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OS DIFERENTES SUJEITOS HISTÓRICOS E SUAS AÇÕES NO BAIRRO MATHIAS VELHO

3 A REALIDADE HISTÓRICA NO BAIRRO MATHIAS VELHO NO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO COMUNITÁRIA

3.1 OS DIFERENTES SUJEITOS HISTÓRICOS E SUAS AÇÕES NO BAIRRO MATHIAS VELHO

O cotidiano, entre os diferentes sujeitos históricos em disputa pela moradia no bairro Mathias Velho, transforma-se em um cenário onde os terrenos vão sendo ocupados e transformados em local de moradia na década de 70. O Irmão marista Antônio Cechin, que foi morar no bairro Mathias Velho, no início desse processo histórico, impulsionado pela Teologia da Libertação e sua “opção preferencial pelos pobres”, como membro da Igreja Católica convive com as lutas e desafios de uma população de migrantes que começa o seu processo de organização no bairro. O relato do Irmão Antônio mostra essa realidade inicial,

resultado das ocupações nas vilas do bairro dando uma nova configuração do processo de ocupação, na Vila Santo Operário e Vila União dos Operários em uma ação coletiva e participativa:

[...] Quase todas as casas são de madeira, cobertas por telhas comuns ou chapas de zinco. Os terrenos, muitos com hortas nos fundos, têm a mesma metragem: 12metros de largura por 30 de comprimento. E as ruas, todas sem calçamento, obedecem um traçado pré-determinado. Nesse cenário, vivem cerca de cinco mil famílias das vilas Santo Operário e União dos Operários, situadas no extremo oeste de Canoas. Nascidas, a partir da organização dos trabalhadores e apoiados pela Igreja, as duas comunidades constituem-se, hoje, em grandes exemplos de democracia participativa, onde a coletividade em conjunto decide seu próprio destino (CECHIN, s/d, p. 52).

Irmão Antônio, em seu relato, aponta o sentido que motiva a vinda desses migrantes agricultores para o bairro Mathias Velho e sua sedimentação nessas duas vilas, considerando as condições socioeconômicas, ligadas ao desemprego, à falta de escola para seus filhos e à habitação para suas famílias. Nesse sentido, a expulsão do campo é uma realidade:

[...] Expulsos do campo no final da década de 60, milhares de agricultores vieram buscar melhores dias na Grande Porto Alegre. Sem dinheiro e desorientados, passaram a enfrentar todos os tipos de problemas socioeconômicos: desemprego, falta de escolas para os filhos e de habitações para suas famílias. [...] Por sua condição de polo industrial, Canoas atraiu grande número de sem terras. “Dentro de um contexto mais amplo, Canoas é um verdadeiro brete de entrada para Porto alegre. Quem vai em direção à capital, necessariamente passa por aqui.” [...] No início dos anos 70, Canoas explodiu demograficamente (CECHIN, s/d, p. 52).

Na continuação de seu relato, Irmão Antônio aponta a participação de outros sujeitos históricos que têm seu envolvimento presente nesse processo histórico. Os proprietários das terras do antigo Prado (Vila União dos Operários) tentam expulsar esses novos moradores:

[...] A invasão despertou a atenção dos donos de área de 43 hectares no antigo Prado, onde residiam 120 famílias. Os proprietários das terras tentam expulsá-los de lá. No entanto, eles resistiram e continuaram no local, que também teve a invasão de outros sem terras. “No Prado, foi uma luta de resistência à repressão” (CECHIN, s/d, p. 52). A fotografia a seguir refere-se à colocação do segundo sino na Vila União dos Operários ao lado da Igreja Divino Mestre no início dessa ocupação no bairro Mathias Velho. O toque do sino tinha a função de reunir os moradores para definir como realizar o loteamento, mas também servia de aviso entre os novos moradores como sinal de possíveis enfrentamentos pela conquista dos terrenos no processo de ocupação.

Figura 37 – Colocação do Sino que servia para celebrações religiosas e aviso de pessoas estranhas aos novos moradores na Vila União dos Operários, no bairro Mathias Velho, em Canoas/RS.

Fonte: Livro Memória Social das lutas pela moradia nas narrativas dos moradores da Vila União dos Operários.

A disputa, entre os diferentes sujeitos históricos, torna-se uma prática do cotidiano no bairro Mathias Velho, tanto dos novos moradores com seus aliados onde a construção do movimento social comunitário, na busca por moradia, infraestrutura e direitos sociais, vai surgindo e os interesses comuns vão sendo ampliados em um processo social e político- cultural. Nesse processo de interesses, os conflitos são inevitáveis, pois de um lado estão os antigos moradores, também com seus aliados que procuram impedir a construção do movimento social, com base comunitária, baseado em seus interesses imobiliários e especulativos, onde a propriedade privada dos meios de produção é assegurada legalmente, mas o interesse social dos novos moradores e suas reivindicações entram em um embate político e social dentro de um processo histórico. A solidariedade, tendo valores culturais como no caso do bairro Mathias Velho que tem, a formação religiosa mais significativa, as CEBs e sua dimensão social e política, uma base como força em suas lutas e conquistas. Cabe destacar que os poderes públicos, seja a prefeitura de Canoas, ou mesmo órgãos públicos civis e militares, de acordo com as fontes dessa pesquisa, têm um papel de ser ora aliado dos antigos moradores por razões políticas similares, ora procurando manter uma relação de confronto, ora encaminhando demandas sociais, que possam garantir interesses próprios, ou

mesmo para evitar que a falta de direitos e obras sociais possam causar mais pressão e desgaste político. Nesse sentido, cabe destacar a ação dos movimentos sociais com suas características gerais dentro de uma realidade conflitante, cuja análise em termos conceituais é definida por Maria da Glória Gohn:

Movimentos sociais são ações sociopolíticas [...] articuladas em certos cenários da conjuntura socioeconômica e política de um país, criando um campo político de força social na sociedade civil. As ações se estruturam a partir de repertórios criados sobre temas e problemas em conflito, litígios e disputas vivenciados pelo grupo na sociedade. As ações desenvolvem um processo social e político-cultural, que cria uma identidade coletiva para o movimento, a partir dos interesses em comum. Essa identidade é amalgamada pela força do princípio da solidariedade e construída a partir da base referencial de valores culturais e políticos compartilhados pelo grupo, em espaços coletivos não-institucionalizados. Os movimentos geram uma série de inovações nas esferas públicas (estatal e não estatal) (GOHN, 1997, p. 251).

Na construção do movimento social comunitário no bairro Mathias Velho, o papel sociopolítico construído pelos sujeitos históricos em suas diferentes ações, sejam privado ou público, tornam-se significativos. Nos aspectos a serem considerados estão o processo inicial de ocupação, a marcação dos terrenos e as reivindicações em relação às demandas como água, luz, regularização de terrenos e transporte coletivo.

Na visão do então prefeito de Canoas, Carlos Giocomazzi, dentro de uma situação nacional na década de 1970, foi realizado, no Brasil, um crescimento econômico, que proporcionou uma migração acelerada do campo para a cidade na região metropolitana das grandes cidades como Canoas. Vale salientar que, assim como em outros relatos, nesse caso ressalta-se a origem rural dos migrantes que chegam a Canoas em busca de moradia. O ex- prefeito também ressalta que ficava assustado com as pessoas que, em grande número, chegavam à cidade na expectativa de moradia e avaliava que esses migrantes tomavam tudo e que tudo era loteado. Podemos interpretar que, nesse sentido, o ex-prefeito não concordava com esse processo migratório e com o loteamento dos terrenos para moradia, feito, inicialmente, pelos próprios migrantes. Dentro desse enfoque, o ex-prefeito faz o seguinte relato sobre a chegada dos migrantes a Canoas no início do processo de ocupação e o loteamento dos terrenos realizado por eles:

“[...] migração violenta do homem do campo para os grandes centros” [...] viviam jogado [s] na água, sem ruas, sem transporte. Ao sair de casa, era lodo até o joelho. Era um verdadeiro inferno! Uma coisa de matar, de quebrar o coração da gente. Era tudo loteado, tudo tomado, ranchos em toda a parte... Era um negócio que assustava (PENNA; CORBELLINI; GAYESKI, 2000, p. 80).

O então prefeito Carlos Giocomazzi era ligado ao Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), foi o primeiro prefeito eleito de Canoas após a ditadura civil-militar, no início do processo de redemocratização do Brasil entre 1986 e 1988, na época que o país vivia sob Plano Cruzado (plano econômico federal que no início congelou salários e preço de produtos alimentícios, mas, em seguida, houve um descongelamento salarial e falta de produtos, causando uma hiperinflação, corroendo salários e poder aquisitivo dos trabalhadores) sob a presidência do Brasil de José Sarney.

Na entrevista concedida à Revista Parlamento, Edição especial sobre municípios, em cuja edição retrata a cidade de Canoas, o ex-prefeito de Canoas, ao relatar sua gestão à frente da prefeitura de Canoas, ao se referir as chamadas “vilas invadidas” (termo usado tanto pelos antigos moradores, quanto pelos poderes públicos, com sua política ideológica que partia da legalidade ligada ao direito à propriedade privada dos meios de produção, não questionava o aspecto especulativo do lucro em uma sociedade capitalista, em que as questões sociais da moradia não eram consideradas) afirma que a situação era terrível: vilas construídas em enormes áreas invadidas, cerca 10 mil sub-habitações e, aproximadamente, 25 mil desempregados. Na entrevista, podemos identificar também a preocupação do ex-prefeito em relação às demandas das vilas, em referência às vilas ocupadas, onde a prefeitura procura encaminhar as demandas por infraestrutura urbana, como abertura de ruas e saneamento básico. Poderemos, no decorrer da pesquisa, através de outras fontes ligadas aos novos oradores e muitas dessas demandas foram alcançadas não pela dádiva dos governantes e sim pela conquista popular, no caso de Canoas no bairro Velho pelo movimento comunitário. Nesse sentido, os interesses divergentes e as fontes históricas proporcionam uma análise mais aprofundada da realidade desse bairro.

A entrevista com o então prefeito Carlos Giocomazzi sobre essas demandas, a situação dos das “vilas invadidas”, de acordo com ele, podemos verificar na seguinte reportagem:

Figura 38 - Entrevista com o então prefeito de Canoas Carlos Giocomazzi sobre sua gestão, dando ênfase a situação das áreas ocupadas, nas vilas da cidade.

Fonte: Revista Parlamento Edição Especial –Municípios.

Em relação à situação dos migrantes que chegavam ao bairro no início do processo das ocupações, o relato do migrante e novo morador Wilsolírio de Souza, fornece um panorama da realidade encontrada por esses novos moradores. Wilsolírio de Souza passou a residir no bairro em 1977, juntamente com sua esposa Márcia e sua filha Marcilene na região do antigo Prado, hoje Vila União dos Operários, como liderança tanto do processo de ocupação como migrante e lideranças das CEBs, trabalhava como eletricista, e sua esposa como empregada doméstica. O seu relato torna-se uma fonte importante que nos proporciona entender os desafios e as dificuldades que esses trabalhadores com suas famílias tiveram no início desse processo histórico e a realidade que encontraram no bairro, onde não havia infraestrutura:

[...] A água era tirada dos poços dos vizinhos e no verão tínhamos que ir longe buscar. A iluminação pública não existia, quando não tinha luar, era um breu só. O transporte coletivo não ia até o fim do bairro. [...] Creches, colégios e posto de saúde não existiam. [...] em 1978, vê-se surgir muitas lutas para conquistar os direitos de morar, com dignidade, ter transporte coletivo, saneamento básico, rede de luz, entre outros. Tudo foi conquistado com muitas lutas, muitos encontros e reuniões (DALLAGNOL, 2015, p. 116-7).

Outro aspecto ressaltado por Wilsolírio de Souza, durante o processo de ocupação do local da antiga lavoura de arroz, que mais tarde passou a ser chamada de Vila Santo Operário pelos migrantes, foram os abaixo-assinados ao Prefeito de Canoas, representando o poder público. As reivindicações foram em relação à água (Companhia Rio Grandense de Saneamento Básico – CORSAN) e a luz (Companhia Estadual de Energia Elétrica – CEEE) para os novos moradores em forma de ocupação, resistência e reivindicação, que, segundo seu relato, tinha o apoio dos religiosos e religiosas, em termos de cidadania:

[...] A ocupação dos terrenos da Vila Santo Operário[...] em 1979, se estenderam até 1988. Faziam-se muitos abaixo-assinados para a CORSAN e a CEE, ao prefeito, reivindicando os direitos dos novos moradores. Era a ocupação, organização, resistência e reivindicação. Com a ajuda dos religiosos e religiosas, por meio de assessoria, construía-se uma verdadeira escola de cidadania (DALLAGNOL, 2015, p.117).

De acordo com o historiador Jaime Pinsky, em seu livro Educação e Cidadania, podemos conceituar “cidadania” dentro de uma série de direitos relativos ao cidadão, desde um contrato com seus iguais para utilização de serviços através de taxas e impostos até na fiscalização e aplicação do direito a condições básicas de existência como o direito à moradia, que possa ter uma consciência de pertinência e de responsabilidade coletiva, dentro de uma atitude cotidiana que, nessa pesquisa, torna-se o principal objetivo para os novos moradores do bairro Mathias Velho:

[...] cidadania enfaixa uma série de direitos, deveres e atitudes relativos ao cidadão, aquele indivíduo que estabeleceu um contrato entre seus iguais para utilização de serviços em troca de pagamento (taxas e impostos) e de sua participação ativa ou passiva, na administração comum. [...] cidadania pressupõe, sim o pagamento de impostos, mas também a fiscalização de sua aplicação; o direito a condições básicas de existência (comida, roupa, moradia, educação e atendimento à saúde), acompanhado da obrigação de zelar pelo bem comum.

Operacionalmente, cidadania pode ser qualquer atitude cotidiana que implique a manifestação de uma consciência de pertinência e de responsabilidade coletiva. [...] E o fato de mantermos a maioria da população sem os direitos básicos de cidadania nos impede de construir a nação-cidadã (PINSKY, 1998, p.18-9).

É importante ressaltar que na Vila Santo Operário ocorreu, em 1983, uma mobilização para participar da primeira greve geral em favor da Central Única dos Trabalhadores (CUT), eleições diretas, o fim da Ditadura Militar (terminologia mais usada na época) e o fim do decreto-lei que arrochava os salários dos trabalhadores e com barricadas e escolta da Brigada

Militar, bem como também o enfrentamento e a violência decorrente para a greve diante dos ônibus que circulavam no bairro.

Podemos identificar que as diferentes dimensões, em termos de cidadania e dignidade humana de cunho social, religioso, cultural, tendo como principal objetivo o processo de organização comunitária e sua principal luta que era a moradia, sem ter a perspectiva política da realidade do estado e do país naquele momento histórico, sob a égide da Ditadura Civil- Militar, em que a participação popular, sindical e política de oposição começavam a ter perspectivas positivas em relação a Ditadura que vigorava no Brasil. No processo de redemocratização do Brasil, após o final da Ditadura Civil-Militar, a mobilização dos novos moradores do bairro, novamente se fazia presente, ligando as lutas comunitárias com as lutas nacionais, dentro de um processo de politização por direitos e democracia na relação entre as lutas de bases e transformação política do Brasil, de um modo significativo nos planos econômicos para conter a inflação que corroía salários e provocava o aumento dos preços.

Essa ação pôde identificar o trabalho de formação que ocorreria no bairro através das CEBs e seu método ver-julgar-agir, ligando o texto bíblico com as lutas populares e a transformação social, apontando para uma ação política. O relato sobre a mobilização no bairro em relação às greves gerais foi resultado dessa conscientização coletiva. Dentro desse enfoque, o relato de Wilsolírio, como liderança no bairro torna-se significativa:

[...] Em 1983, participamos da 1ª Greve Geral, organizada pela comissão pró-CUT, reivindicando eleição direta, o fim da Ditadura Militar e o fim do Decreto Lei que arrochava os salários. A greve foi bem preparada, com várias reuniões de base. [...] Na reunião da véspera, na comunidade Nossa Senhora da Luz, na Santo Operário, reunimos 60 pessoas. Esse carro costumava passar por ali às 4 horas da madrugada. O mesmo se atrasou e nós ali, na barricada. Quando o ônibus apareceu, às 5h30min, já veio escoltado pela Brigada Militar. [...] os brigadianos nos forçaram a retirar as barricadas. [...] Mas um começou a encorajar o outro e fomos no fim da linha de ônibus, na rua São Sepé, com a Florianópolis. [...] Nós éramos centenas de pessoas. No entanto um ônibus fura a barreira e atropela um companheiro fiel, o Armando. Foi duro de ver o amigo ali, caído e aquela sangueira no chão. Levamos o Armando para o hospital e, no final do dia, já diziam que estava pronto para outra.

Em 1º de agosto de 1986, fizemos a greve geral pelo congelamento de preços. Em 20 de agosto de 1987, fizemos a greve geral contra o plano Bresser. Em 14 de março, fizemos a greve geral contra o Plano Verão (DALLAGNOL, 2015, p. 118-9).

Entre 1982 e 1986, também foi um período onde movimento sindical teve um destaque significativo na região metropolitana de Porto Alegre, dentro de um processo de industrialização na região, que atrai um contingente de trabalhadores em busca de trabalho e renda, causando a expulsão do campo que, entre muitos trabalhadores da época, usava-se o

termo “êxodo rural”, terminologia que tem sua raiz na ótica capitalista. Essa terminologia acaba sendo reproduzida entre os trabalhadores pela propaganda da grande mídia.

O processo migratório através da expulsão do campo na década de 1970 ocorreu no deslocamento migratório do campo para a cidade, fruto de transformações ocorridas na estrutura produtiva primária, as quais inviabilizaram a produção da pequena propriedade, beneficiaram a modernização e mecanização da produção agrícola, acrescida pela construção das grandes barragens que expulsaram significativo contingente de famílias que viviam em pequenas propriedades rurais.

Como polo industrial merece um destaque especial o Sindicato dos Metalúrgicos de Canoas na figura do então presidente, hoje senador pelo Partido dos Trabalhadores (PT) Paulo Paim, que tem uma aproximação com as CEBs e um trabalho especial pelo chamado “voto consciente”, principalmente em 1986, período pelo qual essa liderança sindical chegou a ser secretário geral e vice-presidente nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT), mostrando que a participação ativa dos novos moradores do bairro estava em conexão com o processo de luta maior que o campo da moradia, enquanto luta comunitária, e o movimento sindical, enquanto luta dos trabalhadores nas indústrias.

A luta conjunta e o voto consciente levaram a uma mobilização especial no bairro Mathias Velho pela campanha da confecção de título de eleitores dos novos moradores que vieram do meio rural, onde muitos trabalhadores não tinham esse título, bem como o processo, nessa época, pela nova Constituição do Brasil, que vai ocorrer em 1988. Em 1988, Paulo Paim foi eleito deputado federal constituinte, a partir de sua trajetória como líder sindical em Canoas. Essa aliança entre metalúrgicos e os novos moradores do bairro Mathias Velho acabaram por fortalecer a ação política e comunitária de ambos. A presença dos metalúrgicos de Canoas, liderados por Paulo Paim e a campanha pelo voto consciente, através da confecção do título de leitor para os novos moradores, lutas pelas ocupações do bairro, ligadas à dimensão política das CEBs. Essas lutas dentro do bairro em prol do avanço da consciência e ação dos trabalhadores, inclusive junto ao cartório eleitoral em forma de mutirão, (que) mostra também a expulsão do campo. A origem da maioria dos novos moradores são relatadas da seguinte forma:

Depois de 1982, era preciso ter força. O movimento sindical, com o companheiro Paulo Paim à frente das ocupações, puxadas pelas CEBs, e a esperança numa nova Constituição era muito forte. Em 1986, as CEBs fizeram um trabalho sobre a importância do voto consciente. Fazer títulos eleitorais novos ou transferir os mesmos, era o trabalho partidário a ser realizado, pois a maioria dos moradores não era daqui, mas eram vítimas do grande êxodo rural que acontecia naquela época.

Nós íamos de casa em casa para visitar e convidar novos companheiros. Refletiam- se nos grupos e nas celebrações das CEBs . Solicitamos ao cartório eleitoral e este destinou pessoas que vieram às comunidades para fazer os títulos eleitorais. Os membros das CEBs, como catequistas, ajudaram no mutirão (DALLGNOL, 2015, p.120).

A foto a seguir do então líder sindical Paulo Paim e sua equipe em Canoas, nesse período, reforça sua presença nas lutas populares no bairro Mathias Velho em Canoas, como aliado dos “novos moradores” em suas lutas e conquistas.

Figura 39 – Trabalhadores da diretoria do Sindicato dos metalúrgicos de Canoas que