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O processo de organização comunitária do bairro Mathias Velho - Canoas / RS (1975 - 1988)

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Academic year: 2021

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(1)PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO DOUTORADO EM HISTÓRIA ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: HISTÓRIA, PODER E CULTURA LINHA DE PESQUISA: POLÍTICA, FRONTEIRA E SOCIEDADE. Odilon Kieling Machado. O PROCESSO DE ORGANIZAÇÃO COMUNITÁRIA DO BAIRRO MATHIAS VELHO - CANOAS / RS (1975 - 1988). Santa Maria, RS, Brasil 2019.

(2) 2. Odilon Kieling Machado. O PROCESSO DE ORGANIZAÇÃO COMUNITÁRIA DO BAIRRO MATHIAS VELHO - CANOAS / RS (1975 - 1988). Tese apresentada ao Curso de Pós-Graduação em História, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS), como requisito para obtenção do título de Doutor em História.. Orientador: Prof. Dr. Júlio Ricardo Quevedo dos Santos. Santa Maria, RS, Brasil 2019.

(3) 3.

(4) 4. Odilon Kieling Machado. O PROCESSO DE ORGANIZAÇÃO COMUNITÁRIA DO BAIRRO MATHIAS VELHO - CANOAS / RS (1975 - 1988). Tese apresentada ao Curso de Pós-Graduação em História, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS), como requisito para obtenção do título de Doutor em História.. Aprovada em 30 de agosto de 2019:. _____________________________________. Prof. Dr. Júlio Ricardo Quevedo dos Santos (Orientador /Presidente) (UFSM) _____________________________________ Prof. Dr. Diorge Alceno Konrad (UFSM) _____________________________________ Prof. Drª. Maria Catarina Chitolina Zanini (UFSM) _____________________________________ Prof. Dr. Valdir Pretto (UFN) _____________________________________ Prof. Dr. Leonardo Guedes Henn (UFN). Santa Maria, RS, Brasil 2019.

(5) 5. DEDICATÓRIA. Dedico este registro histórico ao Irmão Antônio Cechin (in memorian), que partiu para eternidade durante esta pesquisa, deixando seu legado de luta contra toda forma de opressão em busca da libertação integral do ser humano. Meu grande incentivador e minha inspiração profética..

(6) 6. AGRADECIMENTOS. Gratidão ao meu orientador professor Julio Quevedo. Agradeço, à minha esposa Patrícia, que partilhou comigo as alegrias e as angústias pelas quais passei durante a elaboração deste trabalho, me ofertando sempre seu apoio incansável e incentivador. À Matilde Cechin, que com seu exemplo de vida e testemunho evangélico me incentivou em toda caminhada. Agradeço a confiança em deixar em minhas mãos todo material que utilizei nesta pesquisa. Aos amigos e professores que estiveram ao meu lado me apoiando e me incentivando em todos os momentos, gratidão Frei Wilson, Frei Valdir, Diorge, Maria Catarina, Edinéia, Joel, Maria do Horto, Gladys, Lúcia, Iguatemi, Gicelda, Adriane e Gustavo. Aos meus colegas do Instituto Estadual de Educação Olavo Bilac e do Curso de Educação do Campo da UFSM por serem solidários em vários momentos..

(7) 7. A expressão “processo histórico” entrou então para ficar. (Irmão Antônio Cechin).

(8) 8. RESUMO. O PROCESSO DE ORGANIZAÇÃO COMUNITÁRIA DO BAIRRO MATHIAS VELHO - CANOAS / RS (1975 - 1988). AUTOR: Odilon Kieling Machado ORIENTADOR: Júlio Ricardo Quevedo dos Santos. A presente tese de doutorado visa identificar o processo de organização comunitária no bairro Mathias Velho na cidade de Canoas, no Rio Grande do Sul, entre 1975 e 1988, oriundo da luta pela moradia, infraestrutura urbana e direitos sociais, a partir do envolvimento de diferentes sujeitos históricos como os novos moradores, antigos proprietários, e os poderes públicos, com seus diferentes interesses e aliados, dentro de um processo histórico social, político e religioso. Entre os aliados, junto aos novos moradores, podemos identificar as lideranças religiosas ligadas às Comunidades Eclesiais de Base e, entre os antigos proprietários, os poderes públicos como a prefeitura de Canoas e outros poderes públicos, ligados aos governos estaduais que, em determinados momentos, também atuam juntos aos novos moradores, para encaminhar suas demandas sociais. A fronteira, situada entre a zona urbana e rural, a partir de duas ocupações urbanas, a primeira intitulada Vila Santo Operário e a segunda, chamada de Vila União dos Operários, será analisada em sua organização social, na construção de um espaço possível para a moradia, levando em consideração o cotidiano, a memória de uma população de migrantes e os seus aspectos culturais em busca de trabalho e de renda em uma área devoluta. Os conflitos, oriundos na luta pela moradia, envolvem diferentes interesses e divergentes ações, para impulsionar a ocupação e a sedimentação do Movimento Comunitário ou reprimi-las. A metodologia empregada foi a análise historiográfica e sociológica bem como o uso de fontes, como depoimentos dos novos moradores, prefeitos e lideranças religiosas, além de arquivos pessoais, fotos, revistas e documentos escritos, produzidos pelos novos moradores, oriundos das ocupações urbanas. Essa pesquisa também procura elucidar uma conquista popular, com seus avanços e recuos dentro da História Social do tempo presente, em que o cotidiano desses novos moradores, com seus desafios e conquistas, tornam-se uma fonte de memória para os movimentos sociais comunitários no Rio Grande do Sul, tendo, como contexto histórico, a Ditadura Civil-Militar e a redemocratização do Brasil.. Palavras-chave: Movimento Comunitário. Mathias Velho. Canoas..

(9) 9. RÉSUMÉ LE PROCESSUS D’ORGANISATION COMMUNAUTAIRE DE DEUX CITÉS DIFFCILES DE LA BANLIEU MATHIAS VELHO - CANOAS/RS (1975 - 1988). AUTEUR: Odilon Kieling Machado ORIENTATION DE RECHERCHE: Júlio Ricardo Quevedo Dos Santos Cette thèse de doctorat a comme but le processus d’organisation communautaire dans deux villes ouvrières à la banlileue Mathias Velho à la ville de Canoas au Rio Grande do Sul entre 1975 e 1988, né de la quête de l’habitation infrastructure urbaine et des droits sociaux à partir de l’engagement de différents acteurs historiques tels que les nouveaux habitants anciens propriétaires et les pouvoirs publiques associés avec leurs différents intérêts et partenaires dans un processus historique social, politique et réligieux. Parmis les alliés avec les noveaux habitants nous avons identifié les leaders réligieux liés aux «Comunidades Eclesiais de Bases» et entre les anciens propriétaires, les pouvoir publiques et la mairie de Canoas aussi que d’autres organismes publiques liés au gouvernement de l’état sont présents, et jouent un rôle avec les nouveaux habitants pour faire démarrer leurs demandes sociales. La frontière, située entre la zone urbaine, la première nommée «Ville Saint-Ouvrier» et la deuxième «Ville de l’Union des Ouvriers» sera analyser en ce qui concerne leurs organisation sociale, pour la construction d’un espace possible pour l’habitation, en tenant compte le cotidien, la mémoire d’une population de migrant et ses aspects culturels à la recherche de travail et de revenu, dans un espace vacant. Les confilts nés de cette lutte pour «avoir un toit» s’associent aux différentes actions, pour mettre en marche l’occupation et la sédimentation du Mouvement Communautaire ou de les réprimer. La méthodologie utilisée a été celle de l’analyse historique, géographique et sociologique et aussi l’emploi de sources, comme les témoignages des nouveaux habitants, des maires et des leaders réligieux. Encore, les archives personnels, les photos, les revues et les doccuments écrits produits pour les nouveaux habitants originaires des occupations urbanes. Cette recherche souhaite élucider une conquête populaire avec ses avances et ses reculs dans l´Histoire Sociale du temps présent, où le quotidient de ces nouveaux habitants devient une source de mémoire pour les mouvements sociaux communautaire au Rio Grande do Sul, ayant comme contexte la Dictature Civile - Militaire et la rédemocratisation au Brésil.. Mots clés: Mouvement Communautaire. Mathias Velho. Canoas.

(10) 10. LISTA DE IMAGENS Figura 1 – Figura 2 – Figura 3 – Figura 4 – Figura 5 – Figura 6 – Figura 7 – Figura 8 – Figura 9 – Figura 10 – Figura 11 – Figura 12 – Figura 13 – Figura 14 – Figura 15 – Figura 16 – Figura 17 – Figura 18 – Figura 19 –. Figura 20 – Figura 21 – Figura 22 –. Panfleto do Banco Nacional de Habitação (BNH)................................. Notícia da (Confederação Nacional das Associações de Moradores) CONAM........................................................................................... Foto da Igreja Divino Mestre da Vila União dos Operários no bairro Mathias Velho em Canoas/RS.............................................................. Foto do bairro Mathias Velho em Canoas/RS....................................... Ocupação dos primeiros novos moradores na Vila Santo Operário no bairro Mathias Velho em Canoas/RS..................................................... Construção das primeiras casinhas na ocupação da Vila Santo Operário no bairro Mathias Velho em Canoas/RS................................. Panorama das primeiras casinhas construídas nos terrenos da Vila Santo Operário no bairro Mathias Velho em Canoas/RS...................... Reportagem sobre as comemorações dos 20 anos da invasão/ocupação da Vila Santo Operário no bairro Mathias Velho em Canoas/RS........................................................................................ Mapa organizado pelos próprios novos moradores, visualizando o bairro Mathias Velho e as vilas Santo Operário e União dos Operários em Canoas/RS........................................................................................ Centro das Comunidades na Vila Santo Operário no início das ocupações no bairro Mathias Velho em Canoas/RS.............................. Centro das Comunidades na Vila Santo Operário em 2018 com placa em homenagem a Santo Dias da Silva no bairro Mathias Velho em Canoas/RS............................................................................................... Centro de Formação das CEBs no Centro das Comunidades da Vila Santo Operário no bairro Mathias Velho / Canoas – RS...................... Primeiras manifestações da religiosidade Afro nas CEBs em 1987 na Vila Cerne nas proximidades da Vila Santo Operário no bairro Mathias Velho em Canoas/RS............................................................... Presença do Irmão Marista Antônio Cechin e do Bispo Auxiliar de Porto Alegre, D. Antônio Cheuiche, na Vila União dos Operários no bairro Mathias Velho em Canoas/RS..................................................... Documento de formação da CEBs sobre o olhar humano da realidade histórica................................................................................................... Documento de formação da CEBs sobre o julgar da realidade humana. Documento de formação da CEBs sobre o agir sobre a realidade humana.................................................................................................. Inauguração da Capela Nossa Senhora da Saúde durante a ocupação da Vila Santo Operário no bairro Mathias Velho em Canoas/RS.......... Presença do Cardeal Bernardin Gandin representante do papa no bairro Mathias Velho em Canoas, juntamente com Bispo Auxiliar de Porto Alegre, D. Antônio Cheuiche e o Irmão Marista Antônio Cechin...................................................................................................... Mapa do antigo Jóquei Clube, onde ocorreu a ocupação da Vila União dos Operários em Canoas/RS................................................................ Derrubada de cercas na ocupação da Vila União dos Operários no bairro Mathias Velho em Canoas/RS...................................................... Novos moradores em uma das ocupações no bairro Mathias Velho em. 036 038 054 059 067 067 068. 070. 073 075. 076 077. 078. 079 083 084 085 086. 087 089 090.

(11) 11. Figura 23 – Figura 24 – Figura 25 – Figura 26 – Figura 27 – Figura 28 – Figura 29 – Figura 30 – Figura 31 – Figura 32 – Figura 33 – Figura 34 – Figura 35 – Figura 36 – Figura 37 – Figura 38 – Figura 39 –. Figura 40 –. Figura 41 –. Canoas/RS, com destaque para a presença da educadora popular Matilde Cechin aliada dos novos moradores........................................... Mapa da Vila União dos Operários no bairro Mathias em Canoas/RS, mostrando a organização dos terrenos ocupados pelos próprios novos moradores................................................................................................. Construção das primeiras casinhas após a ocupação da Vila União dos Operários no bairro Mathias Velho em Canoas/RS.............................. Reunião na Vila União dos Operários no bairro Mathias Velho em Canoas/RS................................................................................................ Boletim informativo nº1 de janeiro de 1983 da Associação dos Moradores da Vila Santo Operário no bairro Mathias Velho em Canoas/RS................................................................................................ Boletim informativo nº2 de junho de2005 da Associação dos Moradores da Vila União dos Operários no bairro Mathias Velho em Canoas/RS.............................................................................................. Ficha dos Sem-morada da Vila União dos Operários no bairro Mathias Velho em Canoas/RS............................................................................. Horta Comunitária na Vila União dos Operários no bairro Mathias Velho em Canoas/RS (HOCOUNO)....................................................... Dia da mulher participante com os “fornos comunitários” com a produção de pão na vilas Santo Operário e União dos Operários no bairro Mathias Velho em Canoas/RS.................................................... Clube de Mães e a fabricação de acolchoados na Capela Divino Mestre na Vila União dos Operários no bairro Mathias Velho em Canoas/RS... Vó Maria, líder comunitária do bairro Mathias Velho em Canoas/RS.... Associação Beneficente Educadora Creche Vó Maria na Vila Santo Operário no bairro Mathias Velho em Canoas/RS.................................. Saturnino Mathias Velho dono da fazenda que foi loteada, dando origem ao bairro Mathias Velho que leva o seu nome em Canoas/RS... Sobrado de moradia da fazenda de Saturnino Mathias Velho que deu origem a bairro Mathias Velho em Canoas/RS....................................... Mapa da cidade de Canoas, tendo como destaque a área do primeiro loteamento que deu origem ao bairro Mathias Velho, inicialmente como vila, em 1951.................................................................................. Colocação do Sino que servia para celebrações religiosas e aviso de pessoas estranhas aos novos moradores na Vila União dos Operários no bairro Mathias Velho em Canoas/RS................................................ Entrevista com o ex-prefeito de Canoas Carlos Giocomazzi sobre sua gestão, dando ênfase a situação das áreas invadidas nas vilas da cidade..................................................................................................... Trabalhadores da diretoria do Sindicato dos metalúrgicos de Canoas que apoiavam os novos moradores do bairro Mathias Velho em Canoas/RS, tendo a frente, como destaque, seu presidente Paulo Paim, hoje senador da república...................................................................... Reportagem do Jornal Zero Hora de 02/05/1985, destacando a participação da Igreja Católica no bairro Mathias Velho em Canoas/RS, como aliada dos novos moradores e de modo especial do Frei capuchinho Sérgio Dalmoro, incentivador das CEBs e pároco da Paróquia São Pio X................................................................................ Reportagem do Jornal Zero Hora de 15/07/1984 com Air Bergental,. 091. 092 093 093. 096. 097 098 101. 103 105 105 106 109 110. 111. 114. 117. 121. 124.

(12) 12. Figura 42 –. Figura 43 –. Figura 44 – Figura 45 – Figura 46 – Figura 47 – Figura 48 – Figura 49 –. Figura 50 –. Figura 51 –. Figura 52 –. representando os antigos moradores sobre um conflito com os novos moradores na Vila União dos Operários no bairro Mathias Velho em Canoas/RS............................................................................................... Reportagem do jornal O Timoneiro de Canoas de 04/05/1984 sobre a primeira vítima entre Air Bergental, a Brigada Militar em os novos moradores da Vila União dos Operários no bairro Mathias Velho em Canoas/RS............................................................................................... VII Romaria da Terra no bairro Mathias Velho em Canoas, destacando lideres religiosos que apoiam os novos moradores do bairro, destacando o Irmão Marista Antônio Cechin e o Frei capuchinho Sérgio Dalmoro na Vila Santo Operário.................................................. VII Romaria da Terra no bairro Mathias Velho em Canoas, destacando o apoio aos novos moradores do Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MST)............................................................................................. Livro de cantos das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) da Comunidade Nª Srª da Luz no bairro Mathias Velho em Canoas/RS entre os novos moradores....................................................................... Canto A Classe Roceira e a Classe Operária das CEBs da Comunidade Nª Srª da Luz no bairro Mathias Velho em Canoas/RS entre os novos moradores sobre a transformação social.......................... Reunião dos novos moradores ligados a Associação dos Moradores da Vila União dos Operários e o então prefeito Osvaldo Guidani em 1983 no bairro Mathias Velho em Canoas/RS.................................................. Panfleto denunciado a perseguição política contra o líder comunitário Antônio de Freitas pelo governo do então prefeito Osvaldo Guidani do bairro Mathias Velho em Canoas/RS....................................................... Boletim informativo nº 1 da Associação dos Moradores da Vila Santo Operário no bairro Mathias Velho em Canoas/RS sobre o desemprego e a luta dos novos moradores que buscam trabalho sob forma de protestos liderados pelos sindicatos e Associação de Moradores de Canoas...................................................................................................... Audiência publica na 27º Delegacia de Ensino com a presença do Clube de mães, lideranças comunitárias, professores e estudantes das vilas Santo Operário e União dos Operários e demais vilas de Canoas contra a taxa cobrada dos alunos nas escolas estaduais, ensino sobre a valorização do comunitário, etc............................................................ Documento aprovado pela Câmara Municipal de Canoas e sancionado pelo entã oprefeito Marcos Ronchetti regularizando a Vila União dos Operários e as ruas dos Romeiros, Libertação e Sino da União, pertencentes a Vila União dos Operários................................................. Boletim informativo nº7 da Associação dos Moradores da Vila Santo Operário, destacando a reivindicação e a formação das Frentes de Trabalho na Vila Santo e União dos Operários em Canoas/RS................ 126. 128. 130. 132. 133. 134. 135. 136. 140. 142. 144. 146.

(13) 13. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS. ABI AMVUO ANPUH/RS ARENA BNH CEB’s CEEE CEF CGT CNBB CONAM CORSAN CPT CUT DE ESG FEE FG FGTS HOCOUNO IAPB IAPC IAPE IAPETEC. Associação Brasileira de Imprensa Associação dos Moradores da Vila União dos Operários Associação Nacional de História/Rio Grande do Sul Aliança Renovadora Nacional Movimento Democrático Brasileiro Comunidades Eclesiais de Base Companhia Estadual de Energia Elétrica do Estado Caixa Econômica Federal Central Geral dos Trabalhadores Confederação Nacional dos Bispos do Brasil Confederação Nacional das Associações de Moradores Companhia Rio Grandense de Saneamento Básico Comissão Pastoral da Terra Central Única dos Trabalhadores Delegacia de Educação Escola Superior de Guerra Fundação de Economia e Estatística Fundo de Garantia Fundo de Garantia por Tempo de Serviço Associação da Horta Comunitária União dos Operários Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Bancários Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Comerciários Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Estivadores Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Estivadores e Transportes de Cargas IAPI Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários IAPM Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Marítimos IAPs Institutos de Aposentadorias e Pensões IBAD Instituto Brasileiro de Ação Democrática IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IPES Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais JEC Juventude Estudantil Católica JOC Juventude Operária Católica JUC Juventude Universitária Católica METROPLAN Fundação Estadual de Planejamento Metropolitano MDB Movimento Democrático Brasileiro MST Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra NELPA Negócios e Empreendimentos Imobiliários NHC Nova História Cultural OAB Ordem dos Advogados do Brasil ONGs Organizações Não Governamentais OPEP Organização dos Países Exportadores de Petróleo PDS Partido Democrático Social PDT Partido Democrático Trabalhista PMDB Partido do Movimento Democrático Brasileiro PO Pastoral Operária PSD Partido Social Democrático.

(14) 14. PT PTB SABs UDN UNE. Partido dos Trabalhadores Partido Trabalhista Brasileiro Sociedades de Amigos de Bairros União Democrática Nacional União Nacional dos Estudantes.

(15) 15. SUMÁRIO. INTRODUÇÃO............................................................................................................. 016. 1 A REALIDADE HISTÓRICA DO BRASIL SOBRE A URBANIZAÇÃO, HABITAÇÃO E OS MOVIMENTOS SOCIAIS........................................................ 025 1.1 MOVIMENTOS COMUNITÁRIOS URBANOS NOS ANOS DE 1970................. 035. 1.2 RELAÇÕES ENTRE OS MOVIMENTOS COMUNITÁRIOS E A IGREJA CATÓLICA NOS ANOS DE 1970................................................................................. 044 2 O MOVIMENTO COMUNITÁRIO NO BAIRRO MATHIAS VELHO, COMO 056 ESPAÇO DE RELAÇÕES SOCIAIS............................................................ 2.1 AS MIGRAÇÕES, AS OCUPAÇÕES E O INÍCIO DO PROCESSO DE ORGANIZAÇÃO COMUNITÁRIA............................................................................... 056 2.2 AS ORGANIZAÇÕES COMUNITÁRIAS................................................................ 094. 3 A REALIDADE HISTÓRICA NO BAIRRO MATHIAS VELHO NO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO COMUNITÁRIA................................................. 109 3.1 OS DIFERENTES SUJEITOS HISTÓRICOS E SUAS AÇÕES NO BAIRRO MATHIAS VELHO......................................................................................................... 112 3.2 O PROCESSO DE ORGANIZAÇÃO COMUNITÁRIA E A LUTA POR DIREITOS SOCIAIS....................................................................................................... 138 CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................... 148. REFERÊNCIAS............................................................................................................... 155.

(16) 16. INTRODUÇÃO. A presente pesquisa de doutorado em História, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), na linha de pesquisa do Programa de Pós-Graduação em História (PPGH), da Área de Concentração História Poder e Cultura, da linha de pesquisa Política, Fronteira e Sociedade, intitulada O processo de organização comunitária do bairro Mathias Velho Canoas / RS (1975 - 1988), tem como propósito identificar e analisar o processo de organização comunitária no bairro Mathias Velho, em Canoas, no Rio Grande do Sul, Brasil, entre 1975 a 1988, tendo, como contexto histórico, a Ditadura Civil-Militar e o processo de redemocratização do Brasil. A fronteira, situada entre a zona urbana e rural, a partir de duas ocupações urbanas, a primeira intitulada Vila Santo Operário e a segunda, chamada de Vila União dos Operários, será analisada em sua organização social, na construção de um espaço possível para a moradia, levando em consideração o cotidiano, a memória de uma população de migrantes e os seus aspectos culturais em uma área devoluta. Os conflitos, oriundos na luta pela moradia, envolvem diferentes interesses e diferentes ações, para impulsionar a ocupação e a sedimentação do Movimento Comunitário ou reprimi-las. A presente tese de doutorado visa identificar o processo de organização comunitária no bairro Mathias Velho, na cidade de Canoas, no Rio Grande do Sul, entre 1975 e 1988, oriundo da luta pela moradia, infraestrutura urbana e direitos sociais, a partir do envolvimento de diferentes sujeitos históricos como os novos moradores, antigos proprietários e os poderes públicos, com seus diferentes interesses e aliados, dentro de um processo histórico social, político e religioso. A delimitação temática desta proposta de pesquisa de doutorado está relacionada, inicialmente, a 1975, quando ocorre a chegada, ao bairro Mathias Velho, dos primeiros migrantes, que, nessa pesquisa, identifico como “novos moradores” que vieram de várias partes do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, com o objetivo de buscar espaço para moradia nesse bairro da cidade de Canoas. A grande parte desses migrantes é oriunda da zona rural, expulsa do campo, na busca de trabalho e de renda, de modo especial pelo atrativo de trabalho na cidade de Triunfo, nos anos de 1970, com a construção do Polo Petroquímico na região metropolitana de Porto Alegre. Canoas, na sua zona periférica, entre o urbano e o rural..

(17) 17. Uma análise feita é a relação entre os novos moradores como os seus aliados no processo de organização comunitária, embasado pela Teologia da Libertação1, com o objetivo de organizá-lo junto aos migrantes, tendo como base formativa as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs)2. A força organizacional dos migrantes que, nessa pesquisa, identificados como “novos moradores”, junto aos seus aliados na organização de base, identificados como religiosos que atuaram a partir das primeiras ocupações urbanas. O trabalho desses agentes políticos religiosos vai gerar as primeiras ocupações no bairro Mathias Velho. Entre esses religiosos, destacamos os educadores populares Irmão António Cechin, da Congregação dos Irmãos Maristas da Igreja Católica, e a educadora popular, Matilde Cechin, bem como a participação dos Freis Capuchinhos, também ligados à Igreja Católica. Os antigos moradores do bairro, no qual oficialmente os terrenos em disputa serão alvo dos novos moradores para o processo de ocupação para moradia, foram representados pelo empresário do setor imobiliário Air Bergental, o qual, através do interesse pelas propriedades para fins de especulação imobiliária e procurou como aliado manter esses terrenos sob seu controle. Devemos salientar que, no processo das ocupações, termo usado pelos novos moradores, ou posseiros, ou invasores segundo representante dos antigos moradores, foram analisadas de acordo como as fontes históricas, cujas alianças poderão ser identificadas junto ao poder público, principalmente, a prefeitura de Canoas, na esfera municipal, e junto à Brigada Militar, na esfera estadual. É importante também verificar na pesquisa a relação entre a Prefeitura Municipal de Canoas e a Brigada Militar que, em determinados momentos, estarão ao lado dos novos moradores, a fim de resolver demandas de infraestrutura e demandas sociais, para garantir,. 1 A Teologia da Libertação nasce das CEBs, surgidas na América Latina a partir dos anos 60. É a reflexão da fé dos pobres, dentro de suas lutas por libertação, que produz as bases da Teologia da Libertação. Porém foi sistematizado, pela primeira vez, pelo teólogo peruano Gustavo Gutiérrez, em 1971, em sua obra Teologia da Libertação (Petrópolis, Vozes). A Teologia da Libertação é um novo modo ou método de ser fazer teologia. Ou um novo olhar sobre as fontes bíblicas da revelação cristã e a tradição da Igreja. Esse modo, esse método e esse olhar têm um centro ou lugar social: os pobres (BETTO, 1991, p.172). 2 Ao início dos anos 60, surgiu, entre as classes populares do Brasil, um novo modo de a Igreja ser: as Comunidades Eclesiais de Base. As CEBs são grupos de 20 ou mais pessoas que se reúnem uma ou duas vezes por mês na capela da roça, no sítio do pequeno agricultor, no salão da casa paroquial, no centro comunitário da vila, no barraco da favela, para refletir, nutrir e celebrar sua vida de fé. São comunidades, porque as pessoas se conhecem pelo nome, partilham suas vidas e seus problemas, põem em comum seus bens e seus esforços, lutam juntos por melhorias no bairro, conquista da terra ou da moradia, lutam por uma vida melhor. São eclesiais, porque o eixo em torno do qual giram é a palavra de Deus, o uso da Bíblia dentro da realidade conflitiva em que vivem, a comunhão com a Igreja, da qual são células vivas. São de base, porque integradas por subempregados, aposentados, jovens, lavradores, operários, donas de casa, enfim gente pobre e oprimida que forma a base da sociedade (1991, p.152)..

(18) 18. dessa forma, a governabilidade e, eventualmente, a segurança pública. Outros poderes públicos também fizeram parte para os encaminhamentos dos novos moradores e, algumas vezes, são motivo de conquistas em suas demandas como, por exemplo, a questão da água, da luz, do transporte público e do saneamento básico. Ao longo da década de 1970 e até 1988, ocorreram a organização, o fortalecimento e as conquistas sociais do Movimento Comunitário, construído pelos novos moradores e seus aliados, principalmente ligados à Teologia da Libertação da Igreja Católica, significativa na História do Rio Grande do Sul. A pesquisa procura elucidar de que forma a organização popular tem força, à medida que encontra meios para atingir seus objetivos organizativos. Dentro dessa organização, podemos identificar as conquistas populares, nos anos de 1975 a 1988, com destaque para as seguintes organizações: a Associação de Moradores, o Clube de Mães, a Horta Comunitária na Vila União dos Operários, a Associação Beneficente Educadora Creche Vó Maria, na Vila Santo Operário, e os fornos comunitários do bairro Matias Velho. Um aspecto cultural historiado são as mudanças culturais significativas, ocorridas e narradas pelos próprios novos moradores e as lideranças religiosas, a partir de uma população, identificada pelo caráter religioso e cultural das pessoas, que migraram de pequenas comunidades rurais, com fortes identificações, em sua maioria, com a propriedade privada e a ocorrência de uma mudança de paradigmas, para uma forma solidária e coletiva de lutas sociais, inspiradas pelas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). A participação das lideranças comunitárias, no processo de conscientização, e de organização sociopolítica, ocorridos no bairro Mathias Velho, município de Canoas, no Rio Grande do Sul, são questões a serem pesquisadas e elucidadas em um processo histórico adverso e conflitivo. A pesquisa também tem como objetivo identificar a relação dos novos moradores, com as CEBs, no processo formativo de caráter religioso, mas que possui uma dimensão social e política no processo de organização comunitária. O cotidiano e a memória da população dos novos moradores migrantes são fatores importan historiados para o entendimento e a ressignificação do processo histórico durante construção do movimento comunitário. No final da década de 1980, com a consolidação deste processo migratório, esta área do bairro Mathias Velho torna-se uma referência no Rio Grande do Sul, como organização popular, em um movimento comunitário habitacional. As fontes utilizadas na pesquisa têm como base a produção historiográfica e sociológica, bem como o uso de fontes como depoimentos dos novos moradores, através de.

(19) 19. arquivos pessoais, fotos, revistas e documentos escritos, produzidos pelos novos moradores, oriundos das ocupações urbanas. Dessa forma, a presente pesquisa torna-se uma fonte de memória para os movimentos sociais comunitários no Rio Grande do Sul, tendo, como contexto histórico, a Ditadura Civil-Militar e a redemocratização do Brasil. Nesta pesquisa, o uso das metodologias e fontes tem como objetivo central elucidar, através de depoimentos e diferentes documentos históricos, os avanços, recuos e desafios, inerentes a uma ação humana, que possam contribuir para o conhecimento histórico em um período permeado por conflitos, lutas e conquistas. A metodologia desta pesquisa em História se dá através de entrevistas já realizadas, entrevistas em livros, como forma de depoimentos, revisão bibliográfica e análise de documentos diversificados, como a fundação da Associação de Moradores e demais entidades que viriam a consolidar este movimento social, no bairro Mathias Velho. Cabe ressaltar, também, que as entrevistas com religiosos, realizadas durante a construção da dissertação de mestrado deste autor, bem como fichários, fotos, atas e documentos reivindicatórios junto aos poderes públicos foram usados como fontes históricas para a construção desta tese. Entre as entrevistas de lideranças político-religiosas, que se encontram no arquivo pessoal do autor, destacam-se a do Irmão Marista Antônio Cecchin, e a da educadora popular, Matilde Cecchin, lideranças chaves na formação das CEBs, dos clubes de mães e na participação de diversas ações comunitárias. Vale também expor que, neste acervo, há inúmeras fotos, boletins e documentos que serão utilizados nesta pesquisa, cedidos de maneira significativa por Matilde Cecchin e Ivo Fiorotti. Cabe realçar que depoimentos dos novos moradores, através de fontes bibliográficas, foram fundamentais, em função de sua participação significativa no processo de organização comunitária da população do bairro Mathias Velho. Afinal, é com uma vitória na Justiça que esses novos moradores, oriundos das ocupações, podem permanecer em suas moradias, ganhando o direito de posse e, posteriormente, através da associação de moradores, conquistam melhorias e o registro legal dos terrenos. Vale ressaltar que também um dos objetivos da pesquisa é entender o papel significativo de diversas lideranças que perceberam que elas não são o centro de tudo e sim o povo, que devem investir em instituições como associação de moradores e sindicatos, capazes de serem mais efetivos nos campos econômico, político e social. É relevante relatar que o aspecto religioso referido está dentro da questão cultural a ser historiada, dentro da linha de pesquisa do doutorado. A motivação e a resistência para realizar as ocupações que foram inspiradas pelas reflexões bíblicas, considerando a influência do.

(20) 20. cristianismo presente, de forma determinante, na formação histórica do Brasil, particularmente, no Rio Grande do Sul que, desde o processo de ocupação, é um elemento importante a ser estudado como uma luta coletiva de solidariedade e ação ativa, nesse processo de construção comunitária. É identificada na pesquisa, a ligação formativa exercida pelos grupos de CEBs, pois o enfoque, além do caráter religioso-devocional, passa a ser também social. A maioria dos migrantes tinha, na sua formação religiosa cristã, anterior à visão de que a propriedade privada era sagrada e, portanto, deveria ser preservada. Entretanto, no momento em que começam a ter uma nova formação cristã, com textos bíblicos, apontando que as necessidades gerais do povo estão em primeiro lugar e que Deus está ao seu lado, ocorre uma mudança de posição em relação a uma conquista coletiva. Esses vários depoimentos são historicamente valiosos para a compreensão desse processo comunitário, e é, através deles, que se pretende transformar em tese esta pesquisa de doutorado, à medida que os sujeitos históricos para esta nova análise darão a amplitude necessária para entender e historiar de maneira mais aprofundada esta construção histórica. Quanto aos procedimentos éticos, será considerado a resolução 466/2012 CNS/MS e CEP da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Entre as demais fontes que merecem destaque para a pesquisa de doutorado, salientase o jornal Timoneiro, de Canoas, Zero Hora, de Porto Alegre; atas e documentos internos de formação dos encontros e reuniões locais das CEBs, no bairro Mathias Velho; atas das reuniões do Movimento Comunitário, referentes às suas conquistas, além de fotos, cartas endereçadas aos poderes públicos, panfletos e revistas. Parte dessa documentação, também disponível para pesquisa, encontra-se com o vereador Ivo Fiorotti e a educadora popular Matilde Cechin. Eles forneceram cópias e originais de parte de seu acervo pessoal citado. Por isso, além de referências religiosas e locais de origem no processo migratório, serão feitas análises documentais e iconográficas, de modo especial, junto ao arquivo pessoal do vereador Ivo Fiorotti,, já disponibilizados para a pesquisa, que relatam o processo de organização comunitária no bairro Mathias Velho. A metodologia busca raízes no período histórico a ser estudado, através da revisão bibliográfica, em autores que, de uma maneira ou de outra, são importantes, para entender a formação do processo de organização comunitária no bairro Mathias Velho, em Canoas, a partir de seus protagonistas e demais sujeitos históricos. Esta trajetória está baseada em vários autores, destacando Norberto Bobbio (1995) e René Rémond (2003), através de uma análise política; os historiadores Edward Palmer Thompson (1987) e Eric Hobsbawm (1987), na.

(21) 21. ligação política entre o estrutural e o empírico na sociedade; Pierre Bourdieu (2011), na análise entre cultura e religiosidade; Maria da Glória Gohn (1991), sobre movimentos sociais contemporâneos e suas ligações com a Teologia da Libertação, CEBs e o Movimento pela Moradia; o sociólogo Êmile Durkheim (2008), sobre as formas elementares da vida religiosa; o educador Paulo Freire (1987), trazendo presente o processo de educação libertadora presente, de um modo especial, nas CEBs. A história do bairro Mathias Velho com as primeiras ocupações tendo como fontes entrevistas com lideranças e moradores, bem como parte do processo de organização do movimento comunitário, tem, como fonte importante, o livro “Mathias Velho, Canoas, para lembrar o que somos, nº 6”, de Rejane Penna, Darnis Corbellini e Miguel Gayeski (2000), a ser investigado através de revisão bibliográfica. Os procedimentos metodológicos a serem empregados, no tratamento das fontes citadas nesta parte da pesquisa, são fundamentais para o desenvolvimento consistente, que visa unir a teoria e a análise documental, contribuindo como registro histórico da comunidade do bairro Mathias Velho, tanto para os moradores, que participaram diretamente da construção do Movimento Comunitário, quanto para seus descendentes e moradores atuais. A presente pesquisa de doutorado está relacionada ao processo de organização comunitária do bairro Mathias Velho, visando identificar, historicamente, como um de seus aspectos religiosos, sociais e políticos, relacionados aos diferentes sujeitos históricos que, de uma forma ou de outra, com suas afinidades e divergências, tiveram uma participação de destaque neste processo histórico. A amplitude desta pesquisa acadêmica, delineada neste texto, visa ter, na metodologia empregada, resultados importantes que possam qualificar uma tese acadêmica. A pesquisa, de acordo com fontes disponíveis, procura, dentro do possível elucidar, identificar e analisar a construção de Movimento Comunitário na cidade de Canoas, desde sua origem até sua consolidação, com suas dificuldades, desafios e conquistas. Nesse sentido, as diferentes ações desses novos moradores e demais lideranças que, de uma forma ou de outra, participaram desse movimento social, de caráter comunitário, são transformados, ao final da pesquisa em uma fonte significativa no processo de organização comunitária. A relevância científica deste estudo é proporcionar à comunidade do bairro em questão o registro histórico desse processo de conquista da moradia e garantia de políticas públicas sociais, que proporcionaram a inclusão social de uma população de migrantes, levando-os à garantia de direitos civis..

(22) 22. Em termos acadêmicos, a base teórica da pesquisa está relacionada à História do tempo presente, baseado na teoria da História Social Inglesa, que procura relacionar o contexto histórico macro da sociedade capitalista com experiências empíricas, trazendo para a História do Brasil, do Rio Grande do Sul e, de modo especial, para o município de Canoas, RS, a participação de uma população de migrantes trabalhadores, com seus conflitos e conquistas no cotidiano do bairro. Cumpre relatar que a história vista de baixo, traz para o mundo acadêmico uma contribuição importante, para que, dessa forma, os professores e estudantes possam ter, não apenas uma versão oficial, ou de corte positivista, mas uma contribuição em que possa ser levada em conta a vida e as aspirações dos trabalhadores. Desse modo, o impacto acadêmico que essa pesquisa propõe é historiar a construção de um movimento comunitário com seus avanços e recuos e os diferentes sujeitos históricos que, de uma maneira ou de outra, fizeram parte desta História. É importante, também, destacar que a maioria das fontes pesquisadas são inéditas, como fotografias e documentos escritos pelos próprios moradores, ou de pessoas que presenciaram esta experiência histórica. Nesse sentido, a pesquisa justifica-se em termos acadêmicos. Releva expor que a pesquisa historiográfica e sociológica é aliada ao processo de desvendamento dos caminhos da história, principalmente quanto à ressignificação das falas de seus sujeitos históricos. Deve-se considerar a necessidade de um estudo posterior, pois a História está sendo aberta a novas fontes e releituras do período histórico nas décadas de 1970 e 1980, do século XX, em que o Movimento Comunitário no Brasil tem uma significativa importância, como uma grande força na luta pela democracia, pela justiça e pelos direitos humanos. Diante desse contexto, o chamado pensamento progressista, seja cristão, socialista, e/ou humanista, cuja influência foi de fundamental importância na mobilização de grupos e extratos sociais na História Política Brasileira e Sul-Rio-Grandense contemporânea, evidencia a atuação dos sujeitos em um contexto de diversidade social, de encontros culturais, com seu potencial de dar outros sentidos aos valores e representações, de produção de conflitos e novas formas de hierarquização. É importante destacar que o espaço urbano não oferece as condições dignas para tantos migrantes em busca de trabalho e renda. Assim, para que a periferia, que é o limite entre a zona urbana e a rural, torne-se um espaço possível para a moradia das famílias migratórias, faz-se necessária muita luta e mobilização para ocupar, principalmente, as áreas devolutas e ociosas, transformadas em locais de afirmação e valorização de suas vidas..

(23) 23. As duas ocupações para moradia serão o alvo de pesquisa, uma em área de uma antiga lavoura de arroz, que os novos moradores darão o nome de Santo Operário, e outra no antigo prado da cidade, destinada a corridas de cavalos, que será denominada União dos Operários pelos moradores. Em termos geográficos, o deslocamento do interior do Rio Grande do Sul para a Região Metropolitana de Porto Alegre e, em especial, o município de Triunfo, tem na periferia do bairro Mathias Velho uma de suas principais passagens. Para melhor apresentação, esta tese está dividida em três capítulos. No primeiro, será abordada, inicialmente, a realidade histórica do Brasil sobre a urbanização, habitação e os movimentos sociais, a partir da República, em suas diferentes fases, como base para a construção dos movimentos comunitários nos anos de 1970, no Brasil, bem como, suas origens, desenvolvimento, desafios, processos de rupturas e avanços e suas implicações sociais, políticas, culturais e religiosas nas quais estão inseridos os principais protagonistas. A seguir, os desdobramentos dos movimentos sociais, através dos movimentos comunitários urbanos, sua gênese, suas relações e suas especificidades. Em seguida, será analisada a trajetória de mudanças históricas da Igreja Católica e sua aproximação com as camadas sociais de base, dentro da pirâmide social. As relações entre movimentos comunitários e a Igreja, nos anos 1970, serão abordadas como enfoque específico dentro da estrutura dos próprios Movimentos Comunitários, bem como suas relações táticas e estratégicas com a Instituição Religiosa nesse período histórico. As CEBs, a partir da Teologia da Libertação, como base formativa religiosa progressista, dentro da opção dessa Igreja com os pobres e os movimentos populares, em termos de justiça e solidariedade, serão abordados, a fim de que possamos identificar a relação entre essa vertente da Igreja Católica e a construção dos movimentos comunitários no Brasil. A metodologia usada neste capítulo terá como fontes pensamento social, com abordagens de Maria da Glória Gohn, Émile Durkeim, Jorge Ferreira, Jessé Souza, Peter Burke, Ronaldo Vaifas, Éder Sader, Manuel Castells, René Remond, Michael Lövy, Eric Hobsbawm, Emilia Viotti da Costa e Noberto Bobbio, além de fotografias, documentos escritos, jornais e revistas. No segundo capítulo, será abordado o movimento comunitário no bairro Mathias Velho, como espaço de relações sociais. Para este estudo, aborda-se o processo migratório do meio rural para o meio urbano, a partir da promessa de trabalho e renda no Polo Petroquímico de Trunfo, e sua chegada a Canoas. As ocupações na periferia de Canoas, enquanto fronteira móvel, precisamente em uma área de uma antiga lavoura de arroz, denominada pelos novos moradores da Vila Santo Operário, e uma área pertencente ao antigo Jokey Clube da cidade, denominada Vila União dos Operários, serão investigados nesta pesquisa acadêmica..

(24) 24. Além disso, a participação da Igreja Católica, através das CEBs, será alvo desta investigação, enquanto base de formação, apoiadores e partícipes do processo de construção desse Movimento Comunitário. É realizada uma análise histórica das organizações comunitárias, construídas pelos próprios moradores, bem como as Associações de Moradores com seus objetivos específicos. Este capítulo terá como fontes a historiografia, com abordagens de Maria da Glória Gohn, Lucian Lebvre, Pierre Nora, Edward Palmer Thompson, Eric Hobsbawm, Michael de Certeau, Pierre Bourdieu, Daniel Araão Reis Filho, Paulo Freire e Éder Sader, além de fotografias, documentos escritos, depoimentos retirados de livros e do arquivo pessoal, jornais, revistas e mapas. No terceiro capítulo, será abordada a realidade histórica no bairro Mathias Velho, no processo de construção comunitária, com seus conflitos, avanços, recuos e limites, considerando o processo histórico da realidade da Ditadura Civil-Militar e a redemocratização do país, dentro de um espaço urbano. A seguir, será analisado objetivo principal dessa tese de doutorado que é identificar o processo de organização comunitária no bairro Mathias Velho , oriundo da luta pela moradia, infraestrutura urbana e direitos sociais, a partir do envolvimento de diferentes sujeitos históricos, como os novos moradores, antigos proprietários e os poderes públicos, com seus diferentes interesses e aliados, dentro de um processo histórico social, político e religioso. Em decorrência desse objetivo principal, é abordado, nesse capítulo, as influências dos diferentes sujeitos históricos, envolvidos nesses conflitos, oriundos da luta pela moradia e que envolvem diferentes interesses e divergentes ações para impulsionar a ocupação e sedimentação do Movimento Comunitário ou reprimi-las. Em seguida, será analisado o processo de organização comunitária e a luta por direitos sociais, com suas diferentes demandas junto aos poderes públicos como água, luz, transporte, moradia, saneamento básico e educação. Neste capítulo terá como fontes o pensamento social, com abordagens de Milton Santos e Maria Silveira, Maria da Glória Gohn, Wilson Dallagnol e Jaime Pinsky, além de fotografias, documentos escritos, depoimentos retirados de livros e do arquivo pessoal, jornais, revistas e mapas..

(25) 25. 1 A REALIDADE HISTÓRICA DO BRASIL SOBRE A URBANIZAÇÃO, HABITAÇÃO E OS MOVIMENTOS SOCIAIS No Brasil, o crescimento das grandes cidades não tem acompanhado as necessidades da população, principalmente de baixa renda, em termos de urbanização e habitação. O modelo de produção, vigente no País possui entre suas características, o direito à propriedade como um objetivo a ser alcançado pela população. No entanto, apenas uma camada minoritária da população brasileira, que detém a maior parte do capital, tem acesso, de modo significativo, à moradia. Para a maioria da população brasileira, composta de trabalhadores assalariados e de baixa renda, o direito à habitação é, na prática, uma possibilidade remota que, quase sempre, em nossa História, só poderá ser conquistada a partir de financiamento controlado pelo sistema bancário, transformando em sacrifício para a classe média e sonho praticamente inacessível para a população com menor poder aquisitivo, isto é, a maioria composta de pobres. Essa realidade estrutural em relação à moradia, às questões públicas, ao modo de produção e à histórica dificuldade das camadas populares, identificada na participação dos trabalhadores no Brasil e suas alternativas, são evidenciados por Maria da Gloria Gohn, em sua obra Movimentos Sociais e a luta pela moradia:. A análise histórica nos revela que a questão habitacional das camadas populares não tem sido resolvida no Brasil pelo simples jogo de mercado ou pelas políticas públicas. Trata-se de uma questão estrutural. O modelo de acumulação vigente não oferece alternativa ao trabalhador de arcar com os custos de aquisição ou locação de moradia. [...] Nesse quadro, contrapondo-se à falência dos programas tradicionais de habitação popular, surgem as propostas alternativas em que se articulam povo – lideranças populares – técnicos assessores dos movimentos, técnicos estatais, políticos e administradores públicos (GOHN, 1991, p. 165).. Dentro de uma perspectiva histórica, em uma sociedade baseada na concentração tanto da propriedade rural quanto urbana, de modo especial, a partir do século XX, essas lutas, conquistas, avanços e recuos fazem parte de uma dinâmica em que prevalece o capital sobre o trabalho. Vale lembrar, durante a chamada “República Velha”, as oligarquias estaduais, principalmente São Paulo e Minas Gerais, entre 1889 e 1930, dominavam o cenário político brasileiro. Desde a Proclamação da República, os movimentos sociais reivindicatórios são tratados como “questão de polícia”, em que a repressão é um meio de ação contrário a esses movimentos, como Canudos e Contestado, na luta pela terra no setor rural, e o Movimento Operário urbano, na década de vinte, do século passado, que procurava reivindicar direitos.

(26) 26. trabalhistas e dignidade no trabalho. É importante evidenciar, dentro de uma nova abordagem historiográfica que Juazeiro, com a liderança do Padre Cícero; Canudos, com a liderança de Antônio Conselheiro e Contestado, com a liderança do monge José Maria, tem, na sua essência, uma luta pela terra, conferindo ao aspecto religioso messiânico um papel secundário, como aborda a historiadora Jacqueline Hermann:. [...] movimentos como resultantes de lutas de classe mais ou menos consistentes, ou ainda luta pela terra em momento importante para os debates sobre a reforma agrária no Brasil, conferindo ao aspecto religioso um papel secundário [...] Talvez não seja exato chamar todos de “movimentos messiânicos” [...] Assim, embora os três exemplos tenham tido lideranças claras (a do Contestado foi a única que variou no tempo), enquanto o padre Cícero foi considerado um guia para seus fiéis, o Conselheiro, a despeito de interpretações contrárias, jamais se considerou um messias ou ainda se investiu de papéis sacerdotais (HERMANN, 2003, p. 155).. As grandes cidades brasileiras, no início do século XX, como São Paulo e Rio de Janeiro, já enfrentavam problemas sociais que questionavam a ação. Um exemplo desse questionamento ocorreu no Rio de Janeiro com a chamada “Revolta da Vacina”, em que a população carioca reagiu à tentativa de imunização contra a varíola e a febre amarela. Esse fato ocasionou o deslocamento de um grande contingente de pessoas do centro da cidade para as periferias, como os descendentes de escravos e os pobres em geral, além de marinheiros que pudessem transmitir essas doenças para a população que vivia em condições melhores, no centro da cidade, ou em bairros, nos quais residia as classes sociais. Nesse sentido, havia uma preocupação quanto aos serviços sanitários com as moradias, mas, ao mesmo tempo, esse mesmo serviço demorava a chegar para a população mais pobre, que vivia em grande número na periferia. Esse exemplo mostra uma realidade que, ao longo do século XX, é uma grande preocupação do poder público, mas, concomitantemente, depende de uma política mais abrangente para a maioria da população que, normalmente, não possui o retorno esperado para resolver esse problema urbano. O problema habitacional no Brasil tem apresentado, desde o início, uma segregação espacial nas cidades, tendo como resultado uma grande diferenciação em relação às diferentes classes sociais. Isso acaba sendo a raiz de um problema não apenas social, mas também político e que tem acompanhado a formação social brasileira, desde o processo colonial português, ao não tratar de forma igualitária sua população e disseminando uma discriminação oriunda de uma mentalidade eurocêntrica de tratar a maioria da população como objeto de caridade ou inferioridade perante a sua elite. Uma reflexão importante sobre a visão de uma elite de poder e o tratamento que é dado ao povo pobre, em relação aos recursos a serem.

(27) 27. viabilizados, é identificado no livro “A elite do atraso: da escravidão à Lava Jato”, de Jessé Souza: O mundo moderno ou capitalista cria uma nova hierarquia social que é impessoal e opaca e não pessoal e facilmente visível, como nos tipos de sociedades anteriores a ele. Isso que dizer que, ao contrário dos poderosos do passado, por exemplo, como nossos senhores de terras e gente que tudo podia fazer e desfazer. [...] Na base da nova hierarquia social moderna, está a luta entre indivíduos e classes sociais pelo acesso a capitais, ou seja, tudo aquilo que funcione como facilitador na competição social de indivíduos e classes por todos os recursos escassos (SOUZA, 2017, p. 90).. Durante a chamada “República Velha”, a construção de habitações estava de forma predominante ligada ao setor privado e não ao público. Diante disso, os problemas sociais eram tratados de forma repressiva, dentro da visão do Estado, sob o controle da burguesia cafeeira. A troca de favores, relacionada ao voto que não era secreto e sim controlado pelas oligarquias, no aspecto político, mostra como era tratada a população, tanto no setor agrário quanto no urbano, dentro da visão clientelista. Com o advento da Era Vargas, no início dos anos 1930, e sua política nacionaldesenvolvimentista, favorecendo o setor urbano, dentro do binômio capital e trabalho, ocorre uma mudança em relação às questões sociais, com a intervenção do Estado, ou seja, do setor público nas políticas sociais. A construção de moradias torna-se, agora, uma preocupação do Estado, seja no aspecto social, seja no econômico. Na política do Presidente Vargas, e sua proteção ao trabalhador, dentro de um Estado que controlava tanto o trabalho como o capital, a partir do Estado, a ideia de que o trabalhador também pudesse ser beneficiado com políticas públicas habitacionais era vista como fator econômico no processo de industrialização do nacional-desenvolvimentismo. Ter a casa própria, com sua família, torna-se concretamente não apenas uma ação governamental, mas um direito dos trabalhadores. O Governo Vargas passou, então, a beneficiar o trabalhador, a partir do setor previdenciário com a criação dos Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPs), e com um valor considerável de recursos econômicos para o devido financiamento da habitação popular. Entre esses institutos, pode-se destacar: Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Marítimos (IAPM), Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Bancários (IAPB), Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Comerciários (IAPC), Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários (IAPI), Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Estivadores e Transportes de Cargas (IAPETEC) e Instituto de Aposentadoria e Pensões de Estivadores (IAPE)..

(28) 28. A partir dessa nova visão, sobre a possibilidade concreta do trabalhador ter a sua casa própria, embora as condições econômicas da maioria dos trabalhadores estivesse aquém de suas possibilidades de compra, o governo abriu as condições necessárias para o financiamento de habitações, como as carteiras prediais dos institutos de Aposentadoria e Pensões e a fundação da Casa Popular. Ainda que esses institutos cobrissem um déficit habitacional, o volume financeiro para esse projeto, que também é estimulado com a criação das chamadas Casas Populares até 1964, manteve-se reduzido em função da demanda dos trabalhadores. Após os governos de Getúlio Vargas, continuou como norma, através da chamada “habitação social” para os trabalhadores, especialmente de baixa renda. No Governo de Jânio Quadros, a política habitacional no País, através do documento intitulado “Bases e fundamentos de um plano de assistência habitacional”, de 1961, tinha como objetivo construir ações a curto e médio prazo, para diminuir as demandas em relação à moradia no Brasil. No Governo João Goulart, setores ligados ao capitalismo brasileiro tinham projeto de que o País pudesse entrar na órbita da influência soviética comunista. Por outro lado, os setores populares, com o projeto das chamadas “reformas de base”, prometidas pelo Governo João Goulart, davam a devida efervescência aos movimentos sociais, os quais organizavam tanto no campo como nas cidades. Os sindicatos são organizados, principalmente, junto à CGT (Comando Geral dos Trabalhadores), fundada em 1962, de cunho nacionalista e que passou a defender as “reformas de base”. Dentro dessa conjuntura, o presidente João Goulart, ao fazer referência às “reformas de base” e suas necessidades, para combater privilégios e desigualdades, enviou ao Congresso Nacional uma mensagem em que faz referência à habitação em termos de investimentos, como é ressaltado no livro “João Goulart, uma biografia” do historiador Jorge Ferreira:. [...] o presidente enviou uma mensagem ao Congresso. O texto, era ao mesmo tempo, uma prestação de contas e um pedido de providências. [...] Assim, alegou o presidente, “optei pelo combate aos privilégios e pela iniciativa das reformas de base”. Para ele, o grande problema daqueles tempos era o fosso crescente entre ricos e pobres. Nesse sentido, medidas seriam tomadas para “eliminar as desigualdades que violentam o próprio conceito de soberania nacional”. Propondo obras de infraestrutura, por exemplo, hidroelétricas como a que mais tarde geraria Itaipu, termoelétricas, rodovias, ferrovias, equipamento para os portos e disseminação de escolas e hospitais. Outros capítulos da mensagem falavam em investimentos em recursos minerais, petróleo, habitação, agricultura, abastecimento, desenvolvimento regional, planejamento econômico e reescalonamento da dívida externa. Os déficits no orçamento da União e na balança de pagamentos também eram analisados pelo presidente (FERREIRA, 2011, p. 431-2)..

(29) 29. O Brasil vivia sob a ótica da “Guerra Fria”, e as frações majoritárias militares, empresariais e grande parte da classe média, que detinham o verdadeiro poder político, chancelados pelos Estados Unidos, maior polo capitalista da América, entendiam que um governo reformista de esquerda, presidido por João Goulart, representava uma ameaça comunista, proveniente da União Soviética. Essa ótica da “Guerra Fria” provocou uma divisão no mundo e uma possível nova guerra mundial, a partir da luta hegemônica entre Estados Unidos (EUA) e União Soviética (URSS), e foi assim sistematizada na reflexão do historiador Eric Hobsbawm:. A peculiaridade da Guerra Fria era a de que, em termos objetivos, não existia perigo iminente de guerra mundial. Mais que isso: apesar da retórica apocalíptica de ambos os lados, mas, sobretudo do lado americano, os governos das duas superpotências aceitaram a distribuição global de forças no fim da Segunda Guerra Mundial, que equivaleria a um equilíbrio de poder desigual, mas não contestado em sua essência. A URSS controlava uma parte do globo, ou sobre ela exercia predomine-te influência – a zona ocupada pelo Exército Vermelho e /ou outras Forças Armadas comunistas no término da guerra – e tentava ampliá-la com uso de força militar. Os EUA exerciam controle e predominância sobre o resto do mundo capitalista, além do hemisfério norte e oceanos, assumindo o que restava da hegemonia imperial das antigas potências coloniais. Em troca não intervinha na zona aceita de hegemonia soviética (HOBSBAWM, 1995, p. 224).. O temor da classe média e dos militares, especialmente em função do apoio governamental, e a Revolta dos Marinheiros, por melhores condições de vida, foram o estopim de uma crise, que, na versão militar, era um combate à chamada “República Sindicalista”, semelhante a que ocorreu com Perón na Argentina, em que o governo teve apoio para mudanças dos sindicatos. Nesse ínterim, o corporativismo sindical fortalecia-se, especialmente com a criação do Comando Geral dos Trabalhadores (CGT), que procurava aliar as lutas salariais e o trabalho nas empresas a uma luta mais geral de mudanças estruturais no país. As Ligas Camponesas, lideradas por Francisco Julião, no Nordeste, que lutavam pela reforma agrária, a pressão ao Congresso Nacional, realizado pelo PTB, liderado por Leonel Brizola, aliado ao Movimento Estudantil e ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), que estava na ilegalidade, deram o tom do confronto, que teve como consequência a instauração de uma Ditadura Civil-Militar no Brasil, em 1964. Esse contexto de radicalização é destacado pelo historiador Jorge Ferreira:. No campo, as lutas se acirravam, sobretudo no Nordeste com a formação das Ligas Camponesas. Em Pernambuco, a grande liderança do movimento era Francisco.

(30) 30. Julião. [...] A miséria dos camponeses, a economia açucareira e o latifúndio permitiram a Julião comparar o interior de Pernambuco com a Cuba prérevolucionária. [...] Em 09 de outubro de 1962, o programa da organização era publicado no jornal A liga: “É hora da aliança operário - camponesa, reforçada pelo concurso dos estudantes, dos intelectuais revolucionários e outros setores radicais da população.” A aliança realizaria “a libertação nacional e social” com a reforma agrária radical (FERREIRA, 2011, p. 282).. A vida partidária brasileira, no início dos anos 1960, tinha de um lado a aliança PTB (Partido Trabalhista Brasileiro), que incorporava e representava no cenário político os trabalhadores urbanos, e o PSD (Partido Social Democrático), oriundo das oligarquias agrárias de corte conservador; e de outro lado, a UDN (União Democrática Nacional), que representava a classes sociais urbanas, através de um programa liberal e moralizante. Nessa perspectiva, frisa-se que as reformas de base e a luta anti-imperialista são as grandes bandeiras que causava temor aos setores mais conservadores. Isso será determinante para a tomada do poder pelos civis-militares, de modo especial o governador Carlos Lacerda, da Guanabara, além do governador Magalhães Pinto, de Minas Gerais, e Ademar de Barros de São Paulo. A conjuntura, a partir do golpe civil-militar no Brasil, em 1964, e a derrubada do governo de João Goulart ocasionam no país momentos de Terrorismo de Estado nos aspectos políticos, sociais e econômicos. Mostra também uma Ditadura marcada pelo autoritarismo e repressão diante de qualquer tipo de oposição, ao mesmo tempo em que uma aliança entre militares, tecnocratas e empresários, dão sustentação a Ditadura Civil-Militar centrado na concentração do capital, com arrocho salarial e fortalecimento das multinacionais. Este processo histórico vai até o início da década de 80, quando se inicia uma fase lenta de redemocratização na vida brasileira, com marcas profundas na vida de um povo, cujas classes sociais mostraram que qualquer movimento que possa causar transformações políticas e sociais é barrado por interesses de poder, a fim de manter privilégios de poucos em detrimento da maioria. Diante disso, cabe expor que, a partir de 1964, há uma ruptura no processo político de desenvolvimento econômico e social, com participação de um Estado regulador da vida nacional em que, somente ao final dos anos 1970, ainda sob prisma do processo ditatorial, ocorre uma fase de ascensão e tomada de consciência dos movimentos sociais que lutam por mudanças estruturais, por justiça social. As forças políticas que estiveram à frente da ruptura política. fundaram duas. instituições que lhe deram toda a base ideológica, política e militar. Trata-se do Instituto de.

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