxilio mútuo e integração pessoal: “Concretamente podemos dizer que nossa fé se origina de valores cooperativistas que não são praticados com a excelência possível porque se chocam com estruturas e práticas individualistas” (PERES & LIMA, ATM2, p. 11). A Fanuel adota para si os princípios cooperativistas 85 salvo as adaptações feitas em vistas de atendimento da realidade das células. Uma vez identificado sua identidade corporativa e envernizando-a com valores cristãos católicos, o Arranjo entende que tais princípios ajudam-no a aplicar seus próprios valores e ao mesmo tempo ser um dispositivo crítico à lógica da IPC. Destacamos aqui apenas o quarto princípio, por nos parecer mais crítico porque o mesmo manifesta a ideia de “autonomia e independência”. A autonomia pressupõe a possibilidade de liberdade de consciência, de opinião e até publicação de materiais, mas o uso que a Fanuel faz deste principio concentra-se no interesse de repensar com liberdade as estruturas de um catolicismo denominado por ela de, “convencional”. O que o Arranjo reivindica é a vivência de um catolicismo dissolvido dentro de outra lógica organizacional. Autonomia, neste sentido, é uma 85. Os sete princípios adotados são: 1) adesão livre e voluntária; 2) gestão democrática; 3) participação econômica dos membros; 4) autonomia e independência; 5) educação, formação e informação; 6) Intercooperação e 7) Interesse pela comunidade..

(18) 152. palavra que foi assimilada e relida, na acepção deste Arranjo, como a capacidade deste de gestão do seu próprio espaço simbólico a partir de organização em células sem necessariamente a interferência do clero. Isto significa que, a Fanuel possui suas próprias políticas internas, regulamentos e decide como devem ser gerenciados os valores por ela constituídos. Por sua vez, o conceito Independência é utilizado não como obliteração da tradição católica com seu rol dogmático, ritual e santorial, mas se livrar do “vício” de uma organização católica regida pela “prática individualista” reorganizando a doutrina católica dentro do ambiente celular. A crítica manifestada no subsídio alude à estrutura organizacional da IPC e não ao conteúdo de crenças mesmas desta estrutura. Quais outros elementos da IPC que são considerados frágeis e deficientes aos olhos deste Arranjo? Este detecta várias “falhas” de comportamento institucionalizado pela IPC sentindo a necessidade de pôr em dúvida a oposição de atitude e de valor. Uma das observações e censuras expostas pelo subsídio refere-se ao uso do “local sagrado” que a IPC faz em suas “celebrações”. Uma das reivindicações subjacentes ao texto, mas é alvo de críticas diz respeito à organização do espaço de culto, que distingue as áreas reservadas ao clero, aos fieis e aos “engajados”. Esta concentração dos sujeitos em um único espaço é entendida como uma forma desestimuladora de participação comunitária minando o projeto cooperativista. Ao mesmo tempo, o texto alerta para que as reuniões das células num único espaço celebrativo não se assemelhem ao que ocorre na IPC. Pode haver aí um espectro das células reproduzirem ou deslizarem para uma forma “convencional” mesmo no ambiente das casas. O relacionamento construído pela IPC deixou de ser “íntimo” e constrói, por conseguinte, um tipo de interação negativa e com “alto índice de isolamento”. Nas IC, ao contrário, o individuo não é deixado em isolamento, conhecem-se, encontram-se, vivem muito pouco isolados uns dos outros. Contudo, estes contatos são realizados num primeiro momento, em círculos pequenos, como já foi mencionado, em guetos. As relações que se constroem aí também são regulamentadas por regras e sanções – como ocorre também na IPC -, mas acentuam-se a consideração às “pessoas” e, em segundo plano, as “instalações” (PERES & LIMA, ATM2, p.12). Além do individualismo, a IPC é acusada de engendrar práticas consumistas, condicionando seus fieis a serem “expectadores” e não “protagonistas”. O texto também não está de acordo com o sistema piramidal existente no catolicismo em que pequena parcela dos leigos assume trabalhos paroquiais corroborando e sustentando um modo de divisão de tarefas hierarquicamente definidas. A Fanuel detecta – segundo sua ótica – alguns “desvios” cometidos pela IPC e não deixa de considerá-los patológicos. Outro alvo de crítica.

(19) 153. é o fato da IPC tratar os seus fieis como números e reproduzir minimamente o “pragmatismo contemporâneo”. Esta mentalidade pode ser detectada também nas posturas de lideranças na IPC que, ao estarem em sintonia com o “relativismo contemporâneo” acabam por minar um “ambiente de vida comunitária” objetivando apenas “resultados numéricos, quando não financeiros” (PERES & LIMA, ATM2, p.18). Ao considerar as várias implicações da mudança em direção à mentalidade da IC e perceber seus “conteúdos humanos”, os agentes que desejam “transicionar” para uma IC e, consequentemente tornarem-se líderes de células são convidados a desenvolver uma habilidade em lidar com estas questões. A IC considera anacrônica a tríade “rezar, pagar e obedecer” 86 designada como “paradigma ultrapassado a partir do Concilio Vaticano II”. Ao valorizar as premissas cooperativistas, a IC considera problemáticas as reuniões pastorais da IPC consideradas muito “racionalizadoras” tratando as discussões emocionais e assuntos interpessoais como irrelevantes. Segundo a Fanuel a mudança de “paradigma” não é apenas para ser “ouvida”, mas implica também numa “mudança pessoal”. A participação em células exige uma mudança de mentalidade e de valores daquele(a) que esteja empenhado em constituir um grupo de células também chamado de “agente de transição”. Há um padrão comportamental a ser alcançado e o argumento utilizado para que tal mudança se efetive é o fato de que não basta um “líder eficiente” visando “produtividade”, mas que o “agente de transição” necessite de um questionamento de seu próprio caráter, visão de mundo e do seu próprio catolicismo. Esta integração do líder em potencial e que precisa ser instruído a um novo sistema de plausibilidade se situa no nível das suas atitudes e, por correlação, ao nível das suas hierarquias de valor. No entanto, o “agente de transição” precisará repensar sua prática antes de assumir os valores propostos pelo “programa de treinamento” da Fanuel. São eles: a) Empatia: romper com a “frieza e indiferença” diante das carências manifestadas pelos neófitos, isto é, estabelecer “relações com as pessoas afastadas da Igreja, que carecem de salvação”; b) Propósito: atribuir à vida um “valor e um sentido”; c) Busca de Colaboradores: redefinir suas redes de contatos ou. 86. O Conselho Nacional do Laicato do Brasil (CNLB), organismo representativo dos leigos católicos no Brasil articulado desde 1975, abriga em seu site informativo, reflexões e documentos. Em texto redigido por ASR, então secretário Geral do CNLB Sul I e Coordenador do Conselho Diocesano de Pastoral da Diocese de Lins em 2011, intitulado “Cristãos Leigos e Cristãs Leigas: memória, história e perspectivas” desqualifica o chavão mencionado. Apoiando-se nas decisões conciliares reivindica, por sua vez, o “protagonismo do leigo” e seu compromisso com a pastoral “fé e política”, direitos humanos, cidadania e também com a CEB’s. Aqui o Concilio Vaticano é utilizado de forma particular para atender os interesses da CNLB diferenciando-se das propostas das IC católicas cujo interesse centra-se nas redes de amizade e multiplicação das células isento de um conteúdo político mais explícito. Conferir texto no site: http://cnlbsul1.blogspot.com.br/2011/06/cristaos-leigose-cristas-leigas.html. Acesso em: 20/04/13..

(20) 154. “estabelecer relacionamentos com aqueles(as) que lhe permitirão “colaborar” com o “novo projeto de vida”; d) Pesquisa: reconhecimento das “próprias falhas” e enfrentá-las de modo a “restaurar as muralhas” da sua intimidade; e) Auto-sacrifício: é necessário que o agente esteja predisposto a “pagar o preço pelo sacrifício”. A obrigação moral é entendida como “sacrifício de si” (PERES & LIMA, ATM2, p.24). Em tais condições, certamente admitimos que a formação de atitudes e dos valores do “agente de transição” no nível da sua inserção religiosa no grupo é progressiva. E o que se espera deste futuro “líder servidor” (LS) é elencado a seguir: 1. “Vê no seu dom não um cargo para mandar e sim uma graça para servir”; 2. “É exigente consigo mesmo antes de ser exigente com os seus colaboradores”; 3. “Comemora o progresso de cada membro de sua comunidade”; 4. “Vive para desafiar, encorajando as pessoas”; 5. “Identifica, desenvolve e investe em líderes; 6. “Insiste com sua melhora pessoal contínua”; 7. “Promove a vida comunitária e familiar”; 8. “Confia nas pessoas e relaciona-se com elas”; 9. “Começa as grandes mudanças nas pequenas coisas” (PERES & LIMA, ATM2, p.24). Os nove traços supracitados assemelham-se ao quadro sinótico apresentado a seguir construído dentro de um conceito de management ou de gestão administração e muito utilizado em literaturas de “Introdução Geral à Administração”. O quadro faz um comparativo entre o tipo de gestão tradicional de um gerente que foca em resultados e uma liderança com perfil afinado com a contemporaneidade e opera cultivando relações de mútua confiança, capaz de identificar os objetivos e necessidades subjetivas dos “subordinados”, amparando-os e estimulando-os nesta busca:.

(21) 155. Tabela 2 – Gerência versus Liderança.. Fonte: Caravantes, 2008, p.141. Os perfis da Liderança especificamente referenciados nos itens 1, 3 e 5 da figura 3 apresenta similaridades com os traços 8, 7 e 9 do LS, respectivamente. Um dos três requisitos fundamentais para a “eficácia” da IC é a necessidade de implementar e manter a cooperação entre os membros cuja responsabilidade maior é depositada nas lideranças de células. O ponto crucial para a transmissão dos valores creditados pela Fanuel é efetivar relacionamentos positivos de forma a manter a lealdade entre os membros. O LS é convidado a motivar as pessoas do seu pequeno gueto religioso empreendendo esforço físico e mental no intuito de resolução de problemas apresentados em sua célula, daí a ideia do auto-sacrificio, da abnegação das suas próprias vontades e desejos em favor da satisfação e desejos pessoais dos neófitos, dos valores aos quais se submete demonstrando ainda o sentido de pertença católica. Feita estas observações é necessário examinarmos até que ponto o fundador e o líder.

(22) 156. geral de Campo Grande da Fanuel, ao confeccionarem o manual de transição, estariam informados - consciente ou inconscientemente - pelas novas formas de gestão e liderança do mundo corporativo atual utilizando esta visão, agrupando e adaptando-a a IC. Notamos que há aqui uma concordância textual entre o líder corporativo e o líder servidor expostos anteriormente. Tal concordância provavelmente é fruto de intercambio de informações que estas lideranças majoritárias da Fanuel possuem sobre novas formas de gestão empresarial. Entendemos que cada Arranjo não é uma ilha, isolada do seu contexto social e religioso. Portanto, esta interação forneceria tanto um guia direto de crenças, necessidades próprias do mundo organizacional contemporâneo quanto um guia indireto, ao focalizar determinadas informações – pelo menos aquelas mais relevantes – para dar significado ao contexto das células da Fanuel. A partir destes pressupostos, o texto do manual foi ajustado às próprias percepções peculiares das lideranças supracitadas. O ponto de familiaridade e afinidades entre as características das duas lideranças, a corporativa e o LS, demonstram um grau de intertextualidade cujos autores recorreram sem uma fonte explicitada 87. Entendemos por intertextualidade, a presença explicita ou implícita de um texto em outro. Segundo Bakhtin, (1992) cada “enunciado é um elo de cadeia muito complexa de outros enunciados” (p. 291). A inserção de pontos e declarações no manual de transição, relacionando suas semelhanças, traça o perfil de um “líder” contemporâneo próprio do mundo corporativo com o LS. E a adaptação efetivada constituirá, certamente, a produção de novos significados, por outros. Esta “nova” leitura da LS proposta pelos autores do manual, além de fazer eco ao texto-fonte (Tabela 2) em vistas do deslocamento de idéias de um contexto para outro, provoca também alteração de sentido. Este amálgama entre a liderança religiosa e a coorporativa é o que possibilitou criar talvez um modelo de liderança ideal para a Fanuel. Ainda no tocante à intertextualidade, podemos dizer que, os autores do manual reproduzem o “estilo” de uma liderança corporativa absorvendo parte das suas características e em outros trechos, utilizam a figura de Neemias como o precursor da liderança em células, motivador dos seus liderados incentivando-os nas suas dificuldades. A percepção desta mudança é fundamental ao líder e demais colaboradores da Fanuel. Mas, a apreensão desta visão não é suficiente. Faz-se necessário uma “reengenharia” ou uma reestruturação por completo desde as instalações prediais, passando por um “plano 87. Há uma citação solta dentro do segundo módulo do manual extraída de um consultor estadunidense, J. C. Hunter, produtor do livro “O monge e o Executivo”, vendido em livrarias e classificado como literatura “autoajuda”. Nele, Hunter desenvolve a ideia do “líder servidor”. Reproduzimos aqui a frase deste autor inserida no manual e que caracteriza um dos muitos traços da liderança servidora da Fanuel: “Autoridade é a habilidade de influenciar pessoas para trabalharem entusiasticamente visando atingir objetivos comuns, inspirando confiança por meio da força do caráter” (PERES, ATM2, p.24)..

(23) 157. pastoral” pautado nas células modificando inclusive o calendário anual das atividades (PERES & LIMA, ATM2, p. 35). O termo “reengenharia” surge pela primeira vez no manual e é utilizado no sentido crítico. Refere-se à necessidade de modificação dos mecanismos internos da IPC, dos seus processos e práticas de administração das pastorais já existentes, a fim de reconstituí-los em um novo formato e com novas funcionalidades. Esse processo de desmonte de uma estrutura católica constituída de pastorais e movimentos oferecendo “serviços religiosos” específicos é interpretado como ineficiente e ineficaz. A IPC é tida como incentivadora de criar nos fieis uma lógica consumista tendendo a reproduzir no seu ambiente, o modus operandi do mundo secular. Por este motivo a reengenharia significa reformular os pressupostos e os métodos da IPC, otimizando o processo de criação de “sujeitos produtores” que tenham consciência do que é “ser católico” na perspectiva celular. Portanto, a reengenharia é o processo pelo qual a organização que existe hoje (paróquias) é aposentada e a versão ideal da nova organização (IC) é construída voltada para as pessoas, à sua multiplicação e não tanto ao pragmatismo característico das pastorais. A participação no processo de transição da IPC para IC envolve “confiança”, cooperação e “empenho” de todos os envolvidos e, dependendo do tamanho da comunidade, poderá leva até três anos para a implantação deste novo design. (PERES & LIMA, ATM2, p. 36). A IC é focada em resultados, o crescimento e a expansão das células. É ganhar almas e salvá-las dentro dos parâmetros doutrinários católicos relidos nas células da Fanuel. Uma vez assumida esta nova postura, exige-se daquele (líder em potencial) ou comunidade católica disposta a “transicionar” assimilar ou “viver os padrões” propostos da Fanuel. Entretanto, faz-se necessário ainda, introjetar nas possíveis lideranças um conjunto de valores e uma “declaração de ideais” ou princípios sem os descaracterizam uma IC. A declaração dos ideais foram forjados pela liderança majoritária da Fanuel com o aval do fundador. Ela expressa uma “direção geral, uma imagem e uma filosofia que guia a comunidade. Além de apontar um caminho para o futuro, faz com que todos queiram chegar lá. Deve representar as maiores esperanças e sonhos da comunidade” (PERES & LIMA, ATM2, p. 37). Uma vez identificadas às características da IPC e IC e o processo que aí decorre quando da transição de uma entidade organizacional para outra, os módulos 1 e 2 discorrem também os objetivos pelos quais a mudança é considerada viável, apropriada e a importância do papel daquele(a) disposto ao auto-sacrificio. Para nós, o manual “Ano para a Transição”, segue três fases de transição como segue: Definição – desenvolvimento implantação da IC. Dentro ainda do módulo 2, as equipes - dispostas a “transicionar” – são convidadas a assimilarem a tríade amoldada pela Fanuel e muito utilizada no mundo.

Referências

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