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SÃO PIO DE PIETRELCINA

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Conselho Administrativo

SÃO PIO DE PIETRELCINA

PIETRELCINA  SÃO PIO DE PIETRELCINA  SANTA TEREZINHA DE LISIEUX  SÃO BENTO

 SÃO FRANCISCO DE ASSIS  SÃO JOSÉ

 DOM BOSCO

 SÃO PIO DE PIETRELCINA

Os santos possuem uma função educativa para aqueles que os veneram. São norteadores. Reduzem o caos, inserem significados, mantendo a coesão grupal. É o caso, por exemplo, da consagrada solteira da comunidade Árvore da Cruz que fez votos de castidade. Faz uso de vestimentas sugeridas pelo fundador, que obteve “inspiração” em Santa Terezinha de Lisieux e padre Pio de Pietrelcina. Este item, a “veste”, considerado sagrado e diretamente associado aos santos referidos é particularmente reverenciado pela consagrada da Árvore da Cruz. O uso que se faz das vestes neste arranjo é cercado por um grande respeito. Vivendo de acordo com sua subjetividade e respeitando as regras da comunidade, aceita vestir-se de “saia preta e blusa marrom” assumindo o estado de vida que escolheu. Ela mesma relatando sua interpretação das cores da vestimenta, diz que o preto – cor utilizada por Terezinha de Lisieux - significa “morte para as coisas do mundo e os interesses pessoais” para melhor efetivar, diz ela, a “vontade de Deus”. O marrom – cor sugestiva de padre Pio -, por sua vez, simboliza a “pobreza”. Para a consagrada, ser pobre não é sinônimo de “não ter nada”, mas “ter sem se apegar”. O entrelaçamento santorial manifestado nas vestes da consagrada é um caso típico de hibridização. Neste caso, houve mais do que uma mistura de cores, uma possibilidade de negociação desestabilizando uma forma única de se pensar a espiritualidade de um santo(a). O designer das vestes nasceu da “inspiração” do fundador e cada peça do vestuário adquire um sentido simbólico que atende aos interesses do carisma do arranjo.

No decorrer destas discussões sobre a influência dos santos nestes ambientes do catolicismo alternativo tornou-se cada vez mais explicitamente mais um importante fator que lhe dá coesão simbólica: a experiência mística dos santos. Por exemplo, Terezinha de Lisieux,

que viveu na clausura, descobriu sua missão através do amor de Jesus: “Não tenho grandes desejos senão aquele de amar até morrer de amor” (COTTA, 1997, p. 25). Já Pio de Pietrelcina, proclamado santo em 2002, comumente chamado de frade “operador de milagres”, visionário e dedicado à oração contínua é a característica mais próxima do seu perfil: “[...] Pelo amor de Deus, venha em meu auxílio! O sangue cai como chuva em todo o meu interior” (CANTALAMESSA, 2000). A oração manifestada nos cultos dos arranjos possui um estilo livre, aberta e criativa e são feitas com o apoio do “falar em línguas”. Embora respeitando e divulgando a doutrina católica, acreditam que buscar a Deus, a cura interior, a vida regrada em busca da santidade do “eu” é mais importante do que encontrar Deus pela mediação tradicional ou pelo dogma. Para eles, a mensagem de Cristo é mais espiritual do que religiosa. O lugar do encontro com a divindade está “dentro da alma”. De outro modo, maximiza-se o relacionamento emocional com o sagrado em detrimento do entendimento intelectual e lógico dele.

Neste capítulo examinamos os principais símbolos religiosos dos arranjos católicos que lhes proporcionam coesão comunitária. Cada arranjo, oferece à sua membresia, uma estrutura de valores e normas, uma maneira de pensar e um modo de apreensão do mundo que orienta suas condutas. Se distinguem dos outros primeiro pelo seu Totem e, segundo pela forma de praticar suas crenças Estabelecem, por assim dizer, certa armadura estrutural cristalizando um modus operandi que atribui lugares, papéis e condutas dos seus membros mais ou menos estabilizadas e que facilitam o trabalho em comum.

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Esta tese investigou comunidades católicas leigas presentes no ABC Paulista, que denominamos arranjos comunitários alternativos católicos. A análise destas comunidades se valeu de abordagem antropológica e sociológica, caracterizando as relações - de poder, diálogo e controle existentes - entre os agentes religiosos católicos destes arranjos e a ICAR regional do ABC Paulista. Estas novas formas organizacionais leigas do catolicismo emergiram de contextos sócio-econômicos particulares, se adaptando ao entorno social. Seus ritos e crenças veiculadas ajudaram a perceber como são construídas as cosmovisões destes agentes ou qual(is) são os sistemas de pressupostos que usam para organizar e interpretar as suas experiências religiosas. Ao buscar traçar um quadro geral destes arranjos alternativos católicos no ABC Paulista, consideramos que nenhum retrato será completo o suficiente para registrar a variedade dos catolicismos existentes. Além disso, seria demasiado arriscado determinar quais os conceitos e teorias que apreendem adequadamente estas novas configurações do catolicismo contemporâneo, uma vez que nenhum deles – teorias e conceitos – se constituiriam sem um referencial anterior que inclui métodos e instrumentos de pesquisa e análise. Um tema novo nunca é totalmente novo, ele sempre possui um passado mesmo que discreto e modesto. Embora o quadro sócio-econômico e religioso do ABC passou por mutações importantes, de maneira a impactar na vida religiosa da região, as questões de luta social e opção pelos pobres, que foram importantes para atuação da ICAR no chamado período das greves operárias (1978-80), hoje se pulverizaram, “desmancharam-se no ar” e este vazio preencheu-se em parte com formas diferenciadas de atuação do catolicismo na região, utilizando outra linguagem de convencimento e arrebanhamento de fiéis.

Os arranjos católicos são formas organizacionais que não rompem definitivamente com o passado, mas criam maneiras híbridas de relacionamento entre passado

- tradição religiosa - e presente - modernidade contemporânea - traduzidas através de comportamentos, gestos, ritos, crenças e literaturas produzidas pelos seus fundadores.

Estes novos formatos organizacionais surgem criativamente como resposta às mudanças ambientais - sociais e econômicas - e institucionais - catolicismo eclesiástico oficial: Roma, CNBB, bispados diocesanos e regionais, e todo o clero que daí se estrutura. Este tipo de burocracia religiosa representada pela ICAR estaria em fase de superação ou flexibilização se comparado a esta variedade de novas formas de organização religiosa católica com arquiteturas e desenhos organizacionais significativamente diferentes. Estes novos formatos organizacionais católicos surgem dentro do contexto da modernidade contemporânea. Podemos pensar qual a relação que este “tipo” de catolicismo possui com o ambiente moderno. São organizações mais flexíveis a ele se comparadas às relações do catolicismo eclesiástico. As mudanças socioeconômicas empreendidas pela modernidade contemporânea manifestaram desconfortos entre o clero católico, acionando muitas vezes dispositivos de retaliação, resistências ou até de diálogo suspeito com a modernidade.

Parece-nos que estes espaços em ambientes latino-americanos alargaram-se através de um catolicismo sem paróquia, visibilizados pela atuação dos arranjos católicos. São formas organizacionais surgidos em decorrência da crescente destradicionalização do catolicismo institucional em vistas do processo de secularização. Tais arranjos católicos se adaptam melhor ao ambiente de uma modernidade reflexiva (GUIDDENS, 1997) de modo a “radicalizar” ou estabelecer um “recriar contínuo” daquilo que foi constituido pela tradição católica: seus dogmas e símbolos religiosos.

Os arranjos católicos convivem com formas tradicionais de “ser católico”: o católico nominal, o militante católico que atua somente dentro dos ambientes paroquiais, o católico com dupla ou tripla identidade religiosa, o católico que transita sem se adaptar em abraçar algo seguro, o catolicismo santorial que persiste em ambientes paroquiais, etc. Estas matizes possuem seu status dentro da ICAR, sem sofrer demasiado controle por parte da instituição católica. A ICAR apoia moralmente os arranjos reconhecendo sua posição que ocupam dentro do seu próprio campo religioso. Esta tolerância para com o pluralismo católico foi incentivada principalmente no pontificado de João Paulo II. Isto significa que a ICAR percebeu que estes movimentos – pelo menos aparentemente – além de não ferirem aspectos como o respeito clerical, os sacramentos e o culto aos santos e à Virgem Maria proporcionam maior extensão do catolicismo em ambientes em que a paróquia não chega.

Procurando dialogar com a cultura hodierna, mesmo que de forma tensionada, João Paulo II e seu sucessor Bento XVI, inspiraram determinados grupos religiosos católicos,

no qual se inscrevem os “novos movimentos eclesiais” (NME) e “novas comunidades”, a continuarem esta inserção. Provavelmente estes NME não sejam tão ortodoxos, se pensados do ponto de vista dos documentos católicos oficiais, porque cada qual recria a tradição dentro da sua própria organização, sustentando e divulgando os signos católicos pelo mundo. A conjuntura histórica foi favorável ao desenvolvimento de muitos grupos e movimentos religiosos e portadores de diferentes carismas. O próprio João Paulo II compreendeu isto sob seu pontificado governou a ICAR a partir de um centro, Roma, mas o fez nesse meio sócio- cultural altamente diferenciado tentando legitimá-lo. É neste quadro social que emergem os arranjos católicos que, embora a autoridade eclesiástica se esforce para enquadrá-los oficialmente, no final, foram reconhecidos como a expressão de um despertar religioso tolerando suas capacidades relativamente autônomas de organização comunitária. Portanto, os arranjos católicos são um dos braços estratégicos da ICAR para reduzir suas sérias dificuldades para entrar na modernidade contemporânea.

O catolicismo leigo investigado aqui é composto por pessoas que “acharam seu carisma” investindo seu tempo e dedicação nas atividades comunitárias criadas. Isto não significa que não possuam mais nenhum vínculo com a estrutura paroquial. Esta nasceu dentro do orbe rural e as mudanças ocorridas a partir da modernidade criaram um desconforto por parte do clero católico, imprimindo-lhes uma forma diferenciada de atuação no meio urbano. O descompasso existente entre o sistema paroquial e a urbanização social é evidente. Os espaços e as fronteiras de atuação da ICAR via paróquias, se encontram na modernidade contemporânea, diluídos. Os arranjos católicos parecem se adaptar melhor a este ambiente fluido, mas surgem não em decorrência da crise – dissolução e ruptura - do sistema paroquial. Pelo contrário, os seus membros continuam “linkados” com suas respectivas paróquias e as usam como espaço complementar de atuação mantendo o vínculo institucional. Garantem e mantém boas relações com o clero local para assim preservar o seu status quo. Os arranjos católicos prestam serviços religiosos específicos guardando diferenças se comparados à estrutura paroquial. Enquanto a paróquia é fixa do ponto de vista territorial, eles possuem mobilidade e se ajustam a novos territórios. A paróquia oferece uma diversidade de serviços locais: venda de artigos religiosos, missas dominicais, rifas em pról de ações beneficentes, serviços burocráticos da secretaria paroquial, enquanto os arranjos também possuem seus próprios esquemas de “oferta de serviços”: venda de livros, CDs e DVDs dos seus fundadores, ofertas de cursos rápidos de evangelização, cultos variados e aconselhamentos semanais acomodados aos perfis do seu público-alvo. Há aqui certa flexibilidade burocrática

na oferta de serviços religiosos enquanto na paróquia estas ofertas são bem mais centralizadoras e departamentalizadas.

Distanciando-se de compromissos sociais e políticos mais efetivos, reforçando práticas mais espiritualizadoras, de emoção e intimidade com Deus, os arranjos alternativos católicos se inscrevem em um tipo de catolicismo mais espiritualista, preocupado em atender os “clientes católicos” através de orações, cursos temáticos e de pouca duração, rituais de “cura e libertação”, encontro de jovens, células. O “atendimento ao cliente” é um grande diferencial na prática destes grupos e o atendimento adequado à esta clientela é importante para o crescimento e permanência destes grupos na atual conjuntura religiosa e social do Brasil.

Os arranjos católicos são espaços que permitem, a seus fieis externar com maior autonomia sua catolicidade. São espaços que agregam a tradição católica atual - renovada - e a antiga - tradicional, dos santos, anjos, reza do terço, espaços estes afinados com a modernidade, eclodindo em carismas pessoais e garantindo liberdade de interpretação da sua própria experiência religiosa. Espaços de rituais de “cura e libertação interior” sem a preocupação com controles institucionais da ICAR. Os arranjos administram seus próprios bens simbólicos sem interferência do clero. A obediência ao bispo local, mesmo que indireta, e a lealdade ao papa são garantias de sobrevivência destas comunidades. Estas possuem perfil “carismático”, de “católicos renovados” e são lideradas por um fundador, leigo, casado. Reconhecido pelos seus subordinados como um “pai espiritual” dotado de “dons especiais”, o fundador reforça a coesão, a identidade e a linha religiosa da organização.

Os arranjos auxiliam, a seu modo, o que chamam de “pessoas prejudicadas e machucadas espiritualmente”. Em outras palavras, constroem uma prática de “cura e libertação” seja através de rituais herméticos - rituais, orações, cristotecas, noites da pizza - realizados durante a semana, em finais de semana ou por atendimentos personalizados. Estas formas extra-paroquiais de gestão dos bens religiosos católicos dialogam com pertinência com as chamadas realidades virtuais ou mídias virtuais - twitter, orkut, blogs, facebook; cada qual com seu sítio ou com sua página na internet divulgam seus perfis identitários. Possuem ainda variações relacionadas ao estilo de vida adotada leigos(as) consagradas dedicação exclusiva ou não, celibatários, casais consagrados. A presença de membros casados pode ser fator atraente para o público em geral. E este modo de vida parece ser viável e mais acessível para jovens homens que não querem uma vida celibatária clerical. Fazem clara opção por uma vida comunitária intensa, estabelecendo regras de convivência a partir dos seus estatutos e realizando em seu conjunto um compromisso compartilhado de valores. As trocas

interpessoais construídas nestas comunidades emocionais/morais afetam qualitativamente a maneira de pensar e agir dos sujeitos incorporando um habitus particular daquele grupo. As chamadas “novas comunidades” oferecem um ambiente de descoberta das potencialidades subjetivas e emocionais. O intercâmbio e as redes sociais que ali se formam também são importantes. Há uma valorização das relações pessoais ao invés de relações apenas funcionais emergindo, por assim dizer, espaços de trocas afetivas.

Os arranjos católicos são geralmente atraentes e credíveis ao público que os procuram, porque dão prioridade à “cura e libertação interior”. Sua prática religiosa se afina com a contemporaneidade, isto é, incorporam valores modernos nos rituais, na linguagem, na divulgação de websites conjugados com elementos da tradição católica: a reza do terço, o falar em línguas, a cruz, o coração e o sangue de Jesus, a figura dos santos baluartes que dão sustentabilidade e identidade às comunidades até aqui observadas.

Estas associações leigas se proliferam no ABC paulista, cada uma com suas funções especializadas e com normas organizacionais que são próprias do seu “carisma”. Tais comunidades construíram um sistema especializado nos aspectos das suas estratégias/métodos de convencimento religioso ao seu público alvo como as suas inserçoes na mídia virtual possibilitou maior abrangência de divulgação do catolicismo específico não-clerical.

Os arranjos estabelecem uma tensão entre dissidência e conformismo das regras religiosas do catolicismo oficial. Eles não se afastam dos modelos e normas em uso da ICAR, mas possuem atitudes e sistemas de valor criados por eles cuja fonte de autoridade não provém da tradição católica, mas de uma inspiração ou “revelação divina” que se fez conhecer pelo fundador. A tradição religiosa, por sua vez, foi e é utilizada para justificar tal “revelação”. Suas lideranças conscientemente deliberam um sistema de valores morais e simbólicos que julgam mais elevados e que não se chocam necessariamente com o catolicismo oficial: a cura interior através da invocação do Espírito Santo e do falar em línguas, o reconhecimento do exercício de uma vida de santidade pautada em modelos de santos(as), vida celibatária, sacrifícios pessoais, por um lado, acomodam a doutrina religiosa oficial dentro de sua estrutura e arquitetura organizacional e, por outro, acrescentam práticas religiosas que refletem sua identidade de grupo: pregadores itinerantes, cultos de avivamentos específicos, interpretação “livre e subjetivada” das Escrituras etc. Os arranjos se vêem como tendo uma identidade católica compartilhando seu rol de símbolos, seus ensinamentos sobre questões doutrinárias e morais. Mas são simultaneamente membros de uma comunidade

emocional/moral específica, comprometidos afetivamente com sua missão, visão e valores,

instituição e carisma manifestada nos comportamentos das lideranças dos arranjos, incita a preocupação do clero católico em estabelecer “um aparato corretivo e fiscalizador que evite desvios doutrinários comprometendo a lealdade ao lema “una, santa, católica e apostólica”. Exerce um controle à distância e sem interferência direta, de modo que os leigos destas comunidades sejam autônomos no tocante à administração dos cultos, websites, finanças, e de serviços especializados de bens religiosos católicos, assim como estratégias de evangelização. Tanto a Renovação Carismática Católica quanto os arranjos católicos permanecem leais à hierarquia porque dependem dela para o reconhecimento institucional. Por outro lado, a hierarquia eclesiástica considera-os aliados pelo fato de divulgarem ao seu público alvo, a fé no catolicismo romano.

A rápida difusão destas comunidades, pelo menos no ABC paulista, rasurou as fronteiras territoriais e simbólicas. Quer dizer, assim como os pentecostais, os arranjos admitem receber também os dons do Espírito Santo - cura, profetismo e “falar em línguas”, esconjuram as forças malignas que impedem a restauração do indivíduo em Cristo, implicando em dizer que estes elementos não sejam de exclusividade do mundo pentecostal. As casas de missão dos arranjos onde são praticados os ritos carismáticos, caso não houvesse qualquer significante - estátuas de santos, da Virgem Maria, ícones de João Paulo II e Bento XVI - lembrando a fronteira católica, pensaríamos serem grupos pentecostais. Seus rituais não seguem uma forma litúrgica convencional à maneira do rito católico oficial, veiculado nas missas dominicais; são dirigidas por leigos(as) formados no próprio ambiente comunitário do arranjo. Todas as comunidades observadas estão sob controle eclesiástico indireto, assim, possuem certificados assinados pelo bispo local, legitimando e “abençoando” as suas atividades. Todos os fenômenos supracitados podem ser encontrados em graus diversos nas igrejas pentecostais, com óbvia exceção à lealdade a uma hierarquia eclesiástica.

Estes arranjos se mostram diferentes também se comparados aos “grupos de oração carismáticos”, que se expandiram em grande parte das paroquiais do ABC paulista. Os grupos de oração possuem conselhos paroquiais e regionais, mas continuam entrincheirados nos território paroquial e não obedecem necessariamente a um ritual fixo. Caracterizam-se por estabelecerem um momento de adoração, seguido por invocações ao Espírito Santo.

É um equívoco acreditar que os arranjos veiculam mensagens que enfatizam a luta contra o “pecado estrutural”, contra a violência social institucionalizada e muito menos a opção pelos pobres, características das CEBs na década de oitenta do século XX. Pelo contrário, tais discursos não exercem nenhum atrativo para o público que atingem. Influenciam os católicos que não possuam um maior engajamento religioso.

A emancipação das tecnologias de informação e comunicação, principalmente a internet, contribuiram para a ocorrência de um acelerado processo de mudança nas relações sociais, mas a incorporação e o uso de determinadas tecnologias possibilitou a reinterpretação do contexto cultural da contemporaneidade. Ao utilizarem os recursos virtuais, estas comunidades, elaboram sua própria linguagem visual, divulgando suas atividades e desenvolvendo uma estratégia de atração de possíveis usuários dos seus serviços religiosos.

Nos sites das comunidades, além dos totens que as identificam, o acesso a links de blogs, facebook, twitter, orkut, chats, terço, velas virtuais, envio de suas intenções e pedidos a Deus, inscrição em eventos e cursos, etc. Estas comunidades possibilitam não somente uma interação real, mas uma interação que prescinda da face a face. Sendo assim, tais comunidades compartilham interesses e identidades por meio do ciberespaço independente de fronteiras e demarcações territoriais fixas (LEVY, 1999).

Os arranjos católicos são um tipo de catolicismo de consultoria. Exercem uma função de aconselhamento espiritual do público que os procuram. Seus objetivos pautam-se no alcance de maximização de resultados – a Fanuel, por exemplo, mantém um índice de serviços religiosos necessários ao seu crescimento que garanta sua “fatia” de participação do seu produto religioso. Em outras palavras, tais comunidades lutam dentro do campo religioso tentando garantir seu capital simbólico, em reconhecê-lo como legítimo, de forma que seus

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