• Nenhum resultado encontrado

ARRANJO CATÓLICO CHAGAS DE AMOR

No documento Download/Open (páginas 30-43)

ESTRATÉGIAS 1 Evangelismo pessoal;

2. ARRANJO CATÓLICO CHAGAS DE AMOR

O Arranjo Chagas de Amor, localizada no parque das Nações em Santo André, no ABC paulista com 8 anos de existência possui atualmente uma “casa de missão Nossa Senhora do Carmo”91 situada na Vila Francisco Matarazzo, em Santo André onde é confeccionado os trabalhos de administração, núcleos de formação, criação e divulgação das atividades realizadas semanalmente e anualmente. Dentre elas, destacamos o encontrão público de três dias intitulado Embriagai-vos do Espírito Santo, encontro das mulheres de

fogo, homens de fogo, além de mini reuniões públicas semanais realizadas no salão paroquial

Santo Antônio do Arraial, na mesma vila.

91

O arranjo mantinha mais uma casa em aluguel onde se concentrava a sede dos trabalhos missionários intitulada “casa de missão São Pio de Pietrelcina, na Rua França, Parque das Nações, em Santo André.

Figura 29 - Comunidade Chagas de Amor, Bairro Parque das Nações, Santo André, SP

Fonte: Foto realizada por Vlademir Ramos

O fundador do Chagas, de 32 anos, possui um histórico familiar de pais católicos paraenses não praticantes, cresceu dentro de um catolicismo tradicional familiar e social. Admite ter adquirido os valores familiares e os traduz como importantes na formação do seu “caráter”:

Então, a minha família é toda católica, fui batizado na igreja católica, fiz primeira comunhão, crisma, mas uma família que de professa católica, mas não tive o testemunho dos meus pais. Então eu não via eles freqüentando a igreja, eu não via eles indo à missa, servindo numa paróquia, numa comunidade... mas uma comunidade, uma família que se professava católica, mas não praticante como o que dizem hoje. (homem, leigo, casado, 32)

A descoberta da prática católica e seu posterior engajamento advieram gradativamente e se iniciam sob um histórico pessoal de difícil resolução que o afetou emocionalmente:

E normalmente nós dizemos assim que, ou se conhece a Deus pelo amor ou pela dor. Então o meu engajamento, a minha. a minha... vamos dizer assim a minha experiência pessoal com Jesus, para que eu pudesse à partir daí estar a serviço do reino de Deus na igreja, foi em um momento de dor da minha família. Então hoje eu tenho 31 anos, então há 15 anos atrás eu passei por um momento muito é. escuro, por causa das drogas. Durante 4 anos, dos meus 12 aos meus 16 anos eu fui usuário de drogas. É... maconha, álcool, cigarro, cocaína... e isso levou a minha vida de adolescente de 16 anos, uma vida de trevas, sem sentido, uma vida sem perspectiva e também com conseqüências familiares terríveis, né? Brigas, contendas, desrespeito, todo tipo de violência. Ou seja, quando eu me envolvi no mundo de drogas, eu comecei a destruir todos que estavam ao meu redor. (homem, leigo, casado, 32)

O surgimento de uma pequena rede afetiva em sua vida, sua futura esposa, modificou seus hábitos. À convite de um amigo participou de um encontro de “jovens com

Cristo” e, segundo o fundador, a partir dele houve uma sincronização e um alinhamento dos seus valores com os valores cristãos.

Há um clichê popular religioso muito usado nos grupos de oração e na RCC para justificar a inserção do sujeito ao grupo: “Ou se conhece Deus pelo amor ou pela dor”. Este relato feito de maneira retroativa sobre sua “conversão” e a saída do mundo das drogas justifica o uso que faz do clichê. No relato a “dor” fez sentido. Ele recebe de Deus uma “restauração” a partir do momento da sua inserção no mundo religioso. A “dor” foi interpretada como caminho, uma “ponte” de indenização para Deus modificando seus hábitos. O seu corpo, seu espaço doméstico, seu relacionamento afetivo se redefine a partir destas escolhas que fez. Descobre ainda que sua vocação não se dirigia para o sacerdócio, mas para o matrimônio.

Formado pelo SENAI e em Administração de empresas pela UNIA em Santo André há oito anos, trabalhava em setor operacional numa indústria automobilística no abc paulista com projeção de crescimento profissional. Paralelamente, militava também em um grupo de oração na paróquia Santo Antônio e não tinha intenções reais de constituir uma comunidade onde pudesse se dedicar, como ele mesmo relata, “inteiramente à obra de Deus”. Havia dúvidas na decisão tanto no sentido de “evolução dentro da empresa traçando um caminho seguro à promoção” como “se sacrificar em vistas de uma vocação interior abrindo mão de certa estabilidade financeira”.

Apoiado pelos colegas de trabalho e sendo incompreendido pelo seu superior imediato por não “entender de coisas espirituais” assume os riscos da sua decisão. Embora, segundo o depoente, comprometendo-se com os votos de “pobreza, obediência e castidade”, construiu um Arranjo sob adversidades e afetivas e sem ajuda financeira da diocese de Santo André:

Interessante que ele não entendeu justamente pelo fato que eu tava traçando um caminho para promoção. Então ele não entendeu que uma hora eu queria tanto evoluir na empresa, mas que de uma hora pra outra eu queria abrir mão. E é claro, o homem natural, ele não entende as coisas espirituais. Então esse meu supervisor, de certo momento ele não entendeu, mas também não questionou a decisão, apenas respeitou. (homem, leigo, casado, 32).

Percebe-se aqui a construção de relações de confiança entre aqueles colegas de profissão com equivalência base operacional que “entenderam sua decisão”, o que não ocorreu com seu superior: “não entendeu, mas não questionou”. Não houve aqui por parte do seu supervisor, uma má interpretação da mensagem, mas uma incompreensão do significado

da mensagem emitida pelo seu subordinado. Comumente a empresa é vista como um lugar de produção, eficiência e rentabilidade, assim como, um lugar potencialmente de mudança e desenvolvimento pessoal dos seus funcionários. O protocolo das relações ali construídas são determinadas pela impessoalidade e as relações de amizade aparecerão em consequência do tempo de trabalho. Demissões por motivos pessoais devem ser pautados em causas reais e “sérias”. Não estaria aí um motivo da fala do entrevistado ao relatar que seu chefe “não entende de coisas espirituais” no sentido que ele não interpretou seriamente a decisão do seu subordinado, ou as coisas sagradas estão dentro de outro padrão lógico incompreensível ao homem comum? O depoente afirma uma possibilidade de vivenciar o sagrado no secular sem, de fato, desligar-se efetivamente. Percebemos aqui que o motivo do desligamento não era o fato de ser “sal e luz na empresa”, como relatado, ou em outros termos, não haveria conflitos, para ele, entre a ascensão pessoal, busca de lucros e religião mesmo porque, a liberdade religiosa não deve se sobrepor aos interesses da empresa. Outra questão é o fato dos seus “amigos” não estranharem sua decisão, ao contrário, incentivava-o porque “conheciam” a sua vida. Provavelmente aqui não se estabelecia uma discriminação pela sua crença e até mesmo o exercício dela no ambiente de trabalho. Talvez a proximidade criada com seus colegas de trabalho ajudou-lhe em sua decisão. Esta relação provavelmente não era uma relação de autoridade, verificável entre subordinado e patrão, mas uma relação emocional com base em sentimentos de amizade e companheirismo que o motivou na efetivação dos seus objetivos. Ele observa que o novo contexto situacional exige condições necessárias para a fundação de uma comunidade. Registrada como Associação Privada de Fieis, o Chagas, possui CNPJ e um centro de contabilidade onde está registrada a casa alugada, telefones etc. Ainda dentro do chamado “discernimento” no que se refere à fundação da comunidade, ela surge gradativamente a partir do grupo de oração paroquial já mencionado e atualmente conta com alguns membros efetivos “dedicados inteiramente à obra”, também chamada de “comunidade de vida” e outros colaboradores ou sócios benfeitores – “comunidade de aliança”. Os membros da comunidade de vida pertencem a dois diferentes estados de vida (casal – fundador/esposa/filhos e três solteiros (duas mulheres de 23 anos e um homem de 21) e a co- fundadora pertencente à comunidade de aliança:

Os chamados sócios benfeitores colaboram com determinada quantia mensal. Mesmo que não compartilhem com a mesma visão e missão do Chagas, as pessoas que se associam podem fornecer apoio financeiro e excepcional (doação, contribuição) permanente ou não. A comunidade possui uma conta bancária em nome da Associação Fraterna Chagas

membros incluindo o fundador e sua família e suas atividades de cura e libertação espiritual. Há também uma série de produtos oferecidos pela comunidade: DVDs de pregações, livros do fundador, camisetas com a logomarca Chagas, confecção de trufas:

Como que é a captação de recurso da comunidade? Hoje nós temos benfeitores. Sócios que vão manter a obra, não é? Temos também os produtos que nós fazemos que são os livros, DVDs, temos também. nós fazemos trufa, bolo. é... a gente faz isso, e também as doações espontâneas que as pessoas dão. Elas dão roupa... Hoje por exemplo a minha filha estava com um sapato que ela ganhou, bem novo. Eu e minha esposa nos dispomos a vivermos com essa condição, não vemos problema nenhum. Não nos falta nada pra gente viver! E a gente vive, não vivemos no luxo, certo? Não vivemos na pobreza, mas sabemos viver quando temos e quando não temos. É uma maneira de viver com sobriedade. É lógico! Pra eu, pra minha esposa e pros solteiros, existe muito mais austeridade do que pros meus filhos. Para os meus filhos, por exemplo, o que eles precisam né? Escola... embora estudem na rede municipal, o plano deles é o SUS, mas uma roupa, um brinquedo, a gente tem tudo isso com a sobriedade. (homem, leigo, casado, 32).

A opção de vida feita pelo fundador envolveu sua família rearticulando-a sob uma nova ótica organizacional e moral, no caso, a ética da sobriedade. A sobriedade parece resumir a percepção do fundador sobre o restabelecimento de atitudes contrárias àquelas consideradas por ele, excessivas do ponto de vista da sociedade de consumo. O estilo de vida vivido agora e mantido mediante um regramento comunitário é capaz de transformar sua situação e da sua membrezia. Há, portanto, uma regulação dos gastos da comunidade exigindo daí um planejamento estratégico para suprir necessidades de subsistência e marketing dos serviços oferecidos.

Mantendo uma distância relativa do mundo secular vê a necessidade de um estilo austero para si, esposa os “solteiros” dedicados às atividades da comunidade e uma flexibilidade moral favorável aos filhos. A austeridade católica relida pelo fundador priva voluntariamente alguns prazeres e bens materiais a fim de concentrar na sua vocação religiosa, mas não a ponto de negar aos filhos um mínimo de acesso à escola e à diversão. Outro fator subjacente ao relato é o fato de que seus filhos não fiquem muito apartados do capital simbólico oferecido pela sociedade:

Por exemplo, os meus filhos, por exemplo, no final de ano, ele nunca pede um presente. Mesmo vivendo essa atmosfera de Natal, mas se eu falar filho o papai não pode dar um presente de Natal pra você, ele vai entender. Mas nunca aconteceu isso. Então nesse fim de ano, dento do segmento de sobriedade, ela foi comprou um presente pras crianças, né? Simples... e pega a nota, no CNPJ da comunidade, e tudo vai pra contabilidade... então tudo é em nome da associação. (Idem).

Ainda dentro das estratégias familiares educativas dos filhos, o fundador, busca interá-los dentro da moral da sobriedade. Em outras palavras, procura dar sentido e significado à sua escolha agora dentro um novo sistema de plausibilidade tentando definir objetivos para os “seus” dobrando os constrangimentos externos “consumistas” adotando meios práticos para minimizar exigências lúdicas e educacionais dos filhos:

Meu filho tem 9 anos, pra fazer estudar já é difícil! Hoje em dia tem a bagunça, baladas. Lá em casa, por exemplo, eu e minha esposa... acho que já são valores, valores que a religião nos deu. Lá por exemplo nós não temos televisão na nossa casa. Você vai na sala de casa tem uma televisão. Mas é pro DVD, pra assistir em família, as crianças vêem em DVD. E tem uma no nosso quarto. Então as crianças se querem assistir desenho, por exemplo, assistem no máximo 2 horas por dia. Então é um padrão que a gente colocou, porque a gente procura ocupar o tempo com outras coisas. O meu filho, por exemplo, pelo menos 2 livros por semana, livro é de lei, um mais didático pra sua idade, por exemplo, a gente descobriu o valor disso. São livros pequenos, né? (Idem)

Os espaços da casa estão bem delimitados assim como as fronteiras entre o público (preservação de laços familiares) e o privado (garantia de preservar a intimidade do casal?), aquilo que pode ser realizado ou evitado. Há um alto controle nos padrões a serem seguidos pelos filhos de forma a estabelecer limites. Notadamente, a vida em família está localizada espontaneamente na esfera privada e em constante tensão com a esfera pública que passa a ser associada a “bagunça”.

A providência divina também ganha espaço nos relatos. Sob uma aparente “loucura”, o depoente ratifica a governança divina e seu monitoramento sobre o Chagas. O fundador acredita que o caminho escolhido se enquadra dentro dos projetos “secretos” de Deus que governa o mundo. O dito popular “Ao deus dará” se encaixa nesta perspectiva. O compartilhamento desta crença de que há uma direção divina na história ajuda a enfrentar o cotidiano alimentando assim uma ascese extra-mundo.

O imediatismo vivido não o faz pensar em questões, por exemplo, de regulação “profissional” dos consagrados. Não há qualquer programa de proteção social que proporcione um grau de segurança caso seus membros se confrontem com alguma doença, sobrevivência pessoal ou até mesmo invalidez. Mas, há uma possibilidade de incluir esta assistência em sua agenda organizacional:

Por exemplo, hoje quando a gente fala de INSS, né? Hoje nós não trabalhamos, nós não contribuímos né? Então nos temos dentro do nosso planejamento esta avaliação que não seria bom, as pessoas que se dedicam inteiramente à obra que através a comunidade fizesse essa contribuição, né? Particular ao INSS. Não existe porque a comunidade ainda não deu passos nesta estabilidade. Por exemplo, hoje nós temos

duas casas, nós moramos em duas casas que são de aluguel, mas estamos dando um passo, o ano que vem nós queremos comprar um terreno. (Idem)

O Arranjo Chagas possui duas casas alugadas. Uma delas aloja duas meninas entre faixa etária de 20 a 24 anos consagradas à comunidade de vida onde se “dedicam exclusivamente” à obra. Há também um jovem de 22 anos da comunidade de vida, mas que reside na casa do fundador em quarto reservado para ele. Esta casa conta com cinco quartos, uma sala e cozinha amplas. A área da varanda é constituída de um gramado e uma garagem ampla com acesso à sala. O ambiente foi ocupado e organizado simbolicamente favorecendo o intercâmbio com o público em geral e o gerenciamento das atividades: oração, atendimento de algum usuário procurando atendimento espiritual, escritório onde são confeccionados os

folders de divulgação do Arranjo via email marketing, além de contar com impressoras,

telefones etc. A preocupação com o aluguel e a pouca habilidade no trato de questões burocráticas e demais gastos são uma constante no depoimento do fundador:

Nosso campo missionário, aqui nossa vida paroquial, aqui é onde Deus nos enraizou, e você sabe que o ramo imobiliário é caro demais... uma casa de 5 cômodos, aqui essa casa, mil e cem nós pagamos aqui. Ela é grande, mas também é caro! Por exemplo, uma ONG consegue extrair benefícios, né? E dentro de uma nova comunidade, envolve a família fraterna, de depender totalmente de Deus, mas também que a providência se manifesta através destes meios, né? Nós nos reunimos em reuniões quinzenais, num conselho. (Homem, casado, 34 anos)

Indicando lugares próximos como Capuava e parque São Rafael (regiões de periferia urbana de Santo André) para a “construção” de uma sede própria, o entrevistado, “sonha” com uma doação em massa que lhe permite realizar seus objetivos contando, obviamente com o poder da Providência que lhe oferece cobertura básica contra os riscos de investimento em um terreno. Neste espírito empreendedor, combinado com uma forte fé na Providência, o fundador “crê” que os meios que dispõe – seu conselho administrativo92 – lhe ajudará a efetivar o projeto. Neste sentido, alugando salões e ginásios escolares no intuito de realizar a “obra” da comunidade, o depoente deseja “liberdade” de atuação do seu evangelismo:

E qual é nosso desejo, né? Nós queremos se Deus quiser esse terreno. Nós queremos um lugar pra viver em comunidade como irmãos, queremos um lugar pra acolher as pessoas que precisam um local de oração. Nós sempre alugamos salões paroquiais por aí, então chega uma hora que não cabe, a gente não tem liberdade. Então a gente paga. (Idem)

92

Optamos em utilizar o termo para designar um grupo de pessoas previamente escolhidas pelo fundador de forma a assisti-lo nas orientações e decisões estratégicas.

Os gastos também são computados e é uma das fontes de preocupação da co-

fundadora. Mulher, negra, 41 anos, solteira e sem filhos, de família católica, com exceção da

tia que, convictamente “segue a igreja evangélica dos mórmons” é ligada ao Arranjo via

comunidade de Aliança. Graduada em administração com ênfase em comércio exterior, pós-

graduada em marketing internacional e administração financeira. Embora possuindo autonomia profissional e trabalhando na área financeira coloca seus serviços de intercessora

da oração à disposição da comunidade. Enxerga o Arranjo como “uma empresa regida por

uma espiritualidade” possuindo uma estrutura de pessoa jurídica e que necessita de controle dos custos e despesas referente à missão empreendida pela comunidade:

Todo mês nós temos uma meta a atingir, o que é esta meta? Toda a despesa da comunidade, não é algo, por exemplo, este mês nós queremos comprar um carro novo, e isso mesmo? Comprar este carro numa meta de $15 mil não é neste sentido, e o que? A nossa meta é pagar todas as despesas da comunidade. Nós pedimos uma ajuda pras pessoas, não podemos ter o gasto com a missão, já fomos em uma e em várias outras vezes em missões que as pessoas não podiam, não tinham condição de dar a ajuda ministerial o que pedíamos, então nós não podíamos ir naquele lugar, vocês não vão poder nos ajudar? Eu tenho lá as pessoas que nos ajudam, os sócios amigos, temos ajuda dos chamados para levar a palavra em uma missão, por exemplo, o fundador esta semana está em missão. (Mulher, solteira, 41)

Há aqui uma preocupação com as dificuldades financeiras que o Arranjo enfrenta, e que é característico da rotinização de uma organização religiosa. A co-fundadora se preocupa em examinar cuidadosamente as condições da sua organização, mas sem relegar os valores que a ela estão subjacentes. Por detrás desta aparente mentalidade pragmática é realçada a intervenção divina. Mais uma vez é ela que dirige as ações dos integrantes do Arranjo. A oferta de serviços religiosos precisa ser reposta pela comunidade solicitante de forma a criar um equilíbrio entre receitas e despesas. Um importante aporte ao Arranjo a ser ampliado e mantido são os chamados “sócios benfeitores” ou carteira de clientes que, mesmo não possuindo um vínculo direto com a organização, se sensibilizem com a sua evangelização

continuada. Se as dificuldades são lidas como um “teste” de Deus para o Arranjo, assim como

o foi a “experiência da dor” que aproximou o futuro líder do Chagas novamente ao exercício das práticas católicas, então a recusa do bispo de santo André em emitir qualquer espécie de ajuda financeira para os Arranjos inclui-se também nesta perspectiva providencial.

Não existe esta ajuda. Eu creio que não existe também, porque nós não pedimos. Não falamos, olha! Dom Nelson, precisamos de ajuda... Mas eu sei que se pedirmos, a ajuda virá como for ajudar um filho qualquer, ele vai no ajudar, com certeza! Mas a própria comunidade ela tem que ter essa noção de sobriedade. Eu jamais eu daria um passo desses, sem saber que o meu trabalho ia gerar a providência! Então,

espontâneo não tem nenhuma ajuda, né? É claro, que a Diocese, ela abençoa o trabalho, promove os eventos, isto tudo é muito importante. (Homem, casado, 32)

O único apoio que lhes são ofertados é um incentivo moral, uma bênção especial e, sobretudo uma fiscalização clerical interpretada pelos leigos como um acompanhamento saudável que visa à um discernimento da sua missão, valores, mas, sobretudo, garantir a

unidade da Igreja:

Diante desta realidade que se tornou muito, muito próxima aqui dentro da diocese, esse nascimento, surgimento das novas comunidades, qual foi a visão do bispo que teve em relação a isto? Se eles estão nascendo, se eles estão crescendo dentro da

No documento Download/Open (páginas 30-43)

Documentos relacionados